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Maria Sonsoles Guerras - Romanismo-Germanismo-e-Cristianismo-Nos-Seculos-V-VI

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BIBLIOTECA DO PEM
TEXTOS 
DIDÁTICOS
IFCS
ROMANISMO,
GERMANISMO
E CRISTIANISMO
NOS SÉCULOS V - VI
Programa de Estudos
Medievais
Maria Sonsoles 
Guerras
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NO 
SÉCULO V - VI
MARIA SONSOLES GUERRAS
PROGRAMA DE ESTUDOS MEDIEVAIS N° 1 
RIO DE JANEIRO 1992
Í N D I C E
INTRODUÇÃO MARCOS 
TEMPORAIS 
JUSTIFICATIVA 
PLANO
1. SÉCULO IV
1.1. Teodõsio
2. SÉCULOS V E VI
2.1.O Império Romano do Ocidente e a instabi-
lidade política.
2.2.O Império Romano do Ocidente e a irrupção 
dos bárbaros.
2.3.0 assentamento dos germanos.
3. OS REINOS BÁRBAROS
3.1. As Galias
3.1.1.Os Visigodos nas Galias
3.3.1.Os Burgúndios
3.3.2.Os Francos
3.2.0 Norte da África
3.3.A Península Italiana
3.3.1.Os Hêrulos
3.3.2.Os Ostrogodos
3.3.3.Os Bizantinos
3.3.4.Os Lombardos
6. PERMANÊNCIAS E RUPTURAS 42
6.1.Permanências bárbaras 42
6.2.Permanências romanas 43
6.3.Fatores que estimularam a fusão 44
6.3.1.A Religião 44
6.3.2.O Exército 44 6.3.3.. A Língua 45
6.4. A Fusão 46
6.4.1.As monarquias bárbaras 46
6.4.2.0 Direito romano e os direitos germanos. 47
6.4.3.Impostos 49
6.4.4.A Economia Agrária 49
6.4.5. Os sistemas de dependência 50
6.-1.6. Cidades e comércio 52
6.5. O Cristianismo
53
6.5.1. 0 Monacato
53
6.5-2. A cristianização do poder político
55
6.5.3. A Igreja e a Cultura
55
CONCLUSÃO 
BIBLIOGRAFIA 
CRONOGRAMA 
MAPAS
ROMANISMO, GERMANISMO E CRIST Í ANISMO 
S É CULOS V A VI 
Introdu çã o 
O período que pretendemos estudar é o que se estende 
pelos séculos IV, V e VI e tem como referência espacial a bacia 
do Mediterrâneo, ponto de convergência ou eixo ao redor do qual 
está s ituado e gira todo o mundo romano na antigüidade.
A história tradicional denominava-o de "passagen da An 
tiguidade para a Idade Média". Hoje, seguindo Peter Brown, Henri 
Marrou e Franz Georg Maier, nós o chamamos de Antigüidade Tardia. 
Nem todos os especialistas estão de acordo sobre a extensão tem-
poral deste período. Nós escolhemos os seguintes pontos referen-
ciais:
MARCOS TEMPORAIS
0 nosso estudo começa com Diocleciano,- autor de grandes reformas 
no final do século III. Constantino continua as reformas, mas sua 
obra mais famosa é a de ter dado fim às persegui. ções contra a 
Igreja Católica. É autor do chamado "Edito de Milão", mediante o 
qual o cristianismo passa a ser uma religião re conhecida pelo 
estado romano, "lícita". Este fato é de importância capital na 
história posterior. 0 trabalho termina com a análise da passagem 
do VI para o VII século. Eis alguns pontos de referência: - a 
morte de Justiniano, imperador do Império Romano
.02.
do Oriente ou Bizantino, em 565, assinala a última tentativa de 
restauração do império como unidade política, feita por um imDe 
rador romano propriamente dito.
- pouco tempo depois, em 632, se inicia a -'expansão mu . 
çulmana e a rápida conquista de grande parte da Europa feita pe 
Los ãrabes, sob a bandeira de Maoraé.
Enquanto isso, os reinos germânicos correm sortes di-
versas :
- as Gálias, em 561, após a morte de Clotário, perdem a 
unidade que tinham conseguido nos tempos de Clóvis com a expulsão 
dos visigodos e o território se divide em três reinos: 
Austrásia, Néustria e Borgonha.
- também na Itália se assinala o fim do reino dos os-
trogodos de Teodorico. Os lombardos, em 572, conquistam Pávia na 
planície do rio Pó e, a partir desse momento, a península I-
tãlica fica dividida entre duas soberanias: o reino lombardo, 
última formação estatal germânica, e a parte ainda dependente do 
Império Romano do Oriente-
- o reino dos suevos, na península Ibérica, é anexado
pelos visigodos em. 585. A partir desta data, com o território
unificado, e depois de convertidos ao catolicismo, os visigodos
vão partir para seus maiores dias de glória.
- no papado, a figura de Gregório Magno (590-604) tara
bém representa um dado de muita importância nesta passagem do VI
para o VII século. Costuma ser considerado como o primeiro papa
medieval- .
Foi necessário fazer todo percurso, não para gravar
.03.
nomes e datas e sim para melhor conhecer o contexto. Reafirmar 
raos as palavras de Pierre Ghuvin célebre historiador francês: 
"as datas são necessárias: no entanto, não devemos dar-lhes de-
masiada importância."
JUSTIFICATIVA
Consideramos necessário o estudo destes séculos, ou se 
ja, da Antigüidade Tardia, para a melhor compreensão do processo 
histórico. Os manuais, por via de regra, silenciam este perío do. 
A história de Roma termina com a invasão dos bárbaros e a 
história medieval tem início com os reinos bárbaros já formados 
plenamente nos séculos VII e VIII. Há um parêntese que vai do 
século IV até a ascensão dos carolíngeos no século VII. Silenciar 
estes séculos parece-nos um erro, pois, sendo a história um 
processo, não pode ser vista como uma série de compartimentos es 
tanques,. desconectados uns dos outros.
Julgamos existir, neste período histórico, três compo-
nentes característicos (1): que se interpenetram e se interligam 
de tal maneira nestes séculos que, chegando à plena Idade Média, 
não encontraremos mais o Império Romano e sim o "Sacro Império 
Rómano-Germânico", situado não nas margens do Mediterrâneo e sim 
no coração da Europa. Chamar-se-á Cristandade. Deixando ausente 
algum destes elementos, não poderemos entender o que foi a Idade 
Média.
A Antigüidade Tardia, portanto, foi uma etapa original 
do processo histórico que, se apresenta permanências em relação à 
Antigüidade Clássica, também nos oferece as primeiras manifes-
tações dos elementos mais característicos da Idade Média.
(1) Romanismo, germanismo e cristianismo.
PIANO
Dentro deste quadro, nossa abordagem irá privilegiar 
algumas das permanências e rupturas que julgamos mais caracte-
rísticas. O nosso fio condutor serio as interrelações entre es-
ses três elementos já citados: romanismo, germanismo e cristia-
nismo.
Inicialmente estudaremos o século IV, destacando den-
tro do mesmo a figura do imperador Teodósio, não em vão chamado 
de "o Grande". Já nos últimos dias do século IV (morre em 395), 
ele está no ponto de inflexão de um período que começou com as 
reformas de Diocleciano e Constantino no início do mesmo século.
Passaremos depois ao estudo dos séculos V e VI como 
um todo. 0 protagonismo não é mais do Império Romano e sim dos 
reinos bárbaros: sua formação, estruturação e características 
mais marcantes nos primeiros tempos de sua existência como uni-
dades políticas independentes. À seguir, a Igreja e o Papado, 
sua caminhada desde o momento em que Teodósio a declarou Igreja 
oficial do Império Romano até a época de Gregório I, o Magno, o 
papa que simboliza a passagem para a Idade Média.
1 - S É CULO IV 
Desnecessário será insistir na idéia de aue o Bai 
xo Império Romano não é ma momento de decadência ou de sim 
pies transição para a Idade Media. Pelo contrário, ele tem 
suas características próprias entre as quais destacaremos 
algumas:
10-0 primeiro fator que dá um sentido original ao 
século IV é a existência de um estado forte, centralizado e 
burocratizado. Esta foi a obra de Diocleciano e Cons-
tantino para salvar o império depois da chamada "crise do 
III século". 0 sistema criado por Diocleciano, chamado de 
Tetrarquia, a reforma administrativa e militar, o freio â 
evasão fiscal, a vinculação familiar ao ofício do pai, a po 
lítica fiscal, os novos impostos, o edito de preços e as no 
vas moedas são algumas das medidas que, objetivando a manu-
tenção da unidade e a estabilidade do sistema imperial romã 
no, o levaram de um regime político liberal para um estado 
absoluto, fiscalista e burocrático.
2P - Ao mesmo tempo, o poder assume um car á ter sa - 
grado, diferente do alto império. O imperador não é deus,po 
rém participa da divindade. Este caráter divino não é pessoal 
do imperador e sim do cargo, da magistratura. ComCons 
tantino, depois de sua conversão, se elabora uma nova teolo_ 
gia política: a origem do poder está em Deus, que age através 
dos homens, e estes são os soldados, o Senado ou a própria 
dinastia. 0 poder, portanto, não emana da pessoa que o 
ostenta, não tem as características da realeza oriental ou
.06.
helenística. É uma nova concepção do poder, que é descenden 
te, provém de Deus, e não mais do povo, dos comícios do tem 
po da Republica. Agora, o antigo cidadão romano passa a ser 
"súdito" do estado.
30 - Um terceiro fator característico é a unidade territorial 
do império, mantida até a morte de Teodósio. Se ria falso 
pensar que a antiga tetrarquía de Díocleciano tivesse 
implicado numa verdadeira divisão do império. Por um iado, 
Diocleciano conservou sempre a supremacia em toda a sua 
força e, por outro, o sistema representou uma colegial^ dade 
do poder, criada para evitar o triste espetáculo dos 
pronunciamentos militares e usurpações da época precedenre. 
Podemos considerar a unidade do império, também, não só na 
direção leste-oeste, mas também na norte-sul: a presença de 
fortes concentrações de tropas nas fronteiras ao norte do 
império, por causa da instalação dos germanas, re força a 
união entre estas terras, antes longínquas, e o eixo 
fundamental do mundo romano, que era o mar Mediterrâneo. O 
estabelecimento da capital da Prefeitura das Gálias em Tre 
veris não é nada mais do que um exemplo.
40 - Constatamos também, neste século, uma cons - 
ci ê ncia de restaura çã o , que nos é transmitida pela literatu ra 
da época. Os "Panegírícos", característicos deste período, são 
fruto do desejo de renovar as glórias do passado, por parte 
da aristocracia romana e das oligarquias municipais. A 
historiografia parece partir do mesmo princípio: reavivar as 
lembranças do passado glorioso de Roma. As "Bio grafias 
Imperiais" de Aurélio Vítor e o "Breviário de Histó
.07.
ria àe Roma" de Eutrópio são um exemplo entre muitos.
Se olharmos para a poesia, não é possível ignorar 
o célebre canta a Roma de Rutílio Namaciano, onde está cla-
ramente explicitado este sentimento de restauração da gran-
deza romana;
Escuta, 5 belíssima rainha do mundo, que 
i teu; Roma recebida entre as esferas ce-
lestes! Escuta, mãe dos homens e dos deu-
ses que, graças aos teus templos, nos fa-' 
zem sentir menos longe do céu! A ti canta 
mos e sempre te cantaremos enquanto o des_ 
tino no-Io permitir. Nenhum homem são pode 
esquecer-se de ti, porque tu difundes os 
benefícios como o sol os seus raios por 
todos os lugares banhados pelo oceano.:.
Este nacionalismo exaltado toma também forma nos
autores cristãos. Não e exclusivo dos pagãos. Para o histo-
riador Paulo Orósio, por exemplo, o Deus dos cristãos salva 
o império e a civilização romana purificando-a. À consciên-
cia imperial romana renovada, os cristãos unem a sua fé.
50 - Outro fator que individualiza este século é
a cristianiza çã o do imp é rio , a grande eclosão da Igreja no 
estado e na sociedade. Depois do fim das perseguições,o cris_ 
tianisrao se integra no mundo romano. A "Roma aeterna" dos 
poetas e literatos expressa os sentimentos dos homens deste 
momento em que o destino do império se considera identifica 
do com o da igreja cristã.
A nova religião se afirma entre a aristocracia se 
natorial romana. É freqüente, nesta época, os bispos proce-
derem desta alta aristocracia senatorial: Ambrósio de Milão, 
antes magistrado romano, é ura exemplo e outro, entre 
muitos, Sidõnio Apolinar, membro da alta nobreza senatorial 
das Gãlias.
Aparece a arte das grandes Basílicas romanas. É o 
século de ouro da Patríst-ica, a principal produção da inte-
lectual idade cristã neste período. Seus elementos essenciais 
são: 10 a cultura bíblica, 2 0o instrumental filosófico 
clássico e 3? a dialética. A filosofia deu à teologia cristã 
método e linguagem próprios para poder ser entendida pela 
sociedade romana. Grandes figuras se destacam, tanto no 
oriente como no ocidente: São Basílio, São João Crisóstomo, 
Santo Ambrósio de Milão, São Jerônirno, Santo Agostinho,etc. 
Eusébio de Cesaréia formula a primeira teologia política-
cristã. Faz um paralelo entre a monarquia divina e o império 
e afirma que os imperadores são, como os bispos, iguais aos 
apóstolos. A partir destes princípios, os imperadores 
legislam em matéria religiosa e convocam e presidem 
concílios. Do outro lado do ângulo, vemos a Igreja pedindo 
ajuda ao Estado, seja contra Donato, bispo rebelde da África, 
seja contra os heréticos arianos. Neste século IV se dá iní-
cio à união entre a Igreja e ò Estado, ao chamado "cesaropa 
pismo".
Aceleram-se as conversões em virtude das vantagens 
oferecidas por Constantino e Teodósio, principalmente, e a 
Igreja se torna firme sustentáculo do regime imperial. O 
cristianismo integra a tradição romana política e patrió-
tica.
Aparecem também novas formas de espiritualidade, 
fruto do desenvolvimento do cristianismo: são freqüentes as 
peregrinações ã Terra Santa, as datações para sustento das 
igrejas', o culto aos mártires e o desenvolvimento do 
monaraca
.09.
to. Se grande parte da aristocracia romana se retira para o
campo, para as "viilae", os cristãos também o fazem, porém
com um objetivo de retiro, ascetismo e oração. Para isso,
constroem igrejas locais. ,
1.1. TEOD Ó SIO 
0 imperador Teodósio <378-395) é chamado 0 
Grande pelas medidas de radical transcendência tomadas 
durante seu reinado: o estabelecimento dos germanos 
dentro das fronteiras do império; a divisão deste, na 
hora da morte em "pars orientalis" e "occidentalis" e a 
proclamação do cristianismo como religião oficial do 
estado romano.
Teodósio nasceu na Península Ibérica, nos 
confins da Galícia, de uma família hispano-romana pro_ 
fundamente cristã. Iniciou-se nas armas com seu pai 
Teodósio, o Velho, grande general de Valentiniano I. 
Quando, por ordem deste, o pai foi assassinado, certa 
mente por intrigas palacianas, o filho se retirou à 
vida privada em sua província de origem.
Em 378, o imperador Valente morre lutando 
contra os germanos em Adrianópolis e Graciano, filho 
de Valentiniano, nomeia Teodósio para governar a parte 
oriental do império. Não é este o momento de estudar 
as causas desta nomeação.
A primeira tarefa de Teodósio não pode_
.10.
ria ser outra a não ser o restabelecimento ca gaz nas 
fronteiras. Teodósiõ. não atuou diretamente no terreno 
militar contra os germanos e preferiu pactuar com os 
inimigos - Em 382, firmou um tratado mediante o qual 
os godos se instalavam dentro do império, entre o Da-
núbio e os Bálcãs, como uma nação autônoma, unida ao 
império por um tratado de federação (foedus). Nem sequer 
impostos tinham que pagar. Sua única obrigação era a 
milíciae recebiam dos romanos alimentos,além das terras.
Ao mesmo tempo, o imperador germanizou o e-
xéreito até em seus postos dirigentes mais elevados. 
Hoje é difícil julgar se Teodósiõ poderia ter feito 
outra negociação ou, até, ter lutado contra os godos. 
Possivelmente, não tinha outra possibilidade melhor, 
porém; a longo prazo, esta terminou sendo uma solução 
perigosa. De momento, desapareceu a ameaça dos godos e 
restabeleceu-se a paz na fronteira, mas a situação que 
fica agora não é a mesma que antes da assinatura do 
pacto: os inimigos de ontem, hoje amigos, em virtude de 
um pacto, mediante a entrega de umas terras do império, 
serão, de agora em diante, os que defendam as restantes 
fronteiras desse império que já foi desgarrado por eles. 
Este estabelecimento dos germanos em terras romanas 
representou uma grave ruptura da política anterior e 
resultou em fatais conseqüências para o império.
A segunda medida importante, que atin-
.11.
ge profundamente o império, acontece na hora da morte 
de Teodósio cora a divis ã o deste entre seus filhos: Ar 
cádio e Honório.
Lembremos que a Tetrarquia : implantada por 
Diocleciano não implicava na divisão do império.Foi 
uma repartição das tarefas administrativas e milita-
res que facilitava a articulação e preservava, cuida-
dosamente, o sistema imperial. Agora, com a morte de 
Teodosio, se dá a divisão territorial do império.E 
juridicamente?
A divisão do território é real e cada um de 
les tem completa autonomia de poder e governo em suas 
áreas respectivas. Juridicamente continua a existir a 
unidade imperial, ao menos na teoria: editos e leis 
são promulgados por ambos imperadores conjuntamente.A 
idéia de poder unitário aparece também nas institui-
ções, similares em ambas partes do império, tanto na 
organização central como na provincial. E ainda deveria 
reinar uma unanimidade, reforçada com o papel 
atribuído ao bárbaro Estilicão, tutor único, imposto pe_ 
Io pai aos dois irmãos. Do ponto de vista formal, por 
tanto, não houve divisão.
A importância do ato de Teodosio é a abertu 
ra de uma brecha, de um caminho que levará em breve ã 
consumação da divisão.
As diferenças entre oriente e ocidente no 
mundo romano já vinham de muito tempo. Agora, no sécu 
Io IV, elas se acentuam. No oriente, a vida nas cida-
.12.
des continua ativa, as grandes concentrações urbanas 
exigem mais e melhor comércio. Agricultura, indústria, 
comércio e economia monetária são, em grandes traços, 
as características mais marcantes.
Mo ocidente, o quadro é bem diferente: a. po-
pulação do campo cresce às custas da Urbana,criando de 
sequilíbrios e empobrecendo a vida econômica, que cada 
dia se concentra mais na agricultura e na troca de pro 
autos. Também há muitas diferenças na política ecle-
siástica: os patriarcas orientais, por exemplo, se o-
põem às tentativas centralizadoras do bispo de Roma: as 
controvérsias teológicas levam às heresias de cunho 
dogmático no oriente, enquanto que, no ocidente, os 
grandes problemas se dão no campo da moral e da disci-
plina eclesiástica. Até o relacionamento igreja-estado 
corre por caminhos diversos em ambas partes do império.
A tudo isto ainda devemos acrescentar, espe-
cificamente no século IV, a pressão dos germanos, mais 
forte nas fronteiras ocidentais do que nas orientais.
As rivalidades pessoais entre os altos cargos 
de ambas as partes do império, tanto do exército como 
da administração civil, latentes nos reinados an-
teriores, se marcam e acentuam cada vez mais.
Assim, dividido territorialmente o império, 
de forma oficial e definitiva, a ficção da unidade ju-
rídica não resistirá por muito tempo, porque o ato de 
Teodosio era o princípio da confirmação de uma realida 
de muito antiga e arraigada.
.13.
Se Teodósio marca um ponto de inflexão 
na política de defesa das fronteiras, estabelecendo os 
germanos dentro do império e, igualmente, na ruptura da 
unidade imperial, existe um outro dado, característico 
em sua política, onde encontramos não só permanência, 
como também afirmação da obra começada por Constantino. 
É a consolida çã o do cristianismo , declarado religião 
oficial do estado romano em 380, com o Edito de 
Tessalônica.
Nas vésperas do advento de Teodósio, o cris-
tianismo tinha progredido consideravelmente. Perfil ava 
-se a evangelização do mundo romano. O Oriente parecia 
conquistado, tanto na cidade como no campo. No Ocidente, 
se verificam contrastes entre as diversas províncias e o 
paganismo está, ainda, muito arraigado. A conversão dos 
imperadores e as leis por eles promulgadas tinham feito 
retroceder em parte o paganismo. Mas a realidade, apesar 
disso, é que no campo se perpetua uma vida religiosa 
muito primitiva e os ambientes aristocráticos também 
permanecem, em parte, fechados. A alta aristocracia 
senatorial aferrava-se à manutenção das tradições 
romanas, ã conservação do Altar da Vitória no Senado, 
aos antigos cultos, às tradições literárias e, até, ao 
ressurgir de uma nova religiosidade, com r£ dobrado 
vigor por causa do neoplatonismo.
Teodósio afirma sua posição ideológica com 
uma ativa legislação restritiva e condenatória, decidi 
do a dar o golpe de graça no paganismo. Proibiu os sa-
.14.
crifícios e visitas aos templos pagãos,sob pena de for 
tes sanções e, mais tarde, declarou a ilegalidade do 
paganisno em qualquer de suas formas: todos os sacrifá 
cios, até os domésticos, ficaram reprõvadqs, os lugares 
de culto seriam confiscados e, até os governadores que 
não denunciassem ou castigassem estes cultos seriam 
condenados.
A legislação de Teodosio se estendeu também 
aos heréticos, arianos fundamentalmente e, até, aos 
apostatas.
Esta política religiosa do imperador foi mui 
to ampla, abrangendo todas as esferas da vida da 
sociedade. Por exemplo: foi o primeiro imperador a não 
assumir o título de "Pontifex Maximus"; expulsou bispos 
he réticos de suas dioceses; convocou e dirigiu 
concílios; ajudou a determinar a organização 
eclesiástica; acabou com os jogos olímpicos; enfim, 
Teodosio fez vaier inequivocamente a autoridade do 
imperador até em questões de fé.
Se Teodosio era um fervoroso católico por suas origens 
familiares, não podemos esquecer, também, a influência 
que sobre ele exerceu o poderoso bispo de Milão, 
Ambrósio, a figura mais marcante da Igreja católica 
ocidental, sobretudo depois da morte do papa Damaso. A 
aproximação entre os dois se deu a partir do momento em 
que Teodosio chegou a Milão e ali residiu por dois anos 
depois de vencer o usurpador Máximo, que durante algum 
tempo dominara boa parte do ocidente do ira
.15.
pério. Uma vez instalado em Milão, Teodósio passou a 
praticar uma política de tolerância e apaziguamento, 
perdoando com facilidade os senadores romanos que , ti-
nham compactuado com o usurpador Máximo e mostrando-se 
tolerante com o paganismo deles. Este foi o primeiro 
ponto de discórdia entre o imperador e o bispo. A este 
seguiram-se outros, até que o bispo, Ambrósio, enfren-
tou abertamente Teodósio e lhe negou a participação nos 
ofícios religiosos. O imperador terminou humilhando-se, 
e, a partir de então, a política religiosa de Teodósio 
atingiu os maiores limites do endurecimento.
Como o paganismo podia ser declarado ilegal e 
perseguido, mas nunca poderia ser erradicado por de-
creto, o Senado romano tentou, outra vez, encontrar 
apoios políticos para favorecer seus próprios interes-
ses . Nomearam Eugênio imperador. Este se declarou ime-
diatamente a favor do paganismo, concedeu aos senadores 
romanos suas tradicionais subvenções 
econômicas,organizou pomposas cerimônias, ressuscitou 
todos os mais antigos rituais e restabeleceu solenemente 
o Altar da Vitória no Senado.
Teodósío se colocou novamente a caminho para 
reconquistar o Ocidente do novo usurpador Eugênio. 
Desta vez a confrontação entre ambos tinha um marcado 
caráter religioso. Depois de uma aniquiladora vitória, 
Teodósio chegou triunfante a Roma e nomeou como cônsu-
les dois senadores cristãos. Seu filho Konório foi 
aclamado Augusto. Estava consolidada a sua obra: 
dominados
.16.
os germanos dentro do império, vencidos os usurpadores, 
estabelecida a religião católica como a oficial do es-
tado romano e assegurada a sua descendência no império, 
dividido entre seus dois filhos aclamados em 
Constantinopla e em Roma. Pouco tempo depois morreu em 
Milão.
Teodósio foi a última grande figura do . Oci-
dente romano que decidiu soberanamente as grandes quês 
toes do império: desde a política externa e a estraté-
gia militar até a política eclesiástica. E.1& quis ser 
um soberano cristão e realizar um estado cristão em que 
a fé deveria ser não só o fermento da sociedade, como 
também o princípio político que deveria informar toda a 
ordem terrena.
2 - S É CULOS V E VI 
Quando Teodósio morreu, em 395, deixou firme a di-
nastia nos dois tronos imperiais: em Constantinopla era 
sucedido por seu filho Arcãdio de 17 anos, e e m Milão por 
Honório, de 11, ambos colocados sob a tutela do vândalo 
Estilicão, a quem Teodósio tinha concedido as mais altas 
dignidadesmilitarese até unido ã própria família, casando-o 
com uma sobrinha. Portanto, a sucessão não apresentava 
problemas no momento. A fachada do império continuava sendo 
magnífica e o estado romano aparecia impressionante aos olhos 
dos cidadãos.
No entanto, a morte de Teodósio representa um ponto 
de inflexão na já longa vida do Império Romano. Iniciam-se
.17.
as profundas transformações que vão caracterizar a política 
no Mediterrâneo durante os séculos seguintes.
0 cristianismo continua lentamente a sua expansão, 
• enquanto a divisão do império no oriente e no ocidente se 
aprofunda até chegar a converter as duas partes em inimigos,
Mas o dado mais significativo, a curta distância, 
foi a rápida irrupção a instalação dos germanos dentro das 
antigas províncias do império, convertendo-as em unidades 
políticas independentes.
A fraqueza política do Império Romano dividido e a 
ocupação do território pelos germanos correm paralelos durante 
todo o século V. Já no século VI, assistimos às lutas pela 
manutenção do equilíbrio e, ao mesmo tempo, pelo predomínio do 
poder, não só entre os diversos reinos germânicos, como também 
entre estes e o Império Romano do Oriente, com capital em 
Constantinopla, que, na pessoa do imperador Justiniano, tentou 
reconquistar o ocidente, unificando novamente todo o antigo 
Império Romano.
A partir deste momento, devido ã amplitude do tema e 
principalmente às profundas diferenças existentes entre as 
duas partes do império, nossa atenção se dirige, 
exclusivamente, ao Império Romano do Ocidente e aos reinos 
germanos nele instalados. São eles que passam a ocupar o 
primeiro lugar na política ocidental.
Estudaremos, em primeiro lugar, a evolução dos rei-
nos instalados no continente assim como o papel da Igreja e do 
papado neste mesmo período. Depois destacaremos algumas das 
permanências e rupturas havidas entre os três elementos ca-
racterizadores da Antigüidade Tardia: romanismo, germanismo e 
cristianismo.
-18.
. O IMP É RIO ROMANO DO OCIDENTE E A INSTABILIDADE POL Í TICA 
O período que vai da morte de Teodósio (395) até o ano 
de 4 76, em que tradicionalmente se coloca a fim do 
Império Romano do Ocidente, divide-se em dois mo mentos; 
o primeiro até 45S, com a morte do último representante 
da dinastia teodosiana e o segundo, até o fim. Os 
sucessores de Teodósio são Honorio (395 -- 423) e 
Valentiniano III (425-455) . Nenhum deles teve a força e 
o poder político do fundador da dinastia. Pelo contrário, 
instala-se um novo tipo de governo,em que o imperador 
reina, porém não governa. Ele delega todas as suas 
funções executivas num homem de coda sua confiança, que 
costuma ser um militar, um bárbaro, na maio ria das 
ocasiões. A crescente penetração dos germanos no 
exército e este exercício dos altos cargas pelos rasemos 
têm um papel decisiva na crise política do século V.
Estes homens - Estilicão -r Constante e Aécio, 
entre outros, - são os verdadeiros responsáveis pelos 
destinos romanos e estão rodeados de todo tipo de pro-
blémas, além dq_ já muito difícil tarefa do governo ord_i 
nãrio em tempos de crise.
As sublevações militares e as usurpações do 
poder imperial, as invejas e conspirações são constantes 
, estando seus responsáveis sujeitos ã morte, às vezes, 
até pela própria mão do imperador.
Com a morte de Valentiniano III se inicia ura 
Outro período, em que os problemas só tendem a se agra-
var. De 455 até 476, ou seja, em 21 anos se sucedem no-
.19.
ve imperadores» As intrigas e os golpes do estado são 
contínuos e o único objetivo que perseguem é sentar no 
trono o candidato de cada uma das facções políticas.As 
sim, por sua falta de legitimidade política, a figura 
'imperial cai no raais completo desprestigio. 0 caminho 
que leva ao fim do poder do imperador romano no ocidente 
é muito curto e está muito bem traçado. Damos, apenas , 
alguns dados.
Petrônio Máximo, sucessor de Valentiniano III, 
proclamado pelo Senado, antes do fim de um ano de gover 
no foi morto pelo povo. Pouco depois, o imperador do 0-
riente, Leão I, favorável a uma intervenção no ocidente, 
não querendo, no entanto, ser imperador também do Oci-
dente, nomeia Rícimer como homem forte. Este nomeia e 
destrona imperadores e até manda matá-los, como no caso 
de Majoriano em 461.
Assim chegamos ao ano de 476,em que Rõmulo Au 
gusto, último imperador do ocidente, é destronado. Isto 
representa o ponto final lógico de um processo que se ti. 
nha iniciado havia algum tempo. O autor, Odoacro, barba 
ro, rei dos hérulos, chefe do exército romano, acantona do 
na Itália, remete a Constantinopla as insígnias impe_ 
riais. É uma usurpação a mais entre as muitas já aconte 
cidas, com apenas uma diferença: Odoacro não sobe ao po 
der e presta sua homenagem ao único imperador com poder 
efetivo: o do oriente. Certamente os contemporâneos^ a-
costumados a tantas trocas de mando súbitas e violentas, 
não perceberam as conseqüências deste momento histórico. 0 
poder imperial romano era uma pura ficção já havia muito 
tempo.
.20.
. 0 Í MP É RIO ROMANO DO OCIDENTE E A IRRUP ÇÃ O DOS B Á RBAROS 
Paralelamente a esta instabilidade colítica,o 
Império Romano travava outra luta para manter 2 integri 
dade do.seu território.
Os godos, estabelecidos há algum tempo nas 
fronteiras orientais do império, acossados pelos hunos, 
solicitam, como já vimos, auxílio do imperador Teodósio 
e este os estabelece como federados dentro do território 
romano. A solução de momento pareceu ser adequada; no 
entanto, as conseqüências não corresponderam às ex-
pectativas .
Poucos anos depois da morte de Teodósio, era 
406, uma massa heterogênea de invasores atravessa o rio 
Reno. São, entre outros, suevos, vândalos e alanos que, 
depois de percorrer as Gálias, se instalam na Península 
Ibérica. Os suevos se estabelecem na desembocadura do 
rio Douro e na atual Galícia. Os vândalos, apôs uma bre_ 
ve estadia no sul da Península, região à qual deram o no 
me de "Andaluzia", atravessam o mar e se estabelecem na 
África. Em 430* assim como os suevos, conseguem de Roma o 
estatuto de federados.
Pouco tempo depois, em 4 3 6, outro povo que a-
travessara as fronteiras, também era 406, se estabelece 
como federado nas margens do rio RÓdano: são os burgún-
dios. Igualmente as ilhas Britânicas, por estas mesmas 
datas, são vítimas de invasões. O abandono do território 
por parte das legiões romanas favoreceu o assentamento 
nelas de anglos, jutos e saxões.
Os visigodos, embora instalados oor Teodósio
21
dentro das fronteiras, adotaram os mesmos procedimen-
tos que os outros grupos. Aspirando a obter melhores 
terras e inconformados com a política anti-germanófila 
adotada depois da morte de Teodósio, chefiados' por Ala 
rico, em 410, invadem e saqueiam Roma durante três dias 
. Este. fato, naturalmente, originou negociações que 
culminaram com um novo pacto de federação: os visigo-
dos se estabeleciam nas Galias com a missão de livrar 
a Península Ibérica dos primeiros invasores: suevos, 
vândalos e alanos.
0 processo de decomposição do império dá um 
passo a mais com a chegada dos hunos âs fronteiras romã 
nas. Roma não tem mais legiões e, para fazer retroceder 
Átila, tem que empregar um exército composto de bár 
baros. Era o ano de 451.
Além da invasão do territfoio de forma vio-
lenta , como vimos até agora, os germanos também se ins-
talam no território de forma pacífica: é a migração.Es_ 
te é o caso dos francos, por exemplo. Estiveram ausen-
tes na grande oleada de 406, mas, em compensação, apro 
veitaram as desordens que daí decorreram, avançaram e 
se estabeleceram nos territórios da atual Bélgica, fi-
xando sua capital em Tournai,
O império se desmoronava lentamente; o poder 
imperial era uma ficção, os exércitos romanos estavam 
comandados por caudilhos bárbaros e bárbaros eram quase 
todos os seus contingentes militares. A própria Roma, 
assaltada pelos visigodos ern410 e mais tarde, em 455, 
pelos vândalos, cedeu seu papel de capital a Milão e a 
Ravena.
.22.
Assistimos ao último ato do drama na Itália. 
No ano de 476, as tropas aclamam rei seu chefe Odoacro, 
que depõe Rõmulo Augusto, último imperador romano no 0-
cidente. Em 488, Zenon, imperador do oriente, querendo 
livrar Constantinopla das invasões, desvia -'diplomatica-
mente os ostxogodos, concedendo-lhes, em regime de pacto 
de federação, a península italiana a fim de que eles a 
livrassem das hordas de Odoacro. Era 493 se estabelece 
o reino ostrogodo na Itália, com Teodorico como repre-
sentante do poder imperial do oriente.
Desta forma culminava o processo desintegra-
dor do império do ocidente, estabelecendo-se assim um 
novo quadro político na bacia do Mar Mediterrâneo.
Na hora do assentamento dos grupos germanos 
no império, o sistema que prevaleceu, salvo poucas ex-
ceções, foi o dos pactos de federação.A depredação sis 
temática somente parece ter ocorrido em poucos casos, 
correspondentes a povos com baixo nível de romanização: 
anglo-saxões, vândalos e, bem mais tarde, lombardos.
0 ASSENTAMENTO D OS GERMANOS 
Os problemas originados pela irrupção dos ge£ 
manos no interior do império passaram por uma tentativa 
de solução mediante a implantação do sistema de pactos 
de federação (foedus). Entre 395 e 476 foram fir toados 
mais de cem pactos entre o Império e os diversos grupos 
de germanos.
Estes pactos implicavam na combinação de duas
.23.
instituições anteriores: o "hospitium" e a "hospitali-
tas". 0 "hospitium" , desde muito tempo antes, havia re 
guiado as relações entre os cidadãos romanos.e os não-- 
romanos, ainda não integrados ao sistema social romano. 
A "hospitalitas", vigente desde a república, exigia 
dos provinciais a provisão de alojamento ao exerci. to 
romano acampado naquele território ou lugar. Sendo os 
bárbaros estrangeiros e assumindo funções militares, 
adequavam-se perfeitamente a estas instituições, embora 
com pequenas adaptações. A "hospitalitas" tradicional 
era uma obrigação temporal e provisória, enquanto que 
o "hospitium" ligava ambas as partes perpetuamente. 
Agora, os bárbaros assentados passam a ser considera-
dos aliados (socii) do império e, consequentemente, a 
cessão das terras deveria ser a título permanente.
Teodõsio marcou a pauta desta política e seus 
sucessores, pela lei de "hospitalitas" de 398, a regu-
lamentam. O fisco imperial dava alimentos e subsídios 
para as tropas e cada família, onde estivesse alojada, 
daria um terço de sua propriedade. Assim chegou-se ã 
divisão das terras entre romanos e germanos.
Na realidade, estes pactos de federação, como 
instrumento legal da ocupação do território, duraram 
muito pouco. A partir de 476, não existindo mais o 
imperador no ocidente, os tratados ou pactos perderam 
automaticamente seu valor. Desapareceu totalmente a 
"ficção imperial".
.24.
3 - OS REINOS B Á RBAROS 
3.1. AS G Á LIAS 
A partir do momento das invasões, encontramos 
as Gálias divididas entre vários povos: r.o sul, os visi 
godos, com capital em Toiosa; a leste, os burgúndios,no 
vale do Rodano e capital em Lião e, ao norte, os francos 
, separados em dois grupos êcmcos e diversos reinos 
locais. No centro, um pequeno território, resto da anti 
ga dominação romana, controlado pelo general Siágrio.
3.1.1. OS VISIGODOS NAS G Á LIAS 
Os visigodos estão instalados nesta re-
gião desde 418, quando do ultimo pacto feito com 
os romanos.
O reino dos visigodos nas Gálias chega ao 
seu apogeu com o rei Eurico (466-484),que es tende 
seu poder desde o Atlântico até os rios Rodano e 
Loira e promulga o primeiro código de leis dos 
germanos, que leva seu nome,demonstrai! do desta 
forma sua independência com relação a Roma, jã 
antes de 476. Depois de sua morte, os dias dos 
visigodos nas Gálias estão contados. Alarico II, 
seu sucessor, não pode conter a for ça expansiva 
dos francos chefiados por Clóvis. Ele é vencido em 
507 na batalha de Vouille. A partir desta data os 
visigodos se deslocam defi
.25.
nitivamente das Gálias para a Península Ibérica. 
Sua nova capital será Toledo.
OS BURGUNDIOS 
Os burgündios entram no império em 406 
e, era 413, ja são federados do império. São con 
tados entre os germanos mais romanizados, pos-
sivelmente porque, já muito tempo antes de sua 
instalação dentro das fronteiras imperiais,man 
tinham relações comerciais cora Roma.
Uma vez instalados, mantém as estruturas 
administrativas do antigo império. A aristocracia 
romana colabora com os reis burgündios, entre os 
quais se contam alguns com o títu Io de "magister 
militum per Gallias". São permitidos os casamentos 
mistos e, embora arianos, não fazem oposição aos 
católicos. Seu reino du rou pouco tempo, pois, 
militarmente, não puderam medir suas forças com as 
dos francos. Cló-vis lutou contra eles, como 
fizera com os visi godos, no intuito de alargar as 
fronteiras do seu próprio reino. Fracassou e 
apenas os subme teu a tributo. Foram seus 
sucessores que o con seguiram em 532, 
transformando o mapa das Gálias . Os burgúndios 
não tiveram a mesma, sorte dos visigodos. Seu 
reino desapareceu absorvido pelos francos, que 
ficam como únicos donos nas Gálias.
.26.
3.1.3. OS FRANCOS
A unificação do território das Gálias 
correspondeu, portanto, aos francos. 0 impulso 
primeiro e decisivo foi dado por Clóvis, rei 
do pequeno território de Tournai desde 4 81. Em 
primeiro lugar, eliminou os restos da domina-
ção romana na região central, vencendo Siágrio. 
A seguiu, suprimiu, igualmente, os outros pe-
quenos reinos francos. Fortalecendo assim sua 
posição, venceu os alamanos em Tolbiac, na fron 
teira.
A segunda fase se iniciou com a conver 
são de Clóvis ao catolicismo. Esta conversão do 
rei e seu povo foi de grande transcendência pa_ 
ra a história do ocidente medieval, porque os 
francos tornaram-se o braço armado do Papado 
durante toda a Idade Média;
Clóvis, pretextando o motivo religioso de serem 
arianos, lutou corítra visigodos e bur gúndios, 
apoderando-se do território dos primeiros e 
impondo pesados tributos aos segundos. Morreu em 
511, mas com sua morte não pa rou a expansão 
territorial dos francos. Depois de dominarem os 
burgundios, ainda conquistaram pequenos 
territórios, tanto na direção do Medi_ terrãneo 
como na Germãnia. Por volta de 560,os francos 
atingiram seu apogeu, convertendo-se no mais 
extenso dos reinos fundados pelos germanos no 
ocidante e, possivelmente também, no
.27.
único em que as relações entre vencedores e 
vencidos eram sólidas dorque unidos pela mesma 
religião.
Entretanto, em 561, com a morte de Cio 
târio, um dos filhos dê Clóvis, as rivalidades 
existentes entre as diversas regiões dividiram 
o reino'em três unidades: Borgonha, Neüstria e 
Austrásia, que serão a base fundamental do novo 
poder dos reis carolíngios.
0 NORTE DA Á FRICA 
Os vândalos, que irromperam no império em 4 06 
e passaram algum tempo na Península Ibérica, se insta-
laram definitivamente na África em 429. Este reino teve 
uma duração muito curta e os seus dias de glória se 
confundem com os de seu rei Genserico (428-477).
Onicos entre os germanos que conseguiram uma 
frota, exerceram um real domínio no Mediterrâneo, con-
quistando os principais postos de abastecimento de Ro-
ma: Norte da África, Sicília, Cõrcega e Sardenha. Outra 
demonstração de força foi o assalto e saqueio de Ro ma 
em 455 durante vários dias.
Considera-se que o reino dos vândalos foi o que 
teve menores índices de romanização: o rei Genserico 
quase não falava latim: confiscaram os bens dos antigos 
proprietários e não se instalaram de acordo com as 
normas dos pactos de federação: não permitiram os casa 
mentos mistos e perseguiram cruelmente os católicos.
.28.
Todo este comportamento criou uma resistência 
latente em toda a população. Z a esta, veio se juntar a 
ação do Império do Oriente. Dois motivos levaram o im 
peradorJustiniano a agir: os transtornos; que os navios 
dos vândalos provocavam ao tráfico no Mediterrâneo 
principalmente ao comércio bizantina, e, também as pe£ 
seguições aos católicos. 0 norte da África converteu--
se no primeiro objetivo real da política de Justiniano: 
a reconquista do ocidente e a reunificação do irap£ rio. 
Mo ano de 53 3, o reino dos vândalos deixou de e-xistir 
e o território foi incorporado ao domínio do Im pério 
Bizantino.
A PEN Í NSULA ITALIANA 
3.3.1. OS H É RULOS 
Quando Odoacro destronou o último impe_ 
rador romano, Romulo Augusto, tomou o título de 
rei que seus soldados lhe deram e pretendeu 
governar em nome do imperador do oriente. Esta 
boa vontade de aparecer' como um continuador do 
governo imperial não conseguiu o reconhecimento 
de Constantinopla, que enviou os ostrogodos 
para reconquistar a Península.
.29.
3.3.2. OS OSTRQGODOS 
Chefiados por Teodorico,dominaram Odoa cro e 
seus soldados e se instalaram na Itália. 
Teodorico recebeu do Império do Oriente os 
títulos de cônsul e "magister militum". 
Pretendeu atuar como um verdadeiro restaurador 
do império. Na qualidade de caudilho dos ostro 
godos, era rei para seu povo; frente à popula-
ção romana, aparecia com os títulos recebidos 
do oriente.
Foi também o artífice de uma política 
internacional em que se colocou com cabeça de 
uma espécie de confederação de povos germanos. 
Para isto, uniu vários membros de sua família, 
e até ele próprio, com as famílias dos outros 
reinos germanos, mediante uma política matrimo 
nial.
O reino de Teodorico foi um dos que con 
servaram mais a vida e a cultura romana. Insta 
lados fundamentalmente na parte norte da Penín 
sula, concentraram-se nas regiões de Ravena,on 
de instalaram a capital em Verona, em Pavia e em 
Milão- Conservaram o Senado de Roma e toda a 
administração do império, paralela à ostrogo da 
e só unificada na pessoa do rei, Teodorico. Este 
restaurou o Coliseu de Roma e, em Ravena, 
levantou várias igrejas, além de um grandioso 
mausoleo.
.30.
Teodorico morreu em 526 e no ?.no se-
guinte Justfiniano subia ao trono em Constanri-
nopla, querendo reconstruir o antico Império 
Romano. Depois de conquistar o norie ca África 
aos vândalos, em 533, tinha como próximo obje-
tivo a Itália.
OS BIZANTINOS 
A conquista da Itália pelos bizantinos 
nio foi tão rápida quanto a dos vândalos.
O pretexto para a intervenção dos bi-
zantinos em Itália foi o problema sucessório 
ocorrido com a morte de Teodorico. Sendo assas 
sinada a filha de Teodorico, este quis ser o 
vingador enviando seu exército para assim con-
quistar a Itália. Com a conquista, entre outros 
pontos, de Roma, Nápoles e Sicília, os bi. 
zantinos pensaram que a Itália tinha voltado ao 
domínio imperial. Não contaram com a forte 
resistência oferecida pelos ostrogodos, agrupa 
dos em torno de um novo rei, Totila. Foram ne-
cessários dezoito longos anos para que os bi-
zantinos conseguissem dominar a Itália.
QS LOHBARDOS 
Como auxiliares dos generais bizanti-
nos, os lombardos já tinham lutado na Itália. 
Agora a conquista era por conta própria. Esta,
.31.
a partir de 566, não lhes foi difícil, pois as 
tropas imperiais bizantinas estavam cansadas 
por causa da longa resistência oferecida pelos 
ostrogodos anteriormente.
A debilidade política dos lombardos foi grande. 
Não conseguiram um reino unificado.Nun ca 
superaram o estágio da justaposição dos "du 
cados"; os duques não eram funcionários da rea 
leza e sim vitalícios, sempre sucedidos pelos 
seus próprios filhos. Este rudimentar estada 
lombardo se localizou no norte da Itália e tam 
bém na região de Tuscia, compreendendo igual-
mente os importantes ducados de Spoleto e Bene 
vento.
Os bizantinos continuaram mantendo po-
sições em torno a Ravena, Calábria e Lacio, em 
bora sua presença na Península se tornasse ca-
da vez mais reduzida.
Na incapacidade do Império de dominar 
os lorobardos, os papas terminam erigindo—se em 
poder paralelo crescente, tentando evitar que 
se conseguisse a unidade territorial da Penín-
sula.
.32.
4 - A PEN Í NSULA IB É RICA 
4.1. OS SUEVOS
O texto do historiador hispano Idãeio, contem-
porâneo das invasões, nos transmite a distribuição de 
regiões levada a efeito em 411 pelos povos germanos, 
que dois anos antes a haviam invadido. A Galícia cor-
respondeu aos suevos. A sua situação, no extremo noroes 
te da Península, iivrou-os de ser aniquilados, como a-
conteceu com os alanos, nas campanhas levadas a efeito 
pelos visigodos. Estes, como já foi dito,estabelecidos 
nas Gálias como federados, tinham como missão livrar a 
Hispãnia de seus primeiros invasores.
Em 448, os suevos estendiam seu domínio por qua 
tro das cinco províncias romanas da Hispãnia, na forma de 
roubos e pilhagens. Somente a Tarraconense estava livre 
destas incursões. Pouco tempo depois, estendendo -se este 
tipo de ações também à Tarraconense, o império os 
confina novamente na Galícia, mediante um novo pacto de 
federação. Os suevos, insistentes-, violam novamente o 
tratado. Desta vez são os visigodos, em nome do império, 
que lhes infringem uma grave derrota em 456.
No tempo de Eurico, rei dos visigodos, estando 
ainda a capital em Tolosa, a estrela dos suevos começa a 
declinar, enquanto este rei, como dissemos anteriormente 
, estende os seus domínios. Este longo período de 
decadência chega até 585, quando os visigodos, já cora a 
capital em Toledo, conquistam toda a Península. Eles
23.
repetem a mesma obra que fizeram os francos no norte 
dos Pirineus ê da qual eles mesmos foram vítimas. 0 
reino suevo desaparece incorporado ao vísigodo.
OS VISIGoDoS Em TOLEDO 
0 longo percurso iniciado pelos visigodos nos 
Bálcãs e sua estadia em Roma, saqueada por três dias, 
parecia ter chegado ao fim quando eles se instalaram 
nas Gálias na qualidade de federados. Durante mais de 
setenta anos ali permaneceram, cumprindo o solicitado 
por Roma: forçaram os vândalos a ir para a África,eli_ 
minaram os alanos e lutaram quase constantemente contra 
os suevos. Alcançaram o apogeu com Eurico, considerando 
como o maior monarca germano do V século. Seu poder era 
soberano, não limitado nem sequer pelo impé_ rio, que 
deixou de existir exatamente durante seu rei nado.
Vencidos os visigodos per Clõvis, são obrigados 
a se deslocarem para o sul dos Pirineus. A nova 
capital é agora Toledo. Depois da derrota diante dos 
francos, a situação fica difícil: vivem algum tempo 
sob a tutela de Teodorico, rei dos ostrogodos ;os fraii 
cos não perdem ocasião de fazer incursões em seu ter-
ritório; os suevos, embora debilitados, ainda oferecem 
resistência e as guerras civis entre os pretenden tes ao 
trono favorecem a instalação dos bizantinos na Península 
Ibérica. Os imperiais, como são chamados nos documentos 
da época, continuam as conquistas com o in
.34.
tuito de restabelecer o império e sua antiga integri-
dade .
Com a chegada ao trono do rei Leovigildo(573--
5S6), a monarquia visigoda encontra o início de seus 
dias melhores. A primeira e principal tarefa deste rei 
foi realizar a efetiva implantação da autoridade visi 
goda sobre todo o território nacional. De 573 até 578, 
em sucesivas operações militares, fez desaparecer o 
reino dos suevos, lutou contra certos grupos, vascos 
entre outros, que viviam em estado de independência e, 
igualmente, contra os bizantinos, já instalados a les 
te da Península.
A força do poder real, a partir de Leovigildo, 
tem a sua expressão plástica na adoção de usos maies-
taticos e cerimonial inspirado no modelo bizantino,as 
sim como na moeda de ouro cunhada com seu próprio nome.
Enquanto no reino franco a desordem poiítica 
se instalava e o reino se dividia, a posição da reale 
za, no reino visigodo, era cada vez mais forte.
Recaredo, o filho de Leovigildo, (568-601) rea 
liza a unidade religiosa convertendo-se ao catolicis-
mo. O reino dos visigodos passa por seus maiores dias 
de alória..25.
5 - O CRISTIANISMO E A IGREJA 
No século IV vimos como o imperador Teodósio, com 
o Edito de Tessaionica, de 380, decretava .a confessionabili 
dade do Império Romano: o poder público proibia o paganismo, 
desterrava as heresias e impunha o cristianismo.
Wos séculos V e VI devemos considerar a Igreja e 
suas transformaçeos no quadro das invasões e dos primeiros 
reinos germanos.
5.1. A CIDADE 
A cidade foi para o cristianismo,desde os pri. 
meiros séculos, a base de sua estrutura, inspirada na 
organização administrativa romana. Agora, na hora da 
crise do mundo romano, o bispo passa a ser o defensor 
ou protetor da cidade, diante dos abusos do estado rç^ 
mano. Mais tarde, frente aos invasores germanos, será o 
único interlocutor. Quando todo o aparelho adminis-
trativo estatal romano entra'em decomposição, resta o 
bispo como a única autoridade da cidade.
5.2. 0 CAMPO
Durante os primeiros séculos, a Igreja tinha 
se desenvolvido principalmente na cidade. Agora,com a 
ruralização da sociedade, fenômeno típico destes tem-
pos , aparece a necessidade de organização do campo: 
clero rural e lugares de culto. Os bispos criaram i-
grejas nos "vici" ou aldeias. O responsável pela cris_
.36.
tianização era um sacerdote com poderes delgados do 
bispo, única autoridade, na qualidade de sucessor dos 
apóstolos. Este foi o primeiro passo para a criação do 
regime paroquial.
Junto a estas igrejas, erigidas pelos bisDOs, se 
criaram, em grande número, oratórios ou santuários, 
construídos e dotados pelos grandes proprietários nos 
seus territórios ou "villae" para atender às famílias 
dos colonos, encomendados e servos que trabalhavam em 
seus domínios. Os fundadores consideravam estas igrejas 
como bens de sua propriedade e nomeavam os dirigentes 
que haviam de dirigi-las. Isto deu ocasião a muitos 
abusos e só muitos séculos depois se tentará corrigi-
los.
0 PAGANISMO 
0 paganismo não tinha sido proscrito da socie 
dade, apesar da legislação de Teodósio, e a irrupção dos 
germanos só veio agravar o problema. Era um paganismo 
cheio de superstições, de crenças e práticas pri. 
raitivas. Como as conversões nestes séculos não são in 
dividuais, como acontecia nos primõrdios da Igreja, e sim 
grupais, principalmente entre os germanos, a conversão do 
rei levava à conversão do povo, mas os indi. viduos 
conservavam muito facilmente as práticas pagas, que são 
hábitos e costumes antiquíssimos. As atas dos concílios 
são documentos fundamentais para o estudo deste processo 
de cristianização do paganismo.
.37.
. O ARIANISMO E OS GERMANOS
As invasões permitiram ã Igreja anunciar o e-
vangelho aos povos germanos. A conversão destes e sua 
integração com as populações romanas:foi a grande obra 
da Igreja nestes séculos. No entanto, essa conversão 
e integração não foi conseguida num primeiro momento, 
porque a maioria dos povos gerraanos se converteu do 
paganismo para o arianismo e foi necessário um segundo 
passo para sua entrada na Igreja Católica, que era o 
credo professado pelos romanos, principalmente no 
ocidente.
0 arianismo germânico é um problema de grande 
interesse, porque sobrevive, durante alguns séculos, 
no raundo germano, ao mesmo tempo que desaparece como 
fenômeno religioso entre as populações de cultura gre 
co-latina. O arianismo penetrou entre os germanos por 
meio dos visigodos, que foram os primeiros a adotar 
este credo. As razões da preferência estão diretamente 
ligadas às circunstâncias em que se deu sua instalação 
nas fronteiras orientais do império, ainda no século 
IV. Muitos arianos tinham sido prescritos do império 
pelos imperadores católicos e viviam nas fronteiras, 
onde certamente entraram em contato com os vi. sigodos. 
0 bispo godo Ulfilas foi o grande responsável: formou 
ura grupo de clérigos arianos, compôs um alfabeto e, a 
seguir, fez a versão da Bíblia para a
v'
língua gótica, medidas essas que foram muito eficazes 
para a conversão dos povos germanos por causa desse 
primeiro passo dado pelos visigodos.Mas isto não é tudo.
.38.
Quando estes povos se assentaram dentro do Im 
pério Romano, embora em número muito pequeno, queriam 
conservar sua identidade, usos e costumes e, nesta si 
tuação, o credo ariano era um dado a mais nesta seoa-
ração entre romanos e germanos.
SÓ no.século VI é que começam as conversões. 
Os primeiros, na ordem do tempo, são os burgúndios,se 
guidos dos suevos. Os visigodos, os primeiros que oro 
fessaram a fé ariana, e por meio de quem ela chegou 
aos outros grupos, foram os últimos a aceitar o credo 
católico. Essas conversões dos povos germanos estavam 
precedidas e acompanhadas de uma real integração entre 
ambas populações. A conquista definitiva dos linti tes 
territoriais, a unidade social, jurídica e religiosa 
se impuseram como elementos necessários e im-
prescindíveis na formação das nacionalidades.
A incorporação dos povos germanos ã Igreja Ca 
tólica fez com que, no próprio século VI, indivíduos 
destes grupos, geralmente de famílias nobres, se in-
corporassem ao episcopado. As atas dos concílios das 
Gálias e da Península Ibérica, principalmente, nos 
transmitem os nomes.
Os francos são um caso ã parte, pois são os ú 
nicos que passam diretamente do paganismo para a Igre 
ja Católica na hora da conversão de Clóvis. Este dado 
tem que ser tomado em consideração na hora de analisar, 
durante toda a Idade Média, o relacionamento entre os 
francos e o Papado.
.32'.
5.5. FORTALECIMENTO DA IGREJA E CRESCIMENTO DA 
AUTORIDADE PONTIF Í CIA 
Se a crise do século V ajudou o 
fortalecímen-to da Igreja, dando autoridade aos 
bispos nas cidades, não menos importantes foram os 
resultados da mesma era Roma.: o fato dos 
imperadores abandonarem a "urbe" para estabelecer a 
capital em Milão ou Ravena e a atuação do papa Leão 
I (440-461), defendendo a capital, por duas vezes, 
dos hunos de Atila e dos vândalos de Genserico, 
foram momentos decisivos.
De grande importância também, nesta série 
de ocorrências é o decreto de Valentiniano III 
(455),que dá força de lei, para toda a Igreja, aos 
decretos ema nados do bispo de Roma: Seu governador 
Aécio tinha que obrigar o bispo que, se chamado por 
Roma, não quisse£ se comparecer. Este decreto tem 
sido considerado como o reconhecimento oficial do 
primado romano em todo o ocidente.
Esta doutrina do primado de Roma consegue seu 
desenvolvimento teórico poucos anos depois, com o pa-
pa Gelásio (492-496). Em carta ao imperador do orien-
te, Anastásio, coloca as bases da doutrina dos dois 
poderes: o pontifício e o real ou imperial. Ambos são 
"rectores" do mundo, mas o primeiro é maior que o se-
gundo. Gelásio afirma que o poder pontifício é "auto-
ritas", que é fonte de direito, énquantc que ok impe-
rial é "potestas", aquele que executa o que ordena a 
"autoritas".
.40.
. GREGORIO I, O MAGNO
O papa Gregório I, o Magno (590-604), 
homem de rica personalidade, excelente admi-
nistrador, hábil diplomata e homem com grande 
visão de futuro, recolheu os resultados dos 
alicerces anteriormente colocados.
Inicialmente, seu trabalho esteve res 
trito ã cidade de Roma, que pertencia ao Impe 
rio Romano do Oriente, após a conquista da Pe 
nínsula em tempos de Justiniano. Frente à in-
capacidade ou negligência das autoridades bi-
zantinas para defender a cidade de Roma da no 
va invasão dos lombardos, o pontífice se en-
carrega dos serviços públicos, procurando a-
tenuar as desgraças que a cidade vinha sofren 
do: fome, epidemias, roubos e pilhagens dos 
lombardos. Mais tarde, sua ação se estende 
também para fora da cidade de Roma,porque nem 
os bizantinos conseguem expulsar os novos in-
vasores nem estes chegam a ampliar seu terri-
tório. Assim, numa Itália dividida e com au-
sência de poder, o papa ganha existência polí-
tica.
Atuou, também, junto aos reinos barba 
ros. Em seu pontificado se deu a conversão dos 
visigodos, de cujo processo ele não esteve 
ausente conforme a correspondênciaque se 
conserva da época. Alternando métodos diploma
. 41.
ticos e missões evangelizadoras, Levou o evan 
geiho a anglos e saxões.
Não pode ficar esquecida a fundamenta 
ção de doutrina política que envolveu toda a 
obra gregoriana. Gregório I chama o imperador 
de "dominus" e os reis germanos de "filii".Es_ 
tes nomes expressam com toda claridade o lu-
gar que ocupam os diversos poderes temporais, 
não só entre si, como também em relação ao po 
der pontifício. É respeitoso para com o impé-
rio. Lembra ao imperador que lhe foi dado todo 
o poder para que o reino terreno esteja a 
serviço do celeste. Não pretende a subordina-
ção do império ao papado, não quer esvaziar a 
idéia de estado do seu conteúdo específico.
Aos reis bárbaros, ele vai oferecer um 
suporte doutrinai. O papa sabe que as monar-
quias. germanas careciam de uma idéia de esta-
do. Por isso, afirma constantemente que devem 
exercer a justiça cristã, fazendo respeitar a 
ordem exigida pela outra autoridade, a do pa-
pado.
Não se pode afirmar que a Igreja de 
Gregório restringisse a idéia de estado.O que 
ele fez foi criar a seu favor o dinamismo da-
quele .
Com razão costuma-se dizer que Gregó-
rio, o Grande, é o primeiro papa medieval.Com 
ele, Roma passa a ser a de Pedro e Paulo enão
.42.
a de Rõmulo e Remo, a capital e o entro 
cristandadé.
6 - PERMAN Ê NCIAS E RUPTURAS 
Os estadas bárbaros e a Igreja assentados no Mediter 
rãneo ocidental sã.o os grandes protagonistas dos séculos V e 
VI. A grande novidade com relação aos séculos anteriores é 
que agora não são estranhos entre si. Os reinos se converte-
ram ao catolicismo e a Igreja mantém diálogo com eles.
Nestes séculos se produz uma fusão das contribuições 
bárbaras e da civilização romana. Romanidade, germanidade e 
cristandadé se misturam nos aspectos humano, institucional, 
social, econômico, religioso.e, fundamentalmente, cultural. A 
herança romana continua vigente e passa â mentalidade bárbara 
através do cristianismo que a adaptou às necessidades do 
momento.
6.1.. PERMAN Ê NCIAS BARBARAS 
Os germanos eram poucos. Não alteraram a demo-
grafia romana. Alguns grupos como os vândalos e os os-
trogodos, desapareceram logo. No entanto, entre os bár 
baros o desejo de sobrevivência é grande e é por isso se 
proíbem os matrimônios mistos, se reservam o direito de 
levar armas e os visigodos querem substituir o no me de 
"Romania" pelo de "Gothia".
.43.
O regime de pactos de federação dos germanos 
com o império os ajuda neste ideal de manutenção de sua 
própria cultura. Eles devem um serviço militar a Roma, 
mas em compensação recebem terras e conservam seus pró 
prios chefes ou reis. As exceções a este sistema foram 
poucas: os francos se instalaram em terras abandonadas, 
por exemplo.
O bárbaro estava separado do romano também pela 
religião. O problema do arianismo tomou caráter po-
lítico. Os visigodos foram expulsos das Galias por 
causa da diferença de religião e, uma vez 
estabelecidos na Península Ibérica, a conversão foi o 
primeiro passo, fundamental para a constituição da 
unidade nacional. Teodorico, grande admirador da 
civilização romana, man teve uma igreja ariana paralela 
à católica durante todo o seu reinado.
Na maior parte dos reinos bárbaros, aparece, 
inicialmente, uma estrutura estatal dualista, em que 
germanos e romanos viviam conforme suas próprias leis 
e instituições.
PERMAN Ê NCIAS ROMANAS 
A ruralização do mundo romano seguiu seu curso 
e até se pode afirmar que se tornou mais aguda com a 
irrupção dos germanos. A falta de autoridade, a queda 
no comércio e a tendência a autonomia dentro das "vil-
lae" foram elementos aceleradores do processo.
0 latifúndio em sua forma romano-tardia com
.49-
na, o mesmo pode ser dito da maioria dos códi 
gos dos outros reinos germanos.
3. IHPOSTOS
Os reinos germanos herdaram do impé-
rio romano a organização tributária e o apar£ 
lho de recaudação que continuou operando ainda 
depois das invasões. Assim, os reis bárbaros 
mantiveram em seu conjunto, embora com al gumas 
simplificações, o sistema romano, e ex_i giram 
como tributo básico o "capitatio-luga-tio" que 
gravava as terras e as pessoas que as 
cultivavam. Este imposto era pago pelas po 
pulações romanas e sobre elas continuou a re-
cair. Em geral, as propriedades dos bárbaros 
ficaram isentas.
. A ECONOMIA AGRARIA
A tendência ao crescimento e expansão 
da economia agrária tende a se afirmar, embora 
as cidades, com sua indústria e comércio, 
continuem a desenvolver um papel importante 
na vida econômica.
A riqueza da aristocracia senatorial, 
tanto romana como provincial, consiste, funda 
mentalmente, em grandes propriedades, e sua 
cultura lhes permite monopolizar, freqüente-
.50.
mente, os cargos civis e as funções episcopa-
is. A aristocracia germana, como já dissemos, 
segue os mesmos caminhos. E todos eles são co 
nhecidos com diversos nomes: "optimates", "DO 
tentes", "honorati", etc.
O sistema romano da grande propriedade, 
"villae", seguido também pelos germanos, 
consiste numa grande propriedade, dividida em 
duas partes: o "ager" e o "saltus". 0 "ager" é 
a terra trabalhada juntamente com os edifícios 
de residência, tanto do proprietário como dos 
camponeses. O "saltus" são as terras não 
trabalhadas utilizadas para caça, pesca e 
criação de gado.
6.4,5. OS SISTEMAS DE DEPEND Ê NCIA 
Desde o século III, o império tinha 
conhecido o fenômeno que impulsionava os fra-
cos a procurar a proteção dos grandes proprie_ 
tários. Duas formas revestia esta relação: a 
entrega de suas terras, por parte de um peque 
no proprietário, a um poderoso , e a encomen-
dação pessoal de um homem livre a um senhor 
poderoso.
A primeira, o "colonato", muito fre-
qüente , convertia o pequeno proprietário em 
colono de suas próprias terras, entregues ago 
ra ao terratenente. Se diminuía a liberdade,
.51.
em compensação ganhava em segurança contra o 
fisco. Na realidade, ficava falta de liberdade 
porque não poderia nunca mais reaver as suas 
terras. Mo correr dos anos, o cerco se 
estreitou na medida em que as funções públicas 
se transferiam do estado, quase inexisten te, 
para-o proprietário. A justiça, a milícia e os 
impostos são agora, atribuições dos gran des 
senhores. Vemos assim nascer o "regime se 
nhorial".
A "encomendação pessoal" e a segunda 
fórmula de dependência que conheceu o Baixo 
Império. Um homem livre se entregava ao pode-
roso, obrigando-se a prestar-lhe serviços. A 
compensação era a entrega de terras.
A crise e a desaparição do império,jun 
tamente com as invasões, aumentaram a insegu-
rança e, com ela, a necessidade de proteção. 
As fórmulas continuaram sendo as mesmas.Os es 
tados bárbaros as reconhecem e acrescentam ain 
da outra reavivando um antigo costume:a "clieri 
tela". Os homens livres se submetera a ura chefe 
a quem juram defender até com sua vida.São 
pessoas de condição livre e formam a comitiva 
do rei. E agora os grandes senhores também or_ 
ganizam a sua. A ruralização da vida ajudava 
ou premiava estes "patrocinados" ou clientes 
com entrega de terras. Estão aparecendo, por-
tanto , os rasgos pré-feudais.
.52.
Nestas condições, uma nova distinção 
social aparece. Ja não tem maior importância ser 
romano ou germano. É tudo a mesma coisa. 0 que 
vale é ser pobre ou ser rico, ser colono ou ser 
senhor. Nesta diferença se baseia a sociedade 
romano-gerraãníca: no topo estão os grandes 
senhores, leigos ou eclesiásticos, guer reiros ou 
bispos; na base, estão os servos,os colonos, os 
clientes, etc. Não importa se são romanos ou 
germanos.
6.4.6. CIDADES E COM É RCIO 
As cidades continuam a existir, embora 
sua superfície esteja bem reduzida. Continuam 
a ser o centro, não da vida administrati va e 
sim da comercial e, mais ainda, da religiosa.
Junto ao "castrum", rodeado de mura-
lhas, estão os "suburbia", em que se encontram os 
comerciantes gregos, sírios e judeus. Assim, o 
papiro doEgito chega a Marselha,o tri go da 
África a Roma, o azeite da Espanha ao norte das 
Gálias e as especiarias da China e da Índia, 
junto com as sedas de Constantino-pla, a Ravena. 
Até os fins do século VI,todos os países do 
ocidente bárbaro mantinham relações comerciais 
cora o Mediterrâneo oriental.
.53.
O CR Í STIANISMO .
As permanências romanas que caracterizam estes 
séculos são reforçadas pela Igreja. Esta, herdeira da 
romanidade, a prolonga no âmbito da civilização, 
escolhendo o que ela precisa para suas crenças, - é o 
caso da filosofia, e para estender sua influência aos 
povos germanos.
Depois de ter ajudado e mantido a poDulação 
durante as invasões, os bispos, que em suas dioceses, 
perpetuam o marco da cidade romana, se convertem em 
verdadeiros chefes, não só espirituais, como também 
temporais. Graças às doações feitas pelos fiéis às i-
grejas, os bispos convertem-se em construtores de i-
grejas e de cidades, onde perpetuam as tradições ar-
tísticas romanas. A estas igrejas, dedicadas, quase 
sempre, aos mártires, protetores da cidade,açodem ver 
dadeiras multidões de peregrinos. A cidade passa a ter 
uma função religiosa e, consequentemente, os bispos 
passam a ter grande influência. Convertem-se em figuras 
políticas de grande prestígio e os íreis vão buscar 
apoio neles freqüentemente.
5.5.1. 0 MONACATo
Os monges foram um elemento muito di-
nâmico dentro da Igreja nestes séculos.Um pri 
meiro movimento tinha chegado do oriente è im 
plantado alguns mosteiros no ocidente no sécu 
Io IV. Era um ideal baseado no eremitismo e no
.54.
ascetismo individual. Frente a estes monges, 
mais tarde, uma outra forma de vida se espa-
lhou por todo o ocidente. É o mosteiro, como 
comunidade corporativa e orgânica, sob a dire 
ção de um abade. É a grande obra de São Bento, 
com a regra escrita entre os anos de 530 e 
556. Por isso é chamado o "pai dos monges do 
ocidente".
Os monges beneditinos levaram a Europa a 
noção de uma fazenda ideal, por seu permanente 
contato com o mundo rural e graças ao trabalho 
do campo que deviam realizar para se sustentar. 
0 abade era sempre mais eficaz que os senhores 
leigos na organização das tarefas. Contribuíram, 
principalmente, com os escritórios, onde a cópia 
de manuscritos permitiu con servar e transmitir 
a cultura antiga, e também com escolas, onde a 
cultura se desenvolveu. São Bento nunca pensou 
que seus monges fossem ministros nem que 
exercessem funções políticas. No entanto, os 
reis pensaram que muna época em que era tão 
difícil achá-los, não era prático perder as 
oportunidades e foram procurar nos mosteiros 
mestres, conselhe^ ros, escrivãos, etc.
.55.
. A CRISTiANIZACÃO DO PODER POLÍTICO
A conversão dos povos germanos propor 
cionou ã Igreja uma situação de. privilégio em. 
cada um dos reinos. Os bispos souberam apro-
veitá-la. Trataram de convencer os novos go-
vernantes de que o poder político que tinham 
conseguido pela força deveria ser empregado 
para fins morais e religiosos.
0 novo ideal de realeza estava refor-
çado por um cerimonial inédito que impressio-
nava os súditos e tornava mais respeitável a 
figura do rei. Cerimonias como a unção sagrada 
e a coroação solene se estenderam a todos os 
reinos germanos. Controladas pela hierarquia 
eclesiástica, incorporavam a tradicional idéia 
germana de que o principal dever do monarca é 
guardar o direito da comunidade.0 rei prometia 
cumprir fielmente esta tarefa e um juramento 
religioso confirmava sua promessa. Assim, 
cerimônias, solenidades e juramentos cumpriam 
os objetivos da Igreja de manter sua presença 
junto a autoridade política secular.
A IGREJA E A CULTURA
0 interesse que se concede aos inte-
lectuais e aos centros culturais nos séculos 
V e VI não está era sua importância criadora e 
sim no fato de que é neste momento que se co-
.56.
Locaram os fundamentos intelectuais da Europa 
medieval. São quase sempre monges ou bispos os 
que mantêm acesa a chama da cultura.Neste sen 
tido é, portanto, de grande transcendência, o 
concilio de Vaison, em 52 9, em que se decide 
a criação, em todo o reino dos francos, de es 
colas episcopais para a educação do clero.
Na Itália de Teodorico aparecem nomes 
muito conhecidos: Boécio (480-525), que fa2 a 
tradução da "Lógica" de Aristóteles e escreve 
"A consolação da Filosofia" e Cassiodoro,(485 
-583), principal defensor do sistema educativo 
romano. Do mosteiro de Vivarium, fundado por 
ele, estimulou entre os monges o amor pelo 
trabalho intelectual e a cópia das obras 
antigas. Sua obra mais famosa são as "Insti-
tuições", onde faz uma introdução à teologia e 
um esquema ou classificação das artes liberais 
ou sistema educativo romano. Esta classi 
ficação se conservou durante toda a Idade Mé-
dia.
Outro autor que não deveria ficar es-
quecido é Gregorio Magno, o papa de quem ja 
falamos anteriormente. Conservam-se dele 848 
cartas, dois tratados os "Moralia" e a Pasto-
ral, além de inúmeras homilias.
Nas Gálias aparece o bispo Gregorio de 
Tours, que escreveu a "História dos francos". 
É uma tentativa de integrar a história nacio-
.57.
nal dentro da história eclesiástica. Na Penín 
sula Ibérica/ lembramos os nomes de Sã.o Mar-
tim de Braga, bispo dessa cidade que escreveu 
uma obra para a conversão dos pagãos, e São 
Leandro, grande amigo e correspondente, do pa-
pa Gregório. Ma qualidade de Arcebispo de Se-
vilha, abriu uma escola em sua própria casa 
para a educação dos clérigos, onde se educou a 
grande figura das letras visigodas: Isidoro de 
Sevilha. A sua biblioteca foi tão famosa na 
época que vários autores contemporâneos e 
posteriores a citam.
CONCLUS Ã O 
No tempo decorrido entre o IV e o VI séculos, passa-
mos da existência do Império Romano para sua divisão em duas 
partes: a oriental e a ocidental, num primeiro momento.
Depois, os estados bárbaros e a Igreja, - os novos 
protagonistas -, se repartem o ocidente e estabelecem as ba 
ses de uma nova convivência.
A Igreja impõe a teoria do poder e Roma transmite o 
Direito.
A Igreja ê cada vez mais latina e ocidental e se ele 
va constantemente no caminho do poder.
A sociedade é rural e cristã. 0 ruralismo é herança 
de Roma e o cristianismo também.
A Igreja conserva e transmite a romanidade.
.58.
PARA AMPLIAR SEUS CONHECIMENTOS
1 - Fontes
- ESPINOSA, Fernanda. Antologia de textos hist ó ricos 
Medie-
vais. Lisboa: Sã da Costa, 1981.
- TÁCITO, Obras menores: Di á logo dos Oradores. Vida de 
Agr í- 
cola e A Germania. Lisboa: Horizonte, 19 74.
2 - Bibliografia de Apoio 
- BONNASSIE, Pierre. Dicion á rio de Hist ó ria Medieval . 
Lisboa:
Dom Quixote, 1985-
- LOYN, Henry R. (org.). Dicion á rio da Idade M é dia . Rio de 
Ja
neiro: Jorge Zahar, 1990.
- MCEVEDY, Colin. Atlas de Hist ó ria Medieval . São Paulo: 
Ver-
bo-Edusp. 1979.
3 - Bibliografia Geral 
- ARIES, Philippe; DUBY, Georges. Historia de Ia vida 
priva-
da. Imp é rio Romano y ANtiquedad Tardia , Madrid: Taurus, 
1991.
- BRETONE, Mario. Hist ó ria do Direito Romano . Lisboa: 
Estam-
pa, 1990.
- DANIELOU, J.; MARROU, H. Mova Hist ó ria da Igreja I.Dos 
pri-
mordios a S. Greqorio Magno. Petrópolis: Vozes, 1984.
.59.
- FRANCO, Hilário. A Idade H é dia e o nascimento do Ocidente .
São Paulo: Brasiliense, 1986.
- GUERRAS, Maria S. Os povos b á rbaros . São Paulo: Ãtica, 1987.
- INÃCTO,, Inês C. et ai. 0 pensamento medieval. São Paulo:
Ãtica, 1988.
- LE GOFF, Jacques. A civiliza çã o do Ocidente medieval . Lis-
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- MAIER, Franz G. Las transformaciones dei mundo mediterr â neo. 
Siqlos III/VIII. Madrid: Siglo XXI, 1977.
- MUSSET, Lucien. Las invasiones. Las oleadas germ â nicas . Bar.
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- SORDI, Marta. Los crsitianos y ei Imp é rio Romano . Madrid:
Encuentro, 1988.
- OLIVEIRA, Waldir F. A Antig ü idade Tardia. São Paulo: Ãtica,
1990.
- ___________________.A caminho da Idade M é dia . São Paulo:Bra
siliense, 1987.
- RICHÊ, Pierre. Grandes invas õ es e Imp é rios . -Lisboa: Dom Qui 
xote, 1980. Col.: História Universal, nO 5.
- ______________. As invas õ es b á rbaras . Lisboa: Europa-América,
s/d.
- TOUCHARD, Jean. Hist ó ria das Id é ias Pol í ticas . Lisboa: Euro
pa-América, 1970. v. 1.
C R 0 N 0 G R A M A .60.
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA
284 Diocleciano proclamado 
imperador.
300 312. Batalha de Ponte 
Milvio
311. Edito de tole-
rãncia
313. Edito de Milão
325 325. Constantino, uni co imperador
332. Constituição sobre o colonato
341-43. Combates no Re no contra fran cos e 
alamanos
325. Concilio de Ni-
cáia.
328. Atanásio, bispo 
de Alexandria
330. Constantinopla: 
capital do Impe rio.
341. Ülfila converte 
os godos ao aria 
nismo.
350 352. Francos e alamanos invadem a Ga lia.
360. Inicio da luta contra o padrona do.
361. Juliano o Aposta ta.
362. Edito de Juliano sobre os mestres cristãos.
370. Basílio, bispo 
de Cesaréia.
374. Concessão de "foe 
dus" aos alamanos
374. Ambrosio, bispo 
de Milão.
75 375. Chegada dos hu-
nos. Batalha de 
Adrianopla.
379. Morte de Basilio 
de Cesaréia.
380. Instalação dos go 
dos na Panônia
380. Edito de Tessa-
lónica.
381. Concilio de Cons
tantinopla e con
fimaçio da fe
.61.
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA
382. Concessão dos 
"foedus" aos visigodos.
3 90. Encontro de Teo-
dosio com Ambro-sio de 
Milão: submissão da au-
toridade civil â 
eclesiástica.
395. Morte de Teodósio
3 82. Problemática co "Altar da Vitória".
385. São Jerônitoo na Palestina.
387. Batismo de Santo Agostinho..
392. Proibição dos cul tos pagãos.
398. Edito sobre ahos pitalidade.
400 Honório, imperador da 
Ocidente e Arcâdio do 
Oriente.
406. 0 rio Reno é a-
travessado pelos 
germanos.
408-10. Tepdósio II 
imperador.
410. Saque de Roma 
pe
lo visigodo Ala-
rico.
411. Suevos, 
vândalos
e aianos na Pe
nínsula Ibérica.
412. Os visigodos 
são
instalados nas Ga
lias.
413. Concessão do 
"foe
dus" aos burgun-
dios.
419. Visigodos na Pe-
nínsula Ibérica.
407. Morte de São 
João Crisóstomo
420. Morte de São Je 
rõnirao.
425 4 28. Desembarque dos 
anglo-saxões na 
Bretanha Oriental
428-77. Genserico,rei 
dos vândalos.
429. os vândalos se 
instalam na Africa
426-29. ... "A Cidade 
de Deus".
.62-
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CDLVTURA
430. Morte de Santa 
Agostinho.
448. época de maior 
poder e dominação dos 
suevos na Península 
Ibérica.
438. Publicação do "Có 
digo Teodosiano".
431. Concilio de Éfe
ro.
432. Evangelização '
de Irlanda por
São Patrício.
439-45. Construção do 
mausoleo de Ca Ia 
Placidia era Ravena.
440-461. São Leão, pa 
pa.
450 4 51. Atila ataca as 
Galias.
452. Atila entra 
em
Itilia.
453. Morte de 
Atila.
451- Concilio de Cal-
cedonia e condena do 
monofisis-mo.
455. Pilhagem de Roma 
por Alarico rei dos 
vândalos.
457-4 61. Reinado de 
Majoriano.
457-474. Leio I, impe 
rador do 0-riente.
455. Valentiniano III, 
imperador,da for ça de 
lei para to da a Igreja 
aos decretos emanados 
do bispo de Roma.
75 476. Fira do Império 
no Ocidente.
481. Clovis, rei dos 
francos.
486. Os francos des-
troem o reino de 
Siagno.
490-496. Unificação ' 
das tribus dos 
francos.
4 93. Teodorico, rei 
dos ostrogodos 
Leis de Eurico na Pe 
ninsula Ibérica.
492-96. Gelasio, Papa, 
a teoria dos "Dois Glá 
dios".
.63,
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA
496. Conversão de Cio 
vis, rei dos 
francos.
500 507. Batalha de Vo-
nilli: expulsão dos 
Visigodos da Galia.
Breviario de Alarico 
ou "Lex Romana Visi-
gothorum".
511. Morte de Clovis, 
rei dos francos
Primeiros mosteiros 
irlandeses.
324. Morte de Boecio
São Bento se retira 
ao deserta.
525 526. Morte de Teodo-
rico, rei dos 
ostrogodos.
525. São Bento funda 
montecassino.
527. Justiniano, im-
perador.
529. Concilio de \tei 
son: deve ser 
aberta uma escola em 
cada bispado.
529. Fechamento de 
Escola de Atenas
5 2 9-33. Código de Jus 
tiniano.
530-36. Os francos 
conquistara o reino dos 
bur gundios.
533. Justiniano re-
conquista África: fim 
do reino dos vândalos
535. Justiniano re-
conquista Roma.
541-52. Totila, rei 
dos ostrogodos.
542. Grande peste em 
Oriente.
536. Construçio de
Santa Sofia em
Constantinopla.
537. Regra de São
Bento.
.64.
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA
550 552. Introdução do 
bicho da seda no 
Ocidente.
553. Cassiano escreve 
"As institui ções".
556. São Martinho de 
Braga cornos sue vos.
558-61. Clotário I, 
rei dos fran cos, 
unifica a Galia.
563. Fim da recon-
quista de Itália.
565. Morte de Jus-
tiniano.
568. Guerras civis 
na Galia e divisão do 
terri. 
tório;Borgonha, 
NeSstria e Aus 
trásia.
568. Entrada dos 1 ora 
bardos em Itália.
573-86. Leovigildo, 
rei dos vi-sigodos.
559. Grande peste em 
Ocidente.
Morte de São Bento
573-94. Gregõrio,bis 
po de Tours.
588-601. Recaredo, 
converte-se ao 
catolicismo.
-
75 584. Fundação do E-
xarcado de Ra-
vena.
585. 0 reino dos 
sue
vos é anexado
pelos visigodos
Gregorio de Tours e^ 
creve a "História ' 
dos francos"
583. Morte de Casio-do 
ro.
590-604. Gregorio o 
Grande, papa.
.65.
POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTORA
600 610-41. Herádio,im 
perador no Oriente.
613-29. Clotário 
II,rei úni co dos 
fran
COS.
614. Edito de Cletá-
rio sobre a admi 
nistração públi ca.
610 
622
. Maomé inicia as 
pregações.
. A "Hegira" de 
Maomé.
625 634. Os árabes con 
quistam a Si-ria.
636. Os árabes con 
quistam Pérsia
642. Os árabes con 
quistam o Egi to.
643. Código de Rotá-
rio.
632. 
636.
Morte de Maomé.
Morte de Isidoro 
de Sevilha.
S50 656. Ali Califa
661. Assassinato
de Ali começa a 
dinastia 0-miada.
654. Código visigodo 
de Recesvinto. 653. 
653.
Fixação do texto 
do "Corão"
Conversão dos 
lombardos ao ca 
tolicismo.
EUROPA NO SÉCULO IV d. C.
FOSSIER, R. La Edad Media 1. Barcelona: Crítica-Grijalbo, L988.
.66.
CAMINHOS DOS PRINCIPAIS POVOS BÁRBAROS 
DURANTE AS INVASÕES
MITRE, E. Los Germanos y Ias grandes invasiones. Bilbao: Moreton, 
1968.
.67.
ASSENTAMENTO DOS BÁRBAROS
BALARD, M. et ai. Edad Media Occidental. De los b á rbaros ai Re- 
nacimiento. Madrid: Akal, 1989.
.69.
OS REINOS BARBAROS DEPOIS DE 476
GROUSSET, R. et LEONARD, E. Histoire universelle I. Des origines a 
1'Islam. Paris: Gallimard, 1956.
.70.
OS ESTADOS BÁRBAROS NO V SÉCULO
FOSSIER, R. La Edad Media I. Barcelona: Critica-Grijalbo, 1988.
.71.
O MUNDO MEDITERRÂNEO NA ÉPOCA DE JDSTINIANO
.72-
.73.
O IMPÉRIO DO ORIENTE E A RECONQUISTA DO OCIDENTE
BALARD, M. et ai. Edad Media Occidental. De los b á rbaros ai 
Re-, nacimiento. Madrid: Akal, 1989.

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