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AÇÃO CIVIL PUBLICA - SENTENÇA - VALE ENCANTADO

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Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário 
Tribunal de Justiça 
Comarca da Capital 
Central de Assessoramento Fazendario 
Rua Erasmo Braga, 115 LI s/418 Bl F - Centro - Rio de Janeiro - RJ 
 
 
110 
MARIAPAULA 
Fls. 
 
Processo: 0133369-78.2006.8.19.0001 (2006.001.139217-4) 
Processo Eletrônico 
 
 
Classe/Assunto: Ação Civil Pública - Dano Ambiental - Indenização / Responsabilidade da 
Administração 
Autor: MINISTERIO PUBLICO 
Réu: MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO 
Procurador: LUIZ ANTONI BARRETTO 
Réu: CESAR EPITACIO MAIA 
Perito: MOYSES ALBERTO MIZRAHI 
Perito: AUGUSTO CESAR DA COSTA RIBEIRO 
 
 
 ___________________________________________________________ 
 
Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz 
Maria Paula Gouvea Galhardo 
 
Em 09/03/2016 
 
 
 
Sentença 
 
Trata-se de Ação Civil Pública visando conter a ocupação irregular em área de proteção ambiental 
criada através do Decreto Municipal 11.301/92, mais precisamente na região do Alto da Boa Vista, 
na qual requer a responsabilização dos Réus por ato de improbidade ambiental previsto no art. 11, 
I, da Lei 8.429/92, bem como a condenação na obrigação de fiscalizar e adotar medidas de 
contenção do processo de invasão e ocupação da referida área e ao pagamento de indenização a 
título de dano ambiental. 
Decisão deferindo a antecipação de tutela às fls. 238, mantida pelo v. acórdão de fls. 657/662. 
Agravo de instrumento interposto pelo 1º réu, nas fls. 254/272. 
Contestação de César Epitácio Maia nas fls. 274/287 (com documento anexado às fls. 288), 
alegando a ausência de pressuposto de constituição da ação de improbidade administrativa, a 
ilegitimidade ativa e a incompetência absoluta. 
Pedido de assistência litisconsorcial nas fls. 290/310 (com documentos anexados às fls. 311/325). 
Informações de agravo nas fls. 330/332. 
Contestação do Município do Rio de Janeiro nas fls. 334/346, alegando incompetência absoluta e 
inépcia da inicial. 
Réplicas nas fls. 493/509 e fls. 510/518. 
Pedido de assistência litisconsorcial nas fls. 532/555 (com documentos anexados às fls. 556/633) 
Petição do Ministério Público nas fls. 654/656, requerendo a intimação do Município do Rio de 
Janeiro para que cumpra a antecipação de tutela, em anexo Acórdão às fls. 657/662, o qual foi 
negado provimento. 
Manifestação do Ministério Público sobre os pedidos litisconsorciais nas fls. 695/700. 
Rejeição dos pedidos de assistência litisconsorcial nas fls. 708/714. 
Petição do Ministério Público nas fls. 738/739, requerendo a intimação do Município do Rio de 
Janeiro para que cumpra a antecipação de tutela. 
César Epitácio Maia nas fls. 745, requerer a produção de prova documental suplementar e 
testemunhal. 
O Município do Rio de Janeiro nas fls. 747, requer a juntada dos documentos de fls. 748/808, 
Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário 
Tribunal de Justiça 
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MARIAPAULA 
consoante determinação contida nos itens "a" e "b" da respeitável decisão liminar. 
 Petição do Ministério Público nas fls. 812/818, requerendo o julgamento antecipado da lide. 
Decisão nas fls. 834/835, tomando as manifestações dos Réus como defesas prévias, conforme 
estabelecido pelo art.17, da Lei 8.429/92. Rejeitando a preliminar de incompetência do Juízo, eis 
que intimado pessoalmente o IBAMA, quedou-se inerte, de tal sorte a revelar a falta de interesse 
no feito. Demonstrados os indícios da pratica de ato de improbidade em razão da omissão na 
proteção do meio-ambiente, recendo a inicial e determinando as citações. 
O Município do Rio de Janeiro interpõe agravo retido nas fls. 841/843. 
Certidão positiva de citação do Município do Rio de Janeiro nas fls. 847. 
Certidão positiva de citação de César Epitácio Maia nas fls. 850. 
A 5ª Defensoria Pública do Núcleo de Terras e Habitação requer acesso aos autos, conforme fls. 
855/856. 
Decisão na fls. 859, decretando a revelia do réu César Epitácio Maia, deferindo o pedido de vista 
da 5ª Defensoria Pública do Núcleo de Terras e Habitação e para que as partes digam se tem 
outras provas a produzir. 
O Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 
cumprimento ao disposto no art. 526 do Código de Processo Civil, informa nas fls. 863/881, que foi 
interposto agravo de instrumento. 
Informações de agravo nas fls. 886/889. 
Petição do Ministério Público nas fls. 895/899, requerendo o julgamento antecipado da lide, em 
anexo Acórdão às fls. 900/905, o qual foi negado provimento. 
César Epitácio Maia nas fls. 919, requerer a produção de prova documental suplementar e oral, 
consistente na oitiva de testemunhas e pericial de engenharia. 
O Ministério Público nas fls. 823/937, requer o julgamento antecipado da lide. 
César Epitácio Maia nas fls. 937 informa que o agravo de instrumento não foi julgado até a 
presente data. 
Decisão nas fls. 944/946, rejeitando a preliminar de inépcia da inicial e deferindo a prova pericial. 
O Município do Rio de Janeiro interpõe agravo retido nas fls. 949/950. 
César Epitácio Maia nas fls. 953/953, apresenta seus quesitos. 
O Município do Rio de Janeiro nas fls. 958/960, apresenta seus quesitos. 
Contrarrazões ao agravo retido nas fls. 967/980. 
O Ministério Público nas fls. 982/988, apresenta seus quesitos. 
O Ministério Público nas fls. 990/992, interpõe embargos de declaração. 
Decisão substituindo o perito na fls. 995. 
Ofício da 20ª Câmara Cível nas fls. 1126, encaminhando peças e Decisão que negou seguimento 
ao agravo de instrumento (fls. 1127/1141). 
Decisão nas fls. 1155, homologando os honorários periciais em R$111.496,00, correspondentes a 
154 salários mínimos, a serem corrigidos pela UFIR-RJ, considerando-se a amplitude da perícia e 
das diligências a serem realizadas. 
O Sr. Perito nas fls. 1186/187, requer a juntada do laudo Pericial de fls. 1188/1542. 
César Epitácio Maia nas fls. 1550/1555, confia em que serão julgados improcedentes os pedidos 
formulados nesta demanda. 
O Ministério Público nas fls. 1569 requer a juntada do seu parecer técnico (fls. 1570/1587) e a 
intimação do Perito a fim de que se manifeste sobre o referido parecer. 
Esclarecimentos do Sr. Perito nas fls. 1620/1640. 
César Epitácio Maia nas fls. 1644/1651, confia em que serão julgados improcedentes os pedidos 
formulados na petição inicial. 
O Ministério Público nas fls. 1656/1664, requer a juntada aos autos do Parecer Técnico elaborado 
por sua equipe técnica GATE Ambiental (fls. 1665/1669) e o imediato julgamento da lide com a 
procedência integral de todos os pedidos formulados na inicial. 
O Município do Rio de Janeiro nas fls. 1674/1675, requer a juntada aos autos das considerações 
técnicas de fls. 1676/1679. 
O Município do Rio de Janeiro nas fls. 1688/1689, ratifica o laudo crítico complementar. 
César Epitácio Maia nas fls. 1691/1693, confia em que serão julgados improcedentes os pedidos 
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formulados na petição inicial. 
 
É RELATÓRIO, DECIDO: 
 
Trata-se de ação civil pública pela prática de atos de improbidade ambiental, objetivando o autor a 
condenação dos réus nas sanções cabíveis dos arts. 11 e 12 da Lei 8.429/92, com o 
ressarcimento integral do dano; perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 a 5 
anos; pagamento de multa civil de até100 vezes o valor da remuneração percebida pelo agente; 
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou 
creditícios, e ainda, a condenação do MRJ na obrigação de fazer consistente na recuperação da 
área degradada ambientalmente em decorrência da ocupação irregular nas comunidades VALE 
ENCANTADO, JOÃO LAGOA, AÇUDE, FAZENDA, BIQUINHA, FURNAS e RICARDINHO, bem 
como na obrigação de fiscalizar e adotar medidas de contenção do processo de invasão e 
ocupação irregular, além da indenização por danos morais, o qual deverá ser revertido ao Fundo 
Estadual de Controle Ambiental. 
 
Em síntese, alega o autor que vistorias realizadas demonstraram o incremento da ocupação 
irregular em área de preservação ambiental da Mata Atlântica vizinha ao Parque Nacional da 
Tijuca. Que as comunidades vêm crescendo sem o devido controle dos Réus, construindo 
edificações em regiões acidentadas, que além da preservação ambiental colocam em risco a 
segurança das famílias, dada a eminência de deslizamentos, a omissão dos réus caracterizaria a 
improbidade ambiental. 
 São duas, em apertada síntese, as questões controvertidas: a ocupação irregular que 
provoca dano ambiental e a omissão das autoridades competente na repressão dessa ocupação e 
consequentemente na inibição do dano ambiental. 
 Não resta dúvida de que a área abrangida pela presente demanda é área de proteção 
ambiental denominada APARU, da Mata Atlântica, vizinha ao Parque Nacional da Floresta da 
Tijuca. Assim, como não há dúvida quanto à ocupação da área. 
 A demanda põe em confronto, portanto, dois direitos sagrados pela Constituição 
Federal, quais sejam, o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225) e o direito à moradia (art. 
6º). 
 Cediço que o princípio da unidade da Constituição impõe uma interpretação harmônica 
aos seus dispositivos, ainda que diante de aparente conflito entre direitos. 
 Vale transcrever as lições do Min. Luis Roberto Barroso: 
 "Já se consignou que a Constituição é o documento que dá unidade ao sistema jurídico pela 
irradiação de sues princípios aos diferentes domínios infraconstitucionais. O princípio da unidade é 
uma especificação da interpretação sistemática, impondo ao intérprete o dever de harmonizar as 
tensões e contradições entre normas jurídicas. A superior hierarquia das normas constitucionais 
impõe-se na determinação de sentido de todas as normas do sistema. 
(...) 
 Portanto, na harmonização de sentido entre normas contrapostas, o intérprete deverá 
promover a concordância prática entre os bens jurídicos tutelados, preservando o máximo possível 
de cada um. Em algumas situações, precisará recorrer a categorias como a teoria dos limites 
imanentes: os direitos de uns têm de ser compatíveis com os direitos de outros. E em muitas 
situações, inexoravelmente, terá de fazer ponderações, com concessões recíprocas e 
escolhas."(Curso de Direito Constitucional Contemporâneo - Os Conceitos Fundamentais e a 
Construção do Novo Modelo - 2ª ed, Ed. Saraiva, pág. 303ss) 
 Nesse contexto, compreendo que a solução da presente demanda deve 
indagar se a ocupação em questão compromete o equilíbrio ambiental, se revelando nociva ao 
interesse maior de toda a coletividade em ter o meio ambiente conservado. 
 A área foi assim definida pelo laudo pericial: 
A área objeto da presente demanda "consigna uma Unidade de Conservação, pertencente à 
categoria de Uso Sustentável, sendo criada pelo Decreto Municipal DM 11.301, de 21/08/92 ... 
Vale destacar que 70% desta área superpõem-se à área do Parque Nacional, o restante (30%) 
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situa-se na área intermediária dos três setores do Parque (Coelho Netto, 2005). Reforçando este 
processo, em 1992 a Floresta da Tijuca foi incorporada como Reserva da Biosfera, perante à 
UNESCO e ao Ministério do Meio Ambiente, por ser considerada um importante fragmento da 
Mata Atlântica, hoje ameaçada pela pressão urbana". (laudo pericial fls. 1202) 
Inconteste, portanto, a qualidade de área de preservação ambiental permanente. Indagação que 
naturalmente se segue é a seguinte: "- Por ser área de preservação permanente não é possível a 
ocupação?" 
A Lei Complementar No 111/2011 instituiu a Macrozona de Ocupação Controlada, que abrange 
basicamente a Zona Sul carioca, o bairro do Alto da Boa Vista e trecho da área 
central da cidade, sendo descrita no artigo 32, II do mencionado dispositivo da seguinte forma: 
".....?onde o adensamento populacional e a intensidade construtiva serão limitados, a 
renovação urbana se dará preferencialmente pela reconstrução ou pela reconversão de 
edificações existentes e o crescimento das atividades de comércio e serviços em 
locais onde a infraestrutura seja suficiente, respeitadas as áreas predominantemente 
residenciais". 
Significa dizer, que a legislação municipal autorizou a ocupação na região desde que observados 
os requisitos impostos para a adequada conciliação do interesse social e o ambiental. 
A respeito, transcreve-se trecho do laudo pericial, repetido tantas vezes no corpo e na resposta a 
alguns quesitos, no que toca à antiguidade da ocupação da área pela maioria das edificações ali 
existentes: 
"A questão ambiental não deve exercer primazia absoluta sobre o aspecto social. 
As comunidades que ocupam a APARU estão consolidadas e algumas existem há 
aproximadamente 80 anos (valor histórico-cultural), revelando anterioridade ao universo 
legal ambiental. Vale mencionar estudo produzido pelo Ministério do Meio Ambiente (ICMBiO - 
Plano de Manejo, 2008), o qual revelou a interação positiva 
homem-ambiente e a conscientização da importância da preservação da natureza por parte de 
moradores das comunidades da APARU do Alto da Boa Vista". (fls. 1264/1265) 
E prossegue o laudo pericial: 
"Um estudo realizado pelo IBASE em 2007 (Loureiro, Azaziel e Franca, 2007) 
caracterizou a área da lide e não recomendou a remoção das comunidades". (fls. 1266) 
"No relatório da CEDAE há o reconhecimento da consolidação das comunidades do Vale 
Encantado há mais de 30 anos; de João Lagoa e do Açude, ambas há mais de 50 anos. A 
comunidade do Açude denota uma das ocupações históricas, havendo pessoas que vivem no 
local há 80 (oitenta) anos, mantendo-se a mesma família, cujo primeiro morador era o guardião da 
fronteira do parque. Também há relatos de casas centenárias e regularizadas (RGI)". (fls. 1492) 
 
A ocupação longeva como sinalizado pelo laudo pericial, impõe não a remoção pretendida, mas a 
regularização fundiária, como instrumento de política urbana previsto no Estatuto da Cidade (Lei nº 
10.257/2001), a qual visa ao pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade 
urbana, em áreas ocupadas por população de baixa renda, conforme previsto nos arts. 2º, XIV e 
4º, V, 'q' e 't' da referida lei: 
Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da 
cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: 
[...] 
XIV - regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda 
mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e 
edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; 
[...] 
O Art. 4º dispõe para os fins desta Lei serão utilizados, entre outros A Lei nº 11.977/2010, que 
instituiu o programa "Minha casa, minha vida", trata da regularização fundiária urbana como forma 
de garantia ao direito social à moradia digna, com a ordenação e titulação de ocupações urbanas 
consolidadas;e ao direito ao pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conceituando-a nos seguintes termos: 
Art. 46. A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, 
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ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus 
ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções 
sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
 
De acordo com o art. 47, II, da aludida lei, considera-se área urbana consolidada, para fins de 
regularização fundiária, a parcela urbana com densidade demográfica superior a 50 (cinquenta) 
habitantes por hectare e malha viária implantada e que tenham no mínimo, 2 (dois) dos seguintes 
equipamentos de infraestrutura urbana implantados: "a) drenagem de águas pluviais urbanas; b) 
esgotamento sanitário; c) abastecimento de água potável; d) distribuição de energia elétrica; ou e) 
limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos". 
Além disso, o art. 47, em seus incisos VII e VIII, subdivide a regularização fundiária urbana em 
duas espécies: por interesse social e por interesse específico. A primeira refere-se a 
assentamentos irregulares ocupados, predominantemente, por população de baixa renda, nos 
casos: a) em que a área esteja ocupada, de forma mansa e pacífica, há, pelo menos, 5 (cinco) 
anos; b) em imóveis situados em Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), definida como parcela 
de área urbana instituída pelo Plano Diretor ou definida por outra lei municipal, destinada 
predominantemente à moradia de instrumentos: população de baixa renda e sujeita a regras 
específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo; e c) em de áreas da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios declaradas de interesse para implantação de projetos de 
regularização fundiária de interesse social. A regularização por interesse específico, por sua vez, 
se dará quando não caracterizado o interesse social previsto na hipótese anterior. Nesse sentido, 
confira-se: 
Art. 47. Para efeitos da regularização fundiária de assentamentos urbanos, consideram-se: 
[...] 
VII - regularização fundiária de interesse social: regularização fundiária de assentamentos 
irregulares ocupados, predominantemente, por população de baixa renda, nos casos: 
a) em que a área esteja ocupada, de forma mansa e pacífica, há, pelo menos, 5 (cinco) anos; 
(Redação dada pela Lei nº 12.424, de 2011) 
b) de imóveis situados em ZEIS; ou 
c) de áreas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios declaradas de interesse 
para implantação de projetos de regularização fundiária de interesse social; 
VIII - regularização fundiária de interesse específico: regularização fundiária quando não 
caracterizado o interesse social nos termos do inciso VII (grifos nossos). 
De acordo com os arts. 49 e 50, a regularização fundiária poderá ser promovida pela União, pelos 
Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, e também pelos próprios beneficiários e por 
entidades privadas. Veja-se: 
Art. 49. Observado o disposto nesta Lei e na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, o Município 
poderá dispor sobre o procedimento de regularização fundiária em seu território. 
Parágrafo único. A ausência da regulamentação prevista no caput não obsta a implementação da 
regularização fundiária. 
Art. 50. A regularização fundiária poderá ser promovida pela União, pelos Estados, pelo Distrito 
Federal e pelos Municípios e também por: 
I - seus beneficiários, individual ou coletivamente; e 
II - cooperativas habitacionais, associações de moradores, fundações, organizações sociais, 
organizações da sociedade civil de interesse público ou outras associações civis que tenham por 
finalidade atividades nas áreas de desenvolvimento urbano ou regularização fundiária. 
Parágrafo único. Os legitimados previstos no caput poderão promover todos os atos necessários à 
regularização fundiária, inclusive os atos de registro. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011) 
 
Em todas as hipóteses, a lei exige a elaboração de projeto de regularização fundiária como 
requisito para implementação da política urbana e ambiental em questão. Tratando-se de 
regularização por interesse social, a aprovação do projeto competirá ao município, situação em 
que a aprovação municipal corresponderá ao licenciamento urbanístico e ambiental, se o 
Município possuir órgão ambiental capacitado para tanto (arts. 51 e 53). A regularização fundiária 
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para fim específico requer, ainda, a emissão das respectivas licenças urbanística e ambiental (art. 
61). Eis o que dispõe a lei: 
Art. 51. O projeto de regularização fundiária deverá definir, no mínimo, os seguintes elementos: 
I - as áreas ou lotes a serem regularizados e, se houver necessidade, as edificações que serão 
relocadas; 
II - as vias de circulação existentes ou projetadas e, se possível, as outras áreas destinadas a uso 
público; 
III - as medidas necessárias para a promoção da sustentabilidade urbanística, social e ambiental 
da área ocupada, incluindo as compensações urbanísticas e ambientais previstas em lei; 
IV - as condições para promover a segurança da população em situações de risco, considerado o 
disposto no parágrafo único do art. 3º da Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979; e (Redação 
dada pela Lei nº 12.424, de 2011) 
V - as medidas previstas para adequação da infraestrutura básica. 
[...] 
Art. 53. A regularização fundiária de interesse social depende da análise e da aprovação pelo 
Município do projeto de que trata o art. 51. 
§ 1º A aprovação municipal prevista no caput corresponde ao licenciamento urbanístico do projeto 
de regularização fundiária de interesse social, bem como ao licenciamento ambiental, se o 
Município tiver conselho de meio ambiente e órgão ambiental capacitado. (Incluído pela Lei nº 
12.424, de 2011) 
§ 2º Para efeito do disposto no § 1º, considera-se órgão ambiental capacitado o órgão municipal 
que possua em seus quadros ou à sua disposição profissionais com atribuição para análise do 
projeto e decisão sobre o licenciamento ambiental. (Incluído único pela Lei nº 12.424, de 2011) 
[...] 
Art. 61. A regularização fundiária de interesse específico depende da análise e da aprovação do 
projeto de que trata o art. 51 pela autoridade licenciadora, bem como da emissão das respectivas 
licenças urbanística e ambiental. 
 
A mencionada lei estabelece ainda, em seu art. 54, § 1º, a possibilidade de regularização fundiária 
por interesse social em Áreas de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de dezembro de 
2007 e inseridas em área urbana consolidada, desde que comprovado, por estudo técnico, que a 
intervenção implicará melhoria das condições ambientais em relação à situação anterior. 
O Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), também admite a regularização ambiental das 
ocupações consolidadas em Área de Preservação Permanente situadas em zonas urbanas, 
mediante a aprovação de projeto de regularização fundiária, na forma prevista na Lei nº 
11.977/2009, tanto para interesse social quanto para interesse específico, nos seguintes termos: 
Art. 64. Na regularização fundiária de interesse social dos assentamentos inseridos em área 
urbanade ocupação consolidada e que ocupam Áreas de Preservação Permanente, a 
regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização 
fundiária, na forma da Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. 
§ 1º O projeto de regularização fundiária de interesse social deverá incluir estudo técnico que 
demonstre a melhoria das condições ambientais em relação à situação anterior com a adoção das 
medidas nele preconizadas. 
[...] 
Art. 65. Na regularização fundiária de interesse específico dos assentamentos inseridos em área 
urbana consolidada e que ocupam Áreas de Preservação Permanente não identificadas como 
áreas de risco, a regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do projeto de 
regularização fundiária, na forma da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009. 
§ 1o O processo de regularização ambiental, para fins de prévia autorização pelo órgão 
ambiental competente, deverá ser instruído com os seguintes elementos: 
I - a caracterização físico-ambiental, social, cultural e econômica da área; 
II - a identificação dos recursos ambientais, dos passivos e fragilidades ambientais e das restrições 
e potencialidades da área; 
III - a especificação e a avaliação dos sistemas de infraestrutura urbana e de saneamento básico 
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implantados, outros serviços e equipamentos públicos; 
IV - a identificação das unidades de conservação e das áreas de proteção de mananciais na área 
de influência direta da ocupação, sejam elas águas superficiais ou subterrâneas; 
V - a especificação da ocupação consolidada existente na área; 
VI - a identificação das áreas consideradas de risco de inundações e de movimentos de massa 
rochosa, tais como deslizamento, queda e rolamento de blocos, corrida de lama e outras definidas 
como de risco geotécnico; 
VII - a indicação das faixas ou áreas em que devem ser resguardadas as características típicas da 
Área de Preservação Permanente com a devida proposta de recuperação de áreas degradadas e 
daquelas não passíveis de regularização; 
VIII - a avaliação dos riscos ambientais; 
IX - a comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade urbano-ambiental e de 
habitabilidade dos moradores a partir da regularização; e 
X - a demonstração de garantia de acesso livre e gratuito pela população às praias e aos corpos 
d'água, quando couber. 
 
O art. 429 da Lei Orgânica do MRJ determina que somente quando detectada a existência de risco 
de vida insanável, que não possa ser solucionado por intermédio de obras de urbanização o u 
estabilização, será realizado o remanejamento ou o reassentamento das famílias para localidades 
próximas, assegurada a participação da comunidade ou de seus representantes em todo o 
processo. 
A Lei Complementar nº 111 de 1º de fevereiro de 2011, que instruiu o Plano Diretor de 
Desenvolvimento Urbano Sustentável do Município do Rio de Janeiro, apresenta dentre 
os objetivos da Política de Meio Ambiente do Município do Rio de Janeiro. 
- proteger, preservar e recuperar os recursos ambientais com vistas à sua utilização 
racional, visando o equilíbrio entre o espaço construído e o natural, com distribuição equitativa dos 
recursos naturais; 
- sensibilizar e conscientizar a população, estimulando a participação individual e coletiva na 
preservação do meio ambiente, em busca de soluções conjuntas frente aos problemas 
ambientais e de um desenvolvimento urbano sustentável, ecologicamente equilibrado, 
socialmente justo, economicamente viável e culturalmente aceito; 
- valorização e recuperação do meio ambiente e do patrimônio natural, cultural e paisagístico; além 
de estabelecer diretrizes para controle e acompanhamento de áreas com passivos ambientais, 
áreas degradadas e ou contaminadas, visando a sua recuperação ambiental". 
A citação de todas as normas se justifica para indicar a possibilidade da regularização das 
ocupações antigas, eis que adaptado o meio ambiente à ocupação humana. Parece-me, data 
vênia, que este é o caminho para concretizar as duas normas constitucionais em aparente conflito, 
garantindo o direito à moradia dos que já estão estabilizados na área, os quais serão os principais 
interessados na promoção equilíbrio do meio ambiente. 
 
A adaptação do meio ambiente foi constatada pelo laudo pericial . Vejamos: 
"6. Queiram os Srs. Perito e Assistentes Técnicos informarem se o ecossistema 
local e o ambiente encontram-se em estado de equilíbrio na presença das 
ocupações vistoriadas, e se eventual remoção possui aptidão para romper a 
homeostase e desencadear novo e maior impacto do que a permanência das 
mesmas. 
Resposta: Sim, foi alcançado equilíbrio ambiental, em status quo distinto do original". (fls. 1325) 
No mesmo diapasão, socorro-me para a solução do conflito de precedente do E. Superior Tribunal 
de Justiça da relatoria do Min. Luiz Fux, análogo ao caso em concreto: 
 
2006/0059704-6 
Relator(a) 
Ministro LUIZ FUX (1122) 
Órgão Julgador 
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T1 - PRIMEIRA TURMA 
Data do Julgamento 
20/09/2007 
Data da Publicação/Fonte 
DJ 08/10/2007 p. 218 
Ementa 
"PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AO MEIO AMBIENTE. 
BACIA HIDROGRÁFICA ENVOLVIDA PELO DESENVOLVIMENTO URBANO. ÁREA DE 
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE. LAGO ARTIFICIAL. DETERMINAÇÃO DE 
ATERRAMENTO PARCIAL. URBANIZAÇÃO E SANEAMENTO. NECESSIDADE IMPOSTA PELA 
OCUPAÇÃO HUMANA. MEDIDA DE PROTEÇÃO À SAÚDE DA POPULAÇÃO. PROVA. 
ALTERAÇÃO AMBIENTAL QUE ATINGIU APENAS PARTE DA 
BACIA. PREVALÊNCIA DAQUELES VALORES. OPÇÃO ADMINISTRATIVA. CONJUNTURA DE 
FATO. SÚMULA 07/STJ. OFENSA AO ART. 535, DO CPC. INEXISTÊNCIA. 
1. O Recurso Especial não é servil ao exame de questões que demandam o revolvimento do 
contexto fático-probatório dos autos, em face do óbice erigido pela Súmula 07/STJ. 
2. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual em face de ex-prefeito, objetivando a 
realização de estudo técnico para reparação ou mitigação do impacto ambiental, bem como a 
condenação dos responsáveis nas despesas decorrentes das providências indicadas no laudo, 
além da compensação pelos danos não passíveis de reparação, ao fundamento de que o réu, 
quando prefeito, no ano de 1985, depois de ter determinado a instalação de drenos no Lago Igapó 
2, para recolher as águas das nascentes, autorizou que particulares despejassem toda a espécie 
de resíduos em parte alagadiça, transformando o local num depósito de lixo a céu aberto, 
mandando,após, recobrir o local com uma camada de 30 centímetros de terra, providenciando, 
ainda, o estreitamento do leito normal do Ribeirão Cambé. 
2. In casu, o Tribunal local analisou a questão sub examine - ocorrência de dano ambiental 
decorrente do aterramento de parte do Lago Guapó II situado no Município de Londrina - à luz do 
contexto fático-probatório engendrado nos autos, consoante se infere do voto condutor do acórdão 
hostilizado, litteris: 
"(...) No âmbito substancial, a respeitável sentença recorrida deve 
ser inteiramente preservada. Seu digno e culto prolator realizou uma análise aprofundada e 
sensata da séria questão em tela, revolvendo cuidadosamente a prova produzida, para concluir, 
acertadamente, que a administração pública nada mais fez do que exercer seus poder 
discricionário,dentro do limite da razoabilidade, ao determinar, como opção administrativa, a 
realização do aterro. 
Nela foram bem exaltados e sopesados os elementos da instrução que amparam o convencimento 
de que aquela obra tomou-se inevitável,desde que, a partir da formação artificial do Lago Igapó, 
em gestão administrativa anterior da Prefeitura, a primitiva e extensa bacia do Ribeirão Cambé e 
outras nascentes já havia sofrido relevante alteração, em decorrência do represamento das águas, 
que acarretou a 
formação da remanescente área de brejo aqui referida. Convém deixar bem enfatizado, pois, que 
o aterro feito pelo apelado WILSON MOREIRA desponta como uma obra complementar e que, 
supervenientemente, revelou-se necessária, em razão das conseqüência do represamento 
realizado em administração anterior. 
Ainda que se trate de uma importante bacia, caracterizada por nascentes, o relatório elaborado 
pelo Instituto Ambiental do Paraná 
registrou às fls. 337/337, que: 
"Com o passar do tempo, já na década de 50, devido à exploração minerária e outros impactos, a 
área foi alterada e degradada pelo uso, tendo perdido suas características naturais. Com a 
construção de casas na Rua Prol Joaquim de Matos Barreto houve o corte da base da encosta o 
que provocou o afloramento de algumas nascentes, atualmente conduzidas ao canal norte do 
aterro. (grifo nosso) A influência degradatória da presença do homem, portanto, já era bem ntiga. 
No mesmo trabalho, colhe-se mais adiante: 
Quando a represa do Lago Igapó 2 foi construida, a lâmina d'água não 
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cobria o trecho da planície hoje aterrada. Tempos depois o nível da água foi elevado, mas a 
lâmina ficou muito rasa gerando decomposição 
da vegetação existente, o que provocou mau cheiro e a proliferação de mosquitos, trazendo sérias 
complicações e desconforto à população residente. 
Segundo informações de antigo funcionário da prefeitura (Sr. Teophilo Paranaense Coutinho 
Gomes) houve a tentativa de retirada do 
material ali existente para aprofundar o fundo lago, o que se tentou 
por cerca de 3 anos. Porém o material retirado, por tratar-se de solo instável, retomava ao fundo 
do lago quando ocorriam chuvas. 
Assim, foram fastos muitos recursos e esforços, porém sem sucesso. Ainda de acordo com o Sr. 
Teophilo, como perdurasse o problema do mau cheiro e proliferação de mosquitos, procurou-se 
alternativas para resolver o problema. Na ocasião houve debate com diversos arquitetos da UEL e, 
em uma reunião na Prefeitura, quando era prefeito o Sr. Délio César, em substituição ao Dr. 
Wilson Moreira, foi decidido que a melhor alternativa seria o aterramento do local. Foi também 
definido que a área deveria ser gramada e arborizada com eucaliptos e destinada a práticas 
esportivas. 
O trabalho dá conta, ainda, de que apesar do aterro as nascentes foram preservadas e, nos seus 
demais recantos, a bacia mantém suas características primitivas, inclusive com áreas de retenção 
de curso, própria à sedimentação biológica(...) 
Ora, quando foi instituído o Parque Ecológico Linear do Ribeirão Cambé, pelo Decreto n. 369/95, 
como área de preservação permanente, o aterro já estava implantado, como alternativa de 
saneamento, para proteger a população. O local foi transformado em extenso parque verde, que 
se localiza entre os dois lagos (Igapó- I e Igapó- 11), preparado pela Administração Municipal 
como área pública de lazer, largamente freqüentada. 
Há toda uma conjuntura em que perdeu atualidade e objetividade a discussão sobre o argumento 
contido na inicial, de que o réu WILSON MOREIRA teria autorizado a população a fazer da área a 
ser aterrada um local de despejo de lixo e toda a espécie de detritos, sendo inconcludente em tal 
sentido, o acervo instrutório. Este mais convence que, se tal ocorria, era por iniciativa de pessoas 
desinformadas ou desatentas, carentes de educação ou consciência ecológica, o que traz à 
consideração as notórias dificuldades do poder público em conter práticas dessa natureza. Fato 
que, assim, concorria para estimular a Administração à alternativa de aterrar a área pantanosa, 
que estava em progressivo processo de poluição.(...) 
Assim, o Código Florestal, como também a Lei n. 6.938/81, esta já vigente à época dos fatos, 
notadamente seu art. 18, devem ter. sua interpretação contemporizada, no contexto do caso, em 
que a Administração Municipal estava às voltas com o prosseguimento de um projeto cuja 
execução fora iniciada anteriormente com a criação artificial do Lago Igapó, da qual já havia 
decorrido o impacto ambiental que" tudo faz crer, I resultou na formação do brejo, e as 
conseqüências da ocupação humana dos setores marginais, com todas as 
suas repercussões negativas.(...) 
Em suma, porque irretocável, deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos, aos 
quais se somam os aqui expendidos, a respeitável sentença recorrida, que concluiu pela 
improcedência do pleito deduzido nesta ação civil pública por danos ao meio ambiente." 
3. Inexiste ofensa ao art. 535, I e II, CPC, quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma 
clara e suficiente sobre a questão posta nos autos, cujo decisum revela-se devidamente 
fundamentado. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos 
trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a 
decisão. Precedente desta Corte: RESP 658.859/RS, publicado no DJ de 09.05.2005. 
4. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido." 
 
Não obstante as considerações, a solução ideal não foi objeto de pedido do autor da presente 
demanda, de tal sorte que nada se pode fazer acerca das ocupações já estabilizadas. 
Foram identificadas, no entanto, pelo laudo pericial a existência de construções com cerca de 5 
(cinco) anos e ainda, construções em andamento. In verbis: 
"15. Queira o Sr. Perito informar, se nas comunidades objeto da lide existem 
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construções em andamento. Caso positivo, queira quantificá-las e apresentar registro 
fotográfico correspondente. 
Resposta: Sim, que devem ser coibidas pelo Poder Público. (fs. 1280)" 
Quanto ao dano ambiental, constatou o laudo pericial: 
 "A comunidade Vale Encantado restou originada do abandono das áreas de 
exploração de granito preto, não sendo verificado forte adensamento, todavia, 
degradação ambiental decorrente de ação antrópica. Há reduzido desvio do curso d'água e 
invasão da faixa marginal de proteção. Ainda foram verificadas bananeiras, 
propiciando pouca proteção contra a desagregação do solo. Na comunidade João 
Lagoa também restou verificada a degradação ambiental. Na comunidade do Açude, 
além da degradação ambiental, foi verificada captação de água do PNT. Na estrada de Furnas N° 
866 foi observada a degradação ambiental e casas de segmentos diversos. Na Comunidade do 
Tijuaçu há moradias antigas com degradação ambiental evidente, além de desrespeito 
ao ecolimite estabelecido. Na comunidade Fazenda também há degradação ambiental, 
desrespeito à linha do ecolimite e adensamento, impactando o fluxo do rio 
Cachoeira (descarte de esgoto). Na comunidade Biquinha também restou constatada 
degradação ambiental. Na comunidade Ricardinho também subsistea degradação ambiental com 
prejuízo ao fluxo do córrego Santo Antônio. No morro do banco foram flagradas construções 
recentes, em divergência àquelas antigas existentes, além de adensamento. 
Em regra, em todas as comunidades a degradação ambiental foi observada, 
decorrente da antropização da área. Parte da área da demanda não está 
abastecida/esgotada pela CEDAE, havendo a utilização de nascentes para captação e 
descarte de esgotos nos corpos hídricos, sendo também observados o desrespeito às linhas 
do ecolimite e invasão da faixa marginal de proteção dos cursos d'água existentes em 
cada localidade. Os ecolimites marcam uma mudança qualitativa no espaço urbano, 
atuando na ordenação espacial. Os ecolimites não estão sendo respeitados, todavia 
a verificação de ortofotos (1999 a 2012) não revelou gradiente de expansão 
considerável das comunidades da lide, embora a degradação ambiental seja evidente, 
consoante restou constatado na diligência realizada". (fls. 1507/1508) 
Mais adiante, prossegue o laudo pericial: 
"Como conduta geral, o Poder Público deve intensificar a política de 
fiscalização/contenção para evitar a expansão desordenada, removendo as construções 
irregulares recentes, efetuar a avaliação de risco físico (adensamento/suscetibilidade), 
promover o reflorestamento das áreas atingidas, combater o uso indevido dos corpos 
d'água, realizar a coleta de lixo, instaurar a educação ambiental com amplitude e profundidade 
(conhecimento, importância e disciplina consciente) e implementar as medidas básicas mínimas 
de saneamento e de abastecimento de água. Com tais medidas o princípio da 
sustentabilidade restará privilegiado, sem olvidar os aspectos social, cultural e econômico". (fls. 
1530) 
Evidenciada a omissão das autoridades competentes do Município do Rio de Janeiro no controle 
da expansão desordenada da área, merece procedência o pedido condenatório de obrigação de 
fazer de fiscalizar e adotar medidas de contenção do processo de invasão e ocupação irregular 
nas comunidades, em relação às ocupações construídas nos últimos 5 (cinco) anos. 
Da Improbidade Ambiental. 
Inovando na aplicação da Lei n. 8429/92, pretende o autor sejam os réus condenados nos termos 
dos arts. 11 e 12 da referida lei. 
Acerca do tema, vale destacar que o Superior Tribunal de Justiça compreende necessário à 
caracterização do ato de improbidade ambiental os mesmos requisitos dos atos de improbidade, 
quais sejam, o objetivo (ação ou omissão contrária à lei) e o subjetivo (dolo). 
REsp 1388405 / ES 
RECURSO ESPECIAL 
2013/0175080-0 
Relator(a) 
Ministro HUMBERTO MARTINS (1130) 
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Órgão Julgador 
T2 - SEGUNDA TURMA 
Data do Julgamento 
24/11/2015 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 12/02/2016 
Ementa 
"ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONDUTA OMISSIVA QUANTO 
AO CUMPRIMENTO DE ACORDO, NA DEFESA DO MEIO-AMBIENTE. CARACTERIZAÇÃO 
DE ATO ÍMPROBO. ART. 10 DA LEI 8.429/1992. DOSIMETRIA. REVISÃO. 
SÚMULA 7/STJ. 
1. No caso dos autos, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região entendeu configurado o ato de 
improbidade do art. 10 da Lei 8.429/1992, porque o recorrente, à época em que prefeito de Vila 
Velha/ES, por meio de conduta culposa, negligente, teria sido omisso quanto à tomada de 
decisões necessárias ao cumprimento de acordo firmado antes mesmo do início de seu mandado 
eletivo, acordo necessário à defesa de área que se pretendia proteger ambientalmente. 
2. Para a caracterização de atos de improbidade, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido 
que a conduta do agente deve ser dolosa para os atos descritos nos arts. 9º e 11 da Lei 
8.429/1992; e dolosa 
ou culposa naqueles constantes do art. 10 da Lei 8.429/1992. 
3. Atentando-se para as premissas fáticas estabelecidas pelo Tribunal de origem, não há como se 
entender pela não configuração do ato de improbidade, uma vez que o não agir do prefeito, 
mesmo ciente da necessidade de ações para evitar maiores danos ambientais à área em questão, 
denota mesmo conduta negligente com a área que se queria 
preservada. 
4. Como gestor municipal, uma de suas atribuições é a de tomar decisões em defesa do meio 
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (art. 23, I, da Constituição Federal). 
E, se 
essa obrigação ainda é reforçada em acordo firmado pela municipalidade, mesmo que em 
instrumento anterior a seu mandato, tem 
o prefeito a obrigação de tomar as providências cabíveis, seja porque consta do acordo realizado 
com a municipalidade, seja porque é munus natural de seu cargo. 
5. O acórdão recorrido registra que haveria omissão quanto à proteção da área da Lagoa do 
Cocal, o que permitiu ocupação irregular do terreno de marinha e, ainda, danos à flora, à fauna, ao 
solo e à água, tem-se por configurado o dano necessário à caracterização do ato ímprobo, uma 
vez que a negligência permitia a contínua degradação do patrimônio público, o que, em 
decorrência lógica, reflete no erário não só municipal, como federal. 
6. A depender dos elementos contidos na situação fático-jurídica delineada no acórdão recorrido, 
pode-se aferir ou não, em sede de recurso especial, se a condenação observa o princípio da 
proporcionalidade. A respeito, vide: AgRg no REsp 1.361.984/SC, Rel. 
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12/06/2014; REsp 1.114.254/MG, Rel. Ministro 
Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 05/05/2014. 
7. No caso dos autos, a revisão da dosimetria das sanções aplicadas implica reexame do conjunto 
fático-probatório dos autos, o que esbarra na Súmula 7/STJ, salvo em casos excepcionais, nas 
quais, da leitura do acórdão, exsurgir a desproporcionalidade entre o ato praticado e as sanções 
aplicadas, o que não é o caso vertente. Recurso especial não conhecido." 
 
Ocorre que não restou demonstrada a omissão no dever de agir ao tempo da propositura da ação, 
conforme abordado pelo laudo pericial, o qual destacou inclusive a ponderação de planos 
ambiental, social e histórico-cultural. 
In verbis: 
"Na época do ajuizamento do referido feito, a atitude adotada pelos Réus foi, sob a ótica técnica, 
adequada (fiscalização e contenção), haja vista que foram ponderados os planos 
ambiental, social e histórico-cultural. As administrações municipais mais recentes, a partir de 
Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário 
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MARIAPAULA 
2010, não tomaram as devidas providências para coibir as novas ocupações irregulares". (fls. 
1283) 
Não comprovada a omissão ilegal do 2º Réu, igualmente não pode se compreender caracterizado 
o elemento subjetivo do dolo. 
 
Do dano moral 
 
Por fim, relativamente ao dano moral, as circunstâncias específicas do caso levam à conclusão de 
que não há dano moral a ser indenizado, considerando a parcial adaptação do meio ambiente. 
 
Por outro lado, não se pode cogitar de dano moral quando o autor não deduziu pedido de 
recuperação dos danos ambientais. 
 
ISTO POSTO, JULGO PROCEDENTE EM PARTE OS PEDIDOS, condenado o MRJ na 
obrigação de fazer de fiscalizar e adotar medidas de contenção do processo de invasão e 
ocupação irregular com tempo igual ou menor a 5 (cinco) anos, nas Comunidades VALE 
ENCANTADO, JOÃO LAGOA, AÇUDE, FAZENDA, BIQUINHA, FURNAS, RICARDINHO, MORRO 
DO BANCO, TIJUAÇU, MATA MACHADO, AGRÍCOLA, ESTRADA DOSOBERBO E FRUNAS 
No. 866. 
JULGO IMPROCEDENTES OS DEMAIS PEDIDOS em relação ao Município do Rio de Janeiro. 
Ante a sucumbência recíproca, custas distribuídas, observadas as isenções legais, sem 
honorários. 
 JULGO IMPROCEDENTES OS PEDIDOS em relação ao Segundo Réu. Deixo de condenar o 
Autor em custas e honorários por força do disposto no art. 18, da Lei n. 7.347/1985. 
 
P.I. 
 
Rio de Janeiro, 15/03/2016. 
 
 
Maria Paula Gouvea Galhardo - Juiz Titular 
 
 
___________________________________________________________ 
 
Autos recebidos do MM. Dr. Juiz 
 
Maria Paula Gouvea Galhardo 
 
Em ____/____/_____ 
 
 
 
 
 
 
 
Código de Autenticação: 4BKG.GGWF.ZKTU.EISB 
Este código pode ser verificado em: http://www4.tjrj.jus.br/CertidaoCNJ/validacao.do 
Øþ 
		2016-03-15T16:06:39-0300
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