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DIREITO Á CIDADE (2)

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6
UNIVERSIDADE NOVA IGUAÇU
 
Nathan de Lima Rocha Martins Gomes
Direito à Cidade: uma análise crítica acerca da adoção da reserva do possível como óbice a consecução do princípio da universalidade em matéria de Saneamento Básico brasileiro.
Nova Iguaçu 
2021
Nathan de Lima Rocha Martins Gomes
Direito à Cidade: uma análise crítica acerca da adoção da reserva do possível como óbice a consecução do princípio da universalidade em matéria de Saneamento Básico brasileiro.
Artigo científico apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Iguaçu como exigência final para obtenção do título de bacharel em Direito.
Orientador(a): Prof.ª Raphael Eyer
Coorientador(a): Prof.ª Anna Esser
Nova Iguaçu
2021
SUMÁRIO PROVISÓRIO
1- Introdução............................................................................................................... 5
2- A evolução histórica do saneamento básico no Brasil......................................... (13 pg)
a. O adensamento populacional nos centros urbanos e o surgimento de novas demandas sociais
b. Do arcabouço legislativo pátrio em matéria de saneamento básico
c. A noção do saneamento básico a partir da ótica da Carta Magna de 1988
3- A importação da teoria da reserva do possível para o ordenamento jurídico brasileiro (13 pg)
4- A afronta à dignidade da pessoa humana evidenciada pela obstaculização à concretização do princípio da universalização no serviço público urbano de abastecimento e esgotamento sanitário, mediante o uso indevido da teoria da reserva do possível no caso ...............................................................................................(14 pg)
5- Conclusão ...............................................................................................................(2pg)
Direito à Cidade: uma análise crítica acerca da adoção da reserva do possível como óbice a consecução do princípio da universalidade em matéria de Saneamento Básico brasileiro.
Nathan de Lima R. M. Gomes
TEMA: O saneamento básico no contexto urbano brasileiro
DELIMITAÇÃO DO TEMA: 
Restringe-se o escopo analítico do trabalho acerca da obstaculização à concretização do postulado da universalidade em matéria de serviços públicos urbanos essenciais ao contexto urbano como saneamento básico, por meio do uso indevido da teoria da reserva do possível.
JUSTIFICATIVA:
A matéria acerca de saneamento no Brasil vem iniciando uma nova fase com o seu marco legal regulatório e institucional. Com a retomada dos investimentos, o que evidencia-se que este assunto deixou de ser uma questão meramente acessória, e se tornou fundamental no escopo social e legal da sociedade. Contudo, atualmente, o Brasil ocupa a 112º posição no ranking de maior taxa de saneamento básico, posição explicitamente alarmante, para um problema que alcança, aproximadamente, 35 milhões de brasileiros e 5570 municípios brasileiros. Com o objetivo de explicitar a importância do tema, o trabalho apontará os obstáculos e as inconsistências do processo do desenvolvimento dos serviços públicos em matéria de saneamento, e como a teoria da reserva do possível não pode ser utilizada como impeditivo para esta questão de dignidade e universalidade de direito, e demostrar que a questão sanitária não é somente um direito social, mas também, na sua ausência, uma afronta a dignidade humana. 
PROBLEMA(S)
A- Com o desenvolvimento massivo populacional, surge a dificuldade de um desenvolvimento democrático de expansão do saneamento básico na sociedade, rompendo com novas demandas para requisição de Direitos.
B- Com o amparo do Estado na questão de acessibilidade sanitária, unido ao Direito á Cidade e ao Saneamento Básico poder evitar violações constitucionais e assim gerar direitos cumulativos?
C- A teoria da reserva do possível configura um obstáculo à consecução da universalização do saneamento básico no Brasil?
HIPÓTESES
A - O crescimento populacional da sociedade, exponencialmente, faz com que o fornecimento e o acesso ao saneamento de forma igualitária se tornem bem custoso e difícil.
B - O saneamento básico como um dos direitos primários a serem oferecidos para a sociedade, abrange direitos como à cidade, à dignidade e à saúde.
C- A teoria da reserva do possível é óbice a universalização do saneamento básico, e não deve ser invocada quando fere a dignidade humana. O Estado não pode se distanciar do mínimo existencial e ir contra a Constituição Federal, por não ofertar condições básicas para evitar que a dignidade da pessoa humana seja desconsiderada nos seus limites territoriais. 
OBJETIVO:
Mostrar o avanço da questão sanitária do Brasil como uma conquista ao Direito à cidade e um direito fundamental constitucional, bem como demonstrar a indevida obstaculização à universalização deste direito fundamental por meio do discurso da reserva do possível.
OBJETIVO ESPECÍFICOS:
A- Coletar na doutrina o conceito de saneamento básico, e dados geodemográficos que evidenciem o adensamento e a má distribuição deste recurso.
B- Coletar na doutrina os direitos com relação ao saneamento básico e outros direitos satélites ao mesmo.
C- Coletar na doutrina o conceito da teoria da reserva do possível e sua implementação no Brasil e prestar uma análise casuística em que essa teoria foi óbice a universalização do direito à cidade no escopo do serviço público de saneamento básico. 
METODOLOGIA
Para o presente trabalho, realizou-se uma pesquisa bibliográfica. Com isso, buscando relações entre conceitos jurídicos, leis, jurisprudências, dados, características e ideias, as vezes unindo dois ou mais temas. 
Para Severino (2007), a modalidade de pesquisa aqui empregada se define a partir do registro disponibilizado em diversas fontes, que decorre de pesquisas já feitas, em livros, artigos, teses e documentos impressos. Desse modo, os textos tornam-se fontes dos temas que serão trabalhados e pesquisados. Para Martins e Lintz (2000), essa pesquisa busca conhecer e analisar contribuições científicas sobre determinado assunto. Alves (2007, p. 55) escreve:
“Pesquisa bibliográfica é aquela desenvolvida exclusivamente a partir de fontes já elaboradas – livros, artigos científicos, publicações periódicas, as chamadas fontes de “papel”. Tem como vantagem cobrir uma ampla gama de fenômeno que o pesquisador não poderia contemplar diretamente.”
Para busca de trabalhos foram utilizados os descritores: leis, artigos, projetos de pesquisa, dados geodemográficos, sensu e jurisprudências; que comprovem a importância da matéria de Saneamento Básico no Brasil, seu amparo legal, seus princípios e tutelas legais, e seu relacionamentos com outros temas correlatos a questão, o que implica saúde, demografia, cidadania e urbanismo. 
A análise das informações foi realizada por meio de leitura exploratória do material encontrado, em uma abordagem qualitativa.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a sociedade enfrenta transformações políticas, sociais, econômicas e ambientais. Os principais problemas que assolam a população estão interligados às garantias dos direitos fundamentais sociais. A falta de acesso aos direitos sociais básicos indica um compilado de desigualdade social, caracterizando uma injustiça social e até mesmo ambiental. A questão sanitária implica diretamente a dignidade do ser humano com o meio natural, e sua mínima qualidade de vida amparada constitucionalmente. A qualidade de vida urbana e ambiental deve ser reconhecida como elemento integrante do princípio da dignidade da pessoa humana, sendo fundamental ao desenvolvimento do ser humano e o bem-estar existencial social. 
	Diante disso, para o presente trabalho, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, buscando relações entre conceitos jurídicos, leis, jurisprudências, dados, características e ideias, as vezes unindo dois ou mais temas que evidenciem a importância desta matéria para a construção de uma sociedade universalizada pelo acesso a este serviço público, diga-seSaneamento Básico. Para o leitor, expõe-se claramente que o saneamento básico é o tema deste trabalho científico, mostrando a sua evolução histórica, e delimitando-se sua abrangência ao escopo analítico acerca da obstaculização à concretização do postulado da universalidade em matéria de serviços públicos urbanos essenciais ao contexto urbano como saneamento básico, por meio do uso indevido da teoria da reserva do possível.
	O presente trabalho possui grande relevância social, jurídica e acadêmica, o que motiva sua elaboração ao passo que o tema saneamento básico ganhou espaço nas discussões atuais iniciando uma nova fase com o seu marco legal regulatório e institucional. Com a retomada dos investimentos, evidencia-se que este assunto deixou de ser uma questão meramente acessória, se tornou fundamental no escopo social e legal da sociedade. O Brasil ocupa a 112º posição no ranking de maior taxa de saneamento básico, posição explicitamente alarmante, para um problema que alcança, aproximadamente 35 milhões de brasileiros e 5570 municípios brasileiros. O debate acerca da efetividade do direito fundamental ao saneamento básico no Brasil adquiriu um novo contorno a partir de seu novo Marco Legal, lei 14.206 aprovado recentemente no dia 24 de agosto de 2020 pelo Senado Federal. 
Este marco legal, visa aumentar o índice de acesso ao saneamento básico no Brasil em treze anos, objetivando assim, aumentar toda sua estrutura de abastecimento de água potável para população brasileira em 99%, e sua rede de coleta e tratamento de esgoto em 90%, gerando para o Estado um investimento de até 600 bilhões no setor. 
Preliminarmente, o que se discute, explicitamente são os investimentos do Estado e o acesso da população a serviços públicos classificados como essenciais pela sua relação com o princípio da dignidade da pessoa humana e que, por uma razão possivelmente injustificável, não são devidamente ofertados.
É sabido que é dever da Administração Pública disponibilizar a todos o acesso a bens essenciais que são oriundos do princípio da universalização dos serviços públicos, segundo o qual em sua prestação, o Poder Público deverá disponibilizá-lo à população sem fazer qualquer distinção entre as pessoas. 
 	Ainda assim, com a retomada de discussões recentes sobre a matéria de saneamento básico, nota-se que ainda existem serviços inerentes a mesma que a população sequer tem acesso ou se tem, é de modo precário, não fornecendo o amparado garantido constitucionalmente. Muito é abordado acerca no direito à saúde, obviamente partindo da necessidade de que a população tem de ter um bom atendimento médico e uma estrutura em hospitalar exemplar, todavia pouco se aborda, acerca da universalização de um serviço público de suma importância para a população e que possui relação intrínseca com a saúde, tal qual, o saneamento básico.	
No Brasil é ainda algo de bastante estranheza e muitas questões ainda são debatidas, como a competência para sua prestação, ainda que o Supremo Tribunal Federal tenha estabelecido a competência partilhada entre Estado e municípios em 2013, é nebuloso como isso será instrumentalizado, as formas de prestação no que concerne a concessão e delegação a particulares, consórcios públicos, convênios de cooperação entre entes federativos ou até mesmo parcerias público-privadas, a sua regulação e a participação social na elaboração de políticas de saneamento básico. 
Diante da relevância do serviço público de saneamento básico, cabe dizer que todos deverão ter acesso a este serviço de modo universal e eficaz, não podendo o município, o Estado ou o País, se negar de fornece-lo. Contudo, a realidade ainda é distante deste ideal. Adotando um estudo divulgado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e pelo Instituto Trata Brasil (2014), o Brasil ocupa a 112ª posição em um conjunto de 200 países avaliados no quesito saneamento básico. É um resultado alarmante para um país que é hoje a 13º economia do mundo e que tem chances de crescimento ainda maiores no cenário global. Para que se obtenha um resultado positivo em um futuro próximo, é necessário unir esforços dos sistemas jurídico e político na criação de leis e políticas públicas e realização de investimentos, seguido da colaboração da população em geral, exercendo a democracia e provocando movimentação do ordenamento jurídico para satisfazer os anseios coletivos referentes a esta matéria.
Com isso, o trabalho apontará os obstáculos e as inconsistências do processo do desenvolvimento dos serviços públicos em matéria de saneamento, coletando na doutrina e jurisprudência, bem como dados geodemográficos e socias que demonstrem como a teoria da reserva do possível não pode ser utilizada como impeditivo para esta questão de dignidade e universalidade de direito, e demostrar que a questão sanitária não é somente um direito social, mas também, na sua ausência, uma afronta a dignidade humana. 
1- A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL.
Por milhares de anos, o Brasil foi habitado apenas por tribos indígenas, as quais sua única preocupação era a busca de sanear suas necessidades básicas, devido ao vasto território que possuíam, não tinham preocupações com saneamento. A utilização da água pura e os hábitos salutares que os índios possuíam, como: Banho diário, locais específicos para fazer suas necessidades fisiológicas e jogar o lixo, proporcionaram aos índios saúde estável[footnoteRef:1] [1: HELLER, L. et al (coord.) Saneamento e Saúde em Países em Desenvolvimento. Rio de Janeiro: CC&P Editores Ltda, 1997
] 
Atualmente o Brasil está no quinto lugar entre os países mais populosos, sobrepujado apenas pela China (1,3 bilhão), Índia (1,1 bilhão), Estados Unidos (314 milhões) e Indonésia (229 milhões). Apesar de toda população, temos em torno de 22,4 hab./km2, o que qualifica o país como pouco povoado. Ainda assim, com um número considerável de pessoas residentes num mesmo território é imprescindível destacar que não é desde sempre que se possui, apesar de não ser o ideal, a qualidade de tratamento e de acesso ao saneamento básico como nos dias de hoje.[footnoteRef:2] [2: Disponibilizado por https://www.todamateria.com.br/populacao-brasileira/] 
O primeiro registro de saneamento no Brasil data do ano de 1561, quando o fundador Estácio de Sá escavou o primeiro poço para abastecer o Rio de Janeiro. Na capital, o primeiro chafariz foi construído em 1744. No Brasil, no período colonial as ações de saneamento eram feitas de forma individual, restringindo-se timidamente à drenagem de terrenos e instalação de chafarizes.[footnoteRef:3] [3: Informação disponibilizada por UFMG – 	ICNT https://etes-sustentaveis.org/historia-saneamento-brasil/] 
Em 1750, durante o governo de Gomes Freire de Andrade, foram construídos os Arcos de pedra e cal do aqueduto que hoje chamamos de Arcos da Lapa.
Em 1864, na cidade do Rio de Janeiro foi concluída a instalação da primeira rede de esgoto 
Durante a história do saneamento do Brasil houveram fatores que dificultaram o progresso ao longo dos anos. Podemos citar alguns obstáculos que impediram (e ainda impedem) que o desenvolvimento dessa área não tenha atingido crescimento expressivo durante esse período, são eles:
· A falta de planejamento adequado;
· O volume insuficiente de investimentos;
· Deficiência na gestão das companhias de saneamento;
· A baixa qualidade técnica dos projetos e a dificuldade para obter financiamentos e licenças para as obras.
Embora tenham sido construídas obras de abastecimento e esgotamento sanitário, as mesmas eram insuficientes pois abrangiam apenas os grandes centros urbanos, devido à falta de serviços para as pequenas populações, os serviços de infraestrutura passaram a ser feitos através de concessão à iniciativa privada, assim como os serviços de água e esgotos.[footnoteRef:4] [4: BORJA, Patrícia Campos. Política pública de saneamento básico: uma análise da recente experiência brasileira. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 23, n. 2, p.432-447, abr./jun. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000200007. Acesso em: 21 jan. 2020.] 
Sobre o Saneamento básico no período da República MIRANZI salientam:
Com a proclamação da República, a federalização e a autonomia, as questões de saúde pública, passaram a fazer parte das atribuições dos Estados. O Serviço Sanitário, criado pela Lei número 43 de 18 de junho de 1892, ficou subordinado à Secretaria do Estado do Interior, e era composto de um conselho de Saúde Pública, responsável pela emissão de pareceres acerca da higiene e salubridade e de uma diretoria de higiene, responsável pelo cumprimento das normas sanitárias. Era de competência da diretoria o estudo das questões de saúde pública, o saneamento das localidades e das habitações e a adoção de meios para prevenir, combater e atenuar as moléstias transmissíveis, endêmicas e epidêmicas.[footnoteRef:5] [5: MIRANZI, Mário Alfredo Silveira et al. Compreendendo a história da saúde pública de 1870-1990. Saúde Coletiva, São Paulo, v. 7, n. 41, p. 157-162, 2010. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/842/84213511007.pdf. Acesso em: 22 maio 2018.] 
Silva ainda enfatiza que:
Os serviços de abastecimento de água e esgotos estavam sob o encargo do Estado, mas a infraestrutura era de incumbência das empresas estrangeiras, enquanto que a maior parte de materiais, insumos e técnicas eram importados, cabendo ao Estado somente a regulamentação das concessões.[footnoteRef:6] [6: SILVA, Elmo Rodrigues da. Os cursos da água na história: simbologia, moralidade e a gestão de recursos hídricos. Tese (Doutorado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro,1998. Disponível em: http://www.bvsde.paho.org/bvsarg/p/fulltext/brasil/brasil.pdf. Acesso em: 30 maio 2018.] 
O avanço das epidemias trazidas da Europa, tornou-se necessário uma maior vigilância sanitária. Foi então que no ano de 1894, o primeiro Código Sanitário do Estado de São Paulo foi promulgado, com 520 artigos, reunindo as normas de higiene e saúde pública.
Com o objetivo de combater a peste bubônica detectada no Porto de Santos, em 1900 foi criado o Instituto Soroterápico no Rio de Janeiro. Devida à situação de saúde caótica que a então capital federal vivia, sob o governo de Rodrigues Alves, no dia 23 de março de 1903 o médico Oswaldo Cruz assume a Diretoria Geral de Saúde Pública, cargo este que, equivale ao de ministro da Saúde.
Sobre o governo de Rodrigues Alves, a Fundação Oswaldo Cruz (1992) acrescenta que o mesmo “assumiu presidência da República prometendo submeter a capital a uma profunda cirurgia urbana”. O objetivo era terminar com a febre amarela e outras doenças epidêmicas que tornavam a cidade um "porto sujo”. Para extirpar as doenças, o médico Oswaldo Cruz, com o apoio do governo, realizou inspeção sanitária em 23 portos além de campanhas de vacinação.
Uma destas campanhas de vacinação teve grande resistência de parte da população, gerando uma grande revolta que ficou conhecida como a “Revolta da Vacina”. Sobre esta revolta Mayla Yara Porto (2003) acrescenta:
Em 1904, a cidade foi assolada por uma epidemia de varíola. Oswaldo Cruz mandou ao Congresso uma lei que reiterava a obrigatoriedade da vacinação, já instituída em 1837, mas que nunca tinha sido cumprida. Ciente da resistência da opinião pública, montou uma campanha em moldes militares. Dividiu a cidade em distritos, criou uma polícia sanitária com poder para desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos. Com a imposição da vacinação obrigatória, as brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força. Isso causou uma repulsa pela maneira como foi feita. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção de líquidos desconhecidos poderia causar no corpo das pessoas. Setores de oposição ao governo gritaram contra as medidas autoritárias. Quase toda a imprensa ficou contra Oswaldo Cruz, ridicularizando seus atos com charges e artigos.[footnoteRef:7] [7: Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252003000100032] 
Além do médico Oswaldo Cruz, o engenheiro Saturnino de Brito destaca-se na história sendo considerado o pai da Engenharia Sanitária e Ambiental no país, foi responsável por várias obras, como sistemas de distribuição de águas e coleta de esgotos em várias capitais do país. Uma de suas principais obras foram os canais de drenagem de Santos, criados em 1907 com o objetivo de evitar a proliferação de insetos nas áreas alagadas e que funcionam ainda hoje.
Um acontecido importante para o combate das enfermidades e o desenvolvimento das políticas de saneamento básico no Brasil foi à primeira guerra mundial. Nísia Trindade Lima e Gilberto Hochman salientam que o período da primeira guerra mundial e os primeiros anos seguintes, foram marcados por inúmeros movimentos nacionalistas tanto no Brasil como no exterior.[footnoteRef:8] [8: Nísia Trindade Lima e Gilberto Hochman 1996, p 25] 
Com ênfase nos movimentos na área da saúde sanitária no país propriamente dito, temos outras pessoas que marcaram por sua importância além de Oswaldo Cruz. Os médicos Belisário Penna e Arthur Neiva foram de suma importância nas demandas e tratativas de saneamento no Brasil. Belisário buscou repercutir na mídia os problemas que o campesino enfrentava com saúde e saneamento básico, enfatizando a necessidade de unir o país, tanto o homem da capital e do interior. Aos poucos conseguiu reunir importantes setores das elites intelectuais e políticas que fizeram parte da criação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, fundada em fevereiro de 1918.
A Liga Pró-Saneamento tinha como um de seus objetivos alertar as autoridades públicas e as elites intelectuais sobre os problemas que a falta de saneamento no interior do Brasil poderiam causar.
Tendo o apoio do então Presidente da República, Wenceslau Brás, a Liga Pró-Saneamento dirigida por Belisário, realizou intensa propaganda da campanha sanitária nacional. Neste intento Belisário Penna contou com a ajuda do escritor Monteiro Lobato, o qual através do personagem Jeca Tatu chamava a atenção principalmente da elite para as condições de vida do homem do campo.
Os movimentos em prol da organização da saúde no Brasil geraram bons resultados. É o caso da criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, liderado pelo médico Carlos Chagas que além de participar ativamente a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, reorganizou os Serviços de saúde Pública.
As consequências da crise de 1929 nos Estados Unidos, o fim da República Velha e a revolução de 1930 contribuíram para que ocorressem mudanças e transformações na estrutura social e econômica do Brasil. Neste período acontece o êxodo rural, devido à grande industrialização proporcionada pelo governo do então Presidente Getúlio Vargas.
 Um importante acontecido para o saneamento básico no Brasil foi à criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, pelo Decreto nº 19.402, de 14 de novembro de 1930. Até então os serviços relacionados com a saúde pública estavam sendo administrado pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores. 
Ainda que a Constituição de 1824 seja inspirada na Carta Magna da Inglaterra, e, a segunda constituição de 1891 seja tangente na Constituição dos Estados Unidos, ambas não abordam explicitamente da saúde pública em seu texto. Enfim, com a Constituição de 1934 que a saúde pública tomou parte do texto legislativo.
Em seu 10º artigo, a Constituição de 1934 relacionou à União e os Estados a tutela da saúde, determinando que “compete concorrentemente à União e aos Estados: 
I- velar na guarda da Constituição e das Leis; 
II- cuidar da saúde e assistência públicas”.
Além de atribuir a União e os Estados o cuidado da Saúde, a Constituição de 1934, em seu artigo 121, parágrafo 1º, alínea “h”, garantia:
[...] assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante assegurando a este descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário a do emprego e instituição de previdência, mediantecontribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidente de trabalho ou de morte.[footnoteRef:9] [9: BRASIL, Constituição federal 1934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm] 
Em seu artigo 138, a Constituição de 1934 outorgou responsabilidades não apenas para a União e os Estados, mas também incluía a participação dos municípios nos problemas sanitários:
Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas:
[...] f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis. [footnoteRef:10] [10: BRASIL, Constituição federal 1934, Art. 138. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm
] 
Com vigência até hoje, em 1934 foi aprovado o Decreto que instituiu o Código de Águas. Entre os vários assuntos que abordam o uso dos recursos hídricos, para Elmo Rodrigues da Silva, o Código pode ser considerado a “base para a gestão pública do setor de saneamento, sobretudo no que se refere à água para abastecimento”.[footnoteRef:11] [11: Elmo Rodrigues da Silva (1998) Disponível em: https://www.pick-upau.org.br/mundo/curso_agua/O%20Curso%20da%20%c1gua%20na%20Hist%f3ria.pdf] 
O envolvimento e a participação do Brasil nos congressos e reuniões junto aos representantes de outros pais da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), resultaram em acordos internacionais. Entre eles os acordos de Washington que daria origem ao Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) resultado da III Conferência de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, realizado em 1942 no Rio de Janeiro.
 
Nas diretrizes do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, foi aprovada a Lei Federal nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, a qual estabelece normas para o saneamento básico, de forma que altera as leis: 6.766, de 19 de dezembro de 1979; 8.036 de 11 de maio de 1990; 8.666 de 21 de junho de 1993; 8.897 de 13 de fevereiro de 1995; também revogas a lei 6.528 de 11 de maio de 1978.[footnoteRef:12] [12: BRASIL. Lei nº. 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências.] 
A Lei Federal nº 11.445/07 tem como princípios imprescindíveis a saúde pública, segurança de vida, proteção ao meio ambiente, adequação a particularidades locais, planejamentos de desenvolvimento urbano e regional, e o combate à pobreza.
Em seu artigo 3° a lei Federal nº 11.445/07 define saneamento básico da seguinte forma:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - Saneamento básico: conjunto de serviços, infra- estruturas e instalações operacionais de:
a)     abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;
b)     esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;
c)     limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
d)     drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas (Redação dada pela Lei nº 13.308, de 2016).
Por fim, chegando na mais recente atualização da matéria de saneamento básico diante da aprovação da Lei nº 14.026/2020, que atualiza o marco legal do saneamento básico, a relação regulatória entre a ANA e o setor de saneamento atingirá um novo patamar, já que a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico passará a editar normas de referência. Estas regras de caráter geral deverão ser levadas em consideração pelas agências reguladoras de saneamento infranacionais (municipais, intermunicipais, distrital e estaduais) em sua atuação regulatória.
Conforme a Lei nº 14.026/2020, a ANA terá o papel de emitir normas de referência sobre:[footnoteRef:13] [13: BRASIL. Lei nº 14.026/2020. Disponível: https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/saneamento-basico/novo-marco-legal-do-saneamento] 
· Padrões de qualidade e eficiência na prestação, na manutenção e na operação dos sistemas de saneamento básico;
· Regulação tarifária dos serviços públicos de saneamento básico;
· Padronização dos instrumentos negociais de prestação de serviços públicos de saneamento básico firmados entre o titular do serviço público e o delegatário;
· Metas de universalização dos serviços públicos de saneamento básico;
· Critérios para a contabilidade regulatória;
· Redução progressiva e controle da perda de água;
· Metodologia de cálculo de indenizações devidas em razão dos investimentos realizados e ainda não amortizados ou depreciados;
· Governança das entidades reguladoras;
· Reuso dos efluentes sanitários tratados, em conformidade com as normas ambientais e de saúde pública;
· Parâmetros para determinação de caducidade na prestação dos serviços públicos de saneamento básico;
· Normas e metas de substituição do sistema unitário pelo sistema separador absoluto de tratamento de efluentes;
· Sistema de avaliação do cumprimento de metas de ampliação e universalização da cobertura dos serviços públicos de saneamento básico;
· Conteúdo mínimo para a prestação universalizada e para a sustentabilidade econômico-financeira dos serviços públicos de saneamento básico.
Outra mudança trazida pelo novo saneamento é que a ANA passará a emitir normas de referência relacionadas ao manejo de resíduos sólidos e à drenagem de águas pluviais em cidades. As duas atividades integram o saneamento básico, assim como o abastecimento de água, a coleta e o tratamento de esgotos, pois a água é uma só.
Assim como já faz no setor de recursos hídricos, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico ficará responsável por promover cursos e seminários voltados à capacitação dos atores envolvidos na regulação do setor de saneamento nas esferas municipal, intermunicipal, distrital e estadual. Além disso, quando solicitada, a ANA terá a atribuição de realizar a medição e arbitragem de conflitos entre o poder concedente, o prestador de serviços de saneamento e a agência que regula tais serviços prestados.
Com isso, chega-se aos dias atuais, ainda que a matéria de saneamento tenha sido ressaltada até mesmo no contexto histórico de desenvolvimento do país, ainda não se está nos níveis e padrões ideais pois, com a relevância do serviço público de saneamento básico, todos deveriam ter acesso a este serviço de modo universal e eficaz, observando o direito de todos ao uso da água. Entretanto, a realidade ainda é distante deste ideal. 
1.1 O ADENSAMENTO POPULACIONAL NOS CENTROS URBANOS E O SURGIMENTO DE NOVAS DEMANDAS SOCIAIS
Pode-se dizer que as aglomerações humanas em espaços fixos, nos dias atuais, passaram a ser o modelo dominante. Cerca de 15 mil anos atrás, com o domínio de atividades como a agricultura e a domesticação de animais para pecuária, os primeiros assentamentos foram formados passando pelos burgos e chegando às áreas urbanas que conhecemos hoje. Logo, o principal traço em comum que define o que entendemospor cidades hoje: são, antes de tudo, aglomerações de pessoas.
Com o desenvolvimento da sociedade, obter um lugar neste contexto urbano globalizado se tornou algo densamente disputado. Devidos as atrativas chances de ascensão social e oportunidades empregatícias ofertadas pelas grandes cidades, a massificação de pessoas em um mesmo espaço geográfico era algo, até de certa forma, previsível. O que não se esperava era que o fluxo de pessoas se tornasse algo tão denso e massivo de uma maneira tão veloz. 
No Brasil, dentre os diversos fenômenos que contribuem para esse aumento da densidade demográfica, cabe ressaltar um de maior destaque e conhecimento, chamado êxodo rural. Ocorrendo de forma mais intensa em um espaço de três décadas: entre 1960 e 1990[footnoteRef:14]. O rápido escoamento da população decorreu da industrialização que se concretizou a partir da década de 1950, destacando-se nos estados da Região Sudeste do Brasil. A expectativa de emprego atraiu grande volume de trabalhadores rurais de diversas partes do país em busca de melhores condições de vida e estabelecer residência fixa. [14: RIBEIRO, Amarolina. "Efeitos do Êxodo Rural nos países subdesenvolvidos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/efeitos-exodo-rural.htm. Acesso em 20 de outubro de 2021.] 
Diante disso, com o deslocamento efetuado e o lugar definitivamente ocupado, é necessário definir normas de convívio e delimitação de espaços. E com isso, faz-se surgir novas demandas sociais e legais, visando evitar consequências como favelização e desigualdade social.
 De fato, o adensamento populacional urbano, traz consigo inúmeros problemas relativos a infraestrutura de modo geral, impactando principalmente a grande parte da população de baixa renda que recorrem a ocupação de localidades e espaços impróprios com alto índice de periculosidade e infraestrutura insuficiente. 
Como já dizia Milton Santos [footnoteRef:15]: [15: 
 Milton Almeida dos Santos foi um geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado e professor universitário brasileiro. Considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil no século XX, foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970.] 
“O lugar, espaço do acontecer solidário, compreende a dimensão local e próxima do cotidiano, mas, a cada dia que passa, mais e mais não tem existência própria. É perpassado por dimensões espaciais presentes no território sob três formas: um acontecer homólogo, um acontecer complementar e um acontecer hierárquico. O acontecer homólogo produz continuidades, o complementar, horizontalidades, e o hierárquico, verticalidades. Um dos lados da moeda da complexidade espacial contemporânea é a urbanização da sociedade levada a extremos. O outro contém densidade técnica que, enquanto tal, garante o funcionamento sistêmico das cidades – do plano intraurbano ao das redes – e a integração planetária em tempos de globalização. Difusamente distribuída em quase todas as localidades da Terra, tal densidade impõe compreender a organização espacial pelo princípio de sua “unicidade técnica”, que é também política e econômica.” [footnoteRef:16] [16: SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1997] 
Pode-se dizer que como consequência dessa unicidade, ocorre o aumento exponencial de ocupação dos lugares, especialmente nas grandes cidades, em que a proporção e a dinâmica organizacional superam definitivamente a condição temporal, trazendo uma experiencia de aglomerado de pessoas muito veloz.
	Delimitando a matéria de adensamento populacional, pode-se dizer que o principal clamor que emerge da população com relação as consequências que esse fenômeno gera, é a necessidade de obter um lugar que forneça o mínimo de dignidade, para que o mesmo possa ser visto como um habitat humano vivível. Neste sentido, a matéria de saneamento não abrange somente a questão de escoamento de esgoto e fornecimento de água potável, mas a prevenção de degradação ambiental e epidemias de doenças, concomitantemente visando fornecer uma eficiência no fornecimento de infraestrutura, vitalidade urbana, maior controle social e promover o acesso a um direito fundamental amparado e abordado nacional e internacionalmente. 
1.2 Do arcabouço legislativo pátrio em matéria de saneamento básico
	“Saneamento básico” é uma expressão ampla que abrange distintos serviços. A atual constituição federal promulgada em 1988, abordou a respectiva expressão, contudo, não definiu especificamente o que se constitui saneamento básico deixando assim, um espaço aberto para inúmeras discussões acerca do que está ou não incluído na conotação do conceito. Essa discussão teve seu fim pelo menos com a edição da Lei 11.445/2007 a “Lei do Saneamento Básico que foi recentemente alterada pela Lei 14.026/2020. 
	O termo “saneamento básico” é estipulado em três parágrafos na Constituição. O primeiro encontra-se no art. 21, XX, que atribuiu à União a competência de “estabelecer diretrizes para o desenvolvimento urbano, incluindo habitação, saneamento básico e transporte urbano”. A segunda referência está contida no art.23, IX. Que prevê por sua vez a competência comum da União, do Estado, do Distrito Federal e dos governos municipais para promover “planos de construção de moradias e de melhoria das condições de habitação e saneamento básico”. Por fim, o art. 200, IV estabelece que, o Sistema Único de Saúde (“SUS”) tem a responsabilidade de “participar da formulação das políticas e da implementação das ações básicas de saúde”.[footnoteRef:17] Percebe-se que a Constituição não define a expressão “saneamento básico”. No entanto, isso não significa que a Carta Magna não tenha trazido significado para "saneamento básico". Muito pelo contrário. [17: BARROSO, Luís Roberto. Saneamento básico: competências constitucionais da União, Estados e Municípios. Revista eletrônica de direito administrativo econômico, nº 11. Salvador: Instituto Brasileiro de Direito Público, ago/set, 2007. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/325/edicao-1/saneamento-basico:-conceito-juridico-e-servicos-publicos] 
	Em primeiro lugar, o saneamento básico é uma atividade inserida no conceito de “desenvolvimento urbano”. Observe que após a menção desta expressão no art. 21. XX, a Constituição utiliza o termo “inclusive” para inserir o saneamento básico e transporte urbano na extensão do conceito de “desenvolvimento urbano”. Justamente porque o saneamento básico faz parte da política urbana, a competência para prestar (executar) os serviços de saneamento básico são do município. Deixando de lado a questão da municipalidade, notório que a Constituição delegou essa atividade para o Poder Público. As atividades desenvolvidas no contexto do saneamento básico (criação por lei, organização e prestação do serviço) são de titularidade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ainda que nem todos os entes tenham competência plena. Logo, a atividade de saneamento básico quando for voltada aos administrados, de modo geral, ela será interpretada como “serviço público”. Esta é uma segunda significação importante dada pela Constituição à expressão “saneamento básico”. 
	O último ponto diz respeito à vinculação das instalações de saneamento básico ao SUS. Para a efetivação do direito à saúde, a Constituição determina a formulação de “políticas sociais e econômicas voltadas à redução dos riscos de doenças e outros agravos à saúde e ao acesso universal e igualitário a ações e serviços de promoção, proteção e reabilitação”. (Artigo 196). Nesse sentido, as ações e serviços públicos de saúde integram-se em uma rede regional e hierárquica para formar um único sistema (art. 198, caput). Portanto, o SUS é um conjunto de ações e serviços de saúde realizados pelo poder público em diferentes âmbitos federais.[footnoteRef:18] A Constituição prevê ainda que, além de outras fontes, o SUS será financiado pelo orçamento da seguridade social de cada esfera federativa (art.198, § 1º), e não do orçamento fiscal e do orçamento de investimento das empresas estatais (vide art. 165, § 5º, que dispõe sobre o conteúdo da lei orçamentária anual). Aliás, a saúde é um dos elementos da seguridade social (art. 194, caput). [18: Sobre o SUS, vide: DALLARI, Sueli Gandolfiu. O Sistema Único de Saúde. Enciclopédia jurídica da PUC-SP, t. Direito administrativo e constitucional.] 
	Portanto, como o SUS visa reduzir o risco de doenças e outros agravos à saúde (ou seja, prevenção)[footnoteRef:19], é de suma prioridade que ele participe da formulação de políticas e da implementação de ações básicas de saúde. Na verdade, existem muitas doenças relacionadas à prestação inadequada de vários serviços básicos de saúde. Por exemplo, beber água contaminada pode causar doenças diarreicas e vermes (como cólera, diarreia e febre tifoide), doenças de pele (como pioderma), doenças oculares (conjuntivite), malária, dengue, etc.[footnoteRef:20] Como investir na infraestrutura necessária à prestação de serviços básicos de saúde para a proteção da saúde, Silvio Guidi defende a possibilidade de utilização de recursos relacionados à saúde no patrocínio e nas concessões administrativas da saúde básica.[footnoteRef:21] [19: “É interessante notar que o SUS fixa como paradigma o investimento no “risco da doença ou outros agravos”, ou seja, investimento prioritário na prevenção. Neste contexto, deve participar da formulação de políticas e execução das ações de saneamento básico, problema ainda crônico no Brasil, que não tem a mesma visibilidade e demanda das ações relativas à recuperação da saúde, como por exemplo, ações judiciais pleiteando medicamentos e/ou internações na rede hospitalar.” (WERNER, Patrícia Ulson Pizarro. Direito à saúde. Enciclopédia jurídica da PUC-SP, t. Direito administrativo e constitucional, p. 27.] [20:  Cfr. quadro de doenças relacionadas ao abastecimento de água trazidos pelo Manual de saneamento (p. 69) elaborado pela FUNASA (Fundação Nacional de Saúde).] [21: GUIDI, Sílvio. É possível utilizar o orçamento da saúde para a ampliação da infraestrutura e dos serviços de saneamento? Revista Colunistas.] 
Enfim, da Constituição é possível concatenar acerca dos serviços de saneamento básico que primeiramente trata-se de um objeto de política urbana. Que quando os serviços de saneamento básico forem voltados aos administrados em geral, assim serão considerados serviços públicos, já que são de titularidade pública. E que, por fim, as políticas de saneamento básico são instrumentos para a efetivação do direito à saúde. 
1.2 A NOÇÃO DE SANEAMENTO BÁSICO A PARTIR DA ÓTICA DA CARTA MAGNA DE 1988
A democratização do saneamento básico tem fundamental importância na garantia dos direitos sociais e da dignidade humana previstos na Carta Magna, como forma de assegurar condições mínimas à pessoa humana como direito à saúde e ao bem estar, elencados como uma segunda geração dos direitos fundamentais. Os direitos da segunda geração também conhecidos como direitos de igualdade, surgiram após a 2ª Guerra Mundial com o advento do Estado Social.
São direitos econômicos, sociais e culturais que devem ser prestados pelo Estado por intermédio de políticas de justiça distributiva. Abrangem o direito à saúde, trabalho,
educação, lazer, repouso, habitação, saneamento, greve, livre associação sindical, dentre
outros.[footnoteRef:22] [22: https://www.catolicadeanapolis.edu.br/revmagistro/wp-content/uploads/2013/05/SANEAMENTO-BÁSICO-NO-BRASIL.pdf] 
O saneamento básico é usado como uma ferramenta capaz de concretizar esse fornecimento de qualidade de vida para a sociedade. Dessa forma, como leciona o doutrinador José Afonso da Silva:
“O objetivo do Estado brasileiro, assinalado exemplificativamente pela Constituição Federal, vem efetivar, na prática, a dignidade da pessoa humana”. 
Os direitos e garantias fundamentais garantidos constitucionalmente, com destaque aos direitos sociais, devem estar contemplados dentre os objetivos a serem alcançados pelo Estado. Conforme exposto pelo jurista Alexandre de Moraes podem ser definidos como: 
“O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana”
A concretização ocorrerá por intermédio da definição das diretrizes e do exercício das políticas públicas pelos entes federativos, logo, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal cada um dentro de sua respectiva competência. A Constituição Federal de 1988 é indispensável à atuação harmônica entre os entes, quando observados os limites de suas competências, não há no que se falar em obstaculização a concretização das aspirações da sociedade no tange ao anseio do saneamento básico.
A competência no que se refere ao saneamento básico encontra-se inserida na Constituição Federal como privativa da União: 
Art. 21. Compete à União: [...] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;”[footnoteRef:23] [23: BRASIL, Constituição federal 1934, Art. 21. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm] 
A competência comum, ou seja, aos Estados, Distrito Federal e Municípios com intenção de melhoria das condições de saneamento básico: 
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; [...] Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.”[footnoteRef:24] [24: BRASIL, Constituição federal 1934, Art. 23. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm] 
Para os Estados, a competência legislativa residual e a possibilidade de implementar funções públicas de interesse comum estão dispostas no art. 25 § 1ºe 3º: 
“Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.”[footnoteRef:25] [25: BRASIL, Constituição federal 1934, Art. 25. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm
] 
Nota-se que, no que tange a competência administrativa dos Estados, além daquelas exclusivas, definiu-se também a de natureza comum por força do art. 23 da Constituição Federal do Brasil. Nesse sentido, os Estados compartilham com os outros entes da federação, competência ampla no setor, fornecendo serviços de saúde, tutela de proteção ao meio ambiente, incentivos habitacionais e de saneamento básico, combatendo à pobreza, os fatores de marginalização e assim, gerando a integração dos setores desprezados.
Outrossim, a Constituição definiu também a chance dos Estados, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, conglomerados urbanos e microrregiões, para fazer parte da organização e do planejamento da execução de funções públicas de interesse público. Quanto aos Municípios, a Carta Magna de 1988 dispõe acerca da competência municipal de assuntos que afetam o interesse local, tanto na competência legislativa, quanto na gestão dos serviços públicos: 
Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; [...] V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local,incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial. 
Essa autonomia gera aos Municípios meios de auto-organização, de normatização, autoadministração e autogoverno.
Com isso há um explícito entrelaçamento entre as questões de saúde pública, preservação dos recursos hídricos e a universalização da prestação dos serviços de saneamento básico, todos concretamente estabelecidos constitucionalmente. A crescente carência da água, a que se soma também a elevação dos custos necessários para desenvolver-se adequadamente e racionalmente o ciclo de uso da água, tem levado à ampliação do seu tratamento político e jurídico, de modo a que seja possível continuar garantindo a generalidade com baixo custo para a população e uma melhor qualidade. 
Portanto há a prevalência do interesse comum, podendo os interesses sociais ser atendidos mediante a aglutinação técnica e econômica dos serviços, sendo dessa forma otimizados, atendendo princípios da acessibilidade, fornecimento, ajustamento, universalização do saneamento básico. Por fim, nota-se que há uma rede legal jurídica que dá suporte para que políticas públicas de saneamento básico, para que sejam exercidas e desenvolvidas em todos âmbitos os quais sejam federal, estadual e municipal com competências bem definidas na Constituição Federal de 1988.
1.3 A IMPORTANCIA DA TEORIA DA RESERVA DO POSSIVEL NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO
A teoria da reserva do possível teve seu aparecimento ordenamento jurídico na Alemanha mediante um julgamento que ficou conhecido como Numerus Clausus ( número restrito). Esta teoria ficou conhecida como uma forma de limitar a atuação do Estado no âmbito do amparo e efetivação de direitos sociais e fundamentais, afastando de si, o direito constitucional de interesse privado e prezando pelo direito da maioria. 
Trata-se da histórica decisão numerus-clausus Entscheidung, onde um grupo de candidatos a vagas nas faculdades públicas de Medicina não obteve êxito ao ingressar nas instituições de ensino, devido aos critérios de admissão que limitavam o número de vagas.[footnoteRef:26] [26: DOS SANTOS, Rebecca Mazzuchell. O conceito da reserva do possível nas decisões judiciais. Cadernos de iniciação científica. Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, v. 7, p. 79, 2010.] 
Durante o julgamento o Tribunal julgou uma demanda judicial, na qual, estudantes que não tinham sido admitidos na escola de medicina de Hamburgo e Munique, pleiteavam a liberação de um numero maior de vagas com fundamento no artigo 12 da Lei Fundamental alemã, que garantia a livre escolha de trabalho, ofício ou profissão.
Ao decidir a questão, a Corte alemã discerniu que o direito pleiteado, qual seja o aumento do número de vagas na universidade, encontrava-se em limitação na Reserva do Possível, conceituada como o que o indivíduo pode razoavelmente exigir da sociedade, sob pena de, em virtude das limitações de ordem econômica, comprometer a plena efetivação dos direitos sociais. 
Assim, a decisão foi que não seria razoavelmente possível obrigar o Estado a fornecer o acesso a todos que pretendessem cursar medicina, uma vez que esta exigência estaria além das viabilidades do limite social básico. Analisando a questão, Sarlet leciona que o Tribunal alemão entendeu que: 
(...) a prestação reclamada deve corresponder ao que o indivíduo pode razoavelmente exigir da sociedade, de tal sorte que, mesmo em dispondo o estado de recursos e tendo poder de disposição, não se pode falar em uma obrigação de prestar algo que não se mantenha nos limites do razoável.[footnoteRef:27] [27: http://www.abdconst.com.br/revista8/reservaLucas.pdf] 
Nota-se que, mesmo que o Estado possua meios e os recursos disponíveis, o mesmo não é obrigado a prestar algo que não seja razoável, conforme o entendimento da Corte alemã no caso supracitado. Logo, a Reserva do Possível, em sua origem, não leva em consideração única e exclusivamente a existência de recursos materiais suficientes para a efetivação do direito social, mas sim a razoabilidade da pretensão deduzida.
Contudo, é necessário analisar as possibilidades do ente público e a urgência da da demanda pleiteada, sob pena de, se a situação for incorreta, causar grave lesão à economia pública ou ferir direitos garantidos constitucionalmente que consagram a dignidade da pessoa humana. A Reserva do Possível, portanto, será invocada quando da impossibilidade do Estado, através de prestações positivas, garantir plenamente a efetivação de todos os direitos fundamentais sociais, sob pena de grave prejuízo que acarretaria consequências, à sociedade de modo geral.
	No Brasil, a teoria da reserva do possível foi instalada e interpretada unicamente como a Reserva do Financeiramente Possível já que é tida praticamente como um limite a concretização dos direitos socias fundamentais relacionados tão somente a existência ou não de recursos públicos disponíveis.
	
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://cebds.org/estudo-destaca-beneficios-com-expansao-saneamento-brasil/
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/329/edicao-1/saneamento-basico:-competencias-constitucionais-para-criar,-organizar-e-prestar-os-servicos-publicos
http://www.revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/rechtd.2015.71.06/4553
https://www.eosconsultores.com.br/historia-saneamento-basico-e-tratamento-de-agua-e-esgoto/
http://revistas.faculdadeguanambi.edu.br/index.php/Revistadedireito/article/view/292/187

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