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Acordo de Não Persecução Penal

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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO
PENAL
INTRODUÇÃO 1
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA 1
MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA
AÇÃO PENAL 2
O ANPP É DIREITO SUBJETIVO DO INVESTIGADO? 2
PRESSUPOSTOS (CUMULATIVOS) DO ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL 4
CONDIÇÕES DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO 9
OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA EM CASOS DE ANPP 9
VEDAÇÕES À CELEBRAÇÃO DO ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL 10
FORMALIDADES DO ACORDO 12
CONTROLE JURISDICIONAL 12
DESCUMPRIMENTO DO ACORDO 13
CUMPRIMENTO DO ACORDO 14
PRESCRIÇÃO 15
INTRODUÇÃO
Inicialmente, é importante destacar que o ANPP surgiu
em 2017, com a Resolução 181 do CNMP. Com o Pacote
Anticrime , o instituto foi incorporado ao Código de
Processo Penal, passando a ser regulamentado
legalmente no art. 28-A. Com isso, passa-se a afirmar
que, atualmente, vivencia-se um MODELO DE JUSTIÇA
CONSENSUADA (PACTUADA ou NEGOCIADA), ante a
possibilidade de existência de consenso entre aas
partes, benefícios como rapidez e menor onerosidade
da justiça.
Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 275), pode-se
elencar alguns fatores que justificaram a sua criação,
quais sejam:
“a) exigência de soluções alternativas no processo penal
que proporcionem celeridade na resolução dos casos
menos graves;
b) priorização dos recursos financeiros e humanos do
Ministério Público e do Poder Judiciário para
processamento e julgamento dos casos mais graves;
c) minoração dos efeitos deletérios de uma sentença
penal condenatória aos acusados em geral, que teriam
mais uma chance de evitar uma condenação judicial,
reduzindo os efeitos sociais prejudiciais da pena e
desafogando os estabelecimentos prisionais.”
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
Nas lições de Renato Brasileiro:
“(...) cuida-se de NEGÓCIO JURÍDICO DE
NATUREZA EXTRAJUDICIAL,
necessariamente homologado pelo juízo
competente – pelo menos em regra, pelo
juiz das garantias (CPP, art. 3º-B, inciso
XVII, incluído pela Lei n. 13.964/19) –,
celebrado entre o Ministério Público e
o autor do fato delituoso –
devidamente assistido por seu defensor
–, que confessa formal e
circunstanciadamente a prática do delito,
sujeitando-se ao cumprimento de certas
condições não privativas de liberdade,
em troca do compromisso do Parquet de
não perseguir judicialmente o caso penal
extraído da investigação penal, leia-se,
não oferecer denúncia, declarando-se a
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE caso a
avença seja integralmente cumprida.”
(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p.
274) (grifo nosso)
Renato Brasileiro (2020, p.275), citando BRANDALISE e
ANDRADE, pontua que a “depender do modelo de
definição dos consensos, o acordo de não-persecução
penal funciona como uma espécie de diversão,
opção de política criminal usada para resolução dos
processos penais de maneira diversa daquelas
ordinariamente adotadas no processo criminal, e que
1
consistem na solução antes de qualquer determinação
ou de declaração de culpa. A diversão pode ser de 3
(três) espécies:
1) DIVERSÃO
SIMPLES
“a despeito da presença de
indícios de autoria e/ou
participação e prova da
materialidade do delito, o
processo é arquivado sem a
imposição de quaisquer
obrigações ao acusado,
porquanto a persecução penal
seria absolutamente inócua
(v.g., prescrição virtual);”
2) DIVERSÃO
ENCOBERTA
“dar-se-á a extinção da
punibilidade se o autor do fato
delituoso praticar
determinados atos, que
impossibilitam a deflagração da
persecução penal, como, por
exemplo, a composição dos
danos civis (Lei n. 9.099/95, art.
74, parágrafo único);”
3) DIVERSÃO COM
INTERVENÇÃO
“o investigado/acusado fica
sujeito ao cumprimento de
certas condições. Se cumpridas
de maneira regular, o
procedimento investigatório
será arquivado, ou o processo
será extinto. É o que ocorre não
apenas no caso do acordo de
não-persecução penal, mas
também nos casos de
transação penal e suspensão
condicional do processo.”
MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA
AÇÃO PENAL
“Segundo o princípio da obrigatoriedade, havendo justa
causa e estando preenchidos todos os requisitos legais,
o membro do Ministério Público é obrigado a oferecer a
denúncia. Trata-se de um dever, e não uma faculdade,
não sendo reservado ao Ministério Público um juízo
discricionário sobre a conveniência e oportunidade de
seu ajuizamento. Pode-se dizer, então, que o ANPP é
uma exceção ao princípio da obrigatoriedade. Outro
exemplo de exceção: o acordo de colaboração
premiada, no qual o MP pode conceder ao colaborador
como benefício o não oferecimento da denúncia”1.
Renato Brasileiro entende que o ANPP é uma exceção
ao princípio da obrigatoriedade (não uma violação,
como alguns doutrinadores chegaram a pontuar), nas
suas palavras:
“Como espécie de exceção ao princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública, o
acordo de não-persecução penal guarda
relação muito próxima com o princípio da
oportunidade, que deve ser compreendido
como um critério de seleção orientado pelo
princípio da intervenção mínima, o que, em
tese, permite que o Ministério Público
estipule regras de seleção conforme a
política criminal adotada pela instituição.”
(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2020, p.
275)
O ANPP É DIREITO SUBJETIVO DO INVESTIGADO?
O critério de aferição da conveniência de oferecer a
proposta de acordo, com vistas à prevenção e
repressão do delito, é tarefa do MP, no exercício de seu
monopólio da ação penal pública.
Nessa linha de raciocínio e levando em conta que o
acordo de não persecução penal deve resultar da
convergência de vontades, com necessidade de
participação ativa das partes, é majoritário o
posicionamento doutrinário no sentido de que não
se trata de direito subjetivo do acusado, sob pena de
se admitir a possibilidade de o juiz determinar sua
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O Poder
Judiciário não pode impor ao MP a obrigação de ofertar
ANPPA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudenci
a/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79>
2
realização de ofício, o que, aliás, lhe retiraria sua
característica mais essencial, qual seja, o consenso.2
Segundo, não há falar em direito subjetivo na justiça
consensual, pois existe um acordo de vontade,
estando a vontade do MP e o investigado num plano
horizontal (de igualdade). Ou seja, só existe acordo se
os dois quiserem. Temos, na verdade, uma
DISCRICIONARIEDADE REGRADA que deve ser
fundamentada.
Assim, caso o MP recusar ofertar o ANPP de forma
injustificada, provoca-se o órgão revisional do próprio
Ministério Público, para que este decida acerca da
recusa ou não.
Observação: O juiz deve ser provocado pelo
investigado para que remeta o caso para o procurador
geral. Veja o que diz a lei:
“§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério
Público, em propor o acordo de não persecução penal,
o investigado poderá requerer a remessa dos autos
a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.”
Os Tribunais Superiores possuem entendimento de que
o ANPP não constitui direito subjetivo, vejamos:
“O Poder Judiciário não pode impor ao
Ministério Público a obrigação de
ofertar acordo de não persecução penal
(ANPP). Não cabe ao Poder Judiciário, que
não detém atribuição para participar de
negociações na seara investigatória, impor
ao MP a celebração de acordos.” (STF. 2ª
Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 11/5/2021. Info 1017).
(grifo nosso)1
“O acordo de persecução penal NÃO
CONSTITUI DIREITO SUBJETIVO DO
INVESTIGADO, podendo ser proposto pelo
MPF conforme as peculiaridades do caso
concreto e quando considerado necessário
e suficiente para a reprovação e a
prevenção da infração penal, não podendo
2 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo
Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 276.
prevalecer neste caso a interpretação dada
a outras benesses legais que, satisfeitas as
exigências legais, constitui direito subjetivo
do réu, tanto que a redação do art. 28-A do
CPP preceitua que o Ministério Público
poderá e não deverá propor ou não o
referido acordo, na medida emque é o
titular absoluto da ação penal pública, ex vi
do art. 129, inc. I, da Carta Magna.” (AgRg
no RHC 152.756/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe
20/09/2021).
AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS.
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL EM
RELAÇÃO AO DELITO DE ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO DE DROGAS (ART. 35 DA
LEI 11.343/2006). INVIABILIDADE. 1. As
condições descritas em lei são requisitos
necessários para o oferecimento do
Acordo de Não Persecução Penal (ANPP),
importante instrumento de política
criminal dentro da nova realidade do
sistema acusatório brasileiro. Entretanto,
não obriga o Ministério Público, nem
tampouco garante ao acusado
verdadeiro direito subjetivo em
realizá-lo. Simplesmente, permite ao
Parquet a opção, devidamente
fundamentada, entre denunciar ou
realizar o acordo, a partir da estratégia
de política criminal adotada pela
Instituição. 2. O art. 28-A do Código de
Processo Penal, alterado pela Lei
13.964/19, foi muito claro nesse aspecto,
estabelecendo que o Ministério Público
"poderá propor acordo de não persecução
penal, desde que necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime,
mediante as seguintes condições". 3. A
finalidade do ANPP é evitar que se inicie o
processo, não havendo lógica em se
discutir a composição depois da
condenação, como pretende a defesa (cf.
HC 191.464-AgR/SC, Primeira Turma, Rel.
Min. ROBERTO BARROSO, DJe de
3
26/11/2020). 4. Agravo Regimental a que
nega provimento. (STF, HC 191124 AgR,
Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES,
Primeira Turma, julgado em 08/04/2021,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-069 DIVULG
12-04-2021 PUBLIC 13-04-2021)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO
DE REEXAME E ADOÇÃO DE TESE DISTINTA.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO JULGADO.
4. Não é caso de sobrestamento do feito,
porquanto o STF já firmou entendimento
de que o "art. 28-A do Código de Processo
Penal, alterado pela Lei 13.964/19, foi
muito claro nesse aspecto, estabelecendo
que o Ministério Público 'poderá propor
acordo de não persecução penal, desde
que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime,
mediante as seguintes condições'". Ou
seja, o Acordo de Não Persecução Penal
(ANPP) não obriga o Ministério Público
nem garante ao acusado verdadeiro
direito subjetivo em realizá-lo.
Simplesmente permite ao parquet a
opção, devidamente fundamentada,
entre denunciar ou realizar o acordo, a
partir da estratégia de política criminal
adotada pela Instituição. (HC n. 195.327
AgR, relator Ministro Alexandre de Moraes,
publicado em 13/4/2021.)
(EDcl no AgRg no RE nos EDcl nos EDcl no
AgRg no REsp 1816322/MG, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, CORTE ESPECIAL,
julgado em 22/06/2021, DJe 25/06/2021)
PRESSUPOSTOS (CUMULATIVOS) DO ACORDO DE
NÃO PERSECUÇÃO PENAL
a) EXISTÊNCIA DE PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO: o ANPP será realizado antes da
denúncia, devendo ser trabalhado num inquérito
policial ou em um procedimento investigatório criminal
conduzido pelo MP. Deve, portanto, haver
procedimento instaurado para que se garanta
TRANSPARÊNCIA, principalmente quanto aos elementos
sobre o investigado.
CABE O ANPP APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA?
Os entendimentos jurisprudencial e doutrinário
dominantes são no sentido da impossibilidade de
celebração de ANPP após o recebimento da
denúncia, vejamos3:
“O acordo de não persecução penal,
inovação inserida em nosso
ordenamento jurídico pelo art. 28-A, do
Código de Processo Penal - CPP, tem sua
retroatividade limitada aos processos em
que ainda não houve o recebimento da
exordial acusatória” (STJ. AgRg no HC
619.465/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
14/09/2021, DJe 17/09/2021). (grifo
nosso)
“O caráter predominantemente
processual, em que pese ter reflexos
penais, e a própria razão de ser do
instituto - evitar a deflagração de
processo criminal -, conduzem a se
sustentar que sua retroatividade,
diversamente do que ocorre com as
normas híbridas com prevalente
conteúdo material (de que é exemplo o
dispositivo que condiciona a ação penal à
prévia representação da vítima), deve ser
limitada ao recebimento da denúncia,
isto é, à fase pré-processual da
persecutio criminis” (STJ. AgRg no REsp
1937513/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 14/09/2021, DJe 21/09/2021).” (grifo
nosso)
3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O Poder
Judiciário não pode impor ao MP a obrigação de ofertar
ANPPA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudenci
a/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79>.
Acesso em: 17/11/2021
4
“Esta Corte Superior sedimentou a
compreensão de que a possibilidade de
oferecimento do acordo de não
persecução penal, previsto no artigo 28-A
do Código de Processo Penal, inserido pela
Lei n. 13.964/2019, é restrita aos processos
em curso até o recebimento da
denúncia, o que não se enquadra na
hipótese em apreço” (STJ. AgRg no AREsp
1909408/SC, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
05/10/2021, DJe 13/10/2021).” (grifo nosso)
Direito penal e processual penal. Agravo
regimental em habeas corpus. Acordo de
não persecução penal (art. 28-A do CPP).
Retroatividade até o recebimento da
denúncia. 1. A Lei nº 13.964/2019, no
ponto em que institui o acordo de não
persecução penal (ANPP), é considerada lei
penal de natureza híbrida, admitindo
conformação entre a retroatividade penal
benéfica e o tempus regit actum. 2. O
ANPP se esgota na etapa
pré-processual, sobretudo porque a
consequência da sua recusa, sua não
homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de
recebimento da denúncia. 3. O
recebimento da denúncia encerra a
etapa pré-processual, devendo ser
considerados válidos os atos praticados
em conformidade com a lei então vigente.
Dessa forma, A RETROATIVIDADE PENAL
BENÉFICA INCIDE PARA PERMITIR QUE O
ANPP SEJA VIABILIZADO A FATOS
ANTERIORES À LEI Nº 13.964/2019, DESDE
QUE NÃO RECEBIDA A DENÚNCIA. 4. Na
hipótese concreta, ao tempo da entrada
em vigor da Lei nº 13.964/2019, havia
sentença penal condenatória e sua
confirmação em sede recursal, o que
inviabiliza restaurar fase da persecução
penal já encerrada para admitir-se o ANPP.
5. Agravo regimental a que se nega
provimento com a fixação da seguinte
tese: “o acordo de não persecução penal
(ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da
Lei nº 13.964/2019, desde que não
recebida a denúncia”. (STF, HC 191464 AgR,
Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 11/11/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-280 DIVULG 25-11-2020
PUBLIC 26-11-2020)
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS
CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.
DOLO EVENTUAL RECONHECIDO PELAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE ANIMUS
CALUNIANDI: IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL (ART. 28-A DO CPP).
APLICAÇÃO RETROATIVA. PROCESSO
SENTENCIADO COM CONDENAÇÃO
MANTIDA PELO TRIBUNAL.
IMPOSSIBILIDADE. SUBSTITUIÇÃO DA
PENA. PRECEITO SECUNDÁRIO QUE
COMINA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
CUMULADA COM MULTA. SUBSTITUIÇÃO
POR MULTA. INVIABILIDADE. INTELIGÊNCIA
DA SÚMULA 171/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
3. O Acordo de Não Persecução Penal
consiste em um negócio jurídico
pré-processual entre o Ministério Público e
o investigado, juntamente com seu
defensor, como alternativa à propositura
de ação penal. Trata-se de norma
processual, com reflexos penais, uma
vez que pode ensejar a extinção da
punibilidade. Contudo, não é possível
que se aplique com ampla
retroatividade norma predominante
processual, que segue o princípio do
tempus regit actum, sob pena de se
subverter não apenas o instituto, que é
pré-processual e direcionado ao
investigado, mas também a segurança
jurídica. Nessa linha de entendimento,
o acordo de não persecução penal
5
(ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes
da entrada em vigor da Lei n.
13.964/2019, desde que não recebida a
denúncia. (AgRg no HC 680.533/SC, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 05/10/2021,
DJe 13/10/2021)b) NÃO SER O CASO DE ARQUIVAMENTO DOS
AUTOS: pressupõe justa causa para a ação penal
(lastro probatório mínimo). Segundo Renato
Brasileiro (2020, p.280), “o acordo de não-persecução
penal só deve ser celebrado quando se mostrar
viável a instauração do processo penal”, pois “se o
titular da ação penal entender que o arquivamento é de
rigor, não poderá proceder à celebração do acordo.”
Alexandre de Moraes, no HC 206876 AgR, pontuou que:
“constatada a materialidade da infração
penal e indícios suficientes de autoria, o
titular da ação penal deixou de estar
obrigado a oferecer a denúncia e,
consequentemente, pretender o início da
ação penal. O Ministério Público poderá,
dependendo da hipótese, deixar de
apresentar a denúncia e optar pelo
oferecimento da transação penal ou do
acordo de não persecução penal, desde
que, presentes os requisitos legais. Essa
opção ministerial encaixa-se dentro desse
novo sistema acusatório, onde a
obrigatoriedade da ação penal foi
substituída pela discricionariedade
mitigada; ou seja, respeitados os requisitos
legais o Ministério Público poderá optar
pelo acordo de não persecução penal,
dentro de uma legítima opção da própria
Instituição. Ausentes os requisitos legais,
não há opção ao Ministério Público, que
deverá oferecer a denúncia em juízo.
Entretanto, se estiverem presentes os
requisitos descritos em lei, esse novo
sistema acusatório de discricionariedade
mitigada não obriga o Ministério Público
ao oferecimento do acordo de não
persecução penal, nem tampouco garante
ao acusado verdadeiro direito subjetivo
em realizá-lo. Simplesmente, permite ao
Parquet a opção, devidamente
fundamentada, entre denunciar ou realizar
o acordo de não persecução penal, a partir
da estratégia de política criminal adotada
pela Instituição”.
c) COMINADA PENA MÍNIMA INFERIOR A 4
ANOS E INFRAÇÃO PENAL (CRIME OU
CONTRAVENÇÃO PENAL) NÃO COMETIDA COM
VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA:
● “O delito praticado pelo investigado não pode
ter como elementares a violência ou grave
ameaça à pessoa, visto que a violência
contra o objeto não pode ser considerada
um impeditivo para a celebração do acordo
de não persecução penal.”4
● “A violência que impede o ajuste é aquela
presente na conduta, e não no resultado.
Logo, homicídio culposo, por exemplo, admite
o ANPP” (CUNHA, 2020, p. 129)”.4 Há doutrina
divergente, que entende que não cabe ANPP,
pois é crime com violência à pessoa.
● Deve-se levar em consideração causas de
aumento e causas de diminuição da pena
quando da análise da pena mínima inferior à
4. Estando diante de uma causa de aumento
variável (ex: 1/6 a 1/2), como se deve procurar
a pena mínima, então escolhe-se a menor
fração. Se for causa de diminuição,
escolhe-se a de maior diminuição, na linha do
disposto nas Súmulas 243 do STJ e 723 do STF.
● A Lei 14.064/20 acrescentou ao Art. 32 da Lei
dos Crimes Ambientais o §1º-A, prevendo uma
pena de 2 a 5 anos no caso de maus tratos a
CÃES E GATOS. Nessa situação, em tese,
caberia o ANPP. Entretanto, há doutrina
defendendo que estes animais não podem ser
considerados apenas como coisas, sendo
4
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processu
al-penal/principais-aspectos-do-acordo-de-nao-persecu
cao-penal/
6
sujeitos de direitos e, portanto, não cabendo
ANPP.
d) O INVESTIGADO TIVER CONFESSADO FORMAL
E CIRCUNSTANCIADAMENTE A PRÁTICA DO CRIME;
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO PRÓPRIO. ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL. ART. 28-A, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL CPP.
CONFISSÃO QUE NÃO ATENDE AOS
REQUISITOS LEGAIS. INDEFERIMENTO DA
HOMOLOGAÇÃO. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO. WRIT NÃO
CONHECIDO.
2. O acordo de não persecução penal é
negócio jurídico extraprocessual que
possibilita a celebração de acordo entre
acusação e acusado para o cumprimento
de condições não privativas de liberdade
em troca do não prosseguimento do
processo penal, afastando, assim, efeitos
deletérios da sentença condenatória. Para
tanto, é requisito essencial do ato que o
acusado confesse de maneira formal e
circunstanciada a prática do delito.
(HC 636.279/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
09/03/2021, DJe 23/03/2021)
A confissão exigida para o ANPP ofende o direito
constitucional ao silêncio? “Não há ofensa ao direito ao
silêncio já que o investigado tem a liberdade de
confessar ou não o ato delituoso, ou seja, tem o
investigado o direito de ficar calado ou de confessar
detalhadamente o ato delituoso. É uma opção do
investigado, dentro de sua autonomia de vontade e
assistido pela defesa técnica”5.
Se o investigado não tiver confessado a prática da
infração penal no inquérito policial, necessariamente
estará inviabilizada a proposta de Acordo de Não
5
http://www.mprj.mp.br/documents/20184/2026467/Sand
ro_Carvalho_Lobato_de_Carvalho.pdf
Persecução Penal? “Não. O fato do investigado não
confessar a prática ilícita no inquérito policial não
inviabiliza, de plano, o acordo de não persecução
penal (...) há necessidade de confissão formal do
investigado. E essa confissão deve ocorrer na presença
do Ministério Público e do defensor do investigado, na
audiência extrajudicial designada pelo Ministério
Público para a celebração do acordo de não persecução
penal. Dessa forma, mesmo que o investigado tenha
negado a prática delituosa no inquérito policial, o
membro do Ministério Público, verificando pelos
autos que os demais pressupostos e requisitos do
ANPP estão presentes no caso concreto, deve
designar audiência extrajudicial na sede do
Ministério Público para explicar o ANPP ao
investigado e seu defensor e esclarecer que o ANPP
pressupõe a confissão formal e circunstanciada da
prática delituosa, deixando a critério do investigado se
deseja confessar – e ter o ANPP – ou manter a negativa
da prática já exposta durante o inquérito policial”5.
A confissão exigida para o Acordo de Não Persecução
Penal serve para formar a opinio delict do Ministério
Público? “Não. Só cabe acordo de não persecução
penal quando o Ministério Público já possuir todos
os elementos suficientes para a ação penal. É dizer,
quando já estão plenamente preenchidas as condições
da ação penal. A justa causa e demais elementos para a
denúncia já estão presentes. Isto é um outro requisito
do ANPP: não ser caso de arquivamento. Havendo
elementos para a denúncia, o Ministério Público passa
a analisar o cabimento do ANPP. Logo, não é a
confissão por ocasião da celebração do acordo de
não persecução penal que fundamentará a opinio
delict do Ministério Público, posto que esta já estará
formada quando da audiência extrajudicial para a
formulação do ANPP.”5
e) ACORDO SEJA NECESSÁRIO E SUFICIENTE
PARA A REPROVAÇÃO E PREVENÇÃO DO CRIME, NO
CASO CONCRETO
O Professor Márcio Cavalcante, de forma brilhante,
resume os requisitos do ANPP na tabela a seguir6:
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O Poder
Judiciário não pode impor ao MP a obrigação de ofertar
7
REQUISITOS PARA QUE O MP POSSA PROPOR O
ANPP
1) não ser o caso de
arquivamento
Se não houver justa causa ou
existir alguma outra razão que
impeça a propositura da ação
penal, não é caso de oferecer o
acordo, devendo o MP pedir o
arquivamento do inquérito
policial ou investigação criminal.
2) o investigado
deve ter
confessado a
prática da infração
penal
O ANPP exige que o investigado
tenha confessado formal (em
ato solene) e
circunstancialmente (com
detalhes) a prática da infração
penal.
O art. 18, § 2º, da Res.
181/2017-CNMP exige que a
confissão seja registrada em
áudio e vídeo.
3) infração penal
foi cometida sem
violência e sem
grave ameaça
A infração penal não pode ter
sido cometida com violência ou
grave ameaça.
Prevalece que é cabível ANPP se
a infração foi cometida com
violência contra coisa.
Assim, o ANPP somente é
proibido se a infração foi
praticada com grave ameaça ou
violência contra pessoa.
4) a pena mínima
da infração penal é
menor que 4 anos
A infração penal cometida deve
ter pena mínima inferior a 4
anos.
Se a pena mínima for igual ou
superior a 4 anos, não cabe.
Para aferição da pena mínima,
serão consideradasas causas
ANPPA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudenci
a/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79>.
Acesso em: 12/09/2021
de aumento e diminuição
aplicáveis ao caso concreto.
Aplicam-se ao ANPP, por
analogia, as súmulas 243-STJ e
723-STF.
5) o acordo deve se
mostrar necessário
e suficiente para
reprovação e
prevenção do
crime no caso
concreto
Esse requisito revela que a
propositura, ou não, do acordo
está atrelada a certo grau de
discricionariedade do membro
do MP, que avaliará se essa
necessidade e suficiência estão
presentes no caso concreto.
6) não caber
transação penal
Se for cabível transação penal
(art. 76 da Lei nº 9.099/95), o
membro do MP deve propor a
transação (e não o ANPP). Isso
porque se trata de benefício
mais vantajoso ao investigado.
Por outro lado, mesmo que seja
cabível a suspensão condicional
do processo, ainda assim, o
membro do MP pode propor o
ANPP.
7) o investigado
deve ser primário
Se o investigado for reincidente
(genérico ou específico), não
cabe ANPP.
8) não haver
elementos
probatórios que
indiquem conduta
criminal habitual,
reiterada ou
profissional,
exceto se
insignificantes as
infrações penais
pretéritas
Regra: se houver elementos
probatórios que indiquem que o
investigado possui uma conduta
criminal habitual, reiterada ou
profissional, não cabe ANPP.
Exceção: se essas infrações
pretéritas que o investigado se
envolveu forem consideradas
“insignificantes”, será possível
propor ANPP.
9) o agente não
pode ter sido
beneficiado nos 5
anos anteriores ao
cometimento da
infração com outro
No momento de decidir se vai
propor o ANPP, o membro do
MP deverá analisar se, nos
últimos 5 anos (contados da
infração), aquele investigado já
foi beneficiado:
8
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79
ANPP, transação
penal ou
suspensão
condicional do
processo
· com outro ANPP;
· com transação penal ou
· com suspensão condicional do
processo.
10) a infração
praticada não pode
estar submetida à
Lei Maria da Penha
Não cabe ANPP nos crimes
praticados no âmbito de
violência doméstica ou familiar,
ou praticados contra a mulher
por razões da condição de sexo
feminino, em favor do agressor.
CONDIÇÕES DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO
O promotor e o investigado, devidamente assistido, irão
discutir as seguintes condições (que podem estar
previstas alternativa ou cumulativamente):
Art. 28-A:
I - reparar o dano ou restituir a coisa à
vítima, exceto na impossibilidade de
fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e
direitos indicados pelo Ministério Público
como instrumentos, produto ou
proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a
entidades públicas por período
correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de 1/3 a
2/3, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal);
IV - pagar prestação pecuniária, a ser
estipulada nos termos do art. 45 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), a entidade pública
ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha,
preferencialmente, como função proteger
bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado,
OUTRA CONDIÇÃO INDICADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO, desde que
proporcional e compatível com a infração
penal imputada. (Rol Exemplificativo)
APROFUNDANDO:
OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA EM CASOS DE ANPP7
● OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA: “é prerrogativa
personalíssima assegurada ao indivíduo para
eximir-se do cumprimento de determinadas
obrigações coletivas, sem perda de direitos
subjetivos, por motivos ligados a crenças
religiosas ou a convicções filosóficas ou
políticas”8
● PREVISÃO NORMATIVA: 5º, inciso VIII, CF:
“Ninguém será privado de direitos por motivo
de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”
● CABIMENTO EM CASOS DE ANPP: Eduardo
Luiz Santos Cabette pontua que “a Objeção de
Consciência é um Direito Fundamental
Individual de caráter constitucional. Nesse
passo certamente se insere dentre os
chamados “direitos públicos subjetivos”, ou
seja, aqueles direitos que o indivíduo pode
exigir cumprimento perante o Estado. Neste
sentido vale retomar os ensinamentos de
Bernardes e Ferreira, segundo os quais se deve
considerar “a escusa de consciência, ao
menos no sistema brasileiro, um direito
público subjetivo a ser utilizado em face de
8 BERNARDES, Juliano Taveira, FERREIRA, Olavo Augusto
Vianna Alues. Direito Constitucional. Tomo II. 10ª. ed.
Salvador: Juspodivm, 2021, p. 170.
7
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/09
/22/acordos-de-discricionariedade-regrada-no-processo
-penal-e-objecao-de-consciencia/
9
obrigações coletivas decorrentes de ato
normativo dos poderes públicos” (grifo no
original). Assim sendo, não parecem restar
maiores dúvidas quanto ao fato de que a
proposta de acordo em qualquer caso deve
respeitar eventual escusa de consciência,
optando por prestação alternativa que não
prejudique o interesse coletivo e respeite,
concomitantemente, o direito individual
envolvido. Como já visto, o direito de escusa
não é estabelecido na Constituição em rol de
hipóteses taxativas, de modo que cada caso
concreto merece avaliação particular.
Observe-se que no regramento legal do Acordo
de Não Persecução Penal, há previsão no artigo
28, § 5º., CPP, de que o Juiz, em considerando
haver inadequação, insuficiência ou
abusividade nas condições dispostas no
acordo, deverá restituir os autos ao
Ministério Público para reformulação da
proposta em consonância com o
investigado e seu defensor. E acaso não haja
regularização o juiz poderá recusar a
homologação (artigo 28, § 7º., CPP). E essa
abusividade certamente pode se configurar
no desrespeito de eventual Objeção de
Consciência quando, por exemplo, se
pretenda impor como obrigação a ser
cumprida o trabalho comunitário a um
médico em serviço de realização de
abortamentos legais, sendo fato que tal
profissional se opõe a essa espécie de
conduta, ainda que legalmente amparada,
devido a uma convicção ética, filosófica ou
religiosa. Prosseguindo, na Transação Penal, o
artigo 76, § 3º., da Lei 9.099/95 impõe o
controle jurisdicional da proposta a ser
homologada e ainda prevê a possibilidade de
apelação contra a sentença homologatória, de
acordo com o disposto no § 5º. do mesmo
dispositivo. No mesmo passo segue a
Suspensão Condicional do Processo sob
controle jurisdicional (artigo 89, § 1º., da Lei
9.099/95), deixando ainda claro que as
condições exigidas do implicado para o acordo
devem ser adequadas à sua “situação pessoal”
(artigo 89, § 2º., da Lei 9.099/95). Diverso não é
o caso da Colaboração Premiada, a qual
também é submetida ao controle jurisdicional
de legalidade nos termos do artigo 4º., §§ 7º. a
8º., da Lei 12.850/13. Portanto, também na
colaboração, não seria admissível impor àquele
que alegue escusa de consciência, por exemplo,
o benefício de substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, consistente
em prestação de serviços à comunidade no
trabalho de auxiliar de armeiro em instituição
militar, acaso a pessoa seja adepta do
pacifismo e contrária ao manejo de armas de
fogo. Assim também inviáveis prestações de
serviços aos sábados com relação a pessoas
que professam determinadas religiões que
impõem dogmaticamente a vedação de
atividades nesse dia da semana. Em todos os
casos de cláusulas abusivas que violem escusa
de consciência, a primeira providência será
acionar o Juiz de Direito responsável pelo
controle de legalidade no caso concreto. Em
não havendo resultado, será sempre cabível o
remédio constitucional do “Habeas Corpus”,
apontando como autoridade coatora o órgãodo Ministério Público que viola o direito de
objeção.”5
O ANPP IMPÕE SANÇÃO PENAL?
“O acordo de não persecução penal não impõe penas,
mas apenas estabelece direitos e obrigações de
natureza negocial e as medidas acordadas
voluntariamente pelas partes não produzirão
quaisquer efeitos daí decorrentes, incluindo a
reincidência.9”
VEDAÇÕES À CELEBRAÇÃO DO ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL
O Art. 28-A, §2º enuncia hipóteses em que não cabe
ANPP (condições negativas):
9
https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/20
21/01/MPSC-Manual.-ANPP-na-Lei-Anticrime.pdf
10
§ 2º O disposto no caput deste artigo NÃO
SE APLICA nas seguintes hipóteses:
I - se for cabível transação penal de
competência dos Juizados Especiais
Criminais, nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se
houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais
pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5
anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução
penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de
violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino, em favor
do agressor.
APROFUNDANDO:
● CRIME HABITUAL E HABITUALIDADE
CRIMINOSA: “O crime habitual exige uma
prática reiterada de determinada conduta,
por exemplo, casa de prostituição. A
habitualidade criminosa, por sua vez, ocorre
quando o agente faz do crime sua atividade
frequente como meio de subsistência, por
exemplo, o ladrão.”10 Segundo o Professor
Rafhael Nepomuceno, “o art. 28-A não veda o
ANPP no caso de crime habitual, mas sim na
hipótese de “conduta criminal habitual”11
● ANPP EM CRIMES CULPOSOS VIOLENTOS: “É
cabível o ANPP nos crimes culposos com
resultado violento, uma vez que nos delitos
desta natureza a conduta consiste na violação
de um dever de cuidado objetivo por
11
https://blog.mege.com.br/10-perguntas-e-respostas-sob
re-anpp-prof-rafhael-nepomuceno-2/
10
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121920359/
crime-habitual-e-habitualidade-criminosa
negligência, imperícia ou imprudência, cujo
resultado é involuntário, não desejado e nem
aceito pela agente, apesar de previsível.”12
● CRIMES HEDIONDOS OU EQUIPARADOS: a
Resolução 171/17 do CNMP vedava,
expressamente, no art. 18, §, V, ANPP em casos
de crimes hediondos ou equiparados.
Entretanto, a Lei 13.964/19 não repetiu tal
vedação, de forma que alguns doutrinadores
entendem ser cabível. ATENÇÃO (CONCURSOS
DO MP): O Conselho Nacional de Procuradores
Gerais (CNPG) publicou o enunciado 22
afirmando serem incompatíveis com o ANPP.
Enunciado n. 22 (CNPG): “Veda-se o
acordo de não persecução penal aos
crimes praticados no âmbito de violência
doméstica ou familiar, ou praticados
contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino, bem como aos crimes
hediondos e equiparados, pois em
relação a estes o acordo não é suficiente
para a reprovação e prevenção do crime”
● CRIME DE RACISMO: Alguns MPs, a exemplo do
MP de São Paulo, tem orientado pela
inaplicabilidade, vide boletim 95 de 2020 do
MP/SP:
“Neste cenário, a Procuradoria-Geral de
Justiça e a Corregedoria-Geral do
Ministério Público, entenderam por bem
expedir a presente orientação conjunta
de atuação aos Membros da Instituição,
frisando que todos os órgãos de
execução devem evitar qualquer
instrumento de consenso (transação
penal, acordo de não persecução penal e
suspensão condicional do processo) nos
procedimentos investigatórios e
processos criminais envolvendo crimes
de racismo, compreendidos aqueles
12
https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/20
21/01/MPSC-Manual.-ANPP-na-Lei-Anticrime.pdf
11
tipificados na Lei 7.716/89 e no art. 140,
§3º, do Código Penal, pois
desproporcional e incompatível com
infração penal dessa natureza, violadora
de valores sociais, sendo tais
modalidades de Justiça Consensual
insuficientes para a prevenção e
reprovação pela prática de tais delitos.”
● CRIMES ELEITORAIS: Existe corrente
doutrinária afirmando não caber ANPP em
crimes eleitorais, por conta do bem jurídico
tutelado, visto que afetam mais grave e
diretamente o interesse público, no sentido de
impedir ou turbar o regular desenvolvimento
do processo eleitoral na consecução da
soberania popular através do direito ao
sufrágio. Rogério Sanches discorda, pois não há
impedimento para suspensão condicional do
processo nem transação penal, podendo-se,
em sede de ANPP, discutir uma cláusula relativa
à inelegibilidade do investigado.
O MPPI, na cartilha PRINCIPAIS CRIMES
ELEITORAIS E SEUS ASPECTOS GERAIS13
pontuou pela aplicabilidade de APP em
crimes eleitorais: “Em virtude de os crimes
eleitorais se enquadrarem, prima facie, aos
pressupostos e requisitos legais, e levando em
consideração a aplicação subsidiária do Código
de Processo Penal, é cabível a propositura de
ANPP ao investigado pela prática de ilícito penal
eleitoral.”
FORMALIDADES DO ACORDO
● O acordo de não persecução penal será
formalizado por escrito, com a qualificação
completa do investigado;
● Deverá estipular de modo claro as suas
condições, eventuais valores a serem
restituídos e as datas para cumprimento;
13
https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/20
20/11/MPPI-Cartilha-Crimes-Eleitorais-Eleic%CC%A7o
%CC%83es-Limpas.pdf
● Será firmado pelo membro do Ministério
Público, pelo investigado e por seu defensor;
● A confissão formal e circunstanciada da prática
da infração penal deverá ser registrada em
termo próprio;
● Na sequência, os autos serão submetidos à
homologação judicial.
CONTROLE JURISDICIONAL
§ 4º Para a homologação do acordo de
não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar
a sua voluntariedade, por meio da oitiva
do investigado na presença do seu
defensor, e sua legalidade.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas,
insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução
penal, devolverá os autos ao Ministério
Público para que seja reformulada a
proposta de acordo, com concordância do
investigado e seu defensor.
§ 6º Homologado judicialmente o acordo
de não persecução penal, o juiz devolverá
os autos ao Ministério Público para que
inicie sua execução perante o juízo de
execução penal.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação
à proposta que não atender aos
requisitos legais ou quando não for
realizada a adequação a que se refere o §
5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público
para a análise da necessidade de
complementação das investigações ou o
oferecimento da denúncia.
O juiz possui 3 cenários diante do ANPP:
12
a) Homologar o ANPP, devolvendo os autos ao
MP para que inicie sua execução perante o juízo de
execução penal (§6º);
b) Considerando inadequadas, insuficientes ou
abusivas as condições dispostas no acordo de não
persecução penal, devolverá os autos ao Ministério
Público para que seja reformulada a proposta do
acordo, com concordância do investigado e seu
defensor (§5º.).
c) Recusar homologação à proposta que não
atender aos requisitos legais ou quando não for
realizada a adequação anteriormente mencionada
(§8º.)
Observações:
● O magistrado não pode intervir na redação final
do ANPP.
● Caso o magistrado recuse a homologação do
ANPP, cabe RESE (Recurso em Sentido Estrito),
com fulcro no artigo 581, XXV do CPP.
● Caso o MP, injustificadamente, recuse o
oferecimento do ANPP e o investigado tiver
interesse, poderá requerer a remessa dos
autos para o órgão superior do MP (PGJ Ou
Câmara de Coordenação e Revisão), com fulcro
no art. 28-A, §14.
Se o MP se recusar a oferecer o acordo e a defesa
requerer a remessa dos autos ao órgão superior, o juiz
é obrigado a remeter?14
Regra
sim. Em regra, não cabe ao Poder
Judiciário analisar a recusa do MP e,
portanto, se a defesa não se conformar,
deverá remeter os autos ao órgão
superior do Parquet.
14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O Poder
Judiciário nãopode impor ao MP a obrigação de ofertar
ANPPA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudenci
a/detalhes/cc02d42b8939768b8a4f1e4d826faa79>.
Exceção
o STF afirmou que o juiz não precisa
remeter ao órgão superior do MP em caso
de manifesta inadmissibilidade do ANPP.
Nas palavras do Min. Gilmar Mendes:
“Não se tratando de hipótese de manifesta
inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o
reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A, §
14, do CPP, não sendo legítimo, em regra, que o
Judiciário controle o ato de recusa, quanto ao mérito,
a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP.
Isso porque a redação do art. 28-A, § 14, do CPP
determina a iniciativa da defesa para requerer a sua
aplicação.”
DESCUMPRIMENTO DO ACORDO
Descumpridas quaisquer das condições
voluntariamente ajustadas, o Ministério Público
comunica (requerimento) o juiz para que decrete
sua rescisão, possibilitando ao titular da ação o
oferecimento da denúncia.
A decisão judicial, que rescinde, tem NATUREZA
CONSTITUTIVA NEGATIVA. (Cunha, 2020)
Art. 28-A (...)
§ 10. Descumpridas quaisquer das
condições estipuladas no acordo de
não persecução penal, o Ministério
Público deverá comunicar ao juízo,
para fins de sua rescisão e
posterior oferecimento de
denúncia.
APROFUNDANDO:
● Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 287), a
“denúncia a ser oferecida pelo Ministério
Público poderá trazer, como suporte
probatório, inclusive a confissão formal e
circunstanciada do investigado por ocasião
da celebração do acordo”.
13
A confissão exigida para o Acordo de Não
Persecução Penal pode ser usada no processo
criminal, caso descumprido o ANPP? “Sim. Se o
acordo de não persecução penal for
homologado judicialmente, mas o investigado
deixar de cumprir integralmente suas
condições, haverá rescisão do ANPP e o
Ministério Público oferecerá a denúncia (art.
28-A, § 10, do CPP) e a confissão poderá ser
usada como elemento de reforço da prova de
autoria, corroborando com as demais provas
produzidas em contraditório. Como explica
CABRAL (2020, p. 113): “É importante frisar,
porém, que essa confissão formal e
circunstanciada somente poderá ser utilizada
no processo penal, caso seja o acordo
homologado e caso exista descumprimento do
acordo, levando o Ministério Público a oferecer
denúncia”. E CUNHA (2020, p. 309): Nesse
sentido, é viável defender que a confissão
apresentada como condição para o acordo de
não persecução pode ser utilizada pelo órgão
acusatório quando for possível atribuir ao
acusado a responsabilidade pela rescisão do
negócio jurídico. Entender contrariamente,
nesse caso, seria o mesmo que anuir que o
acusado pode ser beneficiado por uma situação
que deu causa”15.
E se o Acordo de Não Persecução Penal não for
homologado pelo Juízo, pode a confissão ser
usada no processo criminal? “Não. Se o Juízo
competente não homologar o ANPP e o
Ministério Público oferecer a denúncia, não
pode usar a confissão realizada no ANPP no
processo criminal.” Para CABRAL (2020, p.114):
“Na hipótese de o acordo não ser homologado,
volta-se ao status quo ante, não sendo possível,
por força do princípio da lealdade e da
moralidade administrativa, o seu uso em
prejuízo do investigado”.15
● O descumprimento do acordo poderá ser
utilizado pelo Ministério Público como
15
http://www.mprj.mp.br/documents/20184/2026467/Sand
ro_Carvalho_Lobato_de_Carvalho.pdf
justificativa para o eventual não
oferecimento de suspensão condicional do
processo (§11).
● NOVAÇÃO: É possível, depois de descumprido
o acordo, haver uma repactuação? Para
parcela da doutrina, seria possível, levando em
conta que se trata operação jurídica típica do
Direito das obrigações, criando uma nova
obrigação, substituindo e extinguindo a
obrigação anterior e originária. A novação pode
evitar a rescisão. Por óbvio, sua eficácia
dependerá de homologação judicial, nos
termos dos §4º do art. 28-A do CPP.
● ANPP E AÇÃO PRIVADA: Cabe ANPP aos
processos de ação privada? Segundo Aury
Lopes Jr. e Higyna Josita, Sim. Para eles,
“cabível o ANPP por ausência de vedação
legal aos crimes de ação privada que
tramitam na Justiça comum desafiando o
rito especial (art. 519 a 523, CPP) ou que
tramitam no JECRIM, mas o querelante não
tem direito a transação, nem a sursis
processual. Inclusive, pensamos que esse
debate seguirá o mesmo rumo que no passado
existiu em torno da transação penal. Para a
primeira audiência de tratativas perante o
Ministério Público deverá também a vítima ser
intimada para comparecimento, com vistas a,
exemplo do que ocorre na transação penal,
participar da audiência e discutir as condições.
Caso não compareça ou se negue a oferecer o
acordo isso não impede o membro do Parquet
o proponha, na qualidade de custos legis”.16
CUMPRIMENTO DO ACORDO
De acordo com o artigo 28-A, cumprido integralmente o
ANPP, o juízo competente decretará a EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. O juízo competente, na linha da opção
do legislador na Lei 13.964/19, é o da execução penal.
16
https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-que
stoes-polemicas-acordo-nao-persecucao-penal
14
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.
ART. 306 DO CTB. ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL (ANPP).
RETROATIVIDADE DO ART. 28-A DO CPP.
LIMITE TEMPORAL. RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. O acordo de não persecução penal é
instituto mediante o qual o órgão
acusatório e o investigado celebram
negócio jurídico em que são impostas
condições, as quais, se cumpridas em
sua integralidade, CONDUZEM À
EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE DO
AGENTE. (AgRg no HC 636.024/SC, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 14/09/2021,
DJe 21/09/2021)
PRESCRIÇÃO
Conforme o Art. 116, IV do CP, não corre a prescrição
da pretensão punitiva enquanto não cumprido ou não
rescindido o acordo de não persecução penal.
15