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ORÇAMENTO EMPRESARIAL Gisele Lozada Planejamento de lucros Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o planejamento e controle por meio do orçamento. Reconhecer os tipos de orçamentos empresariais. Identificar as vantagens e limitações do sistema de orçamento. Introdução As empresas, de forma geral, são orientadas a obter resultados que con- tribuam para a formação do lucro, para o aumento do valor da empresa e para a continuidade do negócio, fazendo essas serem preocupações constantes de seus administradores. A fim de essas preocupações serem transformadas em ações que possam trazer benefícios à empresa, é necessário estabelecer planos, objetivos e metas a serem perseguidos, o que geralmente é consolidado no planejamento estratégico da orga- nização. Contudo, para que cada integrante da empresa (seja pessoa, setor, unidade de negócio ou outro elemento) possa, de fato, cumprir seu papel nesse cenário, é preciso que o plano estratégico seja traduzido para uma linguagem mais compreensível e palpável, demanda na qual o orçamento empresarial é muito útil. O orçamento, por sua vez, requer planejamento e controle para que tudo seja organizado e monitorado de maneira a viabilizar o atingimento dos objetivos da empresa. Neste capítulo, você vai estudar o planejamento e o controle por meio do orçamento, os diferentes tipos de orçamento empresarial que a organização pode utilizar e as vantagens e limitações do sistema de orçamento. Como realizar o planejamento e o controle por meio do orçamento? Segundo Frezatti (2015), planejamento consiste no ato de decidir antecipada- mente sobre o que deve ser feito. Toda empresa realiza planejamento de alguma forma, embora a intensidade dessa ação possa variar de uma para outra. Já controle é defi nido pelo autor como a ação que visa a garantir que as decisões estabelecidas no planejamento sejam seguidas. Ele permite que a empresa en- tenda quão próximo os resultados estão do esperado para determinado período. Desse modo, planejamento e controle são processos intimamente ligados e que promovem impactos mútuos, pois o desenvolvimento do planejamento traz o aperfeiçoamento do controle, e vice-versa. Contudo, o planejamento precede o controle dentro das organizações. Como base nessa constatação, Frezatti (2015, p. 8) aponta que “o planejamento é , se não a única, a mais efi ciente forma de controle das organizações”. Gerir uma empresa engloba três elementos essenciais: planejamento, execu- ção e controle. É importante destacar a relevância do planejamento no cenário empresarial, uma vez que as demais questões são desempenhadas com base nele. Se o planejamento for inadequado, o controle não produzirá o efeito pretendido. Entretanto, cada um dos três elementos mencionados precisa ser adequadamente desempenhado, uma vez que a falha em qualquer um deles comprometerá o conjunto. Por exemplo: planejar sem controlar é desperdício de tempo e energia; executar sem considerar o planejado dificilmente gera os resultados desejados; controlar para mera constatação desperdiça a opor- tunidade da retroalimentação. Logo, planejamento, execução e controle são elementos importantes, pois o primeiro é a base para os demais, e todos juntos formam um sistema. O planejamento envolve a tomada de decisões empresariais sobre questões estratégicas, administrativas e operacionais que englobam curto, médio e longo prazos. Assim, envolverá a empresa como um todo, incluindo seus níveis estratégico, tático e operacional. Tais decisões, como já mencionado, são tomadas de forma antecipada, e por esse motivo é necessário que a empresa faça uso de estimativas e projeções sobre diversos aspectos. Nesse contexto, outro instrumento revela-se extremamente útil: o orçamento. Um orçamento pode ser definido como a expressão de um plano de ação futuro da organização para um determinado período, podendo abranger as- pectos financeiros e não financeiros desses planos e funcionando como um projeto a ser seguido pela empresa no período que está por vir (LEITE et al., 2008). Assim, o orçamento pode ser descrito como a demonstração quantitativa Planejamento de lucros2 e formal dos planos da empresa, sendo capaz de demonstrar, por exemplo, se as decisões estabelecidas são compatíveis com sua capacidade de geração de caixa, com a estrutura de capital de giro e com as metas de remuneração pretendidas pelos acionistas. Além disso, permite compatibilizar e priorizar os planos da empresa e, ainda, serve para realimentar o sistema de planejamento, oportunizando o aprimoramento desse processo (FREZATTI, 2015). Segundo Peixoto et al. (2008, p. 2), o orçamento geral é definido como: […] conjunto de planos e políticas que, formalmente estabelecidos e expressos em resultados financeiros, permite à administração conhecer, a priori, os resultados operacionais da empresa e, em seguida, executar os acompanha- mentos necessários para que esses resultados sejam alcançados e os possíveis desvios sejam analisados, avaliados e corrigidos. Em complemento, Frezatti (2015) ressalta que o orçamento depende do planejamento estratégico da organização e a ele está subordinado, e aponta o controle orçamentário como a forma de realimentar o sistema de plane- jamento. O orçamento surge então como sequência da montagem do plano estratégico, permitindo que a empresa possa identificar e focar nas ações mais importantes em um horizonte de tempo menor, como 12 meses, por exemplo (o planejamento estratégico, por sua vez, geralmente trata de um horizonte de tempo maior, como 3 a 5 anos). Em outras palavras, o orçamento existe para implementar as decisões do plano estratégico. Desse modo, coerência e consistência do orçamento estão diretamente ligadas à qualidade do trabalho de montagem do plano estratégico. O orçamento depende do planejamento estratégico da organização e a ele está subordinado, permitindo que a empresa possa identificar e focar nas ações mais importantes. O orçamento pode ser considerado uma etapa do processo de planejamento por meio da qual é estimada e determinada a melhor relação entre os resul- tados pretendidos (oriundos das necessidades da organização) e os recursos 3Planejamento de lucros necessários para atingi-los no período esperado. Assim, pelo orçamento são alocados os recursos a cada uma das funções e operações da empresa. Por isso, é importante que o orçamento, ao ser elaborado, esteja alinhado à visão estratégica da empresa, considerando aspectos como ambiente de atuação, estrutura necessária para atendimento ao mercado, qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos clientes, tecnologias, concorrentes, parceiros, forne- cedores, entre outros. O processo orçamentário envolve a elaboração de planos detalhados sobre diferentes aspectos. Segundo Frezatti (2015), tomando como base uma empresa industrial, a elaboração do orçamento leva em conta a seguinte sequência de etapas: preparação para o orçamento, incluindo definição de princípios gerais de planejamento, diretrizes dos cenários, premissas e pré -planejamento; plano de marketing; plano de suprimentos, produção e estocagem; plano de investimentos nos ativos de longo prazo; plano de recursos humanos; plano financeiro. Dependendo do tipo de negócio da empresa, essa sequência de etapas poderá apresentar variações (p. ex., no caso de uma empresa de serviços, não haverá plano de produção e estoques). O planejamento orçamentário, de acordo com Hoji (2012), permite que a empresa conheça antecipadamente seus resultados e serve de guia para ações a serem executadas pelas diferentes unidades da empresa, definindo as responsabilidades de cada uma na gestão dos recursos e na geração dos resultados em determinado período futuro. O controle orçamentário, ainda segundo Hoji (2012), consiste no acompanhamento da execução das atividades e na comparação periódica entre o desempenhoefetivo e planejado. Além disso, garante a geração de informações para a tomada de decisões e para a correção de eventuais desvios em relação ao que foi originalmente projetado. Conforme Frezatti (2015), a fim de que o planejamento seja de fato consu- mado, precisa ser monitorado, acompanhado e controlado, para que variações possam ser identificadas e ações corretivas ou de manutenção/disseminação (no caso de variações favoráveis) possam ser planejadas e executadas. Como consequência, o processo de planejamento acaba passando por revisões para que as variações já decorridas sejam incorporadas. Este, na verdade, é o grande benefício do acompanhamento: permitir a percepção do que deve ser feito no Planejamento de lucros4 futuro, ou seja, o replanejamento. Tudo isso colabora para a empresa realizar suas operações da forma mais econômica e lucrativa possível, coordenando a melhor utilização dos diferentes recursos (humanos, materiais, financei- ros, tecnológicos, entre outros) e viabilizando o atingimento dos objetivos traçados. Afinal, a empresa precisa manter sua continuidade, mantendo-se ativa e competitiva e gerando benefícios para si mesma, seus acionistas, seus colaboradores, seus fornecedores e para a sociedade. Enfim, o planejamento e controle do orçamento permitem a definição de objetivos, o estabelecimento de metas e o monitoramento do desempenho. Além disso, permitem evidenciar e reforçar o compromisso dos gestores com os resultados a serem atingidos e, caso esse compromisso não esteja suficientemente especificado e definido no plano estratégico, ele é firmado na montagem do orçamento. Desse modo, o orçamento gera a obrigação dos gestores com a prestação de contas sobre suas atividades (o chamado accoun- tability) e, assim, acaba por se revelar como um dos pilares ou ferramentas fundamentais da gestão organizacional. Tipos de orçamentos empresariais O orçamento é muito mais do que um instrumento de utilização fi nanceira. Ele é uma ferramenta capaz de oportunizar a medição das operações da empresa, permitindo avaliar como cada uma de suas áreas está operando. Assim, o orçamento pode ser considerado um instrumento que envolve a organização como um todo, formada por seus diferentes setores, e que considera todas as fases integrantes de sua operação. Desse modo, forma-se o orçamento operacional da empresa, que inclui todos os seus setores, representando o orçamento geral, a partir do qual cada setor planeja suas atividades. A partir disso, são geradas informações que retratam o plano de atuação de cada área específi ca, que juntas trabalham em prol do objetivo geral da organização. Nesse contexto, Hoji (2012) aponta que o orçamento geral expressa a es- tratégia da empresa e evidencia, de forma quantitativa, onde estão refletidas as ações e políticas da empresa com relação a determinados períodos futuros. Segundo o autor, isso é realizado por meio de um conjunto integrado de orçamentos específicos, representados por quadros orçamentários: Orçamento de vendas: determina a “quantidade e o valor dos produtos a serem vendidos, além de calcular os impostos sobre estas vendas” (MILANEZ, 2013, p. 24). 5Planejamento de lucros Orçamento de produção: determina a quantidade de produtos que deve ser produzida em função das vendas planejadas, considerando as políticas de estoque de produtos acabados. Orçamento de matérias-primas: determina a quantidade e o valor de matérias-primas a consumir e a comprar e calcula os impostos incidentes sobre as compras. Orçamento de mão de obra direta: determina a quantidade e o valor total das horas de mão de obra diretamente aplicadas na produção. Orçamento de custos indiretos de fabricação: apura o montante de custos que participam indiretamente na fabricação de produtos, sejam eles variáveis ou fixos. Orçamento de custos de produção: apura os custos unitários de produ- tos acabados e em elaboração, necessários para a avaliação dos estoques e apuração do custo dos produtos vendidos. Orçamento de despesas de vendas e administrativas: o orçamento de despesas de vendas dimensiona: […] os recursos necessários para dar suporte às vendas orçadas. A maioria das despesas de vendas é de natureza fixa. Algumas despesas de vendas e distribuição são variáveis, isto é, variam em função do volume de vendas. O orçamento de despesas administrativas tem a finalidade de determinar os recursos que serão despendidos com a gestão da empresa (SANTOS, 2013, documento on-line). Orçamento de investimentos: também denominado orçamento de capital, determina os valores de aquisições e baixas do ativo permanente e apura as cotas de depreciação, exaustão e amortização. Orçamento de aplicações financeiras e financiamentos: apura as faltas e sobras de caixa, dimensiona os recursos necessários para fi- nanciar as atividades de operações e investimentos e apura as receitas e despesas financeiras. Orçamento de caixa: também conhecido como orçamento de dispo- nibilidades, corresponde a demonstração do fluxo de caixa projetado da empresa, sendo elaborado depois de todos os outros orçamentos específicos mencionados. Orçamento de resultado: corresponde à demonstração do resultado projetado da empresa, consistindo na projeção de seu balanço patrimo- nial, considerando o conjunto de informações apuradas pelos orçamentos específicos, o qual forma o orçamento geral da empresa. Planejamento de lucros6 Conheça mais detalhes sobre cada um dos diferentes quadros orçamentários que compõem o orçamento geral da empresa na obra Administração financeira e orça- mentária (HOJI, 2012, cap. 16). Em complemento a esse panorama, Nascimento e Reginato (2009) realçam a importância do orçamento mencionando que ele pode ser um relevante dife- rencial para a empresa se manter competitiva em seu mercado, uma vez que o orçamento é produto de um processo de reflexão capaz de viabilizar que a empresa seja integrada e sintonizada com seu ambiente e que a administração possa se antecipar às oportunidades e ameaças apresentadas ao negócio, aproveitando-as ou evitando-as, respectivamente. Para que isso seja possível, os autores trazem à tona mais uma importante questão: o tipo de orçamento adotado pela empresa. Segundo eles, o tipo certo de orçamento a ser adotado é fundamental para o sucesso do plano de negócios. Isso depende do modelo de gestão da empresa e do nível de amadurecimento da administração Dentre os vários tipos de orçamento, porém, os autores destacam como mais comuns os seguintes modelos: flexível, contínuo, estático e base zero. Orçamento flexível A principal característica desse tipo de orçamento é a de ser baseado na quantidade de unidades de produtos que se pretende comercializar, podendo o orçamento ser ajustado ao longo do período a que se refere. Assim, caso os produtos apresentem potencial de comercialização diferente do que foi inicialmente estimado, as quantidades serão adequadas à nova realidade. Com isso, o modelo garante a possibilidade de acompanhamento de oscilações de quantidades de unidades, de preços de vendas e de custos variáveis, de forma detalhada, permitindo o contínuo ajuste do volume de operações da empresa. Nesse orçamento, a comparação entre o resultado real e o projetado deve ser realizada considerando o volume de atividade atual, ou seja, o orçamento da empresa deve ser ajustado para refletir receitas e custos correspondentes a determinado volume de atividades. Importante destacar que, embora esse tipo de orçamento tenha foco nas receitas, nos custos e nas despesas variáveis, não 7Planejamento de lucros despreza os demais elementos componentes do resultado do exercício, como despesas comerciais e administrativas, por exemplo. É elaborado por áreas de responsabilidades e permite o estabelecimento do orçamento flexível de receitas e custos por atividades e por produtos. Além disso, facilita o esclarecimento sobre os desvios entre o orçado e orealizado e fomenta a participação dos gestores no processo de elaboração e avaliações de desempenho, uma vez que o monitoramento das variações entre valores reais e estimados é facilitado pela metodologia. Orçamento contínuo Também conhecida como rolling forecast, essa é uma modalidade de or- çamento que possui a seguinte característica básica: sempre contempla um ciclo orçamentário completo (que pode ser de 1 ano, 18 meses ou mais), in- dependentemente do período que já tenha transcorrido. Por exemplo, consi- derando como ciclo o período entre janeiro e dezembro de determinado ano, ao encerrar o mês de janeiro, é acrescentado ao orçamento o mês janeiro do ano subsequente. Possui certa semelhança com o orçamento fl exível, tendo em vista que permite a realização de modifi cações nos resultados esperados para os meses subsequentes caso existam mudanças signifi cativas no cenário e capazes de justifi car tais alterações. Esse tipo de orçamento possibilita o realinhamento da gestão empresarial referente ao resultado esperado para um exercício, tendo como vantagem ainda manter a visibilidade da administração sobre um período fixo à frente. Além disso, motiva a administração a promover contínuas revisões em suas estraté- gias, já que é delas que provêm as estimativas para o período que é acrescido ao orçamento, quando se encerra uma etapa já executada do orçamento. Orçamento estático Corresponde ao mais tradicional modelo de orçamento, sendo o mais utilizado no meio empresarial. Consiste em projetar as operações da empresa e os efeitos econômicos sobre seus resultados durante um período no qual as expectativas iniciais da administração referente a receitas, a custos e a despesas, assim como a demais componentes do orçamento, permanecem inalteradas, mesmo que existam alterações no cenário em que a empresa está inserida. Revisões Planejamento de lucros8 nos valores orçados são normalmente realizadas no período de 1 ano, inde- pendentemente do ciclo orçamentário. Destaca-se como benefício promovido por essa modalidade orçamentária a facilidade de consolidação de diversos orçamentos no caso de empresas que possuem várias unidades de negócios ou filiais. Além disso, o orçamento estático normalmente contempla projeções econômicas e financeiras desa- fiadoras, estabelecidas com base na estratégia da empresa. Isso representa um potencial estímulo aos gestores na condução de suas atividades, com foco no cumprimento das metas inicialmente estabelecidas e no esforço para recuperação de resultados eventualmente não alcançados em meses anteriores do mesmo período. Contudo, é preciso cuidado, pois, por ser um modelo inflexível que não per- mite a realização de ajustes nas previsões iniciais, pode dificultar a visibilidade da administração da empresa em relação ao resultado que efetivamente poderia ser alcançado. Por exemplo, caso, no transcorrer da execução do orçamento, o cenário se mostre mais favorável do que inicialmente previsto, torna-se mais fácil alcançar os resultados planejados, e isso pode promover a acomodação dos gerentes que, sem a necessidade de empenhar grande esforço na execução de suas funções, ficam desestimulados, deixando de atingir maior eficácia e de alcançar resultados que poderiam ser ainda melhores. Orçamento base zero Consiste em deixar de lado as informações históricas sobre receitas, custos, despesas, entre outros elementos do orçamento, durante a projeção das opera- ções futuras da organização. Nesse modelo, as estruturas de receitas, custo e despesas, principalmente, estão sempre sendo repensadas, como se a empresa estivesse começando a operar naquele ano do ponto zero. Com isso, o orçamento base zero, também conhecido como OBZ, tem por característica central o incentivo à reflexão, por parte dos gestores, sobre suas operações com base no que é pretendido atingir futuramente, já que infor- mações históricas são desprezadas. Tal característica possibilita a automática correção de distorções causadas por anomalias operacionais que podem não se repetir no futuro, principalmente aquelas relacionadas a custos e despesas. Porém, é importante considerar que a adoção do orçamento base zero traz a necessidade de mobilização dos principais gerentes da empresa para sua elaboração, o que, devido à quantidade de detalhes e análises requerida, 9Planejamento de lucros demanda considerável tempo, muito além do necessário para o desenvolvimento dos demais modelos orçamentários. Atualmente, algumas novas modalidades orçamentárias vêm sendo desenvolvidas e ganhando espaço no mundo corporativo, como é o caso da abordagem beyond budgeting, que, em uma tradução literal, significa “além do orçamento”. Essa modalidade surgiu com o objetivo de promover uma nova forma de pensar e de agir em relação ao orçamento, ao seu planejamento e ao seu controle, visando a lidar com as limitações e distorções atribuíveis ao modelo considerado tradicional. A principal característica do beyond budgeting é a de que ele possui foco na análise de desempenho mais voltado para os indicadores relativos, e não para os fixos, a fim de conceder mais flexibilidade ao processo de gestão, sem a existência de um orçamento anual de resultados. Conheça mais sobre esse conceito na obra Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial (FREZATTI, 2015, cap. 7). Vantagens e limitações do sistema de orçamento Hoji (2012) comenta que, em qualquer tipo de planejamento, existem vantagens e limitações, o que também se aplica ao planejamento orçamentário. Sobre as vantagens, Hoji aponta as questões abordadas a seguir. Com a fixação de objetivos e políticas para a empresa e suas unidades e por meio da sistematização do processo de planejamento e controle, “introduz-se o hábito do exame prévio e cuidadoso de todos os fatores antes da tomada de decisões importantes” (PROINOVA, [201?], docu- mento on-line). Possibilita a tomada de decisões financeiras com maior grau de acerto, pois tais decisões são baseadas em resultados econômicos e financeiros projetados. Aumenta o nível de participação de todos os membros da administração na fixação de objetivos. Possibilita que os administradores quantifiquem e datem as atividades pelas quais são responsáveis, o que os obriga a tomar decisões mais consistentes. Planejamento de lucros10 Facilita a delegação de poderes. Identifica os pontos de eficiência ou ineficiência do desempenho das unidades. Tende a melhorar a utilização dos recursos e a ajustá-los às atividades prioritárias. Torna os controles gerenciais mais objetivos. Colaborando com as considerações de Hoji (2012), Nascimento e Reginato (2009) comentam que são muitas as vantagens que o orçamento proporciona à gestão, desde que seja adotado o tipo mais conveniente à natureza de ope- ração da empresa. Para reforçar, os autores apontam os seguintes benefícios oportunizados pelo orçamento: Disciplina quanto ao nível de gastos compatível com o resultado eco- nômico esperado. Visibilidade. Definição da responsabilidade de gestores. Avaliação de desempenho. Instrumento de validação da estratégia. Sobre as limitações do sistema de orçamento, Hoji (2012) aponta: Os orçamentos baseiam-se em estimativas e, por isso, estão sujeitos a erros significativos ou não significativos, conforme o processo de estimação. O plano de resultados, por si só, não garante o resultado projetado, devendo ser continuamente monitorado e adaptado às circunstâncias. O custo de implantação e manutenção do sistema não permite sua utilização plena por todas as empresas, pois exige a contratação de profissionais qualificados. Os atrasos na emissão de dados realizados prejudicam significativamente a implementação de ajustes em tempo hábil. As dificuldades de implementação de ajustes geram desconfianças em relação a resultados projetados. Quando existe alta volatilidade das variáveis econômicas e financeiras,os resultados projetados sofrem fortes distorções. 11Planejamento de lucros Frezatti (2015) oferece algumas considerações sobre imperfeições, críticas e limitações do orçamento tradicional, quais sejam: Possui algumas imperfeições, dentre as quais: centralização por meio do sistema de orçamento, que passa pela ênfase na coerção, e não pela coordenação relevantemente devida; foco na redução de custos, e não na criação de valor; restrição de iniciativas; manutenção e execução do planejamento separadas, em vez de próximas; problemas na alocação de custos, ditos como não negociáveis; e centralização por parte da média gerência. Proporciona baixo valor e conduz as pessoas a apresentarem compor- tamentos disfuncionais, com pouca atenção às variáveis fundamentais da competitividade, pressupondo falta de confiança. Apresenta pontos frágeis, como perda de tempo, já que as pessoas gastam tempo no acompanhamento orçamentário falando sobre o passado — o que aconteceu versus o planejado —, enquanto o mais importante é discutir o futuro. Isso não encoraja as pessoas ao desempenho, mas ao desempenho do orçamento. Revisão do orçamento é demorada, e as empresas não conseguem fazê-lo rapidamente. Como mencionado inicialmente, a existência de vantagens e limitações é condição natural do processo orçamentário, independentemente do tipo de orçamento escolhido pela empresa. O importante é realizar tal escolha com cuidado, para que ela resulte na definição do modelo efetivamente mais apro- priado, e dedicar especial atenção a sua aplicação, permitindo tirar o melhor proveito de suas vantagens e tratar suas limitações a fim de minimizar even- tuais dificuldades que delas possam decorrer. No entanto, ainda que existam desvantagens ou limitações, o orçamento permanece sendo capaz de promover muitos benefícios e correspondendo a uma importante ferramenta para a gestão organizacional, colaborando para o planejamento e viabilizando o controle. Planejamento de lucros12 FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2015. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012. LEITE, R. M. et al. Orçamento empresarial: levantamento da produção científica no período de 1995 a 2006. Revista Contabilidade e Finanças, São Paulo, v. 19, n. 47, p. 56-72, maio/ago. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rcf/article/ view/34261/36993>. Acesso em: 09 jun. 2018. MILANEZ, M. Controle orçamentário no processo de gestão. Maiêutica - Curso de Pro- cessos Gerenciais, Indaial, v. 1, n. 1, p. 23-27, 2013. Disponível em: <https://publicacao. uniasselvi.com.br/index.php/EMD_EaD/article/view/380/94>. Acesso em: 09 jun. 2018. NASCIMENTO, A. M.; REGINATO, L. (Org.). Controladoria: um enfoque na eficácia or- ganizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PEIXOTO et al. A importância do orçamento no processo de gestão empresarial. In: ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 12.; ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 8.; ENCONTRO DE INICAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR, 2., 2008, São José dos Campos. Anais eletrônicos... São José dos Campos: UNIVAP, 2008. p. 1-3. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/ arquivosEPG/EPG00781_01_O.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2018. PROINOVA. As vantagens do planejamento orçamentário. PROINOVA, Porto Alegre, [201?]. Disponível em: <http://proinova.com.br/as-vantagens-do-planejamento- orcamentario/>. Acesso em: 09 jun. 2018. SANTOS, T. C. Trabalho orçamento empresarial e análise de investimentos - Marcopolo. 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