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AD2 2021.2 - GABARITO Literatura

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1 
 
 
 
GABARITO AD2 – 2021.2 
DISCIPLINA: LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR 
Coordenação: Profª Ana Maria de Bulhões Carvalho 
QUESTÃO 1 (2 PONTOS) 
Ouça no audio complementar incluído no Módulo II, a leitura do 
conto abaixo, Um bilhete, de Machado de Assis, disponível na 
plataforma. 
 
Antes mesmo que acabasse o baile, Maria Adelaide dizia à mãe que 
não queria ficar um minuto mais que fosse. 
— Que é isso? disse-lhe a mãe. Deu uma hora agora mesmo. 
— Não quero saber. Vamo-nos embora. 
— Ora, meu Deus! 
— Vamos, vamos. 
Não havia que dizer, a mãe era governada pela filha, e perderia o 
lugar no céu, se tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se 
que não cedia pouco desta vez; cedia a ceia, que era excelente, e a 
boa viúva professava esta filosofia: — que as ceias excelentes são 
preferíveis às boas, as boas às más e as más às que não têm 
existência. Sacrificava a melhor parte do baile; mas, enfim, 
contanto que a filha não padecesse. 
Padecer, padecia. No carro, logo que as duas entraram, Maria 
Adelaide começou a ralhar com tudo, com o carro, com a capa, com 
o calor, com o pó, com a mãe e consigo mesma. A mãe entendeu 
logo: era algum desgosto que o Chico Alves lhe dera. Realmente, 
lembrou-se que o Chico Alves, indo despedir-se delas, nem alcançou 
que Maria Adelaide olhasse para ele. A moça deu-lhe os dedos, a 
pontinha apenas, e falou-lhe de costas; naturalmente estavam 
brigados. 
A viagem foi atribulada. Nunca o mau humor da moça foi tamanho 
nem tão explosivo. A mãe pagou pelo namorado, mas como era 
prudente e estava com fome, preferiu não dizer nada. 
Em casa, continuou o mau humor. A pobre criada da moça padeceu 
como nunca. Maria Adelaide entrou para os seus aposentos, furiosa, 
despiu-se às tontas, dizendo coisas duras, rasgando uma das 
mangas do vestido, atirando as flores ao chão, raivosa e indignada 
sem causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse embora, e 
ficando só rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, ia 
falando, mordendo os lábios, dando punhadas nos joelhos. Depois 
arrancou da cadeira, foi à secretária e escreveu este bilhete: 
2 
 
Nunca pensei que o senhor fosse tão pérfido. Nunca imaginei que 
pudesse proceder como fez no baile; creia que não manifestei o 
meu desgosto por dois motivos: — o primeiro, porque ainda tive 
força de me dominar; segundo, porque depois do que o senhor me 
fez, nada pode haver mais entre nós. Case-se com a viúva, se quer. 
Mande as minhas cartas e adeus. Esta determinação é irrevogável. 
Qualquer tentativa de reconciliação obrigar-me-á ao que não quero. 
Tinha dado expansão à cólera, deitou-se para dormir. O sono não 
veio logo; a raiva agitou a pobre moça, e só quando começou a 
madrugada foi que ela pôde dormir um pouco. No dia seguinte, o 
Chico Alves recebia este bilhete: 
Desculpa algumas palavras que te disse ontem no baile. Estava 
muito zangada. Vem hoje tomar chá, e eu te explico tudo. 
(Conto publicado em A Estação em 1885) 
(https://pt.wikisource.org/wiki/Um_Bilhete, consultado em 
18/9/2020) 
Em geral essas respostas não geraram problemas. 
RESPONDA: 
 
1.1 Apresente, dos elementos singularizantes, as 
personagens do conto, explicando suas características. 
[SE falam de todos os elementos, dou 0,3] 
 Maria Adelaide: Uma menina que se faz presente como a personagem 
principal da narrativa. Suas características no conto é recheado de 
adjetivos ruins para um ser humano, por exemplo como autoritária e 
desrespeitosa, principalmente com sua mãe que faz todas as suas 
vontades e diante disso Maria Adelaide age de um jeito que não é 
aconselhável ser seguido por outras pessoas. 
 Mãe de Maria Adelaide: Uma senhora simples e viúva, que se priva 
de suas vontades, para agradar a amada filha. Prisioneira dos 
caprichos da filha, cada dia mais desamparada no seu emocional vê a 
filha com modos errados, porém não pode chamar a atenção dela 
para não aborrece-la. 
 Chico Alves: Mesmo sendo um personagem que não tenha 
participado com fala é citado algumas vezes e dá para notar que é o 
namorado de Maria Adelaide, onde o mesmo aborreceu a moça e por 
isso dela estar tão nervosa e zangada com ele e com todos ao seu 
redor. 
 Criada de Maria Adelaide: Como Chico Alves, a criada também não 
participa do conto com diálogo direto, mas sim é citada como a 
https://pt.wikisource.org/wiki/Um_Bilhete
https://pt.wikisource.org/wiki/Um_Bilhete
https://pt.wikisource.org/wiki/Um_Bilhete
3 
 
empregada de Maria Adelaide, a qual é tratada com muita arrogância 
e ignorância pela sua patroa. 
 
1.2 Apresente o elemento singularizante narrador que conduz a 
história, enfatizando seu tipo. 
 Considere, na resposta, o reforço de expressão oferecido pela leitura 
do ator Othon Bastos, para considerar o tipo de narrador. 
 O narrador domina história, portanto é onisciente, narra em terceira 
pessoa, mas tem intimidade com as personagens de quem interpreta 
as ações como se fosse testemunha delas. Por exemplo, quando 
retrata Maria Adelaide escrevendo o bilhete: “Assim mesmo sozinha, 
ia falando, mordendo os lábios, dando punhadas nos joelhos.” O texto 
do bilhete é por ele mostrado ao leitor, como se fosse um segredo do 
qual só ele privasse, além da autora enraivecida. 
Portanto, é um narrador onisciente testemunha. Não deixo de dar 0,5 
quando falam de narrador testemunha, ou intruso, sem mencionar 
que seriam um tipo de onisciente. Mas faço o comentário 
1.3 Como descreve a ação apresentada no conto? Fale 
do tempo e do espaço em que ocorre a ação em seus 
desdobramentos. 
A ação se desenvolve em volta de uma jovem muito complicada em seus 
modos, muito impulsiva, que por caprichos amorosos próprios descarrega 
toda sua raiva em sua pobre mãe, uma mulher que por capricho da filha se 
priva de viver sua própria vida e de fazer suas próprias escolhas. A ação 
também é baseada onde a jovem destrata sua criada, que ao estar fazendo 
seu trabalho é desrespeitada pela patroa. A jovem é muito compulsiva e 
pode dizer agressiva também, pelo motivo da raiva do namorado quebra as 
coisas em casa, como também agride com palavras a mãe e a criada, e por 
fim antes de se deitar escreve uma carta para terminar seu relacionamento. 
Na conclusão nota-se que a jovem custando a dormir, mesmo que de 
madrugada, se acalma e refaz a carta endereçada ao namorado, no qual na 
anterior dizia que terminava o namoro e a atual que mandou para o seu 
namorado pedia desculpas pelo ocorrido na noite anterior e o convidava 
para de manhã tomar um chá e assim eles iriam conversar sobre o ocorrido. 
 Não considerei ponto cheio para quem falou só da época 
1.4 Qual o conflito da narrativa? Como a construção do 
conto explicita o conflito? 
4 
 
O conflito é o núcleo da ação. Pode-se resumir a ação: desagradada por 
alguma atitude do seu noivo Chico Alves num baile aonde fora, com a 
mãe, para encontrá-lo, Maria Adelaide exaspera-se e decide voltar à 
casa antes do término da festa, extravasando toda sua fúria nos modos 
destemperados e num bilhete raivoso que escreve, terminando o 
noivado. Adormece e no dia seguinte, refeita, escreve o bilhete que 
realmente manda entregar, aguardando o noivo para um chá onde, 
como forma de desculpas, quer explicar-lhe o modo como lhe falara no 
baile. 
O conflito parece motivado por uma cena de ciúme da para de Maria 
Adelaide. Mas pela atitude ao final, parece ao leitor que ela mesma 
considera sua reação exagerada. Se chegou a haver conflito psicológico, 
ela mesma o desfaz, após extravasar sua raiva e dormir uma noite. 
O narrador não explica as passagens, as ações dão conta do movimento 
e das emoções sugeridas. 
Os dois bilhetes são a prova da mudança de estado de espírito de Maria 
Adelaide, quase como uma metalinguagem, pois os textos citados é que 
comprovam os estados emocionais. 
Em geral esta resposta está centrada no conflito.QUESTÃO 2 
Sobre o fantástico 
Mais uma vez, usaremos o argentino Jorge Luiz Borges, mestre do 
fantástico. No Prólogo de O livro dos seres imaginários, explica: “Nos 
ativemos [...] ao que imediatamente sugere a locução ‘seres imaginários’; 
compilamos um manual dos estranhos entes que engendrou, ao longo do 
tempo e do espaço, a fantasia dos homens” (p.XI) O livro foi escrito em 
1967 e, na tradução de Carmen Cirne Lima, publicado pela editora Globo, 
em 1982. 
Vejam como desafia nossa imaginação esta imagem com que abre o 
pequeno texto sobre “O Minotauro”(p.97): 
A ideia de uma casa feita para que as pessoas se percam talvez seja 
mais extravagante que a de um homem com cabeça de touro, mas as 
duas se ajudam e a imagem do labirinto convém à imagem do 
minotauro. Fica bem que no centro de uma casa monstruosa haja um 
habitante monstruoso. 
(Conheça o Minotauro e o labirinto lendo os verbetes do Dicionário de 
Mitologia Grega em 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/409973/mod_resource/cont
ent/2/demgol_pt.pdf) 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/409973/mod_resource/content/2/demgol_pt.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/409973/mod_resource/content/2/demgol_pt.pdf
5 
 
 
2.1 Com base na Aula 5, responda: o que a leitura deste texto 
causa? Justifique sua resposta. 
O modo como resumidamente e sem maiores explicações fala de uma casa 
feita pra que as pessoas se percam coloca de imediato o leitor numa 
postura de desconfiança: casa não é o termo usado para o local que abriga 
e conforta? Portanto, o uso da palavra casa para indicar labirinto traz o 
primeiro efeito de estranhamento, de desconforto, até de medo. 
2.2 Que termos nessa passagem de Borges indicam que a narrativa 
pertence ao gênero fantástico? Explique e exemplique. 
O próprio autor faz um jogo com este estranhamento e aquele outro, já 
mais naturalizado pelo uso, de homem com cabeça de touro, como se o 
personagem descrito no nome impressionasse menos do que o seu nome, 
Minotauro. Se este ser híbrido é um monstro, a casa em que ele habita teria 
que ter a característica monstruosa de não ser um lugar que acolhe mas 
que o faz temer não ser capaz de poder dela sair. Uma casa que amedronte 
é, no mínimo, fantástica. 
(Fora do texto, apenas como exemplo de outra casa fantástica, pense na 
casa da bruxa do João e Maria, feita de coisas comestíveis... Seria linda, se 
não imaginássemos que dentro morava a terrível bruxa!) 
QUESTÃO 3 
Leia a fábula “A tartaruga e a águia” do escritor grego Esopo (620 
a.C.?-564 a.C.?). 
Uma tartaruga pediu a uma águia que a ensinasse a voar. A ave tentou 
dissuadi-la: 
– Voar é completamente contrário à sua natureza. 
Mas a tartaruga suplicou e insistiu ainda mais. Então a águia pegou a 
tartaruga com suas garras, levou-a até bem alto no céu e depois a soltou. A 
tartaruga caiu nos rochedos e se espatifou. 
3.1 Apesar de curta, a narrativa contém os elementos principais 
da fábula. Explicite e exemplifique quais são. 
1.Animais com comportamentos humanos, com ações e desejos além 
do domínio da linguagem para explicitá-los. 
6 
 
2. Moral da história. No caso desta fábula, a moral não está explicita. 
Na recriação da fábula clássica pelo pós-classicismo do século XVII, a 
moral costumava ser mais destacada ao final. 
3.2 Esta pequena fábula parece remeter ao mito grego referido 
nesta avaliação. Explore a relação que se pode estabelecer 
entre eles. 
Sim, o primeiro texto, indiretamente faz referência à história de outro 
ser que quis voar sem que essa condição lhe fosse natural, ou que 
tivesse condições técnicas suficientes, como Ícaro, filho de Dédalo, o 
construtor do labirinto, que acabou ficando preso nele com Ícaro seu 
filho. Tiveram a ideia de fazer assas de penas coladas com cera de 
abelha. Ícaro quis chegar perto do sol, as penas descolaram, a cera 
derreteu com o calor e ele caiu no mar. 
Pode-se dizer que a ideia de ultrapassar os limites da própria 
natureza em a ver com ambição e vontade de poder desmesurado. A 
tartaruga não queria mais viver com a cara próxima ao chão. Ícaro 
não queria só sair do labirinto mas aproveitar o invento para ser 
outro mais importante. A natureza cobrou um preço, em ambos os 
casos. 
Esta questão em geral não foi bem respondida, porque o convite a 
fazer uma pesquisa sobre o labirinto foi atendida por poucos... De 
modo que a referência a Dédalo ficou esquecida. A maioria só tece 
0,5 relativos à resposta que buscou pontos semelhantes netre a 
fábula da tartaruga e o mito. 
QUESTÃO 4 (valor 2,0 – no Diário de Bordo) 
Sobre a criação e a lembrança de textos 
Diz, Ricardo Píglia, escritor argentino, um leitor de Borges: “A leitura é a 
arte de construir uma memória pessoal a partir de experiências e 
lembranças alheias. As cenas dos livros lidos voltam como lembranças 
privadas”. 
Exercício de recriação e intertextualidade. 1. Lembre-se de um livro, 
ou de um texto literário completo, de ficção, e ou de um 
personagem que o impressionou na Literatura infantil. 2. Escreva 
uma página de diário pessoal imaginário em que conte um sonho em 
que você se vê como esta personagem, ou a encontra numa 
determinada aventura. Mas conte de tal modo que o leitor do seu 
sonho possa identificar a referência original, embora você não diga 
7 
 
explicitamente qual seja. Na correção será avaliada a sua 
capacidade de explicitar a intertextualidade e a recriação no texto 
de diário que criar. 
Este exercício provocou respostas pessoais. Mais bem resolvidas quando 
davam um final surpreendente, não se limitavam a recontar. 
QUESTÃO 5 (2 pontos) análise de texto ficcional em prosa 
Espírito natalino, de Moacyr Scliar 
 
"Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SP." 
(Caderno Cotidiano - Folha de S. Paulo - 18/12/01) 
 
Primeira coisa que ele fez, ao chegar em casa, foi tirar a roupa de Papai 
Noel: estava muito quente, suava em bicas. Também queixou-se de dor na 
coluna. Isso é por causa do saco que você carrega, observou a mulher. De 
fato pesava bastante, o tal saco. A razão ficou óbvia quando ele esvaziou o 
conteúdo sobre a mesa: revólveres, granadas, submetralhadoras, vários 
pentes de munição. Já não dá para sair de casa sem um arsenal, 
resmungou. O seu mau humor era tão óbvio que ela tentou amenizá-lo, 
puxando conversa. Como foi o seu dia, perguntou. 
- Um desastre foi a azeda resposta. - Mais uma vez errei a pontaria. Já é a 
segunda vez nesta semana. 
- Isto é o cansaço - disse ela. 
- Você precisa de um repouso. Amanhã você vai ficar em casa, não vai? 
- De que jeito? Tenho trabalho. 
- Amanhã? No dia de Natal? 
- O que é que você quer? É a minha última chance de usar a fantasia de 
Papai Noel Tenho de aproveitar. 
Suspirou: 
- Vida de pistoleiro de aluguel é assim mesmo, mulher. Natal, Ano Novo, 
essas coisas para nós não existem. Primeiro a obrigação. Depois a 
celebração. 
Ela ficou pensando um instante. - Neste caso - disse -, vamos antecipar a 
nossa festinha de Natal. Vou lhe dar o seu presente. 
Abriu um armário e de lá tirou um caprichado embrulho. Surpreso, o 
homem o abriu com mãos trêmulas. E aí o seu rosto se iluminou: 
- Um colete à prova de balas! Exatamente o que eu queria! Como é que 
você adivinhou? 
- Ora - disse ela, modesta, afinal de contas eu conheço você há um bocado 
de tempo. 
Ele examinava o colete, maravilhado. E aí notou que ele era todo enfeitado 
com minúsculos desenhos. 
- O que é isto? perguntou intrigado. 
8 
 
Ela explicou: eram pequenas árvores de Natal e desenhos do Papai Noel, 
trabalho de uma habilidosa bordadeira nordestina: 
- Para você lembrar de mim quando estiver trabalhando. 
Ele começou a chorar baixinho. Em silêncio, ela o abraçou. Compreendia 
perfeitamente o que se passava com ele. Ninguém é imune ao espírito 
natalino. 
(Texto extraído do jornal Folha de S. Paulo, São Paulo, edição de 
24/12/2001, publicadocom o título "Espírito natalino".) 
 
5.1 Considere os dois textos, a manchete de jornal e o texto 
literário, e as datas de sua publicação. Comente a relação que se 
pode estabelecer entre ambos. 
 
Pelas datas percebe-se que a manchete, de 18.12 antecede ao texto do 
Scliar. Na certa esta leitura o provocou o autor da ficção a criar uma versão 
completa da história, aproveitando para humanizar as figuras do ladrão e 
sua mulher, daí chamar de “espírito natalino”, um espírito amoroso e 
fraterno que ele parece então compartilhar... 
 
5.2 O que torna singular este texto, a partir da análise das 
personagens nele apresentadas? 
 
É que elas, em seu comportamento, vão se afastando do estereótipo de 
pessoas duras, sem coração, que imaginamos ser os criminosos que 
roubam na noite de Natal. 
Não houve muitos problemas nestas respostas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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