Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 REDAÇÃO JURÍDICA PARA ADVOGADOS Prof. Osvaci Amaro Venâncio Júnior Outubro/2020 2 COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL Escrever com correção é um procedimento argumentativo, ou seja, o uso de um certo padrão de linguagem concorre para aumentar ou diminuir o poder de persuasão daquele que escreve. (Platão e Fiorin) O que é coerência? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ O que é coesão? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 3 ALGUNS ELEMENTOS DE COESÃO realce contradição condição causa adição oposição se porque além disso mas caso porquanto ainda contudo contanto que já que ademais entretanto salvo se uma vez que também no entanto dado que visto que de modo geral ao contrário disso desde que inclusive por outro lado a menos que até de outra parte a não ser que é certo diferente disso finalidade outrossim porém para em outras palavras consequência a fim de além desse fator conclusão e/nem retificação destarte concessão explicação por conseguinte embora isto é consequentemente não obstante enumeração por exemplo de modo que conquanto continuação a saber de forma que mesmo que inicialmente de fato de sorte que por mais que em primeiro lugar em verdade portanto dado que a princípio aliás pois se bem que em seguida melhor ainda posto isso posto que depois (depois de) ou seja em suma finalmente como se viu concluindo anáfora em linhas gerais como se observa por fim este/esse/esta/essa aqui com efeito por tais razões ele/ela neste momento daí diante do exposto aquele/aquela desde logo porque por isso que de resto assim em razão disso o qual/a qual no caso em tela desse modo onde por sua vez dessa forma cujo/cuja a par disso pois ambos nessa esteira no qual/na qual no caso presente por meio do(a) qual entrementes pelo qual/pela qual o que seu/sua/seus/suas 4 ⚫ Abaixo há segmentos textuais separados por ponto. Estabeleça entre os segmentos o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os elementos de coesão adequados e fazendo as adaptações que forem necessárias. 1) A vítima, em razão das múltiplas lesões sofridas no acidente automobilístico, perdeu sua capacidade laborativa em 80%. Teve que se aposentar por incapacidade permanente. 2) Havendo mais de um causador de um mesmo dano ambiental, todos respondem solidariamente pela reparação, na forma do art. 942 do Código Civil. Se diversos forem os causadores da degradação ocorrida em diferentes locais, ainda que contíguos, não há atribuir-lhes a responsabilidade solidária. 3) Os notários e os registradores exercem atividade estatal. Não são titulares de cargo público efetivo, tampouco se submetem a regime estatutário. 4) O juiz pode assumir uma posição ativa, que lhe permite, entre outras prerrogativas, determinar a produção de provas. O juiz tem de fazer isso de forma imparcial. 5) Um dos direitos elementares do consumidor é a facilitação da defesa de suas pretensões. Com a inversão do ônus da prova a seu favor. 6) Diante do exposto, o voto é para conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Manter inalterada a decisão que julgou procedente o pleito inaugural para declarar nulas as cláusulas que possibilitam à recorrente resilir unilateralmente o contrato de seguro. 7) Alexandre de Melo interpôs recurso de apelação da sentença. O Magistrado julgou improcedente seu pedido e o condenou ao pagamento de custas e honorários advocatícios. 5 8) Os direitos trazidos à baila e que aguardam deste Sodalício a sua efetivação são de ordens distintas. Ambos, patrimônio e saúde, são tutelados pela Constituição Federal. 9) Trata-se de apelação cível interposta por Sul América Companhia Nacional de Seguros S.A. da sentença proferida pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de São José. O juiz resolveu a lide nos seguintes termos: 10) Irresignada, a autora interpôs recurso de apelação. Alegou que os juros de mora e a correção monetária devem ter como marco inicial a data dos respectivos vencimentos dos títulos, conforme dispõe o art. 12 da Lei n. 4.591/1994. 11) É certo que a validade da sentença decorre necessariamente do embate de todas as questões relevantes suscitadas no curso processual. A omissão na análise das teses defensivas derradeiras ou a ausência de fundamentação configuram nulidade da sentença. 12) No caso dos autos, é inviável a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O crime foi cometido com grave ameaça a pessoa. 13) Compulsando o caderno processual, não há dar guarida a nenhum dos argumentos esposados pelo apelante. As preliminares de não enfrentamento das teses aduzidas em alegações finais, de ausência de fundamentação na sentença e, assim, de nulidade desta são descabidas. 14) Não se pode afastar do comprador a legítima propriedade do veículo. Não há nos autos prova do registro no órgão de trânsito a respeito da referida compra e venda. De acordo com o art. 1.267 do Código Civil, a propriedade de coisa móvel se transfere pela tradição. 15) No depoimento dado em Juízo, o médico responsável pelo primeiro atendimento à ré afirmou que a “apendicite em si mesma pode provocar 6 diarreia, mas não é um caso comum, por isso o diagnóstico de apendicite é difícil” (fl. 484). Enfatizou o depoente que o abdômen da ré estava flácido e sem sinais de abdômen agudo cirúrgico. 16) Insurge-se o impetrante contra acórdão proferido pela Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. A Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina não conheceu da ordem impetrada. 17) A absolvição pretendida pelo apelante não merece prosperar. Ficaram devidamente comprovadas a autoria e a materialidade do crime em questão. 18) A seguradora deve ser condenada em litigância de má-fé. A seguradora obsta processualmente o cumprimento da obrigação advinda do contrato de seguro com fundamentos esparsos e sem força para derruir o direito do segurado. 19) O Juízo a quo determinou a realização de penhora no rosto dos autos n. 033.02.015018-3 (ação de consignação em pagamento), dentro da conta vinculada n. 02.033.0688-0, no montante correspondente ao valor atualizado do débito. O montante é de R$ 5.574.557,44. 7 O EMPREGO DO GERÚNDIO • O gerúndio não deve ser usado se corresponder a uma das formas abaixo: de forma que (+ verbo) o que (+ verbo) e (+ verbo) como (+ verbo) conforme (+ verbo) a fim de que (+ verbo) com para (+ verbo) à medida que (+ verbo) pelo que (+ verbo) e que (+ verbo) que (+ verbo) o(a) qual (+ verbo) no(a) qual (+ verbo) pelo(a) qual (+ verbo) assim, (+ verbo) desse modo, (+ verbo) • O gerúndio pode ser usado se corresponder a uma das formas abaixo: se (+ verbo) quando (+ verbo) embora (+ verbo) conquanto (+ verbo) já que (+ verbo) uma vez que (+ verbo)porque (+ verbo) 8 • O gerúndio pode ser utilizado para expressar o modo como ocorre a ação descrita no verbo anterior ou posterior. “Irresignado, o réu apelou reiterando as preliminares bem como os argumentos relativos ao mérito.” (correto) “Irresignado, o réu interpôs apelação, na qual reiterou as preliminares bem como os argumentos relativos ao mérito.” (correto) “Irresignado, o réu interpôs apelação, reiterando as preliminares bem como os argumentos relativos ao mérito.” (correto) • Muitos gerúndios dentro do parágrafo: “Citado, o município de Blumenau contestou o feito (fls. 42-51), argumentando que o Decreto Legislativo n. 135/1988, que majorou a remuneração do Prefeito em exercício, teve vigência temporária, ressaltando que, em face do disposto no inciso...” Prefira: “Citado, o município de Blumenau contestou o feito (fls. 42-51), argumentando que o Decreto Legislativo n. 135/1988, que majorou a remuneração do Prefeito em exercício, teve vigência temporária. Ressaltou que, em face do disposto no inciso...” • Não use “sendo que” Evitem o “sendo que” nas peças. O uso do “sendo que” indica ao leitor que o escritor não possui conhecimento suficiente da língua (por exemplo, não sabe usar as conjunções) e que, assim, tem de se socorrer à expressão, que passa então a servir de verdadeira bengala linguística. Isto é, na pressa e pela falta de conhecimento de outros recursos, o redator sai espalhando o “sendo que” pelo texto, o que faz com que a peça seja desagradável de ser lida e pareça mal-escrita. Em 95% dos casos, o “sendo que” pode ser trocado por um simples “e”: “Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser cabalmente comprovada, sendo que tal ônus compete à seguradora.” (errado) “Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser cabalmente comprovada, e tal ônus compete à seguradora.” (correto) 9 Às vezes o “sendo que” pode, a depender do sentido, ser trocado por “de modo que”, “de forma que”, introduzindo uma oração consecutiva: “Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, sendo que a ausência de quaisquer dos requisitos obsta o deferimento.” (errado) “Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, de modo que a ausência de quaisquer dos requisitos obsta o deferimento.” (correto) 10 ⚫ Corrija, se for necessário, as seguintes frases no que tange principalmente ao uso do gerúndio: 20) Diante disso, caracterizou-se a sucumbência mínima do apelado, devendo a apelante arcar integralmente com as custas processuais e os honorários advocatícios, conforme determinado pela instância a quo. 21) A agravante alega que a decisão de primeiro grau não foi devidamente fundamentada pelo Magistrado, devendo assim ser declarada nula por este egrégio Tribunal. 22) Irresignada, a empresa ré interpôs recurso de apelação (fls. 138-146) requerendo a reforma da sentença de primeiro grau, alegando, preliminarmente, carência de ação por falta de interesse processual. 23) Alegou o apelante não possuir condições econômicas para ofertar à apelada os alimentos fixados na sentença, requerendo a sua exoneração do encargo até que consiga se recompor e prestá-los de forma digna. 24) In casu, tanto o defensor quanto o apelante foram intimados em plenário no dia 25-10-2010, estando, dessa forma, cientes do teor da sentença proferida. 25) Há de se mencionar que não se trata de decisão definitiva, podendo o Magistrado a quo modificar seu entendimento a qualquer tempo se a situação fática vier a mudar no decorrer do processo. 26) Ante o exposto, é imperioso dar provimento ao recurso para reformar a decisão hostilizada, mantendo a penhora já constituída sobre o imóvel objeto da lide. 27) De acordo com o art. 593, caput, do Código de Processo Penal, caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias, iniciando a contagem no dia logo após a última intimação do réu e do seu defensor. 11 28) A prescrição tem por finalidade punir a inércia do titular do direito violado, proporcionando segurança às relações jurídicas. 29) O acórdão teve votação unânime, sendo que contra ele foi interposto recurso especial. 12 O EMPREGO DA VÍRGULA • Vírgula e o sujeito/predicado • Não se deve usar a vírgula entre o sujeito e o predicado. “A motivação para o estudo e análise do processo e a produção da proposta, foram principalmente...” (Errado) “O mesmo decreto que fixou sua remuneração, estabeleceu a política de atualização desse valor.” (Errado – note que o sujeito é “O mesmo decreto que fixou sua remuneração”) “O art. 173, § 2º, da Carta Magna, adverte...” (Errado) Observação: Quanto a esse último caso, cuidado: “De acordo com o art. 173, § 2º, da Carta Magna, as empresas...” (Correto) • A simples inversão da colocação do sujeito não acarreta a necessidade de uso da vírgula. “Funcionou como representante do Ministério Público, o Exmo. Sr....” (Errado) “Compete a ela, fiscalizar a obra.” (Errado) “Compete à Diretoria de Material e Patrimônio e à Diretoria de Orçamento e Finanças, elaborar contratos...” (Errado) • Não confundir sujeito com expressões que indicam lugar e tempo, as quais podem ser seguidas de vírgula. “A partir de agora, todos os carros deverão retornar à instituição.” (Correto – “A partir de agora”, por indicar tempo, não é sujeito. Por isso a vírgula está correta, se bem que facultativa) “Na sessão de julgamento, ficou decidida a absolvição do réu (Correto – “Na sessão de julgamento” exprime lugar) • Vírgula entre o verbo e o complemento Não se deve usar a vírgula entre o verbo e o seu complemento. “Solicito a Vossa Excelência, providências imediatas...” (Errado) “Do mencionado voto, colhe-se o seguinte trecho:” (Errado) 13 “Do Superior Tribunal de Justiça, colhe-se:” (Errado) • Vírgula com elementos normativos Forma crescente (alínea => inciso => parágrafo => artigo => lei); nessa ordem, não há vírgula: “alínea b do inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal”. Forma decrescente (lei => artigo => parágrafo => inciso => alínea); nesse caso, há vírgula: “Constituição Federal, art. 12, § 4º, II, b”. Forma híbrida (artigo => inciso => lei); nessa forma, também ocorre a vírgula: “art. 5º, II, da Constituição Federal”. “Entende a embargante que, para a adequada prestação jurisdicional, deve haver a declaração expressa dos seguintes dispositivos: arts. 5o, XXXIV, a, LIV e LV, 93, IX, 133, 194 e 195, § 5o, todos da Constituição Federal; arts. 17, 32, 128, I, II e III, e 352, todos do Código de Processo Civil; arts. 188, I, e 944 do Código Civil; arts. 3o, caput, I, § 1o, e 5o, § 5o, da Lei n. 6.194/1974.” (Correto) • Vírgula com cargos ou qualificações Usa-se entre vírgulas o nome do detentor de um cargo ou a qualificação de uma pessoa quando só ela pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação. “O Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Desembargador Ricardo Roesler, garantiu...” (Correto – só há um presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina) “Irresignado com a decisão, o acusado, Cleiton Rocha, apelou.” (Correto – neste caso, só há um acusado) “Irresignado com a decisão, o acusado Cleiton Rocha apelou.” (Correto – neste caso, há mais de um acusado no processo) • Vírgula e a fluência da oração • Usa-se vírgula para separar termos ou orações que interrompem a fluência da oração. Todas as frases abaixo estão corretamente virguladas. “O criminoso, já condenado, recusava-se a admitir sua culpa.” (= “O criminoso recusava-se a admitir sua culpa.”) 14 “Alega que, na data do ajuizamento da presente ação, o prazo prescricional ainda não havia sido encerrado.” (= “Alega queo prazo prescricional ainda não havia sido encerrado.”) “Desse modo, se o acusado, no momento da apresentação de suas alegações derradeiras, assim como em suas razões de apelação, aduziu ter agido sob o pálio da legítima defesa, a ele compete a prova de tal excludente.” (= “...se o acusado aduziu ter agido sob o pálio da legítima defesa.”) “Alega, com fulcro no art. 7º, IV, da CF, ser impossível a vinculação da indenização ao salário mínimo.” (= “Alega ser impossível a vinculação da indenização ao salário mínimo.”) • Veja agora este outro caso: “Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão estivesse em plena efetividade e tivesse na ocasião, idade não superior a 40 anos.” (Errado – “Poderia inscrever-se todo funcionário que idade não superior a 40 anos” não faz sentido.) “Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão, estivesse em plena efetividade e tivesse, na ocasião, idade não superior a 40 anos.” (Correto – “Poderia inscrever-se todo funcionário que estivesse em plena efetividade e tivesse idade não superior a 40 anos”.) • O que não se pode, nessas hipóteses, é usar apenas a primeira ou a segunda vírgula. Ou se colocam as duas vírgulas, ou não se coloca nenhuma. “Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão estivesse em plena efetividade...” (Errado) “Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão, estivesse em plena efetividade...” (Errado) “Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão, estivesse em plena efetividade...” (Correto) “Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão estivesse em plena efetividade...” (Correto) “Constata-se do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Errado) “Constata-se, do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Errado) “Constata-se do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Correto) 15 “Constata-se, do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Correto) • Vírgula e o “e” Ao contrário do que muitos pensam, pode, sim, haver vírgula antes do “e”, para separar orações que têm sujeitos diferentes e dar clareza à frase. “A redação de seu nome mostra-se errada, e a assinatura contida no aceite da mercadoria é muito diferente da apresentada no instrumento de procuração.” (Correto) (A vírgula está separando orações com sujeito diferente. São eles: “a redação de seu nome” e “a assinatura contida no aceite da mercadoria”.) “O réu estava arrependido e amedrontado, e a vítima estava em pânico.” (Correto) (Neste caso, em que há dois “ee” seguidos, note como a vírgula confere mais clareza à frase.) • EXERCÍCIOS VÍRGULA (PARTE 1) • Corrija as seguintes frases no que tange principalmente ao uso da vírgula: 30) O Exmo. Sr. Des. Robson Luz Varella, que indeferiu o efeito suspensivo foi brilhante no seu voto. 31) Diante da ausência de intimação do executado e do erro de cálculo judicial do débito alimentar, o qual acrescentou valores que deveriam ser descontados, impende reconhecer o cerceamento de defesa, e, por consequência, a ilegalidade do decreto prisional. 32) Alegou que na qualidade de vítima de acidente causado por veículo automotor, recebeu R$ 3.759,91 (três mil, setecentos e cinquenta e nove reais e noventa e um centavos) a título de indenização do seguro obrigatório e o Instituto Nacional de Previdência Social lhe concedeu auxílio-doença desde a data do acidente até 1°-12-2005. 33) O capital social constitui-se em um patrimônio societário que a exemplo da personalidade jurídica, é distinto do patrimônio dos sócios. 34) Das declarações prestadas por Adão Fonseca Júnior ao Togado singular, 16 extrai-se: 35) Discussão acerca de prescrição é de índole infraconstitucional e, inexistindo afronta direta à Constituição, não cabe recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal. 36) Ao analisar o pedido de efeito suspensivo, o Exmo. Sr. Des. Subst. Luiz Zanelato também analisou a situação fática de maneira escorreita e, portanto, transcrevo trecho de sua decisão, in verbis: 37) Vale apontar, conforme preceitua o art. 110 do Código de Processo Civil, que “ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º”. 38) Como é cediço, a prática de quaisquer condutas existentes no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, é suficiente para a configuração do crime de tráfico ilícito de drogas. 39) No que diz respeito à partilha dos créditos previdenciários, tal questão não é pacífica e este Relator se filia ao entendimento segundo o qual as verbas trabalhistas e outras rendas semelhantes não possuem natureza salarial. 40) Ora, se, de fato, a construção do muro causasse falta de habitabilidade nos apartamentos afetados com a aludida obra, como quer fazer crer o condomínio agravante, com toda certeza, não levaria mais de um ano para propor a ação demolitória. 41) Como se vê, as teses trazidas nas razões dos embargos de declaração constituem inovação recursal e, por esse motivo, não pode esta Corte de Justiça enfrentar tais matérias, as quais deveriam ser deduzidas no recurso de apelação cível. 42) Ora, a Primeira Câmara de Direito Público já assentou que independentemente da previsão dos citados consectários em cláusula expressa, não pode a administração pública furtar-se ao pagamento de tais verbas, sob pena de enriquecimento ilícito. 43) À fl. 48, foi excluída da lide a litisconsorte Ana Paula Maia. Dessa decisão, os réus interpuseram agravo de instrumento. 44) Acrescentaram que visando à restituição do bem, notificaram os recorridos para que o desocupassem, razão pela qual, não obtido êxito em seu intento, ficou caracterizado o esbulho possessório. 17 45) Nesse contexto, pede expressa manifestação sobre os artigos 5°, incisos XXXIV, alínea a, LIV e LV, 93 e 133 da Constituição da República Federativa do Brasil e sobre os artigos 84, 89, 107, incisos I, II e III e 238 do Código de Processo Civil. 46) O espólio de Cléber Soares e seus herdeiros, Daniela Soares e Luciano Soares interpuseram apelação cível, na qual sustentaram que após a notícia do falecimento de Cléber Soares, deveria ter sido aberto prazo para que o espólio e seus herdeiros viessem aos autos. 47) O pleito de diminuição da fração aplicada em razão da causa especial de aumento prevista no art. 1o, § 4o, II, da Lei n. 9.455/1997 (crime cometido contra criança), não merece provimento. 48) O instrumento de mandato outorgado pelos autores, ora credores, aos seus advogados, contém poderes para receber e dar quitação. 49) Alegou também que haveria contradição interna, omissão e obscuridade no acórdão no ponto relativo à lei de regência do seguro obrigatório, uma vez que o art. 3°, caput, alínea b da Lei n. 6.194/1974, com alteração dada pela Lei n. 11.482/2007, conteria a expressão “até” que estaria a indicar possibilidade de pagamento da indenização de acordo com o grau de invalidez total ou parcial. • Vírgula e a omissão de verbos Usa-se a vírgula para omitir verbos. Assim: “O novo regimento interno está dividido em quatro partes. A parte I trata da organização e competência; a parte II, do processo; a parte III, dos serviços do Tribunal; e, por fim, a parte IV, das disposições finais.” (Correto) (= “A parte I trata da organização e competência; a parte II (trata) do processo; a parte III (trata) dos serviços do Tribunal; e, por fim, a parte IV (trata) das disposições finais.”) • Vírgula e oração subordinada Sempre haverá vírgula depois da frase que começar com palavras ou expressões que denotam: • Concessão “Embora não tenha havido quórum, os parlamentares tentaram aprovar o projeto.” 18 “Por mais que o policial tentasse ajudar, o suicida jogou-se da ponte.” Outrasexpressões que denotam concessão: “mesmo que”, “apesar de”, “conquanto”. • Causa “Uma vez que a demanda de trabalho é maior no período vespertino, há um número maior de terceirizados que trabalham das 13h às 19h.” “Porque é mais vantajoso para as partes, a suspensão do processo é medida que se impõe.” “Por motivos de força maior, a reunião foi postergada.” • Condição “Se tivessem chegado mais cedo, a sessão teria começado antes do horário.” “Na hipótese de vários ofensores, o perdão concedido a um deles aproveita a todos.” • Tempo “Depois desse momento, o perdão perde o poder extintivo da ação penal privada.” “Logo que a ré saiu da audiência, levou três tiros pelas costas.” “Até o trânsito em julgado da sentença condenatória, é possível o perdão.” Outras expressões que denotam tempo: “quando”, “assim que”, “logo que”. • Finalidade “Para tentar diminuir a violência nos estádios, a Justiça catarinense far- se-á presente em todos os jogos do campeonato.” Outras expressões que denotam finalidade: “para que”, “a fim de que”. • Proporção “À medida que um grupo saía, outro entrava para assistir à palestra.” Outras expressões que denotam proporção: “enquanto”, “ao passo que”. • Conformidade “Conforme inteligente lição de Nelson Nery Junior, a sentença terminativa é aquela que...” “De acordo com o sindicato, haveria 8% de aumento.” Outras expressões que denotam conformidade: “segundo”, “como”. 19 • Comparação “Como um verdadeiro delinquente, o réu foi condenado por vários homicídios.” • Vírgula e formas nominais do verbo Haverá vírgula depois da frase que começar com gerúndio, particípio ou infinitivo e denotar uma das palavras ou expressões acima. “Sabendo que poderia pegar mais de dez anos de prisão, o acusado entregou-se à polícia.” (Gerúndio; denota causa = “Uma vez que sabia...”) “Assinando o contrato, saiu rapidamente.” (Gerúndio; denota tempo = “Quando assinou o contrato,...”) “Ao ver seu nome na lista dos aprovados, chorou muito.” (Infinitivo; denota tempo = “Quando viu seu nome...”) “Mesmo sem ser notificado, o cliente deveria comparecer.” (Infinitivo; denota concessão = “Embora não tenha sido notificado,...”) “Terminada a sessão, os advogados reuniram-se.” (Particípio; denota tempo = “Assim que terminou a sessão,...”) “Desesperado, jogou-se na frente de um automóvel.” (Particípio; denota causa = “Uma vez que estava desesperado,...”) Se as referidas palavras ou expressões não começarem a frase, a vírgula é desnecessária, sobretudo se a primeira oração for curta (mais ou menos até cinco palavras). “Os parlamentares aprovaram o projeto embora não tenha havido quórum.” Ou: “Os parlamentares aprovaram o projeto, embora não tenha havido quórum.” “A ré levou três tiros pelas costas logo que saiu da audiência.” Ou: “A ré levou três tiros pelas costas, logo que saiu da audiência.” “Chorou muito ao ver seu filho ser levado para a prisão.” “Chorou muito, ao ver seu filho ser levado para a prisão.” (Evite) 20 • Vírgula e o travessão Com travessões as vírgulas devem ser usadas normalmente, como se eles não existissem. “Após ter quitado 24 prestações, de um total de 50 – a última foi de R$ 580,00 –, o mutuário tentou transferir...” (Correto = “Depois de ter quitado 24 prestações, de um total de 50, o mutuário tentou transferir...”) “Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite – a festa ainda não...” (Errado) “Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite –, a festa ainda não...” (Correto = “Embora ela tenha chegado tarde, a festa ainda não...”) • Vírgula e o “que” Há muita dificuldade de virgular frases que apresentam “que”. Seguem algumas explicações que podem ajudar. • Virá entre vírgulas ou antecedida de vírgula a oração que começa com “que”, se esta estiver fazendo algum comentário sobre o antecedente ou se o “que” puder ser facilmente substituído por “o qual”, “a qual”, “os quais”, “as quais”. “Envio a Vossa Senhoria o documento anexo, que traz a relação das comarcas que não contam com terceirizados.” (Correto – “... o qual traz...”) “O Presidente, que estava na França na semana passada, deve chegar a Londres nesta sexta-feira.” (Correto – a oração “que estava na França na semana passada” faz comentário sobre o antecedente “Presidente”.) “Os prazos no Tribunal de Justiça estão conforme a Lei n. 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial.” (Correto – “... a qual dispõe...”) • A oração que se inicia em “que” não será seguida nem antecedida de vírgula se houver restrição, isto é, se a oração restringir ou limitar o antecedente. Sabe-se que não há vírgula antes do “que” quando na oração restritiva (que contém o “que”) estiver subentendida a ideia de “apenas”. “Os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho.” (Correto) (“Apenas os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho” = “Os outros juízes tiveram muito trabalho”) 21 DICA: Se o “que” não puder ser substituído por “o qual”, “a qual”, não haverá vírgula antes dele. “O réu afirmou, que não saiu de casa naquela noite.” (Errado) “O réu afirmou que não saiu de casa naquela noite.” (Correto) “O réu afirmou, ainda, que não saiu de casa naquela noite.” (Correto) “É necessário dizer, ainda, que, o recurso é intempestivo.” (Errado) “É necessário dizer, ainda, que o recurso é intempestivo.” (Correto – pois equivale a dizer: “É necessário dizer que o recurso é intempestivo”.) • Vírgula e “entretanto” / “porém” / “todavia” Não raro as expressões “todavia”, “porém”, “entretanto” são virguladas de maneira errada ou ambígua. Veja estes casos: “O advogado fez um excelente trabalho, entretanto, não obteve êxito.” (Errado, pois não se sabe bem se “entretanto” se refere à oração “O advogado fez um excelente trabalho” ou à “não obteve êxito”.) “O advogado fez um excelente trabalho, entretanto não obteve êxito.” (Correto, pois agora se sabe, claramente, que “entretanto” se refere à oração “não obteve êxito”.) “O advogado fez um excelente trabalho; entretanto, não obteve êxito.” (Correto, note que agora foi usado o ponto e vírgula.) “Há muitos estudantes procurando estágio, porém, há poucas vagas.” (Errado) “Há muitos estudantes procurando estágio, porém há poucas vagas.” (Correto) “Há muitos estudantes procurando estágio; porém, há poucas vagas.” (Correto) “Há muitos estudantes procurando estágio; há, porém, poucas vagas.” (Correto) “Há muitos estudantes procurando estágio; há porém poucas vagas.” (Correto – quando a sequência de ideias for clara, não há obrigatoriedade de expressões como “porém”, “contudo”, “todavia” virem entre vírgulas.) • Vírgula e o “mas, sim” A expressão “mas, sim” deve vir entre vírgulas. 22 “A decisão não favoreceu os apelantes, mas, sim, os apelados.” No entanto, se a expressão utilizada for “e sim”, só caberá vírgula à esquerda do “e”. “Os velhos funcionários não querem inovação, e sim continuidade.” • “Isso porque” Não há vírgula depois de “porque” em construções como: “Razão não socorre o réu. Isso porque ficou devidamente provado nos autos...” (Correto) “Não assinou contrato com a fornecedora; até porque não tinha mais interesse no produto.” (Correto) • “Pois bem” A expressão “Pois bem” pode vir sozinha na frase, formando, ela só, um parágrafo. Quanto à pontuação, pode ser seguida tanto do ponto quanto da vírgula (nesta última hipótese apenas, claro, se a expressão não vier sozinha). Portanto, todas as formas a seguir estão corretas: 1 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade passiva para responder à ação. ⠀Pois bem. É sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”. ⠀2 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade passiva para responder à ação. ⠀Pois bem, é sabido que alegitimidade para responder à presente ação...”. ⠀3 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade passiva para responder à ação. ⠀Pois bem. ⠀É sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”. ⠀ 23 • ⠀“Se não, vejamos” Dúvidas existem sobre o uso dessa expressão, muito comum na redação de textos jurídicos. Uns não sabem se o “se não” escreve-se separado ou junto (senão); outros, se a expressão é antecedida de vírgula, ponto, ou de ponto e vírgula; outros, ainda, se a expressão é seguida de dois-pontos ou somente de ponto. Também há aqueles que não sabem se o “se não, vejamos” pode vir no início do parágrafo, ou se apenas no final. Até a vírgula depois do “se não” é objeto de dúvidas. A forma correta é “se não, vejamos”, com o “se” separado do “não” seguido de vírgula. Devemos entender a expressão mais ou menos como: “se não [acredita, leitor], vejamos”. A expressão pode ser antecedida de vírgula, de ponto ou de ponto e vírgula, depende do tom que se quer imprimir à frase. Quanto à posição, o “se não, vejamos” pode vir no início ou no fim do parágrafo. A expressão pode até vir sozinha no parágrafo, o que vai depender, novamente, do ritmo imprimido à frase. Exemplos de como a expressão em tela pode ser usada corretamente: ... de modo que a pretensão está prescrita, se não, vejamos. Primeiramente, tem-se que a ação... ... de modo que a pretensão está prescrita. Se não, vejamos. Primeiramente, ... ... de modo que a pretensão está prescrita. Se não, vejamos. Primeiramente, ... ... de modo que a pretensão está prescrita. Se não, vejamos. Primeiramente, ... Use dois-pontos depois de “se não, vejamos” apenas se for introduzir uma citação. Observe: ... tese essa defendida por Nelson Nery Junior. Se não, vejamos: 24 “[transcrição da doutrina]” Também está correta a expressão “se não, veja-se”. • EXERCÍCIOS VÍRGULA (PARTE 2) 50) O dano moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria lesão abstratamente considerada. 51) Após réplica (fls. 78-86), sobreveio sentença proferida pelo Magistrado Lenoar Bendini Madalena que decidiu a lide da seguinte forma: 52) Isso porque, não se está transmitindo o direito de personalidade, que é ínsito à pessoa e intransmissível, mas sim o direito de ação. 53) Neste ponto, com razão o recorrente. Isso porque, a conduta do réu no crime de corrupção de menores, que consistiu em envolver adolescente no comércio espúrio de entorpecentes, não pode servir para caracterizar tanto a causa especial de aumento prevista no art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006 quanto o delito específico do art. 244-B da Lei n. 8.069/1990, pois tal situação implica bis in idem. 54) Em suma, sustenta que o referido artigo não pode ser tido como exaustivo em suas vedações e sim exemplificativo, pois visa coibir o "argumento de autoridade", tanto pela defesa como pela acusação. 55) Por fim, alegou que os honorários advocatícios não podem ultrapassar o percentual de 15% (quinze por cento) por ser o autor beneficiário da gratuidade da justiça. 56) Os mecanismos de que podem se valer as partes para impugnar uma decisão judicial são denominados pela doutrina, genericamente, de “remédios processuais” que ora consistem em recursos ora em ações impugnativas autônomas. 57) Aduziu que por se tratar o autor de beneficiário da gratuidade da justiça, o valor arbitrado a título de honorários advocatícios será de no mínimo 15% do valor líquido da execução. 58) É fato incontroverso nos autos que desde 1986 vigorava entre as partes contrato de prestação de serviços advocatícios (fls. 42-44) que, embora tenha sido sucedido por várias outras pactuações (fls. 50-53 e 54-55), findou-se em 25 janeiro de 2000 em decorrência dos desajustes quanto à remuneração pelos serviços prestados. 59) Com as contrarrazões (fls. 146-156), Artur Petro interpôs recurso adesivo em que pugnou pela majoração da verba honorária. 60) Ademais, é consabido que o contrato de adesão, celebrado entre os litigantes, favorece em suas cláusulas a seguradora, que vem a ser, insofismavelmente, a parte economicamente mais forte, de forma que ao consumidor resta uma posição de submissão jurídica, fato que obsta flagrantemente o seu direito de defesa. 61) O apelado, Banco do Brasil S.A., argumentou que o contrato firmado é de responsabilidade civil facultativa, que exclui expressamente qualquer reparação por dano moral, de modo que, possível condenação nesse sentido, deve ser suportada exclusivamente pelos apelantes. 26 PONTO E VÍRGULA • Use ponto e vírgula para separar orações de curta extensão já divididas por vírgulas, omitindo o verbo: “De decisões interlocutórias cabe, em regra, agravo de instrumento; de sentença, apelação”. • Empregue também o ponto e vírgula como recurso estilístico, para indicar relação estreita entre duas afirmações que trazem principalmente ideia de causa e consequência: “Vale destacar que em ação possessória somente se examina o fato da posse; não se investiga o domínio.” • O ponto e vírgula deve ser usado para separar enumerações formadas por frases de longa extensão: “O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros nas parcelas vencidas no mês de abril e maio; a descaracterização da mora e do esbulho, pois adimpliu a maior parte do financiamento do veículo; a determinação da imediata devolução do veículo com a transferência da propriedade registrada no Detran; e a ocorrência de má-fé da apelada ao não possibilitar o pagamento das parcelas vencidas.” - Se as frases da enumeração forem de curta extensão, basta a vírgula para separá-las: “O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros, a descaracterização da mora e do esbulho, a determinação da imediata devolução do veículo e a ocorrência de má-fé da apelada.” ⠀ • Utilize o ponto e vírgula, em vez da vírgula, antes das conjunções adversativas (mas, porém, todavia etc.) e das conclusivas (logo, por isso, portanto etc.) para reforçar o valor adversativo ou conclusivo dessas conjunções. Compare estes períodos: “Há prova nos autos da realização do tratamento dermatológico, mas não da causa dele.” 27 “Há prova nos autos da realização do tratamento dermatológico; mas não da causa dele.” “A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública, portanto não há falar em ilegalidade.” “A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública; portanto, não há falar em ilegalidade.” ⠀ • O ponto e vírgula também pode ser um poderoso recurso estilístico/argumentativo no lugar dos dois-pontos: “A concessão de liminar em habeas corpus é admitida como medida excepcional; quando evidente a coação ilegal ou o abuso de poder.” • Você também usará o ponto e vírgula quando quiser fazer com que o leitor perceba que as partes textuais estão intimamente ligadas, o que causa um efeito retórico. Assim, se o que você pretende é, pura e simplesmente, transmitir uma mensagem, use o ponto; se o que você almeja, além de transmitir uma mensagem, é mostrar ao leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior não terminou, use o ponto e vírgula, exatamente como acabei de fazer. Observe, por exemplo, esta frase: “Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte. Contudo, tal presunção é relativa”. O ponto depois de “parte” está correto? Está. Todavia, se o objetivo é apontar para o leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior continua, o ponto e vírgula é que deverá ser usado: “Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte; contudo, tal presunção é relativa”. ⠀Portanto, e isto é extremamente importante, o entendimento de que o ponto é usado para marcar o fim de um raciocínio e o ponto e vírgula sua continuidadeestá errado. Isso porque o raciocínio sempre continua (o pensamento é ilimitado). Independente de você usar ponto ou ponto e vírgula, o raciocínio sempre vai continuar. E isso explica o fato de o ponto e vírgula raramente ser empregado nos textos em geral; só será usado se vocês quiserem evidenciar para o leitor, por uma questão de estratégia textual, que a 28 ideia que estão passando é continuação da anterior. O fundamento para o uso do ponto e vírgula, como vimos, possui forte cunho retórico. 29 GRAMÁTICA APLICADA À REDAÇÃO JURÍDICA • Art. 1º, I, do CP (padronização) “Dispõe o art. 9º, I, do CP que...” (Correto) “Dispõe o art. 9º, inc. I, do CP que...” (Correto) “Dispõe o art. 9º, I, do Código Penal que...” (Evite) “O inciso I do art. 9º do Código Penal dispõe que...” (Correto) “Dispõe o art. 9º, inciso I, do CP que...” (Evite) • Clareza Sujeitos diferentes que parecem iguais “Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para determinar o pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial.” Corrigir para: “Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para que seja determinado o pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial”. Paralelismo “Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu a inexistência de contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e a falta de preenchimento dos requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de reassentamento”. Corrigir para: “Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu que inexiste contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e que não foram preenchidos os requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de reassentamento”. “Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegações do histórico de inadimplência do agravado”. Corrigir para: 30 “Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegar o histórico de inadimplência do agravado”. “Logo, inalterada a sentença, não há falar em modificação dos ônus de sucumbência tampouco em afastar a suspensão dos descontos das prestações até a apuração do valor devido”. Corrigir para: “Logo, inalterada a sentença, não há falar em modificação dos ônus de sucumbência tampouco em afastamento da suspensão dos descontos das prestações até a apuração do valor devido”. “Comprometeram-se os embargantes a resilir o contrato de compra e venda, devolver a quantia recebida (R$ 10.000,00) e mais aquelas correspondentes às benfeitorias (R$ 3.676,00)”. Corrigir para: “Comprometeram-se os embargantes a resilir o contrato de compra e venda e a devolver a quantia recebida (R$ 10.000,00), mais aquelas correspondentes às benfeitorias (R$ 3.676,00)”. Construções com “sob o fundamento”, “sob o argumento”, “alegando”, “argumentando” “Objetiva o impetrado a reforma da sentença que julgou procedente o mandamus sob o argumento de que o preenchimento da ficha de conteúdo de importação fere o direito da parte impetrante à livre concorrência”. Corrigir para: “Objetiva o impetrado a reforma da sentença que julgou procedente o mandamus. Na decisão, assentou o Juízo a quo que o preenchimento da ficha de conteúdo de importação fere o direito da parte impetrante à livre concorrência”. Omissão indevida do verbo de ligação “Resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões, mas mesmo assim interpôs recurso para o STJ”. 31 Corrigir para: “Foi resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões, mas mesmo assim interpôs recurso para o STJ”. “Inviabilizada a apuração do índice contratado a título de juros remuneratórios, aplica-se a taxa média de mercado vigente à data da contratação para operações da mesma espécie” (Correto). • Partícula “se” apassivadora Colhe-se ou colhem-se os seguintes julgados? A redação correta é: “Colhem-se os seguintes julgados”, que equivale a “Os seguintes julgados são colhidos”. “Condenam-se os acusados ao pagamento de multa.” “Reuniram-se os documentos de fls. 13-61.” “Julgou-se o pedido improcedente”. (sujeito no singular) “Multiplicam-se os casos de armas em mãos erradas.” “Colhe-se da jurisprudência:” “Colhem-se da jurisprudência:” • Partícula “se” índice de indeterminação do sujeito “Precisam-se de intérpretes.” (Errado) “Precisa-se de intérpretes.” (Correto) “Tratam-se de apelações cíveis interpostas...” (Errado) “Trata-se de apelações cíveis interpostas...” (Correto) “Trata-se o presente caso de ação anulatória...” (Errado) “A apelante trata-se de servidora pública...” (Errado) “O caso trata-se de crime de homicídio...” (Errado) “Trata-se, no presente caso, de ação anulatória...” / “O presente caso trata de ação anulatória...” (Correto) “A apelante é servidora pública...” (Correto) “O caso é de crime de homicídio...” / “Trata-se, no caso, de crime de homicídio...” (Correto) “Tratam-se os autos de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Errado) 32 “Trata-se os autos de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Errado) “Os autos tratam de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto) “Trata-se, nos autos, de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto) Trata-se de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto) • Analisando-se os autos, conclui-se... “Analisando o feito, o magistrado concluiu que tanto a taxa de administração como o fundo de reserva estabelecidos no contrato são válidos” (Correto – sujeito explícito na oração principal). “Analisando-se o feito, conclui-se que tanto a taxa de administração como o fundo de reserva estabelecidos no contrato são válidos” (Correto – gerúndio impessoalizado pela voz passiva; voz passiva – voz passiva). “Compulsando-se os autos, verifica-se que assiste razão às demandantes” (Correto). “Os honorários advocatícios foram arbitrados considerando-se a natureza e importância da causa” (Correto). “O Juiz a quo arbitrou os honorários considerando a natureza e importância da causa” (Correto). • Flexão do infinitivo (locução verbal) Nas locuções verbais (verbo auxiliar + verbo principal) o verbo principal nunca virá flexionado:⠀ “Os autores pretendem reformar a sentença” (Correto – e não “reformarem”). Pelo mesmo motivo está incorreta a seguinte construção:⠀ “Na hipótese de interposição de apelação adesiva, devem os recorridos serem instados para contrarrazões” (o correto é “devem os recorridos ser instados”).⠀ 33 Idêntico problema é encontrado nas locuções verbais em que o verbo auxiliar é constituído de gerúndio mal-empregado: “A relação processual tem que ser integrada pela Caixa Econômica Federal, devendo os autos serem remetidos à Justiça Federal” (Errado – o correto seria “devendo os autos ser remetidos à Justiça Federal”). • Flexão do infinitivo (sujeito oracional) “Nesse contexto, competia aos réus provarem que a manobra que efetuaram respeitou o tráfego regular dos veículos que seguiam pela direita”. “Nesse contexto, competia aos réus provar que a manobra que efetuaram respeitou o tráfego regular dos veículos que seguiam pela direita”. • Flexão do infinitivo pessoal Infinitivo impessoal é a forma normal do verbo: ajuizar, perder, falar, pleitear, requerer. Nunca é flexionado. O infinitivo é pessoal quando flexiona de acordo com a pessoa, com osujeito a que se refere: ajuizar eu, ajuizares tu, ajuizarmos nós, ajuizarem eles. Flexiona-se o infinitivo quando possui sujeito próprio, diferente de outro sujeito no período: “O apelante alega serem os réus os responsáveis pelo acidente.” (Correto – o “serem” está flexionado porque o seu sujeito é “réus”, no plural, diferente do sujeito “apelante”). • Flexão do infinitivo pessoal antecedido de “a”, “para”, “de” “As partes foram intimadas a se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias”? “As partes foram intimadas a se manifestarem no prazo de 15 (quinze) dias”? Regra a ser aplicada: Se os sujeitos forem idênticos, o infinitivo será flexionado apenas se a flexão tornar mais clara a frase: “As partes foram intimadas a se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de extinção do feito.” (Correto – não há necessidade de flexão do infinitivo “manifestar” (manifestarem), pois se trata de mesmos sujeitos (“partes”) e a flexão não tornaria a frase mais clara). 34 Observe o seguinte período: “Os desembargadores acordaram prover parcialmente o recurso para, considerando as peculiaridades do caso, concederem ao apelado a gratuidade da justiça.” (Correto – apesar de sujeitos idênticos (desembargadores), o verbo “conceder” está distante, de modo que a flexão torna o período mais claro). • Condenar / condenação “Condenou o réu no pagamento das custas processuais.” (Errado) “Condenou o réu ao pagamento das custas processuais.” (Correto) “Pugnou pela condenação do acusado em dez anos de prisão.” (Errado) “Pugnou pela condenação do acusado a dez anos de prisão.” (Correto) “Foi condenada em cinco anos de prisão.” (Correto) • Crase “Ele se referiu à carta.” (= ao documento) “O juiz fez referência às que saíram.” (= aos que saíram) “A testemunha acusou a da direita.” (= o da direita) “APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ABORDAGEM ARBITRÁRIA LEVADA A EFEITO POR POLICIAIS CIVIS E POSTERIOR PRISÃO ILEGAL POR SUPOSTO DESACATO A AUTORIDADE”. A sessão pode ser das “2h às 4h” ou de “2 a 4 horas”. “Trabalham de segunda a sexta.” (= de...a...) “O mutirão vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da...à...) “Os assessores escrevem de cinco a dez páginas por dia.” (= de...a...) “Os assessores leram da página cinco à dez.” (= da...à...) “A nossa disciplina é semelhante à dos militares.” (= é semelhante à disciplina dos militares) Não há crase antes dos pronomes de tratamento como Sua Excelência e Vossa Excelência. “Aquela decisão deu azo àquelas discussões.” (a estas discussões) “Os réus deram relevância àquele dia.” (a este dia) “Eles não deram valor àquilo.” (a isto) 35 “O advogado não leu aquele relatório.” (este) • Haja vista “O parecer foi favorável, haja vista o contentamento da autora.” (Correto) “O parecer foi favorável, haja visto o contentamento da autora.” (Errado) “O parecer foi favorável, haja vista que a autora ficou contente.” (Errado) • Onde “O relatório, onde está exposta toda a argumentação,...” (Errado) “O relatório, em que / no qual está exposta toda a argumentação,...” (Correto) “A Comarca de Palhoça, onde se intentou a ação,...” (Correto) • Para o fim de “Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para o fim de prequestionamento.” (Errado) “Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para prequestionamento.” (Correto) Também não está correto: “...para fins de prequestionamento”. ⚫ Corrija as seguintes frases: 62) Não podem os embargos de declaração, portanto, serem manejados com o intuito de rediscutir a decisão embargada. 63) Tratam-se de recursos de apelação cível interpostos por Sul América Companhia Nacional de Seguros S.A. e Instituto de Resseguros do Brasil – IRB. 64) Vale apontar que a matéria dos embargos opostos pela executada restringe-se a discussão das cláusulas contratuais, pois sustenta terem sido ilegalmente exigidos juros não previstos no contrato e que a confissão de dívida não é novação. 36 65) Insurge-se a apelante contra a sentença de primeiro grau, que julgou improcedente o pedido que deduziu para condenar a apelada no pagamento de complementação de indenização de seguro de vida. 66) Sobre o tema, traz-se à colação os seguintes entendimentos: 67) Trata-se o presente de agravo de instrumento, onde o agravante alega a impossibilidade de estender aos inativos a vantagem pecuniária denominada cesta-alimentação. A agravante alegou, em preliminar, que a decisão de primeiro grau é extra petita, que é nula por não estar fundamentada e também a litispendência em relação a agravada Mônica Soares. 68) Declarou que seu marido é aposentado e que percebe proventos de aproximadamente R$ 6.935,00 (seis mil novecentos e trinta e cinco reais). 69) Isso porque não se aplica ao caso as regras do Código de Defesa do Consumidor. 70) Requereu, em caso de condenação, que a verba honorária seja fixada no seu mínimo legal e, por fim, a improcedência do pedido inicial. 71) Na réplica, pugna o autor pela aplicação da sanção prevista no art. 359 do Código de Processo Civil de 1973, pois, apesar de devidamente intimado, o réu deixou de acostar aos autos o contrato de abertura de conta corrente. 72) O apelante sustenta: a) a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros; b) que seja descaracterizada a mora e o esbulho; c) que seja determinada a imediata devolução do veículo. 73) Pairando dúvidas acerca de como os fatos realmente ocorreram, tem-se como preferível manter uma sentença de improcedência, até porque era ônus das autoras fazerem prova convincente do ocorrido. 37 74) A alegação de autonomia da Convenção Coletiva e que esta não faz referência aos inativos não tem relevância, haja vista que tal fato não impede a concessão do benefício. 75) Não deve ser admitido incidente de assunção de competência se a questão de direito versar sobre interpretação de lei federal e se da sua resolução puder resultar afronta a súmula ou a consolidada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. 76) Impõe-se considerar que os demandantes têm uma filha de 8 (oito) anos de idade e a natureza previdenciária da causa. 77) Ressalto que a valoração do quantum a ser pago a título de danos morais deverá observar os critérios da proporcionalidade e da equidade, buscando-se trazer conforto ao ofendido e impedir que novos atos como este venha a acontecer novamente. 78) Portanto, a autora cumpriu integralmente com sua obrigação contratual, devendo os réus serem compelidos a efetuarem a transferência do imóvel. 79) A constatação dos vícios redibitórios é antecedente lógico daquelas lesões materiais acima apontadas. 80) A Constituição da República não reserva à lei complementar matéria relacionada a regime jurídico de servidor público. • Repetição de preposições “Foi condenado ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios” ou “das custas processuais e honorários advocatícios”? ⠀1ª regra: Quando há mais de um nome mas um só regime, não se repete a preposição: “João ajuizou ação contra Pedro e Felipe” (João ajuizou uma só ação; então se trata de um só regime; não se repete a preposição). 38 “João ajuizou ação contra Pedro e contra Felipe” (João ajuizou duas ações; dois regimes; a preposição se repete). “Condenou o réu a pagar ao autor e apelante a quantia de...” (autor e apelante são a mesma pessoa; um só regime; não se repete a preposição). “Condenou o réu a pagar ao autor e ao apelante” (autor e apelante são pessoas diferentes; dois regimes; a preposição se repete). “Colhe-se lição de Theotônio Negrão e Lúcia Jacinto” (uma só obra). “Colhe-se lição de Theotônio Negrão e de Lúcia Jacinto” (duas obras, uma de cada autor). ⠀▪ Seguem a mesma regra: “Autor com parcos recursos ehipossuficiência técnica” (e não: “com” hipossuficiência...). “A decisão afrontou o princípio do contraditório e da ampla defesa”. 2ª regra: Se os complementos são palavras que têm mais ou menos o mesmo sentido, não se repete a preposição: “A existência de sistema de monitoramento ou vigilância não impossibilita a consumação do crime de furto” (e não: “de” vigilância). “Em relação à natureza e importância da causa” (e não: “à” importância). ⠀3ª regra: Quando a estrutura de dois regimes estiver pluralizada, é facultativa a repetição da preposição “de”: “A decisão afrontou oS princípioS do contraditório e da ampla defesa” ou “oS princípioS do contraditório e ampla defesa” (ambas as formas estão corretas). Esta regra responde à pergunta inicial. Tanto está correto escrever “foi condenado ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios” quanto “das custas processuais e honorários advocatícios”. • E se o nome da parte processual for pluralizado? O correto é “ação ajuizada pelaS Lojas Americanas S.A.” ou “pela Lojas Americanas S.A.”? Nos casos em que o nome da parte é pluralizado, a concordância se faz sempre no singular. Assim: “Ação ajuizada pela Lojas Americanas”. 39 “Inconformada, a Lojas Americanas S.A. interpôs apelação” (não “as” lojas, nem “InconformadaS”). “Foi apresentada contestação pela Lojas Americanas S.A.” (não “pelas”). “O Supermercados Pereira apresentou réplica” (não “Os”). Isso é assim porque, a entender que o correto é levar o artigo para o plural, acompanhando a “forma” da parte processual, seríamos obrigados a também pluralizar em outro lugar do texto uma construção como “Ao final, requereram aS autoraS [Lojas Americanas] a procedência do pedido”, o que está completamente incorreto, pois se trata de uma autora só (“requereu a autora”). • Mais sobre parte processual (emprego do artigo definido) Muitas dúvidas há sobre o uso do artigo definido antes do nome de partes processuais. Vocês apenas usarão o artigo definido antes do nome da parte processual se ela for conhecida em nível nacional. Vejam: “Autoposto Goiás Ltda. ajuizou ação revisional contra O Banco Bradesco S.A.”. O Banco Bradesco é uma instituição conhecida de todos, por isso o “o” antes dele na frase acima (e também neste parágrafo). Outro exemplo, com inversão dessas partes: “O Banco Bradesco S.A. ajuizou ação de busca e apreensão contra Autoposto Goiás Ltda.”. Não há artigo definido antes de “Autoposto” por não ser esta uma empresa conhecida. Reparem que, pelos motivos já expostos, há artigo antes de “Banco Bradesco”. “Cláudio Silva interpôs agravo de instrumento da decisão proferida nos autos da ação monitória proposta contra ele pelO Banco do Brasil S.A.”. O Banco do Brasil também é bastante conhecido, por isso deve vir antecedido do “o”. Vejam que a mesma regra justifica o não uso do artigo antes de “Cláudio Silva”. “Cláudio Silva interpôs agravo de instrumento da decisão proferida nos autos da ação monitória proposta contra ele POR Micasa Comercial de Veículos S.A.”. 40 “Micasa Comercial de Veículos S.A.” não é tão conhecida assim. Daí o uso do “por” em vez do “pela”. “Fabricio Dutra ajuizou ação de compensação por dano moral contra A Lojas Americanas S.A.”. A “Lojas Americanas” é conhecida de todos, por isso o artigo definido antes dela. 41 REDAÇÃO DOS PRINCIPAIS CAMPOS DE PEÇAS JURÍDICAS E TÉCNICAS DE ESCRITA DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS • Endereçamento da petição inicial Com o CPC em vigor, o endereçamento da petição inicial passou a ser feito ao Juízo (art. 319, I). E, tecnicamente, isso sempre deveria ser assim mesmo. Ao contrário do que facilmente encontramos na internet, “Excelentíssimo Senhor” nunca foi a forma correta de endereçamento. Era bastante usada e ainda o é até hoje? Sim. Mas daí a dizer que era a forma correta e hoje não é mais... “Excelentíssimo Senhor” é vocativo apenas para chefes de poder. É usado para juízes em geral por associação ao pronome de tratamento “Vossa Excelência”, mas está errado. No endereçamento das petições iniciais, escrevam sempre “Ao Juízo”, ou, em se tratando de juizados especiais, “Ao Juizado”. “Ao Juízo da Vara Cível da Comarca de Lages” Se se tratar de incidente, não se esqueçam de indicar a vara para a qual o processo principal foi distribuído. • Redigindo corretamente o preâmbulo da peça Exemplo correto: JOÃO DA SILVA, solteiro em união estável, servidor público estadual, inscrito no CPF n. 040. 843456-28, com endereço eletrônico j_2030silva@gmail.com, domiciliado e residente na Rua Afonso Chagas, 144, ap. 920, Bairro Centro, Florianópolis/SC, CEP 88010-000, vem, por meio do seu procurador, com fundamento nos arts. 318 e 319 do Código de Processo Civil, ajuizar AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO contra o BANCO DO BRASIL S.A., sociedade de economia mista inscrita no CNPJ n. 11.233.999/0001.20, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 4, Bloco C, Lote 32, Edifício III, Brasília/DF, CEP 78000-300, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos. 42 • Redação dos pedidos e o paralelismo Ao escrevermos “Ante o exposto, requer:”, temos oculto o sujeito da oração (o autor, o demandante, o impetrante... requer). O problema de assim escrever, todavia, é deixar oculto um sujeito que não se pode inferir imediatamente do texto. Leiam a seguinte construção: “...Assim, por ter sofrido prejuízo material, a autora almeja a respectiva reparação. Ante o exposto, requer:” Vejam que está claro que o sujeito de “requer” é “a autora”, pois ele aparece no parágrafo anterior. Nesse caso, o emprego da forma “Ante o exposto, requer:” está correto. Quando, porém, a forma vem precedida, como não raro acontece, do título “DOS PEDIDOS”, seu uso não é adequado, porque o sujeito de “requer” estará distante, ainda que se saiba que obviamente quem requer é a parte polo ativo da ação. Reparem: “DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer:” (quem requer?) Em “Ante o exposto, requer-SE:”, a oração está na voz passiva, de modo que os pedidos que se seguem à forma constituirão o sujeito da oração. Uma vez que sempre são feitos no mínimo dois pedidos, o correto será então escrever “requerEM-se:”. Regra básica: sujeito no plural, verbo no plural. Ficaria assim: “Ante o exposto, requerem-se: a) a citação… b) a condenação… c) a produção de...”. Como não somos dados a escrever dessa maneira, não a aconselho. O “requer-se” no singular estará correto se a forma vier seguida de “que” (“Ante o exposto, requer-se QUE:”), mas isso pode ser bastante problemático, pois os verbos constantes dos pedidos obrigatoriamente deverão vir no subjuntivo (seja citado, seja condenado), e a probabilidade de errarmos no emprego desse modo verbal é enorme. 43 Por conta disso tudo é que indico uma terceira forma, que é a de sempre trazer expresso o sujeito da oração, na voz ativa: “Ante o exposto, A AUTORA requer:”. Fazer assim é mais fácil e a estrutura fica mais coesa e limpa. • Agora leiam em voz alta a seguinte construção: Ante o exposto, o impetrante requer: a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata restituição da liberdade ao paciente; b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora, diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio eletrônico; c) ao final, seja confirmada a liminar, declarando-se a ilegalidade do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão ilegal; d) caso não conhecido o habeas corpus, sejam apreciadas de ofício as ilegalidades relatadas. Reparem: o texto começa com “o impetrante requer, a) liminarmente, A concessão de ordem...” e “b) A dispensa de requisição...”, mas na sequência muda de estilo e passar a dispor “c) ao final, SEJA confirmada a liminar...” e “d) ... SEJAM apreciadas de ofício...”. Issonão pode! Se começarem a usar “a”, “o”, não podem mudar para “seja”, “sejam”. Percebam como soa melhor assim: Ante o exposto, o impetrante requer: a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata restituição da liberdade ao paciente; b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora, diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio eletrônico; c) ao final, A CONFIRMAÇÃO da liminar, declarando-se a ilegalidade do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão ilegal; d) caso não conhecido o habeas corpus, A APRECIAÇÃO de ofício das ilegalidades relatadas. Sentiram a diferença? Diz-se que a primeira estrutura apresentada não contém paralelismo e essa segunda sim. A construção também ficaria paralela se em vez de “a concessão”, “a dispensa”, “a confirmação” e “a apreciação” 44 escrevêssemos “seja concedida”, “seja dispensada”, “seja confirmada” e “seja apreciada”. O que não pode é misturar as formas. • “Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitida” Para além do fato de não ser tecnicamente correto terminar uma petição com pedido genérico de produção de provas, quem escreve “Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitida” comete erro de concordância. Isso porque o “admitir” deve concordar com a palavra “meios”, não com “prova”. Assim: “Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos.” (correto) Veja que o CPC traz adequadamente a concordância do “admitir” em construção similar: “Art. 357 [...] II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos”. • “Termos em que pede deferimento” É adequado usar esta estrutura, que costuma aparecer no final das peças “Termos em que, Pede deferimento.”? Para começar, gramaticalmente a estrutura está errada. Por um acaso escrevemos “perto da rua em que, Ela reside”? Então, o raciocínio é o mesmo. Mas vejam que interessante: em correspondências oficiais (ofícios, circulares, portarias) é correto começar o documento com um vocativo seguido de vírgula e, no parágrafo seguinte, de palavra com inicial maiúscula. Assim: “Senhor Ministro, Apresento para apreciação de Vossa Excelência projeto...”. O hábito de os advogados terminarem as peças usando a estrutura em tela vem daí, mas isso não está correto. No vocativo, a vírgula seguida de inicial maiúscula é possível; na estrutura, já vimos acima que não. 45 Além de estar gramaticalmente incorreto, escrever “Termos em que, Pede deferimento” também pode não ser lá a forma mais técnica de finalizar uma peça. A não ser que se esteja tratando de processo de natureza cautelar, o correto é usar a palavra “procedência” (para ações em geral) ou “provimento” (para recursos), em vez de “deferimento”. Nesse sentido, a estrutura ficaria correta assim: “Termos em que pede procedência”. “Termos em que pede provimento”. Está correto tanto escrever “pede” (“autor” como sujeito oculto, por exemplo) quanto “em que se pede” (na passiva). • Endereçamento de peças recursais Muitas dúvidas surgem na hora de redigir o endereçamento de peças recursais. Deve-se endereçar a peça à câmara, turma, seção, ou ao tribunal que elas integram? Está correto escrever “Colenda Câmara”, “Colendo Tribunal”? Ou o certo é “Egrégia Câmara”, “Egrégio Tribunal”? Tratarei aqui do endereçamento nos recursos de apelação, agravo de instrumento e embargos de declaração. Mas a lógica para os demais recursos não foge muito do que explicarei, não. Importante: “egrégia” e “colenda” são adjetivos que podem ser usados para “Câmara”. Para “Tribunal”, a forma admitida é “egrégio”. A fim de não errar, dê uma olhada no regimento interno do tribunal em questão. O regimento interno do TJSC, por exemplo, dispõe que “egrégio” deve ser usado tanto para o tribunal quanto para os seus órgãos julgadores. - Tratando-se de apelação, o endereçamento deve ser feito assim: AO JUÍZO DA ___ VARA _______ DA COMARCA DA(E) _____ Exemplo: AO JUÍZO DA 2ª VARA DE DIREITO BANCÁRIO DA COMARCA DE ITAJAÍ - Se o recurso é o de agravo de instrumento, você fará assim: AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE(A/O) ______ 46 Exemplo: AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA - Se se tratar de embargos de declaração opostos contra acórdão, você deve escrever desta forma (ressalvadas as peculiaridades no nome dos órgãos julgadores de cada tribunal): AO(À) SENHOR(A) DESEMBARGADOR(A) RELATOR(A) INTEGRANTE DA EGRÉGIA [ou “colenda”, conforme o regimento interno do tribunal] _____ CÂMARA DE DIREITO ______ DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE(A/O) ______ Exemplo: AO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR INTEGRANTE DA EGRÉGIA PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA Perceba que não vai ponto final nos endereçamentos e que o emprego de vocativos como “Excelentíssimo(s) Senhor(es) Desembargador(es)” é inadequado. • Redação dos títulos da contestação Por não ser uma boa estratégia, muito cuidado para não redigirem os títulos da sua peça de defesa assim: “DOS DANOS MATERIAIS”, “DOS DANOS MORAIS”. Explico. Suponhamos que o autor ajuíza ação de indenização por danos materiais e de compensação por danos morais, alegando que seu veículo colidiu com o do réu por culpa deste, que vinha na contramão de direção. Na petição inicial, está correto trazer, nesse caso, os títulos “Dos danos materiais”, “Dos danos morais”, “Da culpa do réu pelo acidente”, MAS NA CONTESTAÇÃO NÃO!! Quando vocês escrevem “Do dano moral” na contestação, parece que de fato houve dano moral e que vocês apenas se limitarão a versar sobre ele. A preposição “Do” antes de “dano moral” no título pode levar o julgador a ler sua peça defensiva partindo já da premissa de que vocês não têm razão. É claro 47 que o juiz não imaginará que vocês, advogados do réu, iriam contra si mesmos, mas a preposição pode levá-lo inconscientemente a esse entendimento. Isso fica mais claro com o título “Da culpa do réu pelo acidente”. Ponham- se no lugar do juiz: ao lerem esse título na contestação, o que iriam ser levados, pela sua literalidade, imediatamente a pensar? Que de fato o réu teve culpa pelo acidente, não é? Pegaram o ponto? Vejam que o problema não está nas preposições (“Da”, “Do”, “Dos”) em si. Longe disso. Aliás, vocês podem se valer da técnica usada pelo autor, mas escreverem os títulos de uma forma que favoreça o seu cliente, assim: “Da total inexistência do dano moral”, “Da responsabilidade do autor pelo acidente”. Não usem a forma “Dos ALEGADOS danos morais” na contestação. Isso porque, apesar da palavra “alegados”, continua-se passando a ideia do reconhecimento da existência dos danos. • “Já devidamente qualificado(a) nos autos em epígrafe” Em primeiro lugar, uma curiosidade: as palavras “preâmbulo” (campo da peça no qual a estrutura do título está inserida) e “epígrafe” são termos oriundos da técnica legislativa. Preâmbulo é a parte da lei que traz a instituição competente para a prática do ato legal. Por exemplo: “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:”. Daí chamarmos de “preâmbulo” a parte inicial da peça em que escrevemos o nome das partes, também em caixa-alta: “JOÃO DA SILVA, solteiro, empresário... vem, por meio do seu procurador...”. A epígrafe representa o número e o ano de promulgação de uma lei. Vem escrita desta forma: “LEI N. 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995”. Analogicamente, chamamos de “epígrafe” a parte inicial da peça em que apomos o número dos autos acompanhado da palavra “autos” e/ou do nome da ação ou do recurso. Assim: “Autos n. 405332-34.2018 [esta linha é a epígrafe] Autor: Marcos de Souza Réu: Maria da Silva"48 “Apelação Cível n. 494838445.2017” [epígrafe] A estrutura “já devidamente qualificado nos autos em epígrafe” significa que a qualificação da parte está em alguma peça anterior dos mesmos autos AOS QUAIS FAZ REFERÊNCIA A EPÍGRAFE DA PEÇA EM QUESTÃO, de modo que não há necessidade de trazer a qualificação novamente. Mas, cuidado, se se tratar, por exemplo, de contestação, está incorreto escrever “autos em epígrafe” se no início da própria peça de defesa não constar o número dos autos. E como vejo isso acontecer! escreve-se “autos em epígrafe” sem a respectiva peça trazer epígrafe nenhuma. Muitas vezes emprega-se “autos em epígrafe” com o sentido de “autos em questão”. Está errado. Portanto, sempre que usarem a estrutura “... já devidamente qualificado nos autos em epígrafe”, estejam certos de que o número dos autos realmente conste no início da peça em que a estrutura está sendo usada. Em outras palavras, se, por alguma razão, vocês não colocarem epígrafe na peça, não podem nela escrever “autos em epígrafe”. Uma dica para nunca errar é escrever “já devidamente qualificado nos autos”, sem o “em epígrafe”. • Coisas que irritam o leitor da sua peça 1 Parágrafos muito pequenos ou muito grandes Não existe regra fixa, mas geralmente bons parágrafos contêm de três a seis, sete linhas. 2 Muitos destaques Não faça muitos negritos, sublinhados, itálicos. Isso enfeia demais o texto. Apenas destaque o que for importante. E lembre-se: se tudo é importante, nada há para ser destacado. 3 Recuos desproporcionais O tamanho normal de recuo da margem esquerda para citações é de 4 cm. Fazer recuo de 6, 7, 8 cm é abusar da paciência do leitor (ainda mais se vier negritado, como é normal acontecer). 4 Uso de iniciais maiúsculas sem necessidade Isso é uma chateação. Retire todas as maiúsculas de “... o Autor interpôs Apelação questionando o Laudo Pericial elaborado...”. 49 5 Uso de exclamação Polui o texto. Se quiser usar exclamação, use uma apenas. Portanto, se for escrever “Isso é um absurdo!”, escreva assim mesmo, e não “ISSO É UM ABSURDO!!!!!”. O mesmo raciocínio se aplica ao ponto de interrogação. 6 Uso exagerado de travessões O travessão — que muitos confundem com o traço — e com a vírgula — deve ser usado com muita parcimônia. Meu conselho é que — quase nunca — seja usado, pois confunde a leitura — e também polui o texto. 7 Notas de rodapé Não use. Deixe as notas de rodapé, com referências doutrinárias e jurisprudenciais, para os trabalhos científicos. Em peças jurídicas faça referências dentro do próprio texto, entre parênteses. • Processos sintáticos de coordenação e de subordinação O estudo dos períodos compostos não implica em decorar os tipos de conjunções nem em saber identificar uma oração subordinada adverbial temporal reduzida de gerúndio. Nada disso. Isso ficou lá para trás, no 8º ano do ensino fundamental. Os processos de coordenação e subordinação devem ser vistos como um meio para a redação de bons textos, e não como um fim em si mesmos. Aqui está o ponto. Ainda que os períodos compostos por coordenação e subordinação devam servir como meio para a construção de bons textos, e não como um fim em si mesmos, é impossível explicá-los sem antes passar por alguns conceitos básicos, como o de frase, de oração e sua classificação. Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer comunicação. A expressão “1 – DOS FATOS” constante na petição inicial é uma frase, pois quando o leitor a lê já sabe que na sequência virá uma exposição dos fatos que envolvem a lide. Da mesma forma, a estrutura “Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00” é uma frase, uma vez que apresenta sentido completo. Oração é todo enunciado QUE CONTÉM VERBO. Quando uma oração encerra um pensamento completo, pode ser chamada de frase. Vejam: “O autor recorreu” (oração e frase; oração porque contém verbo, e frase porque tem sentido completo). 50 “O demandado alegou que a inicial é inepta” (duas orações, pois contém dois verbos, e frase porque apresenta sentido completo). Observem: “que a inicial é inepta” é uma oração (pois possui verbo), mas não é frase (não tem sentido completo). Dá-se o nome de “período” a uma ou mais orações que formam sentido completo. No primeiro caso (uma oração), diz-se que o período é simples; no segundo (duas ou mais orações), composto. Vejam: “O autor recorreu” (período simples; um verbo – uma oração). “O demandando alegou que a inicial é inepta” (período composto; dois verbos – duas orações). - Período composto por coordenação Na coordenação, as orações se dizem da mesma função e se interligam por meio de conectivos chamados CONJUNÇÕES COORDENATIVAS. As conjunções coordenativas são (NÃO precisam decorar): • aditivas – e, nem • adversativas – mas, porém, contudo, todavia • alternativas – ou, ou...ou • conclusivas – logo, portanto, pois (depois do verbo) • explicativas – porque, pois (antes do verbo) Vejam a frase: “O autor apelou e apresentou contrarrazões”. Se vocês estão acompanhando com atenção, já devem saber que o que se tem aqui é um período composto, pois a frase apresenta dois verbos (“apelou” e “apresentou”). Se há dois verbos, há duas orações; se há duas orações, o período é composto (viram? forma-se um ciclo). Bom, o período é composto por COORDENAÇÃO porque uma das orações inicia-se com a conjunção “e” (“E apresentou contrarrazões”), que é uma conjunção aditiva. - Período composto por subordinação Assim como no período composto por coordenação, no período composto por subordinação temos mais de uma oração. Só que aqui uma oração será sempre a PRINCIPAL, a qual se ligará uma oração subordinada. Leiam 51 novamente isso que acabei de escrever, pois esse entendimento vocês devem levar até o final. Nenhuma oração subordinada subsiste por si mesma, sem o apoio da sua principal. As conjunções que ligam a oração subordinada à oração principal chamam-se CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS. Conjunções subordinativas (apenas as adverbiais, que são aquelas que nos interessam mais de perto): • causais – porque, porquanto, uma vez que, já que • concessivas – EMBORA, conquanto, ainda que • condicionais – SE, contanto que, a menos que • temporais – quando, logo que, depois que, assim que Exemplos de período composto por subordinação: “O recurso não será conhecido se for intempestivo”. ▪ Oração principal: O recurso não será conhecido ▪ Oração subordinada condicional: SE for intempestivo “Embora a sentença tenha sido favorável ao autor, ele apelou”. ▪ Oração principal: ele apelou ▪ Oração subordinada concessiva: EMBORA a sentença tenha sido favorável ao autor Observem que a oração subordinada é aquela que se inicia pela conjunção. Nas frases acima, as conjunções são “se” e “embora”, respectivamente. ⠀ ▪ Geralmente, uma mesma ideia pode ser exposta tanto por um período composto por coordenação quanto por subordinação. A oposição ou contraste, por exemplo, podem ser expressos por uma COORDENADA adversativa ou por uma SUBORDINADA concessiva. Vejam: “O réu teve a prisão preventiva decretada, MAS os requisitos para a medida não foram comprovados”. (coordenação) “EMBORA o réu tenha tido a prisão preventiva decretada, os requisitos para a medida não foram comprovados”. (subordinação) Observem que em ambos os períodos a ideia mais relevante é a não comprovação dos requisitos para a medida cautelar. Na coordenação, todavia, essa ideia praticamente se nivela à oração anterior (“O réu teve a prisão 52 preventiva decretada”); na subordinação, A IDEIA SE SOBRESSAI. Perceberam isso? Outro exemplo: “O autor se conformou com a sentença e o réu interpôs recurso de apelação”. (coordenada aditiva) “Enquanto o autor se conformou com a sentença, o réu interpôs recurso de apelação”. (subordinada temporal) Notem que
Compartilhar