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PORTUGUÊSPORTUGUÊS
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Leia o texto seguinte, escrito em meados da década de 1970 pelo
médico Mozart Tavares de Lima Filho, da Escola Paulista de Me di ci na,
e responda às questões de números 1 e 2.
1. (UNESP) – Com respeito ao uso de medicamentos, o fragmento
sustenta que há mudanças significativas, na forma de tratar a tuber -
culose, nos dias atuais. Aponte uma expres são, usada no segundo
parágrafo do texto, em que o adjetivo expri me claramente essa modi -
ficação, esclare cendo-a convenien temente.
RESOLUÇÃO:
O autor informa, no primeiro parágrafo transcrito, que os medica -
men tos empregados contra a tuberculose eram vários e de uso
contínuo. Uma das “mudanças signi ficativas” mencio na das no
segundo parágrafo diz respeito ao “uso intermitente de drogas”,
expressão em que o adjetivo intermitente esclarece a modificação
ocorrida. 
Intermitente: em que ocorreu interrupções; que cessa e reco meça
por intervalos; descontínuo.
2. (UNESP) – No fragmento, há um distanciamento do enunciador, que
se traduz pelo emprego constante da voz passi va sin té tica, na qual
aparece a palavra se. Com base nessa cons tatação, reescreva o último
período do texto, passando-o para esse tipo de voz passiva. Explique
por que razão o recurso de distanciamento é usado nesse texto.
RESOLUÇÃO:
Passando-se o último período para a voz passiva sin tética, tem-se:
Condena-se a antiga superali men tação.
O enunciador optou pelo distanciamento porque o teor do texto
— puramente referencial, informativo, objetivo — não se coa du na
com nenhuma forma de intromissão pessoal. A impessoali dade é
expressa de várias formas, sendo uma delas a voz passiva prono -
minal.
Com os medicamentos disponíveis é possível curar pratica mente
todos os casos de tuberculose. Entre tanto, a longa duração do trata -
men to, a necessidade do emprego de vários medicamentos em
associa ção e o seu uso contínuo fazem com que a terapêutica seja
pouco prática.
As pesquisas atuais vão em dois sentidos: um, a duração, e outro,
o emprego intermitente de drogas. Os resultados obtidos até agora
são animadores. (...)
A elevação da resistência geral do paciente constituiu até há
poucos anos a base do tratamento da tuberculose. Aconselhava-se o
repouso absoluto no leito durante as 24 horas, aliado à superalimen -
tação.
Embora o repouso continue a ser fundamental, a ma neira de
encará-lo mudou bastante. Indica-se um repou so relativo, permitindo
que o paciente deixe o leito para sua toilette. Além disso, é essencial
o repouso psíquico, procurando iniciar a psicoterapia e a reabili tação
do pa ciente desde o início do tratamento. A duração deste repou so
dependerá do tipo de lesão e da constituição psicossomática do
pacien te, havendo tendência cada vez maior à sua redução.
No que se refere à alimentação, aconselha-se uma dieta balan -
ceada, de acordo com as necessidades ener géticas do paciente. Em
caso de anorexia, rara mente há necessidade de medicação especial,
pois com o uso da isoniazida verifica-se rápido retorno do apetite. A
antiga superalimentação é condenada.
(Atualização terapêutica)
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MÓDULO 11 Estudos Linguísticos – III
FRENTE 1Gramática
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2. (SANTA CASA-2021) – Examine a tira do cartunista
argentino Quino.
(Cada um no seu lugar, 2005.)
a) O que a reação dos personagens ao texto do folheto
publicitário indica?
RESOLUÇÃO: 
O profissional de publicidade mostra ao empresário o “folheto de
publicidade” criado para a empresa e, ao ler o texto que divulga
os produtos, ambos caem na gargalhada. Obvia mente o conteúdo
da propaganda é fraudulento, por isso nenhum dos dois consegue
disfarçar o espanto hilariante diante da propaganda enganosa:
“materiais selecionados de primeira qualidade”.
b) Considerando o contexto, reescreva o texto do folheto
publicitário na voz ativa.
RESOLUÇÃO: 
Fabricamos nossos produtos com materiais selecionados de
primeira qualidade.
O verbo “ser” não aparece na ativa, mas deve-se manter o tempo
verbal em que ele aparece: presente do indicativo. 
Leia o trecho inicial do romance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-
1895), para responder à questão 4.
4. (UNESP) – Identifique os sujeitos dos verbos “houvesse” e
“viesse”, destacados no segundo parágrafo.
RESOLUÇÃO: 
O sujeito da forma verbal “houvesse perseguido” é simples: “a
mesma incerteza de hoje”; de “viesse” é também simples: “a
enfiada das decepções”.
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu.
Coragem para a luta.”
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me
despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na
estufa de carinho que é o regime do amor doméstico; diferente do
que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados
maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer
mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento,
têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso.
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita dos felizes
tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não
nos houvesse perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada
das decepções que nos ultrajam.
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Texto para as questões 5 e 6.
5. (FUVEST) – De acordo com o texto, o “mito político”
a) prejudica o entendimento do mundo real.
b) necessita da abstração do tempo.
c) depende da verificação da verdade.
d) é uma fantasia desvinculada da realidade.
e) atende a situações concretas.
RESOLUÇÃO:
Conforme o texto, “mito político” caracteriza-se como uma
narrativa que “responde a uma necessidade prática de uma
sociedade em determinado período”; portanto, esse fenômeno
“atende a situações concretas”.
Resposta: E
6. (FUVEST) – Sobre o sujeito da oração “em que vivem” (L. 12), é
correto afirmar:
a) Expressa indeterminação, cabendo ao leitor deduzir a quem se refere
a ação verbal.
b) Está oculto e visa evitar a repetição da palavra “circunstâncias” (L.
9-10).
c) É uma função sintática preenchida pelo pronome “que” (L. 10).
d) É indeterminado, tendo em vista que não é possível identificar a
quem se refere a ação verbal.
e) Está oculto e seu referente é o mesmo do pronome “os” em “fazê-
los” (L. 10).
RESOLUÇÃO:
O sujeito do verbo “viver” está oculto, referindo-se a “indivíduos”,
que, por sua vez, é retomado pelo pronome oblíquo “os” em “fazê-
los”.
Resposta: E
Leia o texto de Bernadette Siqueira Abrão para responder às questões
7 e 8.
7. (SANTA CASA) – Segundo o texto, caso aplicada, a hipótese de
Rousseau resultaria em uma sociedade que
a) acirra o confronto entre direitos e deveres.
b) garante a permanência do estado de natureza.
c) superestima o individualismo.
d) privilegia a vontade do grupo sobre a vontade individual.
e) independe das leis, pois todos têm os mesmos direitos.
RESOLUÇÃO
O texto de Bernardette Siqueira Abraão refere-se a Do Contrato,
de Rousseau, em que ele aponta a necessidade de o homem viver
em sociedade para garantir sua sobrevivência, mas, para tanto, ele
deve respeitar as regras do grupo em detrimento de sua vontade.
Resposta: D
8. (SANTA CASA) – “os obstáculos à sua conservação sobrepujaram
as forças de que cada indivíduo dispõe para manter-se” (1.o parágrafo) 
Passada à voz passiva, a oração centrada no termo sublinhado
apresentará a forma verbal
a) foram sobrepujadas.
b) são sobrepujadas.
c) sobrepujam.
d) sobrepujaram.
e) eram sobrepujadas.
RESOLUÇÃO
A forma verbal “sobrepujaram” encontra-se no pretérito perfeito
do indicativo. Passando-se o verbo para a voz passiva analítica,
deve-se impor esse tempo verbal (pretérito perfeito) ao auxiliar ser
e o verbo sobrepujar deve ficar no particípio: foram sobrepujados.
Resposta: A
Mito, na acepção aqui empregada, não significa mentira,
falsidade oumistificação. Tomo de empré stimo a formulação de
Hans Blumenberg do mito político como um processo contínuo
de trabalho de uma narrativa que responde a uma necessidade 
5 prática de uma sociedade em determinado período. Narrativa
simbólica que é, o mito político coloca em suspenso o problema
da verdade. Seu discurso não pretende ter validade factual, mas
também não pode ser percebido como mentira (do contrário,
não seria mito). O mito político confere um sentido às circunstân-
10 cias que envolvem os indivíduos: ao fazê-los ver sua condição
presente como parte de uma história em curso, ajuda a
compreender e suportar o mundo em que vivem.
(ENGELKE, Antonio. O Anjo Redentor.
Piauí, ago. 2018, ed. 143, p. 24.)
Rousseau explica, em Do Contrato, a saída do estado de natureza
apelando para uma hipótese: os homens teriam chegado a um ponto
em que os obstáculos à sua conservação sobrepujaram as forças de
que cada indivíduo dispõe para manter-se. Não têm outra saída,
portanto, a não ser se unir, para juntar suas forças. Mas, como a força
e a liberdade de cada indivíduo são os instrumentos primordiais de
sua conservação no estado de natureza, a solução prevista leva a um
impasse: como empenhá-las sem prejudicar e sem negligenciar os
cuidados que a si mesmo cada um deve? Para resolver a questão e
efetuar o pacto, o homem precisa encontrar “uma forma de
associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada
associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se
a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, permanecendo assim tão
livre quanto antes”.
Esse pacto exige a alienação1 total de cada associado, com todos
os seus direitos, à comunidade. Mas “cada um dando-se a todos não
se dá a ninguém”, e recebe o equivalente a tudo o que alienou e
maior força para conservar o que tem. Todos ganham e ninguém
perde, e o homem deixa o estado de natureza para ingressar na
sociedade civil, em que são necessárias regras para a sobrevivência.
(História da Filosofia, 1999.)
1alienação: renúncia, abandono.
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1. (FUVEST) – Leia o texto e responda ao que se pede.
a) No texto, o autor retifica o que corriqueiramente se entende por
“morte natural”? Justifique.
RESOLUÇÃO:
O autor argumenta que a ideia de morte natural (“morrer de
esgotamento em virtude uma extre ma velhice”) é na verdade uma
exceção, pou cas vezes acontece, sendo, portanto, pouco na tural.
Também salienta que é natural morrer de aci den tes ou de doenças,
já que não vai contra a natureza do homem fa lecer ao sofrer algum
trauma físico.
b) A que palavra ou expressão se referem, respecti vamente, os
pronomes destacados no trecho “Vejo que os filósofos lhe assinam
um limite bem menor do que o fazemos comumente”?
RESOLUÇÃO:
O pronome pessoal oblíquo “lhe” refere-se a “du ração da vida”; o
pronome demonstrativo “o” refere-se a “limite”.
2. (FUVEST) – Leia o texto e responda ao que se pede.
a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho”,
consideradas no contexto, produz o mesmo efeito de sentido nos
dois casos? Justifique.
RESOLUÇÃO:
O emprego do diminutivo não produz o mesmo efeito de sentido
nas palavras indicadas. Em “vozinha”, minimiza-se a contestação
de Prometeu à ordem vigente no Olimpo, comparando essa
rebeldia à do movimento estudantil de maio de 1968. Quanto a
“sorrisinho”, o di minutivo evi dencia que o jacaré percebeu a cilada
prepa rada pelos outros animais e, de forma irô nica, não gargalha,
apenas sorri, quebrando a expectativa de seus provocadores.
b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma festa para fazê-
lo rir (...). Todos fazem coisas engraçadas”, substituindo o verbo
“fazer” por sinônimos adequados ao contexto em duas de suas três
ocorrências.
RESOLUÇÃO:
Reescrevendo, tem-se: “Os outros decidem promo ver (produzir,
efetuar) uma festa para levá-lo (estimulá-lo, incentivá-lo) a rir (…).
Todos rea lizam (praticam, elaboram) coisas engraçadas”. Há outras
possibilidades e somente dois verbos deve riam ser substituídos.
DA IDADE
Não posso aprovar a maneira por que entendemos a duração da
vida. Vejo que os filósofos lhe assinam* um limite bem menor do que
o fazemos comumente. (...) Os [homens] que falam de uma certa
duração normal da vida, estabelecem-na pouco além. Tais ideias
seriam admissíveis se existisse algum privilégio capaz de os colocar
fora do alcance dos acidentes, tão numerosos, a que estamos todos
expostos e que podem interromper essa duração com que nos
acenam. E é pura fantasia imaginar que podemos morrer de
esgotamento em virtude de uma extrema velhice, e assim fixar a
duração da vida, pois esse gênero de morte é o mais raro de todos.
E a isso chamamos morte natural como se fosse contrário à natureza
um homem quebrar a cabeça numa queda, afogar-se em algum
naufrágio, morrer de peste ou de pleurisia; como se na vida comum
não esbarrássemos a todo instante com esses acidentes. Não nos
iludamos com belas palavras; não denominemos natural o que é
apenas exceção e guardemos o qualificativo para o comum, o geral,
o universal.
Morrer de velhice é coisa que se vê raramente, singular e
extraordinária e portanto menos natural do que qualquer outra. É a
morte que nos espera ao fim da existência, e quanto mais longe de
nós menos direito temos de a esperar.
(Michel de Montaigne, Ensaios.
Editora 34. Trad. de Sérgio Milliet.)
*assinar: fixar, indicar.
Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio à ordem
divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos,
Prometeu é quem rouba o fogo dos deuses. Diz Vernant que
Prometeu representa no Olimpo uma vozinha de contestação,
espécie de movimento estudantil de maio de 1968. Zeus decide
esconder dos homens o fogo, antes disponível para todos, mortais e
imortais, na copa de certas árvores — os freixos — porque Prometeu
tentara tapeá-lo numa repartição da carne de um touro entre deuses
e homens.
——————-————————–––––––—————————-
Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o jacaré, que
cuidadosamente o escondia dos outros, comendo taturanas assadas
com sua mulher sapo, sem que ninguém soubesse. Ao resto do povo
– animais que naquela época eram gente – eles só davam as taturanas
cruas. O jacaré costumava esconder o fogo na boca. Os outros
decidem fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. Todos
fazem coisas engraçadas, mas o jacaré fica firme, no máximo dá um
sorrisinho.
(Betty Mindlin, O fogo e as chamas dos mitos. 
Revista Estudos Avançados. Adaptado.)
MÓDULO 12 Estudos Linguísticos – IV
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3. (UNICAMP) – Leia o excerto abaixo, adaptado do ensaio Para que
servem as humanidades?, de Leyla Perrone-Moisés.
a) As expressões “agregar valor” e “cultivo de valores”, embora
aparentemente próximas pelo uso da mesma palavra, produzem
efeitos de sentido distintos. Explique-os.
RESOLUÇÃO:
“Agregar valor”, no contexto, tem sentido quan titativo, pois se
refere às informações e conheci mento que o indivíduo adquire
sem apro fun da men to. “Cultivo de valores” implica a aquisição de
saberes por meio de posicionamentos críticos e reflexivos
constantes, que se desenvol vem não apenas ao longo da vida
acadêmica, mas por toda a existência.
b) Na última oração do texto, são utilizados dois elemen tos coesivos:
“eles” e “à qual”. Aponte a que se refere, respectivamente, cada
um desses elementos.
RESOLUÇÃO:
Os elementos coesivos “eles” e “à qual” referem-se, respecti -
vamente, a “os cursos de humanidades” e “sociedade”, assim a
ideia que se estabelece é a de que os cursos de humanidades
estudam a socie dade e a ela servem.
Leia o texto de Claudia Wallin para responder às questões de 4 a 6.
4. (FAMEMA) – Quanto aos recursos formais e ao conteúdo, o texto
a) utiliza padrões de formalidade adequados à descrição de povos
desconhecidos, por reverência regimental tanto a tais povos quanto
ao leitor do relato.
b)emprega linguagem simples e objetiva a fim de mimetizar o
comportamento simplório dos dirigentes do povo retratado no relato.
c) critica a falta de formalidade e a pobreza linguística do povo retratado,
utilizando os padrões de linguagem da norma culta.
d) elogia a rígida formalidade com que se comportam os dirigentes do
povo retratado, utilizando no relato um padrão de linguagem elevado.
e) contrapõe ironicamente a simplicidade do compor ta mento de
membros da população retratada à linguagem rebuscada e cheia de
reverências utilizada no relato.
RESOLUÇÃO
O texto contém vocativos, como “Vossas excelências”, utilizados
em espaços institucionais de grande formalidade e de uso
protocolar entre parlamentares. Esse emprego e a linguagem
rebuscada do texto contrastam com o simplicidade de vida do
povo retratado no texto: os suecos.
Resposta: E
As humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da
existência humana, para além do simples alongamento de sua
duração ou do bem-estar baseado no consumo. Servem para estudar
os problemas de nosso país e do mundo, para humanizar a
globalização. Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade
que este tem de entender, de imaginar e de criar, esses estudos
servem à vida tanto quanto a pesquisa sobre o genoma. Num mundo
informatizado, servem para preservar, de forma articulada, o saber
acumulado por nossa cultura e por outras, estilhaçado no
imediatismo da mídia e das redes. Em tempos de informação
excessiva e superficial, servem para produzir conhecimento; para
“agregar valor , como se diz no jargão mercadológico. Os cursos de
humani dades são um espaço de pensamento livre, de busca
desinteressada do saber, de cultivo de valores, sem os quais a
própria ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o
apoio firme das autoridades universitárias e da sociedade, que eles
estudam e à qual servem.
(Adaptado de Leyla Perrone-Moisés, Para que 
servem as humanidades? Folha de São Paulo, 
São Paulo, 30 jun. 2002, Caderno Mais!.)
Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago
notícias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas
Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um país
onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do povo são
tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio povo. Insânia!
Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de
contos de fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei,
rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta terra já
tiraram todos os poderes do rei, em nome de uma democracia que
proclama uma tal igualdade entre todos, e o que digo são coisas que
tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer.
Nestas longínquas comarcas, os mui distintos parlamentares,
ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho,
em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus,
Eminências! E muitos castelos há pelos quatro cantos deste próspero
reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo
apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos
ilustríssimos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia.
Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península
chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde os
representantes do povo vivem como sobrevive um súdito qualquer.
E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há de comer: em
um dos povos vizinhos, conhecido como o reino dos noruegueses, os
nobres representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que
trazem de casa, e que tiram dos bolsos dos paletós quando a fome
aperta.
É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam
de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as notícias sobre o
igualitário reino dos suecos se espalham.
Estocolmo, 6 de janeiro de 2013.
(Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)
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5. (FAMEMA) – Assinale a alternativa em que ocorre um pleonasmo.
a) “Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de
contos de fada”
b) “em sua labuta para adoçar as mazelas do povo”
c) “trago notícias urgentes de um reino distante”
d) “o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta
mesma terra um dia há de comer”
e) “Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei”
RESOLUÇÃO:
Pleonasmo ou redundância é a repetição desnecessária de uma
expressão ou palavra já mencionada, como é o caso de “visto” e
“com os olhos”.
Resposta: D
6. (FAMEMA) – “Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes
do rei”.
Assinale a alternativa que expressa, na voz passiva, o conteúdo dessa
oração.
a) Todos os poderes do rei já tiraram os habitantes desta terra.
b) Os habitantes desta terra já tiram todos os poderes do rei.
c) Os habitantes desta terra já foram tirados por todos os poderes do
rei.
d) Todos os poderes do rei já foram tirados pelos habitantes desta terra.
e) Todos os poderes do rei já são tirados pelos habitantes desta terra.
RESOLUÇÃO:
A frase do enunciado está na voz ativa. Seu objeto direto “Todos
os poderes do rei” passa na voz passiva a sujeito; a forma verbal
“tiraram” recebe o verbo ser como auxiliar: “foram tirados”; o
sujeito “Os habitantes desta terra” passa a agente da passiva
introduzido pela preposição por.
Resposta: D
Examine a tira do cartunista André Dahmer.
(Quadrinhos dos anos 10, 2016.)
7. (UNESP) – O conselho presente na primeira fala sugere falta de
a) compaixão.
b) paciência.
c) ganância.
d) malícia.
e) cinismo.
RESOLUÇÃO:
O conselho do pai ao filho, para que este evite o contato com
pedintes famintos, sugere a ausência de sentimento de piedade
diante da tragédia alheia.
Resposta: A
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Texto para a questão 1.
1. (FUVEST)
a) Explique por que o axioma formulado por Roberto de Oliveira
Campos tornaria possível “construir mundos maravilhosos”. 
RESOLUÇÃO: 
O axioma criado por Roberto Campos, “a igno rância não tem limite
inferior”, denota o sarcasmo com que seu criador se referiu à
ignorância como manifestação capaz de surpreender pela ausência
de limite, o que pode gerar ironicamente “mundos maravilhosos”,
porque a falta de conhecimento fornece material inesgotável para
a galhofa, o deboche, o escárnio, além de possibilitar a inven ção de
realidades disparatadas: “A quantidade de sandices ditas no longo
discurso com o ar de quem estava inventando o mundo.”
b) Identifique o trecho do texto que explica o emprego da expressão
“oratória de alta visibilidade”. 
RESOLUÇÃO: 
O trecho que trata da “oratória de alta visibili dade” é o que se
refere ao gestual de alguns deputados durante seu discurso: “com
os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia”.
Texto para a questão 2.
2. (FUVEST) – Com base no texto, é correto afirmar:
a) A “campanha nacional” a que se refere o autor tem por objetivo
banir da língua portuguesa os verbos terminados em “ilizar”.
b) O autor considera o emprego de verbos como “reinicializando” (L. 7)
e “viabilizar” (L. 13) uma verdadeira “doença”.
c) A maioria dos verbos terminados em “(i)lizar”, presentes no texto,
foi incorporada à língua por influência estrangeira.
d) O autor, no final do primeiro parágrafo, acaba usando
involuntariamente os verbos que ele condena.
e) Os prefixos “des” e “in”, que entram na formação do verbo
“desincompatibilizar” (L. 15), têm sentido oposto, por isso o autor o
considera um “palavrão”.
RESOLUÇÃO: 
Segundo o autor, a recorrência de verbos terminados em “-ilizar”,
em nossa língua, advém da ação de “maus tradutores de livros de
marketing e administração”, que incorporam anglicismos à língua
portuguesa, desconsiderando o uso de termos vernáculos com a
mesma acepção.
Resposta: C
LIMITE INFERIOR 
Aprendi muito com o economista filósofo Roberto de Oliveira
Campos, particularmente quando tive a honra e a oportunidade de
conviver com ele duranteanos na Câmara dos Deputados.
Sentávamos juntos e assis tía mos aos mesmos discursos, alguns
muito bons e sábios. 
Frequentemente, diante de alguns incontroláveis colegas que
exerciam uma oratória de alta visibilidade, com os dois braços
agitados tentando encontrar uma ideia, Roberto me surpreendia com
a afirmação: “Delfim, acabo de demonstrar um teorema”. E sacava
uma mordaz conclusão crítica contra o incauto orador. 
Um belo dia, um falante e conhecido deputado ensur deceu o
plenário com uma gritaria que entupiu os ouvidos dos colegas. A
quantidade de sandices ditas no longo discurso com o ar de quem
estava inventando o mundo fez Roberto reagir com incontida
indignação. Soltou de supetão: “Delfim, construí um axioma, uma
afirmação preliminar que deve ser aceita pela fé, sem exigir prova: a
ignorância não tem limite in ferior”. E completou, com a perversidade
de sua imensa inteligência: “Com ele poderemos construir mundos
maravilhosos”. 
(Antonio Delfim Netto, Folha de S. Paulo, 
17/09/2014. Adaptado.)
Sim, estou me associando à campanha nacional contra os
verbos que acabam em “ilizar”. Se nada for feito, daqui a pouco
eles serão mais numerosos do que os terminados
simplesmente em “ar”. Todos os dias os maus tradutores de 
5 livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais
termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela
mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram
perfeitamente claras e eufônicas.
A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos,
10 com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de
cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois
que você fica alérgico a disponibilizar, como você vai admitir,
digamos, “viabilizar”? É triste demorar tanto tempo para a
gente se dar conta de que “desin compatibilizar” sempre foi um 
15 palavrão.
(FREIRE, Ricardo. Complicabilizando. Época, ago. 2003.)
MÓDULO 13 Estudos Linguísticos – V
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Leia o trecho inicial do artigo “Artifícios da inteligência”, do físico
brasileiro Marcelo Gleiser (1959- ), para responder às questões 3 e 4.
3. (UNESP)
a) Para o físico Marcelo Gleiser, o que distingue as tecnologias
transumanas daquelas apenas corretivas? Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO: 
Segundo o texto, as tecnologias corretivas regula rizam deficiências
físicas existentes, não têm como objetivo a ampliação de
características cognitivas, como é o caso do transumanismo.
b) Cite dois termos empregados em sentido figurado no primeiro
parágrafo do artigo.
RESOLUÇÃO: 
São exemplos de termos empregados em sentido figurado:
“engavetado”, metáfora que se refere a estar preso no
congestionamento, e “navegar”, também metáfora, referindo-se a
passar de um sítio para outro na internet.
Considere a seguinte situação: você acorda atrasado para o
trabalho e, na pressa, esquece o celular em casa. Só quando
engavetado no tráfego ou amassado no metrô você se dá conta. E
agora é tarde para voltar. Olhando em volta, você vê pessoas com
celular em punho conversando, mandando mensagens, navegando
na internet. Aos poucos, você vai sendo possuído por uma sensação
de perda, de desconexão. Sem o seu celular, você não é mais você.
A junção do humano com a máquina é conhecida como
“transumanismo”. Tema de vários livros e filmes de ficção científica,
hoje é um tópico essencial na pesquisa de muitos cientistas e
filósofos. A questão que nos interessa aqui é até que ponto essa
junção pode ocorrer e o que isso significa para o futuro da nossa
espécie.
Será que, ao inventarmos tecnologias que nos permitam ampliar
nossas capacidades físicas e mentais, ou mesmo máquinas
pensantes, estaremos decretando nosso próprio fim? Será esse
nosso destino evolucionário, criar uma nova espécie além do
humano?
É bom começar distinguindo tecnologias transumanas daquelas
que são apenas corretivas, como óculos ou aparelhos para surdez.
Tecnologias corretivas não têm como função ampliar nossa
capacidade cognitiva: só regularizam alguma deficiência existente.
A diferença ocorre quando uma tecnologia não apenas corrige
uma deficiência como leva seu portador a um novo patamar, além da
capacidade normal da espécie humana. Por exemplo, braços
robóticos que permitem que uma pessoa levante 300 quilos, ou
óculos com lentes que dotam o usuário de visão no infravermelho.
No caso de atletas com deficiência física, a questão se torna bem
interessante: a partir de que ponto uma prótese como uma perna
artificial de fibra de carbono cria condições além da capacidade
humana? Nesse caso, será que é justo que esses atletas compitam
com humanos sem próteses?
Poderia parecer que esse tipo de hibridização entre tecnologia e
biologia é coisa de um futuro distante. Ledo engano. Como no caso
do celular, está acontecendo agora. Estamos redefinindo a espécie
humana através da interação – na maior parte ainda externa – com
tecnologias que ampliam nossa capacidade.
Sem nossos aparelhos digitais – celulares, tabletes, laptops – já
não somos os mesmos. Criamos personalidades virtuais, ativas
apenas na internet, outros eus que interagem em redes sociais com
selfies arranjados para impressionar; criações remotas, onipresentes.
Cientistas e engenheiros usam computadores para ampliar sua
habilidade cerebral, enfrentando problemas que, há apenas algumas
décadas, eram considerados impossíveis. Como resultado, a cada
dia surgem questões que antes nem podíamos contemplar.
(Folha de S.Paulo, 01.02.2015. Adaptado.)
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4. (UNESP)
a) De acordo com o físico, nós já podemos ser considerados
transumanos? Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO: 
Segundo o autor, o transumanismo, “hibridismo entre tecnologia
e biologia”, já está ocorrendo. Marcelo Gleiser considera que os
seres humanos estão ampliando sua capacidade por meio de
tecnologias que os redefinem de modo que as pessoas já não são
as mesmas, caso percam o acesso aos aparelhos eletrônicos, tal
como acontece no caso do celular.
b) Dêiticos: expressões linguísticas cuja interpretação depende da
pessoa, do lugar e do momento em que são enunciadas. Por
exemplo: “eu” designa a pessoa que fala “eu”. 
(Ernani Terra. Leitura do texto literário, 2014.)
Cite dois dêiticos empregados nos dois primeiros parágrafos do
texto.
RESOLUÇÃO: 
O pronome de tratamento “você” foi empregado em sentido
generalizante, pois não se refere a uma pessoa em particular, mas
a todos os que já vivenciaram as situações descritas no primeiro
parágrafo. No segundo parágrafo, o pronome pessoal oblíquo
“nos” refere-se ao próprio autor do texto, é usado como plural de
modéstia. O pronome possessivo “nossa” refere-se à espécie
humana.
Texto para a questão 5.
(André Dahmer. Malvados, 2019.)
5. (FMABC-2021) – Depreende-se da tira que os artistas
a) perderam a sensibilidade em razão da dificuldade fi nan ceira.
b) vivem acima de suas possibilidades financeiras.
c) importam-se unicamente com a própria arte.
d) encontram dificuldade em sobreviver da própria arte.
e) encontram inspiração na dificuldade financeira.
RESOLUÇÃO: 
O diálogo na tirinha refere-se aos artistas como seres
“atormentados”, mas não pela sensibilidade, e sim pelo fato
material de terem de pagar aluguel. Assim, o tormento que eles
sofrem não se refere à arte, mas a problemas financeiros,
sugerindo que os artistas não conseguem viver da arte que
produzem.
Resposta: D
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Você já sabe que a oração que não funciona como um termo de outra oração do mesmo período chama-se
oração inde pen dente.
As orações independentes vêm coordenadas entre si e classifi cam-se co mo mostra o quadro seguinte.
ORAÇÕES COORDENADAS
não funcionam como termos de outras orações
ASSINDÉTICAS não vêm introduzidas por con junção
SINDÉTICAS
vêm introduzidas por con junção
Classificação
aditivas – relação de soma: e, nem, não só...mas também, tanto... como etc.
adversativas – relação de oposi ção: e (= mas), porém, todavia, contu do, en tre tan to, no entanto etc.
alternativas – relação de alter nân cia: ou, ou ... ou, ora ... ora, já ... já, quer ... quer etc.
conclusivas – relação de conclu são: logo, portanto, por isso, pois (após o verbo), de modo que,
por conseguinte etc.
explicativas – relação de expli cação: pois (antes do verbo), porque, porquanto, que etc.
Observe que a conjunção pois pode ser empregada em uma oração coordenada sindética
• explicativa, quando explica a declaração contida na oração an terior. Nesse caso, aparece antes do verbo e pode ser
subs tituída pela conjunção porque;
• conclusiva, quando exprime a conclusão de um racio cínio. Nesse caso, geralmente aparece depois do verbo e pode
ser substituída pela conjunção portanto.
MÓDULO 14 Orações Coordenadas
1. Indique a relação que a oração sublinhada estabelece com outra
oração do período.
Relações:
a) soma, adição 
b) oposição 
c) alternância
d) conclusão 
e) explicação
f) assindética
Classifique as orações coordenadas grifadas.
I. ( a ) Acalma-te, que eu estou aqui.
II. ( d ) A energia já voltou; acenda, pois, as luzes.
III. ( b ) Corri como um louco, e não consegui chegar na hora.
IV. ( f ) Tudo muda, tudo passa, Deus permanece.
V. ( e ) Não reclames tanto; porque haverá outra seleção.
VI. ( c ) Ora a menina corria até a porta, ora ia até a janela.
VII. ( d ) És muito capaz; daí, procura ficar mais tranquilo.
VIII. ( a ) “Não é chuva,
não é vento,
nem é gente, com certeza.”
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Texto para a questão 2.
2. (FUVEST)
a) Qual o sentido das palavras “cravou” e “planilhar” destacadas no
texto e qual o efeito que elas produzem?
RESOLUÇÃO:
O verbo “cravar” indica, no contexto, “afirmar categoricamente”;
o verbo “planilhar” tem o sen tido de “organizar dados de maneira
padroni zada”. O primeiro apresenta uma constatação de que os
super-heróis, para atingir seu objetivo, acabam provocando
também a morte de inocen tes. O segundo comprova essa ideia,
por meio de um levantamento de dados numéricos feito com 20
longas de super-heróis.
b) Substitua os dois-pontos do trecho “Vale dizer que o usuário
contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram na
planilha vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de baterem
as botas” por uma conjunção e indique qual a relação de sentido
estabelecida por ela?
RESOLUÇÃO:
Os dois pontos introduzem uma explicação sobre a condição que
Tom95 leva em conta para que uma morte seja considerada
relevante na Saga Vingadores: ter-se abatido sobre uma
personagem que tenha nome. Dessa forma, esse sinal de
pontuação pode ser substituído por uma conjun ção explicativa
como pois, porque.
Texto para a questão 3.
3. Os enunciados que compõem os textos encadeiam-
se por meio de elementos linguísticos que
contribuem para construir diferentes relações de
sentido. No trecho “Em vielas sinuosas, portanto, estaríamos livres de
assombrações malditas”, o conector “portanto” estabelece a mesma
relação semântica que ocorre em
a) “[...] talvez as favelas cariocas fossem lugares nobres e seguros
[...].”
b) “[...] acreditava-se por lá, assim como em boa parte do Oriente [...].”
c) “[...] elas podem ser também solução para uma série de desafios
das cidades hoje.”
d) “Contanto que não sejam encaradas com olhar pitoresco ou
preconceituoso.”
e) “As favelas são, afinal, produto direto do urbanismo moderno [...].”
RESOLUÇÃO:
O conector “portanto” estabelece com o período relação de
conclusão, tal qual o conectivo “afinal”. Em a, “talvez” indica
dúvida; em b, “assim como”, comparação; em c, “também”,
inclusão; em d, “contanto que”, condição.
Resposta: E
Tio Ben cravou pouco antes de falecer: “grandes poderes nunca
vêm sozinhos”. E não há responsabilidade maior do que tirar a vida de
alguém. Isso, no entanto, não significa que super-heróis tenham a
ficha completamente limpa. Na verdade, uma olhada mais atenta nos
filmes sobre os personagens confirma uma teoria não tão inocente –
a grande maioria deles é homicida.
Foi pensando nisso que um usuário do Reddit, identi ficado como
T0M95, resolveu planilhar os assassinatos que acontecem nos filmes
da Marvel. Nos 20 longas, que saíram nos últimos 10 anos, foram 65
mortes – e 20 delas deixaram sangue nas mãos dos mocinhos.
Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes
à história: só entraram na planilha vítimas que tinham, pelo menos,
nome antes de baterem as botas. Nada de figurantes ou bonecos
criados em computação gráfica só para dar volume a uma tragédia.
Ficaram de fora, por exemplo, as centenas que morreram durante a
batalha de Wakanda, em “Vingadores: Guerra Infinita”, ou a cena de
“Guardiões da Galáxia” que se consagrou como o maior massacre
da história do cinema.
(https://super.abril.com.br/cultura/quantosassassinatoscadaheroievilaodamarv
elcometeunoscinemas. Adaptado.) 
Para os chineses da dinastia Ming, talvez as favelas cariocas
fossem lugares nobres e seguros: acreditava-se por lá, assim como
em boa parte do Oriente, que os espíritos malévolos só viajam em
linha reta. Em vielas sinuosas, portanto, estaríamos livres de
assombrações malditas. Qualidades sobrenaturais não são as únicas
razões para considerarmos as favelas um modelo urbano viável,
merecedor de investimentos infraestruturais em escala maciça.
Lugares com conhecidos e sérios problemas, elas podem ser
também solução para uma série de desafios das cidades hoje.
Contanto que não sejam encaradas com olhar pitoresco ou
preconceituoso. As favelas são, afinal, produto direto do urbanismo
moderno e sua história se confunde com a formação do Brasil.
(CARVALHO, B. A favela e sua hora. Piauí, n. 67, abr. 2012.)
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Texto para a questão 4.
4. O emprego adequado dos elementos de coesão
contribui para a construção de um texto
argumentativo e para que os objetivos pretendidos
pelo autor possam ser alcançados. A análise desses elementos no texto
mostra que o conectivo
a) “ou seja” introduz um esclarecimento sobre a diminuição da
quantidade de lixo.
b) “mas” instaura justificativas para a criação de novos tipos de
reciclagem.
c) “também” antecede um argumento a favor da reciclagem.
d) “afinal” retoma uma finalidade para o uso de matérias-primas.
e) “então” reforça a ideia de escassez de matérias-primas na natureza.
RESOLUÇÃO:
O elemento de coesão ou seja é explicativo.
Resposta: A
Texto para a questão 5.
5. (FGV) – Assinale a alternativa em que esse trecho está reescrito
adequadamente, considerando-se os aspectos de coesão e coerência
textual.
a) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados Unidos
e aproveitaram as férias, conquanto pagassem mais barato por
artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para
bebês, entre outros itens.
b) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados
Unidos, embora aproveitassem as férias, também pagaram mais
barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e
acessórios para bebês, entre outros itens.
c) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados Unidos
para aproveitar as férias e também para pagar mais barato por artigos
eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para bebês,
entre outros itens.
d) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados
Unidos, que aproveitaram as férias, inclusive para pagar mais barato
por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios
para bebês, entre outros itens.
e) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram tanto para os Estados
Unidos que aproveitaram as férias, inclusive para pagar mais barato
por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios
para bebês, entre outros itens.
RESOLUÇÃO:
Tanto na frase do enunciado quanto na da alternativaapontada, a
relação que se estabelece entre as orações é de finalidade e de
adição.
Resposta: C
Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados
Unidos para – além de aproveitar as férias – pagar mais barato por
artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para
bebês, entre outros itens.
RECICLAR É SÓ PARTE DA SOLUÇÃO
O lixo é um grande problema de sustentabilidade. Literalmente:
todos os anos, cada brasileiro produz 385 kg de resíduos – dá 61
milhões de toneladas no total. O certo seria tentar diminuir ao máximo
essa quantidade de lixo. Ou seja, em vez de ter objetos recicláveis,
o ideal seria produzir sempre objetos reutilizáveis, o que diminui os
resíduos. Mas, enquanto isso não acontece, temos que nos contentar
com a reciclagem. E é aí que vem um detalhe perigoso: reciclar o lixo
também polui o ambiente e gasta energia. Reciclar vidro, por
exemplo, é 15% mais caro do que produzi-lo a partir de matérias-
primas virgens. Afinal, é feito basicamente de areia, soda e calcário,
que são abundantes na natureza. Então, nenhuma empresa tem
interesse em reciclá-lo. Já o alumínio é um supernegócio, porque
economiza muita energia.
HORTA, M. Disponível em: http://super.abril.com.br. 
Acesso em 25 maio 2012.
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Você já aprendeu que a oração subordinada depen de de outra
oração do período, pois funciona como um termo dessa
oração, como se estivesse encaixada nela. A oração
subordinada pode ser substituída por um substantivo (ou
pronome substantivo), adjetivo ou palavra ou expressão com
valor de advérbio, compondo, dessa maneira, a oração
principal.
Para saber se uma oração é subordinada, verifique
• se ela é introduzida por uma conjunção ou por um
pronome relativo; ou
• se não introduzida por conjunção ou pronome relativo,
apresenta o verbo no gerúndio, particí pio ou infinitivo
(esses casos serão estudados mais tarde);
• se pode ser substituída por um substantivo (ou pro nome
substantivo), adjetivo ou palavra ou expressão com valor
de advérbio, compondo, desta maneira, a oração
principal.
Exemplos
Meu professor, que nasceu na França, fala bem o português.
Meu professor, francês, fala bem o português.
No caso, a oração subordinada – que nasceu na França –
• é introduzida por pronome relativo (que);
• pode ser substituída por um adjetivo (francês) que passa
a compor a oração principal.
Observei que eles estão contentes.
Observei o contentamento deles.
Observei isso.
A oração subordinada – que eles estão contentes –
• é introduzida por uma conjunção (que);
• pode ser substituída por um substantivo (conten tamento)
ou pronome substantivo (isso) que passa a compor a
oração principal.
Quando anoiteceu, ele chegou.
À noite, ele chegou.
No caso, a oração subordinada – quando anoiteceu –
• é introduzida por conjunção (quando);
• pode ser substituída por uma expressão com valor de
advérbio (à noite) que passa a compor a oração prin cipal.
Para saber se uma oração é principal, verifique
• se ela assimila o substantivo, adjetivo, advérbio ou
expressão com valor de advérbio equivalente à
transformação da oração subordinada.
Exemplos
Observei que eles estão contentes.
Observei o contentamento deles.
Observei isso.
A oração principal – Observei – assimilou o substan tivo
contentamento (ou o pronome isso), equiva lente à oração
subordinada transformada.
O termo contentamento deles (ou isso) funciona como objeto
direto da nova oração.
A oração subordinada substantiva desempenha fun ção
sintática própria do substantivo. Pode ser subs tituída por um
substantivo ou pronome substantivo.
Às vezes, não encontramos um substantivo ade quado, que
não altere o sentido da frase, para fazer a substituição. Mas
sempre podemos substituir a oração subordinada substan -
tiva pelo pronome substantivo isso (ou contração do pronome
com conjunção, como disso, nisso).
ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
desempenham função sintática própria do substantivo
Funcionam como
• sujeito da principal — subjetiva
• objeto direto da principal — objetiva direta
• objeto indireto da principal — objetiva indireta
• predicativo do sujeito da principal — predicativa
• complemento nominal da principal — completiva nominal
• aposto da principal — apositiva
MÓDULO 15 Orações Subordinadas Substantivas
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1. Analise a função sintática do termo grifado em I e, a seguir, em II, transforme esse termo na oração subor dinada subs tan tiva correspondente,
classifican do-a. Preste atenção na correlação entre o verbo da principal e o verbo da subordinada.
a) I. O patrão exigia a lealdade dos funcionários.
II. O patrão exigia que os funcionários fossem leais.____________________________________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta____________________________
b) I. O orfanato depende da doação do terreno.
II. Os orfanato depende de que o terreno seja doado.______________________________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta______________________________
c) I. Tenho certeza de sua omissão na tragédia.
II. Tenho certeza de que você se omitiu na tragédia.____________________________________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal___________________________________
d) I. O essencial é a nossa confiança no sistema jurídico.
II. O essencial é que confiemos no sistema jurídico.__________________________________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Predicativa___________________________
e) I. É imprescindível a leitura das obras indicadas.
II. É imprescindível que as obras indicadas sejam lidas. OU que se leiam as obras indicadas._______________________________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Subjetiva___________________________
f) I. O advogado enfatizou uma Cláusula do contrato: a rescisão iminente.
II. O advogado enfatizou uma Cláusula do contrato: que a rescisão era iminente._____________________________________________________
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Apositiva_________________________
( Aposto )
( S )
( PS )
( CN )
( OI )
( OD )
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2. Classifique as orações subordinadas substantivas extraídas de
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
(1) objetiva direta (2) subjetiva (3) objetiva indireta 
(4) completiva nominal (5) predicativa 
a) "Vi que a emoção dela era outra vez grande, mas não recuava de
seus propósitos..." ( )
b) "De repente, cessando a reflexão, fitou em mim os olhos de ressaca,
e perguntou-me se tinha medo." ( )
c) "Se me acudisse ali uma injúria grande ou pequena, é possível que
a escrevesse também..." ( )
d) "Ao mesmo tempo tomei-me do receio de que alguém nos
pudesse ouvir..." ( )
e) "O bonito é que cada um de nós queria agora as culpas para si..."
( )
f) "No dia seguinte, arrependi-me de haver rasgado o discurso...
( ) Pensei em recompô-lo, mas só achei frases soltas..." ( )
RESOLUÇÃO: a) 1; b) 1; c) 2; d) 4; e) 5; f) 3, 3. 
Texto para a questão 3.
(Laerte. “Piratas do Tietê”. Folha de S.Paulo, 20.09.2016)
3. (FGV-Economia) –
a) Explique o que significa, no contexto da tira, a frase “Anda vendo
muito filme, cidadão.”
RESOLUÇÃO:
A frase “Está sendo abduzido” induz o persona gem a associar a
ação aos aliens e imaginar como isso se daria, segundo os filmes
hollywoodianos.
b) Reescreva a fala do quarto quadrinho na forma afirmativa,
substituindo “Eu não deveria...”por “Eu supunha que...” e o verbo
“flutuar” por “dirigir-se”.
RESOLUÇÃO:
Eu supunha que seria transportado pelo ar, dirigindo-me para uma
nave espacial. 
Tira para a questão 4.
Disponível em: <http://portancredo.blogspot.com.br/>. 
Acesso em: 30 maio 2016.
4. (UFAL) – Dadas as afirmativas a respeito da tira,
I. O recurso linguístico utilizado pelo personagem é o discurso direto.
II. As falas do personagem exemplificam o uso da linguagem em
função predominantemente fática, uma vez que o elemento da
comunicação centralizado é o canal.
III. O vocábulo que em: “Não é justo que uma mulher trabalhe...”
introduz uma oração subordinada substantiva subjetiva.
IV. Em se tratando de noção temporal, o pronome isso em: “Por que
não faz isso à noite?...”, de 2ª pessoa do discurso, indica tempo
presente ou momento pontual. 
verifica-se que estão corretas
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
RESOLUÇÃO:
Todas corretas. Em I, a fala é apresentada pela própria personagem
(discurso direto); em II, a indicação da função predominantemente
fática é adequada, já que há, apenas, a intenção de interação entre
os falantes; em III, “que” é conjunção integrante, introduz,
portanto, oração subordinada substantiva; em IV, a indicação
temporal relaciona-se ao tempo presente porque “isso” refere-se
ao que a mulher estava executando no momento da fala de Hagar.
Resposta: E
NÃO É JUSTO QUE
UMA MULHER TRABALHE
TANTO COM UM SOL
DESSES!
POR QUE NÃO FAZ
ISSO À NOITE?...
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5. (UNIFESP-2018) – “De acordo com essa teoria, não cabia aos
homens modificar a ordem social.” (1.° parágrafo)
O trecho destacado exerce a função sintática de
a) objeto indireto.
b) objeto direto.
c) adjunto adnominal.
d) sujeito.
e) adjunto adverbial.
RESOLUÇÃO:
A oração “modificar a ordem social” funciona como sujeito (oração
subordinada substantiva subjetiva) da principal. Assim o trecho
poderia ser reescrito da seguinte forma: “De acordo com essa
teoria, modificar a ordem social não cabia aos homens”.
Resposta: D
6. (UNIFESP-2019) – A forma verbal destacada deve sua flexão
ao termo sublinhado em:
a) “Deu-me lá alguma cousa para guardar?”
b) “Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na
miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário.”
c) “Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi
também banco.”
d) “os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo,
enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que
os mortos queridos.”
e) “Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se
haviam apoderado.”
RESOLUÇÃO:
“Sucedeu” é a oração principal que vem seguida de sujeito
oracional. Nesse caso, o verbo da oração prin cipal fica sempre na
3a. pessoa do singular.
Em a, o verbo concorda com o sujeito oculto “você”, indicado na
oração anterior; em c, concorda com o sujeito também oculto “a
casa-grande”, indicado no período anterior; em d, concorda com o
sujeito simples plural “os grandes proprietários”; em e, com o
sujeito também simples no plural, “os senhores”.
Resposta: B
OBSERVAÇÕES
I. Frequentemente, a oração subordinada subs tan tiva é introdu zida
pela conjunção integrante que, conforme visto nos exemplos
anteriores.
II. A oração subordinada substantiva também pode ser intro du zi da
pela conjunção integrante se. Exemplo: Não sei se ela estranhou
o calor da minha alegria (...) (Rubem Braga). Nesse caso, não
ocorre a mesma correlação entre verbos da oração principal e da
subordinada vista no empre go da conjunção integrante que.
III. Embora a Nomenclatura Gramatical Brasi leira não registre, o
agente da passiva também pode apa recer em forma de oração.
Exemplo: As or dens são dadas por quem pode. (F. Namora)
IV. As orações subordinadas substantivas que não são intro du zi das
pelas conjunções integrantes que e se (conectivas) são cha ma das
de justa postas, por estarem colocadas junto às orações prin ci pais.
São iniciadas por pronomes e advérbios inter rogativos (quem,
quantos, por que, quando, como, onde etc.) que exercem fun ção
sintática.
Exemplos
Não se sabe quem cometeu o crime.
oração subordinada substantiva subjetiva
quem: sujeito da oração subordinada
A polícia investiga por que mataram o empresário.
oração subordinada substantiva objetiva direta
por que: adjunto adverbial de causa da oração subordinada
Tinha medo de quantos o cercavam.
oração subordinada substantiva completiva nominal
quantos: sujeito da oração subordinada
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1. (FUVEST) – “É da história do mundo que (1) as elites nunca
introduziram mudanças que (2) favorecessem a sociedade como um
todo. Estaríamos nos enganando se achássemos que (3) estas
lideranças empresariais aqui reunidas teriam motivação para fazer a
distribuição de poderes e rendas que (4) uma nação equilibrada precisa
ter.” O vocábulo que está numerado em suas quatro ocorrências, nas
quais se classifica como conjunção integrante e como pronome relativo.
Assinalar a alternativa que registra a classificação correta em cada caso,
pela ordem:
a) 1. pronome relativo, 2. conjunção integrante, 3. pronome relativo, 4.
conjunção integrante
b) 1. conjunção integrante, 2. pronome relativo, 3. pronome relativo, 4.
conjunção integrante
c) 1. pronome relativo, 2. pronome relativo, 3. conjunção integrante, 4.
conjunção integrante
d) 1. conjunção integrante, 2. pronome relativo, 3. conjunção integrante
4. pronome relativo
e) 1. pronome relativo, 2. conjunção integrante, 3. conjunção integrante,
4. pronome relativo 
RESOLUÇÃO:
O vocábulo “que” introduz orações subordinadas substantivas e
adjetivas, sendo que o primeiro e o terceiro iniciam uma subor -
dinada substantiva subjetiva e objetiva direta, respectivamente;
logo, funcionam como conjunção integrante. Já o segundo e o
quarto introduzem orações subordinadas adjetivas restritivas;
portanto, são pronomes relativos.
Resposta: D
2. (PUC-RJ – modificada) – Frequentemente, frases como as apre -
sentadas abaixo são proferidas em conversações informais. Num texto
formal escrito, porém, são ina dequadas. Reescreva-as, sem modificar o
seu sentido e pontuação, mas adequando-as ao padrão da língua escrita.
a) O garoto que eu gosto dos olhos dele ainda não chegou.
RESOLUÇÃO:
O garoto de cujos olhos eu gosto ainda não chegou.
b) O homem que eu telefonei para ele ontem não estava em casa.
RESOLUÇÃO:
O homem para quem eu telefonei ontem não estava em casa.
c) A rua que eu gosto de correr é toda arborizada.
RESOLUÇÃO:
A rua em que (onde) eu gosto de correr é toda arborizada.
Os pronomes relativos são assim chamados porque se relacionam a um termo – o antecedente (termo anterior).
VARIÁVEIS
INVARIÁVEISMASCULINO FEMININO
Singular Plural Singular Plural
o qual os quais a qual as quais que
cujo cujos cuja cujas quem
quanto quantos onde
MÓDULO 16 Emprego do Pronome Relativo
“As perguntas que fazemos revelam o ribeirão onde queremos ir beber...” (Rubem Alves)
antecedente pronome antecedente pronome
relativo relativo 
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3. (ACAFE-2018) – Preencha as lacunas com pronomes relativos que,
quem, onde, cujo/cujos/cuja/cujas, precedidos ou não de preposição,
conforme exige o contexto frasal.
I. Devido à linha estiagem, a vida na fazenda _____________________
sempre tirou o seu sustento tornava-se cada vez mais difícil.
II. As minas de ouro _____________________ profundezas foram
retiradas as mais valiosas pepitas há alguns anos são improdutivas
atualmente.
III. Os novos escritores _____________________ a academia deseja
prestar homenagens na sessão de amanhã são de Teresina (PI) e de
Cabedelo (PB), respectivamente.
IV. Os policiais que foram encarregados de investigar o furto dos
celulares no hangar doGaleão querem descobrir _________________
as câmaras de monitoramento não capturaram nenhuma imagem
dos criminosos.
V. A clorofila, _____________________ existe nas plantas, é responsável
pela fotossíntese.
RESOLUÇÃO:
Na frase I, “na fazenda” é advérbio de lugar e, como tal, é possível
a substituição pelo pronome relativo “onde”, precedido pela
preposição “de” (de onde tirou / retirou de + a fazenda). Na frase
II, de “cujas” exprime ideia de posse / pertencimento (profundezas
das minas de ouro). Na frase III, a academia deseja prestar
homenagem a quem? (aos escritores). Na IV, “[...] descobrir por
que as câmaras [...], isto é, [...] por qual motivo as câmaras [...]. Na
frase V, o pronome “que” retoma e substitui “clorofila”, ou seja “a
clorofila existe nas plantas”.
Resposta: B
4. Diante do número de óbitos provocados pela gripe
H1N1 – gripe suína – no Brasil, em 2009, o Ministro
da Saúde fez um pronunciamento público na TV e no
rádio. Seu objetivo era esclarecer a população e as autoridades locais
sobre a necessidade do adiamento do retorno às aulas, em agosto, para
que se evitassem a aglomeração de pessoas e a propagação do vírus.
Fazendo uso da norma padrão da língua, que se pauta pela correção
gramatical, seria correto o Ministro ler, em seu pronunciamento, o
seguinte trecho:
a) Diante da gravidade da situação e do risco de que nos expomos, há
a necessidade de se evitar aglomerações de pessoas, para que se
possa conter o avanço da epidemia.
b) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos expomos, há a
necessidade de se evitarem aglomerações de pessoas, para que se
possam conter o avanço da epidemia.
c) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos expomos, há a
necessidade de se evitarem aglomerações de pessoas, para que se
possa conter o avanço da epidemia.
d) Diante da gravidade da situação e do risco os quais nos expomos, há
a necessidade de se evitar aglomerações de pessoas, para que se
possa conter o avanço da epidemia.
e) Diante da gravidade da situação e do risco com que nos expomos,
tem a necessidade de se evitarem aglomerações de pessoas, para
que se possa conter o avanço da epidemia.
Resposta: C
Texto para a questão 5.
5. (FUVEST)
a) Para que o emprego da palavra “onde”, sublinhada no texto, seja
considerado correto, a que termo antecedente ela deve se referir?
Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO:
O pronome relativo “onde” refere-se a lugar, retomando a
expressão “álbum de fotografia”, o que permite a seguinte relação
de ideias: “víamos as imagens no álbum de fotografias”.
b) Reescreva a frase “Todas as outras, que ideia.”, substituindo os dois
sinais de pontuação nela empregados por outros, de tal maneira que
fique mais evidente a entonação que ela tem no contexto.
RESOLUÇÃO:
O excerto em destaque expressa uma condenação às inúmeras
fotografias que se popularizam na forma de selfies. Assim, a
pontuação adequada a essa postura crítica seria: “Todas as outras?
Que ideia!”
A PRAGA DOS SELFIES
De uma coisa tenho certeza. A foto pelo celular vale apenas pelo
momento. Não será feito um álbum de fotografias, como no passado,
onde víamos as imagens, lembrávamos da família, de férias, de
alegrias. As imagens ficarão esquecidas em um imenso arquivo.
Talvez uma ou outra, mais especial, seja revivida. Todas as outras,
que ideia. Só valem pelo prazer de fazer o selfie. Mostrar a alguns
amigos. Mas o significado original da foto de família ou com amigos,
que seria preservar o momento, está perdido. Vale pelo instante,
como até grandes amores são hoje em dia. É o sorriso, o clique, e
obrigado. A conquista: uma foto com alguém conhecido.
(W. Carrasco, “A praga dos selfies”. Época, 26.09.2016)
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6. (FGV-Direito-2019)
a) Para obter ênfase na mensagem, o redator desse texto emprega,
de modo reiterado, um determinado recurso expressivo. Identifique-
o e justifique.
RESOLUÇÃO:
O recurso expressivo é a repetição enfática do trecho “que a gente
gostaria de”, que mantém o paralelismo sintático e semântico do
texto.
b) Na frase “Aproximamos as pessoas com quem a gente gostaria de
conviver”, o redator do texto seguiu as regras da norma-padrão da
língua portuguesa escrita ao usar a preposição “com” exigida pelo
verbo “conviver”. Em outras frases, no entanto, faltou a preposição
exigida pelos respectivos verbos. Reescreva duas destas frases,
inserindo, nelas, a preposição adequada.
RESOLUÇÃO:
Produzimos os eventos a que a gente gostaria de ir.
Investimos nos negócios de que a gente gostaria de participar.
Conectamos as marcas com que a gente gostaria de trabalhar.
7. (VUNESP) – Considere a frase:
Completam correta e respectivamente a frase, as prepo sições
a) a – dos
b) sobre – nos
c) para – nos
d) por – aos
e) de – aos
Resposta: E
8. (UNISA) – A expressão com que preenche corretamente a lacuna da
frase.
a) O controle _____________ gostamos de exercer sobre a vida alheia
é um indício do autoritarismo que há dentro de nós.
b) É imensa a força ______________ os governos autoritários costumam
subjugar as pessoas e inibir as iniciativas libertárias.
c) A realidade _______________ George Orwell imaginou seria regida
pelo poder de um governo absolutista e burocrático.
d) Todo o interesse _______________ as pessoas vêm demons trando
pelo programa Big Brother prova que há autorita rismo nas raízes da
sociedade.
e) O autor do texto parece repudiar esse interesse ________________
vem recebendo do grande público um programa como o Big Brother.
RESOLUÇÃO:
As demais alternativas aceitam apenas o pronome relativo que.
Resposta: B
NOSSO MANIFESTO
Produzimos os eventos que a gente gostaria de ir. Geramos o
conteúdo que a gente gostaria de consumir. Construímos os lugares
que a gente gostaria de frequentar. Criamos os produtos que a
gente gostaria de comprar. Investimos nos negócios que a gente
gostaria de participar. Aproximamos as pessoas com quem a gente
gostaria de conviver. Conectamos as marcas que a gente gostaria
de trabalhar. Simples assim.
(Meca Journal, n.° 12, julho.2017)
Este é o cientista renomado _________ quem lhe falei, e os
resultados das pesquisas __________ quais ele aludiu, durante sua
palestra, são bastante promissores.
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1. Classifique as orações adjetivas destacadas, colo cando R para as
restritivas e E para as explicativas. Coloque vírgula antes da oração
adjetiva, quando se tratar de explicativa.
a) Muitas crianças morrem por doenças que podiam ser evitadas.
( R )
b) Os cremes faciais que são criados com recurso da na notecno -
logia atingem as camadas mais profun das da pele.
( R )
c) A África que concentra os maiores bolsões de miséria do pla -
neta tem obstáculos quase intrans poníveis ao desenvol vimento.
( E )
2. (FGV) – Compare as duas frases, observando sua pontuação.
Assinale a alternativa correta quanto ao sentido dessas frases.
a) A primeira afirma que somente as meninas feias serão beijadas; as
bonitas não.
b) A primeira afirma que todas as meninas da festa são feias – e serão
beijadas.
c) A segunda afirma que todas as meninas da festa são feias – e serão
beijadas.
d) A segunda afirma que somente as meninas bonitas serão beijadas;
as feias não.
e) As duas frases afirmam que as meninas bonitas serão beijadas.
PRONOMES RELATIVOS
QUE
Substitui um termo da oração anterior.
É antecedido por preposição se o nome ou verbo a
que se associa a exigir.
Exemplos: Contou a novidade que todos já conhe -
ciam. Comprou o carro de que gostara. Chegaram os
livros com que vou terminar meu trabalho.
O QUAL
Usa-se, preferencialmente, depois de
pre po sições com mais de uma sílaba.
Substitui o que para evitar ambiguidade.
É antecedido por preposição se o nome ou verbo a
que se associa a exigir.
Exemplos: A testemunha falou a verdade ao juiz
perante o qual depôs. O guia da tur ma, o qual se
atra sou, era novo na empre sa. (Repare, neste último
exemplo, que o uso do que acarretaria ambi gui da -
de.)
QUEM
Usa-se com referência a pessoas.
Substitui aquele que.
De preferência, concorda com o verbo na terceira
pessoa do singular.
É antecedido por preposição se o nome ou verbo a
que se associa a exigir.
Exemplos: João foi quem me defendeu.
Foi embora Júlia, por quem todos se apaixo naram.
ONDE
Usa-se com referência a lugar.
Substitui em que, na qual.
Exemplos: Esta é a rua onde moro.
Va mos seguir o caminho por onde
passo to dos os dias.
CUJO
Indica posse.
Substitui substantivo ou pronome
prece dido da preposição de.
É antecedido por pre posição exigida
pelo verbo que o segue.
Exemplos: Recordava apenas dos
escri tores de cujos livros havia gostado.
Visi tava sempre as primas em cuja casa
passara a infância.
ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA
encaixa-se na principal, equivalendo a um adjetivo
RESTRITIVA EXPLICATIVA
• delimita ou define mais
cla ra mente o seu ante -
ce dente
• não é separada por vír -
gu la
• apresenta uma explica -
ção ou pormenor do an -
te cedente
• é separada por vírgula
RESOLUÇÃO:
A África, que concentra os maiores bolsões de miséria do planeta,
tem obstáculos quase intransponíveis ao desen volvimento. 
Nesta festa, só beijarei as meninas, que são feias.
Nesta festa, só beijarei as meninas que são feias.
RESOLUÇÃO: 
Quando separada por vírgula, como no primeiro período, a oração
subordinada adjetiva "que são feias" é explicativa, ou seja, ela se
refere a uma propriedade do conjunto ("as meni nas") retomado
pelo pronome rela tivo. Portanto, no primeiro período, afirma-se
que "as meninas (sem restrição) são feias", e todas serão beija -
das. No segundo período, sem vírgula, a oração adjetiva é
restritiva, ou seja, demarca apenas um subconjunto do grupo a
que o pronome relativo se refere. Portanto, no segundo período,
o sentido é que parte das meninas são feias, e apenas estas serão
beijadas. Resposta: B
MÓDULO 17
Orações subordinadas adjetivas e 
função sintática do pronome relativo
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3. (FUVEST-transferência) – Considere os seguintes frag mentos:
A explicação correta para a presença da vírgula, antes de “que”, no
segmento I, e para a ausência, no segmento II, é:
a) Em I e em II, o uso da vírgula é opcional, por tratar-se do emprego
do mesmo pronome relativo.
b) Em I, o “que” separa o sujeito do respectivo verbo e, em II, sujeito
e verbo estão próximos.
c) Em I, inserem-se termos que designam tempo e lugar e, em II, não
há inserção de termos.
d) Em I e em II, constrói-se o significado por meio da entonação
promovida pelo uso ou não da vírgula.
e) Em I, o “que” introduz uma explicação, e, em II, restringe o sentido
do termo antecedente.
Resposta: E
4. (UNIFESP) – Em “Podemos [...] elevar à perfeição o tipo de
civilização que representamos”, o termo em destaque exerce a mesma
função sintática do trecho destacado em:
a) “[...] todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece
participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de
outra paisagem.”
b) “Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus
destinos [...].”
c) “[...] somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.”
d) “É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos
recebido a herança através de uma nação ibérica.”
e) “Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom
êxito a tentativa [...].”
RESOLUÇÃO:
O pronome relativo “que”, no enunciado, exerce a função sintática
de objeto direto (representamos a civilização). Em e, a oração
destacada funciona também como objeto direto (oração
subordinada substantiva objetiva direta) do verbo perguntar.
Resposta: E
5. (UNESP) – Em “Tales também previu um eclipse solar que ocorreu
no dia 28 de maio de 585 a.C.”, o termo destacado exerce função de
a) adjunto adnominal.
b) adjunto adverbial.
c) sujeito.
d) objeto indireto.
e) objeto direto.
RESOLUÇÃO:
O pronome relativo que funciona como sujeito do verbo ocorrer,
porque retoma “um eclipse solar”.
Resposta: C
Texto para a questão 6.
6. (BARRO BRANCO) – O pronome relativo que exerce a função de
objeto direto, e não de sujeito, apenas no trecho
a) que ouço com frequência (linha 3).
b) que nada tem de simples (linha 4).
c) que não pode ser esclarecido (linha 8).
d) que avança e recua no espaço (linha 12).
e) que não exclui a disciplina (linha 13).
Resposta: A
7. (FGV) – Na frase “Como a voz de um negro que canta num saveiro
o samba que Boa-Vida fez”, o pronome relativo “que”, em relação ao
verbo “canta”, exerce a função de ___________ e, em relação ao verbo
“fez”, exerce a função de ___________.
Essas lacunas dessa frase devem ser preenchidas, respectivamente,
por:
a) sujeito; objeto indireto.
b) sujeito; objeto direto.
c) objeto direto; sujeito.
d) objeto direto; objeto indireto.
e) objeto indireto; objeto direto.
RESOLUÇÃO:
No primeiro segmento, o pronome relativo “que” refere-se a
“negro”: um negro canta num saveiro, e funciona sintaticamente
como sujeito do verbo cantar. No segundo segmento, o pronome
relativo refere-se a “samba”: Boa-Vida fez o samba, e funciona
sintaticamente como objeto direto do verbo fazer.
Resposta: B
— Como nasce um conto? Um romance? Qual é a raiz de
um texto seu?
— São perguntas que ouço com frequência. Procuro então
simplificar essa matéria que nada tem de simples. Lembro que
algumas ideias podem nascer de uma simples imagem. Ou de
uma frase que se ouve por acaso. A ideia do enredo pode ainda
se originar de um sonho. Tentativa vã de explicar o inexpli cá vel,
de esclarecer o que não pode ser esclarecido no ato da cria ção.
A gente exagera (...) no fundo sabemos disso per fei tamente —
tudo é sombra. Mistério. O artista é um visionário. Um vidente.
Tem passe livre no tempo que ele percorre de alto a baixo em
seu trapézio voador que avança e recua no espaço: tanta luta,
tanto empenho que não exclui a disciplina.
(Clarice Lispector. Entrevistas, 2007.)
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I. “A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia
o ar”.
II. “vinham choros abafados de crianças que ainda não andam”.
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Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta português
Luís de Camões (1525?-1580), para responder à questão 1.
1. (UNESP) 
Os termos destacados constituem
a) pronomes.
b) conjunções.
c) uma conjunção e um advérbio, respectivamente.
d) um pronome e uma conjunção, respectivamente.
e) uma conjunção e um pronome, respectivamente.
RESOLUÇÃO:
No primeiro segmento, a palavra “se” é conjunção adverbial,
condicional e pode ser substituída por caso. O verbo consentir
significa permitir, aprovar, é transitivo direto e está na voz passiva
sintética, sendo o se pronome apassivador. 
Resposta: E
2. (PUC-PR) – Assinale a alternativa que estabeleça o mesmo tipo de
relação existente na oração destacada no parágrafo abaixo.
a) À medida que se aproximavam do rio, mais mosquitos apareciam.
b) Medidas urgentes precisam ser tomadas a fim de que a falência da
empresa possa ser evitada.
c) Naquela manhã, estava muito dispersivo porque dormira pouco.
d) Embora estivesse muito cansado, decidiu prosseguir a viagem.
e) Acredito que virá, apesar de ter-me avisado que não viria.
RESOLUÇÃO:
O período em questão tem em sua estrutura uma oração
subordinada causal e uma oração principal (com sentido de
consequência). A alternativa correta, portanto, é c, que traz uma
oração subordinada causal: “porque dormira mal“.
Resposta: C
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS
exercem a função de adjunto adverbial em 
relação à oração principal
causais – relação de causa: porque, visto que, como, uma
vez que, já que, porquanto etc.
Ex.: Como você chamou, eu vim.
consecutivas – relação de consequência: [tanto] que,
[tão...] que, [de tal forma] que, [tamanho] que, de sorte que
etc.
Ex.: Correu tanto que chegoucansado.
concessivas – relação de concessão: embora, apesar de,
ainda que, se bem que, conquanto, posto que etc.
Ex.: Embora não me conheça bem, confia em mim.
comparativas – relação de comparação: tal, como,
quanto [mais...] do que, [menos...] do que, [tanto...] quanto
etc.
Ex.: Ele observa mais do que fala.
conformativas – relação de conformidade: como, confor -
me, segundo etc.
Ex.: Conforme afirmaram os meteorologistas, hoje cho -
veria.
condicionais – relação de condição: se, salvo se, caso,
contanto que, desde que, a menos que, sem que etc.
Ex.: Comprarei o livro desde que encontre uma edição
revisada.
proporcionais – relação de proporção: à proporção que,
à medida que, quanto mais... etc.
Ex.: Quanto mais falava, mais se confundia.
temporais – relação de tempo: quando, enquanto, logo
que, assim que, depois que, até que, apenas, mal, que [=
quando] etc.
Ex.: Assim que entrei, ele saiu.
finais – relação de finalidade: a fim de que, para que, que
[= para que], porque [= para que] etc.
Ex.: Eles apresentaram a carteirinha a fim de obterem um
desconto.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
(Sonetos, 2001.)
Visto que estavam enfraquecidos pela contraofensiva aliada,
austríacos e turcos se renderam em outubro de 1918.
(Superinteressante. São Paulo, ed. 49, p. 15, jun. 2014)
“Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,” (2.a estrofe)
MÓDULO 18 Orações subordinadas adverbiais
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Texto para a questão 3.
3. (FGV-Eco) – A locução ainda que e o advérbio muito estabelecem,
nesse enunciado, relações de sentido, respectiva mente, de 
a) restrição e quantidade.
b) causa e modo.
c) tempo e meio.
d) concessão e intensidade.
e) condição e especificação.
RESOLUÇÃO:
"Ainda que” é uma locução conjuntiva de sentido conces sivo;
"muito” intensifica o adjetivo “alto ”. 
Resposta: D
Texto para o teste 4.
4. O texto, que narra uma parte do jogo final do
Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009,
contém vários conectivos, sendo que
a) após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga
alvinegra ter rebatido a bola de cabeça.
b) enquanto tem um significado alternativo, porque conecta duas
opções possíveis para serem aplicadas no jogo.
c) no entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos
observados no jogo em ordem cronológica de ocorrência.
d) mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”,
ter dificuldade não é algo naturalmente esperado.
e) por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque
do Flamengo motivaram o Botafogo a fazer um bloqueio.
RESOLUÇÃO: 
A circunstância indicada por mesmo é de concessão, já que “o time
dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de chegar à área” do
adversário, apesar de ter “mais posse de bola”. 
Resposta: D
5. (ALBERT EINSTEIN) – “– É para satisfazer nosso apetite que a
natureza é generosa, pondo seus frutos ao nosso alcance, desde que
trabalhemos por merecê-los.”
Considerado no contexto, o trecho sublinhado expressa ideia de
a) causa.
b) consequência.
c) condição.
d) concessão.
e) conclusão.
RESOLUÇÃO:
A oração destacada estabelece relação de condição com a oração
anterior. Poder-se-ia substituir a conjunção condicional “desde
que” por “se, caso, a menos que, a não ser que”.
Resposta: C
6. (UNIFESP-2020) – “Deus me livre das bobagens de Lamarck como
‘tendência ao progresso’, ‘adaptações a partir do esforço dos animais’,
— porém minhas conclusões não diferem muito das dele — embora a
forma da mudança difira inteiramente — creio que descobri (que
presunção!) a maneira simples pela qual as espécies se adaptam a
várias finalidades.”
No contexto em que se insere, o trecho sublinhado expressa ideia de
a) comparação.
b) causa.
c) conclusão.
d) consequência.
e) concessão.
RESOLUÇÃO:
A oração introduzida pela conjunção “embora” é subordinada
adverbial concessiva em relação à anterior. Esse conectivo pode
ser substituído por “ainda que”, “mesmo que”, “se bem que”.
Resposta: E
Ainda que endureçamos os nossos corações diante da vergonha
e da desgraça ex pe rimentadas pelas vítimas, o ônus do
analfabetismo é muito alto para todos os demais.
O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo
procurava fazer uma forte marcação no meio-campo e tentar lan ça -
mentos para Victor Simões, isolado entre os zagueiros rubro-negros.
Mesmo com mais posse de bola, o time dirigido por Cuca tinha
grande dificuldade de chegar à área alvinegra por causa do bloqueio
montado pelo Botafogo na frente da sua área.
No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Após
cruzamento da direita de Ibson, a zaga alvinegra rebateu a bola de
cabeça para o meio da área. Kléberson apareceu na jogada e
cabeceou por cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu
nas costas da defesa e empurrou para o fundo da rede quase que
em cima da linha: Flamengo 1 a 0. 
(Disponível em: 
http://momentodofutebol.blogspot.com – adaptado.)
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Texto para a questão 7.
7. (3.a Aplicação) – Na letra da canção, percebe-se uma
interlocução. A posição do emissor é conciliatória
entre as tradições do samba e os movimentos
inovadores desse ritmo. A estratégia argumentativa de concessão,
nesse cenário, é marcada no trecho 
a) “Mas não me altere o samba tanto assim”. 
b) “Olha que a rapaziada está sentido a falta”. 
c) “Sem preconceito / Ou mania de passado”. 
d) “Sem querer ficar do lado / De quem não quer navegar”. 
e) “Leva o barco devagar”
RESOLUÇÃO:
A estratégia argumentativa de concessão é nítida na frase “Mas
não me altere o samba tanto assim”, como se pode depreender
pelo uso dos termos “mas”, “não”, “tanto”, “assim”, que
restringem a ação dada pelo verbo “alterar”.
Resposta: A
Leia o poema “Sou um evadido”, do escritor português
Fernando Pessoa, para responder à questão 8.
8. (UNIFESP-2019) – Os termos sublinhados constituem
a) pronomes, somente.
b) conjunção, pronome e pronome, respectivamente.
c) conjunções, somente.
d) pronome, conjunção e conjunção, respectivamente.
e) conjunção, conjunção e pronome, respectivamente.
RESOLUÇÃO:
Em “se a gente”, o “se” é conjunção subordinativa condicional,
que pode ser substituída por “caso”.
O verbo “cansar” é pronominal e o pronome funciona como parte
integrante do verbo.
Resposta: B
9. (FGV-Economia) – Na passagem “A obsessão é tão grande que os
resultados chegam a formar uma caricatura dos jovens.”, entre as
informações, há relação de sentido de
a) explicação.
b) consequência.
c) oposição.
d) finalidade.
e) conformidade.
RESOLUÇÃO:
A oração iniciada pela conjunção que é adverbial consecutiva,
apresenta uma consequência da causa manifestada na primeira
oração.
Resposta: B
“Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?” (2a. estrofe)
ARGUMENTO
Tá legal 
Eu aceito o argumento 
Mas não me altere o samba tanto assim 
Olha que a rapaziada está sentido a falta 
De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim 
Sem preconceito 
Ou mania de passado 
Sem querer ficar do lado 
De quem não quer navegar 
Faça como o velho marinheiro 
Que durante o nevoeiro 
Leva o barco devagar. 
PAULINHO DA VIOLA. 
Disponível em: http://www.paulinhodaviola.com.br. 
Acesso em: 6 dez. 2012.
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FRENTE 2Literatura
MÓDULO 21 Introdução ao Realismo-Naturalismo
1. Contexto histórico-cultural
� A Revolução Industrial – 
O Materialismo – 
O Cientificismo
Da segunda metade do século XIX
ao início do século XX, o mundo
ocidental assistiu ao triunfo da Revo -
lução Industrial, à con so li dação e ao
fortalecimento da bur guesia como
classe dominante e à expansão do
capitalismo industrial às antigas áreas
coloniais da Amé rica, da África e da
Ásia, agorasob a denominação de
capitalismo avan ça do, alicerçan do-se
no avanço cien tífico e tecnoló gico
(locomotiva a vapor, eletrici dade,
telégrafo sem fio etc.).
Surge a civilização indus trial e
acentuam-se os seus des dobramen tos:
a explosão urbana, as massas
trabalhadoras, os sindicatos, as reivin di -
cações do proletariado (socialismo
utópico de Proudhon, o socialismo
científico de Marx e Engels).
Ciência, Progresso e Razão pas -
 sam a ser as palavras de ordem da
classe dominante, interessada na
estabilização de suas conquistas,
substituindo o ímpeto revolucionário,
contestatório e individualista da épo ca
romântica. A paixão e o impulso
pessoal cedem lugar à reflexão, à
observação, à análise e à disciplina.
As ideias avançadas do cientifi-
cismo e do materialismo europeu
contaminam a elite brasileira, ainda
que nossa realidade social e eco -
nômica fosse diferente da situação
europeia. Éramos ainda uma socie -
dade agrária, recém-saída do escra -
vagismo, fundada na produção
agrí cola (café, açúcar, borracha) e
gover nada por uma República Oli -
gárquica, instável e frequentemente
abalada por conflitos de interesses no
seio da própria classe dominante
(aristo cra cia decadente da cana-de-
açúcar, aristocracia ascendente do ca -
fé, as oligarquias regionais e a apari ção
de novos ato res na cena política — os
militares). Porém, nossa elite pen sava
segundo os modelos europeus e
procurava assimilar os costumes ci -
vilizados de Paris e de Londres.
Opondo-se ao idealismo e ao es -
piritualismo românticos, os realis tas
fazem da ciência e do materia lismo
uma nova religião. Nada que não pu -
des se ser visto, apalpado, me di do e
examinado por meio dos sentidos de -
 veria merecer atenção do cientista e
do artista. Assim, as noções de alma,
de religião, de Deus, de trans cen dên -
cia, tão caras aos românticos, são
abandonadas. Tor nam-se co muns o
anticlerica lismo e a crítica ao cris -
tianismo (Guerra Jun queiro, Eça de
Queirós, Inglês de Sousa, Aluísio
Azevedo, dentre outros, fizeram dos
padres os vilões de suas obras).
Dentre as correntes científicas e
filosóficas em voga no Realismo e no
Naturalismo, destacam-se:
• o Positivismo de Auguste Com -
te, propondo o primado da ciên cia
positiva no conhecimento do ho mem
e do mundo;
• o Evolucionismo de Charles
Darwin e de Herbert Spencer, sub me -
 tendo o homem às leis da Biolo gia e
à evolução natural das es pé cies. O
homem passa a ser visto co mo um
animal, submetido às mes mas leis
que regem todos os ani mais. Daí a
pre ferência pelos aspec tos bioló gi -
cos, fisiológi cos e ins tin tivos que
de terminam as ações das per sona -
gens, supe rando a vontade e a ra zão.
A realidade passa a ser interpre -
tada como um todo orgânico em que o
universo, a natureza e o homem estão
intimamente associados e su jeitos, em
igualdade de condi ções, aos mesmos
princípios, leis e finalidades;
• o Determinismo de Hippolyte
Taine, o qual propõe que o com por -
tamento humano seja deter minado
pelos fatores biológicos (instinto, raça,
hereditariedade), socioló gi cos e
ambientais (Ecologia, Geo grafia, meio
ou classe social), além das circuns -
tâncias históricas. Em sín tese: deter -
minismo de raça, meio e mo mento.
� Os antecedentes europeus
Em sentido amplo, a atitude rea -
lista sempre existiu, em todos os
tempos e em todas as es colas literá -
rias, como um dos polos da criação ar -
tística, voltada para a tendência de
re produzir nas obras os traços observa -
dos no mundo rea l, seja nas coisas,
seja nas pessoas ou nos sentimentos.
Essa atitude rea lista, universal no tem -
po e no es pa ço, opõe-se à atitude
romântica (tam bém universal), carac te -
ri za da pela fanta sia, pela tendência a
inventar um mundo novo, dife ren te e
muitas vezes oposto às leis do mun do
real. Os autores e as modas literá rias
oscilam incessante men te entre am bas
as atitudes e é da sua combi nação,
mais ou menos variada, que se faz a
Literatura.
A ficção moderna constitui-se jus -
tamente da tendência de se bus car,
cada vez mais, comu ni car ao leitor o
sentimento da reali dade, por meio da
observação exata do mundo e dos
seres. Nesse sen ti do, o roman ce
romântico esteve pleno de realismo.
Autores como Stendhal e Balzac, na
França, Dickens, na Inglaterra, Gogol,
na Rússia, todos da primeira metade
do século XIX, ainda que frequente -
mente relaciona dos ao Roman tis mo,
foram os verda deiros fundado res do
Realismo na ficção contem po rânea. 
2. Características 
� Objetivismo
Preocupação com a verdade não
apenas verossímil, mas exata, apoia -
da na observação e na análise.
� Predomínio das sensações
A realidade é captada e trans crita
por meio de impressões sen so riais
nítidas, precisas. Daí o predo mí nio da
descrição objetiva e minu cio sa. Os
detalhes são da maior impor tância:
nada é desprovido de interesse na
reconstituição exata da realidade.
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Enquanto o romântico capta o
mundo por meio do coração, do senti -
mento, o realista é, sobretudo,
sensorial. O amor perde a conotação
espi ritualizante, para privilegiar o
aspecto físico. Ocorre uma “sexuali -
zação” do amor, e o sexo torna-se
tema quase obrigatório.
� Temas contemporâneos
Só o presente interessa; desa -
parece o romance histórico. A ficção
centra-se na crítica social (contra a
burguesia, contra o clero, contra o
capitalismo selvagem, contra o obs -
curantismo) e na análi se psico lógica,
voltada para a investigação das causas
profundas das ações humanas.
� Impassibilidade – 
Contenção Emocional
O autor ausenta-se da narrativa,
assumindo uma posição neutra, im -
parcial, desinteressado pelo destino
das personagens, fotografadas “por
dentro” (Machado de Assis) e “por
fora” (Aluísio Azevedo). Busca-se uma
explicação lógica e cientifi camente
aceitável para o compor tamento e
para as ações das perso nagens.
� Personagens esféricas
Opondo-se à linearidade das per -
sonagens românticas (herói x vilão), as
personagens realistas são com plexas,
multiformes, imprevisí veis, re pelindo
qualquer simplifica ção. São também
dinâmicas, por que evo luem e têm
profundidade psico lógica.
� Materialismo – Cientificismo
A realidade é de caráter exclu -
sivamente material. Oposição à me ta -
 física e à religiosidade.
� Narrativa lenta
Ao se valorizarem as minúcias, a
ação e o enredo perdem a importân cia
para a caracterização das perso na gens
e dos ambientes.
� Romance social, psicológi co e
de tese; poesia urbana e agres -
te (Carvalho Júnior, Bernar dino
Lopes, Cesário Verde); poesia
filosófico-científica (Sílvio Ro -
me ro); poesia social (Antero de
Quen tal, Guerra Junqueiro e
Teófilo Braga).
� Preocupação formal
Buscam-se a clareza, o equilí brio,
a harmonia da composição.
� Correção gramatical
Purismo, vernaculidade, econo mia
vocabular, precisão lexical.
� Predomínio da denotação
A metáfora cede lugar à meto -
nímia. Linguagem simples, direta.
Preferência pela narração. Uma
contribuição importante do Realismo
foi a superação do tom excessiva -
mente declamatório e do verbalismo
adjetival dos românticos.
3. O Naturalismo
Surgiu na França, e seu criador e
principal teóri co foi Émile Zola
(Thérèse Raquin, Germinal). Foi Zola
que cunhou a ex pres são romance ex -
pe rimental como de sig nativa de suas
aproxi mações com as ciências.
Ainda no âmbito das propostas
rea listas, o Naturalismo representou
uma exacerbação, uma radicali zação
do cien ti ficismo, do mate ria lismo e
do determi nis mo. Bus cou anali sar o
comportamento hu mano à luz das
teorias científicas do fim do século
XIX, ressaltando os aspectos instinti -
vos e biológi cos do homem, sub -
metido ao peso dos fatores que
de terminavam sua conduta: a here -
ditariedade, a raça, o meio am -
biente e a sociedade.
Inspirado no experimentalis mo
científico de Claude Bernard (a
Medicina Experimental), o Natu ralismo
assimi lou a objetividade das
Ciências Naturais, fazendo do ro -
mance uma espécie de labora tório da
vida,e encarando o ho mem como um
“caso” a ser ana lisado. Daí decorre a
visão mais me canicista, mais de ter -
minis ta, e o enquadra mento do ho -
mem como produto das leis da
Bio logia; da hereditariedade, da Socio -
lo gia e da Ecologia, contra as quais a
ra zão e a vontade huma na nada
podem.
Sua preferência são os temas
esca brosos, pela patologia huma na
e social (taras, vícios, sedução, adul -
tério, incesto, assas sinato). A aborda -
gem dos as pec tos degra dantes da
condição huma na implica certo mo -
ralismo, não im portando a opinião
sobre os atos, mas os atos em si
mesmos.
É frequente a zoomorfização, ou
seja, a aproximação, por meio de sí miles,
entre o homem e o animal, com
propósito depreciativo em rela ção ao
homem-larva, ao homem-besta, regido
pelo instinto cego e brutal:
Rita Baiana... uma cadela no cio
E naquela terra encharcada e fumegante,
naquela umidade quente e lodosa, começou a
minho car, a esfer vilhar, a crescer, um mundo,
uma coisa viva, uma geração, que pa re cia bro tar
espontânea, ali mes mo, da que le la meiro, e
multiplicar-se como larvas no esterco.
Leandra... a “Machona”, portuguesa feroz,
berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de
animal do cam po.
(Aluísio Azevedo, O Cortiço)
Focaliza, de preferência, as
camadas sociais inferiores, o
proletariado e os marginaliza dos.
Denuncia os aspectos degra dantes,
com o propósito de tomada de
consciência, visando à redenção moral
e social do homem. Arte enga jada, a
serviço de ideais políticos e sociais.
O Naturalismo peca, quase
sempre, pelo reducionismo e pelo
esquematismo, restringindo-se às
explicações mecanicistas, à exte rio -
ridade, aos condicionamentos, inca pa -
zes de apreender o homem em toda a
sua complexidade.
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Textos para a questão 1.
1. (UNESP) – Os dois trechos transcritos, que pertencem a romances
de José de Alencar (1829-1877) e Aluísio Azevedo (1857-1913), têm em
comum o fato de descreverem persona gens femininas. Um confronto
entre as duas descrições permite detectar não somente diferenças nos
planos físico e psicológico das duas mulheres, mas também no modo
como cada uma é concebida pelo respectivo narrador, segundo os
princípios estéticos do Romantismo e do Naturalismo. O resultado final,
em termos de leitura, é o surgimento de duas personagens
completamente distintas, vale dizer, duas mulheres que causam
impressões inconfundíveis ao leitor. Levando em conta essas
informações, procure relacionar a diferença essencial entre as duas
perso nagens com os princípios estéticos do Romantismo e do Natu -
ralismo.
RESOLUÇÃO:
O Romantismo baseava-se numa visão idealizadora da realidade; o
Naturalismo orientava-se pela observação da realidade, segundo
uma visão materialista. No texto de José de Alencar, a descrição
caracteriza o perfil romântico da mulher ideal: “não é possível idear
nada mais puro”; “Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como
diadema cintilando na cabeça de um anjo”. No texto de Aluísio
Azevedo, a descrição salienta o apelo sensual, acentuando os
traços carnais da mulher: “Era muito bem feita de quadris e de
ombros”; “... suave pro tu be rância dos seios”; “beiços polpudos e
viçosos, à maneira de uma fruta que provoca o apetite e dá vontade
de mor der”.
Não é possível idear nada mais puro e harmonioso do que o
perfil dessa estátua de moça. 
Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados,
que são hastes de lírio para o rosto gentil; porém na mesma
delicadeza do porte esculpiam-se os contornos mais graciosos
com firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade nos
relevos.
Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor das
pétalas da magnólia, quando vão desfalecendo ao beijo do sol.
Mimosa cor de mulher, se a aveluda a pubescência juvenil, e a
luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha de róseo
matiz. A dela era assim.
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema
cintilando na cabeça de um anjo. Havia em toda a sua pessoa um
quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da terra.
Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se
preparava para sua celeste ascensão.
(ALENCAR, José de. Diva. 
São Paulo: Saraiva, 1959. p. 17.)
Era muito bem feita de quadris e de ombros. Espartilhada,
como estava naquele momento, a volta enérgica da cintura e a
suave protuberância dos seios produziam nos sentidos de quem
a contemplava de perto uma deliciosa impressão artís tica.
Sentia-se-lhe dentro das mangas dos vestidos a trêmula
candura dos braços; e os pulsos apareciam nus, muito bran cos,
chamalotados de veiazinhas sutis, que se prolongavam
serpeando. Tinha as mãos finas e bem tratadas, os dedos longos
e roliços, a palma cor-de-rosa e as unhas curvas como o bico de
um papagaio.
Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, era muito sim pá -
tica e graciosa. Tez macia, de uma palidez fresca de ca mélia; olhos
escuros, um pouco preguiçosos, bem guarnecidos e penetrantes;
nariz curto, um nadinha arrebitado, beiços polpudos e viçosos, à
maneira de uma fruta que provoca o apetite e dá vontade de
morder. Usava o cabelo cofiado em franjas sobre a testa, e,
quando queria ver ao longe, tinha de costume apertar as pálpebras
e abrir ligeiramente a boca.
(AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. 
20. ed. São Paulo: Martins, [s.d.]. p. 87.)
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No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica
sutilmente um outro estilo de época, o Romantismo: 
2. A frase do texto em que se percebe a crítica do
narrador ao Romantismo está transcrita na
alternativa: 
a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e
espinhas...” 
b) “... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...” 
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço,
precário e eterno...” 
d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos...” 
e) “... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
criação.”
RESOLUÇÃO:
[ENEM] O narrador afasta-se da idealização sentimental do
Romantismo quando afirma que seu texto não “sobredoura a
realidade” e não “fecha os olhos às sardas e espinhas”. Fica
patente, portanto, que o narrador vai registrar também aspectos
que contrariam qualquer idealização — aspectos “realistas”, para
os quais os autores românticos fechariam os olhos.
Resposta: A
Texto para o teste 3. 
3. Alinhado às concepções do Naturalismo, o fragmento
do romance de Adolfo Caminha, de 1893, identifica e
destaca nas personagens um(a)
a) compleição moral condicionada ao poder aquisitivo.
b) temperamento inconstante incompatível com a vida conjugal.
c) formação intelectual escassa relacionada a desvios de conduta.
d) laço de dependência ao projeto de reeducação de inspiração
positivista.
e) sujeição a modelos representados por estratificações sociais e de
gênero. 
RESOLUÇÃO:
[ENEM] No trecho, associa-se a figura feminina de um estrato
social humilde a um modelo virtuoso apropriado ao casamento,
“porque é nas classes pobres que se encontra mais vergonha e
menos bandalheira”. Ocorre, portanto, sujeição das personagens a
“modelos representados por estratificações sociais e de gênero”.
Resposta: E
Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as; tinha gasto
muito dinheiro, precisava casar, mas casar com uma menina
ingênua e pobre, porque é nas classes pobres que se encontra
mais vergonha e menos bandalheira. Ora, Maria do Carmo
parecia-lhe uma criatura simples, sem essa tendência fatal das
mulheres modernas para o adultério, uma menina que até chorava
na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do
professor! Uma rapariga assim era um caso esporádico, uma
verdadeira exceção no meio de uma sociedade roída por quanto
vício há no mundo. Ia concluir o curso e, quando voltasse ao
Ceará, pensaria seriamente no caso. A Maria do Carmo estava
mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente...(Adolfo Caminha, A Normalista)
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos;
era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza,
a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance,
em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas
e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos
da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o
indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
(MACHADO DE ASSIS, J. M.
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Jackson, 1957.)
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1. Características do
Realismo português
Os modelos literários do Rea lis mo
português foram franceses: Balzac e
Sten dhal, advindos do Roman tis mo,
e, especialmente, Gus tave Flaubert e
Émile Zola, autores que o viés
positivista e a crítica social fize ram
paradigmáticos da nova escola.
Podemos sintetizar o sentido ideo -
lógico de construção da escrita do
Realismo-Naturalismo português nos
seguintes pontos:
• crítica ao tradicionalis mo
vazio da sociedade portuguesa,
produto, segundo eles, da educação
romântica, muito convencional e
distante da realidade. Há um com pro -
misso ético do escritor em relação à
realidade, a ser representada com
toda a veracidade, e o seu papel é
semelhante ao de um profeta, com
uma missão a cumprir;
• crítica ao conservadoris mo
da Igreja, uma instituição vol ta da para
o passado e que impedia o de -
senvolvimento natural da socie dade;
• visão objetiva e natural da
realidade: o escritor deveria cons truir
suas personagens utili zan do tipos
concretos exis ten tes na vida social,
observando suas rela ções com o
meio. A perso na li dade desses tipos
seria a do meio ambiente, em menor
escala, pelos seus com po nen tes
psicofisio lógi cos, isto é, pela
influência dos órgãos e glân dulas do
corpo humano em sua conduta;
• preocupação com a re for ma
(e não com a revolução) da so ciedade,
com o objetivo de demo cra tizar
(sobretudo numa pers pectiva
republicana) o poder político e de
instituir amplas reformas sociais.
Procuravam diagnosticar os proble -
mas da vida social e apontar solu ções
reformistas, de caráter às vezes
socialista, mas mantendo-se a estru -
tura do regime capitalista;
• representação da vida con -
 temporânea, procurando mos trar
todos os seus detalhes signifi cativos.
Há a preocupação de se es ta belecer
conexões rigorosas de cau sa e efeito
entre os fenômenos obser va dos, já
que as leis naturais são equi valentes,
por exemplo, nos cam pos da Física,
Química e Biolo gia.
2. A Questão Coimbrã
� Antecedentes
Romântico, no começo do sé culo
XIX, já não era somente o literato
filiado à Escola, mas designava um
estado de alma: misto de me lan -
colia, tédio, abandono da vi da,
inquietação — tudo em com -
portamento liricamente cho roso.
Em oposição, o século XIX ama -
durecia em conquistas científi cas: de
um lado crescia a industrialização,
trazendo novos hábitos de vida; de
outro, firmavam-se a Física, Química,
Biologia, Psi cologia, promovendo
novos co nhe cimentos e exigindo
alterações de base do homem diante
da vida.
A literatura, nutrida dessas no vas
concepções, abandona o Ro man tis mo
— comple tamente divor cia do da
realidade da vida —, e surge o Rea -
lismo, preo cu pado em ser objeti vo e
exa to. Sur giram novas ideias sobre
poesia, ro mance, crítica, filo sofia.
Em Coimbra, um grupo de rapa -
zes vivia em pleno tumulto mental.
Identifi ca dos com a reno vação que
vinha da França, exaspe ra vam-se
diante da indi ferença do resto do país.
Em Lisboa, pontificava Cas tilho.
Era o mentor de um grupo de poetas
e crí ticos, reunidos no mun do do
“elogio mútuo”. Bem se poderia dizer:
Coimbra simbolizava a reno vação, a
ideia nova, o Realismo; Lis boa, o
passado, o pieguismo, o Roman tismo.
A primeira desavença entre os
dois grupos sur giu quando Castilho,
pre fa cian do o poema D. Jaime, de
Tomás Ribeiro, declarou que
Os Lusíadas já não tinham mais razão
de ser; que nenhum poeta de seu
tem po subscre veria uma única oitava
de to dos os dez cantos. João de Deus
insurgiu-se contra o “dita dor das
letras” e achou que a atitude do
leviano crí tico era a de pro fanação.
Esse fato foi a pri meira clarinada do
combate.
� A Questão Coimbrã ou a 
polêmica Bom Senso e
Bom Gosto (1865)
A contrarresposta de Castilho
apareceu em sua Carta que acom -
panhava, como posfácio, o Poema da
Mocidade, de Pinheiro Chagas. Tal
poema, ingênuo e ultrarromân tico,
explora assunto ba nal e gasto: Artur,
enamorado de Ema, é traído por ela.
Bate-se em duelo com o rival e se
desgraça, a si e à amante... Mas
Castilho conside rou-o excelso; lou vou
o poema, discutiu política, filo sofia,
estética e educação. E, em tudo,
sempre, ironicamente, fez refe rências
desairosas aos moços de Coimbra e
aos seus impulsos moder nizadores.
Antero de Quental foi quem
respondeu à Carta de Castilho, no
célebre folheto Bom Senso e Bom
Gosto. O moço foi desabrido e irre -
verente, não respeitando as cãs de seu
antigo professor de primeiras letras:
“queremos puxar-lhe as orelhas”, diz.
Cerca de quarenta opúsculos
circularam durante a contenda.
Os moços de Coimbra, em
verdade, não “derrubaram” o Ro man -
tis mo, mas prepararam o campo ideo -
 lógico no qual o Realismo cres ceu
imponente e fértil.
Castilho simboliza o Romantismo
em agonia; Antero é profeta dos
novos tempos, e o Realismo não foi só
um “momento” literário, mas o sinal
da nova civilização, alicerçada nas
conquistas do século XIX.
A Questão Coimbrã é con si -
dera da o marco inicial do Realismo
por tuguês.
� As Conferências do
Cassi no Lisbonense
Realizadas na primavera de 1871,
foram consequência da Ques tão
Coimbrã, espécie de aplicação das
ideias defendidas, arregimentação
prática dos gênios da época.
Realizaram-se quatro conferên -
cias. Anunciada a quinta, o Cassino foi
fechado pela polícia.
Antero de Quental fez-se
socialista; Teófilo Braga, positivis ta e
republicano; Eça de Quei rós,
Ramalho Ortigão, Guer ra Jun queiro
e Oliveira Martins, crí ti cos e
negativistas: todos esses consti tuí am
MÓDULO 22 Realismo em Portugal (I): Antero de Quental
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o conhecido Grupo dos Ven cidos da
Vida, marcado pelo ceti cismo risonho
e conformista. Em bora “vence do res”,
em termos de re co nhe cimento social,
conside ravam-se “vencidos” em
termos de ideais. E em alegres
jantares come moravam a crise e o
desalento ideo lógico.
3. Antero Tarquínio de Quental
(1842-1891)
� Vida
Formado em Direito por Coimbra,
ainda como estudante liderou a
chamada Campanha do Bom Senso e
Bom Gosto (Questão Coimbrã),
publicando os folhetos Bom Senso e
Bom Gosto e A Dignidade das Letras
e as Literaturas Oficiais, ambos em
1865. Interessado no mo vi mento ope -
rário, instalou-se em Paris, como
tipógrafo, para acompanhar o movi -
mento operário francês. 
Organizou as Conferências
Democráticas do Cassino Lis -
bonense (1871), proferindo a con -
ferência “A Causa da Deca dência dos
Povos Peninsulares”.
Publicou, além disso, artigos em
jor nais republicanos e folhetos de pro -
pa ganda socialista para as orga niza -
ções operárias. Fundou, com José
Fontana, a seção portuguesa da
Organização Internacional dos Tra ba -
lhadores.
Oscilando sempre entre o mate -
ria lismo e o idealismo, entre a
dúvida e a fé, teve vida agitada.
Acometido de uma psicose de -
pressiva, suicidou-se.
� Obras
• Prosa
– Bom Senso e Bom Gosto
– A Dignidade das Letras e as
Literaturas Oficiais
– Tendências Gerais da Filo sofia
na Segunda Metade do Século
XIX
– Causas da Decadência dos
Povos Peninsulares nos Sécu -
los XVII e XVIII
• Poesia
a) Primeira Fase: O Idea lis mo –
O Lirismo Amoroso – As
Apro ximações com o Ro -
man tis mo
Em Primaveras Românticas e emalguns momentos de Raios da Extinta
Luz, Antero parece buscar a trans -
cendência do amor espiritual. Na linha
de Petrarca e de Camões, en con -
tramos o dualismo psico lógico quanto
ao amor: a beleza espiri tual x a
atração carnal, o amar x o querer.
Antero es piritualiza a mulher a ponto
de projetar nela a excelência e a
pureza da figura materna, da irmã, da
criança:
IDEAL
Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas
Da antiga Vênus1 de cintura estreita...
Não é a Circe2, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortais entre ruínas, 
Nem a Amazona3, que se agarra às crinas
Do corcel4 e combate satisfeita...
A mim mesmo pergunto e não atino
Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra, ora esconde o meu 
[destino...
É como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu da solidão...
Nuvem, sonho impalpável do Desejo...
Vocabulário e Notas
1 – Vênus: deusa do amor.
2 – Circe: feiticeira lendária.
3 – Amazona: mulher guerreira que montava a
cavalo.
4 – Corcel: cavalo.
b) Segunda Fase: A Poesia de
Combate – O Socialismo – O
Humanitarismo
Nas Odes Modernas, a visão
cristã do mundo é substituída por
uma religiosidade naturalista, pan -
teísta (= identificação de Deus com o
mundo concreto). A revolução é vista
em termos dessa religiosidade: ideais
como liberdade, igualdade e justiça
são transformados em valo res
santificados. O próprio ato de escre -
ver transforma-se em um ato de fé
re volucionária, uma utopia que o es -
critor procura alcançar se guin do o
humanismo proudhoniano:
TESE E ANTÍTESE
I
Já não sei o que vale a nova ideia,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada, 
Torva no aspecto, à luz da barricada,
Como bacante1 após lúbrica2 ceia!
Sanguinolento o olhar se lhe incendeia...
Aspira fumo e fogo embriagada...
A deusa de alma vasta e sossegada
Ei-la presa das fúrias de Medeia3!
Um século irritado e truculento
Chama à epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obus4...
Mas a ideia é um mundo inalterável,
Num cristalino céu, que vive estável...
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!
Vocabulário e Notas
1 – Bacante: integrante do cortejo de Baco.
2 – Lúbrico: sensual.
3 – Medeia: figura mitológica; abandonada pelo
marido, Jasão, vinga-se assas si nan do os
filhos de maneira horrenda.
4 – Pelouro e obus: munição e peça de arti lharia,
respectivamente.
c) Terceira Fase: O Pes si mis mo –
A Poesia Dile mática e Me ta fí -
si ca – O Trans cenden ta lis mo –
A Morte e a Busca de Deus
Nas partes finais dos Sonetos
Completos, agrava-se a divisão do
poeta, já expressa nas fases ante -
riores, entre o Ideal (que leva ao
Absoluto, a Deus) e o Real (que leva
às ciências experi men tais). Os poe -
mas dilemá ticos dessa fase oscilam
entre a sensação de aniquila mento
(“O Palácio da Ventura”, “A Ger mano
Meire les” etc.) e o conformismo mís -
 tico (“Na Mão de Deus”):
O PALÁCIO DA VENTURA
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura, 
Paladino do amor, busco anelante
O Palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota1 a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d’ouro, com fragor2...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão — e nada mais!
Vocabulário e Notas
1 – Roto: estragado. 
2 – Fragor: estrondo, barulho.
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Texto para as questões 1 e 2.
No ano de 1865, em Portugal, inicia-se uma grande polêmica. De um
lado, Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875); de outro, Antero
Tarquínio de Quental (1842-1891). Em posfácio ao livro Poema da
Mocidade, de Pinheiro Chagas, Castilho referiu-se com pouco caso e
algum deboche aos jovens poetas que, em Coimbra, defendiam ideias
novas. Antero, um dos mencionados por Castilho, faz logo publicar uma
carta em resposta ao velho mestre, na qual retribui as ironias, ao mesmo
tempo em que faz ataque cerrado e contundente a Castilho. Em pouco
tempo, cada um ganha adeptos e com isso se produz uma das mais
ricas polêmicas da história da literatura portuguesa. Tal episódio ficou
conhecido como a Questão Coimbrã ou também pelo título recebido
pela publicação de Antero: Bom Senso e Bom Gosto. Com base nessas
informações e consi de rando o texto dado, responda ao que se pede:
1. (UNESP – adaptada) – O que representavam Antônio Feliciano de
Castilho e Antero de Quental nessa polêmica?
RESOLUÇÃO:
Antônio Feliciano de Castilho representava o Romantismo, e
Antero de Quental representava o Realismo.
2. (UNESP – adaptada) – O que marca a Questão Coimbrã na história
da literatura portu guesa?
RESOLUÇÃO:
A Questão Coimbrã marca o aparecimento do Realismo em
Portugal, em oposição ao Romantismo nostálgico e defensor da
tradição, do nacionalismo, do sentimento individual. A defesa do
Realismo significava o acolhimento das novas ideias cientificistas
e a adoção de uma estética mais objetiva e racional.
BOM SENSO E BOM GOSTO
(...) Concluo daqui que a idade não a fazem os cabelos
brancos, mas a madureza das ideias, o tino e a seriedade: e, neste
ponto, os meus vinte e cinco anos têm-me as verduras de V. Exa.
convencido valerem pelo menos os seus sessenta. Posso, pois,
falar sem desacato. Levanto-me quando os cabelos brancos de
V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está
debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele,
confesso não me merecerem nem admiração, nem respeito, nem
ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a
gravidade numa criança. V. Exa. precisa menos cinquenta anos
de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.
É por esses motivos todos que lamento do fundo da alma não
me poder confessar, como desejava, de V. Exa.
Nem admirador nem respeitador
Antero de Quental
(QUENTAL, Antero de. Poesia e Prosa. 
São Paulo: Cultrix, 1974. p. 129.)
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Texto para os testes 3 e 4.
3. (BARRO BRANCO – modificado) – O sentido do poema é
perpassado pelo/a
a) idealismo, que remete os sentimentos do eu lírico a uma dimensão
de perfeição.
b) transcendentalismo, que faz que o eu lírico tenha uma visão
espiritualizada da vida e do amor. 
c) pessimismo, que se manifesta na dualidade do eu lírico observada na
análise melancólica que faz da vida.
d) desencanto, que sugere um eu lírico descrente e confuso em relação
a suas experiências de vida.
e) apatia, que revela um eu lírico resignado diante das experiências
negativas que marcaram sua vida.
RESOLUÇÃO:
Os versos marcam-se pelo pessimismo de um eu lírico ambíguo,
dividido entre uma consciência desencantada e um coração que,
apesar do sofrimento vivenciado, afirma que, em nome do “Amor”,
tudo valeu a pena.
Resposta: C
4. (BARRO BRANCO – modificado) – Entende-se a resposta do
coração ao eu lírico como uma
a) confirmação de que sua vida foi de fato só sofrimento.
b) suspeição de que sua vida tenha sido só sofrimento.
c) ressalva de que sua vida poderia ter sido só sofrimento.
d) refutação de que sua vida tenha sido só sofrimento.
e) hipótese de que sua vida poderia ter sido só sofrimento.
RESOLUÇÃO:
O coração refuta, ou seja, nega o ponto de vista do eu lírico, ao
reconhecer que, além do desengano e do sofrimento, também
houve a experiência do “Amor”.
Resposta: D
Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andamos! Considera
Agora, d’esta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos…
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: D’esta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi demais o desenganoe a dor.
(Antero de Quental, Antologia)
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1. José Maria Eça de Queirós
(1845-1900)
� Vida
“Eu sou apenas um po bre
homem de Póvoa do Var zim.”
Assim Eça de Queirós se apre sen tava.
Em 1866, forma-se em Direito, pela
Universidade de Coim bra. Exer ce o
cargo de advogado, influen cia do pelo
pai, que era juiz de direito. É sim ples
espectador da Ques tão Coimbrã,
ligando-se aos rea listas em Lisboa, no
grupo Cenáculo. Viaja, em 1869, para
o Egito; partici pa, em 1871, das
Conferências do Cas sino; vai para
Leiria, como admi nistrador do conse -
lho. Em 1873, vai como cônsul para
Ha va na; viaja pela Amé rica e,
finalmente, segue para a Inglaterra e
depois para a Fran ça, onde, já casado,
vem a falecer.
� Obras
a) Primeira fase: de 1866 a 1875.
Há apego romântico e fan ta sioso. Es -
cre veu folhe tins na Gazeta de
Portugal, depois reunidos no vo lume
Prosas Bárbaras. Ainda a essa fase
perten cem O Mistério da Estra da de
Sintra, romance origina líssimo, escrito
em parceria com Ramalho Ortigão.
Eça estava em Lisboa. Ra malho, em
Liz. Durante dois meses, sem nenhum
plano da obra, cada escritor remetia
um fo lhetim ao jornal Diário de Notí -
cias, continuando o enredo. Também
da primeira fase é Uma Campanha
Alegre, coletânea de seus artigos
publicados em As Farpas — perió dico
de combate, que analisava e criticava
Portugal em todos os seto res de
atividade: política, educação, arte, lite -
ratura, saúde, finanças.
b) Segunda fase: de 1875 a
1888, quando Eça se integra na
técnica realista (“Sobre a nudez forte
da verdade, o manto diáfano da
fantasia”), e apare cem os romances:
• O Crime do Padre Amaro
Este livro é o introdutor do roman -
ce realista em Portugal. A obra tem a
preocupação de fixar instantâneos da
vida provinciana. A sociedade leiriense
é o cenário, com os serões da Sra.
Joa neira. Romance ma licioso, farto de
obser vações agudas e belos quadros
psico lógicos. O herói é o pa dre Amaro,
que mantém relações ínti mas com
Amélia, e depois a abandona.
• O Primo Ba sí lio 
Análise da fa mília burgue sa. Neste
romance, Eça cria tipos de finitivos. O
Conselheiro Acá cio, que é o forma -
lismo oficial: “Era alto, magro, ves tido
todo de preto, com o pescoço enta -
lado num cola rinho di reito. O rosto,
agu çado no queixo, ia-se alargan do até
a calva, vasta e polida, um pouco
amolgada no alto. (...) Era muito pálido;
nunca tirava as lunetas escuras. (...)
Fora, outrora, diretor-geral do
Ministério do Reino e sempre que
dizia — El-Rei! erguia-se um pouco na
cadeira. Os seus gestos eram medi -
dos, mesmo a tomar rapé. Nunca usa -
va palavras triviais, não dizia vomitar,
fazia um gesto indicativo e empre ga -
va resti tuir.” Luísa, a heroína que se
entre gara, durante a ausência do ma -
rido, aos amores de um primo con -
quis tador, Basílio, encarna o papel da
adúltera que sofre desesperadamen -
te. Juliana, a cria da, que “perso nifi ca o
desconten tamento azedo e o tédio da
profissão”, possuía car tas compro -
metedoras da ama, e ex plo rou plena -
mente a situa ção, pondo a patroa no
trabalho e maltratando-a. Eça decla ra:
“A família lisboeta é pro duto do na -
moro, reu nião desagra dá vel de egoís -
mos que se contra dizem, e, mais
tar de ou mais cedo, são cen tros de
bam bochata. Uma so ciedade sobre
estas falsas bases não está na
verdade: atacá-la é um dever”. 
• O Mandarim
Romance de influência orienta -
lista. As lutas de consciência tra vadas
em um homem que substitui o
trabalho pelo enriquecimento ines -
crupuloso.
• Os Maias 
Romance de crítica social, último
da série pertencente à segunda fase
do autor. É a história do amor inces -
tuoso de Carlos da Maia com sua irmã,
Maria Eduarda, e, ao mesmo tempo,
uma ampla crônica da alta sociedade
lisboeta. Se, em O Crime do Padre
Amaro (1875), Eça foca lizou a vida
devota da Província, e, em O Primo
Basílio (1878), retratou a classe média
da Capital, com Os Maias (1888) o
escritor retrata a vida das altas esferas
da política, do go verno, da aristocracia
e dos literatos, em meio a jogos e
festas.
• A Relíquia
A Relíquia saiu em folhetins na
Gazeta de Notícias e foi publicado em
1887. A trama é a viagem do narrador-
personagem Teodorico Raposo a
Jerusalém, de onde prometera trazer à
sua tia — beata e riquíssima — uma
relíquia. No entanto, o que acaba por
trazer é uma camisa de dormir de uma
amante, resultando na perda da
herança que lhe deixaria a sua tia. É
durante a sua viagem à Terra Santa que
a dupla face de Teodorico mais se
evidencia, seja pelo fato de, no seu
percurso por lugares sagrados,
também visitar bordéis, seja por
carregar consigo dois embrulhos,
sendo um a relíquia prometida à tia (um
galho de uma árvore com espinhos,
supostamente da coroa de espinhos de
Jesus Cristo) e o outro a mencionada
peça íntima de uma amante.
Foi no domingo de Páscoa que se soube
em Leiria que o pároco da Sé, José Miguéis,
tinha morrido de madrugada com uma
apoplexia1. O pároco era um homem san guíneo
e nutrido, que passava entre o clero diocesano
pelo comilão dos comi lões. Contavam-se
histórias singula res da sua voracidade. O Carlos
da botica — que o de tes tava — costu ma va
dizer, sempre que o via sair de pois da sesta,
com a face afo gueada de sangue, muito
enfartado:
— Lá vai a jiboia esmoer2. Um dia estoura!
Com efeito estou rou, depois de uma ceia
de peixe — à hora em que defronte, na casa do
Dr. Godinho, que fazia anos, se polcava3 com
ala rido. Ninguém o lamen tou, e foi pouca gente
ao seu enterro. Em geral não era estimado. Era
um aldeão; tinha os modos e os pulsos de um
cavador, a voz rouca, cabelos nos ouvidos,
palavras muito rudes.
Nunca fora querido das devotas; arrotava no
confessionário e, tendo vivido sempre em fre gue -
 sias da aldeia ou da ser ra, não com preendia cer -
tas sensibilidades requin tadas da devo ção: per de ra
por isso, logo ao prin cípio, quase todas as confes -
sadas, que tinham pas sado para o polido Padre
Gusmão, tão cheio de lábia!
E quando as beatas, que lhe eram fiéis, lhe
iam falar de escrú pulos de visões, José Miguéis
es can dalizava-as, rosnando:
TEXTO I
MÓDULO 23 Realismo em Portugal (II): Eça de Queirós (I)
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— Ora histórias, santinha! Peça juízo a
Deus! Mais miolo na bola!
As exagerações dos jejuns so bre tudo
irritavam-no:
— Coma-lhe e beba-lhe — costu mava
gritar —, coma-lhe e beba-lhe, criatura!
Era miguelista — e os partidos liberais, as
suas opiniões, os seus jornais enchiam-no duma
cólera irracionável:
— Cacete! cacete! — exclama va, me -
neando o seu enorme guarda-sol vermelho.
(O Crime do Padre Amaro, cap. I)
Vocabulário e Notas
1 – Apoplexia: derrame cerebral. 
2 – Esmoer: fazer a digestão.
3 – Polcar: dançar a polca.
Luísa espreguiçou-se. Que seca ter de se
ir vestir! Dese ja ria estar numa banheira de
mármore cor-de-rosa, em água té pida1,
perfumada e adormecer! Ou numa rede de
seda, com as janelinhas cerradas2, embalar-se,
ouvindo música! (...)
Tornou a espreguiçar-se. E saltando na
ponta do pé des calço, foi buscar ao aparador por
detrás de uma compota um livro um pouco
enxovalhado3, veio estender-se na voltaire4,
quase deitada, e, com o gesto acariciador e
amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a
ler toda interessada.
Era a Dama das Camélias5. Lia muitos ro -
mances; tinha uma assinatura, na Baixa, ao mês. 
(O Primo Basílio, cap. I)
Vocabulário e Notas
1 – Tépido: morno. 
2 – Cerrado: fechado. 
3 – Enxovalhado: manchado, sujo. 
4 – Voltaire: cadeira de encosto alto, muito con -
fortável. 
5 – Dama das Camélias: romance de Ale xan dre
Dumas Filho, publicado em 1848.
Luísa desceu o véu branco, calçou devagar
as luvas de peau de suède1 claras, deu duas
pancadinhas fofas ao espelho na gravata de
renda e abriu a porta da sala. Mas quase recuou;
fez “ah!”, toda escarlate2. Tinha-o reconhecido
logo. Era o primo Basílio.
Houve um shake-hands demorado, um
pouco trêmulo. Estavam amboscalados; ela
com todo o sangue no rosto, um sorriso vago;
ele fitando-a muito, com um olhar admirado.
Mas as palavras, as perguntas vieram logo,
muito precipitadamente: — Quando tinha ele
chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa?
Como soubera a morada dela?
Chegara na véspera no paquete3 de
Bordéus. Perguntara no ministério; disseram-lhe
que Jorge estava no Alentejo; deram-lhe a
adresse...
— Como tu estás mudada, Santo Deus!
— Velha?
— Bonita!
— Ora!
E ele, que tinha feito? Demorava-se?
Foi abrir uma janela, dar uma luz larga,
mais clara. Sentaram-se. Ele no sofá muito
languidamente; ela ao pé, pousada de leve à
beira de uma poltrona, toda nervosa.
Tinha deixado o “degredo”4 — disse ele.
— Viera respirar um pouco à velha Europa.
Estivera em Constantinopla, na Terra Santa, em
Roma. O último ano passara-o em Paris. Vinha
de lá, daquela aldeola de Paris! — Falava
devagar, recostado, com um ar íntimo,
estendendo sobre o tapete, comodamente, os
seus sapatos de verniz.
Luísa olhava-o. Achava-o mais varonil, mais
trigueiro. No cabelo preto anelado havia agora
alguns fios brancos; mas o bigode pequeno
tinha o antigo ar moço, orgulhoso e intrépido5;
os olhos, quando ria, a mesma doçura
amolecida, banhada num fluido. Reparou na
ferradura de pérola da sua gravata de cetim
preto, nas pequeninas estrelas brancas
bordadas nas suas meias de seda. A Bahia não
o vulgarizara. Voltava mais interessante!
— Mas tu, conta-me de ti — dizia ele com
um sorriso, inclinado para ela. — És feliz, tens
um pequerrucho...
— Não — exclamou Luísa, rindo. — Não
tenho! Quem te disse?
— Tinham-me dito. E teu marido demora-se? 
— Três, quatro semanas, creio.
Quatro semanas! Era uma viuvez!
Ofereceu-se logo para a vir ver mais vezes,
palrar6 um momento, pela manhã...
(O Primo Basílio, cap. III)
Vocabulário e Notas
1 – Peau de suède (francês; pronúncia: pô de
süéd): couro acamurçado e macio.
2 – Escarlate: vermelho. 
3 – Paquete: navio a vapor. 
4 – Degredo: exílio, afastamento; local onde vive
o degredado. 
5 – Intrépido: arrojado, corajoso. 
6 – Palrar: conversar.
Que noite para Luísa! A cada momento
acordava num sobres salto, abria os olhos na
penumbra do quarto, e caía-lhe logo na alma,
como uma punhalada, aquele cuidado pun gen -
te: Que havia de fazer? Como havia de ar ranjar
dinheiro? Seis centos mil-réis! As suas joias
valiam talvez duzentos mil-réis. Mas de pois, que
diria Jorge? Tinha as pratas... Mas era o
mesmo!
A noite estava quente, e na sua inquie -
tação a roupa escorregara; apenas lhe restava o
lençol sobre o corpo. Às vezes a fadiga
readorme cia-a de um sono superficial, cortado
de sonhos muito vivos. (...) Quem lhe poderia
valer? — Sebastião! Sebastião era rico, era bom.
Mas mandá-lo chamar e dizer-lhe ela, ela Luísa,
mulher de Jorge: — Empreste-me seiscentos
mil-réis. — Para quê, minha senhora? E podia lá
responder: para resgatar umas cartas que
escrevi ao meu amante. Era lá possível! Não,
estava perdida. Restava-lhe ir para um con -
vento.
(O Primo Basílio, cap. Vlll)
Enfim, num domingo de manhã, estando a
chuviscar, chegamos a um casarão, num largo
cheio de lama. O Senhor Matias disse-me que
era Lisboa; e, abafando-me no meu xale-manta,
sentou-me num banco, ao fundo de uma sala
úmida, onde havia bagagens e grandes balanças
de ferro. Um sino lento tocava à missa; diante
da porta passou uma companhia de soldados,
com as armas sob as capas de oleado. Um
homem carregou os nossos baús, entramos
numa sege1, eu adormeci sobre o ombro do
Senhor Matias. Quando ele me pôs no chão,
estávamos num pátio triste, lajeado de pedrinha
miúda, com assentos pintados de preto; e na
escada uma moça gorda cochichava com um
homem de opa2 escarlate, que trazia ao colo o
mealheiro3 das almas. 
Era a Vicência, a criada da tia Patrocínio. O
Senhor Matias subiu os degraus conversando
com ela, e levando-me ternamente pela mão.
Numa sala forrada de papel escuro, encontra mos
uma senhora muito alta, muito seca, vestida de
preto, com um grilhão de ouro no peito; um
lenço roxo, amarrado no queixo, 
caía-lhe num bioco4 lúgubre sobre a testa; e no
fundo dessa sombra, negrejavam dous óculos
defumados. Por trás dela, na parede, uma
imagem de Nossa Senhora das Dores olhava
para mim, com o peito trespassado de espadas. 
— Esta é a Titi — disse-me o Senhor
Matias. — É necessário gostar muito da Titi... É
necessário dizer sempre que sim à Titi! 
Lentamente, a custo, ela baixou o carão
chupado e esverdinhado. Eu senti um beijo vago,
de uma frialdade de pedra; e logo a Titi recuou,
enojada. 
— Credo, Vicência! Que horror! Acho que
lhe puseram azeite no cabelo! 
Assustado, com o beicinho já a tremer,
ergui os olhos para ela, murmurei: 
— Sim, Titi. 
(A Relíquia, cap. I)
Vocabulário e Notas
1 – Sege: carruagem antiga, com duas rodas e
um só assento.
2 – Opa: capa sem mangas e com aberturas
para enfiar os braços.
3 – Mealheiro: cofre, caixa de esmolas.
4 – Bioco: mantilha ou envoltório para tapar o
rosto e a cabeça, por pudor ou modéstia.
TEXTO II
TEXTO III
TEXTO IV
TEXTO V
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Texto para o teste 1.
1 – Canapé: espécie de sofá com encosto e braços.
2 – Baeta: tecido de lã ou algodão, de textura felpuda, com pelo em ambas as faces.
3 – Galguinha: referente à raça de cães altos, esguios e de pelagem curta.
1. (INSPER) – No romance O Primo Basílio, Eça de Queirós tece críticas
à sociedade de Lisboa. No trecho, isso fica evidente com a descrição
feita da sala do Conselheiro, a qual sugere
a) um ambiente simples, porém arranjado com bom gosto.
b) um mal-estar decorrente de uma decoração lúgubre do local.
c) a arrumação minuciosa do local oposta à descrição da serviçal.
d) o refinado senso estético e o gosto artístico do anfitrião.
e) o mau gosto pelo exotismo na combinação das cores das peças.
RESOLUÇÃO:
Na minuciosa descrição do ambiente, o narrador dá destaque às
cores, numa combinação de “mau gosto”, dos objetos: “um
canapé de damasco amarelo”, “um tapete onde um chileno roxo
caçava ao laço um búfalo cor de chocolate”, “uma pintura tratada
a tons cor de carne”, “capa de baeta verde”.
Resposta: E
Texto para o teste 2.
2. (FUVEST – modificado) – Observando-se os recursos de estilo
presentes na composição desse trecho, é correto afirmar que
a) o acúmulo de pormenores induz a uma percepção impessoal e
neutra do real.
b) a descrição se baseia em impressões que o ambiente provoca,
conferindo-se dimensão subjetiva à caracterização do espaço.
c) as descrições veiculam as impressões do narrador, e o monólogo
interior, as da personagem.
d) a carência de adjetivos confere caráter objetivo e imparcial à
representação do espaço.
e) o predomínio da descrição confere caráter expressionista ao relato,
eliminando-se seus resíduos subjetivos.
RESOLUÇÃO:
Expressões como “cheiro mole e salobro”, “coava a luz suja” e
“chorar doloroso” são evidências de uma descrição de caráter
subjetivo, pois essas expressões traduzem as sensações
experimentadas por aquele que observa o espaço descrito.
Resposta: B
Na quinta-feira, os três [Jorge, Sebastião e Julião], que se
tinham encontrado na Casa Havanesa, eram introduzidos por uma
rapariguita vesga, suja como um esfregão, na sala do Conselheiro.
Um vasto canapé1 de damasco amarelo ocupava a parede do
fundo, tendo aos pés um tapete onde um chileno roxo caçava ao
laço um búfalo cor de chocolate; por cima uma pintura tratada a
tons cor de carne, e cheia de corpos nus cobertos de capacetes,
representava o valente Aquiles arrastando Heitor em torno dos
muros de Troia. Um piano de cauda, mudo e triste sob a sua capa
de baeta2 verde, enchia o intervalo das duas janelas. Sobre uma
mesa de jogo, entre dois castiçais de prata, uma galguinha3 de
vidro transparente galopava; e o objeto em que se sentia mais o
calor do uso era uma caixa de música de dezoito peças!
(Eça de Queirós, O Primo Basílio)
A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com uma
portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole e salobro
enojou-a.A escada, de degraus gastos, subia ingrememente,
apertada entre paredes onde a cal caía, e a umidade fizera nódoas.
No patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de
arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava
a luz suja do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se
o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.
(Eça de Queirós, O Primo Basílio)
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Texto para o teste 3.
3. (FUVEST) – No texto, o emprego de artigos definidos e a omissão
de artigos indefinidos têm como efeito, respectiva mente,
a) atribuir às personagens traços negativos de caráter; apontar Oliveira
como cidade onde tudo acontece.
b) acentuar a exclusividade do comportamento típico das perso nagens;
marcar a generalidade das situações que são objeto de seus
comentários.
c) definir a conduta das duas irmãs como criticável; colocá-las como
responsáveis pela maioria dos acontecimentos na cidade.
d) particularizar a maneira de ser das manas Lousadas; situá-las numa
cidade onde são famosas pela maledicência.
e) associar as ações das duas irmãs; enfatizar seu livre acesso a
qualquer ambiente na cidade.
RESOLUÇÃO:
Os artigos definidos substantivam os adjetivos esquadrinhadoras,
espalha doras e tecedeiras, acentuando o comportamento típico
das Lousadas, irmãs extremamente mexeriqueiras. Os
substantivos nódoa, pecha, bule, coração, algibeira, janela, poeira,
vulto e bolo não são definidos por artigo, generalizando-se, assim,
as situações que são objeto dos comentários das duas irmãs, a
quem nenhum detalhe da vida alheia passava despercebido.
Resposta: B
As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como
cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as
esquadrinhadoras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as
maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas. E na desditosa
cidade, não existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido,
algibeira arrasada, janela entreaberta, poeira a um canto, vulto a
uma esquina, bolo encomendado nas Matildes, que os seus
quatro olhinhos furantes de azeviche sujo não descortinassem e
que a sua solta língua, entre os dentes ralos, não comentasse
com malícia estridente!
(Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires)
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� Obras (continuação)
c) Terceira fase: a partir de 1897.
É considerada a fase de maturidade,
em que Eça retorna aos valores
tradicionais portugueses. Sua obra,
agora, tem preo cupação moral. A
sátira corrosiva é substituída por uma
ironia con descen dente. Em lu gar do
pessimismo, entra um oti mis mo es -
peran çoso. Abando nam-se os es que -
 mas natura listas. Perten cem a essa
fase os romances:
• A Ilustre Casa de Ramires
Publicado em 1897, e de forma
com pleta em 1900, o romance con -
fronta a realidade do século XIX com
o universo heroico e fantasioso dos ro -
mances da Idade Média. Desse con -
 traste surge, por um lado, a ironia e,
por outro, o sentimento de amor à ter -
ra, à gente e à paisagem portu guesa.
Em A Ilustre Casa de Ramires
ocorrem duas histórias parale las: a
primeira é a história central, ambien -
tada no século XIX, que focaliza os
valores da aristo cra cia decadente,
representada pelo protagonista Gon -
çalo Mendes Ramires; a segunda é a
novela me dieval, escrita por esse
mesmo prota gonista, que narra a vida
de seu ante passado, Tructe sin do.
Temos assim uma história dentro da
outra. Ambas são narradas em ter ceira
pessoa, por narradores onisci entes. As
diferen ças estão no compor tamento
dos dois per so na gens (o primeiro é
covarde e ganancioso, e o segundo,
heroico e honrado), no tempo (século
XIX e XII) e na linguagem das duas
narrativas (a primeira é realista, e a
segunda, de caráter épico, parodia os
roman ces históricos, à moda de
Hercula no).
No final do romance, Gonçalo
parte para a África em busca de
fortuna, viagem que significará sua
reden ção moral e, numa ale goria ao
antigo im pério portu guês de ultramar,
a reno va ção das ener gias ancestrais
do país.
Desde as quatro horas da tarde, no calor e
silêncio do domingo de junho, o Fidalgo da
Torre, em chinelos, com uma quinzena1 de linho
envergada sobre a camisa de chita cor-de-rosa,
trabalhava. Gonçalo Mendes Ramires (que
naquela sua velha aldeia de Santa Ireneia, e na
vila vizinha, a asseada e vistosa Vila-Clara, e
mesmo na cidade, em Oliveira, todos
conheciam pelo “Fidalgo da Torre”) trabalhava
numa Novela Histórica, A Torre de D. Ramires,
destinada ao primeiro número dos Anais de
Literatura e de História, revista nova, fundada
por José Lúcio Castanheiro, seu antigo
camarada de Coimbra, nos tempos do Cenáculo
Patriótico, em casa das Severinas.
A livraria, clara e larga, escaiolada2 de azul,
com pesadas estantes de pau-preto onde
repousavam no pó e na gravidade das lombadas
de carneira3 grossos fólios de convento e de
foro, respirava para o pomar por duas janelas,
uma de peitoril e poiais4 de pedra almofadados
de veludo, outra mais rasgada, de varanda,
frescamente perfumada pela madressilva que
se enroscava nas grades. Diante dessa varanda,
na claridade forte, pousava a mesa — mesa
imensa de pés torneados, coberta com uma
colcha desbotada de damasco vermelho e
atravancada nessa tarde pelos rijos volumes da
História Genealógica, todo o Vocabulário de
Bluteau, tomos soltos do Panorama, e ao canto,
em pilha, as obras de Walter Scott sustentando
um copo cheio de cravos amarelos. E daí, da sua
cadeira de couro, Gonçalo Mendes Ramires,
pensativo diante das tiras de papel almaço,
roçando pela testa a rama de pena de pato,
avistava sempre a inspiradora da sua Novela —
a Torre, a antiquíssima Torre, quadrada e negra
sobre os limoeiros do pomar que em redor
crescera, com uma pouca5 de hera no cunhal6
rachado, as fundas frestas gradeadas de ferro,
as ameias7 e a miradoura bem cortadas no azul
de junho, robusta sobrevivência do Paço
acastelado, da falada Honra de Santa Ireneia,
solar dos Mendes Ramires desde os meados do
século X.
Gonçalo Mendes Ramires (como
confessava esse severo genealogista, o
morgado de Cidadelhe) era certamente o mais
genuíno e antigo Fidalgo de Portugal. Raras
famílias, mesmo coevas8, poderiam traçar a sua
ascendência, por linha varonil e sempre pura,
até aos vagos Senhores que entre Douro e
Minho mantinham castelo e terra murada
quando os barões francos desceram, com
pendão e caldeira, na hoste do Borguinhão. E os
Ramires entroncavam limpidamente a sua casa,
por linha pura e sempre varonil, no filho do
Conde Nuno Mendes, aquele agigantado
Ordonho Mendes, senhor de Treixedo e de
Santa Ireneia, que casou em 967 com Dona
Elduara, Condessa de Carrion, filha de Bermudo,
o Gotoso, Rei de Leão.
(A Ilustre Casa de Ramires, cap. I)
Vocabulário e Notas
1 – Quinzena: jaquetão comprido.
2 – Escaiolado: que recebeu escaiola (re ves -
timento feito de gesso e cola).
3 – Carneira: pele curtida de carneiro.
4 – Poial: assento de madeira, pedra etc. unido
à parede ou a muro de entrada de uma casa.
5 – Uma pouca: um pouco.
6 – Cunhal: pilastra de pedras lavradas na junção
de duas paredes; cada uma dessas pedras.
7 – Ameia: cada um dos parapeitos denteados
no alto de muralhas ou torres de castelos.
8 – Coevo: que é da mesma época de outro;
contemporâneo.
• A Cidade e as Serras
Publicado em 1901, um ano após
a morte do autor, A Cidade e as Serras
é seu último ro mance, desen volvido a
partir do conto “Civi lização” (1892).
Desen can tado com a civili za ção
urbana, Eça com põe um hino à
natureza e à vida rural. Como o próprio
título indica, a obra baseia-se em uma
antítese, dividindo-se em duas partes.
A primeira, que vai até a metade do
capítulo oita vo, narra a vida de Ja cinto
em Paris. A se gunda, que encerra a
obra, relata a ida de Jacinto para o
campo e seu encontro com os ideais
da vida rústica, o amor e a felicidade.
Neste romance, Eça critica a elite por -
tuguesa afrance s a da e defende um
retorno às raízes e à cultura lusitana.
Aobra é estruturada de forma
dialética. Semelhante a um silogis mo,
apresenta uma tese, a antítese e a
síntese. Primeiro, o protagonista Ja cin -
 to proclama a vida na cidade como o
suprassumo da civilização; depois,
passa a contestar o artificia lismo da
vida urbana, voltando-se para as delí -
cias do campo. Por fim, a cidade e as
serras se conciliam, e a personagem
usa as conquistas da civilização para
melhor aproveitar a vida rural.
TEXTO I
MÓDULO 24 Realismo em Portugal (III): Eça de Queirós (II)
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O romance é narrado na primeira
pessoa por Zé Fernandes, amigo
íntimo de Jacinto. Trata-se de um
narrador-testemunha, que apresenta
os fatos segundo sua óptica, ou seja,
subjetivamente, de acordo com o seu
humor, sua simpatia ou antipatia.
A ação passa-se no período que
vai de 1820 a 1893. O protagonista,
Jacinto, tinha o apelido de “Príncipe da
Grã-Ventura”, devido à sua ri que za,
saúde e sorte. Vivendo em Paris, no
palacete número 202 da Avenida
Campos Elíseos e convivendo com a
alta classe local, seu ideal de vida era
expresso na “equação metafí sica”:
suma ciência
X } = suma felicidade
suma potência
No entanto, decorrido algum tem -
po, ele começa a enfadar-se de sua
vida repleta de luxo e riqueza, mas
pobre de espírito. Atacado por uma
melancolia crescente que afeta sua
saúde, Jacinto parte para o campo,
indo viver em sua pro priedade na
Serra de Tormes, em Portugal. Em
contato com a natureza e o trabalho
rural, ele recupera o antigo vigor e
disposição. O amor de Joaninha
completa o quadro de sua felicidade.
No entanto Jacinto, desesperado com
tantos desastres humilhadores — as torneiras
que dessoldavam, os elevadores que
emperravam, o vapor que se encolhia, a
eletricidade que se sumia —, decidiu
valorosamente vencer as resistências finais da
matéria e da força por novas e mais poderosas
acumulações de mecanismos. E nessas
semanas de abril1, enquanto as rosas
desabrochavam, a nossa agitada casa, entre
aquelas quietas casas dos Campos Elísios, que
preguiçavam ao sol, incessantemente tremeu,
envolta num pó de caliça2 e de empreitada, com
o bruto picar de pedra, o retininte3 martelar de
ferro. Nos silenciosos corredores, onde me era
doce fumar antes do almoço um pensativo
cigarro, circulavam agora, desde madrugada, os
ranchos4 de operários, de blusas brancas,
assobiando o Petit-Bleu5, e intimidando meus
passos quando eu atravessava em fralda6 e
chinelas para o banho ou para outros retiros...
Cada dia estacava7 diante do portão
alguma lenta carroça, de onde os criados, em
mangas de camisa, descarregavam caixotes de
madeira, fardos de lona, que se despregavam e
se descosiam8 numa sala asfaltada, ao fundo do
jardim, por trás da sebe9 de lilases. E eu descia,
reclamado pelo meu Príncipe, para admirar uma
nova máquina que nos tornaria a vida mais fácil,
estabelecendo de um modo mais seguro nosso
domínio sobre a substância. Durante os calores,
que apertavam depois da ascensão10,
ensaiamos esperançadamente, para refrescar
as águas minerais, a Soda Water11 e os
Medocs12 ligeiros13, três gelei ras14, que se
amontoaram na copa sucessiva mente
desprestigiadas. Com os morangos novos
apareceu um instrumentozinho astuto, para lhes
arrancar os pés, delicadamente. Depois
recebemos outro, prodigioso, de prata e cristal,
para remexer freneticamente as saladas; e, na
primeira vez que experimentei, todo o vinagre
esparrinhou15 sobre os olhos do meu Príncipe,
que fugiu aos uivos! Mas ele teimava... Nos
atos mais elementares, para aliviar ou apressar
o esforço, se socorria Jacinto da dinâmica. E
agora era por intervenção de uma máquina que
abotoava as ceroulas.
(A Cidade e as Serras, cap. V)
Vocabulário e Notas
1 – No mês de abril é primavera na Europa. 
2 – Pó de caliça: argamassa ressequida. 
3 – Retininte: ruidoso.
4 – Rancho: grupo (de pessoas). 
5 – Petit-Bleu (francês; pronúncia aproxima da:
peti blö – ö = som e com lábios arredon dados
de o): canção popular francesa. 
6 – Em fralda: vestido somente de camisa
comprida. 
7 – Estacar: parar. 
8 – Descoser: descosturar. 
9 – Sebe: cerca. 
10 – Ascensão: entrada da primavera. 
11 – Soda Water: refrigerante; soda. 
12 – Medoc: vinho dessa região francesa. 
13 – Ligeiro: leve. 
14 – Geleira: equivalente à atual geladeira.
15 – Esparrinhar: espirrar. 
Neste trecho de A Cidade e as
Serras, Jacinto e Zé Fernandes ob -
servam a cidade de Paris do alto de
uma colina. Essa visão panorâ mica
encoraja Zé Fernandes a falar sobre os
males da civilização urbana:
— Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a
cidade a maior ilusão!
(...) Certamente, meu Príncipe, uma ilusão!
E a mais amar ga, porque o homem pensa ter na
cidade a base de toda a sua grandeza e só nela
tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na cidade
findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe
impõe uma necessidade, e cada necessidade o
arremes sa para uma dependência; pobre e
subal terno, a sua vida é um constante soli citar,
adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior
como um Jacinto, a sociedade logo o enreda em
tradições, precei tos, etiquetas, ceri mô nias,
praxes, ritos, servi ços mais disciplina res que os
dum cárcere ou dum quartel... (...) Os sentimen -
tos mais genuinamente hu ma nos logo na cidade
se desuma nizam! (...) Mas o que a cidade mais
deteriora no homem é a inte ligência, porque ou
lha arregi menta dentro da bana lidade ou lha
empurra para a extra vagância. Nesta densa e
pairan te camada de ideias e fórmulas que
constitui a atmosfera mental das cidades, o
homem que a respira, nela envolto, só pensa
todos os pensamentos já pensados, só expri me
todas as expressões já expri midas (...) Todos,
inte lectualmente, são carneiros, trilhando o
mesmo trilho, balando1 o mesmo balido, com o
focinho pendido para a poeira onde pisam, em
fila, as pe gadas pisadas; e alguns são macacos,
saltando no topo de mastros vistosos, com
esgares2 e cabriolas3. Assim, meu Jacin to, na
cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo
é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o
céu, e a gente vive acamada nos prédios como
o paninho nas lojas, e a cla ridade vem pelos
canos, e as mentiras se murmuram através de
arames, o homem aparece como uma criatura
anti-humana... (...) E aqui tem o belo Jacinto o
que é a bela cidade!
E ante estas encanecidas4 e vene ráveis
invectivas5, (...) o meu Príncipe vergou6 a nuca
dócil, como se elas brotassem, inespe radas e
frescas, duma revelação superior, naqueles
cimos de Montmartre:
— Sim, com efeito, a cidade... É talvez uma
ilusão perversa!
(A Cidade e as Serras, cap. VI) 
Vocabulário e Notas
1 – Balar: o mesmo que balir: berrar co mo ove -
lha, soltar balidos. 
2 – Esgar: trejeito, careta. 
3 – Cabriola: cambalhota.
4 – Encanecido: de encanecer: embranque cer
os cabelos; experiente; antigo.
5 – Invectiva: ataque, crítica feroz.
6 – Vergar: curvar, dobrar.
Entre as demais obras de Eça de
Queirós, estão A Capital, A Tragédia
da Rua das Flores, Con tos e Cartas de
Inglaterra.
TEXTO II
TEXTO III
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Texto para as questões 1 e 2.
O trecho anterior é o primeiro parágrafo de um conto de Eça de Queirós.
Exprime uma situação de contraste entre um acontecimento humano e
a natureza e está na forma de comunicação direta entre duas
personagens: o narrador e um suposto ouvinte.
1. (UFSCar – modificada) – Descreva a situação, explicando o
contraste.
RESOLUÇÃO:
A situação é a da espera do enterro de um conhecido numa “linda
tarde”. O contraste dá-se entre a beleza do dia e a tristeza do
evento aguardado.
2. (UFSCar – modificada) – Identifique os elementos gramaticais que
denotam a inclusão do narrador no fato narrado e a presença de um
suposto ouvinte.
RESOLUÇÃO:
O narrador é indiciado nos verbos conjugados na primeira pessoa
do singular (estou, encontrei), assim como nos pronomes de
primeira pessoa (meu, minha). O suposto ouvinte é referido na
expressão “meu amigo”, usada duasvezes, primeiro como
vocativo, depois como sujeito.
Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José
Matias — do José Matias d’Albuquerque, sobrinho do Visconde
de Garmilde... O meu amigo certamente o conheceu — um rapaz
airoso, louro como uma espiga, com um bigode crespo de
paladino sobre uma boca indecisa de contemplativo, destro
cavaleiro, de uma elegância sóbria e fina. E espírito curioso, muito
afeiçoado às ideias gerais, tão penetrante que compreendeu a
minha Defesa da Filosofia Hegeliana! Esta imagem do José
Matias data de 1865: porque a derradeira vez que o encontrei,
numa tarde agreste de janeiro, metido num Portal da R. S. Bento,
tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e
cheirava abominavelmente a aguardente.
(EÇA DE QUEIRÓS, J. M. José Matias. 
In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; RÓNAI, Paulo. 
Mar de Histórias (5). 2. ed. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 1981. p. 266.)
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Leia o trecho do conto “O Mandarim”, de Eça de Queirós, para
responder ao teste 3:
3. (UNIFESP) – Ao descrever a sua vida de milionário, o narrador
a) reconhece que as pessoas se aproximam dele com mais respeito e
cautela, fato que o deixa desconfortável, por sua natureza humilde.
b) sente-se lisonjeado pelo tratamento cerimonioso de que é alvo
constante, sobretudo porque as pessoas são honestas em seu
proceder.
c) ironiza as relações de interesse decorrentes da sua nova condição
social, deixando evidente que as pessoas se humilham perante ele.
d) ignora a forma como os mais pobres o interpelam, pois não
consegue identificar os contatos sem interesses monetários.
e) despreza a falta de veneração à sua pessoa, principalmente pelos
mais bem nascidos, que não o veem como pertencente à
aristocracia.
RESOLUÇÃO:
Teodoro, bacharel, amanuense do Ministério do Reino e narrador
do conto “O Mandarim”, após apertar uma campainha, recebe a
herança de Ti Chin Fu e enriquece. Sua vida, antes pobre e obscura,
transforma-se repentinamente, sendo, então, Teodoro idolatrado
por todos que esperavam obter vantagens ao lado dele: “todos
vinham suplicar, de lábio abjeto, a honra do meu sorriso e uma
participação no meu ouro”. Assim, suas relações sociais e afetivas
giram em torno de sua situação economicamente favorável,
chegando à idolatria de se atribuir a Teodoro uma adjetivação que
é motivo da ironia do narrador: “Os jornalistas esporeavam a
imaginação para achar adjetivos dignos de minha grandeza.”
Resposta: C
Então começou a minha vida de milionário. Deixei bem
depressa a casa de Madame Marques — que, desde que me
sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce, e ela mesma
me servia, com o seu vestido de seda dos domingos. Comprei,
habitei o palacete amarelo, ao Loreto: as magnificências da minha
instalação são bem conhecidas pelas gravuras indiscretas da
Ilustração Francesa. (...)
(...) O pátio do palacete estava constantemente invadido por
uma turba: olhando-a enfastiado das janelas da galeria, eu via lá
branquejar os peitilhos da Aristocracia, negrejar a sotaina do Clero,
e luzir o suor da Plebe: todos vinham suplicar, de lábio abjeto, a
honra do meu sorriso e uma participação no meu ouro. 
(...)
Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjetivos
dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a
ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a Gazeta das Locais
chamou-me o extraceleste Sr. Teodoro! (...)
(Eça de Queirós)
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1. Localização histórico-cultural
� O contexto brasileiro
O período realista foi o primeiro,
em nossa literatura, a apresentar um
panorama completo da vida literária,
com todos os gêneros moder nos
florescendo, com a multipli cação das
instituições culturais e dos órgãos de
imprensa (A Revista Brasileira, A
Gazeta Literária, A Se ma na, entre
outros).
Esse incremento na vida cultural
projetou a maturação da naciona li da de
e a dinamização e consolidação da vida
nacional (modernização das cida des,
codificação racional das leis, mo -
 dernização do equipamento técnico e
do ensino superior, pene tração nas
zonas internas, estabiliz a ção das fron -
teiras com os países limítrofes).
O escritor passa a ser social men -
te reconhecido. Nesse sentido, a fun -
da ção da Academia Brasi leira de
Letras (1897) veio, de certo modo,
oficializar a literatura, logran do o re co -
 nhe cimento do mun do oficial e da
opinião pública e exer cendo a inter me -
diação entre a pro du ção intelectual, o
poder e o pú blico, papel exercido, timi -
damente, no Roman tismo, pelo Ins -
tituto Histó rico e Geográfico.
Se, por um lado, a Academia deu
respeitabilidade à literatura perante o
corpo social, por outro lado, acabou
gerando o academicismo (no mau
sentido), dando à literatura um cunho
oficial e ajustando-a aos ideais da
classe dominante.
Ao lado da tendência acadê mi ca,
respeitosa do decoro, que tem em
Machado de Assis um verda deiro
paradigma de sobrie dade, equilíbrio e
dignidade, surge a figura do escritor
boêmio, à margem dos pa drões
burgueses, livre e sem pre con ceito,
cujo exemplo mais vivo é o de Emílio
de Meneses. Mas o seg men to
boêmio e irreverente aca ba va sempre
absorvido pela respei ta bili da de
acadêmica. Até o irreve ren te Emí lio de
Meneses acabou elei to pa ra a
Academia.
A importância desse período
completa-se com o relevo adquirido
pela oratória civil (Rui Barbosa); pelos
estudos históricos (Joaquim Nabuco,
Capistrano de Abreu e Oliveira Lima);
pelo jornalismo (José do Patrocínio e
Alcindo Guanabara); pelos estudos de
gramática (Júlio Ribeiro e João
Ribeiro); pela crítica literária (Sílvio
Romero, José Verís simo e Araripe
Júnior) e pelo ensaís mo (Tobias
Barreto, Farias Brito, Eu cli des da
Cunha e Clóvis Bevilácqua).
� Os antecedentes
literários brasileiros
No Brasil, especialmente na ficção
regionalista e urbana, os auto res
românticos procuraram a des cri ção da
vida social e a observa ção do am bien -
te, contrabalançando os exa ge ros da
imaginação e da fantasia.
José de Alencar, em Se nho ra,
desmascarou e pôs a nu certas idea li -
zações da moral burguesa, aprofun -
dando a análise psicológica e a críti ca
social; Bernardo Gui ma rães, em O
Seminarista, descreveu o amor com
acentuada franqueza, ante ci pando
aspectos do determi nis mo bio ló gico
dos natura lis tas; Taunay, em Ino cên -
cia, foto grafou, com muita f i de li dade,
os costumes e a paisa gem do sertão
de Mato Grosso; Franklin Távora,
nas Cartas a Cincinato, censurou
duramen te José de Alencar pela falta
de observação adequada dos
costumes e da paisa gem e pelas
inverdades, que são comuns em O
Sertanejo, O Gaúcho e A Guerra dos
Mascates; Manuel Antônio de
Almeida, em Memó rias de um Sar -
gento de Milícias, focalizou, com sur -
preen dente impar cia lidade, os costu -
mes do Rio de Janeiro, no fim da Era
Colonial.
� Observação importante
No Brasil, os movimentos realis -
ta, naturalista e parnasianista são
simultâneos, e não suces sivos. Os
três ocorreram no mesmo período
cronológico: 1881-1893. O Rea lismo
inaugura-se em 1881, com a publi -
cação de Memórias Póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis. O
Naturalismo aparece tam bém em
1881, com a publicação de O Mulato,
de Aluísio Azevedo. Costu ma-se iden -
ti ficar como marco inicial do Par -
nasianismo o apare cimento, em 1882,
do livro de poemas Fanfar ras, de
Teófilo Dias.
É comum, portanto, designar-se
como pe ríodo realista o conjunto
des ses três movimentos ou cor -
rentes: o Realis mo propriamente dito,
o Natu ra lis mo (ou Realismo Natura -
lista) e o Parnasia nis mo.
Esse período irá desdobrar-se
muito além de seus limites cronoló -
gicos estritos, projetando-se no Pré-
-Modernismo (Euclides da Cunha,
Monteiro Lobato, Lima Barreto) e fun -
dindo-se, por vezes, com a prosa de
cunho impressionista. A atitude rea lis -
ta de obser vação direta e de crí t i ca
social será retomada,em ple no
Modernismo, pela ficção regio na lista
do Nordeste (Neorrea lis mo), na
década de 1930. Essa atitu de realista,
modernizada quanto ao código
linguístico e tornada mais agu da quan -
to ao propósito de análise e crí ti ca da
sociedade, é evidente nos au to res
regionalistas, ou neorrealis tas,
Graciliano Ramos, José Lins do Rego,
Rachel de Queirós, Jorge Amado e
José Amé ri co de Almeida.
MÓDULO 25 Realismo no Brasil (I): Machado de Assis (I)
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2. Machado de Assis
(Rio de Janeiro, 1839-1908)
� Vida
Machado de Assis aos 45 anos.
Machado de Assis é o grande
representante do Realismo no Brasil.
De origem humilde, foi autodidata,
venceu limitações pessoais (era ga go
e epilético) e sociais (era mulato e
pobre). Foi aprendiz de tipógrafo na
Tipografia Nacional, sob as ordens e
proteção de Manuel An tô nio de
Almeida (o autor de Memórias de um
Sargento de Milícias) e iniciou sua car -
reira literária aos dezesseis anos.
Ocupou cargos públicos impor tan tes
e foi o fundador e pri mei ro presi den te
da Academia Bra sileira de Letras.
Considerado um agudo “ana lis ta
da alma humana”, Machado de Assis
começou escrevendo poesia e prosa
romântica. Em 1881 inaugura o Rea -
lismo, com o romance Memórias
Póstumas de Brás Cubas, um dos
livros mais extraordinários de nossa
língua. Seus contos chegam a ser tão
importantes quanto seus mais no tá -
veis romances. Escreveu também pe -
ças teatrais, mas no teatro, assim
como na poesia, não conseguiu ele var-
se acima do nível mediano da
produção de seu tempo. Como cro nis -
ta e como crítico literário publicou
páginas notá veis, que estão entre o
que se escre veu de melhor nesses
gêneros no Brasil. 
� A ficção machadiana
A) Conto
O contista Machado de Assis,
para muitos, supera o romancista.
Coube a ele dar ao conto densidade e
excelência insuperáveis em nossa
literatura, fundando esse gênero e
abrindo caminhos, pelos quais, mais
tarde, iriam trilhar Mário de Andrade
e Clarice Lispector, para ficarmos em
apenas dois contistas moder nos.
Distinguem-se duas fases: a pri-
mei ra, dita romântica, com os livros
Contos Fluminenses e Histórias da
Meia-Noite; a segunda, realista, inclui
os melhores contos: Papéis Avulsos,
Histórias sem Data, Várias Histórias e
Relíquias de Casa Velha.
A1) Na fase romântica, a angús -
tia, oculta ou patente, das persona gens
é determinada pela necessida de de
obtenção de status, quer pela aquisi ção
de patrimônio, quer pela conse cu ção
de um matrimônio com parcei ro mais
abonado. “Segredo de Augusta” e
“Miss Dollar” antecipam a temática de
A Mão e a Luva: o dinhei ro como móvel
do casamento. O tema da trai ção
(suposta ou real), antes de aparecer em
Dom Casmur ro, já estava nos contos
“A Mulher de Preto” e “Confis sões de
uma Viúva Moça”.
Nessa primeira fase, a mentira é
punida ou desmascarada. Há nisso um
laivo de moralismo romântico, na
pregação de casos exemplares. Mas
essa linha será, a seguir, superada,
ainda na fase romântica. Em “A Para -
sita Azul”, o enganador triunfa pela
primeira vez. O cálculo frio, o cinis mo,
a máscara e o jogo de inte res ses
constituem o cerne desse prag matis -
mo ou utilitarismo para o qual pen dem
especialmente as per so nagens
femininas, capazes de suf o car a pai xão
e o amor em nome da “fria elei ção do
espírito”, da “se gun da nature za, tão
imperiosa como a pri meira”. A
segunda natureza do corpo é o status,
a sociedade que se in crus ta na vida.
A2) Na fase realista, a partir dos
contos de Papéis Avulsos, Machado
começa a cunhar a fórmula mais
permanente de seus contos: a con tra -
dição entre parecer e ser, entre a
máscara e o desejo, entre a vida pú bli -
ca e os impulsos escuros da vida
interior, desembocando sempre na
fatal capitulação do sujeito à apa rên cia
dominante.
Machado procura roer a substân -
cia do “eu” e do fato moral consi de ra -
dos em si mesmos, mas deixa nua a
relação de dependência do mundo
interior em face da conve niência do
mais forte. É dessa rela ção que se
ocupa, enquanto nar rador.
É a móvel combinação de de sejo,
interesses e valor social que funda -
men ta as estranhas teorias do com -
por tamento expressas nos contos “O
Alienista”, “Teoria do Medalhão”, “O
Segredo do Bonzo”, “A Sereníssima
República”, “O Espelho”, “A Causa
Secreta”, “Conto Alexandrino”, “A
Igreja do Diabo”.
É exatamente isso que nos diz o
mais sábio dos bonzos:
Se puserdes as mais sublimes
virtudes e os mais profundos conhe ci -
 mentos em um sujeito solitário, re mo to de
todo contato com outros ho mens, é como
se eles não exis tis sem. Os frutos de uma
laranjeira, se nin guém os gostar, valem
tanto como as urzes e as plantas bravias,
e, se nin guém os vir, não valem nada; ou,
por outras palavras mais enérgicas, não há
espetáculo sem espectador. (“O Segredo
do Bonzo”)
B) Poesia
Em Crisálidas, Falenas e Ameri -
ca nas, livros que encerram a poesia
romântica de Machado de Assis, são
evidentes as sugestões temá ticas e
formais da poesia de Gon çal ves Dias,
Casimiro de Abreu e Fagundes
Varela: o lirismo senti mental, a poe -
sia indianista, a natu reza americana.
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Já Ocidentais revela maior apuro
formal e contenção de lin guagem,
aproximando-se das dire trizes do
Parnasianismo. A poesia de cunho
filosófico, a reflexão sobre o ser, o
tempo e a moral constituem os mo -
mentos mais bem realizados do livro,
que são os poemas: “So neto de
Natal”, “Suave Mari Magno”, “A
Mosca Azul”, “Círculo Vicioso”, “No
Alto” e “Mundo Interior”. É sempre
uma poesia discreta, sem arrebata-
mentos, reflexiva e densa, culta, teó -
rica, correta, mas quase sempre
ca rente de emoções e vibração.
C) Teatro
Quase todas as comédias de
Machado são da década de 1860, con -
temporâneas, por tanto, das pro du -
ções “român ticas” na poesia. São
mais contos dialogados que propria -
mente peças teatrais; revelam-se me -
lhores quando lidas do que quan do
encenadas.
Essas comédias foram repre sen -
tadas com algum êxito durante a vida
do seu autor, e são: A Queda que as
Mulheres Têm para os Tolos, Desen -
cantos, Quase Ministro, O Ca minho
da Porta, O Protocolo, Não Consultes
o Médico, Os Deuses de Casaca e Tu,
só Tu, Puro Amor, ins pirada no
episódio de Inês de Castro, de Os
Lusíadas, e ence nada em co me -
moração do tri cen tenário da morte do
poeta portu guês.
D)Crônica
Machado de Assis militou na
imprensa diária do Rio de Janeiro
durante quase toda a sua vida: pas sou
pelas redações, entre outras, do
Correio Mercantil, do Diário do Rio de
Janeiro, da Gazeta de Notícias, de O
Século. As crônicas que escre veu iam
da linguagem sarcástica, dos tem pos
de militância liberal, ao inti mismo das
páginas de Relíquias de Casa Velha.
Nomeado funcionário público,
subordinado à Secretaria de Estado,
não pôde atuar de forma mais
ostensiva no Movimento Aboli cio -
nista, o que serviu de base a ideias de
que ele não teria tido in teresse na
sorte dos escravos, dos quais
descendia pelo lado paterno.
As crônicas, pela maior liberda de
que permitem, revelam a tendên cia
de Machado para o diver tissement, a
brincadeira, o texto leve e divertido.
Vão do corriqueiro ao sublime, do
cotidiano ao clássico, do pequeno ao
grandioso, do real ao imaginário.
E) Crítica
Apesar de pequena, a produção
machadiana no gênero revela hones ti -
dade, senso estético, fina capaci da de
analítica e indepen dência intelec tual,
que o colocaram acima dos modis mos
de sua época.
Entre seus melhores trabalhos, in -
cluem-se as apreciações sobre os
poemas de Castro Alves (em carta a
José de Alencar), as considerações
sobre a pouca originalidade da poe sia
arcádica e o estudo sobre Eça de
Queirós, que suscitou verdadeira po -
lê mi ca. 
F) Romance
F1) A Fase Romântica
Os primeiros romances de Ma -
cha do de Assis (Ressurreição, A Mão
e a Luva, Helena e Iaiá Garcia) po dem
ser considerados experiên cias pa ra o
salto qualitativo que viria com
MemóriasPóstumas de Brás Cubas
(1881), que inaugura a fase realista de
Machado.
O caráter de “experiência” fica
evi dente na “Advertência” com que
Machado apresenta a primeira edi ção
do romance Ressurreição:
Não sei o que deva pensar des te
livro; ignoro sobretudo o que pen sará dele
o leitor. A benevo lên cia com que foi
recebido um volume de contos e nove las,
que há dois anos publiquei, me animou a
escrevê-lo. É um ensaio. Vai des pre -
tensio sa mente às mãos da crí tica e do
público, que o tra tarão com a justiça que
mere cer.
E, concluindo a “Advertência”:
Minha ideia ao es crever este livro foi
pôr aque le pen samento de Shakespeare:
Our doubts are traitors,
And make us lose the good we oft
might win,
By fearing to attempt1.
Não quis fazer romance de costu mes;
tentei o esboço de uma situa ção e o
contraste de dois carac teres; com esses
simples elementos busquei o interesse do
livro, a crítica decidirá se a obra
corresponde ao intuito, e so bre tudo se o
operário tem jeito para ela.
É o que peço com o coração nas
mãos.
1 – Nossas dúvidas são traidoras / E fazem-nos
perder o bem que muitas vezes poderíamos
obter, / Por medo de tentar.
Ainda que se tenha vulgarizado a
designação de romances “român ti -
cos”, essas primeiras experiências
com a ficção de maior fôlego não se
enquadram nos estreitos limites da
ficção propriamente romântica: a idea li -
 za ção das personagens cen trais não é
total, reservando lugar para aspec tos
problemáticos de sua con duta, e a
tensão bem versus mal, herói versus
vilão, não é nítida. Caberia melhor a
designação de romances “convencio -
nais”. Já exis tem nesses romances os
traços que serão cons tantes na fase
realista: a observação psicoló gica e o
inte resse como o mó vel principal das
ações humanas. Mesmo as heroí nas
ditas “român ti cas” de Machado de
Assis agem movidas pelo interesse,
pelo desejo de ascen são social, e não
pelo amor.
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Texto para o teste 1.
1. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira,
Memórias Póstumas de Brás Cubas condensa uma
expressividade que caracterizaria o estilo
machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o
narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na
divisão da herança paterna.
b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim
prendia e torturava os escravos.
c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pela personagem
quando da perda da filha Sara.
d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro
remido de várias irmandades.
e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico,
contemplado com um retrato a óleo.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] Atribuir a “efeito de relações sociais” a crueldade de
Cotrim no tratamento dispensado aos escravos é irônico. Brás
Cubas exclui do cunhado a índole bárbara, sanguinária,
banalizando o mal da sociedade escravista.
Resposta: B
Texto para os testes 2 e 3.
2. (FMABC-2021) – No trecho, o narrador compara-se a
a) uma senhora.
b) Capitu.
c) uma visita.
d) uma criada.
e) uma ama.
RESOLUÇÃO:
A comparação entre o narrador e “uma visita” pode ser inferida a
partir do verbo que ele emprega, em sua analogia, para se referir
às visitas que, enganadas por uma mentira, vão embora,
“descem”, bem como para se referir a si mesmo, que, após ter
ouvido uma suposta mentira proferida por Capitu, afirma: “eu não
desci triste nem zangado”.
Resposta: C
3. (FMABC-2021) – No último parágrafo, além da mentira, o narrador
também personifica
a) a explicação.
b) a cumplicidade.
c) o pecado.
d) o arrependimento.
e) a verdade.
RESOLUÇÃO:
O narrador afirma: “A verdade não saiu, ficou em casa, no coração
de Capitu, cochilando o seu arrependimento.” Há, portanto,
personificação da verdade.
Resposta: E
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não
souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu
mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao
inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-
no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas
a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os
orçamentos: melhor é o saldo que o deficit. Como era muito seco
de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro.
O único fato alegado neste particular era o de mandar com
frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer
sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os
fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em
escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais
duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode
honestamente atribuir à índole original de um homem o que é
puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha
sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor
que padeceu quan do morreu Sara, dali a alguns meses; prova
irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria,
e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas,
o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade
é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora
juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
(MACHADO DE ASSIS, J. M.
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.)
— Está bom, acabou, disse eu finalmente; mas, explique-me
só uma coisa, por que é que você me perguntou se eu tinha medo
de apanhar?
— Não foi por nada, respondeu Capitu, depois de alguma
hesitação... Para que bulir nisso?
— Diga sempre. Foi por causa do seminário?
— Foi; ouvi dizer que lá dão pancada... Não? Eu também não
creio.
A explicação agradou-me; não tinha outra. Se, como penso,
Capitu não disse a verdade, força é reconhecer que não podia
dizê-la, e a mentira é dessas criadas que se dão pressa em
responder às visitas que “a senhora saiu”, quando a senhora não
quer falar a ninguém. Há nessa cumplicidade um gosto particular;
o pecado em comum iguala por instantes a condição das pessoas,
não contando o prazer que dá a cara das visitas enganadas, e as
costas com que elas descem... A verdade não saiu, ficou em casa,
no coração de Capitu, cochilando o seu arrependimento. E eu não
desci triste nem zangado; achei a criada galante, apetecível,
melhor que a ama.
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
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Texto para o teste 4.
1 – Trebelhos: peças do jogo de xadrez.
4. O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como
o narrador concebe a leitura de um texto literário.
Com base no trecho, tal leitura deve levar em conta 
a) o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos.
b) a luneta como objeto que permite ler melhor.
c) o autor como único criador de significados.
d) o caráter de entretenimento da literatura.
e) a solidariedade de outros autores.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] O texto literário caracteriza-se por apresentar
possibilidades diversas de leitura, sua linguagem tende à
conotação e é plurissignificativa. No fragmento de Esaú e Jacó, de
Machado de Assis, evidencia-se, dadas as características do texto
literário, a relevância do papel do leitor. Assim, produção e
recepção são componentes indissociáveis para o entendimento de
uma obra literária.
Resposta: A
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse
pôr alguma e não me ocorresse outra. Não é somente um meio
de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem,
mas ainda um par de lune tas para que o leitor do livro penetre o
que for menos claro ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha
história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de
solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e
os seus trebelhos1.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a da ma, o bispo
e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre depeão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não
tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras
podem ganhar a par tida, e assim vai o mundo.
(Machado de Assis, Esaú e Jacó)
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MÓDULO 26 Realismo no Brasil (II): Machado de Assis (II)
F2) O Romance Realista
É a partir de Memórias Póstumas
de Brás Cubas (1881) que Machado
atinge o ponto mais alto e equilibrado
da ficção brasileira. Alinhavamos, a
seguir, alguns aspectos da ficção ma -
chadiana.
� A ruptura com a
narrativa linear
Os fatos e as ações não se guem
um fio lógico ou cronológico; obede -
cem a um ordenamento inte rior, são
relatados à medida que afloram à
cons ciência ou à memória do narra -
dor, num processo que se aproxima
do impressionismo as sociati vo.
� A organização metalinguí s tica
do discurso narrativo
É comum, na ficção machadiana,
que o narrador interrompa a narrativa
para, com saborosa e bem-humora da
bisbilhotice, comentar com o leitor a
pró pria escritura do romance, fa zen do-
o participar de sua constru ção; ou,
ainda, para dialogar sobre uma per so -
nagem, refletir sobre um epi só dio do
enredo ou tecer suas digres sões so bre
os mais variados assuntos.
Machado assume a posição de
quem escreve e, ao mesmo tempo, se
vê escrevendo. Esses comen tários à
margem da narração têm interesse
central, pois neles se encontram im -
portantes ideias do autor sobre sua
arte — sobre a narrativa e sua rela-ção
com a vida.
� O universalismo
Machado captou, na sociedade
carioca do século XIX, os grandes
temas de sua obra. O seu interesse
jamais recaiu sobre o típico, o pito res -
co, a cor local, o exótico, tão ao gos to
dos românticos. Buscou, na so cie dade
do seu tempo, o uni ver sal, a essência
humana, os grandes te mas filosóficos:
a essência e a aparên cia, o caráter
relativo da mo ral hu ma na, as
convenções so ciais e os impulsos
interiores, a normalidade e a loucura, o
acaso, o ciúme, a irracio nalidade, a
usura, a crueldade.
A pobreza de descrições, a qua se
ausência da paisagem são ainda
desdobramentos dessa con cen tra ção
na análise psicológica e na refle xão
filosófica. As tramas dos roman ces
machadianos poderiam, sem gran des
prejuízos à narrativa, ser trans plan ta -
das para qualquer época e qualquer
cidade.
� As influências
Machado de Assis esteve acima
dos modismos da época. Enquanto
Gustave Flaubert, pai do Realismo,
defendia a superioridade do “ro man -
 ce que narra a si mesmo”, ocultando
por completo a figura do narrador,
Machado subverte essa regra,
intrometendo o narrador na nar rativa,
fazendo que o leitor o iden tifique
sempre, por trás e acima das
convenções de verossimilhança (=
aparência de realidade) da ficção. 
Autodidata, Machado adquiriu
sólida formação clássica: Shakes -
peare, Dante Alighieri, Cervantes e
Goethe eram suas leituras obriga -
tórias. Mas os modelos que seguiu
mais de perto foram os do século
XVIII: Voltaire, com sua ironia cor tante,
além do refi nado sense of humor dos
autores in gleses Sterne e Swift.
� Os grandes arquétipos 
Uma das linhas mestras da ficção
machadiana parte do apro vei tamento
dos arquétipos (arquétipo = mo delo
de seres criados; padrão, exem plar;
imagens psíquicas do incons ciente
cole tivo e que são o patrimônio co -
mum a toda a huma ni dade), re mon -
tando à tradição clás sica e aos textos
bíblicos.
Assim, o conflito dos irmãos Pe dro
e Paulo, em Esaú e Jacó, remon ta ao
arquétipo bíblico da rivalidade entre
Caim e Abel; a psicose do ciúme de
Bentinho, em Dom Cas murro, aproxi -
ma-se do drama de Otelo e
Desdêmona, de Shakes peare.
� O pessimismo
Machado revela sempre uma vi -
são desencantada da vida e do ho -
mem. Não acreditava nos valores do
seu tempo e, a rigor, não acreditava
em nenhum valor. Mais do que pes -
simista ou negativista, sua postura é
“niilista” (nihil = nada). O desmasca -
ramento do cinismo e da hipocrisia, do
egoísmo e do interesse, que se camu -
flavam sob as convenções so ciais, é o
móvel de grande parte da ficção
machadiana, como se lê nas
Memórias Póstumas de Brás Cubas,
no capítulo “Das Negativas”:
Não tive filhos, não transmiti a ne nhu -
ma criatura o legado de nossa mi séria. 
� A ironia, o humor negro
A forma de revolta de Machado
era o riso, quase sempre um riso
amar go, que exteriorizava o desen -
canto e o desalento ante a miséria fí -
sica e moral de suas personagens:
“... Em verdade vos digo que toda
sabedoria humana não vale um par de
botas curtas.
Tu, minha Eugênia, é que não as
descalçaste; foste aí pela estrada da vida,
manquejando da perna e do amor, triste
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como os enterros pobres, solitária, calada,
laboriosa, até que vieste também para esta
outra men sa gem... O que eu não sei é se
a tua existência era muito necessária ao
século. Quem sabe? Talvez um com parsa
de menos fizesse patear a tra gédia
humana.”
“Antes cair das nuvens que de um
terceiro andar.”
“Deus, para a felicidade do ho mem,
criou a religião e o amor. Mas o demônio,
invejoso do sucesso de Deus, fez com que
o homem confun disse a religião com a
Igreja, e o amor com o casamento.”
� O psicologismo
Ação e enredo perdem a impor -
tân cia para a caracterização das per -
sonagens. 
Os acontecimentos exteriores são
considerados somente à medida que
revelam o interior, os motivos pro -
fundos da ação, que Machado de vas sa
e apresenta detalhada men te. Daí a
narrativa lenta, pois o menor deta lhe e
o menor gesto são signifi ca tivos na
composição do quadro psicoló gico;
nada é desprovido de inte resse. Essa
fixação pelo por me nor é o que se
denomina micror rea lis mo.
� O estilo machadiano
Machado prima pelo equilíbrio,
pela disciplina clássica, corre ção gra -
matical, concisão e economia vo ca -
bular. Ao contrá rio da nossa con gê nita
tendência ao uso imoderado do
adjetivo e do advérbio, tão ao gosto de
Castro Alves, de Alencar, de Rui
Barbosa etc., Machado é par ci mo -
nioso, sóbrio, quase “britânico”. Não
é, contudo, uma linguagem simétrica
e mecânica, porém medida pelo seu
ritmo interior, donde o segredo da
unidade da obra. São frequentes as
experiências narrativas antecipadoras
da moder ni dade, pelo aspecto irônico
e antina r rativo.
Em Memórias Póstumas de Brás
Cubas, em vez de narrar a morte de
D. Eulália Damasceno de Brito, Brás
Cubas “fotografa” seu epitáfio, trans -
po ndo o ícone, a inscrição tumular:
Capítulo CXXV
Epitáfio
AQUI JAZ
D. EULÁLIA DAMASCENO DE BRITO
MORTA
AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE
ORAI POR ELA!
� Memórias Póstumas de
Brás Cubas (1881)
Neste romance, em primeira
pessoa, o narrador-personagem Brás
Cubas relata sua vida a partir de uma
estranha situação: já está morto,
sendo, por isso, como ele mesmo diz,
um “defunto autor”. Com um texto
cheio de digressões e de humor, narra
o grande projeto de sua vida, criar o
“emplasto anti-hipocon dríaco Brás
Cubas”, esperança frus trada de
renome e riqueza. Brás Cubas conta
sua infância, fala da família, de
Marcela — a primeira amante — e de
Virgília, que foi sua namorada e que
acaba se casando com o deputado
Lobo Neves, homem ambicioso.
Virgília, que se torna amante de Brás
Cubas, é uma das grandes perso na -
gens femininas de Machado. Nessa
obra já aparece o filósofo-mendigo
Quincas Borba, que será a persona -
gem principal do romance seguinte de
Machado. Fundamentalmente pes -
simista, Brás Cubas é também um
homem cínico, até cruel, figura ele -
gante e típica da ociosa elite cario ca
do século XIX.
Ilustração de Cândido Portinari para a obra
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
� Dom Casmurro (1899)
Dom Casmurro é considerado um
romance sobre o adultério. Nem o
adul tério é fato certo na história, nem
o tema do romance se limita a ele. É
antes a abordagem da vaidade mas cu -
lina, e do vazio das ins ti tui ções que
domina, e do mistério da mulher.
Assim, todo o conjunto de certezas
da realidade (e do Realismo) torna-se
frágil, ilusório e engana dor. Todos os
acontecimentos nar rados na obra
ganham esta aura de dúvida por cau sa
do ciúme que o próprio nar rador-per -
so nagem — Bentinho, um ser me dío -
 cre — tem de Capitu, ami gui nha de
infância, depois namorada, noiva e,
enfim, esposa. Não há nenhu ma pro va
conclusiva do adultério de Capitu; ao
contrário, a relação inter tex tual do ro -
mance com Otelo, de Shakespeare,
parece advertir que tanto a realidade
quanto as perce p ções humanas são
abala das pelas paixões. Assim, todas
as “provas” e, em particular, a seme -
lhança de Ezequiel, o filho do casal,
com Esco bar, o su pos to aman te, são
relativas, duvi dosas. Machado atinge
o objetivo de mostrar que a realidade
é algo móvel e enganador. Capitu, de
“olhos de ressaca”, “oblí qua e dis -
simulada”, brilha entre todas as
personagens de Machado, não só as
femininas.
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� Quincas Borba (1891)
Quincas Borba é continuação de
Memórias Póstumas de Brás Cubas,
pois, como vimos, o filósofo-men di go,
personagem que dá nome a este ro -
man ce, e a sua filosofia, o Humani tis -
mo, já tinham aparecido nas
Memó rias, nas quais, na verdade, há
um pe río do de tempo em que Quin cas
Borba desaparece, só voltando para
morrer na casa de Brás Cubas. O
romance Quincas Borba narra em ter -
ceira pessoa as aventu ras de Quincas
nesse intervalo, nas quais in terveio,
novamente, o acaso: Quincas recebeu
uma herança e foi viver num local
tranquilo, Barbacena, mais ade quado à
sua filosofia. Lá se pas saram os fatos
principais da história. Apai xo nado e
recusado por Maria Pie dade, Quincas
adoeceu e foi tratado por Rubião, seu
amigo. Este, a quem Quincas tentara
explicar o Humanitis mo, se interes -
sava na ver dade pela fortuna do outro.
E Rubião, de fato, tornou-se herdeiro
universal do filó sofo sob a condição de
cuidar de seu cão (que se chama
também Quincas Borba). Despre -
parado para a rique za, ele é explorado
pelo casal Sofia e Cris tiano Palha.
Apaixona-se por ela, que é incentivada
pelo mari do a ser recep tiva a seus
favo res. Aos pou cos, vai perdendo
tudo, sem con quis tar o amor de Sofia,
e enlou quece, como Quincas. Nesse
roman ce, é desen vol vida a teoria do
Huma nitismo e sua máxima, “ao ven -
cedor, as bata tas”. Tra ta-se de satiri -
zação de correntes filosóficas da
épo ca, como o Positi vis mo e o
Evolucio nismo.
� Esaú e Jacó (1904)
O título alude à famosa passa gem
do Antigo Testamento, em que dois
irmãos disputam o pri vi légio da bên -
ção do pai. Machado, utilizando a ideia
da rivalidade en tre irmãos, cons trói as
persona gens Pedro e Paulo, cujo de -
sen ten dimento e inimi zade não têm
explicação racional. Briga vam des de o
útero materno. Flora é a mu lher que
se apaixona pelos dois, e que ambos
amavam. Nem a morte dela nem a de
sua própria mãe os reconcilia. Seu
ódio destruía as pes soas em redor.
Nessa obra já apa rece o Conse lheiro
Aires, persona gem central do
romance seguinte, o último de
Machado de Assis.
� Memorial de Aires (1908)
Neste romance em forma de
diário, o narrador, Aires, diplomata,
relata episódios de sua vida após se
apo sentar, o retorno ao Brasil, a vidi nha
em Petrópolis. Por meio de Fidé lia,
Aires e sua irmã, Rita, entram em con -
tato com o casal de velhinhos Aguiar e
Carmo e o drama de sua vida, a im -
possibilidade de ter filhos. Conso lam-
se no amor paternal que dedi cavam a
um afilhado, Tristão. De ses peram-se
quando este vai para a Europa e
reencontram alegria com Fidé lia, até
que de novo a fatalidade intervém:
Tristão casa-se com Fidélia e a leva
consigo para a Europa.
Memorial de Aires é apontado
como o romance mais projetivo da
per sonalidade e da vida de Machado
de Assis.
Escrito após a morte de sua es po sa,
Carolina, revela uma visão me lan cólica
da velhice, da solidão e do mundo. D.
Carmo, esposa do velho Aguiar, seria
a projeção da própria esposa de
Machado, já falecida. A iro nia e o
sarcasmo dos livros ante rio res são
substituídos por um tom com pas sivo
e melancólico, as per so na gens são
simples e bon dosas, muito dis tan tes
dos paranoicos e psicóti cos dos ro -
mances anteriores. Alguns veem no
Memorial de Aires uma obra de
retrocesso a concep ções romanti za das
do mundo; outros tomam o ro man ce
como o testa men to literário e humano
de Machado de Assis.
O “Panelinha”, grupo que reunia importantes intelectuais do início do século XX, como
Machado de Assis (sentado, segundo da esquerda para a direita), Artur Azevedo (em pé,
segundo da esquerda para a direita) e Olavo Bilac (em pé, quarto da esquerda para a
direita). A fotografia é de um almoço, em 1901, no Hotel Rio Branco, que ficava na Rua
das Laranjeiras n.o 192.
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Texto para o teste 1.
1. A filosofia de Quincas Borba — a Humanitas —
contém princípios que, con for me a explanação da
personagem, consideram a cooperação entre as
pessoas uma forma de
a) lutar pelo bem da coletividade.
b) atender a interesses pessoais.
c) erradicar a desigualdade social.
d) minimizar as diferenças individuais.
e) estabelecer vínculos sociais profundos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] Pela explicação apresentada pela personagem, o esforço
coletivo (produto da interação de indiví duos) tem como finalidade
a satisfação do indivíduo. 
Resposta: B
Texto para o teste 2.
2. Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do
autor e da literatura brasileira. No fragmento
apresentado, a peculiaridade do texto que garante a
universalização de sua abordagem reside
a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o
triunfo da aparência sobre a essência.
b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão
de obra escrava pela dos imigrantes.
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de
eternização de Rubião.
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que, metaforicamente,
representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho.
e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o
sentimento de xenofobia.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] Rubião tem de se afastar de sua origem pobre e mineira,
assim como dos gestos que traz dela, para corresponder às
exigências de representação que, segundo o amigo Palha, a nova
situação social lhe impõe.
Resposta: A
(...) Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo.
Tinha uma asa de frango no prato e trincava-a com filosófica
serenidade. Eu fiz-lhe ainda algumas objeções, mas tão frouxas,
que ele não gastou muito tempo em destruí-las.
— Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa
não esquecer nunca o princípio universal, repartido e resumido
em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é
uma operação conveniente, co mo se disséssemos o estalar dos
dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava filosofi camente a asa
do frango), a fome é uma prova a que Humanitas submete a
própria víscera. Mas eu não quero outro documento da subli -
midade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se de
milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado
de An go la. Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio
o trouxe, um navio construído de madeira cortada no mato por
dez ou doze ho mens, levado por velas, que oito ou dez homens
teceram, sem contar a cordoalha e outras partes do aparelho
náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o
resultado de uma multidão de esforços e lutas, executados com
o único fim de dar mate ao meu apetite.
(MACHADO DE ASSIS, J. M. 
Memórias Póstumas de Brás Cubas. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.)
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto
lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era
de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de
coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que
era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que
aqui estána sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém,
de escolher, escolheria a bandeja — primor de argentaria,
execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das
mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava
acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas
estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe
a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O
seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da
província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês,
Jean; foi degradado a outros serviços.
(MACHADO DE ASSIS, J. M.
Quincas Borba. In: Obra Completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. v. 1.)
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Texto para o teste 3.
3. (UEL – MODELO ENEM) – Ao definir a paz como “destruição” e a
guerra como “conservação”, o autor do texto
a) serve-se de um recurso argumentativo incompatível com a realidade
a que se refere.
b) critica aqueles que sentem repugnância ou pedem misericórdia para
os povos derrotados na guerra.
c) baseia-se em uma forma de raciocínio relacionada a uma situação
hipotética específica.
d) procura comprovar que, embora pareça ser uma solução, a guerra
traz grandes prejuízos à humanidade.
e) refere-se à guerra para destacar as diferenças entre o funcionamento
da economia nas sociedades primitiva e moderna.
RESOLUÇÃO:
A partir de uma situação hipotética específica — duas tribos que,
por uma questão de sobrevivência, devem disputar o alimento
suficiente para suprir as necessidades de apenas uma delas —, o
narrador analisa a imposição e vantagem da guerra, em detrimento
da paz, no caso apresentado.
Resposta: C
(...) Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas.
As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra
vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos
dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se
suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a
destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina
a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos,
aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das
ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações
não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só
comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo
motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao
vencedor, as batatas.
(Machado de Assis, Quincas Borba)
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MÓDULO 27 Realismo no Brasil (III): Machado de Assis (III)
Análise crítica
Nesta aula, você lerá trechos de
um texto de Antônio Cândido que
versa sobre alguns dos temas pre sen -
 tes e característicos da obra de
Machado de Assis. No texto, origi -
nalmente uma palestra proferida em
1968, o crítico ressalta a impor tân cia
e modernidade das “situações ficcio -
nais” criadas por Machado de Assis,
citando, respectivamente, alguns de
seus contos e romances:
Nas obras dos grandes escrito res
é mais visível a polivalência do verbo
literário. Elas são grandes por que são
extremamente ricas de significado,
permitindo que cada grupo e cada
época encontrem as suas obsessões
e as suas neces si da des de expres são.
Por isso, as suces sivas gera ções de
leitores e críticos brasileiros foram
encon trando níveis diferentes em
Machado de Assis, estimando-o por
motivos di ver sos e vendo nele um
grande escritor devi do a qualidades
por vezes contra ditórias. O mais
curioso é que prova velmente todas
essas interpre tações são justas,
porque ao apanhar um ângulo não
podem deixar de ao me nos pressentir
os outros. (...)
Muitos dos seus contos e alguns
dos seus romances parecem abertos,
sem conclusão necessária, ou per -
mitindo uma dupla leitura, como
ocorre entre os nossos contempo -
râneos. (...)
Talvez possamos dizer que um
dos problemas fundamentais da sua
obra é o da identidade. Quem sou eu?
O que sou eu? Em que medida eu só
existo por meio dos outros? Eu sou
mais autêntico quando penso ou
quando existo? Haverá mais de um
ser em mim? Eis algumas perguntas
que parecem formar o substrato de
muitos dos seus contos e romances.
Sob a forma branda, é o problema da
divisão do ser ou do desdo bramento
da personalidade, estu dado por
Augusto Meyer. Sob a forma extrema
é o problema dos limites da razão e da
loucura, que desde cedo chamou a
atenção dos críticos, como um dos
temas prin cipais de sua obra.
� “O Alienista”
Quanto ao problema da loucura,
podemos citar o conto “O Alienista”.
(...) Um médico funda um hospício para
os loucos da cidade e vai diagnos -
ticando todas as manifestações de
anormalidade mental que observa. Aos
poucos o hospício se enche; dali a
tempos já tem a metade da população;
depois quase toda ela, até que o
alienista sente que a verdade, em
consequência, está no contrário da sua
teoria. Manda então soltar os
internados e recolher a pequena
minoria de pessoas equilibradas,
porque, sendo exceção, esta é que é
realmente anormal. A minoria é
submetida a um tratamento de
“segunda alma”, para usar os termos
do conto precedente: cada um é
tentado por uma fraqueza, acaba
cedendo e se equipara deste modo à
maioria, sendo libertado, até que o
hospício se esvazia de novo. O alie nis -
ta percebe então que os germes de
desequilíbrio prospe raram tão facil -
 mente porque já estavam laten tes em
todos; portanto, o mérito não é da sua
terapia. Não haveria um só homem
normal, imune às solici ta ções das ma -
 nias, das vai da des, da falta de pon -
 deração? Analisando-se bem, vê que é
o seu caso; e resolve inter nar-se, só no
casarão vazio do hos pí cio, onde morre
meses depois. E nós per gun tamos:
quem era louco? Ou se riam todos
loucos, caso em que nin guém o é?
Notemos que este con to e o anterior
manifestam, no fim do sé culo XIX, o
que faria a voga de Piran dello a partir
do decênio de 1920.
� Dom Casmurro
Outro problema que surge com
frequência na obra de Machado de
Assis é o da relação entre o fato real e
o fato imaginado, que será um dos
eixos do grande romance de Marcel
Proust, e que ambos analisam princi -
palmente com relação ao ciúme. A
mes ma reversibilidade entre a razão e
a loucura, que torna impossível de mar -
car as fronteiras e, portanto, de fini-las
de modo satisfatório, existe entre o
que aconteceu e o que pensamos que
aconteceu. (...) Uma estudiosa norte-
americana, Helen Caldwell, no livro
The Brazilian Othello of Machado de
Assis, le van tou a hipótese viável,
porque bem macha diana, de que na
verdade Capitu não traiu o marido.
Como o livro é narrado por este, na
primeira pessoa, é preciso convir que
só conhecemos a sua visão das
coisas, e que para a furiosa “cris -
talização” negativa de um ciumento, é
possível até encontrar semelhan ças
inexis ten tes, ou que são produ tos do
acaso (como a de Capitu com a mãe
de Sancha, mulher de Escobar). Mas
o fato é que, dentro do universo ma -
cha diano, não importa muito que a
convicção de Bento seja falsa ou
verdadeira, porque a conse quência é
exatamente a mesma nos dois casos:
imaginária ou real, ela destrói a sua
casa e a sua vida. E con cluí mos que
neste romance, co mo nou tras situa -
ções da sua obra, o real pode ser o
que parece real.
� Esaú e Jacó
Neste caso, que sentido tem o
ato? Eis outro problema funda mental
em Machado de Assis, que o apro -
xima das preocupações de escri tores
como o Conrad de Lord Jim ou de The
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Secret Sharer, e que foi um dos temas
centrais do existencia lismo literário
contempo râneo, em Sartre e Camus,
por exemplo. Serei eu algu ma coisa
mais do que o ato que me exprime?
Será a vida mais do que uma cadeia de
opções? Num dos seus melhores
romances, Esaú e Jacó, ele retoma,já
no fim da car reira, este problema que
pontilha a sua obra inteira. Retoma-o
sob a for ma sim bó lica da rivalidade
perma nente de dois irmãos gêmeos,
Pedro e Paulo, que representam
invaria velmente a alter na tiva de
qualquer ato. Um só faz o contrário do
outro, e evidentemente as duas
possibili da des são legítimas. O gran de
proble ma suscitado é o da validade do
ato e de sua relação com o intuito que
o sustém. Através da crônica aparen -
temente cor riqueira de uma família da
bur guesia carioca no fim do Império e
começo da Re pú blica, surge a cada
instante este deba te, que se comple -
ta pelo terceiro per sona gem-chave, a
moça Flora, que ambos os irmãos
amam, está claro, mas que, situada
entre eles, não sa be como escolher. É
a ela, como a outras mulheres na obra
de Machado de Assis, que cabe
encarnar a deci são ética, o com pro -
misso do ser no ato que não volta
atrás, porque uma vez pra ticado defi ne
e obriga o ser de quem o praticou. Os
irmãos agem e optam sem parar,
porque são as alter nativas opostas;
mas ela, que deve identificar-se com
uma ou com outra, se sentiria redu zida
à metade se o fizesse, e só a posse
das duas metades a realizaria; isto é
impos sível, porque seria suprimir a
própria lei do ato, que é a opção.
Simbo licamente, Flora morre sem
escolher.
� “Um Homem Célebre”
Parece evidente que o tema da
op ção se completa por uma das
obses sões fundamentais de Macha do
de Assis, muito bem analisada por
Lúcia Miguel-Pereira — o tema da per -
fei ção, a aspiração ao ato com pleto, à
obra total, que encon tramos em di ver -
sos contos e sobre tudo num dos mais
belos e pun gentes que escre veu:
“Um Homem Célebre”.
Trata-se de um compositor de
polcas, Pestana, o mais famoso do
momento, reconhecido e louvado por
onde vá, procurado pelos editores,
abastado materialmente. No entanto,
Pestana odeia as suas polcas que toda
a gente canta e executa, porque o seu
desejo é compor uma peça erudita de
alta qualidade, uma so na ta, uma
missa, como as que admira em
Beethoven ou Mozart. À noite, posta -
do no piano, leva horas solici tando a
inspiração que resiste. De pois de mui -
tos dias, começa a sentir algo que
prenuncia a visita da deusa e a sua
emoção aumenta, sente quase as no -
tas desejadas brotando nos dedos,
atira-se ao teclado e... compõe mais
uma polca! Polcas e sempre polcas,
cada vez mais bri lhan tes e populares
é o que faz até morrer. A alternativa é
negada tam bém a ele; só lhe resta
fazer como é possível, não como lhe
agradaria.
� Conclusão
Isto é dito para justificar um con -
selho final: não procuremos na sua
obra uma coleção de apólogos nem
uma galeria de tipos singulares. Pro -
curemos sobretudo as situações fic -
cionais que ele inventou. Tanto
aque las onde os destinos e os acon te -
ci mentos se organizam segundo uma
espécie de encantamento gra tui to;
quanto as outras, ricas de sig nifi cado
em sua aparente simplicida de, mani -
festando, com uma engana dora neu -
tralidade de tom, os con flitos
essen ciais do homem consigo mes -
mo, com os outros homens, com as
classes e os grupos. A visão resul tante
é po de rosa, como esta palestra não
seria capaz sequer de sugerir. O
melhor que posso fazer é aconselhar a
cada um que esqueça o que eu disse,
com pen diando os críticos, e abra
direta men te os livros de Macha do de
Assis.
(ANTÔNIO CÂNDIDO. 
Esquema de Machado de Assis.
In: Vários Escritos. São Paulo: 
Livraria Duas Cidades, 1970.)
Rio de Janeiro, Av. Central (mais tarde Av. Rio Branco), 1900. A pai sa -
gem urba na contemporânea aos últimos anos de Machado de Assis.
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Para responder aos testes de números 1 e 2, leia o trecho a seguir, de
Machado de Assis. Trata-se da parte final do conto “Noite de Almi ran te”.
Deolindo saíra a trabalho em viagem marítima, deixando em terra
Genoveva. Ambos haviam feito jura de fidelidade. Ao voltar, Deolindo
encontra sua amada já morando com outro. Após o momento inicial de
ira e desespero, seus ânimos arrefecem:
1. (UNIFESP) – A desilusão amorosa de Deolindo aparece, no final do
texto, sob a forma de
a) tristeza por ter de mentir sobre a realidade, que lhe aparece injusta
e incontornável.
b) vergonha por ter de mentir sobre a noite que teve, já que tentou
matar-se por Genoveva.
c) resignação por não conseguir transformar a situação, sublimando-a
na sua resposta aos amigos.
d) agressividade em relação à mulher amada e seu companheiro, por
causa do adultério.
e) indiferença em relação à amada, pelo fato de ela já estar com outro
companheiro.
RESOLUÇÃO:
A resignada sublimação da frustração amorosa é explicitada no
final do texto, parafraseado na alternativa c. É uma forma de
racionalizar o sofrimento, mecanismo psicológico que visa a
atenuar as situações conflitantes e angustiantes.
Resposta: C
2. (UNIFESP) – O desfecho do conto retoma um dos grandes temas
machadianos, a saber, a questão
a) da solidão, retratando-a por meio de romances conflituosos e mal
resolvidos.
b) da desilusão amorosa, reafirmando a triste realidade daqueles que
sofrem por amor.
c) do adultério, confirmando que as relações amorosas são instáveis
e, por isso, o amor passa por mudanças.
d) da máscara social, revelando o jogo de mentira e verdade a que as
pessoas estão sujeitas.
e) do amor, mostrando que as pessoas, mesmo após muito tempo,
ainda guardam os sentimentos puros.
RESOLUÇÃO:
A alternativa d identifica uma das constantes da ficção macha -
diana: o conflito entre ser e parecer, entre a essência e a aparência
sob a qual a verdade se esconde.
Resposta: D
Texto para o teste 3.
3. O jornal impresso é parte integrante do que hoje se
compreende por tecnologias de informação e comu -
nicação. Nesse texto, o jornal é reconhecido como 
a) objeto de devoção pessoal.
b) elemento de afirmação da cultura.
c) instrumento de reconstrução da memória.
d) ferramenta de investigação do ser humano.
e) veículo de produção de fatos da realidade.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] O trecho “recomposição do extinto, a revivescência do
passado” evidencia que o jornal é tido como “instrumento de
reconstrução da memória”.
Resposta: C
Deolindo seguiu, praia fora, cabisbaixo e lento, não já o rapaz
impetuoso da tarde, mas com um ar velho e triste, ou, para usar
outra metáfora de marujo, como um homem “que vai do meio do
caminho para terra”. Genoveva entrou logo depois, alegre e
barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos,
gabou muito o gênio do Deolindo e os seus bonitos modos; a
amiga declarou achá-lo grandemente simpático.
— Muito bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me
disse agora?
— Que foi?
— Que vai matar-se.
— Jesus!
— Qual o quê! Não se mata não. Deolindo é assim mesmo; diz
as coisas, mas não faz. Você verá que não se mata. Coitado, são
ciúmes. Mas os brincos são muito engraçados.
— Eu aqui ainda não vi destes.
— Nem eu, concordou Genoveva, examinando-os à luz.
Depois guardou-os e convidou a outra a coser. — Vamos coser
um bocadinho, quero acabar o meu corpinho azul...
A verdade é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte,
alguns dos companheiros bateram-lhe no ombro,
cumprimentando-o pela noite de almirante, e pediram-lhe notícias
de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na
ausência, etc. Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e
discreto, um sorriso de pessoa que viveu uma grande noite.
Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.
BONS DIAS!
14 de junho de 1889
Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos jornais velhos!
Conhece-se um homem diante de um deles. Pessoa que não
sentir alguma coisa ao ler folhas de meio século, bem pode crer
que não terá nunca uma das mais profundas sensações da vida,
— igual ou quase igual à que dá a vista das ruínas de uma
civilização. Não é a saudade piegas, mas a recomposição do
extinto, a revivescência do passado.
(MACHADO DE ASSIS, J. M. Bons Dias! (Crônicas 1885-1839).
Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo: Hucitec, 1990.)
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1. Naturalismo no Brasil
Caracterizando-se como um Rea l is -
mo mais extremado, o Naturalismo
tem como elemento funda mental o
determinismo cientifi cista, que diver -
ge do determinismo sociopolítico, tí pi -
 co do Realismo. No final do sé culo
XIX, junto ao avanço da ciência sur ge
uma nova visão de mundo, di ver sa da
idealização romântica: Ver dade, Razão
e Ciência são agora os ideais.
Observação e análise são seus
métodos. Produzir uma arte do -
cumental é seu objetivo. O autor na -
turalista constrói enredo, trama e
per sonagens com a intenção de com -
pro var certas teorias, nas quais acre -
dita, sobretudo aquelas das ciên cias
biológicas: Evolucionismo, Ge nética,
Patologia. A nova visão teó rica
repercute na prática política de vários
autores, por meio da qual se mani -
festam as preocupações so cia lis tas,
ati vidades abolicionistas e a ten dên -
cia anticlerical.
Os principais autores naturalistas
bra sileiros foram Aluísio Azevedo,
Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Do min -
gos Olímpio e Inglês de Sousa. Todos
se guiram o mestre francês Émile Zola,
o mais importante escri tor des se mo -
vi mento. O Naturalismo, no Brasil, tem
início em 1881 (assim como o Realis -
mo), com a publicação de O Mulato,
de Aluísio Azevedo.
2. Aluísio Azevedo
(1857-1913)
� Vida
Filho de vice-cônsul português em
São Luís, transfere-se para o Rio de
Janeiro após ter atacado a con ser -
vadora sociedade maranhense com a
publicação de O Mulato. No Rio, juntou-
se ao irmão, o famoso co me diógrafo
Artur Azevedo. Foi jorna lista e escreveu
romances, contos, opere tas e revistas
teatrais. Era também bom desenhista,
hábil na arte da caricatura. Esse seu
talento, aliás, tem relação com a força
plás tica de suas descrições. Tentou so -
breviver de sua profissão de escritor e,
para isso, teve de aceitar encomen das
de editores, que lhe pediam ro mances
românticos ao gosto do pú blico, em
completo contraste com seus ideais
literários. Aos 38 anos aban donou a
carreira literária, in gres sando na di plo -
macia.
Aluísio Azevedo.
� Os folhetins romanescos
Decorrem da atividade de Aluísio
Azevedo como escritor profissional;
têm escasso valor literário e repre sen -
tam meras concessões ao gosto do
leitor da época. Escritos sem mui to
cuidado, para publicação na im pren sa
diária, o próprio autor reco nhecia a
fragilidade desses traba lhos.
Essas obras são: Uma Lágrima de
Mulher, Condessa Vésper, Girân dola
de Amores, Filomena Borges e A
Mortalha de Alzira.
� Os romances 
realistas-naturalistas
Constituem o segmento apreciá -
vel da obra de Aluísio Azevedo, ainda
que seja um conjunto bastante hete -
rogêneo, sem resíduos românti cos,
com documentação realista, experi -
men tação naturalista etc. O Mulato,
Casa de Pensão, O Coruja, O Ho mem,
O Cortiço e O Livro de uma So gra são
as obras dessa vertente.
3. Características das obras
� Obra heterogênea
Alterna romances naturalistas, de
vigor crítico e estofo cientificista, com
melodramas românticos, publicados
em folhetins pela imprensa e que
foram, durante algum tempo, o ga nha-
pão do autor.
� Romance social
Nos livros mais bem realizados,
Aluísio Azevedo revela extraordinário
poder de dar vida aos agrupamentos
humanos, às habitações coletivas, on -
de os prota gonistas vão, social e
moral mente, se degradando, por for -
ça da opressão social e econô mi ca e
dos impulsos irreprimíveis da sexuali -
dade, das taras e dos vícios.
� Visão rigorosamente
determinista
Para o autor, o Homem e a socie -
da de estavam submetidos às leis
inexo ráveis da raça (instinto, heredi -
tarie da de), do meio (geográfico, so -
cial) e do momento (circuns tân cias
his tó ricas).
� Influências de Eça de Queirós e
Émile Zola
Utilizou a técnica do tipo, defor -
man do, pelo exagero, os traços, crian -
do verdadeiras caricaturas. Não
conseguiu criar personagens que
pudessem transcender as condições
sociais que as geraram. As persona -
gens são psicologicamente superfi -
ciais e subsistem apenas em função
de contextos predeterminados. Não
há drama moral; os protago nistas são
vistos “de fora”, e a tragédia em que
as tramas desembocam decorre ape -
nas do fatalismo das doutrinas deter -
ministas.
Não há o refinamento estilístico de
Machado de Assis, nem a potên cia
verbal de Raul Pompeia, mas os diá -
logos se salvam pela vivacidade, pela
frase sempre incisiva. Há visível ten -
dência lusitanizante, o que se explica
pela origem luso-mara nhen se do autor.
MÓDULO 28 Naturalismo: Aluísio Azevedo
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� O Mulato (1881)
Obra de crítica ao preconceito
racial e à Igreja. O mulato Raimundo,
educado na Europa, retorna a São Luís
para conhecer suas origens. Apai xo na-se
por sua prima Ana Rosa, mas a família
lhes impede o casa mento. Pre tendem
fugir, mas Raimun do é per seguido e
morto a mando do pa dre Diogo, que
repre sen ta a de gra dação do clero. Ana
Rosa acaba se ca sando com o
assassino, com quem viverá de modo
feliz.
� Casa de Pensão (1884)
Narrativa intermediária entre o
romance de personagem (O Mulato) e o
romance de espaço ou de cole tividade
(O Cortiço). Inspirado em um caso
verídico, a Questão Capis trano, crime
que sensibilizou o Rio de Janei ro entre
1876 e 1877, expressa uma visão
determinista. Amâncio Vascon ce los,
personagem central, tem suas ações
e comporta mento de termi nados pela
formação (a educa ção severa, a
superpro teção mater na, a sífilis
contraída da ama de leite). Ele, um
jovem e rico mara nhen se, chega ao
Rio de Janeiro para estudar Medicina.
Boêmio e extrava gan te, hospeda-se na
pensão de João Coqueiro, que trama
casá-lo com sua irmã, Amélia, para
apossar-se da fortuna de Amâncio.
Com a recu sa do rapaz, Coqueiro o
denun cia falsa men te por violência
sexual contra a irmã, é derrotado na
justiça e, incon formado, mata
Amâncio.
� O Cortiço (1890)
Ambientado no Rio de Janeiro,
este romance narra o nascimento,
vida e morte de um cortiço, meio pelo
qual seu dono, o português João
Romão, pretende enriquecer. Ao la do,
há um sobrado, que sim boliza um
nível social mais elevado e cujo
proprietário é também um português,
o comendador Miranda. Os portu gue -
 ses conseguem ascen são econô mi ca
e social rápidas, que obtêm por meio
da exploração do brasileiro, re pre -
sentado coletiva men te pelo po vo do
cortiço. É nesse espaço social que as
leis ambientais interferem no indi ví duo
e determinam seu compor ta men to. O
cortiço e a negra Berto leza, amásia de
João Romão, só lhe inte ressam
enquanto lhe são úteis. Quan do João
Romão se casa com Zulmira, a filha do
comendador, e atin ge a posição social
desejada, nem Bertoleza, que o
ajudara a subir na vida, nem o cortiço,
com o qual enriquecera, são mais
necessários: o cortiço sofre um
incêndio e passa por remodelação, e
Bertoleza, rejei tada e denunciada à
polícia (era uma es cra va foragida),
suicida-se.
4. Características de O Cortiço
� Romance social
Desistindo de montar um enredo
em função de pessoas, [Aluísio]
ate ve-se à sequência de descrições
mui to pre ci sas onde cenas coletivas e
ti pos psi co logica mente primários fa -
zem, no conjunto, do cortiço a per so -
na gem mais convincente do nosso
ro man ce naturalista. (Alfredo Bosi,
His tória Con cisa da Literatura Bra -
sileira) 
Todas as existências se entrela -
çam e repercutem umas nas outras. O
cortiço é o núcleo gerador de tudo e,
feito à imagem de seu proprietário,
cresce, desenvolve-se e se trans forma
com João Romão.
� A crítica ao capitalismo
selvagem
O tema é a ambição e a explora -
ção do homem pelo próprio homem.
De um lado, João Romão, que aspi ra
à riqueza, e Miranda, já rico, que
aspira à nobreza. Do outro, a
“gentalha”, caracterizada como um
con junto de animais, movidos pelo
ins tinto e pela fome:
E naquela terra encharcada e fu -
megante, naquela umidade quente e
lodosa, começou a minhocar, a fervi lhar, a
crescer um mundo, uma coisa viva, umageração que parecia brotar espon tânea, ali
mesmo, da que le lamei ro e multiplicar-se
como larvas no esterco.
(...)
As corridas até a venda repro du ziam-se
num verminar de formigueiro assanhado.
A redução das criaturas ao nível
animal (zoomorfismo) é carac te rís tica
do Naturalismo e revela a in fluência das
teorias da Biologia do século XIX
(darwinismo, lamarquis mo) e do
determinismo (raça, meio, momento):
... depois de correr meia légua,
puxando uma carga superior às suas
forças, caiu morto na rua, ao lado da car -
roça, estrompado como uma bes ta.
Leandra... a “Machona”, portugue sa
feroz, berradoura, pulsos ca be lu dos e
grossos, anca de animal do campo.
Rita Baiana... uma cadela no cio.
� A força do sexo
O sexo é, em O Cortiço, força
mais degradante que a ambição e a
cobiça. A supervalorização do sexo,
típica do determinismo biológico e do
Naturalismo, conduz Aluísio a buscar
quase todas as formas de patologia
sexual: desde o “aca nalhamento” das
relações matri moniais até o adul tério,
prostituição, lesbianismo etc.
� A situação da mulher
As mulheres são reduzidas a três
condições: a primeira, de objeto, usa -
das e aviltadas pelo homem: Berto -
leza e Piedade; a segunda, de obje to
e sujeito, simultaneamente: Rita
Baiana; a terceira, de sujeito — são as
que independem do ho mem,
prostituindo-se: Léonie e Pom binha.
Os Britadores de Pedra (1849), de Gustave
Courbet (1819-1877), óleo sobre tela,
coleção particular, Milão.
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Texto para o teste 1.
1. No romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, as
personagens são observadas como elementos
coletivos caracterizados por condicionantes de
origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre
brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de
personagens portuguesas.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português
inexpressivo.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado
português.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos
portugueses.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos
musicais.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2011] O Determinismo é um dos elementos mais
importantes na composição da narrativa de O Cortiço. A música,
manifestação cultural do povo, carrega as características essenciais
que o formam. A música brasileira seria mais envolvente porque
repleta de sensualidade exacerbada, fruto de uma terra exuberante
e quente. O fado português, ao contrário, conteria uma tristeza
considerada típica do seu povo.
Resposta: C
Texto para o teste 2.
2. Influenciada pelo ideário cientificista do Natura lismo,
a obra destaca o modo como o mulato era visto pela
sociedade de fins do século XIX. No trecho, Manuel
traduz uma concepção em que a 
a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. 
b) condição econômica anulava os conflitos raciais. 
c) discriminação racial era condenada pela sociedade.
d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. 
e) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] É evidente no trecho a concepção segundo a qual a mistura
de “raças” (a miscigenação) desqualifica o indivíduo.
Resposta: A
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos
desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se
concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o
cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo,
romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais
que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de
toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe
fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras
notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não
eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e
suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como
cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados
em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos;
carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.
(AZEVEDO, A. O Cortiço.
São Paulo: Ática, 1983.)
— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de
uma escrava.
— Eu?
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a
verdade...
Raimundo tornou-se lívido. Manuel prosseguiu, no fim de um
silêncio:
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa,
mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito
escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do
Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja
um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a
prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal
casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a
promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um
branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!
(AZEVEDO, A. O Mulato.
São Paulo: Escala, 2008.)
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Texto para o teste 3.
3. (FUVEST) – Para entender as impressões de Jerônimo diante da
natureza brasileira, é preciso ter como pressuposto que há
a) um contraste entre a experiência prévia da personagem e sua
vivência da diversidade biológica do país em que agora se encontra.
b) uma continuidade na experiência de vida da personagem, posto que
a diversidade biológica aqui e em seu local de origem são muito
semelhantes.
c) uma ampliação no universo de conhecimento da personagem, que
já tinha vivência de diversidade biológica semelhante, mas a expande
aqui.
d) um equívoco na forma como a personagem percebe e vivencia a
diversidade biológica local, que não comporta os organismos que ele
julga ver.
e) um estreitamento na experiência de vida da personagem, que vem
de um local com maior diversidade de ambientes e de organismos.
RESOLUÇÃO:
Jerônimo, português recém-chegado ao Brasil, encontra no país
uma realidade totalmente diferente da que deixara em Portugal e
acaba deixando-se seduzir pelos encantos e sensualismo de Rita
Baiana. “Abrasileira-se”, trocando seus hábitos de aldeão português
pelos costumes locais, desde a alimentação até ao código moral.
Resposta: A
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos
olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das
impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente
do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era
o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas
matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não
torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar
gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do
caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra
verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que
esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele,
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhes as fibras
embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para
lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer,
uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno
de Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
afrodisíaca. (...)
(Aluísio Azevedo, O Cortiço)
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MÓDULO 29 Raul Pompeia
1. Raul Pompeia
(Angra dos Reis-RJ, 1863 –
Rio de Janeiro, 1895)
Raul Pompeia.
� Vida
Nascido em Angra dos Reis (RJ),
em 1863, Raul Pompeia estudou Direito
e ocupou cargos públicos. Militou no
movimento abolicionista e no republi ca -
no e colaborou na Gaze ta de Notí cias,
de José do Patrocínio. Envolveu-se em
diversas polêmicas e num due lo com
Olavo Bilac. Suici dou-se na noite de
Natal de 1895, aos 32 anos.
� Obra
A) Prosa
– Uma Tragédia no Amazonas
(romance)
– Microscópicos (contos)
– AsJoias da Coroa (romance)
– O Ateneu (romance)
– Agonia (romance inacabado e
inédito)
B) Poesia
– Canções sem Metro (poemas
em prosa) 
� O Ateneu: crônica de saudades
A) O romance O Ateneu, Crônica
de Saudades (1888) focaliza a vida em
um internato, apresentando pe ne -
trante análise social e psicoló gica das
personagens: Aristarco, o diretor (que
personifica o poder), profes so res,
funcionários e alunos, e a escola como
microcosmo da sociedade. “Vais
encontrar o mundo” é a pri meira
sentença do livro.
Narrado em primeira pessoa por
Sérgio, um homem que revê seu
passado e conta passagens de sua
vida de menino, o romance estrutura-
se por meio de “manchas de re corda -
ção”, ou seja, de uma suces são de
epi sódios, cujo fio condutor é a me -
mó ria do personagem-narrador. A
evocação do passado faz que a se -
quência cronológica de fatos (o tem po
objetivo) seja entrecortada por
associações e semelhanças subcons -
cien tes (o tempo subjetivo, a dura ção
interior). Esse procedimento evidencia
certa ruptura do romance com os
modos realista e naturalista de mera
observação objetiva da vida.
B) Há uma superposição de
diversos estilos, o que torna probl e -
má tica a vinculação de O Ateneu a
uma determinada corrente estética.
Assim, podemos identificar:
– elementos expressio nis tas: a
linguagem do livro aproxi ma-se da
técnica expressionista, que con sis te
na deformação grotesca e mór bi da do
que se descreve. Apre senta enor me
poder para a carica tura (dis tor ção ou
ênfase dos ele mentos do mi nantes de
um objeto ou de uma pes soa) e
grandes recur sos de ima gens visuais
e sonoras. A frase trans mite uma forte
carga emo cional. O estilo é nervoso,
ágil. A redução das perso na gens a
carica turas pare ce prove nien te da
inten ção de defor mar, de exagerar,
como se Raul Pom peia estivesse se
“vin gando” de tudo e de todos:
Os companheiros de classe eram
cerca de vinte; uma variedade de tipos que
divertia. O Gualtério, miú do, re don do de
costas, cabelos revoltos, motili dade brusca
e caretas de símio palhaço dos outros,
como dizia o professor. O Nascimento, o
bi can ca, alongado por um modelo ge ral de
pelicano, nariz esbelto, curvo e largo como
uma foice; (...) o Negrão, de ventas acesas,
lábios inquietos, fisionomia agreste de
cabra, canhoto e anguloso...
– elementos impressionis tas:
evidenciam-se no trabalho da memó -
ria como fio condutor. O pas sado é
recriado por meio de “man chas” de
recordação — daí a exis tência de um
certo esfuma ça mento da realidade,
pois o internato é reconstituído por
meio das impres sões, mais subje tivas
que objetivas. 
A técnica impressionista que
Pompeia utiliza consiste em destacar
antecipadamente do objeto que
descreve um ou mais traços e seu
efeito no observador. Há quem, por
isso, rotule O Ateneu de romance
impressionista:
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Transformara-se em anfiteatro uma
das grandes salas da frente do edifício,
exatamente a que servia de capela;
paredes estucadas de sun tuo sos rele vos,
e o teto aprofundado em largo me dalhão,
de magistral pin tura, onde uma aberta de
céu azul despe nha va aos cachos deli cio -
sos anjinhos, ostentando atrevi mentos
róseos de carne, agitando os minús culos
pés e, as mãozinhas, desatan do fitas de
gaza no ar.
– elementos naturalistas: decor-
 rem da concepção instintiva e
animalesca das personagens, cujo
comportamento é determinado pela
sexualidade, condição social etc. Há
um certo gosto “naturalista” pelas
“perversões”. É o que ocorre nas des -
 crições de Ângela e na tensão do
homossexualismo que existe nas
relações de Sérgio com Sanches,
Bento Alves e Egbert:
Ângela tinha cerca de vinte anos;
parecia mais velha pelo desen vol vi mento
das proporções. Grande, car nu da, san guí -
nea e fogosa, era um des ses exem pla res
excessivos do sexo que parecem
conformados ex pres samente para espo -
sas da mul tidão — protestos revolu -
cionários con tra o monopólio do tálamo.
Mas é um naturalismo dis siden te,
que nada tem a ver com o aprio rismo
ou com o esquematismo carac terís ti -
cos dessa corrente. O doutor Cláu dio,
conferencista que algumas ve zes pon -
tifica no internato, e que exterio ri za
algumas ideias artísticas do pró prio
Raul Pompeia, define a arte co mo o
processo sub jetivo da “evolu ção
se cu lar do ins tinto da espécie”.
Seria possível rastrear, em O
Ateneu, aproximações também com o
Parnasianismo, com o Simbolismo e,
até, antecipações modernistas.
C) O comportamento sexual é o
traço mais valorizado na persona li dade
dos adolescentes do internato,
divididos em “machos” e “fêmeas”,
em dominadores e dominados. Ob ser -
ve o que diz o narrador em rela ção ao
seu colega Bento Alves:
Estimei-o femininamente, porque era
grande, forte, bravo; porque me po dia
valer, porque me respeitava, qua se tímido,
como se não tivesse âni mo de ser amigo.
Para me fitar espe ra va que eu tirasse dele
os meus olhos.
D) Raul Pompeia projeta no
internato toda a problemática do
mundo adulto. O Ateneu é uma
redução, em escala, da visão que o
autor tinha da sociedade como um
todo. O móvel das ações de Aristarco
era o di nhei ro, e os alunos eram
tratados pelo diretor conforme o
segmento social a que pertenciam
seus pais.
Raul Pompeia não deixa ao arbí trio
dos futuros intérpretes o trabalho de
decifrar o sistema de ideias que se
poderia depreender.
1.a) Fala sobre a cultura brasi -
leira, em que os desejos republica-
nos de Pompeia se mostram,
investigando o “pântano das almas”
da vida emocional, sob a “tirania
mole de um tirano de sebo”.
2.a) Fala sobre a arte, entendida
pré-freudianamente como “educa ção
do instinto sexual”, e ante ci pan do
também Nietzsche como “expres são
dionisíaca”:
Cruel, obscena, egoísta, imoral, in -
dômita, eternamente selvagem, a arte é a
superioridade humana acima dos preceitos
que se combatem, aci ma da ciência que
se corrige: “embria guez como a orgia e
como o êxtase”.
3.a) Fala sobre as relações entre a
escola e a sociedade:
(...) Não é o internato que faz a so -
ciedade; o internato a reflete. A corrupção
que ali viceja vai de fora. (...) 
(...)
A edu ca ção não faz as almas; exercita-as.
(Raul Pompeia, O Ateneu, cap. XI)
Música estranha, na hora cálida. Devia
ser Gottschalk1. Aquele esforço agonizante
dos sons, lentos, pun gidos, angústia
deliciosa de extremo gozo em que pode
ficar a vida porque fora uma conclusão
triunfal. Notas graves, uma, uma; pausas de
silêncio e treva em que o instrumento
sucumbe e logo um dia claro de renascença,
que ilumina o mundo como o momento
fantástico do relâm pago, que a escuridão
nova mente abate...
Há reminiscências sonoras que ficam
per pétuas, como um eco do pas sado.
Recorda-me, às vezes, o piano, ressurge-
me aquela data.
Do fundo repouso caído de convales -
cente, serenidade extenua da em que nos
deixa a febre, infan tilizados no
enfraquecimento como a recomeçar a
vida, inermes contra a sensação por um
requinte mórbido da sensibilidade — eu
aspirava a música como a embriaguez
dulcís sima de um perfume funesto; a
músi ca envolvia-me num contágio de
vibração, como se houvesse nervos no ar.
As notas distantes cresciam-me n’alma
em ressonância enorme de cisterna; eu
sofria, como das palpitações fortes do
coração quan do o sentimento exacerba-se
— a sensualidade dissolvente dos sons.
Lasso, sobre os lençóis, em con forto
ideal de túmulo, que a vontade morrera, eu
deixava martirizar-me o encanto. A
imaginação de asas cres cidas fugia solta.
(...)
(Raul Pompeia, O Ateneu, cap. XII)
Vocabulário e Notas
1 – Gottschalk: Louis Moreau Gottschalk (1829-
1869), pianista e compositor nascido em Nova
Orleans (EUA) e falecido no Rio de Janeiro.
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Texto para o teste 1.
1 – Réclame: palavra francesa do gênero feminino que deu origem à palavra
reclame, em português,e cujo significado é “anúncio publicitário”.
1. Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor,
o narrador revela um olhar sobre a inserção social do
colégio demarcada pela
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais. 
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo
educacional. 
c) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação
do ensino.
d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos
escolares. 
e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse
comum do avanço social.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2015] A “ideologia mercantil da educação” que repercute
na vaidade pessoal personifica-se em Aristarco, diretor do Ateneu.
Isso fica evidente no trecho “Afamado por um sistema de nutrida
réclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos
reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de
novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com
artigos de última remessa”. 
Resposta: A
Texto para o teste 2.
1 – Encetar: começar.
2 – Preleção: palestra com finalidade educativa.
2. (MACKENZIE) – Nesse fragmento,
a) o narrador, em terceira pessoa, relata o cotidiano do internato, em
que pedagogos respeitados educavam adolescentes.
b) o trecho “narrava-nos a vida” (linha 3) revela juízo de valor positivo
em relação à figura do Dr. Cláudio.
c) as indagações dão a conhecer as restrições feitas por pessoas que
condenavam o Ateneu, críticas negadas pelo Dr. Cláudio.
d) a palavra “vulgar” (linha 6) expressa o julgamento negativo que o Dr.
Cláudio fazia das pessoas incultas que criticavam o Ateneu.
e) acompanha-se o diálogo agressivo que o Dr. Cláudio estabeleceu,
um dia, com aqueles que censuravam o internato.
RESOLUÇÃO:
Nesse trecho adaptado, fica claro que as palestras do Dr. Cláudio
fugiam do ramerrão hipocritamente moral das preleções de
Aristarco. Dr. Cláudio falava de outros temas e com outro enfoque,
o que é avaliado positivamente em “narrava-nos a vida” —
diferentemente de Aristarco, que falava banalmente a respeito de
abstrações.
Resposta: B
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me
a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti. 
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um
sistema de nutrida réclame1, mantido por um diretor que de
tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o
jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam
para recomeçar com artigos de última remessa, o Ateneu desde
muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais; sem levar
em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o
bombo vistoso dos anúncios. 
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do
Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu
renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas
províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos,
à sustância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões,
sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o
ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente
anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em
Leipzig, inundando as escolas públicas de toda parte com a sua
invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de
Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos
esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os
não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente,
gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a
farinha daquela marca para o pão do espírito.
(POMPEIA, R. O Ateneu.
São Paulo: Scipione, 2005.)
O Dr. Cláudio encetou1 uma série de preleções2 aos
sábados, à imitação das que fazia às quintas Aristarco sobre
lugares-comuns de moralidade. O doutor narrava-nos a vida.
Falava uma vez sobre educação.
5 Discutiu a questão do internato. Divergia do parecer
vulgar, que o condena.
É uma organização imperfeita, aprendizagem de
corrupção, ocasião de contato com indivíduos de toda
origem? O mestre é a tirania, a injustiça, o terror? O mereci-
10 mento não tem cotação...? Tanto melhor, é a escola da
sociedade.
(Raul Pompeia, O Ateneu: 
crônica de saudades – adaptado)
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Texto para o teste 3.
3. Reconhecido pela linguagem impressionista, Raul
Pompeia desenvolveu-a na prosa poética, em que se
observa
a) imprecisão no sentido dos vocábulos.
b) dramaticidade como elemento expressivo.
c) subjetividade em oposição à verossimilhança.
d) valorização da imagem com efeito persuasivo.
e) plasticidade verbal vinculada à cadência melódica.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2019] A plasticidade verbal, observada no uso de metáforas
que associam paisagem e sentimentos, vincula-se à cadência
melódica, resultante da pontuação e do uso de assonâncias e
aliterações.
Resposta: E
Inverno! inverno! inverno!
Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal,
descampados de gelo cujo limite escapa-nos sempre,
desesperadamente, para lá do horizonte, perpétua solidão
inóspita, onde apenas se ouve a voz do vento que passa uivando
como uma legião de lobos, através da cidade de catedrais e
túmulos de cristal na planície, fantasmas que a miragem povoam
e animam, tudo isto: decepções, obscuridade, solidão, desespero
e a hora invisível que passa como o vento, tudo isto é o frio
inverno da vida.
Há no espírito o luto profundo daquele céu de bruma dos
lugares onde a natureza dorme por meses, à espera do sol avaro
que não vem.
(POMPEIA, R. Canções sem Metro.
Campinas: Unicamp, 2013.)
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MÓDULO 30 Parnasianismo
1. Origens
O Parnasianismo remete-nos ao
mesmo contexto histórico-cul tu ral do
Realismo e do Naturalis mo e
compartilha, com esses dois movi -
men tos, de alguns ideais e de algu -
mas atitudes: a negação do
sub je tivismo, a postura antir ro mân -
 tica e a luta contra “o uso pro fis -
sional e imoderado das lá grimas”.
O movimento parnasiano surgiu na
França em 1866, com a edição da anto -
logia Le Parnasse Contem porain.
Abrigando poetas de ten dên cias
diversas, como Théophile Gautier,
Leconte de Lisle, Charles Baudelaire,
Heredia, Banville, havia em comum a
oposição ao senti men talismo romântico.
A denominação Parnasia nismo
remete-nos à antiguidade greco-
romana (Monte Parnaso = região da
Fócida, na Grécia, que a mitologia
contemplava como a mo rada dos
deuses e poetas, ali isolados do
mundo para dedicarem-se exclusi va -
men te à arte). Isso sugere a apro -
ximação às fontes e aos ideais
clássicos da arte (o Belo, o Bem, a
Verdade, a Perfeição, o Equilíbrio, a
Disciplina e o rigor formal, a obe -
diência às regras e aos modelos, a arte
como imitação da natureza — a
mimese aristotélica).
2. Características
� A arte pela arte – O esteticismo
Sintetizada na forma latina ars
gratia artis (arte pela arte), a poesia
parnasiana propõe que a beleza
formal justifica a existência do
poema, e que a arte não deve ter ou -
tros compromissos senão com o belo,
com a perfeição formal.
Negando a poesia realista, filosó -
fico-científica e socialista de seus
precursores, os parnasianos impõem
uma atitude de distanciamento da
vida, de afastamento do cotidiano,
de alienação dos problemas do
mundo, de des pre zo pela plebe e
pelas aspi rações populares e de
recusa de temas vulgares.
Assim, os parnasianos se fecham
em suas “torres de mar fim”, en tre -
gues ao puro fazer poético:
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino1 escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
(Olavo Bilac, “A um Poeta”)
Vocabulário
1 – Beneditino: abnegado como um monge
beneditino.
� A impassibilidade –
A contenção lírica
Para desidentificar-se da anti-
quíssima síntese entre eu e mundo,
introduzindo um hiato entre essas
duas instâncias do real, o narrador par -
nasiano (o eu lírico) procura trans -
formar apoesia em puro traba lho,
artefato, construção.
Daí a aproximação com os ideais
das artes plásticas: o poeta-ourives,
o poeta-escultor, o poeta-arquiteto,
o poeta-pin tor; o poeta que modela
pacien temen te sua obra, sem
confundir-se com ela:
Torce, aprimora, alteia1, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta2 a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.
(...)
(Olavo Bilac, “Profissão de Fé”)
Vocabulário e Notas
1 – Altear: elevar.
2 – Engastar: encravar, embutir.
� Perfeição formal
Centrados no puro fazer poético, os
parnasianos instauram o mate rialismo
da forma. A palavra é tra balhada como
matéria-prima, que deve ser lapidada,
burilada, cin ze lada.
A poesia deve ser fruto do es for ço
intelectual, da elaboração. Por isso, os
parnasianos, exímios conhe cedo res da
língua, são “poetas de di cio ná rio”,
rigoroso quanto à cor reção gramatical,
à pureza da lin guagem, à verna cu li -
dade, pela seleção voca bular.
Outro aspecto desse formalismo
é a valorização de alguns procedi men -
tos, tais como:
• o culto das rimas ricas, raras e
preciosas;
• a preferência pelos versos
alexandrinos (12 sílabas métricas) e
a metrificação rigorosa;
• o gosto pelas formas fixas,
especialmente o soneto (quase aban -
donado pelos românticos), além da
sextina, da balada e do rondó;
• o emprego de enjambements
— palavra fran cesa que se pronuncia
ãjãbemã — como meio de quebrar a
monotonia rítmica. O enjambement
cor responde ao prolongamento sin táti -
co e semântico de um verso no verso
seguinte:
E, de súbito, paramos na estrada
Da vida, longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive, da luz que seu olhar continha.
(Olavo Bilac, “Nel Mezzo del Camin”)
� A poesia descritiva,
plástica e visual
Os parnasianos pretendem apre -
en der descritivamente o real, por
meio de impressões sensoriais
nítidas, apo i ando-se em imagens vi -
suais, que se convertem em verda -
dei ros cromos, tal a in ten sidade das
cores e do brilho.
Concentram-se na descrição de
fenômenos da natureza (o anoi tecer,
a primavera, as árvores); na fixa ção de
cenas históricas e mito lógicas (“O
Incêndio de Roma”, “O Triunfo de
Afrodite”); na contem pla ção de
objetos de arte, exó ticos e
requintados (“O Vaso Grego”, “O
Leque”, “A Está tua”), privilegian do,
também, a beleza física da mulher.
� O Kitsch
O gosto pelo exótico, pelo
diferente, o prazer da raridade visa
especialmente a satisfazer “o bom
gosto” burguês, sua ânsia pelo raro,
pelo prestigioso, pela negação da
vulgaridade.
Buscando o raro e o requintado, o
parnasiano cai, muitas vezes, na
superficialidade, na obsessão do
adorno, esquecido da essência.
É nesse sentido que se alinham
algumas objeções à atitude parnasiana:
• privilegiando a organização léxica
e gramatical do discurso poé-tico, os
parnasianos se esquecem de que a
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grande poesia consiste “na linguagem
carregada de signi-ficação no mais alto
grau possível” (Ezra Pound);
• diz-se que um artista pratica o
Kitsch quando ele mistura formas e
truques para impressionar o aprecia -
dor, sugerindo, por meio de efeitos
previamente estudados, conotações
prestigiosas, ostentando falsa rique za
ou cultura.
3. A tríade parnasiana
� Olavo Bilac 
(Rio de Janeiro, 1865-1918)
Olavo Brás Martins dos Guima rães
Bilac, já no próprio nome um alexan -
drino perfeito, cursou Medicina e
Direi to, sem concluir nenhum dos cur -
 sos. Viveu como jornalista, funcio ná rio
público, boêmio e poeta de lar go pres -
tígio no seu tempo. Foi eleito em
1913, pela revista Fon-Fon, o Prín cipe
dos Poetas Brasi lei ros.
Ativista nas campanhas abolicio -
nista, republicana, civilista, pelo ser -
viço militar obrigatório, pela vaci na
obrigatória, pela reurbani zação do Rio
de Janeiro, pela entrada do Brasil na
Primeira Grande Guerra; autor da letra
do Hino à Bandeira, Bilac dei xou, além
da obra poética que vere mos,
crônicas, novelas, poesias in fan tis,
conferências literárias e um tratado de
versificação.
Estreou em 1888 com Poesias,
livro saudado com entusiasmo por
Alberto de Oliveira e Raimundo Cor -
reia, que formariam, com Bilac, a
“Trindade Parnasiana”.
Poesias, além de uma introdu ção
em verso, chamada “Profissão de Fé”
— espécie de manifesto parna sia no —,
continha três partes distintas:
• Panóplias: poemas descritivos,
obedecendo rigorosamente aos câ no -
 nes parnasianos, aproveitando su ges -
tões da antiguidade greco-roma na.
• Via-Láctea: 35 sonetos,
tematizando o lirismo amo roso
platônico, com o aproveita mento de
sugestões românticas e clássicas. O
título Via-Láctea alude a uma
constante na poesia de Bilac: as
estrelas (“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo / Per deste o senso!”).
• Sarças de Fogo: poemas eróti -
cos, centrados na beleza física da mu -
 lher e no amor carnal, reduzido a um
jogo bem arranjado de pala vras,
buscando mais o efeito que a genuí na
sensualidade.
Em 1902, às Poesias foram acres -
centados três outros livros: Alma
Inquie ta e Viagens, marcados por um
veemente temperamento romântico,
controlado pela disciplina formal
aprendida com os parnasianos fran -
ceses (Gautier, Leconte de Lisle e
Heredia), além do poema épico-
patriótico “O Caçador de
Esmeraldas”, escrito em sextilhas e
alexan dri nos, evocando a figura de
Fernão Dias Pais, apoiado na tradição
ufanista e motivado pelo civismo, que
Bilac praticou na frequente exalta ção
da pátria, de seus símbo los e heróis.
• Em 1919, aparece o livro pós -
tu mo Tarde, em que o poeta se em -
pe nha em um maior comedimento,
quer do ímpeto romântico, quer do
con ven cionalismo parnasiano, valo ri -
zando o aspecto reflexivo e filo sófico
e as ce nas da natureza, vazado em
lingua gem simples e acessível, já dis -
tante do artificialis mo dos livros
anteriores:
CANTILENA
Quando as estrelas surgem na tarde, surge
[a esperança...
Toda alma triste no seu desgosto sonha um
[Messias:
Quem sabe? o acaso, na sorte esquiva, 
[traz a mudança
E enche de mundos as existências que
[eram vazias!
Quando as estrelas brilham mais vivas,
[brilha a esperança...
Os olhos fulgem; loucas, ensaiam as asas
frias:
Tantos amores há pela terra, que a mão alcança!
E há tantos astros, com outras vidas, para
[outros dias!
Mas, de asas fracas, baixando os olhos, o
[sonho cansa;
No céu e na alma, cerram-se as brumas,
[gelam as luzes:
Quando as estrelas tremem de frio, treme a
[esperança...
Tempo, o delírio da mocidade não reproduzes!
Dorme o passado: quantas saudades e
[quantas cruzes!
Quando as estrelas morrem na aurora, 
[morre a esperança...
� Alberto de Oliveira
(Palmital de Saquarema-RJ,
1857 – Niterói-RJ, 1937)
Foi o mais ortodoxo dos nos sos
parnasianos e o que seguiu com maior
rigor as propostas da escola: objeti vis -
mo, impassibi lidade, preo cu pação
esteticis ta, rigor formal e tecnicismo.
VASO GREGO
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
� Raimundo Correia
(São Luís-MA, 1859 –
Paris, 1911)
Em Primeiros Sonhos, livro de es -
treia (1879), que reúne a poesia de
ado lescência, revela a aproximação
com o Romantismo, na idealização da
mulher, recorrendo a formas e moti -
vos que se aproximam de Casimiro de
Abreu e dos românticos menores.
Sinfonias marca a adesão do poeta
ao Parnasianismo, reunindo seus
melhores e mais conhecidos poe mas:
“As Pombas” e “Mal Secre to”.
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge,tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
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Texto para o teste 1.
1. Composição de formato fixo, o soneto se tornou um
modelo particularmente ajustado à poesia parnasiana.
No poema de Raimundo Correia, remete(m) a essa
estética
a) as metáforas inspiradas na visão da natureza.
b) a ausência de emotividade do eu lírico.
c) a retórica ornamental desvinculada da realidade.
d) o uso da descrição como meio de expressividade.
e) o vínculo a temas comuns à Antiguidade Clássica.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2019 – 2.a aplic.] Uma das características do Parnasianismo
é a descrição de objetos, cenas históricas, fenômenos naturais. O
soneto de Raimundo Correia descreve o pôr do sol por meio de
impressões sensoriais, cujas imagens valorizam a intensidade das
cores.
Resposta: D
Texto para o teste 2. 
2. Publicado em 1904, o poema “A Pátria” harmoniza-se
com um projeto ideológico em construção na
Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac
ecoa esse projeto, à medida que 
a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto
brasileiro de grandeza. 
b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de
políticas de governo.
c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também
aos ícones nacionais.
d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se
verifica naquele momento.
e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar
social experimentado. 
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2015] A descrição grandiloquente que Olavo Bilac faz da
terra brasileira induz a imaginar que a prosperidade em qualquer
setor prescinde de políticas governamentais, pois, na
representação da pátria, focaliza-se, sobretudo, a generosidade de
uma terra que tudo oferece a quem souber explorá-la. 
Resposta: B 
A
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se além da serrania
Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
(CORREIA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br.
Acesso em: 13 ago. 2017.)
A PÁTRIA
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! 
Criança! não verás nenhum país como este! 
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta! 
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, 
É um seio de mãe a transbordar carinhos. 
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, 
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! 
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! 
Vê que grande extensão de matas, onde impera, 
Fecunda e luminosa, a eterna primavera! 
Boa terra! jamais negou a quem trabalha 
O pão que mata a fome, o teto que agasalha... 
Quem com o seu suor a fecunda e umedece, 
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este: 
Imita na grandeza a terra em que nasceste! 
(BILAC, O. Poesias Infantis.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.)
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Textos para o teste 3.
3.
A partir da comparação entre os poemas 1 e 2,
verifica-se que,
a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em
linguagem denotativa, enquanto no de Tigre, em linguagem
conotativa.
b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes e, no texto
de Tigre, são próximas, acessíveis aos que as ouvem e as entendem.
c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais traba lha da, como
se observa no uso de estruturas como “dir-vos-ei sem pejo” e
“entendê-las”.
d) no texto de Tigre, se percebe o uso de linguagem meta linguística no
trecho “Uma boca de estrela dando beijo / é, meu amigo, assunto
pra um poema”.
e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as
estrelas é enfatizada na última estrofe de seu poema, com a
recomendação de compreensão de outras línguas.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2009] Este teste busca verificar o conhecimento das funções
da linguagem e a discriminação da função em causa — a
metalinguística.
Resposta: D
Texto 1
OUVIR ESTRELAS
“Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(Olavo Bilac, in Tarde, 1919)
Texto 2
OUVIR ESTRELAS
Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo
Que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
De ouvi-las nos programas de cinema.
Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
Que mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma boca de estrela dando beijo
É, meu amigo, assunto pra um poema.
Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
As estrelas que dizem? Que sentido
Têm suas frases de sabor tão raro?
Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
(TIGRE, B. In: Becker, I. Humor e Humorismo: 
antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961.)
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MÓDULO 31 Simbolismo (I): introdução, características e simbolistas portugueses
1. Conceito e âmbito
� A reação antimaterialista,
antipositivista e antirrealista
A ciência e a técnica permitiram
ao homem do fim do século XIX um
extraordinário conforto material (tele -
fo ne, motor a explosão, microfone, fo -
nó grafo, raios X, cinematógrafo,
telé grafo, lâmpada incandescente),
pro vocando enorme euforia. O espí rito
cien tífico, o materialismo, o positi vis -
mo, o determinismo transfor maram-se
numa verdadeira religião.
Contudo, alguns intelectuais, dis -
tan ciados dessa euforia, começa ram a
expressar a necessidade de supe rar a
visão racionalista e mecanicista do
universo, colocando questões que
transcendem a possibi li dade de com -
 provação objetiva, na busca de um
modo suprarracional de conheci -
mento, que pudesse penetrar as ca -
ma das profundas do “eu” e traduzir
os “mistérios” da vida.
A oposição ao racionalismo, às
pre tensões cientificistas e ao pro gres -
sismo da sociedade industrial tem
como precursores alguns filóso fos —
como Schopenhauer e Kierkegaard —
e alguns escritores e poetas “es tra -
nhos”, como o ame ri cano Edgar Allan
Poe. Charles Baudelaire, gran de poeta
que se afasta dos pa drões do
Parnasianis mo de seu tempo, é um
dos pais da nova poé ti ca, de que serão
expoentes Stéphane Mallarmé, Paul
Verlaine e Arthur Rimbaud. O
desenvolvimento da ciência, em fins
do século XIX e início do século XX,
orientou-se para caminhos seme lhan -
tes aos trilhados por aqueles grandes
pensadores e poetas. Assim, a física
relativista de Einstein colocou em
questão alguns postu lados bási cos da
ciência tradi cio nal, enquanto Freud
inaugurou o estudo do incons ciente e
abalou crenças fundamen tais a res -
peito da lógica do compor tamento
humano.
� Decadentismo e Simbolismo
O termo decadentismo foi aplica -
do às primeiras manifestações da lite -
 ratura simbolista, que ocor reram em
Paris, em torno dos anos 1880-90. A
designação perdeu acono tação pejo -
 rativa inicial, que lhe foi atribuída pelos
opositores da nova literatura, e passou
a designar um conjunto de ele mentos
típicos como: gosto por signos do
refinamento e da ele gância intelectual
de certas épocas tidas como
“decadentes” (o helenis mo de
Alexandria, o fim do Império Roma no);
a predileção por experiên cias raras,
sutis, artificiosas, “proi bidas”; a recu -
peração de um ideal esgotado de be le za;
a evocação de um Oriente mis te rioso
e sensual; o desprezo pe las ideias
humanitárias e socialís ti cas; a recusa
do positivismo bur guês; a exaltação
do irracional e o interesse no
esotérico, no oculto, na ascese mís -
tica ou, no outro extremo, no inferno
do submundo da prosti tui ção e da
mar ginalidade. Um exemplo des se
clima decadentista na litera tu ra de
língua portuguesa se encontra na
narrativa A Confissão de Lúcio, de
Mário de Sá-Car neiro. Tam bém Fer -
nando Pes soa, con tem po râ neo e ami -
 go de Sá-Car nei ro, ini cia a obra de seu
hete rô ni mo Ál varo de Campos com
um grande poe ma de ex plí cito teor de -
ca den tista, “Opiá rio”, confis são de
um viciado em ópio que viaja por um
Oriente fan tás tico (“um Orien te ao
orien te do Orien te”). Coinciden te men -
 te, aquele que é talvez o maior poe ta
simbolista da literatura de língua por -
tuguesa, Camilo Pessanha, foi viciado
em ópio e viveu no Oriente (China).
O nome simbolismo, que veio a
subs tituir decadentismo, foi proposto
por Jean Moréas, em manifesto pu bli -
 cado em 1886 em defesa da nova
escola.
� As propostas do Simbolismo
• Características
a) O Simbolismo pode ser consi -
de rado um prolongamento ou uma
radicalização do Romantismo: reto ma
o subjetivismo, o indivi dua lismo, o
espiritualismo, o sen tido con fli -
tuoso “eu x mundo”, e leva às
últimas consequências a concep ção
de mundo inaugurada com as dou -
trinas romântico-liberais.
Mas, contrariamente aos român ti -
cos, os simbolistas entendiam que a
poesia não é somente emo ção, mas
a tomada de cons ciên cia dessa
emoção; que a atitude poética não é
unica mente afe tiva, mas ao mesmo
tempo afe tiva e cognitiva. Por outras
palavras: a poesia car rega em si uma
certa ma neira de conhecer.
b) O mergulho no “eu pro -
fundo”, no inconsciente, a in tuição,
a sugestão.
Buscando as esferas incons cien -
tes, o “eu profundo”, os simbo listas
iniciam a exploração do mundo inte -
rior, rompendo os níveis do razoá vel,
do lógico e atingindo os estratos
mentais anteriores à fala e à lógica.
Mais do que tocar os desvãos do
inconsciente, pretendiam senti-los,
examiná-los.
O problema mais difícil era o de
como transportar as vivências abis sais
para o plano do consciente a fim de
comunicá-las a outrem. Era ne ces sário
inventar uma linguagem nova,
fundada numa gramática e numa
sintaxe psicológica, utilizando arcaís -
mos, termos exóticos e litúr gicos, re -
cor rendo a neologismos, a inespera-
das combinações voca bu lares e a
recursos gráficos (maiús culas alego ri -
zantes, uso de cores na impressão
dos poemas).
Para tentar traduzir as mensa gens
cifradas do “eu profundo”, das partes
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nebulosas do ser, os simbo listas
apelaram para a evocação, para a
sugestão, empregando uma
linguagem indi re ta que apenas suge -
risse os conteú dos emo tivos e
sentimentais, sem narrá-los ou des -
cre vê-los. A metáfora e o símbolo
ganharão, a partir daí, nova estrutura e
fisionomia, bus cando as múltiplas
relações entre a essência do “eu
profundo”, a pala vra e o objeto.
c) A teoria das correspon -
dências – a sinestesia.
Propunha Baudelaire: “tudo, for -
 ma, movimento, número, cor, per fu -
me, no [mundo] espiritual, co mo no
natural, é significativo, recí pro co,
conversível, corres pon den te”:
CORRESPONDÊNCIAS
A natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o veem com olhos familiares.
Como os ecos além confundem seus rumores
Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as 
[cores.
Há perfumes frescos como carnes de criança,
Doces como os oboés, verdes como as 
[campinas,
E outros, corrompidos, mas ricos e triunfantes,
Que possuem a efusão das coisas infinitas
Como o sândalo1, o almíscar2, o benjoim3 e 
[o incenso,
Que cantam o êxtase do espírito e dos 
[sentidos.
(Charles Baudelaire, 
trad. de Jamil A. Haddad)
Vocabulário e Notas
1 – Sândalo, 2 – Almíscar, 3 – Benjoim: subs tân -
 cias aro má ticas.
A teoria das correspondên cias
propõe um processo cósmico de
aproximação entre as realidades que
se expressam por meio de si nes te sia,
um tipo de metáfora que con sis te na
transferência (ou “cru za men to”) de
percepção de um senti do para outro,
ou seja, a fusão, num só ato de
percepção, de dois sentidos ou mais.
É o que ocorre em “ruído áspero”
(audição e tato); “música do ce”
(audição e gustação); “som colo rido”
(audição e visão).
d) A música antes de tudo – as
aliterações e assonâncias.
Para os simbolistas, a música
ocupa o primeiro lugar entre todas as
artes porque, liberta de toda referên -
cia específica aos diversos objetos da
vontade, poderia exprimi-la em sua
essência.
É o que propõe Verlaine:
ARTE POÉTICA
Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.
Pesar palavras será preciso,
Mas com algum desdém pela pinça:
Nada melhor do que a canção cinza
Onde o Indeciso se une ao Preciso.
Uns belos olhos atrás do véu,
O lusco-fusco no meio-dia,
A turba azul de estrelas que estria1
O outono agônico2 pelo céu!
Pois a Nuance é que leva a palma,
Nada de Cor, somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance3
O sonho ao sonho e a flauta na alma!
Foge do Chiste4, a Farpa mesquinha,
Frase de espírito, Riso alvar5,
Que o olho do Azul faz lacrimejar,
Alho plebeu de baixa cozinha!
A eloquência? Torce-lhe o pescoço!
E convém empregar de uma vez
A rima com certa sensatez
Ou vamos todos parar no fosso!
Quem nos dirá dos males da rima!
Que surdo absurdo ou que negro louco
Forjou em joia este toco oco
Que soa falso e vil sob a lima?
Música ainda, e eternamente!
Que teu verso seja o voo alto
Que se desprende da alma no salto
Para outros céus e para outra mente.
Que teu verso seja a aventura
Esparsa ao árdego6 ar da manhã
Que enchem de aroma o timo7 e a hortelã...
E todo o resto é literatura.
(Verlaine, trad. de Augusto de Campos)
Vocabulário e Notas
1 – Estriar: riscar. 2 – Agônico: aflito. 3 – Afiançar:
garantir. 4 – Chiste: gracejo. 5 – Alvar: grosseiro.
6 – Árdego: impetuoso. 7 – Timo: tomilho.
Visando à sugestão, à nuan ce, ao
indeciso dos estados da al ma, ao
vago do coração, ao ne buloso, ao
quimé rico, ao mís ti co, ao
inexprimível, ao trans cen dente, os
simbolistas que rem tocar o ouvido,
sem feri-lo, por meio de
procedimentos sonoros, tais como
d1) a rima aproximativa, nem rica
nem agressiva.
d2) as aliterações: (sequên cia de
fonemas consonantais idênticos ou
de mesma área de arti culação, dentro
do mesmo verso):
E as cantilenas de serenos sons amenos
fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos.
(Eugênio de Castro)
Vozes veladas veludosas vozes
Volúpias dos violões, vozes veladas.
(Cruz e Sousa)
d3) as assonâncias (se quên cia
dos mesmos fonemas vocáli cos nas
sílabas tônicas de palavras su cessivas
ou próximas):
Ó formas Alvas, brAncas, formas clAras
(Cruz e Sousa)
d4) as onomatopeias (com bi na -
ção ou repetição de palavras cu jos
sons, numa espécie de har mo nia
imitativa, transmitem ideias
aproximadas ou exatas do objeto ou
ação a que se refere o texto):
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol,
E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
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d5) as palavras rarase mu sicais,
escolhidas pela sonori dade: arcaís -
mos, neologismos, termos litúr gicos,
com bi nações vocabulares ines pera -
das, numa verdadeira verbo ma nia:
“clep sidra”, “litanias”, “antífona”,
“turíbu los”, “a ras”, “cabalístico”,
“quiméri co”, “hialino”, “ebúrneo”,
“cinamomos”, “quintes sências” etc.
Esta musicalidade do Sim bo lis mo
apoia-se na valorização do su ges tivo
e na diminuição do sig nificado
lógico das pala vras: à medida que
não enten demos o sig ni fi cado de uma
frase, tendemos a pres tar mais
atenção a seu aspecto sonoro.
e) A alquimia do verbo – o
ilogismo – o hermetismo.
O verso simbolista é obscuro,
hermético, distanciando-se do vul gar
e do profano. Construído por su ces si -
vas implicações de sentidos de sons, de
ritmos, vale pelas su ges tões, e não
por suas descri ções ou explica ções.
e1) Rimbaud, antecipando ca mi -
nhos que os modernistas retoma ram,
propunha a palavra poética aces sível a
todas as significações; a fixação do
inexpri mível; a alquimia do verbo,
buscando a Beleza por meio da
vertigem, do de lírio, da aluci nação
senso rial, daí a alucinação e o
mistério da palavra.
“... ser vidente por meio de um
longo, imenso e racional desregra -
mento de todos os sentidos; buscar a
si, esgotar em si todos os venenos, a
fim de só reter a quintessência.”
e2) Cabe ressaltar que os simbo -
lis tas tinham verdadeira fixação pela
no tação cromática, especial mente pe -
 la cor branca e suas variáveis se -
mânticas: cisne, lírio, linho, neve,
né voa, nívea, alvo; ou por objetos
trans lúci dos (astros, sol, luz, lua). 
e3) Stéphane Mallarmé re pre -
 senta o ponto mais radical que atin gi -
ram as experiências simbolis tas.
Aban do nando a retórica e a discursi -
vidade romântica e parnasia na, sua
poesia espanta pela inten sidade e
pelas inovações. Apoiado nas cor res -
pon dên cias sinestésicas (sons / cores
/ imagens / sentimento), propõe uma
instrumentação verbal, uma poesia
nem descritiva nem narrativa, mas
sugestiva; “nomear um objeto é
suprimir três quartos do prazer do
poema, que é feito da felicidade de
adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo,
eis o sonho, (...) pois deve haver
sempre enigma em poesia, e é o
objetivo da literatura — e não há outro
— evocar os objetos”.
f) Espiritualismo, misti cis mo,
subjetivismo intenso, ocul tis mo.
Ânsia de superação, de fuga do
terreno, comunhão com os Astros, o
Espírito, o Alto, a Alma, o Infinito, a
Essência, o Desco nhecido. Fixação
pela Idade Mé dia e por vocabulário
litúrgico de am biên cia eclesiástica
(antífona, missal, ladainha, hinos, bre -
viá rio, turíbulos, aras, incenso).
g) As maiúsculas alegori zantes. 
Os simbolistas empregavam, sis -
te mati camente, substantivos comuns
escritos com inicial maiúscula, no
interior do verso, para realçá-los
semanticamente, aumentando a sua
expressividade:
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonia da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do sol que a Dor da luz resume
(Cruz e Sousa)
h) É frequente o uso de reticên -
cias, sugerindo a vaguidão, o inde fi -
nível, o inefável.
i) Pontos de contato com o
Parnasianismo:
– preocupação formal, culto da
rima, preferência pelo soneto
(não sistematicamente);
– distanciamento das ques tões
mundanas (os poetas das
“torres de marfim”, os “nefeli -
ba tas”).
j) Antecipações da moder ni -
dade:
– ruptura com o descritivo e
linear;
– monólogo interior, captação do
fluxo de consciência;
– desarticulação sintática e se -
mân tica;
– sondagem infinitesimal da
memória.
2. Simbolismo português
� O contexto histórico
A Proclamação da República
parece ter definido certas tendências
pré-simbolistas, numa atmosfera
neorromântica, que correspon deriam
a duas posições ideológicas: a
monárquica e a republicana. À
primeira, monárquica, correspon de ria
o neogarrettismo (ou na cio na lis mo,
integralismo), re pre sen tado por
Alberto de Oliveira e Afonso Lopes
Vieira. À segunda, republica na, estaria
ligado o sau dosismo de Teixeira de
Pas coaes, repre sen tando o misti cis -
mo panteísta que já impregnara a
Geração de 1970 (Guerra Junqueiro,
entre ou tros). Essa vertente sau do -
sista serviu de apro ximação entre o
neor roman tis mo, o simbolismo e o
moder nismo da revista Orpheu, o
orfismo.
A afirmação mais radical do este-
ticismo simbolista repelia, contudo, as
correntes saudosista, nacio na lista ou
regionalista, encami nhando-se para a
arte “pura”, sem qualquer
compromisso, a não ser com sua
própria elaboração. A influência
francesa foi fundamental para a
divulgação das novas expe riências
rítmicas e estilísticas, por meio de duas
revistas editadas em Coimbra, em
1889, Insubmissos e Boêmia Nova, e
da obra que serve de marco inaugural
da nova estética — Oaristos, de
Eugênio de Castro, de 1890.
� Antônio Nobre
(Porto, 1867-1900)
Autor de Primeiros Versos, Des -
pe didas e Só, representa a vertente
simbolista de raízes neorromânticas.
Esse retorno ao Romantismo
evidencia-se não só na recuperação da
tradição literária, na influência de
Garrett, como no tom acentuada -
mente subjetivista, marcado pela
saudade e pela tristeza. 
Suas poesias comunicam ao lei tor
intensa depressão e profu n do
pessimismo. O tempe ra mento de
artista tuberculoso, descrente de tudo
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e de todos, desalentado, dava às suas
poesias um estranho sabor de
amargura e infelicidade. O “so sis mo”
(expressão que deriva do título do livro
Só) criou uma legião de imi tadores
idólatras e tem ressonân cia, no Brasil,
na poesia de Manuel Ban deira e
Ribeiro Couto, entre ou tros.
Antônio Nobre afastou-se do pre -
ciosismo vocabular de seus contem -
po râ neos, utilizando o registro
colo quial da linguagem, inspirado na
dicção po pular, no decadentismo
francês (Jules Laforgue) e na lírica
romântica de Garrett.
A caracterização de ambientes
pro vin cianos, as recordações da in fân -
 cia, a atmosfera crepuscular, a nos tal -
 gia, o pessimismo, a evasão do
pre sente e a projeção na sua infância
dos mitos pátrios são ainda aspectos
dessa aproximação de Antônio Nobre
ao Romantismo:
Ó Virgens que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar.
Cantai-me, nessa voz onipotente,
O Sol que tomba aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!
Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu Lar desenterrai
Todas aquelas ilusões antigas
Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!
� Camilo Pessanha
(Coimbra, 1867 – Macau, 1926)
Filho natural de um estudante e
uma moça do povo, nasceu em Coim -
bra, onde cursou Direito. For ma do,
segue para a China, onde se orien -
talizou e se viciou em ópio. Viveu
como funcionário público no Oriente,
publicando esporadica mente nos jor -
nais de província alguns poemas.
Numa visita a Portugal, em 1915,
ditou a João de Castro Osório as com -
posições que viriam a ser cole ta das no
volume Clepsidra, aparecido em 1920.
Consumido pelo ópio, morre em
Macau.
Obra
Clepsidra – 1920
China – Coleção de artigos sobre a
cultura chinesa, reunidos em 1944.
Foi o poeta mais autenti ca -
mente simbolista de Portugal, e
um grande inovador da poética de seu
país, cuja influência se estende até os
modernistas, como Fernando Pessoa.
Afastou-se do discursivismo
neorromântico dos poetas do seu
tempo (Antônio Nobre, Augusto Gil,
Afonso Lopes Vieira) e inovou a es cri -
ta poética, incorporando proce di men -
tos próximos aos do deca dentismo de
Verlaine, em especial no que se
refere à aproximação entre a poesia
e a música.
• Uma poética da desagregação
A percepção de mundo em
Camilo Pessanha é fragmentária, apa -
rente men te desarticulada, ex pres sa
por meio de sensações que o poeta
con si dera sem sentido. A desagre -
gação formal parece corres ponder à
desa gre ga ção do próprio poeta opiô -
mano, hiper sen sível e inadaptado.
Lírico da desesperança, da dor e
da ilusão, seu pessimismo tem laivos
do decadentismo francês e do
budismo que conheceu em Macau. É
constante a sensação de estranheza
diante do mundo, da alu ci nação,
expressas numa lingua gem poderosa,
sugestiva, tecida com me tá foras
insólitas, símbolos, si nes tesias e
intensa mu si ca li da de (alterações,
assonâncias etc.).
Aproximou-se do rigor formal de
Mallarmé, sem a determinação
intelectual do poeta francês. A
intelectualização dos poemas de
Camilo Pessanha é marcada pelo
pessimismo em relação ao mundo,
que lhe parecia em degene res cên cia.
A adesão do poeta à estética de -
cadentista-simbolista não era sim ples
modismo — era existencial:
CAMINHO
I
Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d’harmonia,
Toda a luz desgrenhada1 que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
II
Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei
— Bom dia, companheiro — te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.
É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que pousaste, onde pousei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.
É no monte escabroso2, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário
E queima como a areia!... Foi no entanto
Que choramos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.
Vocabulário e Notas
1 – Desgrenhado: desordenado.
2 – Escabroso: escarpado.
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Texto para o teste 1.
1. Os poetas simbolistas valorizaram as possibilidades
expressivas da língua e sua musicalidade.
Aprofundaram a expressão individual até o nível do
subconsciente. Desse esforço resultou, quase sempre, uma visão
desencantada e pessimista do mundo. Nas estrofes destacadas do
poema “Violoncelo”, as características do Simbolismo revelam-se na
a) expressão do sofrimento diante da brevidade da vida.
b) combinação das rimas que funde estados de alma opostos.
c) pureza da alma feminina, representada pelo ritmo musical do poema.
d) relação entre sonoridade e sentimento explorada nos versos
musicais.
e) temática do texto, retomada da vertente sentimentalista do
Romantismo.
RESOLUÇÃO:
A reiterada aliteração do fonema consonantal /v/ ao longo dos
versos e a referência ao “choro” do violoncelo correspondem ao
estado de ânimo do eu lírico, também convulsionado, num estado
despedaçado.
Resposta: D
Texto para os testes 2 e 3. 
1 – Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.
2 – Clepsidra: relógio de água.
3 – Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.
2. A imagem contida em “lentas gotas de som” (verso 2)
é retomada na segunda estrofe por meio da
expressão 
a) “tanta ameaça”.
b) “som de bronze”. 
c) “punhado de areia”. 
d) “sombra que passa”. 
e) “somente a Beleza”.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2003] “Gotas de som” é uma metáfora sinestésica (porque
envolve percepções sensoriais de órgãos diversos — visão e
audição) que indica as badaladas de um relógio a marcar a
passagem do tempo. A mesma referência ao relógio ocorre em
“som de bronze”.
Resposta: B 
3. Nesse poema, o que leva o poeta a questionar
determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a
a) infantilidade do ser humano.
b) destruição da natureza.
c) exaltação da violência.
d) inutilidade do trabalho.
e) brevidade da vida.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2003] O tema do poema transcrito é a passagem do tempo
(“assim se escoa a hora”) e a frágil finitude da vida (“assim se vive
e morre...”), sendo a duração da vida comparada a um “punhado
infantil de areia ressequida”. 
Resposta: E
EPÍGRAFE1
Murmúrio de água na clepsidra2 gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante3
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...
Homem, que fazes tu? Para que tanta lida, 
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida 
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...
(Eugênio de Castro,
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa)
VIOLONCELO
Chorai, arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
(PESSANHA, Camilo. “Violoncelo”. In: GOMES, Á. C.
O Simbolismo. São Paulo: Editora Ática, 1994. p. 45.)
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MÓDULO 32 Simbolismo (II): Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens
1. Simbolismo no Brasil
� Limites cronológicos
• Início: 1893
Publicação de Missal (poemas em
prosa) e Broquéis (poesia), de Cruz e
Sousa.
• Término: 1902
Em sentido amplo, os limites do
Sim bolismo se estendem até a Se -
mana de Arte Moderna, em 1922, e,
em sentido estrito, até 1902, quando
se reconhece a publicação de Os
Sertões, de Euclides da Cunha, e de
Canaã, de Graça Aranha, como mar -
cos iniciais de um novo período lite -
rário, o Pré-Modernismo, cujo ad vento
não significou a interrupção do
Simbolismo.
No Brasil, os movimentos artísti -
cos finisseculares (fins do século XIX e
início do século XX) são muito mais si -
multâneos que sucessivos, o que
torna problemáticos os já em si pre -
cários critérios de periodização. For -
çoso é admitir que os limites
cronoló gicos do Realismo, Natu -
ralismo, Par nasianismo, Im pres sionis -
mo, Simbo lismo e Pré-Moder nismo
são quase sem pre discutí veis, dada a
simulta neida de em que esses
movimentos se de sen volvem.
O primeiro núcleo simbolista no
Brasil formou-se no jornal carioca Fo -
lha Popular, por volta de 1890-1891,
reunindo Bernardino Lopes, Emi -
liano Perneta e Oscar Ro sas,
liderados por Cruz e Sousa, que, a
propósito do ambiente intelec tual
daquela época, diria:
Era uma politicazinha engenho sa de
medíocres, de tacanhos, de per feitos
imbecilizados ou cínicos, que faziam da
Arte um jogo cap cio so, maneiroso, para
arranjar relações e prestígio no meio, de
jeito a não ofender, a não fazer corar o
diletan tis mo das suas ideias (...).
No Brasil, o Simbolismo foi “su -
focado” pelo prestígio que, entre nós,
gozou o Parnasianismo, cujos poe tas,
de mais fácil leitura e dóceis ao
regime, gozavam de inequívoca pre -
ferência da elite “culta” dos salões li -
te rários e do poder público. O
Par na sianismo era a poesia “oficial”,
que condicionou, pelo seu prestígio,
a fun dação da Academia Brasileira de
Letras, e que não deixou margem a
que se reco nhecesse o valor e alcan -
ce do movimento simbolista.
“O Simbolismo Brasileiro, apesar
de ter produzido um Cruz e Sousa e
um Alphonsus de Guimaraens, foi su -
focado (...) e, só hoje recebe a devida
con sideração, negligenciado como era
sob o regime artificialmente pro lon -
gado do Parnasianismo.
(...) O Modernismo, Simbo lismo
inconsciente a meu ver, possibilitou a
transformação do Simbolismo priva do
em poesia pública.”
(Otto Maria Carpeaux)
Apelidados de nefelibatas (ou se -
ja, “habitantes das nuvens”), os sim -
bolistas eram, pejorati va mente,
iden tificados pelos parnasianos como
so nhadores, que se valiam de uma lin -
guagem de conotação impon derá vel,
puramente suges tiva, estra tosférica.
Além de Cruz e Sousa e
Alphonsus de Guimaraens, pode ser
estudado também Au gusto dos
Anjos, que não foi propria mente sim -
 bolista, mas as simi lou grande in fluência
dessa es tética. Augusto dos Anjos será
estu dado no Pré-Mo der nismo.
2. Cruz e Sousa
(Desterro-SC, 1861 –
Sítio-MG, 1898)
� Vida
Filho de escravos al forriados, Cruz
e Sousa foi edu cado na cidadenatal,
Desterro, atual Flo ria nópolis, Santa
Catarina, como crian ça branca, graças
ao tutor, um ma rechal que o protegeu
até a ado lescência.
Ponto de companhia teatral, pu bli -
ca seus primeiros versos na im pren sa
catarinense, e, em 1885, com Vir gílio
Várzea, Tropos e Fantasias, al ternando
páginas sentimentais e poe sias contra
a escravidão, à ma neira do condo -
reirismo de Castro Al ves.
Impedido de assumir o cargo de
promotor da cidade de Laguna, por
causa do preconceito, muda-se para o
Rio de Janeiro, onde forma o pri meiro
grupo simbolista brasileiro, com Ber -
nardino Lopes e Oscar Ro sas, cola bo -
rando também com a Fo lha Popular.
Casa-se com uma jovem negra,
Gavita, com quem teve três filhos. Vi -
vendo aperturas econômicas, mina do
pela tuberculose, abalado com a lou -
cura da esposa, morre em Sítio, esta -
ção climática, em Minas Gerais, aos
36 anos de idade.
Cruz e Sousa.
� Obras
Missal (poemas em prosa)
Broquéis (poesias)
Evocações (poemas em prosa)
Faróis (poesias)
Últimos Sonetos (poesias recolhi -
das por Nestor Vítor, amigo e admira -
dor do poeta; obra publicada em 1905)
� Características
• Não convém ler a poesia de Cruz
e Sousa do ponto de vista da biografia
sentimental. Ocorre que, ain da que sua
visão trágica da exis tência tenha
íntima relação com a sua vida, não há
alusões diretas à auto biografia e à
confissão: a trans figu ração das
experiências ma nifes ta-se em seus
textos nas alu sões a realidades sociais
degra dan tes e de gradadas, como a
doença, a lou cura, a miséria e o
preconceito de cor.
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• Resíduos Parnasianos
Na predileção pelo soneto, pelas
ri mas ricas, pela chave de ouro, pelo
vocabulário raro, especialmente em
Broquéis (broquel era um tipo de es -
cudo espartano, bem ao gosto par na -
 siano de reviver objetos raros e
an tigos).
• Formação Filosófica e Cien -
tífica, Realista e Naturalista
No emprego de termos cientí fi cos
e na visão pessimista, combi nada com
as imprecisões e musicali dades
vagamente espiri tualistas do Simbo -
lismo e com um individualismo
neorromântico, na transfigu ração de
seus impulsos pes soais.
• Influência de Baudelaire
A quem deve o domínio do poe ma
em prosa, certo satanismo, o sen so
dos contrastes e das cor respon -
dências (sinestesias), além do gosto
pela forma lapidar.
• O culto da noite, o pendor pela
poesia filosófica e a tensão medita ti va
o aproximam de Antero de Quen tal.
• O crítico Antônio Cândido
ressaltou, como traço fundamental, a
po tência verbal de Cruz e Sousa, apro xi -
mando-o de Raul Pompeia e Coelho
Neto, e que terá como desdo bra men to
radical a poesia de Au gus to dos Anjos.
Para essa potência verbal contri -
buem o verbalismo requin tado e ora -
tório, o senso exaltado de me lodia da
palavra e o poder de criar imagens de
grande beleza que reves tem a con -
cepção trágica da vida e a busca da
trans cen dên cia.
• Imbuído de alto fervor quanto à
missão do poeta, é, a um só tempo,
poeta expressivo e construtivo,
harmonizando seus impulsos pes soais
e a consciência estética dos pro -
cedimentos estilísticos adequa dos à
expressão. É esse equilíbrio que faz de
Cruz e Sousa, segundo Roger Bas tide,
um dos três maiores nomes do
Simbolismo mundial.
• A cosmovisão de Cruz e Sou sa
lembra o Barroco: o mundo ter reno é
um grande cárcere de dor e infortú nio;
o homem, um ser opri mi do, vil e
desprezível. A única solução se ria a
fuga, a separação, a trans cen den ta li -
zação, a ascensão para outro mundo,
espiritual, puro, etéreo, bran co. Da
tensão “eu” versus “mun do” de corre
o empare damento, a sen sação agu da
de que a existên cia é uma prisão. O
próprio poeta autode finia-se como o
“grande triste”:
LONGE DE TUDO
É livres, livres desta vã matéria,
Longe, nos claros astros peregrinos,
Que havemos de encontrar os dons divinos
E a grande paz, a grande paz sidérea1.
(Cruz e Sousa)
Vocabulário
1 – Sidéreo: celeste.
• É co mum iden tifi carem-se em
sua trajetória espiritual es tes marcos
bem defi ni dos:
1 – a re volta contra a condição hu -
ma na, espe cialmente os negros, os
hu mi lhados, os miseráveis (a dor de
ser ho mem);
2 – a bus ca da trans cendência,
aceitação da dor (a dor e a glória de ser
espírito).
• A Obsessão do Branco
Roger Bastide, crítico e ad mira dor
incondicional de Cruz e Sousa, locali zou
em sua obra a aparição, por 169 vezes,
de imagens apoiadas na cor branca e em
palavras as socia das à área semântica do
bran co, do bri lho, da transcendência
(“lírio”, “li nho”, “neve”, “névoa”,
“nuvem”, “lumi no so”, “bri lhante”,
“marfim”, “espu ma”, “opa co”,
“pérola”, entre outros exem plos).
Procurou-se uma explicação psi co -
lógica para essa recorrência à cor
branca: seria uma forma compen sa tó -
ria à negritude, que o poeta teria se
recusado a assumir; um instru mento
de “clarificação”, de ascensão so cial.
Essa interpretação tem sido refu -
tada. Ocorre que a cor branca, além de
simbolizar, na liturgia religiosa, a
pureza, a espiritualidade, é, de velha
data, símbolo da ânsia de totalidade,
de transcendentalização, de supera ção
da dor pela elevação espiritual,
atitudes que o poeta assumiu com
fervor. Como místico excepcional, faz
da Dor motivo para a superação es -
piritual, para a grandeza moral, para a
purificação e o êxtase.
ANTÍFONA
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
(Cruz e Sousa)
FLORES DA LUA
Brancuras imortais da Lua Nova,
Frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
Dos fantasmas noctívagos1 da Cova.
(Cruz e Sousa)
Vocabulário
1 – Noctívago: que vagueia de noite.
SIDERAÇÕES
Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
(Cruz e Sousa)
• O Emparedamento – 
A Dor e a Revolta
Em Faróis e Evocações, o este ti cis -
mo dos primeiros livros trans for ma-se
num lirismo trágico, tétrico, mór bido.
Basta um inventário nos títulos
para termos uma ideia do mundo que
povoa estes poemas: “Tristeza do
Infinito”, “Sem Esperança”, “Cavei ra”,
“A Flor do Diabo”, “Música da Morte”,
“A Ironia dos Vermes”, “Con denado à
Morte”, “Dor Negra”, “Anjos Rebe la -
dos”, “No Inferno”, “Talvez à
Morte?”, “Abrindo Féretros”, “O
Emparedado”, “Tédio”.
Segundo um crítico: 
(...) do ponto de vista da aceitação
social, a bio gra fia do preto Cruz e Sousa,
poeta “mal dito”, é o inverso da do mulato
Ma cha do de Assis, que te ve a sua car reira
de es cri tor glorifi cada pelo po der cultural
(...).
Considerando-se o “emparedado de
uma raça”, Cruz e Sousa registrou em
Evocações “a batalha formidável de um
temperamento fatalizado pelo sangue”.
Daí a aproximação com Baude laire,
com a poesia enraizada no san gue e na
carne, a mesma que Au gusto dos Anjos irá
retomar pouco depois.
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TÉDIO
Vala comum de corpos que apodrecem,
Esverdeada gangrena
Cobrindo vastidões que fosforescem
Sobre a esfera terrena.
(...)
Mudas epilepsias, mudas, mudas,
Mudas epilepsias,
Masturbações mentais, fundas, agudas,
Negras nevrostenias1.
Flores sangrentas do soturno vício
Que as almas queima e morde...
Música estranha de letal suplício,
Vago, mórbido acorde...
(...)
(Cruz e Sousa)
Vocabulário
1 – Nevrostenia: irritação dos nervos.
• “Vê como a dor te trans cen -
dentaliza” – A maturidade dos
Últimos Sone tos
Se nos primeiros livros o sensua lis -
 mo forte, o desejo carnal, é direta men -
te estetizado (sem sublimação), com
os Últimos Sonetos é que o poe ta ob -
tém em maior grau a espiri tua lização
sublimatória da experiên cia dos sen ti -
dos. O eu lírico forceja por libertar-se da
carne. A caridade e a pie dade
insinuam-se como o ca mi nho de sal -
vação e conforto. Liber to dos apeti tes
sensuais e sociais, o poeta se des poja,
se humilha rendido, pondo-se nu
diante do Mistério, cujo recesso
almeja conhecer inte gral mente.
Nessa etapa, a palavra e a subs -
tância poética, o tecido expres sivo,
fundem-se numa só entidade, rea li -
zando o ideal simbolista de explorar
até o seu limite último o conteúdo se -
mântico e musical das palavras.
SORRISO INTERIOR
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranquila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Nessa mesma linha, você deve ler
outros sonetos de Cruz e Sousa, tais
como “Cárcere das Almas”, “Assim
Seja!” e “Alma das Almas”.
3. Alphonsus de Guimaraens
(Ouro Preto-MG, 1870 –
Mariana-MG, 1921)
� O Solitário de Mariana –
O Trovador Enfermiço –
O Poeta Lunar
Afonso Henriques da Costa Gui -
ma rães era o nome real do poeta.
Perdeu, aos 18 anos, uma prima
— Constança — de quem se ena mo -
ra ra, e cuja presença é constante em
sua lírica.
Alphonsus de Guimaraens.
Cursou Direito em São Paulo e,
formado, exerceu a magistratura em
Mariana, Minas Gerais, isolado da agi -
tação dos grandes centros, com
catorze filhos, que sustentou a du ras
penas. Burocrata, boêmio, levan do
uma vida pacata, “entre a rotina e a
quimera”, realizou uma poesia sem
desníveis — das mais puras que a
nossa lírica conheceu.
� Obras
• Poesia
Kiriale (publicado somente em
1902)
Setenário das Dores de Nossa
Senhora (1899)
Câmara Ardente (1899)
Dona Mística (1899)
Pauvre Lire (1921)
Pastoral aos Crentes do Amor e
da Morte (1923)*
Escada de Jacó (1938)*
Pulvis (1938)*
• Prosa
Os Mendigos (1920)
• Tradução
Nova Primavera (de Heine) (1938)*
* Publicações póstumas.
� O Amor e a Morte
Alphonsus de Guimaraens foi um
poeta monotemático. Quase tudo
que escreveu gravita em torno do
amor e da morte, da morte da
amada (a prima Constança) ou da
Virgem Maria, com quem esse ca -
tólico mariano e devoto termina por
identificar a amada perdida.
O tom lírico predominante é o
ele gíaco, perpassado pela tris teza
das cidades antigas de Minas, das
quais o verso plangente de Alphon -
sus nunca destoou, com suas
igrejas, catedrais, procissões,
réquiens, fins de tarde, flores roxas.
Quando o fantasma da amada
morta assola o poeta, a morte se lhe
repropõe como a presença do corpo
morto, como o luto circunstante — os
círios, o cantochão, o esquife, o
féretro, os panos roxos, o réquiem, o
sepultamento no campo santo, as
orações fúnebres. Kiriale é um dobre
de finados, até pelos títulos dos poe -
mas: “Luar sobre a Cruz da Tua Co va”,
“À Meia-Noite”, “Ocaso – Im pres sões
de Véspera de Finados”, “Spectrum”,
“Ossea Mea”.
O platonismo místico conduz ao
de salento do amor que não se cum -
priu e que jamais se cumprirá, salvo
além-túmulo ou na esfera transcen -
dente. Daí o elogio da morte que se
materializa numa simbologia fune rária.
A obsessão da morte não tem em
Alphonsus o caráter negativo de
horror, de fobia. Ela é desejada, an -
siada, porque encarna a possibi li da de
de aproximação da amada e/ou do
Absoluto, representado por Deus,
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oferecendo-lhe o tão procu ra do apa zi -
 guamento e a superação da vida, vista
como miséria, pó, infâmia, lama e
podridão. Observe os frag mentos:
Foi-lhe a vida um eterno mês de maio,
Cheio de rezas brancas a Maria,
Que ela vivera como num desmaio.
Tão branca assim! Fizera-se de cera...
Sorriu-lhe Deus, e ela, que lhe sorria,
Virgem voltou como do céu descera.
(“Pulchra ut Luna” — 
expressão latina que pode ser 
traduzida por “bela como a lua”.)
(...)
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul, ao vê-la,
Pensando em mim: — “Por que não vieram 
[juntos?”
(“Hão de Chorar por Ela os Cinamomos”)
� A poesia mística – 
A lírica mariana
Foi o maior poeta místico da
Litera tura Brasileira, não apenas pela
par te diretamente referente à liturgia
católica e à exaltação da Virgem, mas
também pela atmosfera de so nho e
mistério, pela tonalidade me dieval,
pelo tom de ternura e melan colia.
Sobre Alphonsus de Guimaraens,
afirmou-se:
O fato de ter transformado a reli gião
numa experiência profunda lhe possibilitou
não só adotar a moda simbolista da poesia
litúrgica, mas vivê-la interiormente,
tornando-se o único a exprimir uma
religiosidade que não parece receita da
escola.
(Antônio Cândido)
No poeta mineiro, passadista e
decadente, há um homem preso às franjas
de uma religiosidade espan tada, cujo fim
último é evocar o fan tasma da morte para
reprimir os as sal tos obsedantes dos três
“inimigos da alma”: diabo, carne e mundo.
(Alfredo Bosi)
Como lírico religioso, es -
sencialmente mariano, coloca-se co -
mo um emotivo da religio si da de,
simples e devoto. Esse veio ele gíaco
irá ramificar, no Modernis mo, em
certas páginas de Manuel Ban deira,
Ribeiro Couto, Henriqueta Lisboa e,
especialmente, em Cecília Meireles:
Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas 
Para aliviar de Cristo os sofrimentos,
Cujas veias azuis parecem feitas
Da mesma essência astral dos óleos bentos:
Mãos de sonho e de crença, mãos afeitas
A guiar do moribundo os passos lentos,
E em séculos de fé, rosas desfeitas
Em hinos sobre as torres dos conventos
(Setenário das Dores de Nossa Senhora) 
� Trabalhou com a mesma quali dade
as redondilhas medievais e as
formas e gêneros arcaicos da
medida velha, bem como os de -
cassílabos, em sonetos de gran de
expressividade.
ISMÁLIA
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario1 seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu, 
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram2 de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(Pastoral dos Crentes 
do Amor e da Morte)
Vocabulário
1 – Desvario: loucura. 
2 – Ruflar: agitar-se.
A CATEDRAL
Entre brumas1, ao longe, surge a aurora.
O hialino2 orvalho aos poucos se evapora,
agoniza o arrebol3.
A catedral ebúrnea4 do meu sonho
aparece, na paz do céu risonho,
toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres5 responsos6:
“Pobre Alphonsus, pobre Alphonsus!”
O astro glorioso7 segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila8 em cada 
refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
onde os meus olhos tão cansados ponho,
recebe as bênçãos de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus, pobre Alphonsus!”
Por entre lírios e lilases desce
a tarde esquiva: amargurada prece
põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
aparece na paz do céu tristonho
toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
vem açoitar9 o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho 
afunda-se no caos do céu medonho
como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus, pobre Alphonsus!”
(Pastoral dos Crentes 
do Amor e da Morte)
Vocabulário
1 – Bruma: nevoeiro. 
2 – Hialino: transparente como o vidro. 
3 – Arrebol: vermelhidão ao nascer do Sol. 
4 – Ebúrneo: de marfim. 
5 – Lúgubre: triste, fúnebre. 
6 – Responso: conjunto de versículos pronun -
ciados ou cantados alternada mente. 
7 – Astro glorioso: o Sol. 
8 – Cintilar: brilhar. 
9 – Açoitar: chicotear.
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Texto para o teste 1.
1. (UNIFESP) – Considerando essa breve caracterização, assinale a
alternativa em que se verifica o trecho de um poema simbolista.
a) É um velho paredão, todo gretado,Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E num pouco de musgo em cada fenda.
b) Erguido em negro mármor luzidio,
Portas fechadas, num mistério enorme,
Numa terra de reis, mudo e sombrio,
Sono de lendas um palácio dorme.
c) Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
d) Sobre um trono de mármore sombrio,
Num templo escuro e ermo e abandonado,
Triste como o silêncio e inda mais frio,
Um ídolo de gesso está sentado.
e) Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
RESOLUÇÃO:
Nos versos que iniciam o poema “Antífona”, de Cruz e Sousa, há
linguagem sugestiva, vaga, o elemento místico (“Incensos dos
turíbulos das aras...”) e maiúscula alegorizante, buscando-se,
assim, atingir o metafísico e o transcendente. É uma linguagem
que se opõe à precisão do período realista.
Resposta: E
Texto para o teste 2.
2. Os elementos formais e temáticos relacionados ao
contexto cultural do Simbolismo encontrados no
poema “Cárcere das Almas”, de Cruz e Sousa, são
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas
filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática
nacionalista. 
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico
de temas universais. 
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social, expressa
em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética, que dispensa a rima e a
métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2009] O refinamento estético e o tratamento metafísico de
temas universais, no caso a transcendência e a perenidade da alma,
são características evidentes do poema simbolista “Cárcere das
Almas”.
Resposta: C
O Simbolismo é, antes de tudo, antipositivista, antinaturalista
e anticientificista. Com esse movimento, nota-se o despontar de
uma poesia nova, que ressuscitava o culto do vago em
substituição ao culto da forma e do descritivo.
(Massaud Moisés, 
A Literatura Portuguesa, 1994. Adaptado.)
CÁRCERE DAS ALMAS
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
(CRUZ E SOUSA, J. Poesia Completa.
Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura /
Fundação Banco do Brasil, 1993.)
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Texto para o teste 3.
3. Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo
brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo
uma sensibilidade em conflito com a realidade
vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2014] O “sofrimento tácito” (calado) é expresso em “silêncio
escuro”, e a “discriminação” tematizada no poema tem sua causa
sugerida no grande número de palavras que, desde o título,
remetem à condição do homem negro, filho de escravo.
Resposta: A
VIDA OBSCURA
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto de prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo,
Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
(CRUZ E SOUSA, J. Obra Completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.)
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MÓDULO 33 Pré-Modernismo (I): Euclides da Cunha e Lima Barreto
1. Conceito e âmbito
O Pré-Modernismo não con fi gura
um estilo literário ou uma escola, com
um programa definido, com propostas
estéticas específicas. Não é como o
Romantismo, Realis mo, Sim bo lismo
etc. Trata-se de um período cro -
nológico marcado pelo sincre tis mo
(= fusão, mistura) de diversas ten dên -
cias, identificado primeiramente por
Tristão de Ataíde (Alceu de Amo roso
Lima), que cu nhou a expressão Pré-
Moder nis mo pa ra designar um
conjunto de auto res que, entre 1902
(Os Sertões, de Euclides da Cunha, e
Canaã, de Gra ça Aranha) e 1922
(Semana de Arte Moderna), repre -
sentam a alian ça ou transição entre
as correntes do fim do século XIX e as
antecipações da modernidade. 
Assim, as chamadas correntes
pré-modernistas marcam-se por uma
antinomia: o moderno versus o an -
timoderno, a renovação ver sus o
conservadorismo, aliando (= sin -
cretizando) tendências diver sas.
• O aspecto conservador, an -
 timoderno, pode ser localizado na
sobrevivência da mentalidade posi ti -
vis ta e determinista dos rea listas
(naturalistas) e parnasianos, e no
estilo, no código, na lingua gem, que,
com poucas ousadias, perma neceram
fiéis aos modelos realistas (Machado,
Aluísio, Eça, Zola, Flau bert, Balzac).
Vale observar que o Modernismo de
1922 repre sentou, so bretudo, uma
ruptura em termos de linguagem, do
código, e, nesse sen tido, os pré-
modernistas fo ram, em diferentes
medidas, antimo dernos.
• O aspecto antecipador da
modernidade localiza-se mais no
nível do conteúdo, na proble ma tização
da realidade brasileira, na crítica às
instituições arcaicas, no regionalismo
crítico e vigo roso e no espírito
inconfor mis ta e rebelde que, de
diversas ma nei ras, pode ser rastreado
em Eucli des da Cunha, Lima Barreto,
Montei ro Lobato e Graça Aranha.
O período pré-modernista convi -
veu com diversas correntes do sécu lo
XIX, que já se iam esgotando quan do
da “explosão” modernista de 1922.
Daí o caráter de estagnação, de
imobilismo que impregnou a litera tura
oficial das academias e salões literá -
rios, que assistiram (= ampararam) os
últimos suspiros do Parnasia nismo
(Alberto de Oliveira, Raimun do Correia,
Bilac, Vicente de Carva lho ainda
escreviam); do Neopar na sia nismo
(Amadeu Amaral e Martins Fontes); da
prosa tradi cio nalista de feitio
clássico (Rui Barbosa e Joaquim
Nabuco); do regionalismo realista-
natura lis ta (Simões Lopes Neto,
Valdomiro Silveira, Afonso Arinos) e até
neo clás sicos e neorromânticos en -
contraram espaço para suas tardias
manifes ta ções.
Em síntese, quanto à lingua gem e
ao estilo, os pré-moder nistas expres -
sam-se como realis tas, na tu ralis tas,
impres sionis tas e simbolistas,
assimilando em graus diferentes as
características des ses estilos. Quanto
aos temas, ao conteúdo, é que se
aproximam dos mo dernos, pelo
compromisso com a realidade
brasileira: o sertão da Bahia (Eu clides
da Cunha); o su búr bio ca rioca (Lima
Barreto); o Va le do Pa raíba paulista
(Mon tei ro Loba to); a adaptação do
imi grante ao trópico (Graça Ara nha).
2. Contexto histórico
As primeiras décadas do século
XX têm como marca a contradição
entre a pos tura tradicionalista da oli -
gar quia rural e a inquietação dos se -
tores ur ba nos, esta última matizada de
diver sas ten dências assimiladas da
Améri ca do Norte e da Europa, pelo
imi grante, pela classe média, pelo
ope rariado e pelo subproletariado,
novos atores que, ainda timidamente,
se projetam na cena política.
Entre os fatos históricosque mar -
cam o período, destacamos: a Revo lu -
ção de Canudos, o fenômeno do
can gaço e do fanatismo religioso, no
Nor deste; a Revolta da Chibata, a
revolta contra a vacina obrigatória, no
Rio de Janeiro; a Guerra do Contes -
tado, em Santa Catarina; as greves
operárias dos imigrantes do Brás e da
Mooca, em São Paulo (1917).
3. Euclides da Cunha
(Cantagalo-RJ, 1866 –
Rio de Janeiro, 1909)
"Misto de celta, de tapuia e
grego", como se autodefinia, Eu cli -
des da Cunha foi militar (expulso do
Exército), engenheiro, jornalista, pro -
fes sor, acadêmico e grande es critor.
Acompanhou, como correspon -
den te do jornal A Província de São
Paulo (hoje O Estado), as operações
do Exército contra os rebeldes de
Canudos, permanecendo no Sertão da
Bahia de agosto a outubro de 1897.
Em 1898 e 1901, escreveu, pri -
mei ro em Descalvado, depois em São
José do Rio Pardo, Os Sertões, cuja
publicação, em 1902, alcançou reper -
cus são nacional.
Além de Os Sertões, deixou ou -
tros livros sobre problemas brasilei ros:
Contrastes e Confrontos, À Mar gem
da História, Peru versus Bolívia, Re -
latório sobre o Alto Purus.
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� Características
• O cientista e o artista
Pri meiro grande pensador social
bra sileiro, Euclides da Cunha harmo -
niza o rigor científico, a erudi ção, a
formação positivista e deter mi nista,
a exatidão do ma te má tico e
engenheiro, com a pai xão pela
palavra e a potên cia verbal,
provando que a arte e a ciência não se
opõem.
• Crítica
Sua obra Os Ser tões analisa e
procura compreender o fenô me no do
fanatismo reli gioso no sertão, es pe cial -
mente o caso Ca nu dos. Apresen ta
visão determinista: A Terra, O Ho mem,
A Luta (meio, raça, mo mento).
Primeira denúncia vigorosa que se
faz na cultura brasileira con tra a
miséria e o aban do no em que vive o
sertanejo.
Abaixo, transcreve-se um trecho
da obra:
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não
tem o raqui tismo exaustivo dos mestiços neuras -
tênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao pri mei ro
lance de vista, revela o con trário. Falta-lhe a
plástica impe cável, o desem peno1, a estrutura
corretís sima das orga ni zações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto.
Hércules-Quasímodo2, reflete no aspecto a
fealdade3 típica dos fracos. O andar sem fir -
meza, sem aprumo4, quase gingante e sinuoso,
apa renta a trans lação de mem bros desarticu la -
dos. Agrava-o a postura normal men te aba tida,
num manifestar de displicência5 que lhe dá um
caráter de hu mil dade deprimente. A pé, quando
parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro
umbral ou parede que en con tra; a cavalo, se
sofreia6 o ani mal para trocar duas palavras com
um conhe cido, cai logo sobre um dos estribos,
descansando sobre a es penda7 da sela.
Caminhando, mes mo a passo rápido, não traça
traje tória retilínea e firme. Avança celere mente8,
num bam bolear caracterís tico, de que parecem
ser o traço geomé trico os mean dros das trilhas
sertanejas. E se na marcha estaca pe lo motivo
mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o
isqueiro, ou travar ligeira conversa com um
amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras,
atraves sando largo tempo numa posição de
equi líbrio instável, em que todo o seu cor po fica
sus penso pelos dedos gran des dos pés, sen -
 tado sobre os calca nhares, com uma sim -
plicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem per ma nentemente fa ti gado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia9
muscular perene10, em tudo: na palavra re mo -
rada11, no gesto con tra feito, no andar desa pru -
mado, na ca dência langorosa12 das modinhas, na
tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de can saço
ilude.
(Os Sertões)
Vocabulário
1 – Desempeno: elegância. 2 – Hércules: figura
mitológica, sím bo lo de força física. Quasímodo:
o corcunda de Notre-Dame, sím bolo de feiura.
3 – Fealdade: feiura. 4 – Aprumo: elegância,
altivez. 5 – Displicência: tédio, apatia. 6 – So -
frear: refrear. 7 – Espenda: parte da sela sobre a
qual assenta a coxa. 8 – Celeremente: rapi -
damente. 9 – Atonia: fraqueza. 10 – Perene:
eterno. 11 – Remorado: demorado. 12 – Lan -
goroso: lânguido, lento, arrastado.
4. Lima Barreto
(Rio de Janeiro, 1881-1922)
� Obras
Recordações do Escrivão Isaías
Caminha (romance) – 1909
Triste Fim de Policarpo Quares ma
(romance) – 1911 (em folhetins) e
1915 (em livro)
Numa e Ninfa (romance da vida
contemporânea) – 1915
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de
Sá (romance) – 1919
Histórias e Sonhos (contos) – 1956
Cemitério dos Vivos (incompleto) –
1956
Clara dos Anjos (romance) – 1948
� Apreciação crítica
Recordações do Escrivão Isaías
Ca minha, romance em primeira pes -
soa, autobiográfico, retrata a vida de
um grande jornal da época. Sátira a
figurões da imprensa e das letras.
Extrava sa mento de suas de cep ções e
revoltas.
Romance em terceira pessoa, Triste
Fim de Policarpo Quaresma mos tra com
clareza o ridículo e paté tico de um
nacionalismo fanatizante e ana crônico.
O maior sonho de Poli car po é “o tupi
como língua oficial no Bra sil”.
Clara dos Anjos, romance auto bio -
gráfico, é a triste ruína de um ho mem
que se entrega à embriaguez.
A seguir, um trecho de Triste Fim
de Policarpo Quaresma:
A casa estava em silêncio; do la do de fora,
não havia a mínima bu lha1. Os sapos tinham
suspendido um ins tante a sua orquestra
noturna. Qua resma lia; e lembrava-se que
Darwin escutava com prazer esse concerto dos
charcos. Tudo na nossa terra é extraordinário!
pensou. Da des pen sa, que ficava junto a seu
apo sento, vinha um ruído estranho. Apurou o
ouvido e prestou atenção. Os sapos recome -
çaram o seu hino. Havia vo zes baixas, outras
mais altas e estri dentes; uma se seguia à outra,
num dado instante todas se juntaram num
uníssono sustentado. Suspen deram um ins tan -
te a música. O major apu rou o ouvido; o ruído
continuava. Que era? Eram uns estalos tênues;
pa recia que quebravam gravetos, que deixavam
outros cair ao chão... Os sapos recomeçaram; o
regente deu uma martelada e logo vieram os
bai xos e os tenores. Demoraram mui to; Qua res -
ma pôde ler umas cinco pági nas. Os batráquios2
para ram; a bulha continuava. O ma jor levantou-
se, agar rou o castiçal e foi à depen dên cia da
casa donde partia o ruído, assim mesmo como
estava, em ca misa de dormir.
Abriu a porta; nada viu. Ia pro curar nos
cantos, quando sentiu uma ferroada no peito do
pé. Quase gri tou. Abaixou a vela para ver melhor
e deu com uma enorme saúva agarra da com
toda a fúria à sua pele ma gra. Descobriu a
origem da bulha. Eram formigas que, por um
buraco no assoalho, lhe tinham invadido a des -
pensa e carregavam as suas re ser vas de milho e
feijão, cujos reci pientes tinham sido deixados
abertos por inadver tência3. O chão estava ne gro,
e, carregadas com os grãos, elas, em pelo tões
cerrados, mergu lha vam no solo em busca da sua
ci da de subter rânea.
(Triste Fim de Policarpo Quaresma)
Vocabulário
1 – Bulha: barulho. 
2 – Batráquio: sapo. 
3 – Inadvertência: descuido.
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Texto para o teste 1.
1. (MACKENZIE – modificado) – A partir do fragmento de Os Sertões,
pode-se dizer que todas as afirmações estão corretas, exceto:
a) O autor compõe seu texto com traços tanto de uma prosa científica,
quanto de uma prosa literária.
b) A constante utilização de termos eruditos e técnicos, como
“envergadura”, “cumeadas” e “taludes”, compromete o valor
literário da obra.
c) Destacam-se contrastes geográficos do Brasil, como evidenciado no
trecho: “Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui
gradualmente de altitude” (linhas 5 e 6).
d) Há uma detalhada descrição da região embasada no conhecimento
das Ciências Naturais.
e) A opção pela utilização de mais de um adjetivo para caracterizar o
substantivo, como em “escarpasinteiriças, altas e abruptas” (linha 2),
está vinculada à ideia de precisão científica.
RESOLUÇÃO:
Em Os Sertões, Euclides da Cunha faz uso de termos eruditos e
técnicos, além de regionalismos que em nada comprometem o
valor literário da obra, considerada, por muitos, uma epopeia da
língua portuguesa.
Resposta: B
Texto para o teste 2.
2. (2020) – Nessa petição da pitoresca personagem do
romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão
justifica-se pela
a) situação social de enunciação representada.
b) divergência teórica entre gramáticos e literatos.
c) pouca representatividade das línguas indígenas.
d) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.
e) tentativa de solicitação do documento demandado.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2020] O trecho transcrito de Triste Fim de Policarpo
Quaresma apresenta a tentativa de Policarpo Quaresma,
protagonista, de reivindicar a mudança da língua nacional do
português para o tupi-guarani. Como se trata de um contexto
formal, uma vez que se dirige ao Congresso Nacional, ele utiliza
em seu requerimento a modalidade culta da língua portuguesa.
Resposta: A
O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em
escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e
desata-se em chapadões nivelados pelos visos das
cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. 
5 Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui
gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba
para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que
o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravel -
mente para o interior.
10 De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte,
observa notáveis mudanças de relevos: a princípio o traço
contínuo e dominante das montanhas, precintando-o, com
destaque saliente, sobre a linha projetante das praias; depois,
no segmento de orla marítima entre o Rio de Janeiro e o
15 Espírito Santo, um aparelho litoral revolto, feito da
envergadura desarticulada das serras, riçado de cumeadas e
corroído de angras, e escancelando-se em baías, e repartindo-se
em ilhas, e desagregando-se em recifes desnudos, à maneira
de escombros do conflito secular que ali se trava entre os 
20 mares e a terra; em seguida, transposto o 15.° paralelo, a
atenuação de todos os acidentes — serranias que se
arredondam e suavizam as linhas dos taludes, fracionadas
em morros de encostas indistintas no horizonte que se
amplia (...).
(Euclides da Cunha, Os Sertões)
Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público,
certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo
também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral,
sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante
contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos
proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país,
os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não
se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se,
diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos
estudiosos do nosso idioma — usando do direito que lhe confere
a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o
tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
(LIMA BARRETO, A. H. Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
Acesso em: 26 jun. 2012.)
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Leia a seguir uma passagem do romance Canaã, do escritor pré-
modernista Graça Aranha, e responda ao teste 3:
3. (2020) – No trecho, o narrador mobiliza recursos de
linguagem que geram uma expressividade centrada
na percepção da
a) relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da
personagem.
b) confluência entre o estado emocional da personagem e a
configuração da paisagem.
c) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
d) depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte
iminente.
e) instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2020] É perceptível, no texto, que o estado psicológico da
personagem influencia diretamente a apreensão que ela tem do
cenário natural, como exemplifica a passagem “na sua imaginação
perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la”.
Essa identidade entre o mundo interior e o exterior é explicitada na
alternativa b. 
Resposta: B
Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se
para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens
colossais e túmidas rolavam para o abismo do horizonte... Na
várzea, ao clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares
de monstros... As montanhas, subindo ameaçadoras da terra,
perfilavam-se tenebrosas... Os caminhos, espreguiçando-se sobre
os campos, animavam-se quais serpentes infinitas... As árvores
soltas choravam ao vento, como carpideiras fantásticas da
natureza morta... Os aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros
com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados
não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em
uma angústia desesperada.
(GRAÇA ARANHA, J. P. Canaã.
São Paulo: Ática, 1997.)
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MÓDULO 34 Pré-Modernismo (II): Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos
1. Monteiro Lobato
(Taubaté, 1882 – São Paulo, 1948)
� Vida
Nasceu na chácara do Visconde
de Tremembé, seu avô materno, ho -
je conhecida como Chácara do Pica-
Pau Amarelo. Formou-se em Direito
em São Paulo, tendo parti cipado in ten -
samente de atividades políticas es tu -
dantis. Fundou a Com pa nhia Edi tora
Nacional; incentivou as cam pa nhas do
petróleo e do ferro, fun dan do, em
1931, a Cia. Petróleo do Bra sil. Foi
preso por escrever carta ao di tador
Getúlio Vargas sobre o proble ma do
petróleo brasileiro. Mudou-se para a
Argentina, regres sando no ano
seguinte, 1947. 
� Obras
Urupês (doze histó rias tiradas do
sertão paulista) – 1918
Ideias de Jeca Tatu – 1918
Cidades Mortas – 1919
Negrinha (contos) – 1920
O Macaco que se Fez Homem –
1923
A Barca de Gleyre (correspon dên -
cia com Godofredo Rangel) – 1944
• Literatura Infantil
Reinações de Narizinho
Viagem ao Céu
O Pica-Pau Amarelo
Emília no País da Gramática etc.
� Apreciação crítica
A sua obra é variada: contos, crô -
 ni cas e artigos, ensaios quase pan -
 fletários, e literatura infantil.
Des ta ca-se aqui o sentido da obra do
contista de feitio regionalista. Ela está
presa à experiência no interior, com -
preen dido sobretudo nos limites da
região que se denominaria das “cida -
des mortas”, onde brilhou o fausto
das grandes fazendas de café do sé -
culo passado [XIX]. Constitui-se assim
de fla grantes bem apanhados do ho -
mem e da paisagem, embora toma dos
nos seus aspectos exteriores, pa ra
nos comunicar a sugestão de ma ras -
mo e indolência reinantes. E não
disfarça inteira mente o propósito de
denúncia de uma situação de
indiferença, deplorável. Por exemplo,
Urupês e Cidades Mortas, os dois pri -
meiros livros que deram consa gração
e popularidade ao A.
(Antônio Cândido e J. A. Castello,
Presença da Literatura Brasileira II)
Lobato criti cou a indolência do
caboclo, “sem pre de cócoras enquan -
to o Brasil es perava por ele”, na
famosa figura de Jeca Tatu; depois se
desculpou, fa lando das difíceis
condições da vi da do cam ponês.
Atacou publica men te o Mo dernismo,
no artigo “Pa ra noia ou Mis tifi ca ção?”,
de 1917, es crito a propó sito de uma
exposição de Anita Malfatti. Também
lançou crítica a Oswald de Andrade,
porém mais tarde se reconciliam. 
A principal carac te rística de sua
lin guagem literária é a oralida de.
UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA
Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato
e modesto dos ho mens. Honestíssimo, com um
defeito ape nas: não dar o mínimo valor a si pró -
prio. Para João Teodoro, a coisa de menos
importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem ad mitia a
hipótese de vir a ser algu ma coisa. E por muito
tempo não quis nem sequer o que todos ali
queriam: mudar-separa terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com
aperto de coração o depere cimento1 visível de
sua Itaoca.
— Isto já foi muito melhor, dizia consigo.
Já teve três médicos bem bons, agora só um e
bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje
mal dá serviço para um rábula2 ordinário co mo o
Tenório. Nem circo de cavali nhos bate mais por
aqui. A gente que presta se muda. Fica o
restolho3. De ci didamente, a minha Itaoca está-
se acabando...
João Teodoro entrou a incubar4 a ideia de
também mudar-se, mas para isso necessitava
dum fato qualquer que o convencesse de
maneira abso luta de que Itaoca não tinha mesmo
conserto ou arranjo possível.
— É isso, deliberou lá por dentro. Quando
eu verificar que tudo está per dido, que Itaoca
não vale mais na da de nada, então arrumo a
trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novi dade: a
nomeação de João Teodoro para delegado.
Nosso homem rece beu a notícia como se fosse
uma ca cetada no crânio. Delegado, ele! Ele que
não era nada, nunca fora nada, não queria ser
nada, não se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é
coisa seriís sima. Não há car go mais importante. É o
homem que prende os outros, que solta, que man -
da dar sovas, que vai à capital falar com o governo.
Uma coisa co los sal ser delegado — e estava ele,
João Teodoro, de-le-ga-do de Itao ca!...
João Teodoro caiu em meditação profunda.
Passou a noite em claro, pen sando e arrumando
as malas. Pe la madrugada botou-as num burro,
mon tou no seu cavalinho magro e partiu.
Antes de deixar a cidade foi visto por um
amigo madrugador.
— Que é isso, João? Para onde se atira tão
cedo, assim de armas e bagagens?
— Vou-me embora; respondeu o retirante.
Verifiquei que Itaoca che gou mesmo ao fim.
— Mas, como? Agora que você está
delegado?
— Justamente por isso. Terra em que João
Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.
(Monteiro Lobato, Cidades Mortas)
Vocabulário
1 – Deperecimento: definhamento.
2 – Rábula: advogado de limitada cultura.
3 – Restolho: resto, sobra.
4 – Incubar: planejar.
2. Augusto dos Anjos
(Cruz do Espírito Santo-PB, 1884 –
Leopoldina-MG, 1914)
� Vida
Paraibano, desde a infância en fer -
miço e nervoso, é, a rigor, um poe ta
inclassificável. Sua obra é cons tituída
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de um único livro — Eu (1912) —, que,
reeditado em 1919, passou a chamar-se
Eu e Outras Poesias.
Transformado em catecismo dos
pessimistas e em bíblia dos aza rados
e malditos, o livro Eu é de uma insti -
gante popularidade, resis tente a to dos
os modismos, im permeável às re -
taliações da crítica e aos vermes do
tempo. Foi o poeta mais original de
nossa literatura, no período que vai de
Cruz e Sousa aos moder nistas.
� “Eu, filho do carbono e do 
amoníaco”
As leituras precoces de Darwin,
Häckel, Lamarck, Schopenhauer e
outros, feitas na biblioteca de seu pai,
fundamentaram a postura exis ten cial
do poeta, a adesão ao Evolu cionismo
de Darwin e Spencer e a an gústia fun -
da, letal, ante a fatali da de que arrasta
toda a carne para a decom posição.
Fundem-se a visão cós mica e o deses -
pero radical, pro du zindo uma poesia
violenta e nova em língua portugue sa.
Combinou ino va ções arroja das com
elementos provindos do Parna -
sianismo e do Sim bolismo.
A IDEIA
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo1 absconso2 que a 
[cons tringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo3 da língua paralítica!
Vocabulário
1 – Encéfalo: cérebro. 
2 – Absconso: recôndito, oculto. 
3 – Molambo: trapo.
BUDISMO MODERNO
Tome, Dr., esta tesoura, e… corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas1 da lagoa
A criptógama2 cápsula se esbroa3
Ao contato de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
Vocabulário
1 – Diatomácea: micro-organismo que tem ca -
pa cidade de sinteti zar substân cias orgâni cas a
par tir de substâncias inor gânicas.
2 – Criptógama: espécie vegetal que não se
reproduz por meio de flores: as algas, os
musgos, os liquens e as samambaias.
3 – Esbroar: reduzir(-se) a pequenos frag men -
tos, a pó.
� “Não sou capaz de amar 
mulher alguma!”
“Se algum dia o prazer vier 
procurar-me, dize a este 
monstro que fugi de casa!”
O asco do prazer é expresso de
maneira contundente; a relação entre
os sexos é apenas “a matilha espan -
tada dos instintos”, ou, “parodiando
saraus cínicos, / bilhões de centros so -
 mas apolínicos / na câmara pro mís cua
do vitellus”.
Reduzindo o amor humano à ce ga
e torpe luta de células, cujo fim não é
senão criar um projeto de ca dáver, o
poeta aspira, como Cruz e Sousa, à
imortalidade gélida, mas lu mi nosa, de
outros mundos onde não lateje a vida-
instinto, a vida-car ne, a vida-corrupção.
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais,
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!
(“Queixas Noturnas”)
� “As palavras se desinte gram
na minha boca como
cogumelos mofados.”
(von Hofmannsthal)
Augusto dos Anjos vale-se mui tas
vezes de técnicas expressio nistas na
montagem de seus textos. O
Expressionismo, corrente esté tica
situada nos limiares do Moder nismo,
representou uma reação con tra o
impressionismo, contra o gosto pela
nuance, contra o refinamento e
sutileza na captação do momento.
A imagem é intencionalmente de -
formada e agrupada de maneira des -
concertante, por meio da transfigu-
ra ção da realidade. Em lugar da delica -
deza e da suavidade, a ima gem é
deformada, por meio de um dese nho
violento, que acentua e bar ba riza a
forma, aproximando-se, às vezes, do
grotesco e da caricatura.
Daí o “mau gosto”, o “apoético”
que, em Augusto dos Anjos, são con -
vertidos em poesia. O jargão cien tífi co
e o termo técnico, tradicio nal mente pro -
saicos, não devem ser abs traídos de
um contexto que os exige e os justifica.
Fazia-se mister uma sim biose de ter -
mos que definis sem toda a estrutura
da vida (voca bu lário físi co, químico e
biológico) e termos que exprimissem
o asco e o horror ante a existência.
Apoiando-se na hipérbole, no pa -
radoxo e na exploração de efeitos so -
noros, Augusto dos Anjos funde a
in flexão simbolista e a retórica cienti fi -
 cista, criando uma dicção singular, que
projeta a hipersensibilidade e a vi são
trágica e mórbida da existên cia.
Observe, nos versos a seguir, o
jogo de aliterações e efeitos sonoros:
“Tísica, tênue, mínima, raquítica...”,
“Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento”, “Cinzas,
caixas cranianas, cartilagens” , “De aberratórias
abstrações abstrusas”, “Bruto, de errante rio,
alto e hórrido, o urro / reboava”, “À híspida
aresta sáxea áspera e abrupta.”
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Texto para os testes 1 e 2. 
1. (UNIFESP) – No soneto de Augusto dos Anjos, é evidente
a) a visão pessimista de um “eu” cindido, que desiste de conhecer-se,
pelo medo de constatar o já sabido de sua condição humana
transitória.
b) o transcendentalismo, uma vez que o “eu” desintegrado objetiva
alçar voos e romper com um projeto de vida marcado pelo
pessimismo e pela tortura existencial.
c) a recorrência a ideias deterministas que impulsionam o “eu” a
superar seus conflitos, rompendo um ciclo que naturalmentelhe é
imposto.
d) a vontade de se conhecer e mudar o mundo em que se vive, o que
só pode ser alcançado quando se abandona a desintegração psíquica
e se parte para o equilíbrio do “eu”.
e) o uso de conceitos advindos do cientificismo do século XIX, por meio
dos quais o poeta mergulha no “eu”, buscando assim explorar seu
ser biológico e destino metafísico.
RESOLUÇÃO:
São bem conhecidas as fontes cientificistas da poesia de Augusto
dos Anjos e é fato que diversos de seus poemas são construídos
em torno de conceitos oriun dos dessas fontes. Observe-se, porém,
que o soneto transcrito, embora contenha expressões provindas
do cientificismo (“alva flama psíquica”, “feixe de mônadas”), pode
ser entendido sem o recurso a conceitos cientificistas, pois se trata
de uma meditação em torno da fragilidade da carne e da
inexorabilidade da morte, temas obsessivos do poeta.
Resposta: E
2. (UNIFESP) – No plano formal, o poema é marcado por
a) versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas.
b) vocabulário seleto, rimas raras, aliterações.
c) vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias.
d) assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas.
e) versos livres, rimas intercaladas, inversões sintáticas.
RESOLUÇÃO:
No poema, a seleção rigorosa do vocabulário pode ser comprovada
pela escolha de palavras como “alva”, “flama”, “desagrega-se”,
“flâmeo”, “efêmero”, “dardejar”, “relampejantes”. O exemplo
mais significativo de rima rara constrói-se com as palavras “rosto”
e “sol-posto”. Há também diversos exemplos de rimas ditas ricas,
ou seja, rimas entre palavras de classes gramaticais diferentes.
Exemplos: “batalha” (substantivo) / “estraçalha” (verbo); trabalha
(verbo) / mortalha (substantivo). Há uma profusão de aliterações,
por exemplo: “Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas”;
“Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.”
Resposta: B
Além de escrever Dom Quixote das Crianças, Monteiro Lobato também
leva o “cavaleiro errante” para o Sítio do Pica-Pau Amarelo:
3. (UNICAMP) – Na cena narrada,
a) Dona Benta mostra a Dom Quixote que a história dele não é, de
forma alguma, uma mistificação.
b) Dona Benta convence Dom Quixote de que as gravuras não refletem
a história dos fatos.
c) Dona Benta concorda com Dom Quixote e critica o fato de a História
ser fruto de interesses.
d) Dona Benta opõe-se a Dom Quixote e critica a forma como a história
dele é narrada nos livros.
RESOLUÇÃO:
Dona Benta concorda com Dom Quixote, que acredita ser
“mistificação” a obra que Cervantes escreveu sobre o herói. Ela lhe
explica que a História, relato verdadeiro dos fatos, não dispensa a
“mistificação”, ou seja, a “história” em letra minúscula, que se
refere ao relato inventado em favor dos que têm interesse na
adulteração dos fatos.
Resposta: C
APÓSTROFE À CARNE
Quando eu pego nas carnes do meu rosto,
Pressinto o fim da orgânica batalha:
— Olhos que o húmus necrófago estraçalha,
Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.
E o Homem — negro e heteróclito composto,
Onde a alva flama psíquica trabalha,
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tato, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!
Carne, feixe de mônadas bastardas,
Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,
Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,
Em tua podridão a herança horrenda,
Que eu tenho de deixar para os meus filhos!
(Augusto dos Anjos, in Obra Completa)
Lá na varanda Dom Quixote conversava com Dona Benta
sobre as aventuras, e muito admirado ficou de saber que sua
história andava a correr mundo; escrita por um tal de Cervantes.
Nem quis acreditar; foi preciso que Narizinho lhe trouxesse a
edição de luxo ilustrada por Gustavo Doré. O fidalgo folheou o
livro muito atento às gravuras, que achou ótimas, porém falsas.
— Isso não passa duma mistificação! — protestou ele. — Esta
cena aqui, por exemplo. Está errada. Eu não espetei este frade,
como o desenhista pintou — espetei aquele lá.
— Isto é inevitável — disse Dona Benta. — Os historiadores
costumam arranjar os fatos do modo mais cômodo para eles; por
isto a História não passa de histórias.
(Adaptado de Monteiro Lobato, O Pica-Pau Amarelo.
São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 18.)
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MÓDULO 35 Modernismo em Portugal e Fernando Pessoa ortônimo
1. Contexto histórico
No início do século XX, o mundo
vive o otimismo da Belle Époque: uma
minoria abastada festeja, satis fei ta e
deslumbrada, as desco bertas e inven -
ções que se sucedem num rit mo fre -
né tico e que tornam a vida mais
con fortável. Em contrapar tida, qua se
um terço da população mun dial perma -
nece subdesenvolvi da, mor rendo de
peste ou de fome antes dos trinta anos,
à margem desse im pressionante
progresso material, nu ma situação
sórdida, miserável e de gradante.
Em 1914, a crise, latente desde o
final do século XIX, explode selva gem
e brutal. É a Primeira Guerra Mun dial,
que deixará 1.400.000 víti mas. Em
meio a esse desconcerto, ocorre a
Re volução Russa de 1917, que des -
perta esperanças em todo o mundo, e
surge o homem novo que levaria a boa
palavra e melhores condições de vida
à humanidade.
Após a guerra, vem um período de
descompressão, os anos loucos, que
atravessarão a crise de 1929, sen do
violentamente interrompidos por um
novo apocalipse. O geno cí dio, a
tortura, as deportações em massa da
Segunda Guerra Mundial manifes tam,
em plena civilização, o absurdo e o
horror da barbárie.
É nesta atmosfera de euforia e de -
sencanto que devemos armar o es -
pírito para acompanhar a suces são de
ismos, característica da arte do início
do século XX.
� Os “ismos” europeus
Expressionismo: estilo artís ti co
no qual a comunicação direta da
emoção é objetivo fundamental. As
obras expres si o nis tas, para refletir
desespero, ansie da de, tormento e
exaltação, distorcem as imagens do
mundo real, por meio de colorido
subjetivo, contraste inten so, linhas
fortes, alteração de formas. O
expressionismo é associado à arte a le -
mã e dos países do norte da Eu ro pa
no final do século XIX e no século XX:
Van Gogh, Munch, Ensor, Kan dins ky,
na pintura; Murnau, Fritz Lang, Pabst,
no cinema; Schönberg, Alban Berg, na
música; Strindberg, Brecht, na
literatura. 
Futurismo: movimento artísti co
criado na Itália em 1909 pelo poeta
Filippo Tommaso Marinetti. Reagindo
violentamente contra a tradição, exal -
ta va os aspectos dinâmicos da vida
contemporânea: velocidade e me ca ni -
zação. Os poetas e pintores tenta vam
flagrar o movimento e a simulta -
 neidade dos objetos: aqueles, por
meio de pontuação, sintaxe, for ma e
significados novos; estes, pela repe -
tição das formas, ausência de divi são
entre objetos e espaço, e ênfase em
linhas de força. Os futu ris tas foram os
primeiros a utilizar ruí dos na músi ca e,
crítica e humoris ti ca mente, cria ram
até um “teatro sin tético futu ris ta”,
com peças cujos atos dura vam me nos
de cinco mi nutos. 
Cubismo: nome da teoria do gru -
po de pintores liderados por Bra que
e Picasso em Paris, a partir de 1906.
Influenciados por esculturas pri -
mitivas e por Cézanne, criaram um
tipo de pintura que eliminou a pers -
pec tiva, multiplicando os pontos de
vista num mesmo quadro. Esco lhen -
do objetos fami liares, facil mente re -
co nhecíveis, os cubistas os
pin ta vam, não como os viam, mas
como os entendiam estruturalmente:
reor ga ni zavam os constituintes
formais des ses objetos em composi -
ções geo métricas, representando si -
mul ta ne amente seus vários aspec tos.
Al guns textos de Oswald de Andrade
fo ram influenciados pelo Cubismo.
Dadaísmo ou Dadá: movi men to
antiburguês de arte e literatura que se
espalhou pela Europa após a Primeira
Guerra. Rejeitava os valo res morais e
estéticos tradicio nais, le vando essa
rejeição ao absurdo, mas abrindo
caminho para novos mo dos e meios
de expressão. Surgiu em Zuri que, em
1916, e reuniu artis tas como Tristan
Tzara, Francis Pica bia, Marcel
Duchamp.
Surrealismo: originou-se em Pa -
ris, em 1924,sob a liderança de An dré
Breton, e teve muito em co mum com
o Dadá. Tendo apoio da Psi canálise,
procurava incluir na criação artística os
meios de elabo ração do inconsciente,
supe rar a rea lidade tal como ela é
perce bida coti dia na mente. Na litera tu -
ra, criaram o pro cesso “da escrita
auto mática”, uti lizando-se da livre
asso ciação de palavras. Na pintura,
representavam imagens do incons -
ciente e do sonho. Além de André
Breton, são surrealis tas os escritores
Paul Éluard, Antonin Artaud e Louis
Aragon. Salvador Dalí notabilizou-se na
pintura e Luis Buñuel, no cinema.
Num mundo em que os setores
do conhecimento — ciências, artes,
filo so fia — são interdependentes, um
tra ço fundamental é comum a todas
essas esferas: a instabilidade. A Arte se
“des realiza”, torna-se abstrata ou não
figu rativa, abandona a repro du ção
imi tativa dos seres e objetos reais,
para, em vez disso, criar seus pró -
prios ob je tos.
A Arte Moderna assume posição
de constante ruptura, assimilando em
seu próprio organismo a frag men ta ção
de uma época marcada pela des -
 continuidade e pelo caos inven ti vo e
demolidor.
Na Física, surgem as des co ber tas
de Max Planck (Teoria dos Quan ta,
1900: a energia radiante tem, co mo a
matéria, estrutura descon tí nua) e de
Albert Einstein (Teoria da Rela tivi da de,
1905: a duração do tempo não é a
mesma para dois ob ser va dores que se
deslocam um em rela ção ao outro).
Na Filosofia e Psiquiatria, desen -
vol vem-se as pesquisas de Henri
Bergson e Sigmund Freud, respec ti va -
mente. Bergson, em Matéria e Me mó -
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ria (1907), afirma que a intuição é o
único meio de conhe ci men to da
duração dos fenô me nos e da vida.
Freud, na Introdu ção à Psi ca nálise
(1916/1917), pro mo ve a inves tigação
psicológica no trata men to das neuro -
ses, por meio da pro cu ra de tendên -
cias reprimidas no incons ciente do
in di víduo e do seu retorno consciente
pela análise.
2. A poesia moderna
A poesia moderna rompe a sin ta -
xe, o encadeamento lógico; é elíp tica,
alu siva, não tem limitações nor ma -
tivas, e o ritmo é criado a cada mo -
men to, como descargas de vivên ci as
profundas, delí rios emocionais, vio -
lentando nosso im pulso natural de
bus car as coisas fá ceis, sobretudo nos
domínios da expressão através da
língua.
� A integração poética da 
civilização material
Escreveu Wilson Martins:
À sociedade nova, aqui e alhu res,
correspondia, necessariamente, li te ratura
nova — eis o que não se can saram de
repetir, desde o primei ro instante, todos os
teóricos e ar tistas; (...)
Como é natural, estes tomaram
consciência muito mais cedo que os
demais do que significavam os pro gres sos
técnicos e científicos do co meço do século
[XX]; eles perce beram des de logo que a
própria natureza e a própria qualidade do
espírito humano iam se modificar ao
impacto da máquina; esta última não repre -
sen tava apenas um acrés cimo à vida
cotidiana, mas um fator catalítico de
alcance impre visível.
(MARTINS, Wilson. O Modernismo. 
A Literatura Brasileira. 
São Paulo: Cultrix. vol. VI. p.13.)
O rápido desenvolvimento tecno-
lógico, que marca os albores do sé cu lo
XX, traz, ao lado da modi fi ca ção que
provoca na moda, variações no gosto
estético e uma ânsia pela novi dade;
torna-se necessário enfati zar a cren ça
de que o novo é sempre me lhor. A
técnica traz consigo o dina mis mo
também nas atitudes diante da vida.
� O verso livre
O verso livre não implica ausên cia
de ritmo, mas a criação do “ritmo a
cada momento”. Sabemos que, em
português, a técnica do verso depre -
ende, tradicionalmente, esque mas
que vão de duas a doze sílabas, com
acen tos regularmente distri buí dos. Já
o que caracteriza o verso livre é,
sobretudo, uma mudança de atitu de:
sua unida de de medida deixa de ser a
sílaba e passa a basear-se na com bi -
nação das entoações e das pau sas. O
ritmo decorre, pois, da suces são dos
gru pos de força valori za dos pela
entoa ção, pela maior ou menor rapidez
da enunciação.
Exemplos
“O Sr. tem uma escavação no pulmão 
[esquerdo e o pulmão direito infiltrado.”
(Manuel Bandeira)
Preso à minha classe e a algu mas roupas, 
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias esprei tam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
(Carlos Drummond de Andrade)
A nova técnica aparece pela
primeira vez, de forma ainda tímida,
com Arthur Rimbaud, em junho de
1886, mas é com Walt Whitman que o
verso livre começa a vencer.
� Outras constantes 
da poe sia moderna
– A dessacralização da obra de
arte, com o predomínio da concep ção
lúdica sobre a concepção mági ca.
– A presença do humor, com o
poema-piada, como forma de apro fun -
damento da percepção do ho mem e
do mundo.
– Cosmopolitismo do processo
lite rário, que se traduz na intercomu -
ni cação entre os artistas.
– Antiacademicismo, anti con ven -
cionalismo, abolição da distinção en tre
temas “poéticos”, “anti poé ti cos” e
“apoéticos”. 
– “Imagens crescentemente mo -
de ladas em linguagem cotidiana.”
– Ausência de inversões, de
após trofes bombásticas.
– Ausência e/ou revitalização de
rimas convencionais.
– Sequência de imagens ba sea -
das na livre associação, aban do nan do -
se a lógica de causa e efeito.
– “Ênfase no habitual, e não no
cósmico.”
– Interesse maior pelo incons -
cien te.
– Interesse pelo homem comum.
Na prosa modernista, observam-se
os seguintes traços marcantes:
– O autor ausenta-se da narrati va.
– A ação e o enredo perdem im -
portância em favor das emo ções, es -
tados mentais e reações das
perso nagens.
– A temática passa dos assun tos
universais para os particulares, in di vi -
duais e específicos.
– O princípio de seleção do ma te -
rial expande-se, para incluir todos os
motivos e assuntos.
– A caracterização das persona -
gens varia; aumenta o inte res se pe los
estados mentais, pela vida pro fun da
do “eu”, em detrimento das ações
exteriores.
– Por outro lado, a maneira de
apre sentação é diferente: a análise e
a cons trução dos caracteres se fazem
por acu mulação, em rápidos instan tes
sig nificativos, ou pela apresenta ção da
própria consciência em ope ra ção, isto
é, do flu xo de cons ciên cia (stream of
consciousness). O autor não faz o
retrato da perso na gem: es ta vive, e o
leitor a conhece e jul ga.
– A literatura torna-se cada vez
mais subjetiva, interiorizada e abstra -
ta, construída de experiências men -
tais, da vida do espírito.
– A sugestão e a associação, a
expressão indireta, passam a ser os
meios de se veicular a experiência.
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3. Modernismo em Portugal
O Modernismo português teve
início em 1915, com a publicação da
revista Orpheu, da qual participaram
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Car -
neiro, Santa Rita Pintor, Cortes-Rodri -
gues, Alfredo Guisado, Ronald de
Carvalho e Eduardo Guimarães. Pre ten -
diam causar escândalo para de molir
heranças literárias dog matiza das e
eram unidos pelo in con for mis mo e pelo
desejo de renovar a Lite ratura
Portuguesa. Causaram es cân dalo,
foram combatidos, e a revis ta foi logo
extinta. Contudo, conse guiram levar
para Por tugal influxos da nova arte
(futu ris mo, um cubismo decadentista
etc.).
Em 1927, a criação de uma nova
revista — Presença — deu novo
ânimo ao Modernismo português.
Seus fun dadores, José Régio, Bran -
quinho da Fonseca e João Gaspar
Simões, além de valorizarem criti -
camente a ge ração de Orpheu,
continuavam a luta contra o acade -
micismo.
4. Fernando Pessoa
(Lisboa, 1888-1935)
� Vida
Nasceu em Lisboa. Em 1893,
tornou-se órfão de pai. A mãe casou-se
novamente e a família viajou para a
África do Sul. Fez o curso primário e
secundário em Durban, alcançando
prêmio de redação em inglês. Em
1905, voltou para Lisboa. Matriculou-se
na faculdade de Letras e foi
correspondente comercial em lín guas
estrangeiras, função que exer ce u até a
morte. Em 1912,colaborou com a
Águia, como crítico. Em 1915, liderou
o grupo da revista Orpheu. O se gundo
número da revista é de 1916, e o
terceiro não chegou a sair, pois Mário
de Sá-Carneiro, que a fi nan ciava,
suicidou-se. 
Fernando Pessoa iniciou então a pu -
 blicação de parte de sua obra em re -
vistas: Centauro, Atena, Contemporâ-
 nea, Presença. Em 1934, candi da tou-se
a um prêmio de poesia com Men sa -
gem, único livro, em por tu guês, publi -
cado em vida, alcan çan do o se gun do
lugar. Com Mensa gem, Fer nan do
Pessoa fez uma épi ca moder na, a
partir de sugestões ca mo nia nas, mas
vendo todo o sé cu lo quinhen tista por
uma pers pec ti va crítica.
� Obras 
Mensagem (1934) é a única obra
em português publicada em vida. Tem
linguagem extremamente ela bo ra da,
num estilo semelhante, como se verá,
ao do heterônimo Ricardo Reis.
Mensagem, ao contrá rio de Os
Lusíadas, de que é relei tura, celebra,
não grandezas, mas fantásticas ir rea -
lidades e loucuras de heróis da lenda
e da história do país, como Ulisses,
Viriato, D. Se bas tião, Vieira etc.
Mensagem consti tui-se de 44 poe -
mas, dispostos em três partes:
“Brasão”, “Mar Portu guês” e “O
Enco berto”. Tratam, respec ti va men te,
das figuras históri cas e len dá rias que
permitiram a ascensão de Por tugal, do
apogeu de Portugal com as
navegações e do declínio por tu guês.
� Outras Obras
– Poemas de Alberto Caeiro 
– Odes de Ricardo Reis 
– Poesias de Álvaro de Campos 
– Poesias de Fernando Pessoa 
– Poemas Dramáticos – O Mari -
nheiro
– Quadras ao Gosto Popular
– Poemas Ingleses – Poe mas
Franceses – Poemas Traduzidos
– Poesias Inéditas
Em prosa (textos recolhidos, es -
tabelecidos e organizados por vá rios
autores):
– O Livro do Desassossego, por
Bernardo Soares
– Páginas Íntimas e de Auto-
Interpretação
– Páginas de Estética e de Teo-
ria e Crítica Literária
– Textos Filosóficos
– Sobre Portugal – Introdução ao
Problema Nacional
– Da República
– Ultimatum e Páginas de Socio-
logia Política
– Cartas de Amor
– Textos de Crítica e Interven ção
� Considerações
Realiza uma poética den sa men te
experimental, que, partindo das for -
mas líricas tradicionais, ultra pas sa -as
de forma criativa, evoluindo atra vés de
diversas etapas: o sau dosismo
esotérico, o pau lis mo, o futu rismo,
o inter sec ci o nis mo e o sensa cio -
nismo.
O poeta desdobra-se em várias
“máscaras”. Uma delas, Fernando
Pes soa, ele-mesmo, constrói a poe sia
ortonímica, assinada pelo pró prio
Fernando Pessoa. As outras “más -
caras” constituem os heterô nimos
do poeta, dentre os quais se desta -
cam: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e
Álvaro de Campos, além de ou tros,
menos desenvolvidos: Ber nar do
Soares, Alexandre Search, An tônio
Mora, G. Pacheco e Vicente Guedes.
Cada uma dessas “máscaras” ou
heterônimos constitui uma atitude,
uma experiência assumida por Fer -
nando Pessoa, e desemboca em um
jogo infinito de lingua gens/seres, re ve -
lador de uma poderosa cons ciên cia
crítica do fenômeno poético e de uma
densa posição metalin guística. As
“máscaras” assumidas pelo poeta
dialogam entre si, correspondem-se e
indicam as con tradições existentes
entre elas.
Multiplicando-se em vários poe tas —
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e
Álvaro de Campos —, seus
heterônimos, além da poesia que
realiza sob seu próprio nome, Fer -
nando Pessoa propõe um jogo infinito
da linguagem, oscilando entre o sentir
e o pensar, entre o ser e o não ser,
entre o rosto e a máscara.
“Tudo o que em mim sente está
pensando”, diz de si o poeta,
propondo uma chave para penetrar -
mos no labirinto em que ele nos en -
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reda através da multiplicidade de
linguagem e de cosmovisões: Caeiro
é um mestre bucólico, Reis é um neo -
clássico estoico, Campos é um fu tu -
rista neurótico e angustiado e
Fer nan do Pessoa “ele-mesmo” pare -
ce ser o heterônimo de algum outro
ser/poeta, instalado entre um heterô -
nimo e outro, nos intervalos, nos
interstícios, sim ples “ficção do inter -
lúdio”.
A explosão dos heterônimos as pi -
ra va ao universal como esperança de
unidade:
Sentir tudo de todas as ma nei ras, / Viver
tudo de todos os lados, / Ser a mesma coisa de
todos os mo dos possíveis ao mesmo tempo, /
Realizar em si toda a humanidade de todos os
momentos / Num só mo men to difuso, profuso,
completo e longín quo.
(Álvaro de Campos, 
“Passagem das Horas”)
Mas essa esperança de unidade
desemboca no esfacelamento. A so -
ma dos heterônimos, que tinham no -
me, biografia, profissão e traços
ca rac terísticos, deveria produzir o
Todo. Mas entre um sujeito e outro
desponta o Outro, o Neutro, o
Fluido. É o Negativo “ele-mesmo”
quem triunfa, recobrindo a afirmação
e negando-a.
A modernidade de Fernando Pes -
soa principia pela negação do sen -
 timento puro como conteúdo poé tico
(“Tudo o que em mim sente está
pensando”). A essência de sua lin -
guagem nova reside na constante re -
versão do sentimento em
pen sa men to, na constante alquimia
do sen tido em outra coisa que o
excede.
� Fernando Pessoa “ele-mesmo”
Fernando Pessoa ortônimo (“ele-
mesmo”) diverge muito de Caeiro e
Reis, porque não inculca uma norma
de comportamento; nele há quase
apenas a expressão musical e sutil
do frio, do tédio e dos anseios da
alma, de es ta dos quase inefáveis
em que se vislumbra por instantes
“uma coisa linda”, nostalgia dum
bem perdido que não se sabe qual
foi, oscilações qua se imperceptíveis
duma in te ligência extremamente
sen sível, e até vivências tão profun -
das que não vêm “à flor das frases
e dos dias”, mas se insi nu am pela
eufonia dos versos, pe las
reticências, numa lin gua gem
finíssima.
Fernando Pessoa ortônimo re to -
ma motivos e formas da lírica por -
tuguesa, desde a Idade Média. É on de
mais se projeta o naci o na lis ta
místico, o sebastianista ra cio nal que
o poeta se dizia, es pe ci al mente no
poema esotérico Men sagem, réplica
não sistemática de Os Lusíadas.
I
POBRE VELHA MÚSICA!
Pobre velha música!
Não sei por que agrado
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
(Fernando Pessoa ortônimo)
II
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
(Fernando Pessoa ortônimo,
in Mensagem)
III
ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo —
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
(Fernando Pessoa ortônimo,
in Mensagem)
IV
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa ortônimo)
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Texto para o teste 1.
1. (UNESP-2021) – Verifica-se a influência dessa vanguarda artística
nos seguintes versos do poeta português Fernando Pessoa:
a) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos 
[os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferroou afastando-se 
[das docas.
b) O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
c) O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...
d) Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.
e) Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
RESOLUÇÃO:
Os versos do heterônimo Álvaro de Campos que registram a
influência futurista do manifesto de Filippo Tommaso Marinetti, na
exaltação da máquina e da beleza da velocidade, são: “Mas, ah
outra vez a raiva mecânica constante!”, “Outra vez a obsessão
movimentada dos ônibus”, “E outra vez a fúria de estar indo ao
mesmo tempo dentro de todos os comboios” e “De estar dizendo
adeus de bordo de todos os navios”.
Resposta: A
Texto para o teste 2.
2. Fernando Pessoa é um dos poetas mais
extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo
fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu
mais no plano criativo do que no plano concreto e criar foi a grande
finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude
irreverente. Com base no texto e na temática do poema “Isto”, conclui-se
que o autor 
a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do
texto. 
b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais. 
c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do
poeta.
d) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz
do poeta.
e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do
eu lírico.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2009] Em sua obra dita ortônima (isto é, atribuída ao seu
nome, não a seus heterônimos), como é o caso do poema
transcrito, Pessoa separa analiticamente a emoção expressa no
poema (isto é, a emoção do eu lírico) da experiência real do poeta,
como fica explícito nesse poema e no célebre “Autopsicografia”
(“O poeta é um fingidor...”). 
Resposta: E 
Futurismo. O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano
Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), foi publicado em Paris em
1909. Nesse manifesto, Marinetti declara a raiz italiana da nova
estética: “queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida
gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”.
Falando da Itália para o mundo, o Futurismo coloca-se contra o
“passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. A exaltação da
máquina e da “beleza da velocidade”, associada ao elogio da técnica
e da ciência, torna-se emblemática da nova atitude estética e política.
(Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.)
ISTO
Dizem que finjo ou minto 
Tudo que escrevo. Não. 
Eu simplesmente sinto 
Com a imaginação. 
Não uso o coração. 
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda, 
É como que um terraço 
Sobre outra coisa ainda. 
Essa coisa é que é linda. 
Por isso escrevo em meio 
Do que não está ao pé, 
Livre do meu enleio, 
Sério do que não é. 
Sentir? Sinta quem lê!
(PESSOA, F. Poemas Escolhidos.
São Paulo: Globo, 1997.)
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Texto para o teste 3.
3. (UNIFESP) – Extraído do livro Mensagem, o poema pode ser
considerado nacionalista, já que o eu lírico
a) apresenta Portugal como uma nação decadente, que não faz jus a
seu passado de heroísmo e glórias.
b) se inspira no passado de heroísmo do povo português, que, no
presente, já não acredita em sua história.
c) busca reviver o sonho de uma nação grandiosa, cantando um
Portugal almejado por seus feitos gloriosos.
d) reconhece o desejo do povo português de glorificar seus heróis, o
que não fora possível até seu presente.
e) descreve o Portugal de seu tempo como uma nação gloriosa e
marcada por histórias de heroísmo.
RESOLUÇÃO:
É nítido o caráter nacionalista do poema “Prece”, de Fernando
Pessoa, em que o eu poemático faz um apelo pungente para que
Portugal ultrapasse a noite tormentosa, o momento de decadência
por que passava no início do século XX, e ressurja glorioso como
no passado das Grandes Navegações.
Resposta: C
SEGUNDA PARTE
MAR PORTUGUÊS
XII
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
(Fernando Pessoa, in Mensagem)
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MÓDULO 36 Fernando Pessoa: heterônimos
1. Fernando Pessoa: heterônimos
� Alberto Caeiro
Pessoa situou em 1889 a data do
nascimento de Alberto Caeiro. Ele é,
portanto, um pouco mais novo que o
próprio Pessoa, mas é o seu mestre,
como é o mestre dos demais hete -
rônimos. Isso é paradoxal, porque Caeiro
é, dentre eles, o menos culto e sua poesia
é a menos elaborada formalmente. Trata-
se de um homem simples, criado no
campo e nele vivendo, alheio à alta
sofisticação cultural que marca os poetas
que o tomam por mestre. E de que Caeiro
é mestre? Fernando Pessoa nos res -
ponde: é mestre de paganismo, quer dizer,
de uma visão não cristã, não judaica, não
espiritualizada da vida e do mundo. Caeiro
nos ensina que o mundo não é um
enigma, um misté rio que devemos tentar
desvendar, nem o que vemos tem um
sentido oculto por trás das aparências:
O que nós vemos das coisas são as coisas
Por que veríamos nós uma coisa se hou -
[vesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludir-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver. 
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a
[alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade
[daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas
[são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um 
[só dia1,
Mas onde afinal as estrelas não são senão
[estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos
[estrelas e flores.
Nota
1 – Observar a crítica a algumas imagens con -
ven cionais da poesia de fundo romântico, espi -
ri tualizada, que Caeiro rejeita.
Assim, nossa dificuldade em cap -
tar o mundo tal como ele é deve-se ao
nosso vício de interpor o pen sa mento
entre nós e as coisas. Nós somos
como que doentes de pensa mento.
Em vez de nos rela cio narmos com os
objetos em sua singulari da de, que é a
sua realida de, nós gene ralizamos, e
destruí mos com isso a realidade das
coisas. Diz Caeiro:
Compreendi que as coisas são reais e todas
[diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o
[pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria
[achá-las todas iguais.
Já se viu em Caeiro semelhança
com o zen-budismo, especialmente em
sua insistência no não pensa mento
como condição da experiên cia exis -
tencial verdadeira. Caeiro defende um
pensamento contra o pensamento,
uma filosofia antifilosófica (“Com
filosofia não há árvores, há ideias
apenas” ) e nega qualquer forma de
espiritualismo ou de trans cendência,
ou seja, nega a ideia de qualquer rea-
lidade além daquela que constitui
nossa experiência concreta e ime dia -
ta das coisas, com as quais nosso
corpo se relaciona:
Se quiserem que eu tenha um misticismo,
[está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo. 
A minha alma é simples e não pensa.
O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.
Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro1
Numa casa caiada e sozinha, 
E essa é a minha definição.
Vocabulário
1 – Outeiro: colina, morro.
Também em relação à poesia
Caeiro é polêmico, porque suas ideias
geram uma poesia “antipoética”, que
nega a transcendência:
O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.
Alberto Caeiro. Pormenor do mu ral de Almada
Negreiros, na Fa culdade de Le tras da
Universidade de Lisboa (1958).
Os poemas de Caeiro, que falam
da concretude do mundo, da rea li da de
única das sensações, são na verda de
poemas abstratos, quase inteiramen te
carentes de imagens do mundo, por -
que o que o poeta faz é defender uma
teoria — uma curiosa teoria que con -
dena todas as teorias. Seu livro cha -
ma-se O Guardador de Rebanhos,
mas, como ele diz, “o rebanho é os
meus pensamentos / e os meus
pensamentos são todos sensações”.
Sua poesia, contudo, é mais de
pensamentos que de sen sações.
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O caráter paradoxal da teoria de
Caeiro se manifesta também no plano
estilístico: seus poemas evitam tudo o
que se costuma tomar por poesia.
Seus versos parecem prosa, pois são
uma forma ritmicamente frouxa de ver -
so livre, cujo andamento dá a im pres -
são de naturalidade, de es pon ta nei dade
sem qualquer preme dita ção artís tica (o
que é, na verdade, um efeito artís tico
dessa poesia). Seu voca bu lário é
restrito e as mesmas palavras e
expressões se repetem com peque no
intervalo, sem nenhum esforço apa -
 rente de evitar o que é tradicional men -
te considerado “po bre za de estilo”.
Também do ponto de vista estrita men -
te linguístico e gra matical, a escrita de
Caeiro é menos culta e menos
rigorosa que a de seus “discípulos”. 
Com tudo isso, a pequena obra
singular e singela de Alberto Caeiro
alcança, com recursos de simplici dade
extrema, momentos de verda deira
mágica poética, nos quais a sensação
é realmente vívida e não apenas
pretexto para a discussão de ideias. É
o caso do poema seguinte, que pode
ser tomado, de fato, como a
expressão de um momento de
iluminação zen-budista:
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
O GUARDADOR DE REBANHOS
(1910/1911 – fragmentos)
V
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os
[efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério. 
Quem está ao sol e fecha os olhos
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os
[pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas
[árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz
[pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
“Constituição íntima das coisas...”
“Sentido íntimo do Universo...”
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas
[dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e
[pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo 
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as
[coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas
[ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma 
[missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e 
[luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e 
[montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si 
[próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e 
[montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
VI
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...
XXXVI
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem 
[constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a 
[mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas 
[como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
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� Ricardo Reis
Ricardo Reis é cultor dos clás si cos
gregos e latinos. Seu paganismo deri -
va da lição dos escritores da Anti gui -
dade, mas revela também in flu ên cia
de Alberto Caeiro, no amor pela vida
rústica e no apego à Natureza. Sua
poesia, porém, distan cia-se mui to da
de Caeiro por ser cultíssima, mar cada
por sintaxe lati ni zante (gran des inver -
sões, enorme liberdade na ordem das
palavras, regências desu sadas) e
vocabulário raro, por vezes também
tomado ao latim. Sua poesia aborda
os temas clássicos da brevi dade da
vida, da necessidade de go zar o
presente, que é a única reali dade
acessível dian te da fatalidade da morte
que sem pre nos aguarda. Esta atitude
he donista (voltada para o prazer), ou
epicurista (decorrente da filosofia de
Epicuro), é associada a uma postura
estoica, que propõe a auste ri dade na
fruição dos prazeres, pois seremos
tanto mais feli zes quan to me nores
forem nossas ne cessi da des. Ricardo
Reis tem no poe ta latino Horácio
(século I a.C.) seu modelo literário, e
seus poemas são odes à maneira
antiga, com grande rigor de cons -
trução, com estrofes que alter nam
versos longos e breves, demé tri ca
perfeita e sem rimas.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.
(Ricardo Reis)
Tanto quanto vivemos, vive a hora
Em que vivemos, igualmente morta
Quando passa conosco,
Que passamos com ela.
(Ricardo Reis)
Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero.
Em ti como nos outros creio deuses mais velhos
Só te tenho por não mais nem menos
Do que eles, mas mais novo apenas.
Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço,
Que te querem acima dos outros teus iguais
[deuses.
Quero-te onde tu ‘stás, nem mais alto
Nem mais baixo que eles, tu apenas.
Deus triste, preciso talvez porque nenhum
[havia
Como tu, um a mais no Panteão e no culto,
Nada mais, nem mais alto nem mais puro
Porque para tudo havia deuses, menos tu.
Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida 
É múltipla e todos os dias são diferentes dos
[outros,
E só sendo múltiplos como eles
‘Staremos com a verdade e sós.
(Ricardo Reis)
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e
[aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos
[enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do
[Fado, 
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a
[pena cansarmo-nos,
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos
[como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que
[levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos
[olhos, 
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio
[sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
(...)
(Ricardo Reis)
� Álvaro de Campos
É em Álvaro de Campos, nas ci -
do em 1890, que encon tra mos a in -
quietação metafísica de Pessoa e
seu lado “moderno”, caracte ri za do
pela vontade de conquista, pelo
amor à civi lização e ao pro gres so
(e ao mesmo tempo cons ciên cia
desse mundo) e por uma lin gua gem
de tom irreverente. Essa “mo der -
 nidade” tem ligações claras com o
cosmopolita Cesário Verde, com
Walt Whit man e com o Futuris mo.
Sen tindo e inte lec tualizando suas
sen sações (sentir e pensar), Cam pos
per cebe a impos si bilidade de não
pensar, observa criti camente o
mundo e a si próprio, angustiando-
se diante do tempo inexo rável e do
ab sur do da vida. “Poeta sensaci o -
 nista e por vezes es can da lo so”
(qua lifica ti vos da carta de Pessoa a
A. Casais Monteiro), Cam pos é o pri -
meiro a fazer um retrato de si e a
referir cir cunstâncias biográficas, o
que refor ça a simula ção que daria ao
próprio Fernando Pessoa estí mulos
para se manter na pele do heterô ni -
mo. Des creve-se de “mo nó culo e
ca saco exagerada mente cintado”,
“franzino e civiliza do”, “pobre enge -
nhei ro preso a su ces sibilíssimas vi -
tó rias”.
Escreve, febril, “à dolorosa luz das
grandes lâmpadas elétricas da fá brica”,
ou no “cubículo”, ouvindo “o tic-tac
estalado das máquinas de es crever”.
É o outro radical, moderno, en ge -
nheiro, paradoxal, sadoma so quis ta,
inconciliado, “neurótico”.
Vale-se de uma prosa disposta em
forma poética, com versos frequen te -
mente desencadeados e assimé tri cos,
além de caracteres tipográ ficos,
sobrecarga de sinais de pon tuação e
outras “anomalias” discur sivas.
Entre seus poemas mais co nhe -
cidos, citam-se: “Tabacaria”, “Lisbon
Re vi sited”, “Saudação a Walt
Whitman”, “Opiário”, “Ode Triunfal”,
“Ode Marí tima” e “Poema em Linha
Reta”.
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LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não
[me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das 
[ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro 
[da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem1, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, cotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de
[qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a
[vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero
[ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da
[companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que 
[eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca
[tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero
[estar sozinho!
(Álvaro de Campos)
Vocabulário
1 – Macem: do verbo maçar (chatear).
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos
[do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo
[que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada 
[constantemente de gente,
Para uma rua inacessível a todos os 
[pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, 
[desconhe cidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das
[pe dras e dos seres,
Com a morte a pôr umidade nas paredes e
[cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo
[pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a 
[ver dade
Estou hoje lúcido, como se estivesse para
[morrer.
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa
[e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma
[partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um
[ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e
[achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa
[real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa
[real por dentro.
(...)
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não
[desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó
[que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que
[sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu 
[fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de
[defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar
[existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e
[não valia nada.
(...)
(Álvaro de Campos)
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido cam peões
[em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco,
[tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência
[para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos
[tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, 
[sub misso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido
[mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos 
[moços de fretes,
Eu, quetenho feito vergonhas finan cei ras,
[pedido emprestado sem pagar;
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me
[tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas
[coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste
[mundo.
(...)
(Álvaro de Campos)
TEXTOS
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Texto para o teste 1.
1. (MACKENZIE) – No contexto da obra do poeta, a ima gem “alma
vestida” (verso 6) pode ser correta men te compreendida assim:
a) desde a infância o indivíduo incorpora valores culturais com os quais
define sua percepção de mundo e da vida.
b) o ser humano é fundamentalmente mesquinho: nunca se revela
sincero nos relacionamentos.
c) porque nascemos com o pecado original, a realização religiosa estará
sempre comprometida.
d) a essência da alma humana é inatingível.
e) nosso espírito está sempre protegido dos apelos mundanos.
RESOLUÇÃO:
Componente central da poesia de Alberto Caeiro, heterônimo-
mestre de Fernando Pessoa, é a denúncia dessa “alma vestida”
que nos priva da visão verdadeira das coisas.
Resposta: A 
Leia o poema de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, e
responda aos testes 2 e 3:
1 – Adônis: na mitologia grega, um jovem de notável beleza, o favorito da deusa
Afrodite.
2 – Volucre: efêmero, transitório.
3 – Apolo: na mitologia grega, o deus do Sol.
4 – Insciente: não ciente, ignorante.
2. (ALBERT EINSTEIN-2021) – No poema, o eu lírico aspira à
a) beleza das rosas.
b) inconsciência das rosas.
c) imortalidade dos deuses.
d) transitoriedade da luz.
e) indiferença dos deuses.
RESOLUÇÃO:
As rosas do jardim de Adônis são inconscientes, inscientes a
respeito da duração de sua existência efêmera. Nascem e morrem
enquanto há a luminosidade do sol, não conhecem o lado noturno,
sombrio da existência. Nesse poema de Ricardo Reis, um dos
heterônimos de Fernando Pessoa, a inconsciência sobre a
efemeridade da vida é a postura que o eu lírico sugere a Lídia,
convidando-a a não ter preocupação com o lado agônico e sombrio
da existência, ainda que a vida seja breve.
Resposta: B
3. (ALBERT EINSTEIN-2021) – Em “Que em o dia em que nascem”
(verso 3), os termos sublinhados referem-se, respectivamente, a
a) “jardins” e “rosas”.
b) “rosas” e “rosas”.
c) “rosas” e “dia”.
d) “jardins” e “dia”.
e) “rosas” e “jardins”.
RESOLUÇÃO:
O primeiro pronome relativo que, no início do verso 3, substitui o
antecedente “rosas”, no final do verso 2. O segundo pronome
relativo substitui a palavra “dia”.
Resposta: C
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender.
(...)
(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)
As rosas amo dos jardins de Adônis1,
Essas volucres2 amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
Antes que Apolo3 deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes4, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
(Fernando Pessoa, Obra Poética)
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Texto para as questões de 1 a 3.
1. O romance A Falência (1901) costuma ser vinculado ao Pré-Moder -
nismo, pois veicula uma análise crítica da realidade brasileira de sua
época. Tendo-se em mente que a trama desse romance se passa em
1891, ou seja, nos anos iniciais da Primeira República, que evento
histórico é enfocado no trecho em análise e que será de vital importância
para a narrativa de Júlia Lopes de Almeida? 
RESOLUÇÃO:
O diálogo em análise permite perceber que o contexto da narrativa
é o do Encilhamento, mais especificamente a Crise do Encilha mento,
que se deu no início da República do Brasil. Trata-se de uma política
econômica engendrada por Rui Barbosa, Ministro da Fazenda da
época, que tinha como intenção estimular o desenvolvimento
brasileiro, por meio do incentivo ao acesso ao crédito a industriais
através do aumento da emissão de papel-moeda. No entanto, essa
política não foi bem estruturada e controlada, o que provocou o
crescimento desenfreado da especulação financeira, a ponto de
criar uma bolha de crédito. A consequência foi uma crise política e
econômica generalizada, na qual vai se ver o protagonista do
romance, Francisco Teodoro, que vai à bancarrota, se matar.
2. A ponderação de Francisco Teodoro revela sua visão de mundo,
responsável pela situação em que se encontra no momento enfocado
no trecho, primeiro capítulo de A Falência. Explique, com base na fala do
protagonista, de que maneira ele avalia que deva ser o processo de
enriquecimento.
RESOLUÇÃO:
Francisco Teodoro expressa, em seu discurso direto, a descrença no
enriquecimento repentino, ou seja, por meio de especulação, como
dizem que ocorrera com Gama Torres, que estocara café esperando
a alta dessa commodity. Para o protagonista — e a personagem
baseia-se em experiência pessoal —, o enriquecimento é fruto do
empreendimento no comércio.
Depois de um riso fraco e desafinado, ouviu-se a vozinha
aflautada do Inocêncio, perguntando a Teodoro:
— Aqui seu vizinho Gama Torres é que fez um casão de um dia
para o outro, hem?
— Homem, sempre é verdade aquilo?!
— Se é!... Tenho provas... Afinal, eu inspirei-o um pouco no
negócio...
Fixaram todos a vista no Inocêncio Braga. Era um homem
pequenino, magro, com uns olhinhos negros, febris e um fino bigode
castanho, quase imperceptível.
— Custa-me a crer nesses milagres... — Ponderou Teodoro,
pousando a xícara na bandeja que o Isidoro oferecia.
— Afirmo; questão de arrojo. Presumiu alta, abarrotou o armazém
e esperou a ocasião. O sogro ajudou-o, está claro...
— Não meditou nas consequências que poderiam sobrevir se
desse uma baixa.
— Quem fala em baixa?! Eu só lhe digo que o comércio do Rio
de Janeiro seria o melhor do mundo se tivesse muitos homens
como aquele. Senhores, a audácia ajuda a fortuna. Fiquem certos
que o bom negociante não é o que trabalha como um negro, e segue
a rotina dos seus antepassados analfabetos. O negociante moderno
age mais com o espírito do que com os braços e alarga os seus
horizontes pelas conquistas nobres do pensamento e do cálculo. O
Torres é de bom estofo; é destes. Conheço os homens.
(ALMEIDA, Júlia Lopes de. A Falência. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 29.)
MÓDULO 11 Análise de Texto
FRENTE 3Análise de Textos
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3. O trecho em análise faz menção a elementos que antecipam
eventos centrais para a trama de A Falência, principalmente no que se
refere a Francisco Teodoro. Identifique-os, relacionando-os à história do
protagonista. 
RESOLUÇÃO:
O excerto faz referência à riqueza repentina e chamativa do
brasileiro Gama Torres, fruto da especulação. Essa ascensão
provocará a inveja de Francisco Teodoro, que ambiciona ser o mais
importante comerciante de café no Brasil e até mesmo o líder da
colônia portuguesa em nosso país. Por isso, após muita hesitação,
deixa-se seduzir por Inocêncio Braga, aceitando fazer parte de um
investimento que promete ser bastante lucrativo. O problema é
que ele não “meditou nas consequências que poderiam sobrevir
se desse uma baixa”, ameaça anunciada no diálogo em estudo e
que de fato funciona como profecia. O preço do café sofreu uma
violenta queda no mercado internacional, provocando um efeito
dominó marcado por inúmeras falências, inclusive a do próprio
protagonista, que, envergonhado, suicida-se.
4. Analise as proposições sobre o romance A Falência, de Júlia Lopes
de Almeida:
I. Esse romance apresenta uma narrativa linear, abrangendo o período
que vai de 1891 a 1893. Nota-se o efeito do Encilhamento, que
atingiu a família de Francisco Teodoro.
II. Embora Catarina pertença a umafamília de classe média, ela não
goza de qualquer autonomia profissional, mas não aceita a postura
submissa da mulher.
III. Francisco Teodoro apoia as reivindicações de Catarina no que
concerne à participação da mulher na vida social, como exemplifica
sua atitude em relação às filhas.
Está correto o que se afirma em
a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) I, apenas.
RESOLUÇÃO:
Francisco Teodoro não aceita a participação da mulher na vida
social. Para ele, a mulher deve limitar-se às funções domésticas.
Resposta: A
5. Ainda a respeito de A Falência, é correto afirmar que
a) Gervásio assume, no final da narrativa, a relação com Camila.
b) Francisco Teodoro é um homem rico e muito perspicaz no ambiente
econômico.
c) a traição masculina é vista com complacência, enquanto a feminina
é intolerável.
d) Mário, apesar de amar Nina, prefere se casar com Paquita, mulher
rica.
RESOLUÇÃO:
No contexto do romance e da sociedade patriarcal, há tolerância no
que se refere à traição masculina e intransigência no que tange ao
adultério feminino. Ressalve-se que o adultério de Camila é de
conhecimento público, mas é ignorado pelo marido. As demais
adúlteras foram punidas ou com a morte, ou com a separação.
Resposta: C
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Texto para os testes 6 e 7.
6. No excerto lido, o narrador noticia a percepção de Camila sobre sua
viuvez como algo real e simbólico. Pois, se ao morrer Francisco Teodoro,
seu marido, houve a morte também de seu ideal de vida burguês, agora,
diante do rompimento com Gervásio, seu amante, para a protagonista,
além da relação amorosa “real”, morre-lhe também
a) a imagem social.
b) o ideal amoroso.
c) a consideração social.
d) a reconciliação com Mário.
RESOLUÇÃO:
Segundo o texto lido, com o fim de sua relação amorosa com
Gervásio, Camila “... perdia a ilusão do amor, a fé divina na
felicidade duradoura, o melhor na terra...”.
Resposta: B 
7. No segundo parágrafo desse excerto, tem-se
a) discurso direto.
b) discurso indireto.
c) discurso indireto livre.
d) discurso do narrador.
RESOLUÇÃO:
No segundo parágrafo, há discurso indireto livre, em que o
narrador capta a fala interior da personagem Camila.
Resposta: C
Texto para o teste 8.
8. Nesse excerto do capítulo XIV, a personagem Ruth vai à casa das
tias Itelvina e Joana, no Morro do Castelo, e tem uma revelação. Pode-se
dizer que essa epifania se refere
a) à falência do pai.
b) ao caráter sublime da arte.
c) à diferença de classes sociais.
d) ao adultério da mãe.
RESOLUÇÃO:
Ruth, adolescente rica, nota os maus-tratos que a tia Itelvina dirige
à mulher negra agregada, Sancha, e conscientiza-se, nesse
momento, da diferença de classes sociais. Houve a abolição dos
escravos, mas, no contexto em que se passa a narrativa, 1891-1893,
continuam os maus-tratos.
Resposta: C
Aquela noite do Castelo, tão simples, tão monótona, fora uma
revelação! Era bem certo que a lágrima existia, que irrompiam
soluços (...). Por quê? Que direito teriam uns a todas as primícias e
regalos da vida, se havia outros que nem por uma nesga viam a
felicidade?
Sabia da história de Sancha: uma negrinha vinda aos sete anos da
roça para a casa das tias, com sentido no pão e no ensino. 
(Júlia Lopes de Almeida, A Falência)
... estava bem certa de que aquele era o dia de sua segunda
viuvez.
Perdera na primeira o aconchego, as honras da sociedade, a
fortuna e um amigo calmo, que não a repudiaria nunca... Na segunda,
perdia a ilusão do amor, a fé divina na felicidade duradoura, o melhor
bem na terra!
(...)
Oh! ser honesta, viver honesta, morrer honesta, que felicidade!
Se pudesse voltar atrás, desfazer todos aqueles dias de sonho e de
ebriedade, recomeçar os labores antigos da insossa domesticidade
de esposa obediente, sem imaginação, sem vontade, feliz em ser
sujeita, em servir a um só homem, com que pressa voltaria para
evitar esta humilhação, pior que todas as mortes, porque vinha dele,
que ela amava tanto! Amava ainda. Ainda!
Olhou com desprezo para seu belo corpo de mulher ardente. Era
um despojo, de que valia? Lembrou-se com terror das filhas, aquelas
crianças nascidas dela, predestinadas para o Sofrimento.
Caminhariam alegremente para o Amor, e o Amor só lhes daria
decepção e miséria.
Numa angústia, Camila interrogou com olhar ansioso a treva
muda: Senhor, que haveria no mundo para salvação das almas
doloridas?!
Alguma coisa falou-lhe no ar, um rasgo de poesia, que subia as
estrelas: a música de Ruth. A essência da lágrima purificava-se ao
som, com um poder de infinita pacificação.
Então a viúva teve inveja da filha, daquele ideal puríssimo, que
não lhe traria nunca o travo de um desengano.
A arte a consolaria do homem, pensou, quando chegasse o dia
de o amar e de o servir...
Maldita a natureza, que a fizera, a ela, só para o amor!
(ALMEIDA, Júlia Lopes de. A Falência. São Paulo: 
Penguin Classics Companhia das Letras, 2019. p. 294-295.)
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Texto para o teste 1.
One and Three Chairs (1965), de Joseph Kosuth. Museu Rainha Sofia, Espanha.
(Disponível em: www.museoreinasofia.es. 
Acesso em: 4 jun. 2018. – adaptado.)
1. (2020) – A obra de Joseph Kosuth data de 1965 e se
constitui de uma fotografia de cadeira, uma cadeira
exposta e um quadro com o verbete “Cadeira”.
Trata-se de um exemplo de arte conceitual que revela o paradoxo entre
verdade e imitação, já que a arte
a) não é a realidade, mas uma representação dela.
b) se fundamenta na repetição, construindo variações.
c) não se define, pois depende da interpretação do fruidor.
d) resiste ao tempo, beneficiada por múltiplas formas de registro.
e) redesenha a verdade, aproximando-se das definições lexicais.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2020] A obra One and Three Chairs, de Joseph Kosuth,
composta de uma fotografia de cadeira, de uma cadeira e de um
quadro com o verbete de dicionário que conceitua “cadeira”,
propõe uma reflexão sobre a essência da arte. Essa visão crítica
revela que o objeto artístico não é a realidade, mas sim uma
representação dela.
Resposta: A
Texto para o teste 2.
Campo Relampejante (1977), de Walter de Maria.
(Disponível em: www.ballardian.com. 
Acesso em: 12 jun. 2018.)
2. (2020) – Na obra Campo Relampejante (1977), o
artista Walter de Maria instalou hastes de ferro, em
espaços regulares, em um campo de 1.600 metros
quadrados no Novo México. O trabalho faz parte do movimento artístico
Land Art, que trata da 
a) constituição da cena artística marcada pela paisagem natural,
modificada pela multimídia.
b) ocupação de um local vazio sem função específica, passando a
existir como arte.
c) utilização de equipamentos tradicionais como suporte para a
atividade artística.
d) divulgação de fenômenos científicos que dialogam com a estética
da arte.
e) exposição da obra em locais naturais e institucionais abertos ao
público.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2020 – digital] Walter de Maria, para criar Campo
Relampejante, valeu-se de uma área aberta, na qual instalou hastes
de ferro que, ao atraírem os raios de uma tempestade, originam
uma criação artística única.
Resposta: B
Cadeira – s. f. 1 assento
com encosto e pernas, ger.
para uma pessoa 2 fig. lugar
de honra ocupado por
político, cientista, literato
etc, 3 fig disciplina: cátedra
MÓDULO 12 Análise de Texto
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Textos para o teste 3.
3.
(2020) – A provocação desse grupo gera um debate
em torno da obra de arte pela(o)
a) recusa a crenças, convicções, valores morais, estéticos e políticos na
história moderna.
b) frutífero arsenal de materiais e formas que se relacionam com os
objetos construídos.
c) economia e problemas financeiros gerados pela recessão que
tiveram grande impacto no mercado.
d) influência desse grupo junto aos estilos pós-modernos que surgiram
nos anos 1990.
e) interesse em produtos indesejáveis que revela uma consciência
sustentável no mercado.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2020] A provocaçãodesse grupo consiste em utilizar nas
obras diversos materiais inusitados e alguns escatológicos, como
esterco de elefantes e sangue, os quais se incorporam nos artefatos
para, conforme se lê no texto II, expressar os “detritos da vida” e
uma “atmosfera de niilismo”.
Resposta: B
Textos para o teste 4.
4. (modificado) – A partir dos textos apresentados, os
trabalhos que são pertinentes à criação popular
caracterizam-se por
a) temática nacionalista que abrange áreas regionais amplas.
b) produção de obras utilizando materiais e técnicas tradicionais da arte
acadêmica.
c) ligação estrutural com a arte canônica pela exposição e recepção em
museus e galerias.
d) abordagem peculiar da realidade e do contexto, seguindo criação
pessoal particular.
e) criação de técnicas e temas comuns a determinado grupo ou região,
gerando movimentos artísticos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2013 – 2.a aplic.] Para se chegar à alternativa correta, é
preciso ater-se ao texto de Lélia Coelho Frota, que afirma:
“indivíduos (...), na área da visualidade, gerarão uma obra de feição
original, autoral, única (...), a fim de criar seu projeto artístico, a
sua identidade social.” Dessa passagem, conclui-se que a “criação
popular” (como as carrancas apresentadas) resulta de uma
“abordagem peculiar da realidade e do contexto, seguindo criação
pessoal particular”.
Resposta: D
Texto I
Mother and Child (1993, detalhe), de Damien Hirst. Vaca
e bezerro divididos em duas partes, vidro, aço pintado,
silicone, acrílico, monofilamento, aço inoxidável, solução
de formaldeído, 1.029 x 1.689 x 625 mm.
Texto II
O grupo Jovens Artistas Britânicos (YABs), que surgiu no final da
década de 1980, possui obras diversificadas que incluem fotografias,
instalações, pinturas e carcaças desmembradas. O trabalho desses
artistas chamou a atenção no final do período da recessão, por utilizar
materiais incomuns, como esterco de elefantes, sangue e legumes,
o que expressava os detritos da vida e uma atmosfera de niilismo,
temperada por um humor mordaz.
(FARTHING, S. Tudo sobre Arte.
Rio de Janeiro: Sextante, 2011 – adaptado.
Disponível em: http://damienhirst.com.
Acesso em: 15 jul. 2015.)
Texto I
Exemplares da carranca vampira. Sucesso nas feiras de artesanato do
Nordeste brasileiro, a carranca vampira consiste numa adaptação, inspirada
no filme japonês A Fuga de King Kong (1967), das antigas carrancas de proas. 
(Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-figura-
tradicao-carrancas-sao-francisco-filme-king-kong-japones.phtml.
Acesso em: 11 fev. 2021.)
Texto II
Partindo do chão coletivo da comunidade rural ou das cidades, à
medida que se impregna de um ethos urbano — seja por migração,
seja pela difusão de novos conteúdos midiáticos —, irão surgindo
indivíduos que, na área da visualidade, gerarão uma obra de feição
original, autoral, única. O indivíduo-sujeito recorre à memória para a
construção de uma biografia, a fim de criar seu projeto artístico, a sua
identidade social.
(FROTA, L. C. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro: 
século XX. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2005.)
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Textos para o teste 5.
5. A pintura-mural de Picasso e a fotografia retratam os
efeitos do bombardeio, ressaltando, respectiva -
mente, 
a) crítica social – conformismo político.
b) percepção individual – registro histórico.
c) realismo acrítico – idealização romântica.
d) sofrimento humano – destruição material.
e) objetividade artística – subjetividade jornalística.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2012 – 2.a aplic.] O sofrimento humano e a destruição
material são os dois aspectos que se destacam, respectivamente,
nas duas representações da cidade de Guernica bombardeada.
Resposta: D
Texto para o teste 6.
Iemanjá, de J. Borges. Xilogravura.
6. A xilogravura é um meio de expressão de grande
força artística e literária no Brasil, especialmente no
Nordeste brasileiro, onde os artistas populares
talham a madeira, transformando-a em verdadeiras obras de arte. Com
total liberdade artística, hoje já conquistaram espaço entre os diversos
setores culturais do país, retratando cenas
a) do seu próprio universo, revelando personagens com aparência
humilde em vestes requintadas.
b) com temas de personagens do folclore popular, crenças e futilidades
dos mais necessitados.
c) de conteúdo histórico e político do Nordeste brasileiro, com a
intenção de valorizar as diferenças sociais.
d) das grandes cidades, com a preocupação de uma representação
realista da figura humana nordestina.
e) com personagens fantasiosas, beatos e cangaceiros presentes nas
crenças da população nordestina. 
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2011 – 2.a aplic.] As xilogravuras tematizam os mitos da
cultura nordestina.
Resposta: E
Em 1937, Guernica, na Espanha, foi bombardeada sob o
comando da força aérea da Alemanha nazista, que apoiou os
franquistas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
Guernica, de Pablo Picasso. Pintura-mural.
(Disponível em: www.museoreinasofia.es.)
(Disponível em: http://mrzine.monthlyreview.org.)
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Texto para o teste 7.
(IMODESTO. “As colunas do Alvorada podiam ser mais fáceis de construir, 
sem aquelas curvas. Mas foram elas que o mundo inteiro copiou.” 
Brasília 50 anos. Veja. N.° 2.138, nov. 2009.)
7. Utilizadas desde a Antiguidade, as colunas,
elementos verticais de sustentação, foram sofrendo
modificações e incorporando novos materiais com
ampliação de possibilidades. Ainda que as clássicas colunas gregas
sejam retomadas, notáveis inovações são percebidas, por exemplo, nas
obras de Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro (1907-2012). No desenho
de Niemeyer, das colunas do Palácio da Alvorada, observa-se
a) a presença de um capitel muito simples, reforçando a sustentação.
b) o traçado simples de amplas linhas curvas opostas, resultando em
formas marcantes.
c) a disposição simétrica das curvas, conferindo saliência e distorção à
base.
d) a oposição de curvas em concreto, configurando certo peso e
rebuscamento.
e) o excesso de linhas curvas, levando a um exagero na ornamentação.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2011] Nas duas figuras simétricas, nota-se “o traçado
simples de amplas linhas curvas opostas”. A forma marcante da
curva é o fundamento da arquitetura de Niemeyer.
Resposta: B
Texto para o teste 8.
Soldados no Front, de Carlos Scliar. Xilografia sobre papel, 32,7 x 21,9 cm.
(Disponível em: http://www.mac.usp.br/mac/menuLateral.asp?op=8#.
Acesso em: 01 maio. 2009.)
8. A gravura acima, de Carlos Scliar, que se refere à
experiência da guerra na Itália em 1944, relaciona-se
com
a) a experiência impressionista chamada pontilhismo.
b) a técnica de pintura que desenvolveu um gênero original
denominado cubismo sintético.
c) a realidade do contexto de vida pop, conforme se percebe no tema
e nas personagens que compõem a cena.
d) a forma de representação chamada abstração, antinaturalista,
geométrica e distante do mundo material.
e) o movimento expressionista, como se percebe na mensagem
emocionalmente carregada de solidão e medo que ela transmite.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] As expressões de sofrimento e dor das personagens
retratadas vinculam a xilografia de Scliar ao movimento
expressionista.
Resposta: E 
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Texto para o teste 9.
Cry me a River, de Lina Kim. Instalação com camisas de força, pia, baldes, torneira,
espelho, lâmpada, 2001.
(CANTON, K. As Nuances da Cidade. Bravo!, n. 54, mar. 2002.)
9. A imagem reproduz a instalação da paulista Lina Kim,
apresentada na 25.ª Bienal de São Paulo em março
de 2002. Nessa obra, a artista se utiliza de elementos
dispostos num determinado ambiente para propor que o observador
reconheça a/o
a) recusa à representação dos problemas sociais.
b) questionamento do que seja razão.
c) esgotamento das estéticas recentes.
d)processo de racionalização inerente à arte contemporânea.
e) ruptura estética com movimentos passados.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018 – 2.a aplic.] A disposição aleatória desses elementos
em que se inclui uma camisa de força leva ao questionamento do
que se considera como razão.
Resposta: B
Textos para o teste 10.
10.
A obra de Ernesto Neto revela a liberdade de criação
abordada no texto por
a) destacar o papel da arte na valorização da sustentabilidade.
b) romper com a estrutura dos referenciais estéticos contemporâneos.
c) envolver o espectador ao promover sua interação com a obra.
d) reproduzir no espaço da galeria um fragmento da realidade.
e) utilizar a linearidade de estilos artísticos anteriores.
RESOLUÇÃO:
[ENEM] O espectador interage com o objeto artístico, abandona a
atitude meramente contemplativa e passiva da fruição tradicional. 
Resposta: C
Texto I
Dancing on the Cutting Edge, de Ernesto Neto. Instalação interativa, 2004.
(Disponível em: http://dailyserving.com. 
Acesso em: 29 nov. 2013.)
Texto II
Os artistas, liberados do peso da história, ficavam livres para fazer
arte da maneira que desejassem ou mesmo sem nenhuma
finalidade. Essa é a marca da arte contemporânea, e não é para
menos que, em contraste com o Modernismo, não existe essa coisa
de estilo contemporâneo.
(DANTO, A. Após o Fim da Arte: a arte contemporânea e 
os limites da história. São Paulo: Odysseus, 2006.)
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Texto para a questão 1.
1 – Conde D. Henrique de Borgonha, o Bom, cruzado e pai de D. Afonso
Henriques, funda o reino português, no século XII, separando-se de Castela.
1. Explique o título Mensagem.
RESOLUÇÃO:
Mensagem deveria intitular-se, inicialmente, Portugal, ambas as
palavras com oito letras, número que simboliza o infinito. Esse
esoterismo e esse elemento simbólico encontram respaldo em
Mensagem, já que o também numerólogo Fernando Pessoa criou
uma obra que vai muito além da abordagem dos mitos das
Grandes Navegações que expandiram o Império Português. Nesse
livro, elaborou-se uma série de símbolos imanentes ao caráter de
Portugal e que precisariam vir à tona, para reerguer a nação. Nota-se
a busca da transcendência do que fez a grandeza lusa. Há um
nacionalismo místico, sebastianista, profético, de um supraPortugal,
retomando-se, intertextualmente, a epopeia camoniana Os Lusíadas.
No prefácio de Mensagem, afirma-se: “O entendi mento dos
símbolos e dos rituais simbólicos exige do intérprete que possua
cinco qualidades ou condições sem as quais os símbolos serão para
ele mortos, e ele um morto para eles.” Isso vai ser retomado nos
poemas de Mensagem: tentar elencar os símbolos e remeter o país
ao destino grandioso e metafísico a que está ligado
indissoluvelmente.
Texto para o teste 2.
2. Os versos consistem
a) na expressão do medo dos portugueses frente ao imenso e
desconhecido mar, fator que impediu que as Grandes Navegações
ocorressem antes.
b) numa invocação ao mar, como se nota na apóstrofe, na qual, nos
versos seguintes, o eu lírico relata a conquista de um sonho que
provém da coragem de navegar.
c) numa descrição do mar e de todos seus pormenores, revelando o
conhecimento náutico dos lusos.
d) no detalhamento náutico do empreendimento colonialista português
para desbravar o mar e conquistar terras.
e) na ânsia de Portugal de adicionar territórios a seu império, como um
desejo divino e interesse mercantilista.
RESOLUÇÃO:
“Horizonte” é um poema iniciado com uma invocação ao mar.
Posteriormente, há referência a sua imensidão e a seu aspecto
desconhecido. Mas, para além de seus perigos e mistérios, há
também o “sonho” de desbravá-lo, chegando-se, assim, à
transcendência humana.
Resposta: B 
SEGUNDA PARTE
MAR PORTUGUÊS
II
HORIZONTE
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
‘Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
(Fernando Pessoa, Mensagem)
PRIMEIRA PARTE
BRASÃO
Terceiro
O CONDE D. HENRIQUE1
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
“Que farei eu com esta espada?”
Ergueste-a, e fez-se.
(Fernando Pessoa, Mensagem)
MÓDULO 13 Análise de Texto
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Texto para as questões de 3 a 5.
3. “Mar Português” faz referência ao contexto expansionista das
Grandes Navegações, no qual Portugal desempenhou importante papel
no século XV. Explique sob que perspectiva é retomado esse fato
histórico.
RESOLUÇÃO:
Embora no texto fique evidente que a expansão marítima
ocasionou mortes e tragédias pessoais, ela é exaltada como a
chegada a um outro patamar por parte desse povo heroico, que, ao
conquistar o mar, conquistou o espelho do céu, superou-se, tornou-se
transcendente e mítico.
4. Como se percebe que a aventura portuguesa é realizada por uma
coletividade?
RESOLUÇÃO:
O emprego da primeira pessoa do plural (“cruzarmos”, “nosso”) e
o segundo verso (“São lágrimas de Portugal!”) evidenciam o
caráter coletivo da empreitada náutica desse país.
5. Quais as figuras de linguagem presentes no verso “Para que fosses
nosso, ó mar”?
RESOLUÇÃO:
Há a figura de sintaxe denominada elipse, na omissão do sujeito tu,
e a figura de pensamento denominada apóstrofe, “ó mar”.
Considere as estrofes a seguir, de Os Lusíadas, para responder à
questão 6:
1 – Vitupério: injúria, prejuízo, dano.
6. Esse trecho de Os Lusíadas, estrofes do canto IV, episódio do “Velho
do Restelo”, faz referência ao contexto das Grandes Navegações
portuguesas. O que há em comum na visão de Camões, em Os
Lusíadas, e na de Pessoa, em “Mar Português”, acerca desse fato da
história de Portugal?
RESOLUÇÃO:
A primeira estrofe de “Mar Português” vai ao encontro das
palavras do Velho do Restelo em Os Lusíadas, lamentando todas as
perdas humanas e demais consequências do empreendimento das
Grandes Navegações portuguesas. Movidos pela aventura
expansionista, os portugueses ousaram enfrentar os perigos do
mar. Entre as consequências, como as inúmeras mortes daqueles
que embarcaram nessas viagens, há também o fato, hiperbólico, de
que grande parte da salinidade marítima provém das lágrimas do
povo luso, que chorou a morte e as tragédias pessoais decorrentes
dessa empreitada heroica.
X
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa, Mensagem)
95
“Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles exp’rimentas!
96
“Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios1;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
“A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que

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