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NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAl

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Wagner Allan Cagliumi 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Raízes da neurociência: desmistificando a neuroanatomofisiologia – 
entender o cérebro para ensinar melhor 
É com imenso prazer que usamos este espaço para apresentar um 
momento de reflexão sobre a neurociência na educação – esta ciência que 
enriquece nossa existência com múltiplas experiências, com inúmeras 
possibilidades de exploração, de sentimentos e de sensações. Uma diversidade 
de cores, aromas, sabores, dores, flores, folhas e frutos. Mas, sobretudo no 
entendimento da diversidade de pessoas, com inúmeras limitações e infinitas 
possibilidades. 
Esta diversidade, que faz deste planeta uma obra de arte pulsante e 
indescritível, também está presente em nossa sala de aula. Entretanto, nestas 
circunstâncias, nem sempre compreendemos a infinidade de possibilidades de 
aprendizagem, e contemplar ou explorar este inusitado conhecimento que a 
neurociência proporciona. O que nos leva, por diversas vezes, à sombra, às 
dúvidas e ao medo de fracassar. 
CONTEXTUALIZANDO 
É com base na diversidade encontrada na maneira de aprender daqueles 
que divergem do padrão que este material será construído: apresentaremos uma 
interpretação da neurociência dedicada ao ofício do educador, e que tentará 
responder, lançando mão de fundamentos científicos, as dúvidas mais comuns 
dos educadores acerca do desenvolvimento das habilidades cognitivas. 
Ao longo das aulas serão abordados temas tendo em mente a busca da 
construção de um espaço interativo, cujos objetivos são facilitar o entendimento 
da aprendizagem do ser humano e possibilitar o desenvolvimento de estratégias 
que favoreçam sua autonomia e humanizar o ensino como meio de ascender à 
cidadania. 
 
 
3 
TEMA 1 – FUNDAMENTOS: DESDE O PRINCÍPIO, APRENDENDO PARA 
SOBREVIVER 
O início desta viagem data dos primórdios do planeta, quando, em um 
determinado momento, fatores ambientais como a mistura de elementos químicos 
diversos e fenômenos físicos propiciaram uma fusão que deu origem à vida. Desta 
forma tivemos os primeiros organismos vivos: os seres unicelulares. 
À medida em que os organismos evoluíram de uni para pluricelulares, 
células foram se agrupando constituindo tecidos; tecidos foram se desenvolvendo, 
formando órgãos especializados, nos quais cada uma das funções era antes 
exercida pelas organelas, de tal modo que, em seu conjunto, os organismos 
passaram a ser constituídos por sistemas mais ou menos autônomos, porém 
interligados. 
Deve-se ressaltar que essa evolução ocorreu para que esses organismos 
unicelulares pudessem sobreviver ao meio, e essa sobrevivência dependia de que 
estes organismos tivessem habilidades mais ou menos complexas de perceber e 
responder aos estímulos nocivos deste meio. 
Assim inicia-se o processo de aprendizagem, no qual o organismo percebe 
tais estímulos e responde com o afastamento ou com algum tipo de defesa; a 
partir deste momento, inicia-se um processo que, ainda que rudimentar, 
chamaremos de memória. 
É claro que estamos falando de processos extremamente primitivos, mas 
que nos impulsionam a buscar entender os processos que futuramente nos 
parecerão de alta complexidade. 
Ao passo em que os seres ficaram mais complexos, tornou-se necessário 
um controle central, algum tipo de estrutura responsável pelo controle do trabalho 
conjunto de todos os sistemas; um sistema que pudesse receber as informações 
tanto dos outros sistemas do próprio organismo quanto do meio exterior, e utilizar 
estas informações para manter a sobrevivência, a reprodução, a alimentação, a 
excreção e todas as demais funções necessárias para manter o indivíduo vivo e 
em boas condições de funcionamento (Schwartzman, 2001). 
As células que se especializaram para exercer estas funções 
administrativas do conjunto vivo foram denominadas neurônios, que, juntamente 
com as células chamadas de gliais, ou neuróglia, passam a constituir o substrato 
do tecido nervoso. 
 
 
4 
TEMA 2 – NEUROCIÊNCIA CELULAR: NEURÔNIOS – GERENTES DA VIDA 
Iniciaremos o estudo dos neurônios, as células que no processo evolutivo 
se especializaram a fim de gerenciar todo o organismo e sua relação com o meio 
ambiente. É imperioso entendermos como funciona um neurônio para podermos 
nos inteirarmos, mais adiante, de processos como a aprendizagem, e de outras 
funções nervosas superiores, bem como de distúrbios e deficiências. 
Temos em nosso organismo aproximadamente 85 bilhões de neurônios, 
dez vezes mais células da glia, ou neuróglia, que estudaremos futuramente. 
A unidade funcional do tecido nervoso é o neurônio, ainda que as células 
da glia desempenhem um papel significativamente importante em todos os 
processos do sistema nervoso, inclusive em funções executivas, como o 
pensamento, o planejamento e o julgamento. Até recentemente considerava-se 
que as funções destas células eram secundárias às do neurônio. 
Os neurônios são células que basicamente constituem-se de corpos 
celulares e organelas como as demais, porém com prolongamentos denominados 
dendritos – que trazem estímulos do exterior da célula para o corpo celular e 
estímulos sensoriais (ou aferentes) – e um prolongamento que leva os estímulos 
do corpo celular para fora, estímulos eferentes ou motores, chamado de axônio. 
Apesar destes nomes a princípio nos parecerem difíceis, se levarmos em 
consideração sua etimologia, perceberemos que sua nomenclatura está 
estritamente relacionada à sua forma ou função. 
“Dendrito”, do grego dendro, significa “ramo” ou “árvore”, devido à forma 
que estes prolongamentos possuem. Axônio, por sua vez, deriva de axis, que 
significa “eixo”, pois realmente este é o eixo do neurônio. 
Os neurônios se comunicam com outros neurônios ou outros tecidos ou 
glândulas por meio da sinapse – cuja etimologia vem de sin (“junto”), e apse 
(“como”) – ou seja: “como se fosse junto”, pois há um pequeno espaço entre as 
células onde ocorrerá a transmissão do impulso. 
Cada neurônio pode estabelecer em média 1.500 sinapses, sendo que em 
alguns locais, como no cerebelo, alguns neurônios, denominados células de 
Purkinje, chegam a estabelecer cerca de 300 mil sinapses (Annunciato, 2002). 
Estas sinapses podem ocorrer de forma química – por meio de 
neurotransmissores (os quais estudaremos adiante); de forma elétrica – sem a 
 
 
5 
presença de neurotransmissores; e até mesmo por sinapses gasosas, que 
ocorrem por meio de gases específicos, como NO e CO. 
Ainda no neurônio encontraremos, na porção final do axônio, o botão 
sináptico, no qual poderá ser percebida a presença de vesículas contendo os 
neurotransmissores. 
Sabemos que todas as células estão em um meio líquido, assim como há 
presença de líquidos internamente. O líquido que está fora da célula é chamado 
de líquido extracelular (LEC), e o do meio interno denominamos líquido intracelular 
(LIC). 
No líquido extracelular há predominantemente uma carga positiva; já no 
líquido intracelular, há uma carga negativa. A este fenômeno denominamos 
polarização, o que significa que as células são polarizadas. 
A forma como ocorre a transmissão do impulso no neurônio depende 
basicamente da despolarização e repolarização da célula, o que se realiza quando 
um estímulo atinge algum local da membrana celular, fazendo com esta mude sua 
permeabilidade, permitindo a entrada de íons positivos no meio intracelular; 
consequentemente, como tudo tende a um equilíbrio, a célula irá se repolarizar, 
gerando um novo impulso no neurônio subsequente. 
TEMA 3 – SISTEMA NERVOSO: BASES ANATÔMICAS 
Atenção “neurocuriosos”: neste Tema estudaremos o sistema nervoso 
humano, suas principais divisões e também as funções predominantes de cada 
estrutura, o que nos dará base para que possamos entender as funções nervosas 
superiores,como emoção, pensamento, planejamento, julgamento e linguagem, 
dentre outras. 
3.1 Divisão do sistema nervoso: partes de um todo indivisível 
Como todas as estruturas do corpo humano – e para facilitar o seu estudo 
– o sistema nervoso foi dividido didaticamente em partes para uma maior 
compreensão. Entretanto é importante ressaltar que o ser humano é um todo, e, 
independentemente da área que o estude, deve sempre ser visto como um 
conjunto. Ademais, devemos levar em conta que, ainda que estejamos estudando 
as neurociências, essa só terá seu devido valor quando entendida para alguém, e 
não para algo. 
 
 
6 
A divisão anatômica do sistema nervoso se dá em sistema nervoso central 
e sistema nervoso periférico. Funcionalmente temos também o sistema nervoso 
autônomo ou, como alguns neurocientistas preferem, sistema nervoso vegetativo. 
Já comentamos que as respostas dos seres vivos passam por três grandes 
eixos, ou seja, uma aferência – encaminhamento da informação; um 
processamento desta informação e, finalmente, a resposta à informação. 
Desta forma, pode-se dizer que o sistema nervoso central é a estrutura que 
processa a informação. Sua localização está no neuroeixo, estrutura envolvida 
pelos ossos do crânio e em conjunto com a coluna vertebral; já as estruturas que 
se projetam fora do neuroeixo formarão o sistema nervoso periférico. 
O sistema nervoso central é composto por cérebro, cerebelo e tronco 
encefálico de medula espinal. O cérebro é dividido em telencéfalo e diencéfalo; o 
tronco encefálico é dividido em mesencéfalo, ponte e bulbo. O conjunto formado 
por cérebro, cerebelo e tronco encefálico denomina-se encéfalo. 
Gostaríamos de salientar que na mídia em geral, fala-se muito de cérebro, 
como se fosse a única estrutura responsável pelas funções nervosas superiores; 
entretanto, principalmente nas últimas décadas, há evidências de que a 
participação de cerebelo e tronco encefálico nestas funções é significativa. Por 
isso, ao longo deste material pretendemos dar a merecida importância a estas 
estruturas. 
Ressaltamos a importância de nos familiarizar com estes nomes todos, com 
sua localização e, principalmente, com suas possíveis funções, para que 
possamos entender como ocorrem determinados processos em nossos alunos, 
desde a leitura e escrita até algumas respostas comportamentais. 
3.2 Encéfalo 
O encéfalo constitui-se de 80% de água, 10% de lipídios, 8% de proteínas 
e 2% de outros materiais, com um volume de aproximadamente 1.350 cm, sendo 
estruturalmente composto de substância cinzenta (corpos neuronais) – córtex – e 
substância branca (axônios mielinizados). 
Possui capacidade computacional de 1.013 a 1.016 operações por 
segundo, o que equivale a aproximadamente às operações realizadas por 10 mil 
computadores Apple 64. 
 
 
7 
3.3 Córtex cerebral 
O cérebro está dividido em dois hemisférios: direito e esquerdo, com 
possíveis diferenças funcionais. 
Ele é recoberto por um manto, que estirado tem aproximadamente 2 metros 
quadrados com 4 mm de espessura denominado córtex – do latim “casca” – e é 
dividido por 5 lobos: frontal, parietal, temporal e occipital, visíveis externa e 
internamente; sob o lobo temporal observa-se o lobo insular (ou da ínsula), que 
como o próprio nome diz, “ilha”, isto é: trata-se de um lobo isolado dos demais. 
O córtex cerebral, nos hominídeos, cresceu continuamente nos últimos 4,4 
milhões de anos e, em seu desenvolvimento, ganhou uma infinidade de sulcos 
para permitir que o cérebro esteja suficientemente compacto para caber na calota 
craniana, que não acompanha o seu crescimento. Por isso, no cérebro adulto, 
apenas 1/3 de sua superfície fica "exposta” – o restante permanece por entre os 
sulcos. 
Em seguida, discutiremos as funções predominantes de cada lobo; 
utilizamos a palavra predominantes, pois nas neurociências termos como 
absolutamente, exclusivamente, sempre e nunca nos levam frequentemente a 
equívocos, pois ainda há muito a ser desvendado sobre este sistema. 
TEMA 4 – SISTEMA NERVOSO: BASES FISIOLÓGICAS 
4.1 Os lobos cerebrais: funções divididas em subfunções 
Conheceremos agora os cinco lobos cerebrais e suas funções 
predominantes. Podemos dizer que as funções gerais do córtex cerebral são o 
pensamento, o julgamento, a antecipação, os movimentos voluntários, a 
linguagem e a percepção. 
Cada lobo tem determinadas responsabilidades em funções específicas. 
Vejamos o lobo occipital, por exemplo: é conhecido por suas relações com a 
visão; neste lobo encontramos as áreas visuais responsáveis pela recepção da 
informação visual, pela análise da imagem e pela busca na memória nas fibras de 
associação. 
O lobo parietal, por sua vez, está relacionado às áreas somato-sensoriais, 
áreas de percepção espacial, de imagem corporal e de associação polimodal – 
 
 
8 
áreas estas presentes em todos os lobos, corroborando para a ideia de 
interdependência de todas as funções do sistema nervoso. 
Abaixo do lobo parietal, está o lobo temporal, conhecido por suas áreas 
auditivas, de aquisição, de memória visual, de memória geral e também o córtex 
de associação polimodal. Este é um lobo importante nas relações de leitura – ao 
estudarmos as dislexias, voltaremos a citar estas áreas. 
Um lobo quase não citado na literatura é o lobo da ínsula, área cortical 
que pode ser vista abaixo do lobo temporal, relacionado ao olfato. 
Finalmente temos o lobo frontal, relacionado ao planejamento, 
pensamento, imaginação, avaliação e considerações. Neste lobo podemos 
encontrar as áreas motora, pré-motora, motora suplementar (área descrita 
somente em 1988, com o auxílio de novas tecnologias de neuroimagem) e uma 
grande área denominada córtex de associação pré-frontal, também conhecida por 
área pré-frontal. O lobo frontal foi uma das áreas encefálicas que mais cresceu no 
ser humano nos últimos milhões de anos. Esta área está relacionada, dentre 
inúmeras funções, à inibição de respostas primitivas; em estudos recentes, é 
considerada uma das áreas envolvidas no Transtorno de Déficit de Atenção e 
Hiperatividade (TDAH). 
Os lobos têm responsabilidades distintas em determinadas funções. 
Entretanto, devido às inúmeras fibras de projeção intra-hemisféricas, fibras de 
associação inter-hemisféricas e as áreas de associação que estão distribuídas em 
todo o córtex cerebral, não podemos deixar de salientar que a resposta funcional 
final é dependente de praticamente todas as áreas encefálicas. 
4.2 Sistema límbico: primitivo, porém sofisticado 
O sistema límbico é um complexo de estruturas localizadas ao redor do 
tálamo e abaixo do córtex cerebral. Este complexo estrutural está 
significativamente implicado nos processos emocionais, ainda que as emoções 
estejam relacionadas ao sistema nervoso por completo. Este sistema é composto 
pelo hipotálamo, glândula pituitária, amígdala e hipocampo, estruturas que serão 
brevemente descritas neste artigo. 
O hipotálamo é uma pequena estrutura localizada abaixo do tálamo, e está 
relacionado principalmente com a homeostase, processo de ajuste corporal 
relacionado à regulação da fome, sede, resposta à dor, níveis de prazer, 
satisfação sexual, ira e comportamento agressivo, dentre outros. Regula também 
 
 
9 
o funcionamento do sistema nervoso autônomo, estando então implicado na 
regulação da pressão sanguínea, respiração, batimento cardíaco e ativação 
fisiológica nas respostas referentes a circunstâncias emocionais. 
Estudos recentes indicam que há uma proteína, a leptina, que é liberada 
quando comemos de forma demasiada. O hipotálamo aparentemente percebe os 
níveis de leptina na corrente sanguínea e responde com a queda da sensação de 
apetite. Sugere-se que algumas pessoas têm uma mutação genética em um gene 
que produz a leptina e seu corpo não envia a mensagem para o hipotálamo 
informando que já se comeu o suficiente, o que dá origem a uma hipótese paraa 
obesidade, ainda que muitos obesos não apresentem esta mutação genética, o 
que leva mais uma vez, ao cuidado com afirmações absolutas quando falamos 
sobre o sistema nervoso. 
O hipotálamo também está química e neurologicamente relacionado com a 
glândula pituitária, conhecida como a glândula mestra. Esta glândula libera 
hormônios relacionados à regulação do crescimento e do metabolismo. 
O hipocampo consiste de duas estruturas que formam uma curva partindo 
da amígdala. Está significativamente relacionado à conversão de memória 
imediata em memória de longa duração. Pesquisas demonstram que quando o 
hipocampo é lesionado o indivíduo não consegue construir novas memórias, como 
se tudo o que fosse experimentado desaparecesse após algum tempo; entretanto, 
não se perde o acesso a memórias mais antigas. 
As amígdalas são estruturas em forma de amêndoas situadas em ambos 
os lados do tálamo, no extremo inferior do hipocampo. Quando estimuladas 
eletricamente em animais, estes respondem com agressividade. Por outro lado, 
quando as amígdalas são extirpadas, os animais se tornam extremamente dóceis 
e não respondem a estímulos que lhes causariam raiva e medo, além de haver 
diminuição das respostas sexuais. Vale ainda lembrar que amígdalas são 
estruturas pertencentes ao sistema límbico – diferentemente das popularmente 
conhecidas amígdalas presentes na garganta, cuja denominação correta é 
tonsilas palatinas. 
4.3 Cerebelo: nosso pequeno cérebro 
As tradicionais abordagens neurobiológicas afirmam que o cerebelo é a 
parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e postura corporal, 
controle do tônus muscular e dos movimentos voluntários, bem como pela 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Enc%C3%A9falo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Equil%C3%ADbrio
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=T%C3%B4nus_muscular&action=edit
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Movimento_volunt%C3%A1rio&action=edit
 
 
10 
aprendizagem motora. É formado por dois hemisférios – os hemisférios 
cerebelares – e por uma parte central, chamada de verme cerebelar. O termo 
cerebelo deriva do latim, e significa "pequeno cérebro". 
Estudos atuais indicam que o cerebelo, por meio de circuitos cérebro-
cerebelares – projeções entre o cerebelo e diferentes áreas do córtex cerebral – 
tem participação relevante em funções como atenção, linguagem e outros 
aspectos da cognição. 
Pode-se dizer que um grande marco no estudo do cerebelo envolvendo 
funções cognitivas se deu na década de 1980, quando um pesquisador chamado 
Erick Courchesne, da Universidade da Califórnia (San Diego, EUA), em suas 
investigações neuroanatomofuncionais relacionadas ao autismo infantil, percebeu 
que não haveriam alterações no córtex cerebral de autistas, mas sim em seus 
cerebelos. 
Vejam que o cerebelo até então, nas abordagens tradicionais, aparece 
como uma estrutura relacionada a funções motoras e de equilíbrio, e nenhuma 
destas funções é descrita como alterada no autismo infantil – distúrbio 
caracterizado pelo prejuízo em três áreas do desenvolvimento: interação social, 
comunicação e presença de comportamento restrito e repetitivo, nenhuma das 
áreas com referências motoras significativas. 
Então qual seria a relação entre cerebelo e autismo? 
Courchesne e seus colaboradores sugerem que a relação estaria implicada 
em funções não motoras para o cerebelo. Esta pesquisa desencadeou uma série 
de outros estudos no mundo todo, reconsiderando o cerebelo como estrutura 
envolvida em processos nervosos superiores. 
Podemos citar o envolvimento do cerebelo em funções como linguagem, 
atenção seletiva, memória, e também em distúrbios como transtorno de déficit de 
atenção e hiperatividade e autismo infantil. Além disso, são descritas duas 
síndromes cerebelares cujas manifestações predominantes não são de origem 
motora: a síndrome cerebelar afetivo-cognitiva, caracterizada por manifestações 
comportamentais, e a síndrome da fossa posterior, caracterizada principalmente 
por mutismo após cirurgias do cerebelo. 
O objetivo, neste momento, é apenas o de apresentar o cerebelo sem 
cometer a injustiça de relacioná-lo somente a funções motoras e de equilíbrio, e 
demonstrar que, como as demais estruturas do sistema nervoso, suas funções 
são complexas e interdependentes. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Latim
 
 
11 
4.4 Tronco encefálico: passagem para a vida 
O tronco encefálico é uma estrutura do sistema nervoso central relacionada 
predominantemente às funções mais primitivas, ou seja, aquelas que controlam a 
manutenção da vida, como a respiração, os batimentos cardíacos e o estado de 
vigília-sono. Contudo, pesquisas recentes indicam que o tronco encefálico possui 
uma importante relação com uma função nervosa superior: a atenção, como 
veremos logo adiante. 
Anatomicamente, o tronco encefálico é dividido em mesencéfalo, ponte e 
bulbo, e está localizado anteriormente ao cerebelo. Suas funções gerais 
consistem em receber informações sensitivas de estruturas cranianas, controlar 
os músculos da cabeça, transmitir informações da medula espinal para outras 
regiões do encéfalo, e deste para a medula espinal, além de desempenhar 
funções motoras e sensitivas específicas. 
Na região do tronco encefálico há um cruzamento de projeções nervosas, 
que fazem com que o lado esquerdo do cérebro controle os movimentos do lado 
direito do corpo, e o lado direito do cérebro controle o lado esquerdo. Além disso, 
ele faz conexão com 10 dos 12 nervos cranianos. 
O tronco encefálico está relacionado também a outra função – 
particularmente interessante para nós educadores – a regulação da atenção, por 
meio da formação reticular. 
A formação reticular é a agregação de neurônios de tamanhos e tipos 
diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas e está localizado na parte 
central do tronco encefálico. 
As grandes vias ascendentes (que levam informações) e sistemas como o 
piramidal e visual, passam pela formação reticular, o que demonstra que esta 
estrutura tem importância significativa em processos nervosos superiores. 
A formação reticular está relacionada ao estado de sono e vigília, pois ela 
é capaz de ativar o córtex cerebral a partir do sistema ativador reticular 
ascendente (SARA). Além disso, contém mecanismos capazes de regular o sono 
de forma ativa. O sono não é homogêneo: possui vários estágios, entre estes está 
o sono paradoxal (ou sono REM, chamado assim pelo fato de os olhos se 
moverem rapidamente, e ainda que o indivíduo esteja em sono profundo, é nesta 
fase que ocorrem os sonhos, e estudos recentes relacionam este sono com a 
capacidade de transformar a memória imediata em memória de longa duração). 
 
 
12 
Por esta estrutura ser um filtro de informações que deve ter acesso ao 
córtex cerebral, há evidências que esteja relacionada ao transtorno de déficit de 
atenção e hiperatividade (TDAH), pois teoricamente, não faria corretamente a 
“filtragem” de estímulos que chegam ao córtex, levando o indivíduo acometido por 
este distúrbio a não selecionar adequadamente o que explora em sua atenção. 
Na prática, é como se a pessoa não conseguisse diferenciar a importância de um 
professor falando e um ruído que esteja ocorrendo fora da sala de aula. 
4.5 Sistema vestibular e equilíbrio 
A capacidade do ser humano de manter a postura ereta e de se mover 
sobre o solo se desenvolveu ao longo de milhares de anos. 
Como parte deste processo evolucionário, diversos sistemas 
neuromusculares e neurossensoriais foram gerados para indicar com precisão a 
correta orientação espacial de um indivíduo, sua postura, sua relação com o meio 
e sua locomoção. 
O sistema vestibular detecta a posição da cabeça no espaço; isto é, 
determina se ela está ereta com relação à força gravitacional da Terra, se está 
jogada para trás, voltada para baixo, ou em outra posição. Detecta também as 
mudanças bruscas de movimento. Para aexecução dessas funções, o aparelho 
vestibular divide-se em duas secções fisiologicamente distintas: a mácula do 
utrículo e do sáculo e os canais semicirculares. 
O sentido de equilíbrio depende de grupos de células sensoriais ciliadas 
localizadas na parede interna do sáculo e utrículo e na base dos canais 
semicirculares. As fibras nervosas que partem dessas células sensoriais levam 
informações sobre a posição relativa dos cílios até os centros de equilíbrio no 
encéfalo. 
Quando a cabeça se movimenta, a inércia do líquido no interior dos canais 
semicirculares exerce pressão sobre os cílios das células sensoriais. A pressão 
faz com que os cílios se curvem, estimulando as células sensoriais a gerar 
impulsos nervosos e transmiti-los ao encéfalo. 
A sensação de tontura que sentimos quando rodopiamos resulta do conflito 
de duas percepções: os olhos informam ao sistema nervoso que paramos de 
rodopiar, mas o movimento do líquido dos canais semicirculares da orelha interna 
informa que nossa cabeça ainda está em movimento. 
 
 
13 
4.6 Neurotransmissores: a química cerebral 
Muitos de nossos comportamentos são guiados pela “química” cerebral, ou 
seja, a neurobioquímica, um universo tão apaixonante que cremos que “haverá 
uma química entre vocês e esse conhecimento”. 
Nossos movimentos, pensamentos, memória e até mesmo gostos estão 
relacionados a pequenas moléculas geralmente produzidas pelos neurônios, que 
sinalizam e estimulam grupos de neurônios, os quais, por sua vez, processam e 
respondem ao estímulo às quais denominamos de neurotransmissores. 
Os neurotransmissores são formados de substâncias que servem como 
meio de comunicação entre as células do cérebro. Estimulam a continuidade de 
um impulso ao efetuar a reação final no órgão ou músculo-alvo permitindo a 
comunicação celular cerebral. 
Quando um sinal elétrico passa por um neurônio e atinge o terminal pré-
sináptico, um ou mais neurotransmissores podem ser liberados na sinapse. A 
partir daí, existem receptores pós-sinápticos no outro neurônio aos quais os 
neurotransmissores se ligam. Todo esse processo é chamado de transmissão 
sináptica. 
Os neurotransmissores são conhecidos por promovem respostas 
excitatórias ou inibitórias entre neurônios que se comunicam por sinapses 
químicas. Eles podem ser excitatórios (provocam a despolarização da 
membrana pós-sináptica), ou inibitórios (promovem a hiperpolarização da 
membrana pós-sináptica). 
Muitas drogas impactam o sistema nervoso alterando a atividade desses 
neurotransmissores de várias formas. Essas podem afetar a produção, o 
armazenamento, a liberação ou a desativação de neurotransmissores, e podem 
também bloquear os receptores ou conseguir se ligar a eles por serem parecidos 
com neurotransmissores. 
Problemas relacionados aos neurotransmissores podem resultar em 
cansaço, insônia, ganho de peso, ansiedade, prejuízos cognitivos, entre outros. 
Existem vários tipos de neurotransmissores. Entre os mais conhecidos estão: 
• Acetilcolina: sua função é estimular a propagação dos impulsos nervosos 
das células nervosas para células motoras e músculos esqueléticos. Essa 
molécula está relacionada ao controle do tônus muscular, aprendizado e 
desempenho sexual. 
 
 
14 
• Endorfina: Esse neurotransmissor relaciona-se a sentimentos como 
euforia e êxtase. Esse neurotransmissor atua também aliviando a sensação 
de dor e reduzindo o estresse. 
• Dopamina: A função da dopamina está relacionada com o local onde ela 
atua. Assim como a endorfina, essa molécula também está relacionada 
com a euforia e, além disso, apresenta ligação com a execução de 
movimentos suaves e regulação das informações advindas das diferentes 
partes do cérebro. 
• Noradrenalina: Esse neurotransmissor é responsável pela excitação física 
e mental, bem como é conhecido por promover o bom humor produzido no 
locus coeruleus, atuando como mediador dos batimentos cardíacos, 
pressão sanguínea e conversão de glicogênio em energia, entre outros. 
• Serotonina: Esse neurotransmissor relaciona-se, por exemplo, com 
estímulos dos batimentos cardíacos, regulação dos níveis de humor e início 
do sono. 
• Ácido Gama Amino Butírico (GABA): O principal neurotransmissor 
inibitório do encéfalo. O processo inibitório ocorre quando o GABA se liga 
ao receptor, permitindo dessa forma a entrada de cloro para dentro da 
célula. Responsável pela sintonia fina e coordenação dos movimentos 
entre outros. 
• Glutamato: Principal neurotransmissor excitante do cérebro, vital para 
estabelecer os vínculos entre os neurônios que são a base da 
aprendizagem e da memória em longo prazo. A atuação do glutamato é 
fundamental no processo de memória. 
TEMA 5 – BASES DA NEUROPLASTICIDADE 
Neuroplasticidade cerebral é uma característica do sistema nervoso. 
Refere-se à capacidade do cérebro de se readaptar, alterando algumas das 
propriedades morfológicas e funcionais em resposta ao ambiente. 
Está relacionado ao processo de aprendizagem e é fundamental para 
qualquer atividade que gere um estímulo criativo, o qual faz com que o cérebro se 
torne flexível e mutável. 
Quando acontece um estímulo inicial ou adquirido, o controle motor é 
acionado, ou seja, esse estímulo recebido é maximizado para que se torne um 
aprendizado. 
 
 
15 
O cérebro é adaptável durante toda a vida do indivíduo. Porém a 
neuroplasticidade é um processo que ocorre mais facilmente na infância devido 
ao maior crescimento de neurônios e a capacidade de aprendizagem e, com o 
passar do tempo, esse processo tende a diminuir, mas não chega a desaparecer. 
No passado acreditava-se que o cérebro possuía uma capacidade limitada 
de regeneração, e que ao alcançar certa idade, ou devido a doenças, o indivíduo 
teria uma diminuição de células cerebrais, perdendo assim funções importantes. 
No entanto, com o avanço tecnológico principalmente a partir da década de 1970, 
constatou-se que a plasticidade promove novas interações entre neurônios, 
criando novos caminhos neurais, modificando toda a rede de conexão. Podemos 
dizer que uma célula, com capacidade de aprender e de executar funções 
distintas, pode se modificar e se adaptar como resultado da experiência. Quando 
uma área cerebral imprescindível para o funcionamento do sistema é afetada, esta 
poderá ser substituída, mesmo sendo de função diferente. 
Em outra perspectiva, podemos dizer que na presença de lesões, o sistema 
nervoso central se utiliza desta capacidade na tentativa de recuperar funções 
perdidas ou, principalmente, fortalecer funções similares relacionadas às originais. 
5.1 Formas de neuroplasticidade 
Vamos apresentar a seguir, algumas das formas descritas da ocorrência 
da plasticidade cerebral: 
• Regenerativa: consiste no recrescimento dos axônios lesados. É mais 
comum no sistema nervoso periférico; 
• Axônica (ou ontogenética): ocorre de zero a dois anos de idade. É a fase 
crítica, fundamental para desenvolvimento do sistema nervoso; 
• Sináptica: capacidade de alterar a sinapse entre as células nervosas; 
• Dendrítica: alterações no número, no comprimento, na disposição espacial 
e na densidade das espinhas dendríticas. Ocorre principalmente nas fases 
iniciais do desenvolvimento do indivíduo; 
• Somática: capacidade de regular a proliferação ou a morte de células 
nervosas. Somente o sistema nervoso embrionário é dotado dessa 
capacidade. 
 
 
16 
Vejam que o processo de plasticidade das células nervosas pode ser 
considerado um marco na neurociência, principalmente quando pensamos nas 
infinitas possibilidades do desenvolvimento humano. 
A neuroplasticidade é um precioso conhecimento para a educação. Com 
base neste conhecimento, podemos ter um novo “olhar” para a diversidade, que 
nos permite perceber a enorme possibilidade de desenvolvimento no ser humano. 
Por maiores que sejam as limitações, ao oferecermos um meio ambiente 
favorável, o conjuntobiológico fará sua parte para responder adequadamente a 
este meio, em um contínuo processo de evolução e adaptação. 
FINALIZANDO 
Nesta primeira aula pudemos percorrer um pouco pelo universo da 
anatomia e do funcionamento do sistema nervoso humano. Conhecemos a 
evolução filogenética e observamos que o desenvolvimento de estruturas 
nervosas foi uma resposta aos estímulos do meio ambiente. Estudamos ainda a 
divisão anatômica do sistema nervoso humano e suas principais estruturas. Esse 
conhecimento trouxe subsídios para o entendimento das principais funções 
nervosas e da bioquímica envolvida. Abordamos também as bases da 
neuroplasticidade, de grande importância para nós educadores, que passamos a 
entender a capacidade de adaptação neural como resposta ao ambiente de 
estímulos. 
Saiba mais 
O documentário produzido pela rede Discovery Channel ilustrará nossa 
aula de maneira bastante agradável. 
SISTEMA nervoso – completo – Discovery Channel – Ciências Já! Ciências Sem 
Fronteiras, 4 dez. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
mQoUyzOJNc>. Acesso em: 12. mar. 2021. 
 
 
 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
AMABIS, J. M. Biologia em contexto. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2013. 
GOULART, F. Neurotransmissão: sinapses. Disponível em 
<http://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/FlaviaGoulart/Aula_basi
ca%20_SNC.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018. 
ANNUNCIATO, N. F. Desenvolvimento do sistema nervoso. Temas sobre 
Desenvolvimento, v. 4, n. 24, São Paulo: Mennon, 1995. 
BITTENCOURT, S. Neuromoduladores e neurotransmissores, noção geral. 
Disponível em: <http://www.neurofisiologia.unifesp.br/neuromoduladores_nocaog
eral_simonebittencourt.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018. 
CAGLIUMI, W. A. Cerebelo: revisão de estudos neuro-anátomofuncionais 
relacionados aos aspectos não motores. Dissertação (Mestrado em Medicina). 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2002. 
GUYTON, A. C. Neurociência básica, anatomia e fisiologia. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 1993 
KING, M. W. Neurotransmissores: diversidade e funções. Cérebro & mente, 
2000. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotr
ansmissores/nerves_p.html>. Acesso em: 30 ago. 2018. 
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceito fundamentais de neurociência. 2. 
ed. Rio de Janeiro: Atheneu; Faperj, 2010. 
MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002. 
SCHARTZMAN, J. S. Transtorno de déficit de atenção. São Paulo, Memnon; 
Mackenzie, 2001. 
 
 
 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Wagner Allan Cagliumi 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 
“As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer 
guerra. Quando educarmos para cooperarmos e formos solidários uns 
com os outros, nesse dia estaremos educando para a paz.” 
Maria Montessori 
 
Em nosso primeiro capítulo, pudemos conhecer um pouco da mágica 
anatomia do sistema nervoso e suas relações funcionais gerais, fornecendo uma 
base para que possamos conhecer agora como todas essas estruturas 
convergem para as várias formas em que nos relacionamos com o meio ambiente. 
Pudemos perceber o quanto essas estruturas se desenvolveram com nossa 
evolução e, consequentemente, como são importantes em nosso cotidiano. 
Iniciaremos, então, o estudo das funções nervosas superiores, começando pelos 
sentidos. Falaremos um pouco de visão, audição, tato, gustação, olfato e sistema 
vestibular, um importante sentido pouco comentado. 
Os sentidos fundamentais do corpo humano (visão, audição, tato, 
gustação, olfato e sistema vestibular) constituem as funções que propiciam o 
nosso relacionamento com o ambiente. Por meio dos sentidos, o nosso corpo 
pode perceber muita coisa do que nos rodeia; contribuindo para a nossa 
sobrevivência e integração com o ambiente em que vivemos. 
CONTEXTUALIZANDO 
Existem determinados receptores, altamente especializados, capazes de 
captar estímulos diversos. Tais receptores, chamados receptores sensoriais, são 
formados por células nervosas capazes de traduzir ou converter esses estímulos 
em impulsos elétricos ou nervosos que serão processados e analisados em 
centros específicos do sistema nervoso central, onde será produzida uma 
resposta voluntária ou involuntária. 
Com o conhecimento adquirido das percepções, poderemos estudar as 
bases da memória, que, por sua vez, dependem das percepções, incluindo aí a 
atenção. 
A memória, imenso arquivo humano de experiências, impressões e 
conhecimentos, como base da aprendizagem, será tratada pelo ponto de vista 
neuroanatomofisiológico, ou seja, sua anatomia, seus sistemas e sua formação. 
 
 
 
3 
TEMA 1 – BASES NEURONAIS DA PERCEPÇÃO 
1.1 Percepção visual 
O sentido da visão é um dos principais sentidos utilizados neste momento 
de nossa evolução. A capacidade do olho de distinguir entre dois pontos próximos 
é chamada acuidade visual, a qual depende de diversos fatores, em especial do 
espaçamento dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho. 
Para se ter uma ideia da utilização desse sentido, sabe-se que hoje cerca 
de 65% de todas as informações que chegam ao sistema nervoso central são 
informações visuais, o que, para nós, educadores, tem importância significativa, 
pois se para nosso aluno essa não for a melhor maneira de apreender o meio, 
corremos o risco de sobrecarregar esse sentido em detrimento de outras 
possibilidades sensoriais que também podem resultar em aprendizagem. 
A percepção visual é a identificação, organização e interpretação dos 
dados sensoriais recebidos pelos olhos. Subdivide-se em discriminação, 
fechamento, figura – fundo, memória visual, planejamento motor e sequência. 
A discriminação visual pode ser definida como a habilidade de perceber 
diferenças e semelhanças, o que nos permite distinguir as variadas formas, cores 
e tamanhos daquilo que vemos e dar-lhes significados diferentes. 
Quando falamos em fechamento, na percepção visual, estamos nos 
referindo a habilidade de perceber estímulos visuais e identificar uma figura 
incompleta. 
A habilidade de perceber objetos misturados a outros e canalizá-los é 
denominada figura-fundo. 
A memória visual é a habilidade de guardar estímulos visuais e de usá-los 
quando solicitado. 
Podemos definir como planejamento motor a habilidade de reproduzir, de 
memória, atividades que já tenham sido previamente demonstradas, como 
desenhos e letras. 
Finalmente, sequência é a reprodução da informação em uma determinada 
ordem. 
 
 
 
 
4 
1.2 Percepção auditiva 
A audição e a visão podem ser consideradas os sentidos mais utilizados 
pelo ser humano moderno por este motivo iniciarão com um texto que gostaria 
que lessem e refletissem, pois o considero um dos melhores textos relativos aos 
sentidos. Na verdade, este depoimento trata da privação dos sentidos da visão, 
que já estudamos, e da audição que iniciamos. 
Quero aproveitar esta oportunidade para lembrar que estes estudos que 
estamos fazendo, convergem para a ilimitada potencialidade humana, a 
adaptação e a sobrevivência da espécie. Desta forma, veremos um ser humano 
que supera a desvantagem da dificuldade em comunicar-se após a perda de seus 
sentidos visual e auditivo. 
O texto seguinte é um impressionante depoimento de Helen Keller a 
respeito da descoberta da linguagem: 
Ela me trouxe o chapéu e eu sabia que iria sair para o sol quente. Este 
pensamento, se é que uma sensação sem palavras pode chamar-se um 
pensamento, fez que eu pulasse e saltasse de prazer. 
Andamos pelo caminho do poço, atraídas pela fragrância das 
madressilvas que o cobriam. Alguém estava tirando água e a professora 
colocou minha mão debaixo da bica. Quando a corrente fria jorrou sobre 
minha mão, ela soletrou, na outra, a palavra água, primeiro devagar, 
depois rapidamente. Fiquei parada,toda a minha atenção fixa no 
movimento de seus dedos. De repente, senti uma obscura consciência 
como de algo esquecido – uma emoção de pensamento que retornava; 
e, de algum modo, o mistério da linguagem me foi revelado. Soube então 
que á-g-u-a significava o algo maravilhoso e frio que escorria sobre 
minha mão. Aquela palavra viva despertou-me a alma, deu-lhe luz, 
esperança, alegria, libertou-a! Ainda existiam barreiras, é verdade, mas 
barreiras que com o tempo poderiam ser removidas. 
Deixei o poço ansiosa por aprender. Tudo tinha um nome, e cada nome 
deu à luz um pensamento. Quando voltamos para casa, todo objeto que 
eu tocava parecia tremer de vida. Isto porque eu via tudo com a estranha 
e nova visão que sobreviera. (Langer, 1971) 
Após tão belo depoimento de Hellen Keller, seguimos nossa jornada 
buscando entender melhor o ser humano para que nosso trabalho seja o de 
propiciar o desenvolvimento e a qualidade de vida para pessoas que, com ou sem 
deficiências, incapacidades funcionais, ou quaisquer desvantagens que possam 
permear seu universo, são cidadãos e sobretudo seres humanos em busca de seu 
lugar. 
Comecemos pelo som, o qual é produzido por ondas que se propagam no 
ar de maneira semelhante às ondas na superfície da água. Essas ondas sonoras 
vão avançando até alcançar nossa orelha. 
 
 
5 
A orelha humana é um órgão cuja sensibilidade possibilita a percepção e 
interpretação de ondas sonoras de frequências entre 16 e 20.000 Hertz (ondas 
por segundo). 
Da captação do som até sua percepção e interpretação, há uma sequência 
de transformações da energia: 
 Sonora Mecânica Hidráulica Elétrica 
 O pavilhão auditivo capta e canaliza as ondas sonoras para o canal 
auditivo e para o tímpano. Este transforma as vibrações sonoras em vibrações 
mecânicas que são comunicadas aos ossículos (martelo, bigorna e estribo), que 
funcionam como alavancas, aumentando a força das vibrações mecânicas e 
agindo como amplificadores das vibrações da onda sonora. 
Na orelha interna, denominada labirinto, existem escavações no osso 
temporal, que são revestidas por uma membrana e preenchidas com líquido. A 
parte anterior do labirinto é chamada de cóclea e, à medida em que a vibração 
sonora penetra na cóclea, o líquido mencionado é lançado mais profundamente – 
energia hidráulica, e o movimento deste líquido provoca a vibração de uma 
membrana, denominada basilar, que, por sua vez, flexiona células ciliares. 
A flexão desses cílios excita células sensoriais e gera impulsos nas 
terminações nervosas da cóclea. Assim a energia hidráulica é convertida em 
energia elétrica. Esses impulsos são transmitidos através do nervo coclear até os 
centros auditivos do tronco encefálico e córtex cerebral. 
Os centros auditivos do tronco encefálico relacionam-se com a localização 
da direção da qual o som emana e com a produção reflexa de movimentos rápidos 
da cabeça, dos olhos ou mesmo de todo o corpo, em resposta a estímulos 
auditivos. 
O córtex auditivo, localizado na porção média do giro superior do lobo 
temporal, recebe os estímulos auditivos e os interpreta como sons diferentes. 
Após a compreensão do mecanismo básico da audição, vamos entender a 
percepção auditiva, que, a exemplo da percepção visual, pode ser definida como 
a identificação, a organização e a interpretação do som. Divide-se em atenção, 
habilidade de reagir a um som, discriminação auditiva, a habilidade de distinguir 
sons de ruídos e figura-fundo, habilidade de selecionar sons específicos. 
 
 
 
6 
1.3 Percepção gustativa e paladar 
Quando conhecemos o funcionamento de nosso corpo, acabamos por 
atentar para as sensações de forma mais acentuada. 
Sentimos o sabor das coisas que comemos, e com uma riqueza e variação 
enorme, graças ao paladar, que, se não o possuíssemos, nossas refeições seriam 
totalmente insípidas, servindo somente para repor a energia gasta e alimentar o 
corpo. 
A gustação é primariamente uma função da língua, embora regiões da 
faringe, palato e epiglote tenham alguma sensibilidade. Os aromas da comida 
passam pela faringe, onde podem ser detectados pelos receptores olfativos. 
Nossa língua possui em sua superfície dezenas de papilas gustativas, cujas 
células sensoriais percebem os quatro sabores primários, aos quais chamamos 
sensações gustativas primárias: amargo, azedo ou ácido, salgado e doce. De sua 
combinação resultam centenas de sabores distintos. A distribuição dos quatro 
tipos de receptores gustativos, na superfície da língua, não é homogênea. 
Cada tipo de comida em sua combinação de sabores básicos ajuda a torná-
la única. Muitas comidas têm um sabor distinto como resultado da soma de seu 
gosto e cheiro, percebidos simultaneamente. Além disso, outras modalidades 
sensoriais também contribuem com a experiência gustativa, como a textura e a 
temperatura dos alimentos. A sensação de dor também é essencial para 
sentirmos o sabor picante e estimulante das comidas apimentadas. 
Pois bem, então temos na língua as papilas gustativas de onde serão 
transmitidos os estímulos via nervo lingual para o tracto solitário, localizado no 
bulbo, que, por sua vez, se localiza no tronco encefálico. Em seguida, os estímulos 
são transmitidos ao tálamo; do tálamo passam ao córtex gustativo primário e, 
subsequentemente, às áreas associativas gustativas circundantes e à região 
integrativa comum, que é responsável pela integração de todas as sensações. 
E não nos esqueçamos de que este fabuloso sentido do paladar como 
todos os outros deve ser explorado, sentido, preservado. 
1.4 Percepção tátil 
Sentimos tantas sensações importantes através de nossa pele, pressão, 
dor, frio, calor entre outras, graças ao sentido do tato. 
 
 
7 
Pois bem, para que possamos processar essas sensações aferidas do 
ambiente, contamos com o maior órgão do corpo humano: a pele, que chega a 
dois metros quadrados, e pesar até 4 kg em um adulto. Constitui-se basicamente 
por duas camadas unidas entre si: uma mais externa denominada epiderme e 
outra mais interna, a derme. 
Também é a pele nosso maior órgão sensorial, pois toda sua superfície é 
provida de terminações nervosas capazes de captar estímulos térmicos, 
mecânicos ou dolorosos. 
Globalmente conhecido como sentido do tato, na verdade a pele tem 
diferentes receptores especializados para percepções separadas: dor, 
temperatura, pressão e tato propriamente dito. Sua sensibilidade é tamanha que 
podemos discriminar um ponto em relevo com apenas 0,006 mm de altura e 0,04 
mm de largura quando tateado com a ponta do dedo. 
A polpa dos dedos percebe, em média, cerca de seis impressões táteis de 
uma só vez. O alfabeto Braile, que permite aos cegos ler, foi criado levando em 
conta essa característica. Nesse alfabeto, cada letra é uma combinação de até 
seis pontos. 
As terminações nervosas encontradas na pele são especializadas na 
recepção de estímulos específicos. Cada receptor tem um axônio com exceção 
das terminações nervosas livres. Nas regiões da pele providas de pelo, existem 
terminações nervosas específicas nos folículos capilares formadas por axônios 
que envolvem o folículo piloso e recebem forças mecânicas que são aplicadas 
contra o pelo; e outras chamadas receptores de Ruffini, que são receptores 
térmicos de calor. 
Temos ainda receptores que são comuns às regiões cobertas ou não por 
pelos. São os corpúsculos de Paccini, responsáveis pelos estímulos vibratórios e 
táteis; os corpúsculos de Meissner são táteis, e os discos de Merkel são 
relacionados com sensibilidade tátil e pressão. As terminações nervosas livres são 
sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos e dolorosos e os bulbos terminais 
de Krause, receptores térmicos do frio. 
Pois é, amigos neuroleitores, não se esqueçam de que mais que células, 
neurônios, terminações nervosas, o tato é sobretudo um sentido que compõe 
nossas emoções. Tocar outra pessoapode ser fonte de sensações que remetem 
a valores como confiança e carinho. Não é à toa que o mais tradicional 
cumprimento é o aperto de mãos. 
 
 
8 
TEMA 2 – BASES NEURONAIS DA ATENÇÃO 
“O cérebro escaneia o ambiente selecionando por meio de mensagens 
sensoriais para encontrar algo em que prestar atenção.” 
Sprenger 
 
O tema atenção está presente em nossa vida pessoal e profissional todo o 
tempo e frequentemente nos leva à reflexão do que significa essa habilidade. 
Quando estamos em um ambiente cheio de estímulos visuais, sonoros, 
táteis dentre outros, conseguimos estar atentos à conversa com nossos amigos e 
sequer percebemos a quantidade de luzes, cores ou sons que nos rodeia. Não 
percebemos a pressão do calçado em nossos pés ou a camisa sobre nossa pele, 
no entanto, todos esses estímulos estão chegando de alguma forma até nosso 
sistema nervoso central e sendo processados. Mas nossa atenção continua na 
conversa com nossos amigos. Então, que habilidade é essa que consegue ao 
mesmo tempo levar várias informações ao nosso cérebro e somente o que é 
“relevante” chega à nossa consciência? 
Primeiramente devemos entender que não se trata de uma única habilidade 
ou sentido, mas sim um conjunto de habilidades que envolvem grau de alerta, 
concentração, orientação, seleção e exploração e que o desempenho dessas 
funções depende da atividade conjunta de diversas estruturas situadas em 
diferentes níveis do sistema nervoso central, conforme relata Schwartzman 
(2001). Estruturas nervosas corticais e subcorticais, formação reticular, tálamo e 
sistema límbico, dentre outras, parecem estar envolvidas com funções sensitivo-
sensoriais e motoras, incluindo aí a atenção. 
2.1 O que é a atenção? 
A atenção desempenha um papel importante em diferentes aspectos da 
vida das pessoas, tanto que têm sido muitos os esforços por pesquisadores de 
diversas áreas do conhecimento a estudá-la e na tentativa de definir seu status 
entre os processos neuropsicobiológicos. 
Embora não haja um consenso, os estudos científicos tentam definir o 
processo de atenção e localizar áreas do sistema nervoso central envolvidas 
nessas habilidades. Vários autores definem a atenção como um processo, 
relatando que a atenção possui fases, dentre as quais se destacam a sua 
orientação, seleção e manutenção. 
 
 
9 
Assim, podemos dizer que a atenção é um processo discriminativo e 
complexo que acompanha todo o processamento cognitivo. Também é 
responsável pela filtragem da informação bem como pela evocação de recursos 
para permitir a adaptação interna do organismo em relação às demandas 
externas. 
Alguns autores definem ainda a atenção como um processo pelo qual 
dirigimos nossos recursos mentais sobre aspectos mais relevantes do ambiente, 
ou na execução de certas ações que consideramos mais apropriadas entre as 
possíveis. Refere-se ao estado de observação alerta e nos permite ter consciência 
do que está ocorrendo ao nosso redor. Em outras palavras, a atenção é a 
capacidade de gerar, gerir e manter um estado de ativação para o processamento 
das informações. 
Para a psicologia, a atenção é uma qualidade de percepção que funciona 
como uma espécie de filtro de estímulos, avaliando quais são os mais relevantes 
e os priorizando para um processamento mais profundo. Obviamente esse 
processo neuropsicológico é básico para o processamento de qualquer 
modalidade de informação externa ou interna para a realização de qualquer 
atividade. 
Dentre todas as tentativas de definir a atenção ou localizar as áreas 
neuroanatômicas envolvidas, realizadas por diversos estudos; a atenção pode ser 
definida como a capacidade de selecionar e se concentrar em estímulos 
relevantes. 
2.2 Desenvolvimento da atenção 
Como pudemos perceber no tema anterior, embora não tenhamos 
alcançado ainda um consenso para definir com sucesso a atenção, devido à 
diversidade de critérios, estudos e atividades envolvidas e sistemas 
neuroanatômicos relacionados, a maioria dos autores em suas tentativas de 
consegui-lo, fornecem uma descrição de suas características. 
Podemos observar, dentre os vários aspectos envolvidos com a atenção, 
que algumas características emergem como base desse processo. Dentre as 
características, podemos citar a amplitude, ou seja, a quantidade de informações 
ou tarefas que podem ser realizadas simultaneamente: a seletividade, ou atenção 
seletiva, e a concentração. 
 
 
 
10 
2.3 Classificação da atenção 
Para entendermos melhor esse processo de atenção, destacamos alguns 
dos principais tipos: 
 Atenção seletiva: ocorre a seleção das informações, evidenciando o foco 
principal. Algumas vezes o cérebro não consegue assimilar todos esses 
sinais, e usa como saída a atenção seletiva para omitir informações 
irrelevantes. 
 Atenção alternada: alternar o foco sem perdê-lo. Ajudando em tarefas que 
requerem mais de um nível de compreensão, por exemplo, no trânsito, 
permanecer atento às placas, sinais, pedestres, entre outras das muitas 
informações enquanto se dirige, sem perder a concentração no todo. 
 Atenção sustentada: habilidade de se manter focado durante uma mesma 
atividade extensa e contínua. Por exemplo, manter-se atento durante 
reuniões longas, sustentando o foco da atenção nesse período. 
 Atenção concentrada: capacidade de direcionar a atenção para apenas 
uma atividade. Em casos específicos pode se relacionar com o estado flow. 
Em entrevista à Revista Wired, Mihaly Csikszentmihalyi (criador do 
conceito) descreve esse estado como “estar completamente envolvido em 
uma atividade em si. O ego desaparece. O tempo voa. Toda ação, 
movimento e pensamento segue naturalmente. Todo o seu ser está 
envolvido, e você está usando o máximo de suas habilidades” 
(Csikszentmihalyi, 1990). 
TEMA 3 – MEMÓRIA: BASES DA APRENDIZAGEM 
Aprendizagem e memória são funções abrangentes e específicas que são 
ativadas por estímulos ambientais e capazes de modificar o comportamento. Além 
dos estímulos, o comportamento também é influenciado pela interação do 
programa genético individual, ou seja, nosso comportamento final está 
relacionado aos fatores genéticos e epigenéticos. 
Podemos definir que a aprendizagem é um processo pelo qual adquirimos 
informação que se traduz em conhecimento. A memória é um termo amplo que se 
refere a uma série de funções nervosas distintas. A característica comum entre 
elas é a capacidade de recriar experiências pelo disparo sincrônico dos neurônios 
envolvidos na situação original. 
 
 
11 
Podemos dizer que a formação da memória envolve o aprendizado e a 
reconstrução parcial ou total de uma experiência passada. Durante o evento, as 
informações são levadas até o cérebro, onde células nervosas são acionadas em 
conjunto. Estas células são alteradas e tendem a disparar juntas novamente 
reconstruindo a experiência original, o que produzira a “lembrança”. A repetição 
do evento aumenta a probabilidade dessas células dispararem novamente em 
conjunto facilitando a evocação da lembrança. 
Assim, a formação da memória é dependente de vários estágios 
espontâneos, como seleção, consolidação, recordação, mudança e 
esquecimento. 
Definiremos o estágio de seleção da memória pela utilidade da informação 
que chega ao sistema nervoso central. O ser humano é neurologicamente 
programado para armazenar informações que serão úteis no futuro, o restante das 
informações passa sem registro. Eventualmente experiências importantes são 
negligenciadas e informações irrelevantes são retidas. 
No estágio da consolidação, as experiências selecionadas para a 
memorização são armazenadas, associadas a memórias relevantes preexistentes 
e retidas por um período apropriado. 
Para que possamos definir o estágio da recordação, devemos compreender 
que os acontecimentos vigentes devem evocar memórias úteis como nomes, 
eventos e palavras, acessando a informação de forma adequada.Pequenas modificações ocorrem quando a memória é evocada. Para que 
haja a acomodação de nova informação (que pode ser definida como o estágio da 
mudança), no estágio do esquecimento, as informações desnecessárias serão 
apagadas. 
TEMA 4 – ANATOMIA E SISTEMAS DE MEMÓRIA 
Atenção leitores neurocuriosos, para que possamos entender a formação 
da memória, precisaremos estudar sua anatomia, ou seja, precisamos conhecer 
estruturas nervosas envolvidas nessa função. 
Podemos afirmar que, de alguma forma, todo o encéfalo está envolvido nos 
processos de memória, no entanto algumas estruturas, à luz da neurociência, têm 
destaque nessa função que protagoniza a evolução do ser humano. 
O sistema límbico responde pelos comportamentos primitivos, por emoções 
profundas e impulsos relacionados à sobrevivência, como medo, prazer, impulso 
 
 
12 
sexual e ira. Esse importante sistema forma uma ponte entre o córtex cerebral, 
área de consciências superiores e o tronco encefálico, regulador das funções 
corporais. Esse complexo sistema tem importantes relações com a memória, por 
meio de estruturas como hipocampo, amígdalas e corpos mamilares. Outras 
estruturas corticais e subcorticais também estão implicadas na memória. 
Uma dessas estruturas é o hipocampo. Não podemos pensar na anatomia 
da memória sem destacar essa estrutura. 
O hipocampo está localizado no sistema límbico, possui entre uma e três 
camadas de células nervosa e seleciona informações provisórias para 
memorização, para depois passá-las para áreas de memória de maior duração. 
Podemos afirmar que o hipocampo transforma experiências em memórias. 
 As amígdalas também estão localizadas no sistema límbico e possuem 
forma de amêndoas, formando um conglomerado de neurônios que estão 
relacionadas com a memória emocional, 
Os corpos mamilares são pequenos blocos de células nervosas que 
retransmitem sinais ao tálamo, contribuindo para a prontidão e a formação da 
memória. 
Também relacionados à memória, temos os núcleos da base, denominados 
assim, por estarem na base do cérebro. São agrupamentos de corpos de 
neurônios com fibras que se projetam para várias áreas do encéfalo. Essas 
estruturas são como ilhas de substância cinzenta em meio à substância branca 
das fibras neuronais. Os núcleos da base estão localizados no interior dos 
hemisférios cerebrais: lateralmente ao tálamo, temos os núcleos caudado, 
putâmen e globo pálido; e abaixo do tálamo, temos o núcleo subtalâmico e a 
substância negra, importante área de produção de dopamina. 
O putâmen é um núcleo localizado lateralmente ao tálamo, recebendo 
fibras aferentes do córtex pré-motor, da área motora suplementar e do córtex 
somatossensorial primário. Essa estrutura está relacionada com o planejamento 
de padrões motores aprendidos. 
Já o núcleo caudado está localizado lateralmente ao tálamo, recebe 
aferências de todo o córtex cerebral, mas principalmente de áreas associativas, 
como o córtex pré-frontal, pré-motor e parietal posterior. Relaciona-se mais com 
aspectos cognitivos da atividade motora – com a escolha de padrões motores 
adequados à situação percebida sensorialmente e às informações armazenadas 
na memória de longo prazo. 
 
 
13 
Importante estrutura, o tálamo está situado no centro do encéfalo. Situado 
no centro anatômico do encéfalo, o tálamo é a principal estação de retransmissão 
para os sinais nervosos provenientes de todos os sentidos, exceto o olfato. 
O tálamo seleciona, inicia o processamento das informações sensoriais e 
as envia ao córtex cerebral. Está relacionado com a seleção e a filtragem da 
atenção, importantes habilidades para o processamento da memória. 
Não podemos deixar de mencionar o cerebelo, implicado nos processos de 
memória. Alguns neurocientistas relatam que o condicionamento clássico de 
respostas da musculatura esquelética parece depender do cerebelo, sendo esta 
uma forma básica de aprendizagem associativa e memória. Também mencionam 
que o cerebelo atua na catalogação e manutenção de sequências de eventos 
necessários pra o funcionamento da memória operacional em situações que 
requeiram o ordenamento temporal das informações. Longas células nervosas 
denominadas células de Purkinje, encontradas no cerebelo, unem ações de 
diferentes partes do corpo, coordenando movimentos finos e complexos, estando, 
portanto, envolvidas na aprendizagem de movimentos novos por mudança de 
atividade sináptica. Assim, podemos dizer que o cerebelo participa da 
aprendizagem de movimentos finos e, para que ocorra tal aprendizagem, é 
necessário que se estabeleça alguma memória operacional na catalogação, no 
ordenamento temporal e no armazenamento de cada evento para que, 
posteriormente, possa haver a execução do movimento. 
Finalmente, devemos citar áreas corticais como os lobos parietais, 
relacionados com a memória espacial e o lobo frontal associado com a memória 
de trabalho. 
4.1 Sistemas de memória 
A memória, de uma maneira geral, é a retenção e o armazenamento da 
informação. Do ponto de vista estrutural, sempre se considerou que a memória 
seria uma propriedade geral do córtex cerebral como um todo. Entretanto, 
pudemos observar que existem diferentes formas e sistemas de memória que 
estão relacionados a diferentes estruturas encefálicas. 
Vejam que as formas ou tipos de memória são processos em que há o 
reconhecimento de algo, como um rosto ou um objeto, com base em um 
determinado tipo de informação (auditiva, visual, tátil, dentre outras). 
Considerando a forma em que se pode recuperar a memória e as possíveis 
 
 
14 
estruturas envolvidas, a memória pode ser diferenciada em implícita, explícita, 
declarativa e não declarativa. 
As memórias explícita e declarativa se caracterizam pela recuperação 
consciente de informações e experiências passadas e de habilidades motoras, em 
que, por exemplo, se recorda como fazer as coisas. Seu substrato 
neuroanatômico se relaciona predominantemente com o lobo temporal medial. 
Vejamos também que possuímos memórias de curto prazo, que são 
mantidas somente pelo tempo necessário; e as de longo prazo, que podem ser 
evocadas até por décadas no ser humano. Entre elas as memórias de médio 
prazo, que duram entre meses e anos ou simplesmente desaparecem. Fatores 
como conteúdo emocional, novidade e o esforço de memorização determinam se 
uma experiência ou conhecimento formará uma memória de curto ou longo prazo. 
Assim, podemos reconhecer, nos seres humanos, cinco sistemas de 
memória: memória episódica, memória de trabalho, memória semântica, memória 
procedimental e memória implícita. 
A memória episódica reconstrói experiências passadas, sensações e 
emoções. As estruturas envolvidas dependem do conteúdo da experiência 
original. No córtex frontal, as áreas de associação asseguram que a memória 
episódica não seja confundida com a realidade presente. 
Na memória de trabalho os lobos frontais acessam itens de outras áreas 
do encéfalo. Dois sistemas em forma de alças neurais para informações visuais e 
de linguagem funcionam como um rascunho, mantendo os dados 
temporariamente até que sejam apagados pela tarefa seguinte. 
A memória semântica é ativada nas áreas do lobo frontal que recorrem ao 
conhecimento armazenado para guiar o comportamento atual. No lobo temporal 
há a codificação das informações, sinalizando os fatos evocados. Os eventos que 
pertencem à memória semântica podem ter tido um contexto emocional, mas 
permanecem como simples conhecimento. 
Armazenadas em áreas subcorticais, as memórias procedimentais ou 
memória corporal permitem a execução de ações motoras comuns, de forma 
automática, após a aprendizagem. No núcleo caudado estão armazenadas 
informações de ações instintivas, como o cuidado com a aparência, por exemplo. 
No putâmen estão armazenadas as habilidades aprendidas, como dirigir ou nadar; 
e o cerebelo irá controlar a coordenação e tempo.15 
As memórias implícitas são aquelas de que não temos consciência. Porém, 
influenciam nossas ações de forma sutil. Quando associamos um sabor a uma 
aparência e não gostamos sem ao menos experimentar, pois nos remete a algo 
desagradável, estamos sendo afetados pela memória implícita. 
TEMA 5 – FORMAÇÃO DA MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
A percepção de uma experiência é gerada por um subgrupo de neurônios 
que disparam em conjunto. A descarga sincrônica os torna inclinados a 
dispararem juntos novamente, recriando a experiência original e, se esses 
neurônios disparam juntos com frequência, se tornam sensíveis 
permanentemente um com os outros, ou seja, quando um dispara, os outros 
também irão disparar, formando um circuito. 
Apenas as experiências intensas são codificadas como memória. As 
memórias de longo prazo incluem experiências da vida pessoal, as chamadas 
episódicas e semânticas, de fatos impessoais, formando as chamadas memórias 
declarativas, evocadas de forma consciente. As memórias procedimentais e as 
implícitas também podem ser armazenadas por longo prazo. 
5.1 Formação da memória de longo prazo 
Nem todas nossas experiências se tornam permanentes. Aquelas que, por 
inúmeras razões, alteram as estruturas neurais formando novas conexões 
poderão ser recriadas por um longo prazo. Uma memória de longo prazo poderá 
levar até anos para se formar, com estágios que duram de uma fração de 
segundos ao estágio que levará mais de dois anos para a consolidação da 
memória. Estes estágios são atenção, carga emocional, sensação, memória de 
trabalho, processamento do hipocampo e consolidação. 
Nosso sistema nervoso tem capacidade de experimentar poucos estímulos 
por vez ou focar em um único evento e extrair o máximo de informações. 
No estágio de atenção, com duração de aproximadamente 0,2 segundo, os 
neurônios que registram o evento disparam com mais frequência, tornando a 
atividade mais intensa e aumentando a possibilidade de registro na memória. 
No estágio da emoção, em aproximadamente 0,25 segundo, caso haja 
grande carga emocional na experiência, haverá aumento de atenção e maior 
probabilidade de se estabelecer a memória. O estímulo é levado por via 
 
 
16 
inconsciente à amígdala, disparando uma resposta emocional também 
inconsciente. Devemos lembrar aqui que eventos traumáticos podem ser 
armazenados permanentemente na amígdala. 
A sensação é o estágio que dura entre 0,2 e 0,5 segundo, se consideramos 
que a maior parte das memórias decorre de experiências sensoriais, formando a 
matéria-prima da memória. Neste estágio, a intensidade do evento determinará a 
formação de memória. 
Possivelmente a memória de trabalho envolva dois circuitos neurais nos 
quais a informação é mantida pelo tempo necessário. Um circuito é destinado às 
informações visual e espacial e outro ao som. Este processo dura entre 0,5 
segundo e 10 minutos. 
Vejam que esses circuitos neurais envolvem os córtices sensoriais, visual 
e auditivo e os lobos frontais, este último permitindo a consciência da experiência. 
O processamento da memória no hipocampo dura entre 10 minutos e 2 
anos, e experiências na memória de trabalho se projetam ao hipocampo, onde 
são processadas. A informação mais significativa é codificada, sendo novamente 
projetada para áreas onde foram registradas primeiramente. 
Durante dois anos, o padrão neural que codifica a experiência oscila entre 
o hipocampo e o córtex. A repetição deste processo promove a transferência do 
padrão do hipocampo ao córtex, liberando espaço para novas informações. Esse 
processo ocorre predominantemente durante o sono, e é denominado 
consolidação. 
FINALIZANDO 
Como pudemos estudar neste capítulo, as percepções e a memória são 
habilidades apaixonantes e altamente complexas. Poderíamos estudar por muitos 
anos e sempre estaríamos aprendendo, claro, pois acabamos de ver que a 
capacidade computacional da memória é quase que infinita. Vale lembrar que as 
percepções não são apenas a aferição das informações relacionadas ao meio, e 
sim o seu processamento. Aqui estudamos as percepções visual, auditiva, 
gustativa e paladar e tátil. Com base nas percepções desenvolvemos a memória, 
a qual se forma baseada em experiências vividas e reconstituídas em nosso 
cérebro. Várias são as estruturas envolvidas na memória, destacando-se o 
sistema límbico e o córtex cerebral. 
 
 
17 
Seguramente, se vocês conseguiram acompanhar essas informações, 
podemos seguir adiante, conhecer um pouco mais das habilidades que tornam o 
ser humano essa complexa espécie e cada um de nós um ser único. 
LEITURA COMPLEMENTAR 
Texto de abordagem teórica 
FONSECA, V. da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. CONGRESO 
INTERNACIONAL EDUCACIÓN INFANTIL Y DESARROLLO DE 
COMPETENCIAS. Asociación Mundial de Educadores Infantiles (AMEI-WAECE) 
(Org.). Anais... Madrid, 28-30 nov. 2008. Disponível em: 
<http://www.waece.org/ameicongresocompetencias/ponencias/victor_da_fonsec
a.pdf>. Acesso em: 1 set. 2018. 
Para aprimorar o conhecimento acerca do desenvolvimento psicomotor e 
de aprendizagem tão discutidos nesta aula, convido você a realizar a leitura desse 
artigo, de ninguém menos que Vitor da Fonseca, referência mundial em 
psicomotricidade. 
Texto de abordagem prática 
IZQUIERDO, I. Memórias. Estudos Avançados, v. 3, n. 6. São Paulo, maio-
ago., 1989. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8522>. 
Acesso em: 1 set. 2018. 
Tema extremamente significativo na educação, o entendimento da 
memória poderá ser facilitado por esse texto. 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow: the Psychology of optimal experience. New York; 
Harper and Row, 1990. 
CUNHA, V. L. O.; CAPELLINI, S. A. Desempenho de escolares de 1ª a 4ª série 
do ensino fundamental nas provas de habilidades metafonológicas e de leitura- 
Prohmele. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 14, n. 1, p. 
56-68, 2009. 
FONSECA, V. da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 
_____. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. 2. ed. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1998 
FONSECA, V. da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. CONGRESO 
INTERNACIONAL EDUCACIÓN INFANTIL Y DESARROLLO DE 
COMPETENCIAS. Asociación Mundial de Educadores Infantiles (AMEI-WAECE) 
(Org.). Anais... Madrid, 28-30 nov. 2008. Disponível em: 
<http://www.waece.org/AMEIcongresocompetencias/ponencias/victor_da_fonsec
a.pdf>. Acesso em: 1 set. 2018. 
GINDRI, G.; KESKE-SOARES, M.; MOTA, H. B. Memória de trabalho, consciência 
fonológica e hipótese de escrita. Pró-Fono Revista Atualidades Científicas. Barueri 
(SP), v. 19, n. 3, p. 313-322, jul.-set. 2007. 
HAINES, D.E. et al. Fundamental Neuroscience. New York: Churchill 
Livingstone, 1997. 
IZQUIERDO, I. Memória. 2. ed. Porto Alegre. Artmed. 2011. 
_____. Memórias. Estudos Avançados, v. 3, n. 6. São Paulo, maio-ago., 1989. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40141989000200006>. Acesso em: 1 set. 2018. 
KASTRUP, V. A aprendizagem da atenção na cognição inventiva. Rio de Janeiro: 
Ed. da UFRJ, 2004. 
LANGER, S. Filosofia em nova chave. São Paulo: Perspectiva, 1971. 
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceito fundamentais de neurociência. 2 
ed. Rio de Janeiro: Atheneu, Faperj, 2010. 
LEFREVE, B. Neuropsicologia infantil. São Paulo: Sarvier,1989. 
 
 
19 
SCHWARTZMAN, J. S. Transtorno de déficit de atenção. São Paulo: 
Mackenzie, 2001. 
 
 
 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Wagner Allan Cagliumi 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na aula anterior, pudemos analisar que o processo de formação da 
memória está diretamente relacionado com as experiências vividas, e que a 
aprendizagem não pode ser definida apenas pelas funções consideradas 
executivas. 
Infelizmente, dissociamosdas habilidades motoras – equivocadamente – 
habilidades como atenção, memória, linguagem, leitura e escrita. 
Em nossa primeira aula, discutimos a evolução neuroanatômica do ser 
humano e o desenvolvimento de suas habilidades: o crescimento do córtex 
cerebral, o início da marcha bípede, o desenvolvimento das percepções e suas 
relações espaciais e temporais, que pouco a pouco foram oferecendo ao ser 
humano um vasto repertório de respostas ambientais, nos tornando seres 
altamente complexos e adaptados ao meio. 
Na segunda aula pudemos estudar o desenvolvimento das percepções e 
da memória. Dessa forma, não poderíamos deixar de discutir as habilidades 
neuromotoras, para que você possa compreender o desenvolvimento da 
linguagem e, consequentemente, a aquisição da leitura e da escrita, bens tão 
preciosos, que nos permitem arquivar memórias externas ao nosso corpo 
biológico e transferir o conhecimento adquirido para as futuras gerações. 
CONTEXTUALIZANDO 
Nesta aula conheceremos os fundamentos do desenvolvimento 
neuropsicomotor, o desenvolvimento da linguagem e suas relações com a 
aprendizagem da leitura e da escrita. 
Muitas vezes pensamos que, para que uma criança possua condições de 
aquisição da leitura e escrita, basta que tenha um vasto repertório linguístico, sem 
que consideremos seu desenvolvimento psicomotor. Devemos refletir: O ato de 
escrever não depende da motricidade? Não existem implicações de um repertório 
motor, de experiências, de vivências para que o universo seja codificado em 
palavras escritas? 
TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 
A motricidade pode ser entendida como uma ciência que tem como objeto 
de estudo o ser humano por meio de seu corpo em movimento e em relação aos 
 
 
3 
seus meios interno e externo. A motricidade está diretamente relacionada aos 
processos de maturação; corpo e movimento dão origem às aquisições cognitivas, 
afetivas e orgânicas. A motricidade é sustentada por, basicamente, três áreas: do 
movimento, do intelecto e da afetividade. 
Podemos empregar o termo “psicomotricidade” em uma concepção de 
movimento organizado e integrado, em função das experiências vivenciadas pelo 
ser humano, cuja ação é resultante de sua linguagem, individualidade e 
socialização. 
Em 1993, o então Ministério da Educação e do Desporto e a Secretaria de 
Educação Especial definiram psicomotricidade como a integração das funções 
motrizes e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do sistema nervoso, 
destacando as relações existentes entre motricidade, mente e afetividade do 
indivíduo. Vejam, portanto, que não podemos dissociar o desenvolvimento motor 
das experiências vividas nos campos biológicos – considerando as neurociências 
–, tampouco no meio social. 
Devemos ressaltar que a habilidade de perceber é um conjunto de 
processos que dependem primeiramente das experiências sensoriais. Dessa 
forma, essas experiências deverão ser organizadas e posteriormente 
interpretadas, produzindo as memórias evocadas na interpretação das 
informações, o que chamaremos de “percepção”. Para tanto, todas as estruturas 
nervosas deverão ser funcionais, isto é, íntegras, para que os estímulos externos 
e internos sejam aferidos por meio dos órgãos sensoriais, sendo processados 
para que possamos interpretar os referidos estímulos. Podemos entender que, em 
uma criança, para que haja o desenvolvimento de um repertório perceptivo, tanto 
os receptores nervosos quanto os órgãos dos sentidos e as estruturas superiores 
do sistema nervoso deverão estar anatômica e funcionalmente íntegros para que 
não haja um prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor. 
Ao nascer, o ser humano está biologicamente preparado para receber os 
estímulos do meio ambiente por meio dos órgãos dos sentidos; ao passo em que 
experimenta novos estímulos, desenvolve novas interpretações e respostas 
ambientais. 
Ainda que o recém-nascido não tenha a capacidade de interpretar 
determinadas informações, como diferenciar seu próprio corpo do meio que o 
cerca, sua programação biológica permite que reconheça a voz da mãe, perceba 
luz e sombra, além de estar programado para uma série de respostas motoras 
 
 
4 
reflexas, isto é, que não dependem de experiências anteriores ou de 
aprendizagem. Essas respostas são denominadas “reflexos hereditários”, 
conhecimento genético que permite a sobrevivência dos seres vivos ao nascer, 
como, por exemplo, o reflexo de sucção, tão importante para os mamíferos. Para 
ilustrar essa questão, imagine que, num passado distante, precisássemos 
aprender a sugar. Seguramente não teríamos sobrevivido. 
Dentre uma variedade significativa de reflexos hereditários, vamos 
descrever apenas os que de alguma forma têm uma relação direta com os 
propósitos desta aula. Assim, vamos destacar o reflexo de sucção, de preensão 
palmar e de marcha reflexa, ou andar automático. 
O reflexo de sucção refere-se a quando tocamos levemente na boca de um 
recém-nascido, momento em que ele começa a sugar e a chupar. Esse reflexo 
tem, obviamente, fundamental importância para a sobrevivência. Devemos 
lembrar que, por ser um reflexo, o bebê sugará qualquer objeto colocado em sua 
boca, sejam os seios da mãe para mamar ou seus próprios dedos. 
O reflexo de preensão palmar é desencadeado por pressão da palma da 
mão, resultando na flexão dos dedos. Podemos observar essa mesma resposta 
nos pés do bebê. 
A marcha reflexa, ou andar automático, ocorre quando oferecemos apoio 
plantar – apoio na planta dos pés – ao recém-nascido. Haverá inclinação do tronco 
e um cruzamento das pernas, uma à frente da outra. Quanto a esse reflexo, é 
curioso mencionar que, de tempos em tempos, podemos ver, sobretudo nas redes 
sociais, filmagens de recém-nascidos “andando” precocemente. Agora que você 
conhece os reflexos primitivos, já pode entender quão falsas são essas notícias; 
não há nada de extraordinário em um recém-nascido “imitar” o andar. 
Os reflexos hereditários são nada mais que movimentos primitivos que 
asseguram ao recém-nascido formas de sobreviver no meio externo, 
posteriormente dando lugar aos movimentos voluntários, refinados e complexos, 
que permitirão o desenvolvimento de habilidades executivas em nosso meio 
ambiente. 
Pouco a pouco, o bebê toma consciência de seu poder de agir e de 
influenciar o meio que o rodeia. Quando em estado de desconforto, como fome, 
sede e dor, ele começará a chorar e a gritar. 
O desenvolvimento motor se relaciona com a coordenação de movimentos 
amplos e finos. As habilidades motoras amplas são aquelas que envolvem os 
 
 
5 
músculos grandes do corpo, como arrastar, engatinhar, andar, saltar, correr, 
chutar e arremessar bola. Já as atividades motoras finas envolvem o uso das 
mãos e dedos, movimentos e ações mais sofisticados, como encaixar, empilhar, 
atividades que utilizem ferramentas como tesoura, lápis e cola. 
À medida que a criança cresce, suas habilidades motoras vão se 
aprimorando, e a capacidade de controlar seus músculos e mover-se com 
desenvoltura aumenta consideravelmente. Nesse estágio, os estímulos são 
importantes, mas é necessário tomar cuidado e não forçar esse processo, pois, 
como já vimos, há uma hierarquia temporal para a maturação neuropsicomotor; o 
excesso de estímulos poderá causar prejuízos. Devemos oferecer uma variedade 
de experiências à criança, mas compatíveis com sua idade e ambientes que 
percorre. É necessário que músculos, ossos e sistema nervoso tenham atingido 
determinado estágio de desenvolvimento para que, naturalmente, a criança possa 
desempenhar atividades específicas. 
1.1 Teoria da Aprendizagem de Piaget 
Para que sigamos adiante na compreensão do desenvolvimento 
neuropsicomotor, não podemos deixar de conhecer a teoria de Jean Piaget, 
considerado um dos mais importantes pensadores da Educação do século XX. 
Esse biólogo, epistemólogo e psicólogo tem em sua Teoria da Aprendizagem sua

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