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LIVRO - FICHAMENTO TCC - LOPES JUNIOR 2020

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A essência do processo está na simétrica paridade da participação dos interessados, reforçando o papel das partes e do contraditório. Os atos do procedimento miram o provimento final e estão inter-relacionados, de modo que a validade do subsequente depende da validade do antecedente, e da validade de todos eles, depende a sentença. Isso reforça a unidade do processo e exige (re)pensar a teoria das nulidades. (LOPES JUNIOR, 2020)
É da essência do sistema inquisitório a aglutinação de funções na mão do juiz e atribuição de poderes instrutórios ao julgador, senhor soberano do processo. Portanto, não há uma estrutura dialética e tampouco contraditória. Não existe imparcialidade, pois uma mesma pessoa (juizator) busca a prova (iniciativa e gestão) e decide a partir da prova que ela mesma produziu. (LOPES JUNIOR, 2020)
É importante destacar que a posição do “juiz” é fundante da estrutura processual. Quando o sistema aplicado mantém o juiz afastado da iniciativa probatória (da busca de ofício da prova), fortalece-se a estrutura dialética e, acima de tudo, assegura-se a imparcialidade do julgador. (LOPES JUNIOR, 2020)
Em última análise, é a separação de funções e, por decorrência, a gestão da prova na mão das partes e não do juiz (juiz-espectador), que cria as condições de possibilidade para que a imparcialidade se efetive. (LOPES JUNIOR, 2020)
a concepção de sistema processual não pode ser pensada de forma desconectada do princípio supremo do processo, que é a imparcialidade, pois existe um imenso prejuízo que decorre dos prejuízos (conforme consolidada jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos 21 ), isto é, juiz que vai de ofício atrás da prova está contaminado (como explicaremos no próximo capítulo) e não pode julgar, pois ele decide primeiro (quebra da imparcialidade) e depois vai atrás da prova necessária para justificar a decisão já tomada (quebra da concepção de processo como procedimento em contraditório);(LOPES JUNIOR, 2020)
É necessário que se mantenha a separação para que a estrutura não se rompa e, portanto, é decorrência lógica e inafastável que a iniciativa probatória esteja (sempre) nas mãos das partes. Somente isso permite a imparcialidade do juiz.(LOPES JUNIOR, 2020)
É preciso compreender ainda a complexidade da discussão acerca dos sistemas, pois todas essas questões giram em torno do tripé sistema acusatório, contraditório e imparcialidade. Porque a imparcialidade é garantida pelo modelo acusatório e sacrificada no sistema inquisitório, de modo que somente haverá condições de possibilidade da imparcialidade quando existir, além da separação inicial das funções de acusar e julgar, um afastamento do juiz da atividade investigatória/instrutória. Portanto, pensar no sistema acusatório desconectado do princípio da imparcialidade e do contraditório é incorrer em grave reducionismo.(LOPES JUNIOR, 2020)
A imparcialidade do órgão jurisdicional é um “princípio supremo do processo” 43 e, como tal, imprescindível para o seu normal desenvolvimento e obtenção do reparto judicial justo. Sobre a base da imparcialidade está estruturado o processo como tipo heterônomo de reparto. (LOPES JUNIOR, 2020)
Questão extremamente relevante, mas pouco enfrentada pela doutrina e jurisprudência, é a exceção de suspeição do juiz por violação da imparcialidade em virtude dos prejulgamentos. É por conta dessa realidade que, na reforma de 2019/2020, foi adotado o juiz das garantias e, com ele, a presunção de parcialidade de que o mesmo juiz atue do início até o fim do processo. Logo, o juiz que atua na fase pré-processual (juiz das garantias) e recebe a denúncia ou queixa (até o momento do art. 399) não poderá ser o mesmo a instruir e julgar. Além de suspeito, há um impedimento expresso no (LOPES JUNIOR, 2020)
A imparcialidade do juiz fica evidentemente comprometida quando estamos diante de um juiz-instrutor (poderes investigatórios) ou, pior, quando ele assume uma postura inquisitória decretando – de ofício – a prisão preventiva. É um contraste que se estabelece entre a posição totalmente ativa e atuante do inquisidor, contrastando com a inércia que caracteriza o julgador. Um é sinônimo de atividade e o outro de inércia. (LOPES JUNIOR, 2020)
Não podemos esquecer, ainda, da importância do contraditório para o processo penal e que somente uma estrutura acusatória o proporciona. Como sintetiza CUNHA MARTINS 20 , no processo inquisitório há um “desamor” pelo contraditório, somente possível no sistema acusatório. (LOPES JUNIOR, 2020)
Compreenderam que a Constituição de 1988 define um processo penal acusatório, fundando no contraditório, na ampla defesa, na imparcialidade do juiz e nas demais regras do devido processo penal. Diante dos inúmeros traços inquisitórios do processo penal brasileiro, era necessário fazer uma “filtragem constitucional” dos dispositivos incompatíveis com o princípio acusatório (como os arts. 156, 385 etc.), pois são “substancialmente inconstitucionais” (e, agora, estão tacitamente revogados pelo art. 3º-A do CPP, com a redação da Lei n. 13.964). (LOPES JUNIOR, 2020)
É preciso compreender ainda a complexidade da discussão acerca dos sistemas, pois todas essas questões giram em torno do tripé sistema acusatório, contraditório e imparcialidade. Porque a imparcialidade é garantida pelo modelo acusatório e sacrificada no sistema inquisitório, de modo que somente haverá condições de possibilidade da imparcialidade quando existir, além da separação inicial das funções de acusar e julgar, um afastamento do juiz da atividade investigatória/instrutória. Portanto, pensar no sistema acusatório desconectado do princípio da imparcialidade e do contraditório é incorrer em grave reducionismo. (LOPES JUNIOR, 2020)
Sem dúvida essa liminar foi um golpe poderosíssimo na reforma que se pretendia levar a cabo. Ao suspender o art. 3º-A, do CPP, que finalmente consagraria o sistema acusatório; ao suspender também a implantação do juiz das garantias; o sistema de exclusão física dos autos do inquérito; e a nova forma de arquivamento adequada ao sistema acusatório (art. 28), o Min. Luiz Fux sepultou décadas de luta, de pesquisa, de milhares de debates e de páginas escritas para modernizar e democratizar o processo penal brasileiro. (LOPES JUNIOR, 2020)
Há que se compreender que o respeito às garantias fundamentais não se confunde com impunidade, e jamais se defendeu isso. O processo penal é um caminho necessário para chegar-se, legitimamente, à pena. Daí por que somente se admite sua existência quando ao longo desse caminho forem rigorosamente observadas as regras e garantias constitucionalmente asseguradas (as regras do devido processo legal). (LOPES JUNIOR, 2020)
Como decorrência, o fundamento legitimante da existência do processo penal democrático é sua instrumentalidade constitucional, ou seja, o processo enquanto instrumento 30 a serviço da máxima eficácia de um sistema de garantias mínimas. (LOPES JUNIOR, 2020)
Todo poder tende a ser autoritário e precisa de limites, controle. Então, as garantias processuais constitucionais são verdadeiros escudos protetores 31 contra o (ab)uso do poder estatal. (LOPES JUNIOR, 2020)
O fundamento da legitimidade da jurisdição e da independência do Poder Judiciário está no reconhecimento da sua função de garantidor dos direitos fundamentais inseridos ou resultantes da Constituição. Nesse contexto, a função do juiz é atuar como garantidor da eficácia do sistema de direitos e garantias fundamentais do acusado no processo penal. (LOPES JUNIOR, 2020)
Na mesma linha de tudo o que acabamos de explicar (mostrando a importância da preocupação com a imparcialidade e a necessidade do juiz das garantias) mas com outra leitura do problema, está o excelente trabalho do consagrado jurista alemão Bernd SCHÜNEMANN, em obra organizada pelo Prof. Luís Greco (Estudos de Direito Penal e Processual Penal e Filosofia do Direito. Org. Luís Greco. Ed. Marcial Pons, 2013) na qual ele dedica um interessante artigo sobre a teoria da “Dissonância Cognitiva”. (LOPES JUNIOR, 2020)
precisamos da figurado juiz das garantias, que não se confunde com o “juizado de instrução”, sendo responsável pelas decisões acerca de medidas restritivas de direitos fundamentais requeridas pelo investigador (polícia ou MP) e que ao final recebe ou rejeita a denúncia; (LOPES JUNIOR, 2020)
Podemos extrair da presunção de inocência 107 que a formação do convencimento do juiz deve ser construído em contraditório (Fazzalari), orientandose o processo, portanto, pela estrutura acusatória que impõe a estrutura dialética e mantém o juiz em estado de alheamento (rechaço à figura do juizinquisidor – com poderes investigatórios/instrutórios – e consagração do juiz de garantias ou garantidor). (LOPES JUNIOR, 2020)
O interrogatório deve ser um ato espontâneo, livre de pressões ou torturas (físicas ou mentais). É necessário estabelecer um limite máximo para a busca da verdade e para isso estão os direitos fundamentais. Por isso, hoje em dia, o dogma da verdade material cedeu espaço para a verdade juridicamente válida, obtida com pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais do sujeito passivo e conforme os requisitos estabelecidos na legislação. (LOPES JUNIOR, 2020)
Mais, a fundamentação não deve estar presente apenas na “sentença”, mas também em todas as decisões interlocutórias tomadas no curso do procedimento, especialmente aquelas que impliquem restrições de direitos e garantias fundamentais, como os decretos de prisão preventiva, interceptação das comunicações telefônicas, busca e apreensão etc. (LOPES JUNIOR, 2020)
Portanto, enquanto estiver valendo a medida liminar, a implantação do juiz das garantias está suspensa. Mas manteremos nossas considerações, não só porque o(s) dispositivo(s) pode(m) entrar em vigor, mas também porque reflete(m) um avanço importante para o processo penal e serve(m) como fundamentação teórica para criticar o superado modelo do CPP. Pedimos a compreensão do leitor para essa situação de insegurança jurídica gerada por motivos alheios a nossa vontade. (LOPES JUNIOR, 2020)
Especial discussão trouxe e trará, por algum tempo, a aplicação no tempo da figura do juiz das garantias e do impedimento de que o mesmo juiz que participou da investigação atue no processo (LOPES JUNIOR, 2020)
Entendeu o Min. Toffoli que ao “instituir o juiz das garantias, a Lei n. 13.964/2019 criou nova regra de competência funcional, delimitando a atuação do juiz em função da fase da persecução criminal e criando, a partir da rígida separação das fases de investigação e do processo, uma regra de impedimento, para a fase da ação penal, ao magistrado que houver atuado como juiz das garantias na fase da investigação (LOPES JUNIOR, 2020)
A primeira premissa é a de que o Juiz das garantias é um avanço democrático, uma ampliação do sistema de garantias da Constituição, a serviço da garantia da imparcialidade e do devido processo penal. Portanto, é uma lei que amplia garantias e, como explicamos anteriormente, deve retroagir para beneficiar os réus. É uma lei que cria uma nova hipótese de “competência funcional”, regra inderrogável, cuja inobservância é causa de nulidade absoluta. (LOPES JUNIOR, 2020)
Entendemos que a reforma processual ampliou garantias, é uma nova lei mais benigna e que precisa ser efetivada, especialmente na perspectiva de que o réu tem o direito de ser julgado por um Juiz imparcial (objetiva, subjetiva e cognitivamente). Não há um direito processual adquirido ao Juiz contaminado. Logo, será preciso sanear todos os processos em tramitação (LOPES JUNIOR, 2020)
Quanto aos poderes investigatórios do Ministério Público, considerando as manifestações favoráveis por parte do STF, entendemos que o MP poderá instruir seus procedimentos investigatórios criminais, devendo observar, no mínimo, o regramento do inquérito. Deverá ainda observar o rol de direitos e garantias do investigado, previstos no CPP, em leis extravagantes (como a Lei n. 8.906) e na Constituição, além de submeter-se ao rígido controle de legalidade por parte do Juiz das Garantias. (LOPES JUNIOR, 2020)
A efetividade da proteção está em grande parte pendente da atividade jurisdicional, principal responsável por dar ou negar a tutela dos direitos fundamentais. Como consequência, o fundamento da legitimidade da jurisdição e da independência do Poder Judiciário está no reconhecimento da sua função de garantidor dos direitos fundamentais inseridos ou resultantes da Constituição. (LOPES JUNIOR, 2020)
Portanto, o juiz das garantias (nomenclatura utilizada também, por exemplo, pelo CPP do Chile, mas igualmente consagrada ainda que com outro nome em Portugal, Paraguai, Uruguai, e tantos outros países) ou “il giudice per le indagini” dos italianos, não tem uma postura inquisitória, não investiga e não produz prova de ofício. Também conhecido como sistema “doble juez”, como define a doutrina chilena e uruguaia em representativa denominação, na medida em que estabelece a necessidade de dois juízes diferentes, ou seja, modelo “duplo juiz”, em que dois juízes distintos atuam no feito. O primeiro intervém – quando invocado – na fase pré-processual até o recebimento da denúncia, encaminhando os autos para outro juiz que irá instruir e julgar, sem estar contaminado, sem pré-julgamentos e com a máxima originalidade cognitiva. (LOPES JUNIOR, 2020)
O juiz das garantias foi concebido para atuar na fase pré-processual, contudo, nossa reforma fez uma construção híbrida, ao permitir que ele atue até o momento procedimental previsto no art. 399. (LOPES JUNIOR, 2020)
O juiz das garantias é o controlador da legalidade da investigação realizada pelo MP e/ou Polícia, na medida em que existem diversas medidas restritivas de direitos fundamentais que exigem uma decisão judicial fundamentada (reserva de jurisdição). Também é fundamental como garantidor da eficácia de direitos fundamentais exercíveis nesta fase, como direito de acesso (contraditório, no seu primeiro momento), defesa (técnica e pessoal), direito a que a defesa produza provas e requeira diligências do seu interesse, enfim, guardião da legalidade e da eficácia das garantias constitucionais que são exigíveis já na fase pré-processual. (LOPES JUNIOR, 2020)
Muito importante é a aplicação do art. 310 do CPP 153 , que é objeto de comentário específico no capítulo destinado as prisões cautelares, especialmente quando abordamos a prisão em flagrante, para onde remetemos o leitor para evitar repetições. Cumpre sublinhar, ainda, que o momento correto e adequado para esse controle é na audiência de custódia, a ser presidida pelo juiz das garantias. (LOPES JUNIOR, 2020)
O preso possui diversos direitos estabelecidos no art. 5º da CF, especialmente nos incisos III, LIV, LV, LVII,LVIII, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV, LXVI, LXVII, LXVIII, entre outros. Havendo dúvida sobre o respeito e observância dos direitos do preso poderá (ou melhor, “deverá”) o juiz determinar a imediata apresentação do preso, para certificar-se de que seus direitos estão sendo respeitados. (LOPES JUNIOR, 2020)
A instauração de qualquer investigação preliminar, seja pela polícia (inquérito policial) ou pelo Ministério Público (procedimento investigatório criminal – PIC), deverá ser imediatamente informada ao respectivo juiz das garantias, para que possa exercer sua função de controlador da legalidade. Evita-se, com isso, a abertura de investigações que ficam sem qualquer controle, inclusive de tempo e requisitos formais. Importante sublinhar que o juiz das garantias não investiga, apenas controla a legalidade da investigação. (LOPES JUNIOR, 2020)
Importantíssima missão do juiz das garantias é a de efetivar a garantia da reserva de jurisdição, especialmente em relação as medidas cautelares pessoais, reais ou diversas (art. 319). Portanto, cabe a ele, diante do pedido do MP ou representação da autoridade policial, decretar ou não uma prisão temporária ou preventiva, por exemplo, verificando se estão presentes os requisitos legais (fumus commissi delicti e periculum libertatis) e a efetiva necessidade cautelar, além da observância da principiologia aplicável. Taldecisão deverá ser especificamente fundamentada, como explicaremos (junto com as demais questões atinentes) no Capítulo das Prisões Cautelares. (LOPES JUNIOR, 2020)
A prorrogação a que se refere esse inciso é da prisão temporária, que tem prazo máximo de duração previsto na Lei n. 7.960/89, já que a prisão preventiva (infelizmente) não tem prazo de duração estabelecido em lei. Igualmente caberá ao juiz das garantias a decretação (mediante pedido) ou revogação (mediante pedido ou mesmo de ofício) de qualquer prisão cautelar ou outra medida cautelar (sejam medidas cautelares patrimoniais (art. 125 e s.) ou medidas cautelares diversas (art. 319). (LOPES JUNIOR, 2020)
Importante sublinhar que se trata de “decidir sobre o requerimento” de produção antecipada de provas. Não se admite a produção de provas de ofício pelo juiz! Assim, revogado tacitamente o disposto no art. 156, I, do CPP. Portanto, havendo pedido de produção antecipada de provas, deverá o juiz analisar a pertinência da postulação, se realmente existe a urgência apontada e se é uma prova irrepetível. (LOPES JUNIOR, 2020)
A prorrogação do inquérito estando o investigado em liberdade (ou mesmo quando não definido ainda) se dará de forma direta entre polícia e MP, sem intervenção do juiz das garantias, que somente será chamado para decidir quando o investigado estiver preso. (LOPES JUNIOR, 2020)
Interessante inovação foi a possibilidade de o juiz das garantias “trancar” o inquérito policial (ou qualquer investigação preliminar, por óbvia analogia) quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento. (LOPES JUNIOR, 2020)
Mais uma situação de atuação no controle da legalidade da investigação, que não se confunde com a antiga postura inquisitória de produção de provas de ofício. Aqui ele requisita documentos, laudos e informações ao delegado, para controlar a legalidade do que está sendo feito, para verificar se é caso ou não de trancar o inquérito ou mesmo para atender a um pedido de acesso feito pela defesa diante da recusa do órgão policial. (LOPES JUNIOR, 2020)
Função precípua do juiz das garantias é a tomada de decisão, mediante requerimento (jamais de ofício), sobre a concessão ou não de medidas restritivas de direitos fundamentais submetidas a reserva de jurisdição, como o são as enumeradas nas alíneas “a” a “e” do presente inciso. Tais medidas, dada a gravidade do direito fundamental limitado, exigem uma fundamentação idônea e específica, calcada em argumentos jurídicos e fáticos que a ampare e legitime. (LOPES JUNIOR, 2020)
Trata-se de hipótese bastante restrita e limitada, na medida em que o juiz das garantias somente julga o habeas corpus impetrado contra ato coator emanado de autoridade policial (ou administrativa similar) que constitua uma coação ilegal, como, por exemplo, a recusa em dar vista do inquérito (ainda que neste caso o melhor caminho processual seja o mandado de segurança, a jurisprudência costuma aceitar o uso do HC) ao investigado; a prática de ato ilegal por parte da autoridade policial; a recusa por parte da autoridade policial em realizar alguma diligência postulada pela defesa, etc. (LOPES JUNIOR, 2020)
Tal medida está prevista nos arts. 149 a 154 do CPP, cabendo ao juiz das garantias a instauração do incidente de insanidade mental quando lhe for encaminhado o pedido na fase da investigação preliminar e estiverem presentes os requisitos legais. (LOPES JUNIOR, 2020)
Mais uma alteração importante e na direção correta, pois como já demonstrou SCHÜNEMANN154 ao tratar da teoria da dissonância cognitiva, o fato de um juiz analisar os atos da investigação e receber a denúncia gera uma imensa contaminação, não sendo recomendável que ele seja o mesmo juiz a participar da instrução e julgamento (LOPES JUNIOR, 2020)
Papel fundamental do juiz das garantias (e também do juiz do processo) é ser o controlador da legalidade do procedimento e o guardião da eficácia dos direitos e garantias constitucionais do imputado. Nessa perspectiva, incumbe ao juiz das garantias assegurar todos os direitos do investigado, incluindo o de acesso (vista) aos elementos informativos do inquérito policial (ou de qualquer investigação preliminar a ele submetida), ressalvando, é claro, as diligências ainda em andamento (LOPES JUNIOR, 2020)
No curso da investigação preliminar é recorrente a realização de perícias, sendo – nos termos do art. 159, § 3º, do CPP – “facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico”. Portanto, caberá ao juiz das garantias decidir sobre o pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia realizada na investigação. (LOPES JUNIOR, 2020)
Tanto o acordo de não persecução penal como o de colaboração premiada (previsto na Lei n. 12.850), quando realizados antes da fase do art. 399 do CPP, estarão sujeitos a homologação (ou não) do juiz das garantias. (LOPES JUNIOR, 2020)
Trata-se de cláusula genérica que, depois da determinação exemplificativa de um rol de atos de competência do juiz das garantias, abre para a possibilidade de sua atuação em outras situações não previstas, respeitados é claro o limite de sua atuação procedimental (até o momento do art. 399 ou similar nos demais procedimentos) e a própria função do juiz das garantias: ser o responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário. (LOPES JUNIOR, 2020)
Agora o legislador traz duas importantes inovações: a primeira é que estando o investigado preso, poderá haver uma única prorrogação e por até 15 dias; a segunda inovação relevantíssima é o estabelecimento de prazo com sanção, ou seja, se transcorrido o prazo de 15 dias da prorrogação a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. (LOPES JUNIOR, 2020)
As infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes cuja pena máxima não exceda a 2 anos), submetidas ao juizado especial criminal nos termos da Lei n. 9.099/1995, não serão submetidas na fase préprocessual ao juiz das garantias.( LOPES JUNIOR, 2020)
Na verdade a atuação do juiz das garantias não cessa com o recebimento da acusação (que ocorre nos termos do art. 396), pois ela vai até a fase do art. 399, isto é, após a decisão de absolver sumariamente (art. 397) ou ratificar o recebimento. Portanto, após o momento procedimental do art. 399, cessa a atuação do juiz das garantias e eventuais questões pendentes (como, por exemplo, que digam respeito a restituição de bens apreendidos, levantamento de medidas assecuratórias, revogação de prisão preventiva, etc.) serão decididas pelo juiz do processo, responsável pela instrução e julgamento.( LOPES JUNIOR, 2020)
O juiz do processo não está vinculado as decisões proferidas anteriormente pelo juiz das garantias, especialmente aquelas que digam respeito a medidas cautelares (pessoais ou patrimoniais) ainda em curso.( LOPES JUNIOR, 2020)
Medida importantíssima e também por nós reclamada desde 1999 é a “exclusão física dos autos do inquérito” (ou sua não inclusão), para que não ingressem no processo. Trata-se de medida da maior importância para evitar o que o legislador espanhol de 1995 definiu como indesejáveis confusões de fontes cognoscitivas atendíveis, contribuindo assim a orientar sobre o alcance e a finalidade da prática probatória realizada no debate (ante os jurados). É uma técnica que também utiliza o sistema italiano, eliminando dos autos que formarão o processo penal todas as peças da investigação preliminar (indagine preliminare), com exceção do corpo de delito e das antecipadas, produzidas no respectivo incidente probatório. (LOPES JUNIOR, 2020)
Finalmente está consagrada uma lição de décadas do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (1982 em diante), igualmente por nós invocada há muito tempo: juiz que atua na fase de investigação preliminar é um juiz prevento, contaminado, que não podejulgar, pois a prevenção é causa de exclusão da competência e não de fixação, como previa o modelo brasileiro. O dispositivo menciona os arts. 4º e 5º do CPP, remetendo assim para o inquérito ou qualquer forma de investigação preliminar (art. 4º), desde o momento da sua abertura (que se dará nos termos do art. 5º do CPP). (LOPES JUNIOR, 2020)
O principal argumento dos críticos do juiz das garantias é exatamente esse: inviabilidade de implantação dada a quantidade de comarcas que contam com apenas um juiz. É um argumento pueril, que não se sustenta. Alguns simplesmente ignoram as soluções, que são simples, como apontaremos a continuação. Outros, manipulam o argumento, pois no fundo querem apenas manter hígida estrutura inquisitória, a aglutinação de poderes e o justicialismo (óbvio que o juiz das garantias é uma tragédia para um juiz justiceiro...). E quais são as soluções? (LOPES JUNIOR, 2020)
		• Existem diversas comarcas com apenas um juiz, mas que já deveriam ter dois, dado o volume de processos criminais e cíveis (logo, faz uma distribuição cruzada). A reforma justifica a abertura de concursos que estão represados e são necessários. Não se faz uma reforma processual ampla e séria sem investimento. Mas não se preocupem, sigam lendo que vamos mostrar outras soluções sem precisar aumentar gastos...
		• Existem centenas de comarcas com apenas um juiz, mas com comarcas contíguas (as vezes a menos de 100 km) em que existem dois ou mais juízes, que poderiam atuar como juiz das garantias (inclusive online, através de inquérito eletrônico).
		• Em outros casos, existem comarcas contíguas com apenas um juiz, onde também poderia haver uma distribuição cruzada (inclusive com atuação online).
		• Em todos os casos, diante da ampla implementação dos processos e inquéritos eletrônicos, é possível criar centrais de inquéritos em comarcas maiores para atender as comarcas pequenas na mesma região.
		• Enfim, com o processo (e inquérito) eletrônicos, não interessa mais o lugar, o “onde”, mas apenas o “quando”, isto é, estar na mesma temporalidade. Ora sabemos todos desse novo referencial, basta ver que trabalhamos o tempo todo no virtual, com várias pessoas em tempo real e o que menos importa é “onde” se está. Eis um “novo” paradigma que na verdade já integra o nosso cotidiano há décadas. Caberá assim ao Poder Judiciário implementar as diferentes ferramentas disponíveis para efetivar o sistema duplo juiz e o juiz das garantias.
Uma vez implantado, como se dará a escolha do juiz das garantias? Não é um novo “cargo” ou uma nova figura de juiz a exigir um concurso e carreira específica. Nada disso. O juiz das garantias será designado a partir de normas de organização judiciária, entre os juízes estaduais e federais, seguindo as orientações gerais do Conselho Nacional de Justiça (LOPES JUNIOR, 2020)
Função importantíssima do juiz das garantias é assegurar o respeito a imagem e dignidade do imputado, esteja ou não submetido à prisão, impedindo os costumeiros espetáculos midiáticos até agora praticados pelas autoridades policiais ou administrativas. (LOPES JUNIOR, 2020)
A garantia da imparcialidade é exigível de cada magistrado, é atributo pessoal de cada julgador, que não guarda nenhuma relação com o fato de o julgamento ser colegiado ou singular. Basta um magistrado estar contaminado, para afetar todo o julgamento, pois o devido processo não relativiza a garantia da imparcialidade e não negocia com juiz contaminado. (LOPES JUNIOR, 2020)
Portanto, se os jurados em plenário desclassificarem para crime culposo – por exemplo – quem irá proferir sentença será o juiz presidente, o mesmo que atuou desde o inquérito e que está contaminado. Portanto, todos os argumentos que justificam a existência do juiz das garantias seguem presentes no rito do júri. (LOPES JUNIOR, 2020)
Em definitivo, não cabe ao juiz requisitar a instauração do IP, em nenhum caso, pois viola a matriz constitucional do sistema acusatório e o art. 3º-A do CPP. Mesmo quando o delito for, aparentemente, de ação penal privada ou condicionada, deverá o juiz remeter ao MP, para que este arquive ou providencie a representação necessária para o exercício da ação penal. (LOPES JUNIOR, 2020)

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