Buscar

A_PRISAO_FEMININA_DESDE_UM_OLHAR_DA_CRIM

Prévia do material em texto

A PRISÃO FEMININA DESDE UM OLHAR DA 
CRIMINOLOGIA FEMINISTA 
 
Olga Espinoza1
 
 
 
Sumário: 1. Introdução; 2. Teorias feministas do direito; 3. Papel 
da criminologia feminista: a mulher como agressora; 4. O espaço 
prisional; 5. Conclusões; 6. Bibliografia. 
 
1. Introdução 
 
Este trabalho se propõe percorrer, em forma sintética, as 
teorias feministas do direito, que servem de base aos diversos 
estudos da criminologia feminista, que também serão 
examinados. Após esta breve aproximação, pretendemos 
observar a prisão feminina desde a ótica da criminologia 
feminista e analisar as possíveis vantagens deste tipo de 
abordagem. Introduziremos a discussão com uma breve reflexão 
sobre o papel da mulher no sistema punitivo, desde sua origem 
até finais do século passado. 
Para falar da mulher e de seu envolvimento com o 
sistema punitivo, devemos esclarecer que partimos do 
pressuposto de que o sistema criminal está em crise, na medida 
em que representa uma instituição que não cumpre suas funções 
manifestas2 e se caracteriza por ser uma entidade seletiva (que 
 
1 Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – 
FAPESP. Mestranda em Direito na Universidade de São Paulo. Diretora 
Adjunta de Relações Internacionais do IBCCRIM. Membro do Colectivo para 
a Liberdade e Reinserção Social – COLIBRI. 
2 “Por função manifesta, entende-se aquela expressamente prevista na norma 
criminal, como a proteção de certos bens jurídicos e a prevenção de 
determinadas condutas”. O. Espinoza e D. Ikawa, “Aborto: uma questão de 
política criminal”, Boletim do IBCCRIM, v. 9, n. 104, julho. São Paulo: 
IBCCRIM, 2001, p. 4. 
A prisão feminina 
 
seleciona as pessoas, quer para criminalizá-las quer para 
vitimizá-las, recrutando sua clientela entre os mais miseráveis) e 
perversa. Esta perversidade induz a seus controlados (e 
potenciais selecionados) a demandarem maior controle do 
sistema penal, e quanto mais discriminatório, arbitrário e brutal 
seja esse controle, maior poder reclamam os controlados3. 
A perversidade do sistema criminal se estabelece através 
do “aparato de publicidade”4 do Estado que projeta a ilusão de 
um poder punitivo igualitário, não seletivo, não descriminador, 
disfarçando de cojuntural ou circunstancial aquilo que é 
estrutural e permanente (inerente ao próprio poder). Se a este fato 
somarmos a tendência das pessoas em querer solucionar 
problemas complexos via a injeção de remédios de curto prazo, 
chegaremos a acreditar que o sistema penal resolverá as graves 
crises sociais de nosso tempo: desemprego, miséria, violência, 
entre outros. 
Seguindo a E. R. Zaffaroni, podemos afirmar que a 
relação da mulher com o poder punitivo5 se manifesta no próprio 
 
3 E. R. Zaffaroni. “La Mujer y el Poder Punitivo”, in Vigiladas y Castigadas. 
Lima: CLADEM, 1993, p. 20. 
4 Ibidem. 
5 O poder punitivo (cujas características correspondem ao modelo 
corporativista: concentração de poder e verticalidade) surge em oposição a 
outro modelo, cujo paradigma de solução de conflitos era a Luta e a 
Composição. Antônio Hespanha, ao se ocupar deste último, salienta que na 
Idade Média “o controle materializava-se através da dispersão de um conjunto 
de poderes, distribuidos entre os senhores feudais, a igreja, a comunidade 
local, o pai de família e o exército”, pelo que podemos afirmar que o atual 
modelo de sistema criminal (centralizado e vertical) não teria se inspirado nos 
moldes compositivos. Além do mais, convém salientar que a “vingança 
privada”, comumente identificada como uma “resposta sanguinária” 
(linchamentos, represálias, execuções sumárias), representou, “ademais da 
possibilidade de matar ao ofensor, […principalmente…] a possibilidade de 
exigir uma compensação, de puní-lo num cárcere, de perdoá-lo, com ou sem 
pagamento prévio, e de recorrer a terceiros, quer um lider da comunidade 
quer um notário, a fim de evitar o processo”. A variedade de saídas constitui 
um avanço diante das propostas consignadas pelo sistema penal, ocasionando 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
36
Olga Espinoza 
 
processo de gestação deste último6. Podemos, inclusive, 
compreender esse poder como um poder de gênero7, na medida 
em que desde seu surgimento agrediu à mulher e ao sistema de 
relações que ela representava. 
A Inquisição teve um papel fundamental no processo de 
consolidação do modelo punitivo. A ordem inquisitorial 
pretendeu eliminar o espaço social público da mulher na Idade 
Média ganho pela falta de homens (que abandonaram suas 
cidades para participar das guerras medievais). Com essa 
finalidade, buscou-se erradicar a religiosidade popular medieval 
e a cultura fortemente comunitária, motivada pelas mulheres. Foi 
preciso, então, controlar e subordinar a mulher, pois ela 
representava um obstáculo à verticalidade social, ao ser 
considerada a transmissora de uma cultura que devia se 
interromper8. 
Estabeleceu-se, assim, “a civilização dos senhores, 
verticalista, coorporativa ou de domínio […e de vigilância…]”, 
condições necessárias numa sociedade mercantilista e 
 
menores estragos nas relações sociais das comunidades. E. Larrauri. Crimino-
logía Crítica: Abolicionismo y Garantismo, Nueva Doctrina Penal, v. 1998/B. 
Buenos Aires: Editores del Puerto, 1998, p. 730. Citada por O. Espinoza. “O 
Direito Penal Mínimo: entre o Minimalismo e o Abolicionismo”, mimeo, 
2000. 
6 A relação entre a mulher e o sistema punitivo se acentua e consagra na Idade 
Media, ressurgindo a meados do século XIX e intensificando-se durante todo 
esse período, que se estende até o final da Segunda Guerra Mundial. E. R. 
Zaffaroni, op. cit, p. 21. 
7 Denominaremos como gênero à ótica particular de analisar as relações sociais, 
através da qual podemos vislumbrar e interpretar: 1. Os papéis sociais 
historicamente construídos (feminilidade e masculinidade); 2. A valoração 
dada pelas pessoas a cada papel; 3. A correspondência de cada um desses 
papéis com o sexo biológico. “O conceito de gênero evidencia a rejeição ao 
determinismo biológico próprio do uso de termos tais como a diferença 
sexual ou sexo [para identificar os papéis sociais dos homens e das 
mulheres]”. A. I. Meo. “El delito de las féminas”, Delito y Sociedad, n. 2. 
Buenos Aires: 1992. 
8 E. R. Zaffaroni, op. cit, p. 22. 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
37
A prisão feminina 
 
colonizadora. Com o início das atividades de Conquista, o 
modelo verticalista europeu se exportou, convertendo-se em 
planetário9. 
A imagem da mulher foi contruída como um sujeito 
fraco (em corpo e em inteligência) produto de falhas genéticas 
(postura na qual se baseia a criminologia positivista quando se 
ocupa da mulher criminosa10). Outra característica dada a mulher 
foi a maior inclinação dela ao mal por sua menor ressistência à 
tentação, além de predominar nela a carnalidade em detrimento 
de sua espiritualidade11. Por tudo isso, se justificava uma maior 
tutela, tanto da religião como do Estado. 
A ideologia da Tutela ingressou com o discurso 
inquisitorial, extendendo-se aos novos cristãos, aos indígenas, 
aos negros, às prostitutas, aos doentes mentais, às crianças e 
adolescentes, aos velhos, entre outros12. Ela deve ser 
compreendida como o paradigma da colonização, pois a tutela 
das raças inferiores é tão importante como a tutela dos inferiores 
da propria raça13. 
A transformação industrial provocou a luta pela 
hegemonia social, entre a classe industrial burguesa e a nobreza 
(conflito de interesses que adquire visibilidade com a revolução 
francesa, a mesma que se inspira nos princípios iluministas de 
 
9 Ibidem.10 Um dos primeiros estudos sobre a criminalidade feminina (1892) foi 
desenvolvido por Cesare Lombroso e Giovanni Ferrero na obra La Donna 
Delinquente. “Nesse livro defendem que a mulher tem uma imobilidade e 
passividade particular que é determinada fisiologicamente. Por isso, ela 
possui uma maior adaptabilidade e obedece mais à lei que os homens. No 
entanto, ela é potencialmente amoral, é dizer, enganosa, fria, calculadora 
sedutora e malévola”. R. Van Swaaningen. “Feminismo, criminología y dere-
cho penal: una relación controvertida”, Papers d´Estudis i Formació, v. 5. 
Catalunha: Generalitat de Catalunya. Departament de Justícia, 1990, p. 86. 
11 E. R. Zaffaroni, op. cit, p. 23. 
12 Tanto para protege-los como para reprimí-los. 
13 E. R. Zaffaroni, op. cit, p. 23. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
38
Olga Espinoza 
 
liberdade, igualdade e fraternidade). Nessa luta a mulher 
recuperou certo espaço público e reconhecimento, mas por curto 
tempo14. Quando a nova classe burguesa obteve o poder 
disputado, deixou de ter importância restringir ou limitar o poder 
punitivo (ao qual se tinha oposto no seu confronto com a 
nobreza), passando, o referido poder, a ser usado como um 
instrumento potencial de controle dos grupos marginais e 
marginalizados15. Esse contexto possibilitou o surgimento de 
posturas positivistas que instauraram um modelo de Estado 
policial. Justificou-se, então, o vigilantismo social sobre a base 
da desigualdade dos individuos, sendo compreendidos na 
categoria de “humano” os homens superiores, brancos, casados 
com mulheres dóceis, com filhos, heterosexuais e burgueses. 
Legitima-se, então a verticalização hierarquizante16, que 
marginaliza e exclui aqueles e aquelas que não se ajustem aos 
modelos de “normalidade”. 
 
14 “… o movimento Iluminista marca um ponto de partida nos processos 
emancipatórios individuais e coletivos, porque é nesse contexto que o ser 
humano passa a ser percebido como sujeito de direitos, liberando-se de 
concepções monárquicas que justificavam (sob o argumento da autoridade 
divina) a submissão de uns homens a outros. Contudo, esse novo conceito não 
incluía a todos os seres humanos. A categoria de sujeito de direitos só atingia 
aos Homens, Livres e Iguais entre seus pares. Evidentemente, como 
conseqüência dessa situação a mulher foi afastada do pacto social, sendo 
integrada simplesmente como sujeito dependente do homem, mas não como 
cidadã”. O. Espinoza. “Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de 
Discriminação contra a Mulher”, in Direito Internacional dos Direitos 
Humanos-Instrumentos Básicos (Guilherme de Almeida e Claudia Perrone-
Moises, org.). São Paulo: Editora Atlas, 2002, p. 53. 
15 No caso das mulheres, o sistema de controle por excelência tem sido o 
controle informal. Através de instâncias informais, como a família, a escola, 
a igreja, a vizinhança, todas as esferas da vida das mulheres são 
constantemente observadas e limitadas, dando pouca margem ao controle 
formal limite do sistema punitivo (materializado no cárcere). Essa situação 
gera uma menor visibilidade da mulher nos índices de criminalidade. 
16 E. R. Zaffaroni, op. cit, p. 24. 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
39
A prisão feminina 
 
O mundo continuou transitando por diversas 
transformações que colocaram a modernidade no “banco” dos 
acusados e junto com ela entrou em crise uma série de postulados 
tidos como absolutos, entre eles o poder punitivo. Contudo, é a 
partir dos anos 60 que a crise do discurso punitivo se intensifica 
ao se confrontar com diversos movimentos que exigem coerência 
inexistente ao sistema criminal. Entre esses movimentos se 
destaca o movimento feminista. Esse último questionará, não só 
o sistema punitivo, em forma isolada, mas a própria estrutura do 
direito, como disciplina que proporciona legitimidade ao discurso 
punitivo e o apresenta como consensual e neutro. 
Antes de continuar com a análise do sistema punitivo, 
segundo observado pelo movimento feminista, devemos recorrer 
às teorias feministas que tentaram explicar e explicitar a estrutura 
androcentrista17 do direito. 
 
 
2. Teorias feministas da ciência e o direito. 
 
O movimento feminista ocidental surgiu como uma 
tentativa de desconstrução dos padrões “únicos” e de 
 
17 Entende-se por androcentrista “… a perspectiva que toma como paradigma 
do humano o masculino, ignorando em suas análises a referência à situação 
da mulher…”. V. P. de Andrade, “Violência sexual e sistema penal. Proteção 
ou duplicação da vitimação feminina?”, Feminino Masculino. Igualdade e 
Diferença na Justiça (Denise Dourado Dora, org.). Porto Alegre: Editora 
Sulina, 1997, p. 128. O estudo da condição da mulher, através de uma ótica 
de gênero, representa a ruptura epistemológica mais importante dos últimos 
vinte anos nas ciências sociais. Sua importância reside justamente em romper 
com a invisibilidade da mulher nos estudos que enfocam a perspectiva 
masculina como universal e como protótipo do humano (visão androcêntrica). 
Esta linha de pensamento justificou-se sob os argumentos da inclusão tácita 
da mulher nas referências masculinas, e do excesso de especificidade na 
elaboração de estudos ou pesquisas desde um parâmetro exclusivamente 
feminino. A. Facio e R. Camacho, “En busca de las mujeres perdidas o una 
aproximación crítica a la Criminología”, in Vigiladas y Castigadas. Lima: 
CLADEM, 1993, p.30. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
40
Olga Espinoza 
 
“normalidade” que asseguram a dominação masculina. Esses 
padrões instituiram características hierarquizadas, baseadas na 
oposição entre sujeito-objeto, razão-emoção, espírito-corpo, 
correspondendo o primeiro termo às qualidades masculinas e o 
segundo as qualidades femininas. 
Esse movimento caracterizou-se também por promover 
uma reforma político-social da condição feminina e por 
incentivar um desenvolvimento teórico que questionasse o 
modelo androcêntrico de ciência e de direito, assim como a 
uniformidade de ambos os conceitos. No entanto, não podemos 
asseverar que o feminismo possuísse uma estrutura uniforme e 
não conflitiva, pois existiram (e existem até hoje) diversas 
correntes que transitam por postulados conservadores e 
progressistas. Apesar do exposto, A. Baratta afirma, citando 
Sandra Harding, que “o denominador comum para todas as 
direções que, até o presente momento, seguiu a epistemologia 
crítica feminista, […] é, então, por um lado, a descoberta do 
simbolismo do gênero que, naquele modelo [o patriarcal], vem 
ocultado, e, por outro lado, a introdução da perspectiva da luta 
emancipatória das mulheres […no marco político-teórico...]. Este 
denominador mínimo pressupõe, pela teoria de Harding, que não 
se desconheça jamais a distinção entre sexo (biológico) e gênero 
(social)”18. Assim, as correntes feministas, embora não tenham 
conciliado sobre quais os caminhos para extirpar a estrutura de 
dominação patriarcal que afeta às mulheres e a outros grupos 
marginalizados, nem tenham coincidido na definição do modelo 
social alternativo a ser construido, questionaram o pretendido 
uso neutro do gênero e incorporaram ao espaço público as 
reivindicações femininas. 
Desde os anos 70 é possível observar o desenvolvimento 
de diversos feminismos baseados em modelos teóricos e 
 
18 A. Baratta, “El paradigma del género. De la cuestión criminal a la cuestión 
humana”, in Las trampas del poder punitivo. El Género del Derecho Penal 
(Haydée Birgin, org.) . Buenos Aires: Editorial Biblos, 2000, p. 41. 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
41
A prisão feminina 
 
estratégicos diferentes. Paracompreender como esses modelos 
influenciaram a criminologia feminista faremos uma breve 
descrição de cada um deles, advertindo ao leitor que, por razões 
metodológicas, nossa abordagem será superficial e sintética. 
Um dos primeiros feminismos em se manifestar no 
cenário público foi o feminismo liberal ou burguês19, baseado 
no modelo teórico do empirismo feminista20. Ele apresenta o 
direito dominado por um só grupo: os homens, e ao mesmo 
tempo aceita sua superioridade21, pelo que reivindica a inclusão 
das mulheres. Ele tende a se concentrar na ideologia dos direitos 
iguais. Assim, propõe que todas as leis sejam aplicadas de igual22 
forma aos homens e às mulheres. Esta forma de feminismo não 
põe em dúvida o sistema de valores, e ainda mais, pretende que 
esse sistema se aplique em benefício das mulheres. Para isso, 
“parte da premissa de que o tendencionalismo sexual e o 
androcentrismo constituem distorções socialmente 
condicionantes, que podem ser corrigidas através de uma 
minuciosa aplicação das regras do […direito…] já existentes”23, 
as quais só estariam sendo utilizadas de forma errada. Um dos 
argumentos defendidos por este grupo sublinha que não é realista 
 
19 R. van Swaaningen, op. cit, p. 89. 
20 A. Baratta, citando Sandra Harding, op. cit, p. 40. 
21 Carol Smart denomina a esta etapa sob a etiqueta de “o direito é sexista”, e 
agrega que “esse enfoque [… reconhecia que…] o direito na prática colocava 
às mulheres em desvantagem, lhes atribuindo menos recursos materiais (por 
exemplo, no matrimônio e no divórcio), ou julgando-as sob padrões distintos 
e inapropriados (por exemplo, como sexualmente promiscuas), ou lhes 
negando igualdade de oportunidades (por exemplo, no caso da categoria de 
‘pessoas’), ou não reconhecendo os danos causados às mulheres ao dar 
vantagens aos homens (por exemplo, as leis de prostituição e estupro)”. Carol 
Smart, “La mujer del discurso jurídico”, in Mujeres Derecho Penal y Crimi-
nología (Elena Larrauri, org.). Madri: Siglo Veintiuno, 1994, p. 170. 
22 “…igualdade significa ser iguais aos homens…”. R. Van Swaaningen, op. cit, 
p. 90. 
23 A. Baratta, citando Carol Smart, op. cit, p. 45. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
42
Olga Espinoza 
 
esperar que as mulheres, que ainda ocupam uma fraca posição 
social, deixem de utilizar os critérios e características do direito 
(racionalidade, atividade, reflexão, competência, objetividade, 
abstração, orientação aos princípios), embora sejam masculinos, 
para incrementar sua influência na sociedade e lutar contra a 
discriminação feminina. Os críticos salientam, por um lado, que 
na luta contra a discriminação feminina, este grupo identifica a 
diferença entre os dois gêneros no direito como circunstancial e 
não estrutural, despolitizando a atuação do movimento feminista. 
Por outro lado, esta postura reformista da corrente liberal tende a 
diluir a discriminação, como se ela não existesse, aprensentando-
a como um simples tratamento diferenciado24 dos homens e das 
mulheres. 
O segundo modelo corresponde ao feminismo radical 
ou separatista25. Ele admite o caráter estruturalmente masculino 
do direito. Contudo, exige o reconhecimento dos conceitos e 
qualidades especificamente femininas, do ponto de vista 
feminino26. Esse grupo consegue identificar os conceitos 
masculinos que dominam o direito (racionalidade, objetividade e 
suposta neutralidade), mas pretende reivindicar os valores e 
conceitos femininos27 via sua legitimação no âmbito público. Sua 
 
24 “… a base do argumento reside na idéia de que no direito as mulheres são 
maltratadas porque são tratadas de forma diferente que os homens”. Carol 
Smart, op. cit, p. 172. 
25 R. van Swaaningen, op. cit, p. 90. 
26 Carol Smart denomina a esta etapa sob o nome de “o direito é masculino”. 
Carol Smart, op. cit, p. 173. 
27 Carol Gilligan elaborou um conceito de ética feminista. Ela constatou que as 
mulheres não dão atenção aos mesmos assuntos que os homens nas escolhas 
morais. “Frente aos dilemas morais, as mulheres não desenvolvem um 
racionamento sob forma abstrata, nem em função de direitos nem de uma 
justiça baseada na igualdade; elas tomam em consideração aspectos 
concretos e contextuais das situações que lhe são submetidas e têm tendência 
a avaliar um fato em função de suas conseqüências sobre os outros e sobre 
elas mesmas”. Podemos identificar uma “preocupação pelo outro, não como 
ser abstrato desprovisto de direitos, mas como indivíduo concreto, inserido 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
43
A prisão feminina 
 
atenção estaria focalizada não mais para atingir a igualdade, mas 
a diferença ou o reconhecimento de direitos especiais às 
mulheres. A crítica desse modelo baseia-se na manutenção da 
dicotomia homem-mulher que reforça as diferenças naturais e 
biológicas entre ambos os gêneros28. Ainda mais, ela defende a 
existência de uma única perspectiva feminista a reivindicar29, 
universalizando a categoria “mulher” e ocultando as “diferenças 
de experiência e interesses entre os diferentes grupos de 
mulheres”30. Por esses motivos se questiona se o 
reconhecimiento do outro (segundo defendido pelas radicais), 
consiga superar a imagem de um outro abstrato, universal, não 
contextualizado. 
Finalmente, podemos identificar o feminismo 
socialista31, que pretende mudanças sociais mais amplas e 
estruturais. Inspira-se nos postulados do feminismo separatista ou 
radical, no tangente ao reconhecimento do outro. No entanto, 
esse outro não é concebido como um apriori, mas como um 
elemento que forma parte de um processo comunicacional, em 
que as diferenças não impedem estabelecer uma relação fundada 
 
em um sistema de relações”. A justiça é concebida como uma “busca pela 
equidade e pela reciprocidade complementaria e não como atribuição de 
direitos nem procura pela igualdade”. C. Parent e F. Digneffe, “Pour une 
éthique féministe de l´intervention pénale”, Carrefour, v. XVI, n. 2. Ottawa: 
Legas, 1994, p. 100. 
28 Esta visão incentiva a oposição entre homens e mulheres e oculta os 
interesses comuns que compartilham algumas mulheres com alguns homens, 
que sofrem igualmente outras formas de opressão (por exemplo, pessoas 
presas, discapacitadas, homossexuais, etc). C. Parent e F. Digneffe, op.cit, p. 
91. 
29 “Será que pode existir um ponto de vista feminista (unitário e absorvente), se 
a experiência das mulheres ou das feministas é diferente segundo as raças, as 
classes sociais e suas culturas?”. A Baratta, op. cit, p. 49. 
30 C. Parent e F. Digneffe, op.cit, p. 90. 
31 R. van Swaaningen, op. cit, p. 91. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
44
Olga Espinoza 
 
em uma ética da responsabilidade32. Essa tendência propõe 
elaborar um sistema de valores alternativo, baseado na 
relatividade histórica e na negociabilidade dos âmbitos de valor 
atribuídos aos gêneros. Um outro fundamento desse movimento é 
a transversalidade do mundo real de cada mulher, no que se 
refere às diversas variáveis dos relacionamentos e das diferenças 
culturais (mulher-homem, criança-adulto, negro-branco, 
diversidade de classe social, cultural, étnica, religiosa). 
Finalmente, defende a “flexibilidade e a redefinição dos limites 
culturais e institucionais, nas esferas da experiência e da vida 
social da mulher e do homem (público/privado, 
obrigações/direitos, em oposição ao cuidado/atenção, 
mercado/solidariedade, paixão/razão, corpo/espírito)”33. A. 
Baratta, sintetizando os estudos desenvolvidos por algumas 
pesquisadoras feministas, salienta que “[…Sandra] Harding 
rotula esta terceira abordagem da questão feminina como pós-
modernismofeminista. [Frances] Olsen, por seu turno, a 
caracteriza com a expressão androginia, ou seja, a negação, a um 
só tempo, da especificidade do gênero e da hierarquia das 
qualidades e valores jurídicos [...]. Por fim, [Carol] Smart a 
denomina sob a frase “o direito tem gênero”, vale dizer, com a 
concepção do direito enquanto estratégia criadora do gênero”34. 
Assim, podemos asseverar que, representando um avanço com 
respeito ao feminismo radical, essa tendência não se apresenta 
incompatível com a justiça tradicional (associada ao homem), 
 
32 A ética da responsabilidade constitui a base do conceito de justiça feminina, 
elaborado por Heidensohn. Ela nos aproxima da cooperação, da 
responsabilidade pelo outro, da justiça informal, contextual, assentada nas 
relações entre os indivíduos. C. Parent e F. Digneffe, op.cit, p. 94. 
33 A Baratta, op. cit, p. 51. 
34 A Baratta, op. cit. p. 50. 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
45
A prisão feminina 
 
mas reconduz a divisão mulheres-homens proporcionando 
elementos que aproximem aos diversos grupos marginalizados35. 
Apesar do pós-modernismo feminista ser uma postura 
enquadrada em uma crítica à modernidade, ele se distancia de 
posicionamentos pós-modernistas tradicionais na medida em que, 
embora também relativize os universalismos e as verdades 
absolutas, nega o relativismo “defensivo” característico da 
filosofia pós-moderna36. O pós-modernismo defensivo 
“…constitui, na realidade, a defesa do status quo das relações de 
dominação por parte daqueles que detêm o poder nas suas mãos, 
ou seja, que se tornaram protagonistas e vencedores do pacto 
social da modernidade. Para os sujeitos vulneráveis, para as 
mulheres, os pobres, as pessoas de ‘cor’ do ‘terceiro’ e do 
‘quarto’ mundo, para as crianças, as pequenas narrações, as 
verdade fracas constituem já um luxo”37. 
Em síntese, podemos dizer que não é possivel construir 
um conhecimento que se mantenha em oposição absoluta aos 
projetos dos dominadores, negando-se a possibilidade de dialogar 
e de fazer alianças estratégicas com todos os grupos dispostos a 
gerar transformações, via projetos de emancipação, de afirmação 
de direitos e de respeito da dignidade de todos os seres 
humanos38. 
Tomando como base as diversas teorias expostas 
analisaremos a criminologia feminista e suas vinculações com 
 
35 “… os conceitos masculinos como os direitos formais e o enfoque exclusivo 
nos interesses em conflito [conceito feminino], abrem espaço para uma busca 
consciente de soluções negociáveis, que requerem cuidado, responsabilidade, 
cooperação e criatividade, das pessoas diretamente implicadas em um 
problema e de suas vidas diárias”. R. van Swaaningen, op. cit, p. 93. 
36 A Baratta, op. cit, p. 71. 
37 Ibidem. 
38 “A estrada rumo ao desenvolvimento humano e à democracia é a da sinergia, 
não a da fragmentação das lutas”. A Baratta, op. cit, p. 74. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
46
Olga Espinoza 
 
aquelas no questionamento do modelo de mulher agressora, 
segundo construido pelo sistema punitivo. 
 
 
3. Papel da criminologia feminista frente à mulher 
agressora 
 
Antes de fazer referência ao que compreendemos por 
criminologia feminista, nos aproximaremos da criminologia, em 
sentido amplo, e traçaremos brevemente algumas características 
das principais tendências elaboradas desde seu surgimento: a 
Criminologia Positivista ou Tradicional e a Criminologia Crítica 
ou da Reação Social. 
A Criminologia Positivista ou Tradicional funda-se no 
paradigma etiológico, próprio das ciências naturais, que 
reconhece qualidades intrínsecas em determinados indivíduos 
que os fazem mais propensos à prática de delitos. Sob esse 
contexto, a criminologia seria uma ciência explicativa que teria 
por objeto desvendar as causas e as condições dos 
comportamentos criminais e as motivações dos indivíduos 
criminais, entendidos como diferentes. A criminalidade 
compreende-se como uma realidade ontológica e inquestionada, 
consequência de uma patologia pessoal. Já a Criminologia 
Crítica ou da Reação Social questiona o carácter natural da 
desviação, afirmando que esta condição dependeria de regras e 
valores determinados historicamente, a partir dos quais se 
definem certas classes de comportamentos e de pessoas como 
“desviadas” . O objeto da criminologia não é mais desvendar as 
causas da criminalidade, mas as condições dos processos de 
criminalização, as normas sociais e jurídicas, a ação das 
instancias oficiais e os mecanismos sociais através dos quais se 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
47
A prisão feminina 
 
realiza a definição de determinados comportamentos39. Funda-se 
no paradigma da definição. 
Os estudos feministas têm uma série de dificuldades para 
se ajustar à divisão entre esses dois paradigmas (etiológico e da 
definição social). A distinção mais evidente no campo penal é 
aquela que separa os estudos sobre os “comportamentos 
problemáticos”40 das mulheres daqueles sobre as mulheres como 
vítimas de agressão41. Esta última perspectiva tem sido 
amplamente abordada nos trabalhos feministas42, sendo menos 
visíveis as análises que se ocupam da mulher como agressora. 
 
Os poucos trabalhos existentes sobre a delinquência 
feminina têm sido encarados sob distintas concepções teóricas, 
desde finais do século XIX até a atualidade. A. I. Meo explica 
que poderíamos distinguir duas grandes linhas que atingiram às 
interpretações mais importantes. Uma primeira que 
compreenderia as concepções clássicas e uma segunda que 
 
39 C. Campos, “Criminología Feminista: un discurso (im)posible?”, in Género 
y derecho (Alda Facio e Lorena Fries, org.). Santiago de Chile: Low Edicio-
nes, 1999, p. 746. 
40 Ou “desviados”, segundo a criminologia tradicional. 
41 A. Pires e F. Digneffe, “Vers un paradigme des inter-relations sociales?. 
Pour une reconstruction du champ criminologique”, in Criminologie, 
v.XXV, n. 2. Montréal: Les presse de l´Université de Montréal, 1992, p. 36. 
42 No presente artigo não pretendemos abordar esta temática. No entanto, 
devemos salientar que os estudos da mulher como vítima têm sido utilizados 
pelos movimentos feministas para reclamar uma maior repressão dos 
agressores masculinos, reivindicando maior uso do direito penal, fato que 
entra em contradição com a demanda de descriminalização de condutas que 
consideram a mulher como autora (como por exemplo no caso do aborto). 
Vide R. van Swaaningen, E. R. Zaffaroni, C. Parent e F. Digneffe, V. P. de 
Andrade, entre outras. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
48
Olga Espinoza 
 
abarcaria os esforços contemporâneos críticos para explicar a 
delinquência feminina43. 
No primeiro grupo se encaixariam os criminólogos e 
criminólogas que trabalharam (e trabalham) desde o marco 
conceitual tradicional e que têm estudado a mulher criminosa sob 
uma visão androcêntrica da criminalidade44, ou seja, em 
referência a seu papel reprodutivo (na prática de condutas tais 
como aborto, infanticídio, prostituição), sendo sua desviação 
marcada pela não adequação a tais papéis (teorias biológicas e 
constitucionais45). No entanto, e apesar da presença da mulher 
nos estudos positivistas, a tendência a se ocupar da mulher 
criminosa tem sido escassa46, em alguns casos evitada e muitas 
vezes ignorada, razão pela qual são poucos os estudos que a ela 
se referem47. 
 
No âmbito das concepções contemporâneas, se 
encaixaria o que definimos por criminologia feminista48 Ela 
 
43 A. I. Meo, “El delito de las féminas”, in Delito y Sociedad, n. 2. Buenos 
Aires: 1992,p. 115. 
44 “A preeminência da superioridade do homem sobre a mulher é a lógica do 
sexismo que tem impregnado o fazer científico do qual não tem fugido as 
ciências penais e criminológicas”. A. Facio e R. Camacho, op. cit, p.30. 
45 Um dos primeiros trabalhos nesse sentido foi o elaborado por C. Lombroso e 
G. Ferrero. Vide nota n. 10. 
46 Algumas das razões que justificaram a desatenção teórica à mulher e a sua 
criminalidade são o reduzido número de delinqüentes femininas, o caráter 
prudente de sua criminalidade, a aceitação acrítica das explicações 
biologisistas e psicológicas da criminalidade feminina, entre outros. A. I. 
Meo, op. cit, p. 113. 
47 R. del Olmo, “Teorías sobre la criminalidad femenina”. In Criminalidad y 
criminalización de la mujer en la región andina (Rosa del Olmo, org.). Cara-
cas: Editorial Nueva Sociedad, 1998, p. 19. 
48 Devemos esclarecer que não existe uma única perspectiva feminista em 
criminologia, existindo diversas correntes que tentam explicar a criminalidade 
feminina desde vários enfoques. Por esta razão seria descabido falar de “uma” 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
49
A prisão feminina 
 
adquire maior desenvolvimento a partir dos anos 60 (quando 
também se produz a ruptura teórica que dá base ao surgimento 
das teorias feministas), sendo principalmente estudada no fim da 
década de 70. A criminologia feminista não teve um 
desenvolvimento uniforme e algumas de suas propostas não 
conseguiram se desprender da tradição positivista, como foram 
os casos de Freda Adler e Rita Simon49. Isso é fácil de 
compreender porque muitas dessas posturas foram inspiradas nas 
teorias feministas que, como já foi comentado, desenvolvem 
enfoques e propostas em alguns casos conflitivos. Todavia, 
podemos afirmar que os trabalhos inspirados nos 
questionamentos das teorias feministas de tendência liberal e 
radical, apesar das críticas que possam receber, conseguiram 
tornar visível a criminalidade feminina e abriram caminhos para 
o surgimento de novas teorias, que desde uma perspectiva de 
gênero, consolidaram a criminologia feminista50. 
Foi principalmente na década de 70 e 80 que a 
criminologia feminista (de perfil mais crítico) ofereceu novas 
aproximações e análises da criminalidade feminina51. Eles 
partiram por criticar as teorias tradicionais, buscando questionar 
“os estereótipos sexistas que alimentam essas teorias, [… e por 
explicitar…] os limites de uma criminologia positivista cujas 
 
criminologia feminista, assim como de uma única criminologia crítica (pois 
subsistem múltiples visões criminológicas que se autodenominam de críticas). 
No entanto, seguindo R. van Swaaningen, preferimos esta expressão “quando 
pretendemos explicar um paradigma específico: o paradigma do feminismo 
como uma perspectiva”, op. cit, p. 89. 
49 Para essas criminólogas a delinquência feminina se justificaria como 
consequência da mudança subjetiva da mulher, que teria abandonado sua 
passividade para se tornar mais atenta e agressiva (tese da masculinidade, 
defendida por Freda Adler), ou como resultado de seu maior acesso ao 
mercado de trabalho e assim ao espaço público, âmbito onde transcorre a 
criminalidade (tese da oportunidade, de Rita Simon). R. del Olmo, op. cit, p. 
23-24. 
50 R. del Olmo, op. cit, p. 25. 
51 A. Meo, op. cit, p. 118. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
50
Olga Espinoza 
 
premissas são inadequadas e que se apresenta como um 
instrumento de controle e de preservação do status quo” 52. As 
defensoras e defensores da criminologia feminista (baseada em 
postulados críticos), compreendem o controle penal como mais 
uma faceta do controle exercido sobre as mulheres, uma instância 
onde se reproduzem e intensificam suas condições de opressão 
via a impossição de um padrão de normalidade53. 
Para esta corrente criminológica a mulher “desviada” 
não é mais o ponto de partida, mas as circunstancias que afetam 
às mulheres agressoras, às outras mulheres, assim como aos 
grupos marginalizados, de pessoas sem poder, socio-
economicamente desfavorecidas, grupos “ethnicisés et 
racialisés” 54. Podemos afirmar então, concordando com A. 
Baratta, que “uma criminologia feminista pode se desenvolver 
em forma, cientificamente oportuna só desde a perspectiva 
epistemológica da criminologia crítica”55. 
A seguir, enfocaremos a prisão feminina para, depois de 
uma breve descrição, analisá-la desde a ótica da criminologia 
feminista. 
 
 
4. O espaço prisional 
 
 
52 C. Parent. “La contribution féministe à l´étude de la déviance en criminolo-
gie”, Criminologie, v.XXV, n. 2. Montréal: Les presse de l´Université de 
Montréal, 1992, p. 75 
53 Nesse sentido, e tomando em consideração o reduzido número de mulheres 
atingidas pelo sistema penal, devemos analisar que outras formas de controle 
afetam às mulheres (controles informais da família, escola, religião, 
vizinhança, etc.) e quais as consequências dessa constatação para as mulheres 
que não se ajustam a esses controles e transgridem. Vide os estudos de Claude 
Faugeron. 
54 C. Parent e F. Digneffe, op.cit, p. 93. 
55 A Baratta, op. cit. p. 55. 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
51
A prisão feminina 
 
A prisão é um espaço que gera tristeza, paixões e revolta, 
tanto dentro como fora de seus muros. Quem decide incursionar 
nela, quer como pesquisador, ativista ou representante do Estado, 
deve estar ciente e atento às relações particulares56 que se 
desenvolvem no seu interior. 
O cárcere é uma instituição totalizante e 
despersonalizadora, onde a violência se converte em um 
instrumento de troca, em que prevalece a desconfiança e o único 
objetivo das pessoas é sair, fugir, atingir a liberdade. Essas 
características correspondem às prisões em geral, no entanto, 
centralizaremos a presente análise ao estudo da prisão feminina. 
Uma vez criada a prisão como instituição, entendeu-se 
necessário a separação de homens e mulheres para aplicar a eles 
e elas tratamentos diferenciados. Com essa medida buscava-se 
que a educação penitenciária restaurasse o sentido de legalidade 
e de trabalho nos homens presos, enquanto que, no caso das 
mulheres, era prioritário reinstalar o sentimento de “pudor”57. 
No desenvolvimento da prisão, essa se caracterizou por 
ser majoritariamente masculina, acentuando-se tal condição 
durante a segunda metade do século XIX58. Do total de seres 
humanos que na atualidade compõem a massa carcerária, a 
mulher não representa porcentagens elevadas (na América Latina 
as cifras oscilam entre 3% e 9% aproximadamente59). No Brasil, 
a mulher constitui o 4,4% da população carcerária total. Este fato 
tem ocasionado uma “invisibilização” das necessidades 
 
56 “Uma atitude muito favorável às presas ou de desrespeito ao trabalho dos 
guardas poderia pôr em risco o desenvolvimento de uma pesquisa [ou 
trabalho no interior do presídio]”. C. Rostaing, La relation carcérale. Identité 
et rapports sociaux dans les prisons de femmes. Paris: Press Universitaire de 
France, 1997, p. 23. 
57 Ibid, p. 42. 
58 Ibidem. 
59 C. Antony, “Mujer y cárcel: el rol genérico en la ejecución de la pena”, in 
Criminalidad y criminalización de la mujer en la región andina (Rosa del Ol-
mo, org.). Caracas: Editorial Nueva Sociedad, 1998, p. 63. 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
52
Olga Espinoza 
 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
53
femininas, devendo essas se adequar aos modelos tipicamente 
masculinos, de modo que “o problema carcerário tem sido 
enfocado pelos homens e para os homens privadosde 
liberdade”TPF60FPT. Como produto dessa invisibilização se vulneram 
uma série de direitos das mulheres encarceradas. Essa situação é 
percebida nas precárias condições de saúde das reclusas, nas 
restrições para a visita familiarTPF61FPT assim como para a visita 
íntimaTPF62FPT, na manutenção de funcionários homens, etc.TPF63FPT. 
Devemos ressaltar que houve uma mudança nas condutas 
delitivas realizadas por mulheres; os crimes cometidos por elas 
não mais se encaixam nos denominados “delitos femininos” 
(infanticídio, aborto, homicídio passional), havendo se 
incrementado os índices de condena por crimes como tráfico de 
entorpecentes, roubos, seqüestros, homicídios, entre outrosTPF64FPT. 
 
TP
60
PT Ibid, p. 64. 
TP
61
PT A maioria das mulheres presas são mães e em muitos casos elas representam 
os únicos sustentos familiares, interrompidos com a prisão. Ademais, a menor 
população prisional feminina traz como conseqüência a existência de alguns 
poucos presídios para mulheres por estado (em alguns estados, como Rio 
Grande do Sul, só existe uma única prisão para mulheres), sendo elas 
concentradas em localidades distantes de seus familiares. Este fato intensifica 
o abandono da família e dos filhos. 
TP
62
PT São vários os estados que permitem a visita íntima feminina (Rio de Janeiro, 
Rio Grande do Sul, etc), porém no estado de São Paulo esta só é exercida nos 
presídios de Tatuapé e Tremembé, embora exista uma norma infralegislativa 
ditada pela Secretaria Penitenciária recomendando às diretoras dos cárceres 
de São Paulo a materializar esse direito. 
TP
63
PT Maria Ignês Bierrenbach, “A mulher presa”, Revista do ILANUD, n. 12. São 
Paulo: 1998. 
TP
64
PT O quadro de porcentagem de incidência por artigo demonstra que 39,72% das 
mulheres reclusas foram sentenciadas por Tráfico de Entorpecentes; 31,05% 
por Roubo; 14,08% por Homicídio; 9,29% por Latrocínio; 2,98% por 
Extorsão mediante seqüestro e 2,88% por outros crimes. Dados extraídos dos 
arquivos da Penitenciária Feminina da Capital (São Paulo), que correspondem 
ao mês de fevereiro de 2002. 
A prisão feminina 
 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
54
Após este suscinto panorama, devemos nos perguntar: 
por que insistir em observar a prisão feminina desde a ótica da 
criminologia feminista? Quais vantagens pode gerar esta 
abordagem? Será possível, desde esta ótica, observar outros 
grupos atingidos pelo sistema criminal? Tentaremos responder 
estas perguntas a seguir. 
Podemos dizer que os estudos da criminologia feminista 
(na medida que buscaram atender às necessidades e interesses 
das mulheres como grupo) têm possibilitado superar alguns 
limites da criminologia (segundo desenvolvida desde uma 
perspectiva masculina). Assim, “suas pesquisas [da criminologia 
feminista] abriram novos caminhos que podem servir de 
inspiração ao questionamento atual na criminologia”.TPF65FPT Contudo, 
embora reconheçamos as diversas e importantes contribuições do 
feminismo aos estudos criminológicos, preferimos selecionar 
trêsTPF66FPT delas que melhor sintetizam o espírito das mesmas. 
A primeira grande contribuição nos permitiu observar a 
prisão desde uma perspectiva de gênero, ou seja, entender o 
cárcere como uma construção social que pretende reproduzir as 
concepções tradicionais sobre a natureza e os papéis femininos e 
masculinos, segundo instituidos na modernidade. Nesse sentido, 
podemos citar as explicações psicogenéticas da criminalidade 
feminina (perturbações psicológicas, trastornos hormonais, etc.) 
que ocasionaram a implementação de políticas penitenciárias 
específicas para as mulheres, cujos objetivos buscavam corrigir e 
 
TP
65
PT “Certamente, a herança feminista parece hoje ser tão importante e 
diversificada que podemos afirmar que a disciplina criminológica precisa do 
feminismo. Seria importante, então, que essa contribuição seja finalmente 
reconhecida”. C. Parent. “La contribution féministe à l´étude de la déviance 
en criminologie”, Criminologie, v.XXV, n. 2. Montréal: Les presse de 
l´Université de Montréal, 1992, p. 88. 
TP
66
PT Outras importantes contribuições identificadas pelos estudos feministas em 
criminologia podem ser encontradas nos trabalhos de C. Parent (1992), C. 
Parent e F. Digneffe (1994), V. P. de Andrade (1997), R. van Swaaningen 
(1990). 
Olga Espinoza 
 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
55
regenerar as mulheres “descarriladas o en peligro de caer” TPF67FPT. 
Confirmando esta asseveração devemos notar que a maioria das 
prisões femininas foi instalada em conventos, com a finalidade 
de induzir às mulheres “desviadas” a aderirem aos valores de 
submissão e passividade. Na atualidade, esta situação quase não 
tem mudado, e a necessidade de controle da mulher subsiste, 
acentuando-se no carácter reabilitador do tratamento, que busca 
“restabelecer à mulher em seu papel social de mãe, esposa e 
guarda do lar e de fazê-la aderir aos valores da classe média”TPF68FPT. 
Uma segunda contribuição baseia-se na possibilidade de 
estudar a prisão observando a seus atores como sujeitos. Estamos 
acostumados a imaginar que toda pesquisa ou discurso sério e 
objetivo (criminológico ou não) deve se construir com absoluta 
racionalidade e distanciamento entre o observador e o observado, 
postura ingênua que pretende proteger o pesquisador da inerente 
subjetividade que possuem todas as pessoas. Nesse sentido, as 
análises feministas sobre a criminalidade feminina tentaram 
identificar as mulheres proporcionando-lhes a palavra, para junto 
com elas (com suas vozes e experiências de vida) entender o 
objeto de pesquisa. Essa postura abre o caminho ao “outro”, 
acentuando a dimensão relacional da situação problema, 
preocupando-se com o outro como uma pessoa individual e 
particular, e não só como um sujeito de direitos o entidade 
abstrata a estudar, como um objeto de análise. 
Finalmente, a terceira grande contribuição aponta para a 
relativização das diferenças entre homens e mulheres. Os 
trabalhos criminológicos devem superar a oposição 
mulher/homem, deixando de dispensar energias na busca de 
diferenças que justifiquem abordagens diferenciadas. Para tal, 
devem procurar identificar às mulheres presas no conjunto de 
 
TP
67
PT A. Meo, op. cit, p. 117. 
TP
68
PT L. L. Biron, “Les femmes et l´incarcération, le temps n´arrange rien”, 
Criminologie, v.XXV, n. 1. Montréal: Les presse de l´Université de Montréal, 
1992, p. 124. 
A prisão feminina 
 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
56
grupos oprimidos. Dessa forma, poderemos observar o problema 
desde uma dimensão macroestrutural, “tomando em consideração 
a criminalização das mulheres a partir de sua opressão como 
grupo, no marco de um quadro global de sociedade capitalista 
e/ou patriarcal”TPF69FPT. 
 
 
5. Conclusão 
 
A guisa de conclusão e fazendo um balanço do 
desenvolvimento das teorias feministas no interior da 
criminologia, podemos afirmar, seguindo Kathleen Daly, que 
“nos 70, as acadêmicas revelaram as histórias de mulheres e 
desvendaram a diversidade etnográfica e a generalidade em suas 
vidas; nesse marco temporal as acadêmicas feministas se 
referiam às mulheres ou às experiências das mulheres sem se 
problematizar, destacavam a importância de diferenciar o sexo 
biológico do gênero [como construção] sócio-cultural e 
desenvolviam uma teoria feminista compreensível que 
substituísse as teorias liberais, marxistas ou psicoanalíticas [dos 
diferentes campos de conhecimento]. Nos anos 80, a teoria 
feminista foi especialmente influenciada pela filosofia e a 
literatura. Essa situação marcou uma mudança de ênfase sócio-
cultural e histórico com respeito aos anos 70. Contudo,esse 
desenvolvimento teórico não questionou o modelo estrutural de 
ciência e de direito. Um desafio crítico [de questionamento à 
teoria feminista] surgiu a partir das mulheres marginalizadas 
[pela mesma] e de uma variedade de textos pós-modernos / pós-
estruturalistas [que criticaram o modelo teórico que até esse 
momento tinha se construído]. Esses desenvolvimentos 
propuseram questões sobre como é o conhecimento feminista e 
 
TP
69
PT C. Parent, “Au delà du silence: Les productions féministes sur la 
‘criminalité’ et la criminalisation de femmes”, Déviance et Société, v. 16, n. 
3. Genebra: Édition Médicine et Hygiène, 1992, p. 319. 
 
Olga Espinoza 
 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
57
como esse devia se produzir e avaliar…”TPF70FPT. Surgiu a necessidade, 
então, de desconstruir o modelo androcêntrico de sociedade, no 
qual se baseiam as relações de discriminação contra a mulher e 
outros grupos marginalizados, para logo reconstruir modelos que 
tenham como base a preocupação pelo outro, não como entidade 
abstrata desprovista de direitos, mas como indivíduo concreto e 
inscrito em um sistema de relações. 
Podemos dizer então, que são muitas as contribuições 
apresentadas pela criminologia feminista que permitiram 
explicitar os sistemas de opressão dos grupos marginalizados. 
Por essas considerações, mais do que nunca devemos 
desenvolver análises que partam de uma perspectiva de gênero 
para olhar a mulher e todos os outros indivíduos inseridos no 
sistema punitivo. Assim, essa ótica (a ótica do gênero) deve nos 
levar a questionar toda a estrutura do próprio sistema, 
“desconstruindo o universo das formas tradicionais de 
legitimação punitiva e procurando soluções mais equitativas que 
valorizem as situações concretas nas quais evoluem os diferentes 
protagonistas da intervenção penal”TPF71FPT. 
 
 
6. Bibliografia 
 
ANDRADE, Vera R. Pereira de. “Violência sexual e sistema 
penal. Proteção ou duplicação da vitimação feminina?”, in 
Feminino Masculino. Igualdade e Diferença na Justiça (Denise 
Dourado Dora, org.). Porto Alegre: Editora Sulina, 1997. 
 
_____ “Criminologia e Feminismo. Da mulher como vítima à 
mulher como sujeito”, Criminologia e Feminismo (Carmen 
Campos, org.). Porto Alegre: Editora Sulina, 1999. 
 
 
TP
70
PT Citada por R. del Olmo, op. cit, p.30. 
TP
71
PT C. Parent e F. Digneffe, op. cit, p. 102. 
A prisão feminina 
 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
58
ANTONY, Carmen. “Mujer y cárcel: el rol genérico en la eje-
cución de la pena”, in Criminalidad y criminalización de la mu-
jer en la región andina (Rosa del Olmo, org.). Caracas: Editorial 
Nueva Sociedad, 1998. 
 
BARATTA, Alessandro. “El paradigma del género. De la cues-
tión criminal a la cuestión humana”, in Las trampas del poder 
punitivo. El Género del Derecho Penal (Haydée Birgin, org.). 
Buenos Aires: Editorial Biblos, 2000. 
 
BIERRENBACH, Maria Ignês. “A mulher presa”, Revista do 
ILANUD, n. 12. São Paulo: 1998. 
 
BIRON, Louise. “Les femmes et l´incarcération, le temps 
n´arrange rien”, Criminologie, v.XXV, n. 1. Montréal: Les 
presse de l´Université de Montréal, 1992. 
 
CAMPOS, Carmen. “Criminología Feminista: un discurso 
(im)posible?”, in Género y derecho (Alda Facio e Lorena Fries, 
org.). Santiago de Chile: Low Ediciones, 1999. 
 
DEL OLMO, Rosa. “Teorías sobre la criminalidad feminina”, in 
Criminalidad y criminalización de la mujer en la región andina 
(Rosa del Olmo, org.). Caracas: Editorial Nueva Sociedad, 1998. 
 
ESPINOZA, Olga. “O Direito Penal Mínimo: entre o 
Minimalismo e o Abolicionismo”. São Paulo: mimeo, 2000. 
_____ “Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de 
Discriminação contra a Mulher”, in Direito Internacional dos 
Direitos Humanos-Instrumentos Básicos (Guilherme de Almeida 
e Claudia Perrone-Moises, org.). São Paulo: Editora Atlas, 2002. 
 
ESPINOZA, Olga e IKAWA, Daniela. “Aborto: uma questão de 
política criminal”, in Boletim do IBCCRIM, v. 9, n.104, julho. 
São Paulo: IBCCRIM, 2001, p. 4. 
Olga Espinoza 
 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
59
 
FACIO, Alda e CAMACHO, Rosalía. “En busca de las mujeres 
perdidas o una aproximación crítica a la Criminologia”, in Vigi-
ladas y Castigadas. Lima: CLADEM, 1993. 
 
FAUGERON, Claude e GROMAN, Dvora. “La criminalité 
feminine: liberée de quoi?”, Déviance et Société, v. 3, n. 4. 
Genebra: Édition Médicine et Hygiène, 1979. 
 
FAUGERON, Claude e RIVERO, Noëlle. “Travail, famille et 
contrition: femmes liberées sous condition”, Déviance et Société, 
v. 6, n. 2. Genebra: Édition Médicine et Hygiène, 1982. 
 
LARRAURI, Elena. “Control Formal: …Y el Derecho Penal de 
las Mujeres”, Mujeres Derecho Penal y Criminología (Elena La-
rrauri, org.). Madri: Siglo Veintiuno, 1994. 
 
_____ “Criminología Crítica: Abolicionismo y Garantismo”, 
Nueva Doctrina Penal, v. 1998/B. Buenos Aires: Editores del 
Puerto, 1998. 
 
MEO, Analía Inés. “El delito de las féminas”, Delito y Sociedad, 
n. 2. Buenos Aires: 1992. 
 
PARENT, Colette. “Au delà du silence: Les productions féminis-
tes sur la ‘criminalité’ et la criminalisation de femmes”, Dévian-
ce et Société, v. 16, n. 3. Genebra: Édition Médicine et Hygiène, 
1992. 
 
_____ “La contribution féministe à l´étude de la déviance en 
criminologie”, Criminologie, v.XXV, n. 2. Montréal: Les presse 
de l´Université de Montréal, 1992. 
 
PARENT, Colette e DIGNEFFE, Françoise, “Pour une éthique 
féministe de l´intervention pénale”, Carrefour, v. XVI, n. 2. 
Ottawa: Legas, 1994. 
A prisão feminina 
 
 Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,1(1): 35-59, Jan-Dez./2002. 
 
60
 
PIRES, Alvaro e DIGNEFFE, Françoise. “Vers un paradigme 
des inter-relations sociales?. Pour une reconstruction du champ 
criminologique”, Criminologie, v.XXV, n. 2. Montréal: Les 
presse de l´Université de Montréal, 1992. 
 
ROSTAING, Corinne. “La relation carcérale. Identité et rap-
ports sociaux dans les prisons de femmes”. Paris: Press Universi-
taire de France, 1997, 
 
SMART, Carol. “La mujer del discurso jurídico”, in Mujeres 
Derecho Penal y Criminología (Elena Larrauri, org.). Madri: Si-
glo Veintiuno, 1994. 
 
VAN SWAANINGEN, René. “Feminismo, criminología y dere-
cho penal: una relación controvertida”, Papers d´Estudis i For-
mació, v. 5. Catalunha: Generalitat de Catalunya. Departament 
de Justícia, 1990.

Continue navegando