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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6646-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 6 9 Código Logístico 59446 Ao longo desta obra, são abordadas situações em primeiros socorros comuns no ambiente escolar, com orientações sobre o modo correto de agir, conforme os protocolos para leigos. Afinal, crianças e jovens costumam pular, correr, sal- tar etc. Essas atitudes tornam a ocorrência de pequenos acidentes algo comum, inclusive no ambiente escolar. Sa- bendo disso, torna-se imprescindível que os professores e demais profissionais presentes nesse espaço estejam pre- parados para agir em situações que requeiram cuidados de prevenção e/ou de atendimento em primeiros socorros. As práticas esportivas, muito estimuladas no ambien- te escolar, também podem favorecer o acontecimento de situações que precisam do atendimento de primeiros so- corros, tendo em vista que exploram velocidade, equilíbrio e coordenação motora dos alunos, entre outros fatores. Torna-se imprescindível, assim, a capacitação em primei- ros socorros de professores, em prol da prevenção de acidentes e de suporte à vida. Em caso de necessidade de atendimento de emergência, esse conhecimento pode salvar uma vida. P R EV EN Ç Ã O D E A C ID EN T ES E S O C O R R O S D E U R G ÊN C IA N O A M B IEN T E ES C O LA R T H A IS E N O VA ES G LA S ER Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar Thaise Novaes Glaser IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa:Macrovector/ Sylvie Bouchard/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G457p Glaser, Thaise Novaes Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar/ Thaise Novaes Glaser. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 112 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6646-9 1. Primeiros socorros. 2. Emergências médicas. I. Título.. 20-64005 CDD: 616.0252 CDU: 616-083.98 Thaise Novaes Glaser Especialista em Urgência e Emergência e MBA em Ergonomia pela Faculdade Inspirar. Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fepar). Professora no nível superior, em cursos de graduação e de pós-graduação. Fisioterapeuta, socorrista, conselheira técnica, empresária, diretora de uma empresa de treinamentos de primeiros socorros, consultora em ergonomia e palestrante. Associada à Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo). SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Primeiros socorros no ambiente escolar 9 1.1 Aplicação, diretrizes e legislação 10 1.2 Biossegurança e cinemática do trauma 13 1.3 Avaliação do estado geral da vítima 17 2 Suporte básico de vida 30 2.1 Obstrução de vias aéreas 30 2.2 Parada cardiorrespiratória 39 3 Situações de intervenção em primeiros socorros no ambiente escolar 46 3.1 Emergências clínicas 47 3.2 Ferimentos e hemorragias 67 4 Trauma na prática esportiva 76 4.1 Trauma em cabeça e face 76 4.2 Trauma em coluna cervical 81 4.3 Trauma musculoesquelético 84 5 Prevenção de acidentes no contexto escolar 92 5.1 Acidentes e incidentes 92 5.2 Ações de prevenção de acidentes 99 6 Gabarito 109 Crianças e jovens costumam pular, correr, saltar etc. Parece até que eles gostam de correr riscos, não é? Essas atitudes tornam a ocorrência de pequenos acidentes algo comum, inclusive no ambiente escolar. Sabendo disso, torna-se imprescindível que os professores e demais profissionais presentes nesse espaço estejam preparados para agir em situações que requeiram cuidados de prevenção e/ou de atendimento em primeiros socorros. As práticas esportivas, muito estimuladas no ambiente escolar, também podem favorecer o acontecimento de situações que precisam do atendimento de primeiros socorros, tendo em vista que exploram velocidade, equilíbrio e coordenação motora dos alunos, entre outros fatores. Diante disso, é preciso entender a importância da capacitação em primeiros socorros de professores em prol da prevenção de acidentes e de suporte à vida. Em caso de necessidade de atendimento de emergência, esse conhecimento pode representar o grande diferencial para a vida ou morte de uma possível vítima. Assim, ao longo deste livro, abordaremos situações em primeiros socorros comuns no ambiente escolar, orientando o modo correto de agir, conforme os protocolos para leigos. No capítulo 1, falaremos das aplicações, diretrizes e legislação dos primeiros socorros no ambiente escolar, enfatizando, ainda, os cuidados com a biossegurança e cinemática do trauma. No capítulo 2, o foco está no suporte básico à vida, objetivando identificar e agir em situações de asfixia e parada cardiorrespiratória. No capítulo 3, enfatizaremos as situações comuns que requerem intervenção em primeiros socorros no ambiente escolar, especialmente no que se refere a emergências clínicas, ferimentos e hemorragias. No capítulo 4, falaremos sobre os tipos de traumas que podem ocorrer na prática esportiva, orientando quanto à identificação correta dos tipos de trauma, bem como à maneira adequada de agir em cada situação. Por fim, no capítulo 5, fecharemos explanando sobre a prevenção de acidentes no contexto escolar – entendendo que a aplicação de ações preventivas pode fazer toda diferença –, além de priorizar a saúde, segurança e integridade dos alunos no ambiente escolar. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Primeiros socorros no ambiente escolar 9 1 Primeiros socorros no ambiente escolar A atuação em primeiros socorros pode ser bastante comum no ambiente escolar, tendo em vista que, apesar da tentativa de cuidado e prevenção de acidentes, a escola acomoda crianças das mais diversas idades, com variados graus de maturidade e cons- tantemente estimula atividades lúdicas e recreativas, além de práti- cas esportivas, que podem dar origem a acidentes que necessitem de intervenção. Os primeiros socorros envolvem a realização de procedimen- tos para o atendimento adequado à vítima que necessite de ajuda imediata. Seja qual for a situação, existem diretrizes e legislação para indicar o que se deve ou não fazer, evitando, assim, o em- prego de ações defasadas ou que piorem a situação. Diante das diversas intercorrências de urgência que podemos encontrar no ambiente escolar, saber reconhecer as situações de risco e agir diante das necessidades específicas faz toda a diferença na vida da vítima, minimizando a ocorrência de possíveis sequelas. Neste primeiro capítulo, além de conhecer a aplicação dos pri- meiros socorros no ambiente escolar, suas diretrizes e sua legis- lação, vamos enfatizar a necessidade de garantir a biossegurança, através da cinemática do trauma, e compreender as etapas de uma abordagem primária para se conhecer o estado geral da vítima. 10 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar1.1 Aplicação, diretrizes e legislação Vídeo Os primeiros socorros envolvem ações e atitudes de um socorris- ta, seja ele leigo ou profissional, que permitam atendimento imedia- to à pessoa em situação de risco à saúde ou até mesmo risco à vida. O objetivo é manter as funções vitais da vítima e evitar circunstâncias que agravem a sua condição. Embora qualquer pessoa possa prestar os primeiros socorros, ao iniciá-los, espera-se que o socorrista saiba o que está fazendo, com atitudes adequadas para cada caso específico, mesmo que não seja um profissional da saúde. As diretrizes da American Heart Association (2015) afirmam que a educação e o treinamento em primeiros socorros precisam estar universalmente disponíveis, pois podem ser úteis para reduzir a mortalidade, seja por lesões ou por doenças. Diante da demanda do ambiente escolar e das inúmeras possibili- dades de um aluno sofrer algum tipo de acidente, por mais simples que seja, é fundamental que aqueles que atuam nesse ambiente tenham acesso a informações sobre as principais ocorrências, como evitá-las e, também, o modo de agir frente às situações que exigem cuidados ime- diatos, visando evitar complicações e garantir a sobrevida da vítima. Apesar disso, é preciso sempre priorizar o envolvimento de médicos, socorristas e enfermeiros, quando se fizer necessário. Esse conhecimento é possível somente através da capacitação e do treinamento, com temas personalizados e adequados à realidade do ambiente escolar e que estejam de acordo com o dia a dia dos profes- sores junto a seus alunos. Aqui, estamos falando de responsabilidade e cuidado de vidas por parte dos professores que prestam o primeiro atendimento; portanto, não se enquadram soluções “caseiras”, simpa- tias, “achômetros”, tampouco a administração de remédios por conta própria ou sem receita médica. Logo, precisamos gerar conhecimento e qualificação em primeiros socorros adequados para esses profissionais. Desafio Se você nunca passou por uma situação de urgência ou emergência, é possível que essa realidade dos primeiros socorros pareça muito distante, como se algo desse tipo nunca fosse, de fato, acontecer com você ou à sua volta. Para que tenhamos noção da realidade, procure notícias de acidentes no ambiente escolar. Leia-as e identifique as causas deles. Procure também em cada notícia se há relato de quem prestou o primeiro atendimento (se profissional da saúde ou leigo). Aponte suas conclusões. Primeiros socorros no ambiente escolar 11 Em função do aperfeiçoamento constante da medicina e da área da saúde de modo geral, é preciso que estejamos atentos e atualizados quanto às últimas novidades sobre os primeiros socorros realizados por leigos. Vele lembrar que as técnicas usadas no futuro poderão ser bem diferentes e muito melhores do que os métodos recomendados atualmente. Isso exige a necessidade de estudos constantes e busca por novas informações e diretrizes. Ainda que estejamos sempre atualizados, ao realizar um atendimen- to de primeiros socorros, não teremos nunca o objetivo de substituir o atendimento médico necessário. A aplicação dos primeiros socorros no ambiente escolar será sempre uma ação imediata, na qual devemos re- conhecer os limites de nossa capacitação e treinamento. Isso significa que vamos fornecer assistência apenas para as situações às quais esta- mos qualificados, de modo que, na tentativa de ajudar, não venhamos a comprometer a saúde da vítima ou agravar a situação com atitudes inadequadas, comuns quando não estamos devidamente preparados. Entendendo que no espaço escolar é comum a ocorrência de aciden- tes, a Lei n. 13.722, sancionada em 2018, determina que os educadores e funcionários de escolas tenham preparo, orientação e treinamento para tomar providências rápidas e eficazes nos casos de acidentes, bem como capacitação para a prevenção desses eventos. Essa lei sur- giu pela ação incansável de familiares do menino Lucas, de 10 anos, que foi vítima de asfixia por obstrução mecânica das vias aéreas, ao se engasgar com um lanche servido pela escola. Com a demora no socor- ro, a fatalidade não pôde ser evitada, resultando na morte da criança. Essa tragédia chocou milhares de pessoas e levantou a possibilidade de se criar uma lei que tivesse o objetivo de evitar a ocorrência de episó- dios como esse. De evitar que mais crianças fossem vítimas da falta de conhecimento, da falta de capacitação e da falta de treinamento. Afinal, quantos Lucas, Marias, Thiagos, Joanas etc. já podem ter perdido suas vidas em situações como essas, não é mesmo? Embora a Lei n. 13.722/2018 (carinhosamente chamada de Lei Lu- cas) ainda esteja engatinhando Brasil afora, espera-se que todos to- mem ciência da importância de sua aplicação, entendendo-a como uma responsabilidade social que protege nossas crianças e que, se for devidamente aplicada, pode salvar vidas. Para saber mais sobre a história do Lucas, que ge- rou a Lei n. 13.722/2018, e encontrar dicas de pri- meiros socorros, acesse o site Movimento Vai Lucas. Disponível em: https://vailucas.com. br/. Acesso em: 17 abr. 2020. Site https://vailucas.com.br/ https://vailucas.com.br/ Em suma, a Lei Lucas torna obrigatória a capacitação básica de primeiros socorros de professores e demais funcionários de estabe- lecimentos de ensino de educação básica (públicos ou privados) e de estabelecimentos de recreação infantil. Assim, os profissionais dessa área saberão identificar e agir preventivamente em situações de emer- gência e urgência médicas até que o suporte médico especializado possa realizar o devido atendimento (BRASIL, 2018). Se devidamente aplicados, os procedimentos de socorros em urgência e emergência aumentam em 80% a chance de sobrevida de uma vítima. Ao aplicar os primeiros socorros à realidade e à necessidade de uma instituição escolar, os conteúdos programáticos precisam ser desenvol- vidos com base em diretrizes adequadas para leigos. A American Heart Association (2015) determina diretrizes para socorristas leigos no que se refere ao suporte básico à vida. Há, ainda, recomendações do Ministério da Saúde, pela Portaria n. 2.048, de 5 de novembro de 2002, a respeito das condições no atendimento de urgências e emergên- cias, incluindo o atendimento de assistência primária. Outro material que pode ser seguido como recomendação em primeiros socorros é o Protocolo de Atendimento ao Trauma (PHTLS), normalmente direciona- do aos profissionais de saúde, mas que pode ser aplicado por socorris- tas leigos dentro de suas limitações e qualificações. Os primeiros socorros são aplicados em qualquer situação em que alguém precise de ajuda. Porém, as situações de urgência e/ou emer- gência sempre precisam de um suporte médico especializado para Você também pode acessar a Lei n. 13.722/2018 e acom- panhar os documentos oficiais atualizados sobre ela por meio do site do planalto. Disponível em: http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/lei/L13722.htm. Acesso em: 17 abr. 2020. Dica Figura 1 A capacitação em primeiros socorros para professores e funcionários de escolas é obrigatória por lei. Ra wp ixe l.c om / S hu tte rs to ck 12 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar dar continuidade ao atendimento, após esse primeiro contato com a vítima nos primeiros socorros. Se considerarmos o cresci- mento da necessidade de serviços nessa área, por conta da quanti- dade de acidentes, entendemos a área da urgência e emergência, com atendimento de profissionais qualificados, como um importan- te componente de assistência à saúde (BRASIL, 2002). Primeiros socorros no ambiente escolar 13 Todos devem saber identificar situações de ris- co, agindo, primeiramente, em favor da prevenção de acidentes no ambiente escolar. Ainda assim, se um acidente traumático ou uma condição de agravo clínico da saúde de um aluno acontecer, o profes- sor deve assumir o papel de socorrista leigo e iniciaros primeiros socorros. Ele deve colocar em prática o conhecimento adquirido no curso oferecido pela escola anualmente, obedecendo à legislação. Essa ação pode auxiliar na recuperação da criança e na estabilidade dos sintomas até que os profissionais de saúde a atendam. Ao se deparar com uma situação mais grave, em que você não se sente capaz de ajudar, não se intimide. Ajude a vítima entrando em contato com os serviços de atendimento especializado, seja através do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), pelo telefone 192, ou do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma (SIATE), pelo telefone 193. Você, ainda, pode acionar empresas particulares que realizem esses tipos de atendimento. Caso tenha dúvida sobre qual dos serviços públicos de emergência chamar, afinal, eles atuam em casos distintos, acesse o site da Secretaria de Segurança Pública e conheça as ocorrências que cada órgão prioriza. Disponível em: https://www.pia.pr.gov.br/servicos/Servicos/Apoio- -ao-turista/Acionar-servicos-de-emergencia-Samu-e-Siate-JGoMv- N0e. Acesso em: 17 abr. 2020. Atenção 1.2 Biossegurança e cinemática do trauma Vídeo Quando iniciamos um atendimento de primeiros socorros no am- biente escolar, precisamos ter conhecimento sobre o que estamos fazendo e, acima de tudo, optar por ações ou procedimentos segu- ros, a fim de garantir que, ao tentar ajudar alguém, não sejamos mais uma vítima. Quando falamos em primeiros socorros na escola, onde as víti- mas podem ser bebês e crianças, precisamos saber que a urgência pressupõe agilidade, mas nunca descuido com a biossegurança, mes- mo diante da necessidade de tomada de decisão de maneira rápida e assertiva. O socorrista pode estar exposto a diversos riscos, como infecções, contaminações e, inclusive, novos acidentes. Sendo assim, a biossegurança nunca deve ficar em segundo plano, mesmo diante da rapidez que um atendimento pré-hospitalar pode exigir. Pode parecer um pouco egoísta garantir primeiro a sua segurança, mas de nada adiantaria se jogar em uma piscina funda para salvar al- guém que está se afogando sem saber nadar, por exemplo; ou tocar em uma vítima de choque elétrico sem antes remover a fonte de ener- gia; ou, ainda, conter uma hemorragia com suas próprias mãos sem proteção, com possibilidade de sair contaminado do atendimento. Isso significa que garantir a segurança do socorrista é essencial, pois ele não deve ser o herói que dá a sua vidas pelas vítimas. Em segundo lugar vem a segurança da vítima e, então, a segurança dos demais envolvidos. Quando falamos em biossegurança, referimo-nos ao fato de priori- zar ações de proteção e de prevenção de novos acidentes na área do atendimento pré-hospitalar ou do atendimento de primeiros socorros realizado por leigos. Isso significa optar por ações ou medidas que ga- rantam que a vida do socorrista não seja colocada em risco. Significa, ainda, enfrentar a situação de atendimento à vítima, desde que a cena ou o ambiente estejam seguros, e que você, como socorrista, esteja devidamente protegido. Logo, quando falamos que a primeira preocu- pação do socorrista deve ser a própria segurança, devemos saber que esse item inclui tanto a segurança oferecida pelo ambiente – nesse caso, a escola – quanto a segurança pessoal, com uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI). Em todos os setores, os profissionais, oriundos ou não da área da saúde, devem ser capazes de reconhecer as fontes de infecção e instituir medidas protetivas. Uma vez que medidas imprudentes e sem conheci- mento técnico predispõem um maior risco de contaminação, compro- metendo todo o atendimento (OLIVEIRA; PAROLIN; TEIXEIRA JR., 2007). A exposição do socorrista ao sangue e aos fluídos corporais das ví- timas pode ser muito perigosa, pois é uma porta de entrada para vá- rias doenças. Dessa forma, os equipamentos de proteção individual dos socorristas devem ser compostos, no mínimo, por luvas, máscara e óculos. Esses equipamentos devem estar disponíveis nos kits de primeiros socorros ofereci- dos pela escola. Figura 2 EPI de socorristas Sherry Yates Young/ Shutterstock Óculos de proteção Máscara de proteção Luvas descartáveis 14 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar Primeiros socorros no ambiente escolar 15 De modo geral e simplificado, esses equipamentos ajudam a pro- teger os socorristas de um elenco de riscos biológicos, que podem ser encontrados até mesmo em atendimentos simples, realizados no am- biente escolar. As luvas devem ser colocadas antes de tocar a pele da vítima, as mucosas ou as áreas que estejam contaminadas com san- gue ou outros fluídos corporais (vômito, pus, fezes etc.); as máscaras são usadas para proteger as mucosas oral e nasal do socorrista, es- pecialmente quando há exposição a agentes infecciosos; os óculos de proteção devem ser utilizados sempre que houver a possibilidade de respingo de gotículas de fluidos ou sangue. O processo de garantir a nossa biossegurança enquanto socorris- tas inicia ao observarmos o ambiente do acidente, o que chamamos de cinemática do trauma. Nessa ação, buscamos, em um primeiro mo- mento, entender a gravidade da ocorrência e reconhecer as formas de garantir a segurança do socorrista. Significa, basicamente, observar a cena, a vítima e os sinais do ambiente que mostram como tudo acon- teceu. Quando o socorrista avalia a cena, antes de iniciar qualquer pro- cedimento, compreende o cenário e garante que o local esteja seguro para realizar a abordagem inicial, assim como o atendimento. Ao trabalhar com o conceito da tríade epidemiológica, na década de 1960, o Dr. Willian Haddon Jr., reconhecido como o pai da ciência de prevenção ao trauma, constatou que um trauma pode ser dividido em três fases temporais: pré-evento, evento e pós-evento (NAEMT, 2017). O pré-evento envolve as circunstâncias e os motivos que levaram à le- são traumática; o evento diz respeito ao momento do trauma real; o pós-evento compreende o desfecho do evento traumático. Na prática, o pré-evento seria você dizendo para o aluno: “não corra com os braços presos por dentro da blusa, pois se você se desequili- brar e cair não terá como apoiar suas mãos”. O evento seria, de fato, o aluno caindo e batendo com o rosto no chão, justamente por não conseguir apoiar as mãos para se proteger do impacto. O pós-evento seria você, professor, indo socorrer o aluno que está machucado, sem poder dizer “eu avisei”. É na primeira fase que está a prevenção do trauma. O evento per- mite que as ações realizadas nesse momento influenciem diretamente 16 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar o resultado do atendimento ao trauma. Na fase do pós-evento, as reais consequências do evento traumático são conhecidas. O componente inicial para se obter o histórico de um trauma é a avaliação do que ocorreu na fase do evento. Nesse caso, a energia que foi trocada pode ser estimada e uma suposição das condições resul- tantes do trauma pode ser feita. Quando o socorrista não compreen- de os mecanismos envolvidos, muitas lesões, possivelmente, passam despercebidas. O nível de suspeita aumenta quando se conhece os mecanismos de lesão, já que o padrão e o local dela se relacionam com a avaliação do local da ocorrência. Sendo assim, a integração dos princípios da cine- mática do trauma à avaliação da vítima é algo fundamental para des- cobrir possíveis lesões graves ou até mesmo fatais. Segundo Oliveira, Parolin e Teixeira Jr. (2007), mais de 90% das lesões de vítimas de aci- dentes podem ser percebidas e sinalizadas ao observar e interpretar os mecanismos que as produziram. Para ajudar uma vítima que precisa de atendimento de primeiros socorros, após garantir a biossegurança e realizar a análise da cena por meio da cinemática do trauma, é preciso realizar uma avaliação rápida das lesões ou alterações clínicas encontradas e instituir medidas ade- quadas de suporteà vida. Isso pode ser feito pela abordagem primária ou inicial. Assim, o conhecimento de anatomia é importante para que se entenda sobre os órgãos e estruturas do corpo humano, o que facili- ta a identificação de fatores de anormalidade no corpo, seja uma vítima de urgência decorrente de trauma ou de alterações clínicas. Desafio Na cinemática do trauma, fazemos uma análise da cena, buscando entender o que aconteceu ou o que ocasionou o acidente. Analisamos os efeitos desse acidente sobre o organismo da vítima para avaliar a gravidade e as pos- síveis consequências, além de pontuar as prioridades no atendimento. Pesquise uma fonte estatística que revele a lista de causas de óbitos em crianças de 0 a 12 anos no Brasil. Diante dos números e das causas que encontrar, responda: qual é a importância do trabalho de prevenção de acidentes com crianças nas escolas? A educação física é incen- tivadora do movimento e do desenvolvimento motor. Sendo assim, nessa prática, existem situações ou acidentes que demandam a ação em primeiros socorros. O livro Manual de primei- ros socorros da educação física aos esportes: o papel do educador físico no aten- dimento de socorro tem um direcionamento es- pecífico para o educador físico, focando, inclusive, nas principais ocorrências desse meio. SANTOS, E. F. dos. Rio de Janeiro: Galenus, 2014. Livro Primeiros socorros no ambiente escolar 17 1.3 Avaliação do estado geral da vítima Vídeo O primeiro objetivo em uma avaliação inicial (também chamada de abordagem inicial ou abordagem primária) é realizar a análise do seu sis- tema geral, ajudando, também, a definir as decisões de atendimento e transporte, assim como o conhecimento das condições básicas do seu sistema respiratório, circulatório e neurológico (NAEMT, 2018). As condi- ções que podem ameaçar a vida da vítima são identificadas nessa abor- dagem, assim, as intervenções de urgência podem ser aplicadas. Durante o atendimento à vítima, na abordagem primária, é preciso verificar em cada etapa as suas condições gerais. Isso é feito por meio da avaliação dos sinais vitais, os quais mostram o equilíbrio ou o dese- quilíbrio do organismo. Os sinais vitais revelam o funcionamento de quatro funções bási- cas do corpo: pulso (frequência cardíaca), respiração (frequência res- piratória), pressão arterial e temperatura. A verificação desses sinais é fundamental para a avaliação da vítima, pois eles guiam o diagnóstico primário e auxiliam os profissionais no acompanhamento do quadro clínico (OLIVEIRA; PAROLIN; TEIXEIRA JR., 2007). Pressão arterial A pressão arterial é a força exercida pelo sangue no interior das arté- rias. Quando a pressão sanguínea é aferida (verificada), obtém-se uma pressão sistólica e uma pressão diastólica. A pressão sistólica, ou pressão no sistema arterial quando o coração contrai, é maior que a diastólica, que é a pressão no sistema arterial quando o coração relaxa e enche-se de sangue. O valor limítrofe da pressão arterial, seja durante a sístole ou diásto- le, é, respectivamente, 130-139 mmHg e 85-89 mmHg. Em relação à terminologia, tem-se: • Normotensão: pressão normal. • Hipertensão: pressão arterial maior que 140 x 90 mmHg. • Hipotensão: pressão arterial menor que 100 x 60 mmHg. Fatores como idade, prática de atividades físicas, emoções, tempe- ratura corporal, dores, uso de drogas e volume de sangue podem afe- tar diretamente o resultado da pressão arterial. 18 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar Pulso O pulso é uma impressão ondular que pode ser sentida em uma das artérias periféricas, utilizando a ponta dos dedos. O valor de pulsação esperado em um adulto é de 60 a 100 bpm (batimentos por minuto). Em relação à terminologia, tem-se: • Normocardia: frequência de pulsação dentro dos valores de normalidade. • Taquicardia: frequência de pulsação dos adultos acima de 100 bpm. • Bradicardia: frequência de pulsação dos adultos abaixo de 60 bpm. Igualmente à pressão arterial, os fatores como idade, prática de ati- vidades físicas, emoções, temperatura corporal, dores, uso de drogas e volume de sangue podem afetar diretamente seu resultado. Respiração A respiração é o processo no qual ocorre a troca de gases, ou seja, inspira-se oxigênio e expira-se gás carbônico. Se o ar está entrando (inspiração) e saindo (expiração) dos pulmões, podemos dizer que a pessoa está ventilando. A quantidade de vezes que o ar entra e sai dos pulmões por minuto é chamada frequência respiratória. Em adultos, o valor esperado é de 12 a 20 movimentos respiratórios por minuto. Em relação à terminologia, tem-se: • Eupneia: frequência respiratória em adultos dentro do valor de normalidade. • Taquipneia: frequência respiratória em adultos acima de 20 mo- vimentos por minuto. • Bradipneia: frequência respiratória em adultos abaixo de 12 mo- vimentos por minuto. • Apneia: Ausência de respiração. Assim como a pressão e a pulsação, fatores como idade, prática de atividades físicas, emoções, temperatura corporal, dores, uso de dro- gas e volume de sangue podem afetar diretamente o resultado. Primeiros socorros no ambiente escolar 19 Temperatura A temperatura está relacionada com a produção e com a perda de calor do corpo. A idade e as atividades físicas podem alterar os valores da temperatura corporal. Seu controle é chamado de termorregulação; isso significa que o próprio organismo está buscando mecanismos de compensação para manter o corpo em temperatura adequada. Ela pode variar conforme a faixa etária ou o momento do dia, mas a média, em humanos, é de 36,8 °C. Em relação à terminologia, tem-se: • Normotermia ou eutermia: temperatura dentro dos valores de normalidade. • Hipotermia: temperatura corporal abaixo de 35 ºC. • Hipertermia: temperatura corporal acima de 40 ºC. Enquanto o metabolismo de crianças é mais acelerado, o de ido- sos é mais lento. Desse modo, os sinais vitais desse grupo apresentam valores de referência inferiores aos valores de normalidade dos adul- tos. É importante que você conheça, mesmo não sendo profissional da área, os parâmetros de adultos e saiba diferenciar as particularidades de sinais vitais de crianças e de idosos, considerando as diferenças de metabolismo entre as faixas etárias. Para atingir nossos objetivos no atendimento do trauma, precisa- mos identificar o problema, tratar a situação encontrada e reavaliar o paciente para saber se o que estamos fazendo está obtendo resultado. Para oferecer um atendimento organizado, que priorize as necessi- dades, é importante que o socorrista siga uma série de seis etapas. Es- sas etapas, segundo a versão do protocolo de trauma (NAEMT, 2018), são sempre sequenciadas por ordem de gravidade ou agravante para a saúde da vítima, e são representadas por seis letras: X, A, B, C, D, E. A seguir, apresentamos os significados do atendimento XABCDE. Nas crianças, os sinais vitais possuem valores de normalidade diferenciados se comparados aos dos adultos. De modo geral, o metabolismo delas é mais acele- rado, o que faz com que os sinais vitais apresentem valores de referência superiores aos valores de normalidade dos adultos. Acompanhe sempre os números limítrofes conforme atualizações das diretrizes em pediatria. Importante 20 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar X Controle de hemorragias graves (exsanguinante). A Atendimento das vias aéreas e controle da coluna cervical. B Ventilação. C Circulação (hemorragia e perfusão). D Disfunção neurológica. E Exposição e ambiente. A ordem das etapas mostra a hierarquia no atendimento primário em situações de risco iminente de morte. As hemorragias mais graves e de difícil controle (representadas na letra X) são prioridade diante das demais etapas do atendimento. Amputações, lacerações e outros san- gramentos importantes requerem prioridade de contenção, para evitar que a vítima tenha complicações devido à perda sanguínea.Posterior- mente, as demais etapas (A, B, C, D e E) são verificadas uma a uma. Os socorristas profissionais, no atendimento pré-hospitalar, se- guem essas etapas da abordagem primária como protocolo, agindo com experiência e utilizando equipamentos pré-hospitalares específi- cos em cada uma das fases (cânula de Guedel, máscara de oxigênio, lanterna ocular, colar cervical etc.). Já o socorrista leigo pode nunca ter ouvido falar delas, mas é impor- tante que saiba que elas existem e a sua relevância na identificação de fatores de risco para a vítima. Mesmo que não tenha experiência na realização de uma abordagem primária, ou, ainda, um conhecimento profundo dos equipamentos pré-hospitalares, conhecer suas etapas e saber aplicá-las pode contribuir muito quando os profissionais chega- rem para dar sequência ao atendimento da vítima. No entanto, para os socorristas leigos (professores e funcionários da escola) essas seis etapas de atendimento surgem como uma orientação do que fazer até o socorro chegar, e não como um protocolo (como no caso dos socorristas profissionais). Na prática, funciona assim: um aluno o chamou porque dois colegas colidiram, batendo suas cabeças durante uma prática esportiva. Você entra em ação. Depois de realizar a análise da cinemática do trauma (entender o que aconteceu, verificar como as cabeças se bateram e a parte do corpo afetada, se há outras estruturas envolvidas, qual foi o impacto/a força dessa batida etc.) e garantir a segurança do socorrista Primeiros socorros no ambiente escolar 21 (ambiente seguro, uso de EPI etc.), além da segurança das vítimas e dos demais presentes, e, ainda, após o acionamento dos serviços neces- sários, inicia-se, então, cada uma das etapas da abordagem primária enquanto o socorro não chega. 1.3.1 Etapa X – Controle de hemorragias graves ou exsanguinantes Essa etapa se refere ao controle de hemorragias graves (exsangui- nantes), que devem ser contidas antes de realizar o passo A. Já é com- provado que o que mais leva à morte no trauma é a hemorragia, ainda que a obstrução das vias aéreas (que corresponde ao passo A) seja a que mata mais rápido. Quando a pressão direta com o curativo compressivo não se mostrar uma forma eficaz de controle em lesões graves, principal- mente de extremidades, a técnica mais indicada para controle do sangramento é o uso de torniquete, desde que de forma correta e com cuidado ao tempo de aplicação. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa X da abordagem primária é: • localizar, após acionar o serviço de emergência e garantir sua segurança com equipamentos de proteção individual, materiais limpos que permitam o con- trole das hemorragias graves e evidentes; • fazer pressão sobre o sangramento, tentando estancá-lo; • fazer uso de torniquete improvisado quando a perda de sangue for muito in- tensa, como nos casos de amputação; • conversar com a vítima sempre, tentando acalmá-la. O rápido controle da hemorragia e da perda sanguínea é um dos objetivos mais significativos para o atendimento de uma pessoa que sofreu um trauma. A avaliação primária só pode prosseguir após esse controle. 22 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar 1.3.2 Etapa A – Vias aéreas e controle da coluna cervical Inicialmente, é importante que o socorrista fale com a vítima, inde- pendentemente do seu nível de consciência, informando seu nome, sua função e seu objetivo durante o atendimento. Depois desse contato inicial, a via aérea da vítima é, então, checada para garantir que esteja permeável, ou seja, aber- ta e limpa, e que não exista perigo de obstrução causa- da por qualquer tipo de objeto ou até mesmo pelo relaxamento da língua (em vítimas inconscientes). Para socorristas leigos, o indicado é abrir a boca da vítima tracionando sua mandíbula (puxando-a para frente), sem movimentar a região cervical (pes- coço), principalmente se for uma vítima de trauma na cabeça, na face ou no pescoço. Se houver algo (objeto, aparelho móvel etc.) nas vias áreas, é im- portante removê-lo com os dedos em forma de pin- ça ou gancho. Figura 4 Movimento de gancho Figura 5 Movimento de pinça wa tc ha ra p ho ch ar eu ng / S hu tte rs to ck A via aérea é fácil de ser avaliada em vítimas conscientes. Se ela está falando e comunicando-se, significa que a via aérea está livre. Porém, na vítima inconsciente, a língua fica mole e relaxada, como os demais Figura 3 Manobra de tração da mandíbula Primeiros socorros no ambiente escolar 23 músculos do corpo. Dessa forma, ela desliza para a parte posterior das vias aéreas, obstruindo a hipofaringe 1 e, consequentemente, a passa- gem de ar. A principal causa de obstrução de vias aéreas em pessoas inconscientes é o relaxamento da língua. Precisamos ficar atentos à via aérea, observando se ela está livre, mas é possível que a vítima in- consciente fique caída já com a cabeça para o lado, o que faz com que a língua também fique lateralizada e não obstrua a passagem do ar. Controle da coluna cervical Sempre que há uma vítima de trauma, deve-se suspeitar de lesões na região da coluna cervical. Na situação hipotética que colocamos, de dois colegas que colidem a cabeça, já haveria a necessidade dessa sus- peita. Até excluí-la totalmente, após avaliar e concluir que não há lesão na coluna cervical e na medula espinhal, a vítima deve ter essa região imobilizada. Sendo assim, enquanto se realiza a avaliação das vias aéreas, de- ve-se, também, manter a coluna cervical em posição neutra, a fim de evitar lesões. Isso pode ser feito com o socorrista mantendo a mão posicionada na cabeça da vítima, sempre no sentido gravitacional. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa A da abordagem primária é: • realizar, após efetuar a etapa X, o controle da coluna cervical da vítima, colocando a mão na sua cabeça/testa (sempre no sentido gravitacional), principalmente em vítimas de trauma ou em vítimas clínicas que possivelmente tenham batido a cabe- ça ou o pescoço; • abrir a boca da vítima tracionando leve- mente a mandíbula e evitando, ao máxi- mo, a movimentação do pescoço; • verificar, ao abrir a boca da vítima, se há algo obstruindo as vias aéreas (objetos ou alimentos podem ser removidos manual- mente quando o acesso for fácil). Figura 6 Controle da coluna cervical Região na parte inferior da faringe. 1 24 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar 1.3.3 Etapa B – Ventilação/respiração Nessa avaliação, o objetivo é saber se a vítima está ventilando (en- trada e saída de ar dos pulmões). Caso esteja, consequentemente sa- bemos que a respiração também está acontecendo. É nessa fase que observamos o sinal vital da frequência respiratória, lembrando que o valor esperado de normalidade em um adulto é de 12 a 20 movimentos respiratórios por minuto. É realizada, então, uma avaliação rápida, buscando ver a expansão e movimentação da caixa torácica, a fim de saber se é superficial ou profunda, além de ouvir possíveis ruídos. O objetivo é verificar se a ventilação é ruidosa ou silenciosa e sentir sua temperatura, ou seja, se é fria ou quente. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa B da abordagem primária é: • verificar, após a realização da etapa A, se a vítima está respirando – isso pode ser feito observando a expansão da caixa torácica, ouvindo a respiração e seus ruídos ou sentindo a temperatura do ar exalado pela vítima; • verificar a frequência respiratória por minuto, um dado importante a ser passado aos socorristas quando chegarem para dar continuidade ao atendimento. Figura 7 Ver Figura 8 Ouvir Figura 9 Sentir Primeiros socorros no ambiente escolar 25 1.3.4 Etapa C – Circulação Ainda fazendo parte da abordagem inicial ou primária, o próximo passo, após a verificação das vias aéreas, do controle cervical e da ven- tilação e respiração, é a etapa de verificação dacirculação. Na etapa C, em que a circulação sanguínea da vítima é verificada, além de buscar a presença ou ausência de pulsação em pontos especí- ficos, é o momento ideal para se fazer o controle de demais hemorra- gias e ferimentos que não foram contidos na etapa X. Nesse item da abordagem inicial, é avaliada a capacidade do orga- nismo em manter as funções do sistema circulatório, observando as características da pulsação e a perfusão periférica. Pulso Inicialmente, é verificada, na vítima, a presença de pulsação (varia- ção de pressão sanguínea durante os movimentos de expansão e rela- xamento da artéria). Para isso, existem artérias específicas superficiais (artéria radial, ulnar, braquial, femoral, carótida etc.) que revelam quantas pulsações por minuto essa vítima possui. A palpação é um excelente parâmetro para verificar o sistema cardiocirculatório. Indica-se utilizar o pulso carotídeo (onde passa a artéria carótida) para verificar a pulsação em vítimas que estejam inconscientes, o pulso radial (onde passa a artéria radial), ou ulnar, para verificar a pulsação em vítimas conscientes e o pulso braquial (onde passa a artéria braquial) para verificar a pulsação de crianças. Por meio da palpação do pulso, o socorrista é capaz de avaliar a frequência, o ritmo e o volume circulatório. O valor esperado em um adulto (valor de normalidade) é uma fre- quência cardíaca de 60 a 100 batimentos por minuto. Perfusão periférica A perfusão periférica (tempo de enchimen- to capilar) apresenta indícios essenciais para o acompanhamento da situação hemodinâmica da vítima. É definida como a oxigenação periférica dos Figura 10 Verificação do pulso Na imagem, para melhor visualização, a avaliação está sendo feita do lado oposto ao que a socorrista está, porém, o ato sempre deve ser feito do mesmo lado, evitando-se passar o braço por cima da vítima. 26 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar tecidos, a qual deve se apresentar normocorada em tempo menor do que dois segundos após a compressão da extremidade. Quando o tem- po de enchimento capilar (verificado normalmente apertando o dedo ou a unha da vítima) é maior do que dois segundos, isso indica que os leitos capilares não receberam perfusão adequada. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa C da abordagem primária é: • averiguar, após a realização da etapa B (na qual se verificou a respiração), por meio da verificação de pontos de pulso periféricos, se a vítima tem pulsação; • observar a frequência cardíaca por minuto, que é um dado importante a ser passado aos socorristas quando chegarem para dar continuidade ao atendimento; • verificar a perfusão periférica, apertando a ponta dos dedos da vítima; • conter as demais hemorragias e cuidar de ferimentos. Figura 11 Perfusão periférica 1.3.5 Etapa D – Estado neurológico A etapa que corresponde à avaliação do estado neurológico, ou às disfunções neurológicas, é a etapa D. Após as etapas A, B e C, é o mo- mento de fazer a avaliação da função cerebral, com o objetivo de deter- minar o nível de consciência da vítima. Os socorristas profissionais seguem escalas com escores, para defi- nir o nível de consciência do indivíduo. Para os socorristas leigos, basta tentar conversar com a pessoa acidentada e avaliar a coerência de suas respostas. Essas informações podem ser repassadas ao socorro de ur- gência, que vai dar continuidade ao atendimento. Como exemplo, usa- remos novamente a situação dos colegas que colidiram, batendo suas cabeças. Após verificar as etapas X, A, B e C, você irá para a etapa D, que compreende os seguintes passos: conversar com a vítima, avaliar se normocorada: coloração normal. Glossário Primeiros socorros no ambiente escolar 27 ela está orientada no tempo e no espaço e se não está confusa ou com dificuldade de obedecer a comandos, verificar se está com a memória aparentemente preservada etc. Todas essas informações também de- vem ser repassadas ao atendimento de emergência especializado. Análise das pupilas A observação da resposta pupilar é muito importante na avaliação do estado neurológico, podendo ser, inclusive, um fator indicativo de lesão neurológica na vítima. Quando a pupila é analisada, deve-se bus- car a igualdade de resposta e tamanho. As pupilas apresentam reação à luz por meio da dilatação e contração. Elas podem ser encontradas das seguintes maneiras: • Pupilas isocóricas (normais, iguais). • Pupilas em midríase (aumentadas). • Pupilas em miose (diminuídas). • Pupilas anisocóricas (desiguais). A presença de pupilas assimétricas leva à suspeita de lesão cerebral. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa D da abordagem primária é: • averiguar, após a realização da etapa C (na qual foi verificada a circulação), se a vítima responde a estímulos; • conversar com a vítima, buscando enten- der se ela está consciente, orientada, com a memória aparentemente preservada etc. Essa informação pode ser passada aos so- corristas que chegarão para dar continui- dade ao atendimento; • verificar as pupilas, a fim de se observar se são de tamanho igual e reagentes à luz. Essa informação também pode ser passa- da aos socorristas que chegarão para dar continuidade ao atendimento. Figura 12 Análise das pupilas 28 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar 1.3.6 Etapa E – Exposição e ambiente A última etapa da avaliação inicial corresponde à exposição, em que são retiradas as roupas da vítima das partes em que há suspeita de lesão, indicada pelos sinais e sintomas ou pela cinemática do trauma. Em caso de sangramentos ou hemorragias, por exemplo, é pos- sível que a roupa absorva o sangue, podendo esse quadro passar despercebido. O que fazer? De modo geral, o que se espera do socorrista leigo na etapa E da abordagem primária é: • retirar as roupas da vítima das partes em que há suspeita de lesão, preservando seu pudor e não a deixando exposta (especialmente as partes íntimas) na frente de outras pessoas. Lesões potencialmente letais podem não ser percebidas se o doen- te não for totalmente examinado. Assim, é importante tomar cuidado ao realizar a retirada das roupas, dando atenção aos locais que devem ser analisados, mas evitando expor a vítima. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, pudemos compreender a importância da realização de primeiros socorros no ambiente escolar, que pode ser foco dos mais diversos tipos de acidentes. O atendimento pode ser para questões de origem clínica ou traumática, tendo em vista que, conforme a gravidade da situação, o atendimento realizado pelo leigo/professor, muitas vezes, é primordial para a sobrevida da criança, já que o atendimento especializa- do pode demorar alguns minutos para chegar. O objetivo sempre será cumprir a legislação, capacitando os profissio- nais em primeiros socorros, e atualizando constantemente as diretrizes e os protocolos a fim de que as crianças e os adolescentes recebam o atendimento primário de forma adequada, todavia, sem substituir o aten- dimento especializado. Primeiros socorros no ambiente escolar 29 ATIVIDADES 1. Qual é a importância de o leigo ter conhecimento em primeiros socorros? Como isso pode implicar na vida ou na morte da vítima? 2. Descreva as seis etapas da abordagem primária e o que é verificado em cada uma delas. 3. Cite quais são os quatro sinais vitais. REFERÊNCIAS AHA - American Heart Association. Highlights of the 2015 American Heart Association Guidelines Update for CPR and ECC. Dallas: American Heart Association, 2015. Disponível em: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines- Highlights-English.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020. BRASIL. Lei Federal n. 13.722, de 4 de outubro de 2018. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 de outubro de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13722.htm.Acesso em: 17 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 2.048, de 5 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 nov. 2002. Disponível em: http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt2048_05_11_2002.html. Acesso em: 17 abr. 2020. NAEMT - Associação Nacional dos Técnicos em Emergências Médicas. PHTLS: atendimento pré-hospitalar ao traumatizado. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. NAEMT - Associação Nacional dos Técnicos em Emergências Médicas. PHTLS: atendimento pré-hospitalar ao traumatizado. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. OLIVEIRA, B. F. M.; PAROLIN, M. K. F.; TEIXEIRA JR., E. V. Trauma: atendimento pré-hospitalar. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2007. https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-English.pdf https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-English.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13722.htm. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13722.htm. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt2048_05_11_2002.html. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt2048_05_11_2002.html. 30 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar 2 Suporte básico de vida Se fosse preciso selecionar um único assunto para ser traba- lhado no tema de primeiros socorros no ambiente escolar, o su- porte básico de vida seria o escolhido. Não para desmerecer os outros temas, mas para exaltar a importância desse assunto, que é comum para qualquer faixa etária e que, para ser realizado, ne- cessita do conhecimento das técnicas adequadas. Aqui, estamos falando de situações que dependem de um atendimento imediato, em uma luta contra o tempo pela sobrevivência da vítima. Neste capítulo, abordaremos a asfixia, o engasgamento e as manobras de desobstrução de vias aéreas, além da parada car- diorrespiratória e da massagem cardíaca (manobras de reanima- ção). Consideraremos as diretrizes para atendimento realizado por leigos e enfatizaremos a importância da qualidade e eficiên- cia desse atendimento primário até a chegada dos profissionais especializados. 2.1 Obstrução de vias aéreas Vídeo As vias aéreas são responsáveis pela passagem de ar no nosso orga- nismo. No entanto, as passagens do aparelho digestório e do aparelho respiratório são comuns e envolvem a cavidade oral (boca), a orofarin- ge e a hipofaringe; ou seja, o mesmo caminho que leva o ar também leva o alimento até chegar ao que chamamos de epiglote. A epiglote funciona como uma “porta”, que se eleva ou se abaixa conforme o caso, para direcionar o ar aos pulmões ou a comida ao estômago. Suporte básico de vida 31 Quando realizamos os movimentos de inspiração e expiração durante a respiração, a epiglote se eleva, abrindo a laringe para a passagem do ar e direcio- nando-o para as vias respiratórias. Quando realizamos a deglutição, ao nos alimentarmos ou para deglutir, a epiglote se abaixa e fecha a laringe, direcionando o ali- mento para o esôfago e para as vias digestivas. Por isso não conseguimos respirar e deglutir ao mesmo tempo; a epiglote não deixa. Organizadamente, ela vai tentar direcionar o alimento para um lugar e o ar para outro. Mas, em alguns momentos, pode haver a obstrução das vias aéreas por um corpo estranho, antes mesmo que esse seja direcionado pela epiglote. O que acontece quando respiramos é que, o tem- po todo, o organismo está fazendo trocas gasosas por meio do conjunto de inspirações (inalando o ar) e expira- ções (exalando o ar). Com esses movimentos, ocorre a venti- lação, ou seja, o corpo pega oxigênio do ambiente e solta gás carbônico. É dentro dos alvéolos pulmonares que essa troca gasosa é feita, em um processo chamado de hematose. Quando uma vítima está asfixiada ou sufocando, não havendo ventilação adequada, temos, como consequência, uma insuficiência ou ausência de oxigênio no or- ganismo, que, quando prolongada, pode levar à morte. Essa privação de oxigênio pode acontecer de diversas formas – com ausência total ou parcial de oxigênio, de maneira rápida ou lenta, com origem externa ou interna – e pode ter como causa tanto a falta de oxigênio no ambiente (locais pequenos ou fechados sem oxigênio, por exemplo) como a obstrução mecânica das vias respiratórias (como nos casos de engasgamento), ou, ainda, a impossibilidade de realizar a inspiração e a expiração (casos de alergias com edema de glote, por exemplo). Pensando no foco de primeiros socorros, quando falamos em asfixia ou sufocação, vamos agir, principalmente, na cau- sa que envolve a obstrução mecânica das vias respiratórias, o que chamamos de engasgamento. Isso porque, diante de uma situação como essa, o socorrista pode e deve realizar as técni- Figura 1 Setor de condução compartilhado pelos sistemas respiratório e digestório. cavidade oral orofaringe hipofaringe faringe epiglote Luciano Cosm o/ Shutterstock As ie r R om er o/ S hu tte rs to ck Figura 2 A sufocação, ou asfixia, pode acontecer quando falta ar para os pulmões devido a algum bloqueio nas vias respiratórias. cas adequadas de desobstrução de vias, além de acionar o serviço de atendimento especializado, para que a vítima volte a respirar o quan- to antes e não tenha sequelas pela falta ou insuficiência de oxigênio no organismo. Esse tipo de ocorrência pode ser comum em qualquer faixa etária, mas costuma ser mais preocupante em bebês e crianças, que estão se adaptando às fases de alimentação e ainda não possuem maturidade suficiente para mastigação e/ou deglutição. Logo, no ambiente escolar, onde a criança sempre se alimenta, o cuidado precisa ser redobrado. A melhor coisa a se fazer é agir na prevenção – por exemplo, orien- tando pais e responsáveis de que os alimentos enviados de casa para a hora do lanche devem ter tamanho preventivamente pequenos, em especial aqueles mais sólidos. Crianças maiores podem, também, ser orientadas quanto à importância de se sentar para comer, evitando correr, pular, gritar, rir ou falar enquanto se alimentam, pois, acidental- mente, essas atitudes podem favorecer o engasgo. Ainda, podem ser orientadas sobre a importância de comer devagar, mastigando bem o alimento antes de deglutir. Quando falamos de asfixia por falta de oxigênio no ambiente, signi- fica que a vítima ficou exposta a um espaço confinado, com restrição de oxigênio. Por vezes, orientamos as crianças: “não coloque o saco plástico na cabeça”, por entendermos que essa atitude pode fazer com que a criança se sufoque, pois o ar de dentro de um saco é escasso. O mesmo mecanismo acontece com bebês, quando os posicionamos no Em caso de obstrução total de vias aéreas por corpo estranho, a criança para de respirar. O oxigê- nio não entra, o sangue não fica oxigenado e o cérebro começa a trabalhar somente com a reserva de oxigênio existente, que dura aproximadamente quatro minutos. Após esse tempo, os danos no cérebro são prováveis. Suponha que você passou uma atividade em que as crianças vão assistir a um filme e comer pipoca durante a aula. Em um dado momento, uma criança se engasga com o alimento. Qual a importância de ter professores e funcionários capacitados em primeiros socorros nessa situação? Para refletir Figura 3 A escola deve adotar medidas preventivas contra o engasgo durante as refeições dos alunos M ik eD ot ta / S hu tte rs to ck 32 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar Suporte básico de vida 33 berço. O cuidado do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tec- nologia (Inmetro) em aprovar berços seguros vem ao encontro desse fator, incluindo, ainda, a recomendação de não deixar protetores de berço, brinquedos de pelúcia ou tecidos com muitos babados próxi- mos ao bebê, pois, caso ele caia com o rosto próximo a esses objetos, o ar pode ser abafado e a criança entrar em asfixia por falta de oxigênio.Já a impossibilidade de realizar a inspiração e expiração apresenta um mecanismo semelhante ao enforcamento. Há notícias de crianças, em berçários, que ficaram enforcadas pelas alças de mochilas presas em ganchos na parede da escola. Há outras que sofreram asfixia por brincar com a faixa do traje de artes marciais, enrolando-a no pescoço. Com a obstrução aqui exemplificada, o ar não entra e não sai, gerando asfixia. Ainda, podemos encontrar esse tipo de situação de maneira intrín- seca, como nos casos de crianças alérgicas. Se a criança tem, por exem- plo, alergia à picada de abelha e, ao ser exposta a esse fator de risco, for picada pelo inseto, pode apresentar diversos sinais alérgicos, in- cluindo o edema de glote, o mais grave de todos, quando há um incha- ço na região da garganta suficiente para ocluir a passagem de ar. Para asfixia por obstrução mecânica de vias aéreas, o socorrista lei- go pode agir com as manobras de desobstrução adequadas para cada idade. Já nas causas que envolvem a asfixia por falta de oxigênio no ambiente ou pela impossibilidade de realizar a inspiração e a expira- ção, não há muito o que o socorrista leigo possa fazer para reverter a situação. Nesses casos, não há uma manobra específica para tentar ajudar a vítima a voltar a respirar; somente chamamos o socorro e observamos os sinais vitais da vítima, para ver se ela evoluirá para uma parada cardiorrespiratória. Na definição da medicina, o engasgo é, também, denomi- nado obstrução de vias aéreas por corpo estranho – definido pela sigla OVACE –, sendo caracterizado por um bloqueio parcial ou completo das vias aéreas, que impede a ventilação/respiração normal do indivíduo. Na prática, significa, por exemplo, que uma criança estava em uma atividade na escola comendo uma bala quando, de modo inesperado, se percebe engasgada com esse doce, que está impedindo a passagem de ar. Ela tosse, leva as mãos à garganta e tenta fazer esforço para respirar. Essa é uma vítima ocluir: fechar um conduto ou uma abertura natural. Glossário Figura 4 Mesmo diante do mesmo alérgeno, por exemplo, pica- da de abelha, a evolção do processo alérgico pode ser diferente em cada criança An ja G oe tz /S hu tte rs to ck 34 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar de OVACE, pois está passando por uma obstrução de vias aéreas por corpo estranho. Nesse exemplo, o corpo estranho foi uma bala, mas, em outras situações, poderia ser qualquer tipo de alimento ou objeto. Todos os dias nos alimentamos e corremos o risco de sermos víti- mas do engasgo, independentemente da nossa idade. Em nosso grupo de amigos e familiares, se perguntarmos quem já se engasgou alguma vez, a resposta de que já passaram por uma situação assim será prati- camente unânime. É claro que bebês e crianças demandam maior cuidado e ações pre- ventivas, tais como: fazer com que o bebê arrote após mamar; cuidar do posicionamento dele no berço; e cortar alimentos em fragmentos pequenos para que não se engasgue. Porém, apesar de todo o cuidado, as crianças são as mais acometidas por esses acidentes, tanto pela sua imaturidade em mastigar e deglutir quanto pelo tamanho diminuído de suas vias respiratórias. Nos adultos e idosos essas situações também acontecem, mas por darem risada enquanto comem, por comerem rápido demais, por te- rem uma falha na deglutição, pelo comprimido do remédio ser muito grande, pelo pedaço de alimento ser graúdo e assim por diante. Fato é que, independentemente da idade, todos estamos sujeitos e precisa- mos ser orientados sobre como agir diante de uma situação como essa, que pode evoluir de uma crise de tosse para uma parada cardiorrespiratória e óbito em questão de minutos. Diante disso, o engasgo é considerado uma prioridade e uma emergência médica, pois, em casos severos, leva a vítima à inconsciência (o corpo reage assim para tentar poupar ener- gia), podendo acarretar em lesões e danos cerebrais (devido ao tempo que o cérebro fica sem oxigênio) ou, até mesmo, à morte. É muito importante que, nessas situações, o socor- ro venha a agir de maneira rápida e precisa para evitar complicações. E quem é esse “socorro”? Somos nós, não importando se somos leigos ou profissionais da saúde. Todos devemos conhecer as manobras de desobstrução de vias aéreas adequadas para cada idade e agir, de modo eficaz, para tentar sal- var a vida da vítima. Figura 5 O engasgo é uma situação comum e pode ocorrer com pessoas de todas as idades. go ffk ei n. pr o/ S hu tte rs to ck Suporte básico de vida 35 Entre as principais causas de engasgamento, citam-se comidas, lí- quidos (especialmente o leite para os bebês) e pequenos objetos. Após o engasgamento, a vítima pode apresentar alguns sinais e sintomas característicos da asfixia (insuficiência da respiração). Quando estamos engasgados, significa que o fluxo de oxigênio no organismo foi cessado ou reduzido consideravelmente. Assim, se não há entrada suficiente de oxigênio, não há troca gasosa; com isso, co- meça a acontecer o acúmulo de gás carbônico. Sem troca gasosa, ao chegar nos órgãos, o sangue rico em gás carbônico provoca a morte celular devido à falta de oxigênio. É basicamente isso que acontece no nosso cérebro nessa situação: as áreas sem oxigênio sofrem danos, ne- crosam, morrem e podem gerar sequelas irreversíveis de acordo com o tempo sem oxigenação. A consequência disso é o corpo reagir com compressão de artérias periféricas para garantir que o restante de sangue oxigenado percorra, principalmente, o coração e os pulmões – o que leva a pessoa engasga- da a ficar com as extremidades roxas ou azuladas, reação chamada de cianose –, e, após alguns minutos, também reagir com o desmaio, para poupar energia da vítima. O detalhe interessante de todo esse processo é que, durante o en- gasgo e, consequentemente, a ausência de oxigênio, nosso corpo utiliza a reserva de oxigênio presente no organismo. Essa reserva dura aproxi- madamente quatro minutos, sendo esse o tempo que temos para identi- ficar o engasgo, aplicar a manobra de desobstrução e reverter a situação, fazendo com que a vítima volte a respirar, sem apresentar sequelas. Portanto, chamar o socorro é fundamental, sim; mas chamar o socorro e ficar de braços cruzados, esperando-o chegar, não adianta nada e pode ser fatal. Afinal, precisamos reverter a situação em quatro minutos, mas quanto tempo o socorro especializado demora para che- gar? Será que demoram cinco minutos? Ou dez minutos? Não sabemos precisamente, contudo tenha certeza de uma coisa: o socorro não che- gará antes de quatro minutos. A responsabilidade de agir dentro desse tempo será sua, como socorrista leigo. Os primeiros socorros, em caso de engasgamento, devem ser ini- ciados o mais rápido possível, para tentar desobstruir as vias aéreas e permitir que a vítima volte a ter uma ventilação normal, evitando as Socorristas não são heróis, são profissionais treinados e capa- citados para agir em diversas situações. Heróis, ao nosso ver, são aqueles que, ainda que leigos e dentro de suas limi- tações técnicas, estão prontos e agem corretamente quando necessário, independentemente de sua profissão. O herói aqui pode ser você. Lembre-se 36 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar complicações e consequências da asfixia. Reconhecer precocemente essa obstrução é fundamental para um resultado satisfatório. Mesmo que as manobras feitas pelo socorrista leigo estejam aju- dando na desobstrução, é imprescindível que os serviços de urgência e emergência sejam acionados, a fim de que a vítima passe por aten- dimento e avaliação. Se, por algum motivo, o quadro piorar ou o so- corrista leigo não conseguir ter sucesso, sabe-se que esses serviços especializados podem chegar a qualquer momento para assumir a si- tuação e garantir a sobrevida da vítima. Nos bebês engasgados pode-se observar choro fraco, dificuldade para respirar, tosse fraca e cianose.Já nas crianças maiores, jovens e adultos engasgados podem ser observados ataque de tosse, sinais de pânico (agitando as mãos), impossibilidade de fala e, principalmente, movimento de levar a mão até a garganta (sinal universal de engasgo). Imediatamente após a identificação e observação dos fatores rela- cionados ao engasgamento, deve-se saber que as primeiras medidas a serem tomadas envolvem manobras de desobstrução de vias aéreas. Os primeiros socorros, nesse caso, podem ser iniciados por qualquer pessoa, seja leiga ou profissional da saúde. A manobra utilizada para alívio do engasgo chama-se Heimlich, sen- do a mesma manobra tanto para adultos quanto para crianças a partir de um ano. Já para bebês (lactentes com menos de um ano), a manobra é diferenciada. Figura 6 Manobra de Heimlich Ro ss He le n/ Sh ut te rs to ck Você sabia que, em casos de engasgo em bebês, a atitude de assoprar o rosto do bebê não é indicada? Isso porque ele apresenta um reflexo de prender a respiração ao receber o “vento” no rosto, piorando, ainda mais, seu quadro respiratório. Curiosidade Suporte básico de vida 37 Quando há uma obstrução parcial das vias aéreas, a vítima pode tossir muito e apresentar alguns ruídos ou chiados entre as tossidas. Nesse caso, devemos estimular a vítima a continuar tossindo. Esse estí- mulo é verbal, sem dar tapas nas costas. Quando há uma obstrução total ou completa, a vítima pode levar as mãos à garganta, demonstrando o sinal universal de engasgo. Além dis- so, às vezes, apresenta tosse muito fraca ou ausência de tosse, troca de ar insuficiente ou inexistente e uma crescente dificuldade respiratória, que pode gerar cianose em alguns instantes. Nesse caso, devemos iniciar as manobras de Heimlich e acionar o serviço médico de emergência. As ten- tativas devem continuar até que o atendimento especializado chegue ou a vítima volte a respirar. Caso o engasgo evolua para uma parada cardior- respiratória, o leigo deve iniciar as compressões torácicas. É importante destacar que é possível abrir a boca da vítima para tentar localizar o objeto. Desde que esteja bem visível e seja fácil de ser removido, podemos fazer o que chamamos de remoção digital, pu- xando o corpo estranho com os dedos. O que não se deve fazer é uma varredura com os dedos, caracterizando uma busca às cegas do corpo estranho nas vias aéreas da vítima, pois isso pode empurrá-lo ainda mais para dentro da via aérea, provocando uma obstrução maior ou, até mesmo, uma lesão. O que fazer? De acordo com o manual do profissional da American Heart Association (AHA, 2016), ao identificar sinais de obstrução mecânica em vias aéreas em adultos, jovens ou crianças de um ano ou mais, deve-se seguir os seguintes procedimentos, fazendo o que chamamos de manobra de Heimlich: 1. Fique em pé ou de joelhos por trás da vítima e coloque os braços em torno da cintura dela. 2. Cerre uma das mãos. 3. Coloque o polegar da mão cerrada contra o abdômen da vítima, na linha média, ligeiramente acima do umbigo. 4. Segure e cubra o punho com a outra mão e pres- sione o abdômen da vítima com uma compressão rápida, vigorosa e em sentido ascendente. 5. Repita as compressões até que o objeto seja expelido da via aérea ou a vítima pare de respirar. 6. Administre cada nova compressão com um movi- mento isolado e distinto para desobstruir. el en ab sl /S hu tte rs to ck busca às cegas: quando não se vê o objeto e é preciso tentar localizá-lo e removê-lo usando os dedos. Glossário As recomendações e dire- trizes para suporte básico da vida são da American Heart Association (AHA), que emite pareceres e atualizações a cada quatro anos. Portanto, fique atento a essas atualizações e novidades nas diretrizes para leigos no site da instituição, disponibilizado em vários idiomas. Disponível em: https://international. heart.org/pt. Acesso em: 3 mar. 2020. Saiba mais https://international.heart.org/pt https://international.heart.org/pt 38 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar Caso a vítima seja gestante, obedeça à altura uterina e faça as com- pressões acima dela (não em cima). A técnica, nesse caso, não envol- ve a compressão do abdômen, mas, sim, uma compressão torácica. O mesmo acontece com pessoas obesas. Já nos casos de engasgo em lactentes (bebês menores de um ano), não devemos usar as compressões abdominais. Para essa faixa etária, utilizamos pancadas nas costas e compressões torácicas. O que fazer? De acordo com o manual do profissional da AHA (2016), ao identificar sinais de obs- trução mecânica em vias aéreas em bebês, deve-se seguir os seguintes procedimentos: 1. Sente-se ou ajoelhe-se com o lactente que está asfixiado. 2. Se for fácil, remova a roupa que está cobrindo o tórax dele. 3. Segure-o de barriga para baixo, apoiado em seu antebraço, com a cabeça leve- mente mais abaixada do que o tórax. Sustente a cabeça e a mandíbula do lactente com a mão. Tome cuidado para não comprimir o tecido mole da garganta dele. Coloque o antebraço sobre o colo ou a coxa para segurá-lo. 4. Administre cinco pancadas firmes nas costas do lactente usando a base da mão. Execute cada pancada com força suficiente para tentar expelir o corpo estranho. 5. Depois de administrar as cinco pancadas nas costas, coloque a mão que está livre sobre as costas do lactente, apoiando a cabeça dele com a palma da sua mão. Assim, o lactente ficará adequadamente preso entre seus dois antebraços, com a palma de uma das mãos apoiando a face e a mandíbula e a palma da outra mão apoiando as costas e a cabeça dele. 6. Vire o corpo do lactente apoiando a cabeça e o pescoço. Segure-o de barriga para cima, mantendo o antebraço sobre sua coxa. Mantenha a cabeça do lactente em posição mais baixa do que o tronco. 7. Administre até cinco compressões torácicas rápidas no meio do tórax (sobre a me- tade inferior do osso esterno). Execute uma compressão torácica por segundo, com a intenção de criar força suficiente para expelir o corpo estranho. 8. Repita a sequência de cinco pancadas nas costas e cinco compressões torácicas até que o objeto seja removido ou o lactente deixe de responder. el en ab sl /S hu tte rs to ck Suporte básico de vida 39 As manobras de desobstrução, independentemente da faixa etária, devem ser realizadas constantemente até que a vítima desengasgue ou que haja uma piora do seu quadro. Caso o objeto ou alimento cau- sador da obstrução de vias aéreas não seja removido, é possível que a vítima evolua para uma parada respiratória e, posteriormente, para uma parada cardiorrespiratória. Nesse momento, a vítima vai perder a consciência e apresentar ausência de respiração e de pulsação, deven- do ser cuidadosamente posicionada para que se inicie o conjunto de procedimentos e ações que objetivam dar um suporte de vida para a vítima, denominado suporte básico de vida (SBV). O artigo O leigo e o suporte básico de vida, das autoras Aline Maino Pergola e Izilda Esmenia Muglia Araujo, publicado na Revista da Escola de Enfermagem da USP (2009), mostra a importância do conhecimento em suporte básico de vida para a sobrevivência de vítimas de parada cardiorrespiratória quando realizado por socorristas leigos. Acesso em: 8 abr. 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342009000200012 Artigo Desafio Pergunte para 10 pessoas do seu círculo familiar ou de amigos se elas já socorreram al- guém que estava engasgado. Por curiosidade, pergunte qual o motivo do engasgo e como foi que tentaram desengasgá-lo, ou seja, quais foram as manobras e técnicas utilizadas ou as atitudes imediatas tomadas no momento. Avalie as respostas, comparando-as com as técnicas adequadas conforme cada faixa etária. Aproveite a oportunidade para orien- tá-las quanto à técnica correta, que pode ser muito mais eficaz para salvar vidas. 2.2 Parada cardiorrespiratória Vídeo Segundo a National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT, 2017),o sistema circulatório deve funcionar de modo ade- quado – para que o oxigênio seja fornecido para cada célula do orga- nismo –, o coração deve bombear o sangue de modo eficaz, os vasos sanguíneos devem estar intactos e deve haver quantidade suficiente de sangue, dentro do sistema vascular, para chegar em cada órgão. Quan- do uma dessas condições não é atendida, pode ocorrer uma parada cardiorrespiratória. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342009000200012 40 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar A parada cardiorrespiratória (PCR), ou cessação dos batimentos car- díacos e movimentos respiratórios, é uma emergência relativamente fre- quente em qualquer serviço de atendimento pré-hospitalar. Em muitas situações em que o coração para de bater, ainda há boas condições de recuperar seu funcionamento caso receba um atendimento de emergên- cia eficaz nos primeiros minutos (OLIVEIRA; PAROLIN; TEIXEIRA JR., 2007). Figura 7 Treinamento para parada cardiorrespiratória os sH el en /S hu tte rs to ck A parada respiratória é, basicamente, a ausência de respiração/ ventilação. Ela pode ser isolada ou acompanhada de parada cardíaca; daí se origina a parada cardiorrespiratória. A parada cardíaca é carac- terizada pela ausência dos batimentos cardíacos, o que faz com que o sangue deixe de ser bombeado para todo o organismo, levando à falta de oxigenação nos tecidos. A parada cardiorrespiratória ocorre de maneira brusca, sendo caracterizada pela inconsciência e ausência da circulação sistêmica e da ventilação/respiração e podendo ter as mais diversas causas. Quando nos deparamos com uma vítima inconsciente, sempre suspeitamos de parada cardiorrespiratória. É ao abordá-la e realizar as etapas do atendimento primário que conseguimos verificar se ela respira e se possui pulsação (batimentos cardíacos). Em uma avalia- ção feita por leigos, quando percebemos que a vítima está incons- ciente, porém com os sinais vitais presentes, descartamos a parada cardiorrespiratória. Suporte básico de vida 41 No entanto, se encontramos uma vítima inconsciente, com ausência de respiração e de pulsação, já entendemos que ela precisa de mano- bras que possibilitem uma ressuscitação cardiopulmonar. Nesse caso, após identificar a ausência dos sinais vitais, a primeira coisa a se fazer é acionar o serviço de atendimento especializado e, posteriormente, iniciar o protocolo de massagem cardíaca realizada por socorristas lei- gos, seguindo as orientações das diretrizes mais atualizadas da AHA no suporte básico de vida. Vítimas de parada cardiorrespiratória ainda apresentam oxigênio nos pulmões e na corrente sanguínea nos primeiros quatro minutos após a parada; porém, se ultrapassado esse tempo de interrupção da circulação e da respiração, as chances de lesão cerebral são maiores. Logo, o tempo é um fator bastante crítico em uma PCR e, por isso, a massagem cardíaca precisa ser iniciada imediatamente. A massagem cardíaca faz uma compressão direta sobre o coração apertando-o, o que permite que o sangue circule pelo corpo, levando algum oxigênio aos órgãos enquanto a pessoa não é atendida por mé- dicos com equipamentos específicos. As compressões torácicas, rea- lizadas por meio da massagem cardíaca, ajudam o sangue a circular porque desempenham a função de elevar a pressão na cavidade to- rácica, fazendo o coração bombear. Essa medida é muito importante durante os primeiros socorros, pois pode evitar lesões cerebrais. Existem atualizações constantes na área da saúde e, se tratando de um ponto tão importante, como é a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) por meio da massagem cardíaca, deve-se saber que há, também, modificações nas diretrizes de suporte básico de vida. A American Heart Association apresentou, em 2015, as diretrizes para ressuscitação cardiopulmonar com algumas modificações, as quais tiveram como objetivo: simplificar o treinamento de socorristas leigos; enfatizar a necessidade de aplicação das compressões torácicas, o quanto antes, em vítimas de parada cardiorrespiratória; e qualificar as técnicas de RCP, buscando eficiência. Diante disso, de acordo com a AHA (2015), socorristas leigos ou pes- soas que não têm treinamento específico devem aplicar RCP somente com as mãos e sem a realização de insuflações (respiração boca a boca), o que simplifica bastante o suporte básico de vida. O socorrista leigo não treinado deverá fazer as compressões até a chegada do atendimento especializado ou de um desfibrilador elétrico automático (DEA). A cada minuto em parada car- diorrespiratória a vítima perde 10% da sua capacidade de vida. Sendo assim, as compressões precisam ser imediatamente iniciadas após a constatação de parada. Importante 42 Prevenção de acidentes e socorros de urgência no ambiente escolar É importante enfatizar que as compressões torácicas realizadas com eficiência já podem ajudar a favorecer o quadro da vítima, mesmo sem as insuflações. A parte de ventilação artificial deve entrar com au- xílio de socorristas da área da saúde treinados e qualificados para esse procedimento. Mas por qual motivo as respirações boca a boca ou insuflações te- riam sido removidas das diretrizes para leigos? A AHA (2015) explica que a RCP somente com compressões é mais fácil de ser executada por um socorrista não treinado e pode, ainda, ser prontamente orientada por telefone pelos atendentes. Basicamente, não se perde tempo tentan- do colocar oxigênio para dentro da vítima (especialmente por falarmos de socorristas leigos e não treinados), enfatizando a necessidade de compressões de qualidade para otimizar a circulação sanguínea com a reserva de oxigênio existente no corpo da vítima. Desse modo, além de simplificar o atendimento, gera mais qualidade ao procedimento. De acordo com a AHA (2015), a ordem de prioridade é, nesse mo- mento, CAB, em que avalia-se primeiro as compressões (C), depois as vias aéreas (A) e, por último, a respiração (B), diferentemente da abor- dagem primária tradicional no trauma, em que seguimos a sequência de XABCDE. Estando a cena segura para o atendimento (garantindo a biossegu- rança na cinemática do trauma), podemos abordar a vítima. A princípio, verificamos a responsividade dela, tentando chamá-la e perguntando se pode nos ouvir, a fim de atestar se está consciente. Depois, checa- mos o pulso carotídeo e, na ausência dele, imediatamente acionamos o serviço de atendimento médico especializado. Segundo o Manual do Profissional de Suporte Básico de Vida (AHA, 2016), após a constatação de parada cardiorrespiratória, inicia- -se a ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Os socorristas profissionais e treinados ainda realizam as insuflações, sendo duas insuflações para cada 30 massagens cardíacas. Porém, para socorristas leigos não trei- nados, sugere-se apenas as compressões torácicas. Suporte básico de vida 43 O que fazer? Para a realização de RCP realizada por um so- corrista leigo, os procedimentos, segundo a AHA (2015), são: 1. Chame ajuda/serviços de urgência e emergência. 2. Para as compressões torácicas externas, a ví- tima deve estar deitada com as costas sobre uma superfície plana e firme. 3. Ajoelhe-se perto dos ombros da vítima; a distância entre seus joelhos deve ser a mes- ma daquela entre seus ombros. 4. Coloque as mãos na extremidade inferior do osso esterno (centro do tórax); para isso, imagine uma linha entre os mamilos. Para as compressões torácicas, sua mão deve ficar exatamente no ponto médio da linha. 5. Apoie o “calcanhar” de uma mão no esterno e a outra mão por cima, mantendo os dedos, entrelaçados ou estendidos, apontados para a direção contrária à sua e afastados do tórax da vítima. 6. Mantenha os cotovelos estendidos e use a alavanca do tronco para realizar as compres- sões no osso esterno. CHAMAR A EMERGÊNCIA De acordo com as diretrizes da AHA (2015), é importante, durante a massagem cardíaca, iniciar
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