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NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

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CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
UNIDADE 03
UNIDADE 05
UNIDADE 04
FECHAMENTO
PRINCÍPIOS DA 
NEUROANA-
TOMOFISIOLOGIA:
ESTRUTURA E 
ORGANIZAÇÃO DO 
SISTEMA NERVOSO
10
BASES 
NEUROLÓGICAS 
E APRENDIZAGEM
36
59
APRENDIZADO E
MEMÓRIAS
80
COGNIÇÃO E
FUNÇÕES
EXECUTIVAS
104
NEUROEDUCAÇÃO
132
CONCLUSÃO GERAL
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Para que seja possível o controle das funções musculares e metabólicas, o sistema 
nervoso conta com uma complexa rede de neurônios que somam, aproximada-
mente, 90 bilhões de unidades (PIVETTA, 2018). Evidentemente, a maior parcela 
desses neurônios estão localizados no encéfalo, mais especiicamente no cérebro, 
uma das mais importantes estruturas neurológicas existentes. A composição do 
encéfalo ainda conta com cerebelo e tronco encefálico, que apresenta uma nova 
subdivisão em mesencéfalo, ponte e bulbo. 
Agora, com esse pequeno conhecimento a respeito das subdivisões do en-
céfalo, acrescentado ao que sabemos sobre a medula espinal, será formada uma 
das mais importantes regiões de estudos e análises dentro da neurociência: o 
Sistema Nervoso Central (SNC).
Caríssimo (a), o sistema nervoso, em sua subdivisão, ainda conta com Siste-
ma Nervoso Periférico (SNP), o qual é composto por nervos cranianos que são 
ligados ao encéfalo, nervos raquidianos ou periféricos que icam conectados a 
medula espinhal, terminações nervosas e gânglios.
Para melhor exempliicar, os nervos possuem a função de levar as infor-
mações do encéfalo até os tecidos periféricos, como os músculos. Quando isso 
ocorre, podemos airmar que esses nervos apresentam características motoras 
ou eferentes. Por outro lado, se as informações são levadas da periferia corporal 
para serem processadas no sistema nervoso, denominamos de nervos sensitivos 
ou aferentes. Além disso, é bem verdade que existem nervos que realizam as duas 
funções, tanto de levar para o processamento encefálico quanto de disparar in-
formações para resultar em atividades diversas de nosso organismo. Esses nervos 
são denominados nervos do tipo misto.
Existem doze tipos de nervos cranianos, cada um com uma função especíica. 
Tal airmação é evidenciada no quadro a seguir:
Nº Nome Tipo Função
I Olfatório Sensitivo Olfato
II Óptico Sensitivo Visão
III Oculomotor Misto
Movimentos oculares,
acomodação
IV Troclear Motor Movimentos oculares
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Se os comandos neurológicos são os responsáveis por controlar todo o corpo humano e 
desencadear a aprendizagem, por qual razão conhecemos tão pouco sobre essa temática?
pensando juntos
o SNA é subdividido em Sistema Nervoso Autônomo Simpático e em Sistema 
Nervoso Autônomo Parassimpático (GUYTON; HALL, 2006; PARKER, 2009).
Essas duas porções do SNA estabelecem, de maneira antagônica, uma relação 
de “puxa-empurra”. Isso signiica que elas atuam sobre os mesmos tecidos, porém de 
formas opostas, estimulando ou inibindo a salivação, diicultando ou facilitando o 
aporte de oxigênio para os pulmões, estimulando ou inibindo a atividade gastroin-
testinal etc. (GORDO et al., 2014); (DARIO et al., 2016; FERREIRA et al., 2017). Vale 
ressaltar, que ambos os sistemas sempre estão atuando, mas, a intensidade da ativa-
ção de cada uma deles é que irá mudar (PARKER, 2009; SILVERTHORN, 2017).
Vamos exempliicar: imagine que você deve realizar a apresentação de um im-
portante trabalho acadêmico e o auditório está lotado, com centenas de pessoas. 
O que aconteceria com o seu corpo? Se respondeu nervosismo, certamente, iria 
estar suando mais do que o normal, a frequência cardíaca e a respiração estariam 
elevadas e, possivelmente, as pernas icariam trêmulas. Pois bem, esse estado cor-
poral de estresse, que, para muitos, promove o desejo de fugir, ocorre em virtude 
da maior atividade da porção simpática, a qual tem a função de preparar nosso 
organismos para a sobrevivência, com o instinto de luta ou de fuga.
Já fora mencionado que as duas porções do SNA atuam de modos opostos. 
Sabendo disso, volte ao exemplo apresentado, o qual se refere ao momento de 
estresse frente a apresentação para todas aquelas pessoas: era necessário realizar 
digestão? Seria possível dormir? Impossível, não é mesmo? Com essa breve ex-
planação, acredito que você compreendeu a maneira que o SNA atua em nosso 
organismo e, sobretudo, a atuação da divisão parassimpática, que tem a inalidade 
de relaxamento corporal, preparando-nos para o repouso.
Em outras palavras, em momentos de estresse, a porção simpática facilitará 
o aporte de sangue, de nutrientes e de oxigênios para os músculos das pernas, 
os quais sustentariam uma rápida corrida para longe desse auditório. O oposto 
ocorre no momento pós-almoço, em que se reduz a atividade simpática e se 
eleva a atuação parassimpática, responsável por favorecer a atividade digestória. 
Evidentemente, tudo isso somente é possível devido a reorganização neuronal 
que está sendo promovida por cada uma das porções do SNA.
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Caro(a) aluno(a), se ainda não icou claro essa atividade antagônica entre as 
duas divisões do SNA, apresento-lhe algumas alterações isiológicas que ocorrem 
diante da atuação dos sistemas simpático e parassimpático.
Em momentos de estresse, o SNA Simpático promove um aumento da fre-
quência cardíaca, taquipnéia, vasodilatação músculo-esquelética, vasoconstrição 
visceral, ativação das glândulas sudoríparas, dilatação da pupila (midríase) e entre 
outros. Por outro lado, quando o SNA Parassimpático é mais atuante, acontece o 
oposto: a frequência cardíaca diminui, ocorre bradipneia, fechamento da pupila etc.
Por se tratar de um mecanismo neuronal que estimula especiicamente os te-
cidos corporais para que atuem, é fundamental a liberação de neurotransmissores 
entre neurônios ou tecidos-alvo. Desse modo, devemos pensar em acetilcolina, a 
qual é liberada em ibras colinérgicas e, por outro lado, associa a norepinefrina e 
a epinefrina (adrenalina) para as ibras andrenérgicas (GUYTON; HALL, 2006).
Para entendermos melhor, no penúltimo parágrafo do primeiro tópico desta 
unidade, foi apresentado um exemplo para explicar o que eram gânglios. Volte 
a essa ideia: imagine neurônios deixando o SNC e chegando a um gânglio (um 
emaranhado de células neuronais). Eles são chamados de neurônios pré-ganglio-
nares. Existem, também, aqueles neurônios que deixam os gânglios e se conec-
tam aos tecidos corporais, como o coração, por exemplo. Eles são denominados 
neurônios pós-ganglionares (SILVERTHORN, 2017; CURI, 2017).
Agora, é possível utilizar os exemplos desta seção e compará-los às situações 
de conhecimentos prévios. A adrenalina, com base em seu conhecimento, excita 
ou relaxa? Ela é extremamente excitante e, sobretudo, estimulante. Desse modo, 
ao secretar adrenalina, nosso organismo espera estresse isiológico, pelo menos, 
sobre os tecidos alvos envolvidos. Posto isso, sempre que forem liberadas nore-
pinefrina ou epinefrina, estamos fazendo referência aos neurônios pós-ganglio-
nares simpáticos. Por outro lado, os neurônios pré-ganglionares parassimpático 
e simpático, bem como os pós-ganglionares parassimpáticos, liberam o neuro-
transmissor acetilcolina. Por essa razão, são denominados ibras colinérgicas.
Aluno(a), assim como você já deve ter percebido ao longo desta unidade, os 
conhecimentos acerca do sistema nervoso são fascinantes, mas extremamente 
amplos e complexos, de tal modo que vale a pena se aprofundar mais sobre a 
temática. Certamente, tal atitude lhe ajudará muito proissionalmente.
Para continuar o nosso entendimento sobre o funcionamento neurológico, o 
tópico a seguir desenvolverá conhecimentos referentes aos potenciais de mem-
brana e potenciais de ação.
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concentração dentro da célula; íons de sódio (NA++), altamente concentrados fora 
da célula; aminoácidos; cloro, entre muitos outros compostos.
Posto isso, é importante memorizar que, internamente,a célula é predominante-
mente negativa, com aproximadamente -90 mivolts (mV) de tensão. Todavia, como 
isso é possível, uma vez que os íons de K+, presentes em grande parte no meio intrace-
lular, são carregados positivamente? Isso mesmo, existem outros componentes dentro 
da célula que são carregados negativamente, como o CL-, não apenas K+.
Agora, responda: para que serve uma membrana celular? Serve para separar, pro-
teger uma célula ou estrutura celular. Como as substâncias atravessam essa barreira? 
Dependerá do tipo de transporte: existe o transporte passivo (sem gasto de energia) e 
o transporte ativo (com gasto de energia). O primeiro é subdividido em três: difusão 
simples, difusão facilitada por proteínas de canal e difusão facilitada mediada por pro-
teínas transportadoras ou carreadoras. Já o transporte ativo ocorre mediado somente 
por proteínas transportadoras ou carreadoras (GUYTON; HALL, 2006).
A bicamada de lipídios que compõe essa barreira denominada membrana ce-
lular permite que gases como o oxigênio e o dióxido de carbono atravessem como 
se fossem “fantasmas”, como se não existissem barreiras para permitir que ocorra a 
difusão simples. Por outro lado, a difusão facilitada, mediada por proteínas de canal, 
funciona como uma espécie de porta ou de túnel invaginados na membrana. Esses 
facilitadores são seletivos, especíicos e levam em consideração o diâmetro, as cargas 
elétricas, o peso molecular etc. Assim, as proteínas de canal podem levar o sódio para 
o meio intracelular e retirar o potássio, desde que existam condições favoráveis para 
isso. Esse evento ainda é classiicado como transporte passivo, pois o NA++ deseja 
entrar e a célula necessita e permite a sua entrada. É algo semelhante a quando você 
deseja realizar algo e todas as condições, além de favoráveis, permitem realizá-lo.
A proteína carreadora ou transportadora atua tanto no transporte passivo 
quanto no ativo. Agora, imagine que a célula deseja alguma substância que está do 
lado de fora: essa substância deseja entrar, mas não é possível sem um empurrão-
zinho. Essa é aí a deinição de transporte passivo mediado por uma proteína de 
transporte. A associação a uma porta giratória de um banco costuma funcionar, já 
que, mesmo que você pare, ela continuará girando e lhe empurrará para dentro da 
agência bancária. Por im, o transporte ativo com gasto de energia ocorre quando 
se deseja retirar uma substância que gostaria de permanecer em um dos lados da 
membrana. Observe o NA++, que deseja icar para sempre no meio intracelular, 
um ambiente bem mais agradável do que do lado de fora. No entanto, esse íon em 
excesso pode prejudicar a atividade celular e, portanto, a célula tentará retirá-lo 
contra a sua vontade. Por isso, existe-se gasto energético.
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Para facilitar o seu entendimento, considere uma sala de aula em que eu, o 
professor, pegarei-lhe pelo braço e tentarei arrastá-lo para fora, mas você quer e 
tem o direito de icar. Provavelmente, você me faria suar muito, ou seja, me faria 
gastar energia. O transporte ativo primário mais famoso é a bomba de sódio/
potássio, em que a célula retira três íons de NA++ e devolve dois íons de K+ para 
o meio intracelular. Existe, ainda, o transporte ativo secundário e suas subdivisões 
de co-transporte e contra-transporte.
Caríssimo(a), após essas informações prévias, podemos explorar a geração de 
um potencial elétrico. Quando um neurônio se encontra em repouso, ou seja, com 
seu potencial de membrana em -90mV, com concentrações de K+ dentro da célula 
e maior concentração de NA++ fora da célula, denomina-se a célula de polarizada, 
pronta para ser estimulada a processar ou enviar algum comando.
Assim como mencionamos nos parágrafos anteriores, os íons de NA++ em alta 
concentração, no meio extracelular, buscarão a sua entrada para o meio intracelular, 
carregando com eles cargas positivas. Considerando o fato de que a célula, em seu 
estado de repouso normal, é predominante negativa, como icaria essa relação? Com 
a entrada do NA++, a célula icará momentaneamente positiva. À medida que esses 
íons atravessam a membrana e a negatividade intracelular começa a ser perdida, le-
vando a célula a aproximadamente -70mV de tensão, um limiar para a abertura de 
diversos canais de voltagem dependentes de sódio se abrem, permitindo uma grande 
entrada desse soluto ao ocasionar uma elevação da polaridade da membrana para 
aproximadamente +35mV. Esse momento é denominado despolarização da mem-
brana ou, em outras palavras, estímulo, comando ou eletricidade.
Ao considerar que esse potencial positivo prejudicaria a atividade celular, à me-
dida que os canais de sódio começam a se fechar pela própria positividade que está 
sendo gerada, os canais de voltagem dependentes de potássio se abrem, permitindo a 
evasão dos íons de K+ para o exterior da célula. Pelo fato de que esses íons carregam 
cargas positivas, internamente, a célula voltará a icar negativa, evento denominado 
repolarização. Todavia, a condutância (velocidade de condução do íon pelo canal) 
dos canais de NA++ é maior quando comparada ao K+ e, desse modo, os canais de 
potássio são mais lentos para abrir e para fechar. Por essa razão, a célula ica hiper-
negativa, por volta de -105mV, período conhecido como hiperpolarização da célula.
Agora, relita um pouco: se o NA++ entrou e o K+ saiu, esses íons estão inverti-
dos. Então, como eles retornarão aos seus devidos locais de permanência? Por meio 
do transporte ativo primário, via bomba de sódio/potássio, que será responsável por 
reorganizar esses solutos e devolver, para a célula, o equilíbrio necessário.
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No mundo animal existem dois tipos de sinapses: químicas e elétricas. As sinapses quí-
micas dependem de uma substância neurotransmissora que atua sobre receptores loca-
lizados na membrana do neurônio seguinte. Existem mais de 40 substâncias conhecidas 
e essa troca de informação ocorre em sentido unidirecional. Por outro lado, as sinapses 
elétricas são canais caracterizadas por canais diretos que conduzem eletricidade de uma 
célula para outra, sem a necessidade dos neurotransmissores e seus respectivos recepto-
res, desse modo, é possível transmitir informações nos dois sentidos da célula.
Fonte: Guyton e Hall (2006, p. 559).
explorando Ideias
De acordo com o que foi apresentado sobre a geração de um potencial de ação 
e ao observar a imagem exposta, ica evidenciado que as células nervosas apre-
sentam características diferentes, como seus tamanhos e formatos. Contudo, os 
dendritos neuronais não se tocam, assim, a conexão entre dois ou mais neurônios 
apresenta um espaço. Posto isso, faço-lhe a seguinte pergunta: se as informações 
neuronais são levadas pela eletricidade por meio desses neurônios e essas células 
nervosas não se encostam umas nas outras, como a transmissão ocorre de um 
neurônio para o outro? Por meio da sinapse.
O processo de conexão sináptica ocorre o tempo todo em nosso organismo, 
em quantidades que variam ao longo do dia ou em atividades que estão sendo 
realizadas. Sobretudo, as sinapses são fundamentais para que qualquer atividade 
corporal aconteça, visto que é a maneira pelo qual se leva informações ao SNC 
ou do SNC aos tecidos alvos. Também, podemos representar as sinapses como 
conhecimento, aprendizagem ou formação de memórias, itens que serão discu-
tidos nos próximos capítulos (LENT, 2013; RELVAS, 2015)
Caro(a) aluno(a), pelo fato de que tudo o que se remete a neuroisiologia depen-
de de bases mais técnicas, essa comunicação neuronal pode ocorrer entre dois 
neurônios ou milhares deles, simultaneamente. Gostaria que, ao pensar em sinap-
se, izesse a seguinte relação: sinapse é o ato de comunicar, fofocar, passar adiante, 
assim como é feito em uma simples brincadeira infantil, o “telefone sem io”.
Observe novamente a igura apresentada a seguir: existe, na imagem, dois 
neurônios.O inal do primeiro neurônio é denominado botão pré-sináptico e o 
início do segundo de pós-sináptico. No botão pré-sináptico, existem pequenas 
bolsas chamadas vesículas sinápticas, que armazenam neurotransmissores e es-
truturas de comunicação, ou seja, os transmissores de informação. Já no botão 
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pós-sináptico, existem receptores que receberão os neurotransmissores. Por im, 
no meio intracelular, existem muitos íons de K+ e, no meio extracelular, existem 
NA++ e cálcio (CA++) (BARRETT et al., 2014).
Após a geração de um impulso nervoso (potencial de ação), uma descarga elétrica 
irá percorrer o axônio neuronal até chegar à terminação da célula nervosa (botão 
pré-sináptico). Isso pode ocorrer de neurônio para neurônio ou de uma célula 
nervosa para um tecido corporal, como um músculo, por exemplo. Conforme a 
eletricidade percorre a ibra nervosa e se aproxima de seu inal, os canais voltagem 
dependentes de CA++ se abrem no inal do neurônio: assim, o CA++ disponível 
fora da célula entra no botão pré-sináptico. Por alguma razão, esse evento permite 
que as vesículas sinápticas se desloquem em direção à membrana neuronal até 
que se liguem a ela por meio de um evento chamado de exocitose. Após essas 
vesículas sinápticas fundirem-se na membrana neuronal, os neurotransmissores 
serão liberados no espaço sináptico (meio extracelular entre os dois neurônios), 
conforme indicam os autores Guyton e Hall (2006).
Com os neurotransmissores disponíveis entre as células nervosas ou entre 
os tecidos alvo, a sequência do mecanismo sináptico depende da ligação desses 
neurotransmissores com os receptores presentes no botão pós-sináptico. Vale 
Membrana 
pré sináptica
Neurotrasmissor
Membrana
pós sináptica
Vesículas
MitocôndriasMicrotúbulos
Glutamato
Rreceptores
Neurônio
pós sináptico
Neurônio
pré sináptico
Figura 4 – Sinapse
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Várias doenças antes consideradas como psiquiátricas, que afastavam as pessoas do con-
vívio social, hoje estão associadas como doenças orgânicas neurológicas, como esquizo-
frenia, transtornos obsessivo-compulsivo, depressão, psicose, autismo, doença de Parkin-
son e da mesma forma diversas diiculdades de aprendizagens, hoje é possível identiicar 
alterações orgânicas em receptores de neurotransmissores ou mesmo na baixa ou exces-
siva produção dos neurotransmissores.
Fonte: Relvas (2015, p. 63).
explorando Ideias
ressaltar que as substâncias neurotransmissoras podem ser excitatórios, que es-
timulam a comunicação, ou inibitórios, os quais bloqueiam a passagem da infor-
mação. Caríssimo(a), para essa apresentação, está sendo utilizado o mecanismo 
de sinapses excitatórias. Com essa ligação neurotransmissor-receptor, mediada 
por uma ação enzimática, ocorrerá a abertura dos canais voltagem dependentes 
de NA++ (presente no meio extracelular). Desse modo, a rápida difusão do NA++ 
para o interior do próximo neurônio irá despolarizar a célula nervosa, levando a 
informação adiante. Para concluir o mecanismo sináptico, os neurotransmissores 
utilizados devem ser recaptados pelo botão pré-sináptico para ressintetizá-los 
para um próximo comando (GUYTON; HALL, 2006; BARRETT et al., 2014).
Caro(a) aluno(a), para facilitar o seu entendimento e construir o conheci-
mento de modo mais eiciente, deixo-lhe um resumo desse mecanismo sináptico:
a) Chega o potencial de ação.
b) Abertura dos canais de voltagem dependentes de cálcio.
c) Ativação das vesículas secretórias que contêm neurotransmissores em 
direção à membrana pré-sináptica.
d) Exocitose, liberação do neurotransmissor no espaço sináptico.
e) Neurotransmissor se liga às proteínas situadas no botão pós-sináptico.
f) Uma enzima irá catalisar a reação (quebra do neurotransmissor).
g) Abrem-se os canais de NA++.
h) Início de um novo potencial de ação.
i) Neurotransmissores voltam para o botão pré-sináptico para serem reaproveitadas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, compreendemos inúmeras informações sobre a organização do 
sistema nervoso central e suas subdivisões, as quais elucidam os mecanismos 
de comunicação neuronal para controlar as ações de diversos tecidos corporais. 
Fica evidenciado que a abordagem neurológica para processar harmonicamente 
o funcionamento do corpo humano perpassa pela atividade direta do sistema 
nervoso central, periférico e autônomo.
Foi observado que cada subdivisão do sistema nervoso contempla um deter-
minado tipo de comando e controle. Desse modo, elucidou-se que o sistema ner-
voso central, em sua porção superior ou cortical, além de armazenar as milhares 
de memórias, atua no processamento e controle voluntário das mais diferentes 
tomadas de decisão. Por outro lado, a porção subcortical do sistema nervoso cen-
tral atua no controle das respostas do subconsciente e, por im, a porção medular 
contempla as respostas relexas.
O sistema nervoso periférico é o responsável por distribuir as informações 
advindas do sistema nervoso central por meio de diversos tipos de nervos. O sis-
tema nervoso autônomo, contudo, é uma porção do sistema nervoso central que 
atua de forma independente, controlando as atividades estressoras ou relaxantes 
de praticamente todos os órgãos corporais.
Aprendemos que toda a comunicação de informações depende diretamente 
da atividade neuronal equilibrada, considerando os mecanismos de transporte 
por meio da membrana, na qual substâncias são transportadas passiva ou ativa-
mente. Elucidou-se a movimentação pela membrana celular dos diversos íons 
envolvidos na geração e propagação de um estímulo elétrico, responsável por 
distribuir as informações para todas as regiões corporais. Entendemos que as 
sinapses são um importante mecanismo de troca de informações entre os neurô-
nios ou tecidos corporais, assim como também é um mecanismo importante na 
identiicação e intervenção com diversas diiculdades de aprendizagens.
Por im, espero que o seu futuro seja brilhante. Desejo que aproveite e com-
partilhe cada novo conhecimento adquirido.
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Posto isso, volte ao início do parágrafo anterior: se o clero auxiliou nas deinições 
sobre o estudo do cérebro, admitia-se, naquela época, que, dentre as três áreas 
cerebrais conhecidas, uma delas era a morada da alma. Fica evidente que essa 
doutrina de três ventrículos cerebrais (anterior, mediano e posterior) se pro-
longou ao longo dos séculos, descrita e defendida por diversos autores como 
Leonardo da Vinci, St. Agostinho e homas Willis, que propuseram esquemas 
sobre as funções mentais (LENT, 2013).
Com a evolução de diversos conhecimentos sobre anatomia e isiologia do 
cérebro humano e com a descoberta do córtex, que originava a cognição humana, 
ocorreu a ruptura com a doutrina ventricular que já durava mais de mil anos. Assim, 
foi ocasionado o nascimento da neurociência, partindo das ideias de Franz Gall no 
século XIX (KANDEL et al., 2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Gall acreditava que o cérebro produzia comportamentos, pensamentos e 
emoções em áreas/órgãos com funções bem deinidas, postulando, em 1810, as 
27 faculdades “afetivas e intelectuais”, as quais, mais tarde, seriam ampliadas para 
35, por seu discípulo Johann Spurzheim. Essa divisão do cérebro foi considerada 
absurda para a época, além de afrontar a unidade referente a morada da alma 
exigida pela igreja (LENT, 2013).
A segunda metade do século XIX revolucionou os estudos neurológicos com 
a descoberta da especiicidade de processamento e localidade da linguagem hu-
mana no córtex cerebral, denominada Área de Broca. Igualmente, áreas dei-
nitivas e com localização especíica para a visão, funções sensoriais e motoras 
rapidamente foram deinidas.
Caro(a) aluno(a), após esse breve histórico, avançamos um pouco mais. Mui-
tos estudos e pesquisas relacionadas ao funcionamento neurológico surgiram du-
rante os séculos XIX e XX. Ummarco importante é o famoso caso do trabalhador 
ferroviário “Phineas Gage”, que, aos 25 anos de idade, no ano de 1848, nos Estados 
Unidos (EUA), foi exposto a uma explosão mal calculada que fez que uma barra 
de ferro de 1 metro de comprimento, 3 cm de diâmetro e 6 kg atravessasse o crâ-
nio do operário, gerando uma enorme lesão no cérebro e perda de um dos olhos. 
Com o acometimento da lesão, certamente, pela falta de um tratamento médico 
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gem por ressonância magnética ampliaram os conhecimentos sobre essa temática, 
bem como abriu possibilidade para o surgimento de diversas áreas de conhecimen-
to relacionado a neuro, como a neuroeducação, a neuroeconomia etc (LENT, 2013).
Você já percebeu que, diversas vezes, ao pensar em um assunto, muitos ou-
tros são propagados em nosso cérebro. Façamos o seguinte exercício: gostaria 
que você pensasse em uma vaca. O que mais surgiu em seu pensamento? Pasto, 
bezerro, leite, churrasco… mas, por qual razão isso ocorreu? Havia pedido apenas 
para se recordar da vaca.
Pois bem, essa cascata de informações não solicitadas ocorreu em seu pen-
samento, pelo fato de que os neurônios compõem uma rede: a ligação de dois ou 
mais neurônios constituirão uma ampla área de conhecimento e processamento, 
a qual armazena e analisa as informações relacionadas. Dessa maneira, ao pensar 
em um determinado assunto, você irá promover a comunicação neuronal (sinap-
se) entre dois neurônios que irão se comunicar com outros dois, que continuarão 
a propagar essa informação. É dessa maneira que se justiica a ideia de formação 
em rede, conforme apresentado na igura a seguir:
Figura 1 – Neurônios em rede
Acredito que ainda restou uma dúvida: por qual razão, ao pensar na vaca, mui-
tos outros assuntos ou conceitos emanaram em seu cérebro? Imagine da seguin-
te forma: em cada ligação neuronal, armazenaremos um tipo de informação. Os 
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Neurônios são células altamente especializadas que exercem a função de processamento 
e transmissão de informações. São essas células que possibilitam o acontecimento de di-
versas sinapses, que, em um adulto, é estimado entre 100 e 500 trilhões, promovidas por 
aproximadamente 86 bilhões de neurônios.
Fonte: Radanovic e Kato-Narita (2016).
explorando Ideias
neurônios vizinhos farão o mesmo com um assunto associado diretamente com 
para aquela temática. Assim, ao pensar na vaca, automaticamente foi ativado um 
processo sináptico vizinho acerca da área de conhecimento em questão. É como se o 
neurônio responsável por armazenar a informação sobre a vaca alertasse um neurô-
nio vizinho: “amigo, ique atento, pois, se estão lembrando de mim, possivelmente, 
lembrarão de você também”. Dessa forma, que outras informações, como o leite, o 
qual provém da vaca, o fato de que ela tem manchinhas pretas ou até mesmo que 
vive em um pasto, surgem em sua cabeça. Tais eventos evidenciam que não apenas 
os neurônios se organizam em rede, mas que nossos conhecimentos também.
Caro(a) aluno(a), nesse momento, é importante realizar um alerta. Um erro co-
mum é pensar que algumas partes do cérebro estão muito atuantes e que outras 
regiões icam “desligadas”. O processamento de qualquer informação necessita 
de áreas neurológicas especíicas, assim como veriicamos em imagens colo-
ridas da subdivisão das áreas funcionais do cérebro. Entretanto, o que muitos 
se esquecem, é que o funcionamento neurológico é integralizado, conectado, 
ou seja, tudo sempre se relaciona. Assim, várias áreas do cérebro funcionam 
juntas, de maneira interligada. 
Para esclarecer essa ideia, vamos usar as palavras como referência: ao pensar 
nas palavras, a ativação neurológica será maior nos lobos frontais, Já ao ver as 
palavras, a região occipital estará mais ativa e, ao escutar palavras, a região tem-
poral estará mais funcional (KANDEL et al., 2014).
Portanto, nosso encéfalo possui regiões especíicas de processamento, mas, 
para que essas áreas especíicas atuem com eiciência, é necessária a atividade 
de outras regiões neurológicas. Isso fortalece o pensamento cientíico a res-
peito do processamento de informações, o qual é responsável por conceber as 
memórias do mundo interligadas entre si, ao formar uma rede de signiicados 
necessários ao conhecimento.
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Caso de uma via neuronal deixe de existir, é possível substituí-la?
pensando juntos
Você deve conhecer algum caso de acidente vascular encefálico ou cerebral 
(AVE ou AVC, respectivamente). Essa é a ideia que precisamos ter para com-
preender o segundo exemplo: quando um dos lados do corpo apresenta movi-
mentos comprometidos, é bem verdade que, dependendo da magnitude da lesão, 
a pessoa pode entrar em óbito. Quando os movimentos de marcha, fala e outras 
ações corporais icam comprometidas, esses indivíduos, normalmente, realizam 
sessões de isioterapia e, após muitas sessões, os movimentos icam bem melhores 
e mais coordenados. Agora, eu lhe pergunto: se as vias neuronais “morreram” ou 
desapareceram pela lesão, o que aconteceu para que essa melhora se evidenciasse? 
Por meio da neuroplasticidade.
Os mecanismos plásticos podem ocorrer de três maneiras distintas: morfológica, 
deinida pela alterações dos axônios, dendritos e sinapses; funcional, identiicada 
por alterações na isiologia neuronal e sináptica; e comportamental, a qual se re-
laciona aos fenômenos de aprendizagem e formação de memórias (LENT, 2013).
A neuroplasticidade morfológica e ontogênica estão diretamente associadas 
aos efeitos e inluências ambientais, como a linguagem. As mudanças nos axônios 
podem ocorrer nos locais que apresentam lesões e em regiões sem ocorrência 
de lesões. Simpliicando, os circuitos neuronais são ajustados de acordo com as 
inluências ambientais, em especial, durante o período de desenvolvimento, evi-
denciando uma capacidade plástica maior nos anos iniciais do que após a fase 
adulta (LENT, 2013; KANDEL et al., 2014). 
Caro(a) aluno(a), se existe a capacidade de ajustar processos vinculados ao axô-
nio neuronal, será que é possível fazer o mesmo com os dendritos? Evidentemente, 
sim, já que as alterações e os ajustes nas árvores dendríticas também são mais evi-
dentes nos jovens, quando comparado aos adultos, e são susceptíveis às inluências 
do ambiente (GUYTON; HALL, 2006; KREBS; WEINBERG; AKESSON 2013).
Portanto, é sugestivo que, com uma árvore dendrítica consolidada em ambien-
tes ricos em bons estímulos, os indivíduos em questão possivelmente apresentarão 
um nível de linguagem e ou instrução educacional mais elevada. Vale ressaltar que, 
pelo fato de que os dendritos estão diretamente conectados aos axônios e relaciona-
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antes, pergunto-lhe: o que é maturação? A maturação, do ponto de vista neurológico, 
são todos os ajustes, adaptações e conexões realizadas por e entre os neurônios, que 
ampliam a sua capacidade em disparar potenciais de ação (impulsos nervosos), as quais 
ativam outras células nervosas ou músculos envolvidos nos movimentos corporais.
Além da ampliicação nas conexões neurais, ocorre, também, o processo de mieli-
nização, o qual aumenta a velocidade de condução dos impulsos nervosos, otimizando 
as capacidades de sobrevivência, dos gestos motores, dos comportamentos em geral e 
do processamento neural para diversas tomadas de decisões (GUYTON; HALL, 2006).
O processo de maturação do sistema nervoso é iniciado durante a gestação, ocorre 
em larga escala durante os primeiros anos de vida e é inalizado por volta da segunda 
década de vida. Um dos princípios do desenvolvimento neurológico é que o cérebro 
cresce mais em surtos do que de maneira suave e que toda fase de desenvolvimento é 
acompanhada por uma fase de estabilização. Evidentemente, na infância, os intervalos 
de crescimento e estabilidade são curtos. Por exemplo, até os 5 meses de um bebê, os 
intervalos são de, aproximadamente, um mês.Basta observar a evolução apresentada 
por ele: antes, todo “molinho”, com um mês, já é evidenciado um maior tônus muscu-
lar; aos três meses, um controle da cervical e, antes dos cinco meses, um ajuste na visão.
À medida que o bebê envelhece, seus períodos de crescimento e estabilização 
também passam a ser mais longos. No período dos 8, 12 e 20 meses, observa-se um 
maior equilíbrio, no qual o bebê começa a sentar e, logo após, caminhar. Observa-se, 
aos 20 meses, marcos de desenvolvimento cognitivo: a maioria dos bebês evidenciam 
o planejamento dirigido ao objetivo em seu comportamento, como o fato de uma 
criança já ser capaz de arrastar uma cadeira para icar alto o suiciente para alcançar 
algo proibido, mesmo que ninguém lhe ensine. Já entre os 2 e 4 anos, as mudanças 
neurológicas são inúmeras, mas ocorrem lentament. Assim, é possível veriicarmos 
uma melhora da coordenação motora, do aprendizado, do vocabulário, mesmo que 
limitado, e uma maior compreensão do mundo que a rodeia (BEE; BOYD, 2011).
Após os 4 anos, há um outro surto importante, como a maturação de áreas neu-
rológicas, a qual permite a luência na fala e entendimento da linguagem. Nessa fase, 
além da visível melhora da coordenação motora, ocorre grande amadurecimento 
das funções cognitivas e a criança se torna capaz de prestar atenção e repetir se-
quências de números e histórias, tendo o hábito de ler e contar histórias. Mesmo que 
ela já as conheça, é muito sugestivo mudar algum personagem ou permitir que as 
crianças façam isso e que, acima de tudo, as mudanças sejam percebidas. Outra op-
ção é iniciar a história e deixar que as crianças terminem, entre outras possibilidades 
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; CALL; FEATHERSTONE, 2013).
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Vale ressaltar que os surtos do crescimento não ocorrem em todo o cérebro, 
mas é restrito a partes especíicas. Desse modo, pequenas áreas neurológicas ama-
durecem. Após o amadurecimento, as mudanças se estabilizam e, somente depois, 
novos pontos encefálicos serão maturados também.
São identiicados dois surtos de crescimento durante a infância: entre 6 e 8 
anos, com melhoras nas habilidades motoras inas e na coordenação olho-mão. 
Já entre 10 e 12 anos, os lobos frontais do cérebro otimizam o foco no processa-
mento da memória, lógica e planejamento (BEE; BOYD, 2011).
O amadurecimento neurológico também continua na segunda década de vida, na 
qual dois surtos de crescimento cerebral importantes ocorrem na adolescência: o primeiro 
surge entre os 13 e 15 anos, oportunizando evoluções na percepção espacial e nas funções 
motoras. Podemos observá-las quando um adolescente estabanado, que derruba e quebra 
tudo sem querer, tropeça e cai com frequência, deixa de apresentar esses comportamentos 
e passa a melhorar o seu rendimento no esporte (BEE; BOYD, 2011; RELVAS, 2015).
Nessa fase, ocorre uma ampla diferenciação de crianças com idades escolares me-
nores, pois adolescentes possuem pensamentos abstratos e reletem sobre seus proces-
sos cognitivos. Tudo isso é sustentado pelas mudanças profundas no córtex pré-frontal 
(capacidade de controlar conscientemente seus pensamentos) e pela rápida formação 
de novas sinapses em outras partes do cérebro (BEE; BOYD, 2011; RELVAS, 2015).
O segundo grande surto na segunda década de vida aparece por volta dos 17 
anos e perdura até a fase adulta. Nesse momento, os lobos frontais do córtex têm 
maior foco no desenvolvimento, sendo possível controlar a lógica e o planejamen-
to. Indivíduos nessa faixa etária lidam mais facilmente com situações-problemas 
que requerem funções cognitivas (BEE; BOYD, 2011; RELVAS, 2015).
O conhecimento sobre o funcionamento neurológico é essencial para uma 
excelente intervenção proissional. 
A utilização a longo prazo de esteróides anabólicos androgênicos (EAA) está associado com 
a diminuição da conectividade da amígdala direita com áreas cerebrais envolvidas no con-
trole cognitivo e na memória espacial, o que poderia contribuir para os efeitos psiquiátricos 
e disfunção cognitiva associados ao uso de EAA. Desse modo, é possível encontrar anorma-
lidades e maior vulnerabilidade a processos neurotóxicos ou neurodegenerativos, contri-
buindo para uma disfunção cognitiva em usuários de anabolizantes.
Fonte: Kaufman et al. (2015).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, elucidou-se o surgimento dos conhecimentos acerca do fun-
cionamento neurológico. As bases inerentes a essa temática apontam para a 
necessidade de novas investigações sobre a atividade neuronal, pois, com o 
avanço da tecnologia, muitos outros mistérios sobre as operações mentais 
podem ser desvendados.
O cérebro é alvo de estudos há muitos séculos. A neurociência, sobretudo 
é uma ciência recente que vem contribuindo para as mais diferentes áreas 
de atuação, seja para a reabilitação de traumas, entendimento de doenças 
neurológicas ou para a criação de estratégias de ensino e aprendizagem de 
recém nascidos e ou idosos.
A rede de conhecimentos formada pelos neurônios permite, aos profis-
sionais, compreender que os conhecimentos estão diretamente relacionados, 
uma vez que as áreas de processamento no sistema nervoso agrupam infor-
mações semelhantes. Por essa razão, é possível verificar imagens encefálicas 
sempre coloridas. É importante ressaltar que a atividade neurológica, além de 
ativar sinapses específicas, necessita de alto aporte de oxigênio e de nutrientes 
que sustentarão tal atividade neural.
Por im, ica esclarecido que o amadurecimento humano tem relação direta 
com a maturação dos neurônios, os quais podem aumentar a condução elétrica e 
a capacidade de responder a problemas diversos: esse evento ocorre, em especial, 
ao longo das duas primeiras décadas de vida. Além disso, o desenvolvimento da 
mente e dos comportamentos humanos iniciam ainda no período intrauterino, 
mas são potencializados em virtude da formação das bainhas de mielinas, que, so-
madas a eiciência sináptica, oportunizam o desenvolvimento motor, uma maior 
capacidade linguística e tantos outros elementos desenvolvimentistas. 
Por fim, conhecer o funcionamento das funções neurológicas oportu-
niza, aos psicopedagogos e profissionais da educação, planejar e estruturar 
estratégias diferenciadas para a aplicação dos métodos de aprendizagem. Tal 
estudo também é imprescindível para que o planejamento seja adequado ao 
potencial neurológico dos indivíduos.
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Ao realizar um cálculo matemático de multiplicação, são adotadas as mesmas estratégias 
ou regras? Quando a multiplicação é realizada no papel, existem regras. Agora, ao realizá-
-la na cabeça, cada indivíduo encontrará uma forma de ser assertivo e rápido na resolução 
da problemática em questão.
pensando juntos
Pegue um papel e uma caneta: peço que, ao centro do papel, escreva a palavra 
“aprendizagem”; acima dela, escreva prática e, abaixo, motivação. Feito isso, trace 
uma seta em duplo sentido partindo da prática, passando pela aprendizagem e 
chegando até a motivação e, depois, faça o caminho inverso. Tal e como verii-
camos, prática e motivação caminham juntas no que se refere a aprendizagem. 
Contudo, tenha calma. Nosso alicerce do aprendizado ainda não está pronto: 
coloque, em um dos lados da folha, a palavra métodos, no mesmo alinhamento 
da palavra aprendizagem e, do outro lado, escreva atenção.
Todos nós sabemos da importância dos métodos de ensino e aprendizagem, 
os quais se dividem em métodos intraneurosensorial, interneurosensorial, otimi-
zação das atividades, propostas de aprendizagens pelos canais visual, auditivo ou 
cinestésico, ou até mesmo as metodologias ativas, que estão em alta nesse momento.
Independente do método preferido, sua escolha deve levar em consideração 
os aspectos que aumentam a motivação e, por consequência, a prática. Portanto, 
deve-se adaptar ou substituir os métodos sempreque for necessário. 
Seguindo o entendimento desse alicerce de aprendizagem, falta-nos um item fun-
damental: a atenção. Quantas vezes você teve de ler textos mais de uma vez para 
compreendê-los? É evidente que existem textos que apresentam a necessidade de 
se ler mais de uma vez, talvez, pela sua complexidade; agora, se você não é uma 
criança, que precisa da repetição para aprender a melhorar o seu foco e, conse-
quentemente, adquirir conhecimento, posso ser incisivo ao dizer que está lendo 
com a sua cabeça em outro lugar. Desse modo, pare de se enganar: adultos não 
precisam ler com música de fundo, ruídos diversos ou qualquer outra coisa que 
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Os seres humanos, homens e mulheres, mantêm o foco em apenas uma coisa por vez. 
Contudo, as mulheres apresentam uma maior densidade neuronal, o que favorece uma 
a rápida mudança de foco, proporcionando a sensação de realizar diversas atividades si-
multaneamente, quando, na verdade, faz-se uma coisa por vez: apenas muda-se o foco 
principal muito rapidamente.
Fonte: o autor
explorando Ideias
venha a pensar. Um exemplo: quando se deve entregar uma tarefa ou estudar para 
algo e o prazo está distante, seu foco será pequeno, pois há tempo para concluir 
tal tarefa. Por outro lado, se a entrega é para amanhã, seu rendimento aumentará 
muito, não é mesmo? Em outras palavras, a melhora da nossa atenção está no 
treino diário, assim, a manutenção do foco será cada dia melhorada.
Por im, ao considerarmos que a aprendizagem está diretamente relacionada com a 
prática, a motivação, os métodos e o nível de atenção, falta apenas um ingrediente: a 
oportunidade. Isso mesmo, nada do que discutimos até agora promoverá estratégias 
para um aprendizado mais eiciente se não oportunizarmos , aos aprendizes, de 
experimentarem e de se envolverem com essas estratégias.
Tome como nota o atleta de futebol Neymar, um indivíduo talentoso, com pre-
disposição individual para ser jogador dessa modalidade. Todavia, pergunto-lhe: 
e se Neymar fosse uma criança com os mesmos “dons”, mas tivesse que trabalhar 
na infância para ajudar a sua família e pouco pudesse se dedicar ao futebol: será 
que ele seria o atleta que se tornou? Bem difícil, não é mesmo? Isso ocorre também 
para os músicos e para todas as pessoas talentosas que nascem com ouvidos mara-
vilhosos, mas, se não estimularmos, se não propusemos tarefas que desenvolvam 
essas habilidades, a aprendizagem será falha ou, em muitas vezes, ocorrerá. 
Diante disso, é nosso dever oportunizar a cada aprendiz as situações especíicas 
que os levarão ao aprendizado. Gosto de chamar de alicerce do aprendizado, pois, 
se qualquer variável falhar, o aprendizado tende a ser deicitário ou inconsistente. 
Amígdala
Hipocampo Cerebelo
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ixados em nossa cabeça por áreas 
temáticas, formando diversos ma-
pas mentais (CALL; FEATHERS-
TONE, 2013; RELVAS, 2010).
O processo é bem simples, 
mas, ao mesmo tempo, com-
plexo. Em consequência disso, 
observe a imagem a seguir:
Caro(a) aluno(a), o hipocampo 
apresentado na igura anterior 
é a região responsável por for-
mar memórias e, evidentemen-
te, essa estrutura depende de 
diversas outras estruturas neu-
rológicas para consolidar as aprendizagens. Observe, na imagem, uma pequena 
bola na ponta do hipocampo, a amígdala cerebral, que tem, por função, classiicar 
o estado emocional do aprendiz no momento da formação da memória.
No momento de consolidação de uma nova memória, é necessário manter um 
alto nível de atenção e, por essa razão, os métodos empregados são importan-
tíssimos. Sobretudo, é fundamental se preocupar com o estado emocional do 
aprendiz. Caso contrário, há o risco de inibir a aprendizagem. 
Para melhor exempliicar, considere um momento de estresse, como o medo, a 
fúria, uma ansiedade excessiva, entre outras tantas situações que são controladas pelo 
sistema límbico dos seres humanos e, em outras palavras, são eventos primitivos, já 
que visam a sobrevivência (FONSECA, 2016). Nesses momentos, mantemos-nos 
racionais? Por vezes, brigamos, esbravejamos, xingamos e, muitas vezes, surge um 
“branco” durante uma prova e, esquecemos de trechos importantes em uma apre-
sentação. Todos esses eventos emanam, em especial, pela ativação da amígdala cere-
bral, responsável por perceber nosso estado emocional em dado momento e, se por 
alguma razão, nosso estado de alerta for negativo, a parte racional do cérebro será 
Figura 1 – Hipocampo e amígdala
cerebral na formação de memórias
Se o hipocampo é tão importante para a formação de memórias, a sua retirada poderia 
resultar na impossibilidade de construir memórias?
pensando juntos
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Memória Declarativa
Contém informações adquiridas de 
maneira explícita e que somos 
conscientes em possuir
Memória Procedimental
Contém informações que não somos 
conscientes de possuir que foi 
adquirida de forma implícita
Memória Semântica
Contém informações de fatos e 
eventos independentes do contexto 
que foi adquirida
Aprendizado Motor
Memória Episódica
Contém informações de fatos e 
eventos particulares de um 
contexto determinado
Permite codificação de informação relativa 
a associações e eventos de caráter pessoal
(ex. minha filha nasceu em Londres)
Permite codificação de 
informações e conhecimentos 
abstratos sobre o mundo que 
nos rodeia (ex. a moeda 
brasileira é o Real)
Condicionamento
momentaneamente bloqueada, impossibilitando a manutenção de foco, a evocação 
de memórias relacionadas a tal temática e, por im, haverá uma pequena ativação 
hipocampal, ou seja, existe, aqui, a impossibilidade de se formar boas memórias. 
Desse modo, o ato de formar memórias depende diretamente do estado emo-
cional do aprendiz, pois, quando confortável, e dentro do contexto de aprendizagem, 
permitirá acesso aos canais de captação de estímulos sensoriais do ambiente. Tudo 
isso direcionará tais experiências para o hipocampo, que, por sua vez, consolida uma 
nova aprendizagem (FONSECA, 2014; PIRES; FERREIRA; ACAMPORA, 2018). 
Simpliicando-lhe, as áreas sensitivas do cérebro identiicam estímulos res-
pectivos, as áreas de associação integram esses sinais a outros dados de outros 
sentidos já existentes e, na sequência, irão compará-los com as memórias e co-
nhecimentos já existentes no cérebro e associá-los a emoções e sentimentos.
Para-lhe apresentar, de modo técnico, como essa construção de uma memória 
de longa duração acontece, já sabemos que o hipocampo deverá formar uma me-
mória declarativa (consciente) e, para isso, é auxiliado pelo córtex entorrinal, giro 
dentado e região CA3 (subárea do hipocampo). O hipocampo é interconectado 
com todas as regiões do cérebro que registram e modulam o caráter emocional 
das experiências com aquelas que determinam se são novas ou não (LENT, 2013).
O hipocampo recebe e emite ibras a vários núcleos da amígdala e do septo me-
dial, do córtex pré-frontal mediolateral (essencial para o processamento da memó-
ria de trabalho, a qual é crucial para manter a memória viva ou disponível enquanto 
está sendo percebida ou processada), do córtex parietal associativo da maior parte 
do córtex sensorial. “O hipocampo, 
a amígdala e os córtices entorrinal, 
pré-frontal e parietal recebem tam-
bém vias de informação referente 
ao estado de consciência, alerta e 
ansiedade” (LENT, 2013, p. 247).
A igura a seguir representa as 
memórias de acesso consciente e 
inconsciente dos seres humanos:
É bastante simples compreender o 
conceito de memórias declarativas: 
são memórias de acesso conscien-
te, as quais podem ser divididas em 
Figura 2 – Os tipos e subtipos de memória e suas 
principais características / Fonte: Lent (2013, p. 246).
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memórias semântica e episódica. Para explicar o que são memórias semânticas, per-
gunto-lhe: qual é a capital do Brasil? Qual é a moeda inanceira dos Estados Unidos 
da América?Se você conseguiu buscar, de modo consciente, em suas memórias, as 
respostas para essas questões, já compreendeu do que se trata as memórias semânti-
cas. Já as memórias episódicas estão associadas a buscar, em sua cabeça, um evento, 
casamento, formatura, o evento ocorrido no dia 11 de setembro etc.
Por outro lado, as memórias procedimentais estão representadas nas ações 
inconscientes, como escrever, por exemplo. Nós pensamos no que escrever, e 
não em como escrever. Talvez, quando aprendeu a dirigir um carro, muitas ações 
dependiam de sua atenção máxima, mas, hoje, os pés e as mãos simplesmente 
movimentam-se de maneira automática.
Ampliando essa discussão sobre os mistérios do encéfalo humano, trago o 
seguinte questionamento: você já passou por momentos de dejavú? Aqueles mo-
mentos em que acredita já ter passado ou vivido a mesma situação? E se eu te 
falar que nossas memórias podem nos enganar? Isso mesmo! Nossas memórias 
podem ser pessoais, mas também podem ser coletivas. Ficou confuso? Calma, eu 
explico: as memórias podem ser perdidas ou fortalecidas ao longo da vida, ou seja, 
fortalecemos aqueles eventos importantes e descartamos as coisas irrelevantes, 
ou seja, as que já não nos interessa mais. 
Assim como já fora discutido, a formação das memórias depende da nossa 
atenção e da vivência sobre determinado evento que se pretende armazenar. No 
entanto, nosso cérebro também incorpora, a essas lembranças, fatos irreais, cons-
trutos do imaginário, mentiras ou diversas variações a essas memórias. Assim, é 
possível acreditar que se passou por alguma situação, quando, na verdade, foi algo 
que escutou de algum amigo, viu na televisão ou mesmo sonhou.
Para reforçar essa ideia, considere o seguinte: se, durante o aprendizado, após 
o nascimento, o recém-nascido apresenta um alicerce neuronal desestruturado e 
ainda em processo de amadurecimento, como é possível se recordar de eventos da 
infância? Posso lhe responder de modo simples: é bem provável que esse momento 
de recordação tenha sido muito feliz ou muito traumático. Caso contrário, você 
pode se recordar de uma foto, de histórias contadas por pais, parentes ou indivíduos 
que acompanharam seu crescimento. Em resumo, nós, seres humanos, podemos 
“roubar” memórias de outras pessoas e acreditar que são experiências individuais.
É válido ressaltar que existem memórias que são formadas em questão de segun-
dos, enquanto outras em minutos e, outras, ainda, em semanas. Basta comparar uma 
queimadura em uma panela quente com um conhecimento técnico de neurociências.
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nais elétricos que são conduzidos por diversas redes neurais, sendo processados e 
traduzidos por eventos bioquímicos que ocorrem nos neurônios. Ao lembrarmos 
de algo memorizado, o caminho inverso é realizado, fazendo que nossos sentidos 
e consciência possam interpretar tais códigos como tradução do mundo real.
De acordo com Lent (2013), é possível subdividir as memórias considerando 
o seu tempo de persistência em nosso encéfalo. Sendo assim, existem memórias 
que perduram por alguns minutos ou, aproximadamente, por seis horas: estas são 
denominadas memórias de curta duração. Por outro lado, as memórias de longa 
duração, como as declarativas ou procedimentais, apresentadas no tópico ante-
rior, podem perdurar por horas, dias, meses ou anos. Para Guyton e Hall (2006), 
além das memórias de curto e longo prazo, existe, ainda, a memória intermediá-
ria, que pode durar horas ou até mesmo semanas, na qual mudanças químicas, 
físicas e anatômicas temporárias podem surgir nas redes neurais.
Para a consolidação de uma memória de curta duração, é necessária a reto-
mada repetida de determinado conhecimento. Assim, mudanças físicas, químicas 
e anatômicas nas sinapses ocorrem ao se construir memórias de longa duração 
(GUYTON; HALL, 2006). Você já se deparou com situações em que indivíduos 
que sofreram acidentes não se recordam daquele evento? Pois bem, isso ocorre 
pela necessidade de tempo de repetição de uma memória, ou seja, para uma 
consolidação fraca de uma memória de curta duração, é necessária a retomada 
dos eventos por cerca de cinco ou dez minutos, e mais de uma hora para uma 
consolidação forte. Desse modo, ao perdermos a consciência em um acidente essa 
retomada deixa de ser possível, resultando na perda daquela memória.
Assim como todos sabemos, a repetição leva ao aprendizado e um cansaço 
mental pode inviabilizar a aquisição de informações. Para tanto, o aprendizado de 
longo prazo é favorecido pela prática pedagógica fracionada e bem estruturada, 
ou seja, fortalecer pequenas partes de conceitos que devem ser aprendidos resulta 
em uma maior aprendizagem, quando comparada a um processo de ensino e 
aprendizagem supericial e amplo.
Ao que parece, as memórias de curta e longa duração ocorrem em paralelo e am-
bas são processadas nas mesmas regiões (hipocampo, córtex entorrinal e córtex parie-
tal associativo). Entretanto, utilizam vias enzimáticas diferentes, o que pode favorecer 
um maior entendimento sobre a perda de memória durante a velhice (LENT, 2013). 
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Você já ouviu dizer que o hemisfério esquerdo do encéfalo humano analisa logi-
camente as situações que nos deparamos, enquanto o hemisfério direito é o respon-
sável pelos aspectos criativos. Assim sendo, todas as vezes que um jogo de palavras, 
como uma história que nos é contada, chega por meio dos “órgãos dos sentidos” para 
serem processadas e compreendidas, o cérebro esquerdo tenta entender qual é o inal 
lógico da história, enquanto o cérebro direito considera a remota possibilidade do 
absurdo. Desse modo, todas as vezes que o lógico se transforma rapidamente em 
ilógico (absurdo), surge o divertido, e consequentemente, as gargalhadas.
As gargalhadas gostosas que produzimos ou percebemos em outras pessoas 
dependem da produção de um neurotransmissor chamado dopamina, o qual é 
liberado na base do encéfalo, em uma área denominada de área tegmentar ventral, 
a im de se conectar a receptores que são nomeados como núcleos accumbens, 
desencadeando, assim, a reação do riso do córtex pré-frontal. Por im, pelo fato 
de que rir é um movimento de estruturas neurológicas responsáveis pelas ações 
motoras, elas também serão acionadas em todo esse evento que gerará prazer. Por 
conseguinte, automaticamente, a vontade de fazer novamente será repetidas vezes 
acionada pelo encéfalo humano, ato comumente conhecido como circuito de 
recompensa (GOMES; PEREIRA, 2016; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). 
O humor é processado de maneiras diferentes no cérebro masculino e feminino. 
Quando, no homem, o processo é bastante simples, o evento ou a história contada 
é divertida ou não: é simples assim. É por esse motivo que, muitas vezes, mulheres 
se deparam com homens gargalhando de um episódio do Chaves. Por outro lado, 
o cérebro feminino é bastante complexo, visto que a mulher consegue uma maior 
ativação do circuito de recompensa mencionado e, utiliza a informação recebida para 
integrar melhor o conhecimento formal previamente adquirido com as emoções 
(mulheres contam as histórias com os mínimos detalhes, não é mesmo?). Por im, sur-
ge, no cérebro feminino, um maior nível de humor, ou seja, uma sensação agradável.
Seja pela simplicidade ou complexidade do cérebro masculino ou feminino, 
respectivamente, o humor tem uma função importantíssima na formação de 
memórias de curta duração. Ao contar histórias engraçadas e ao se apoiar em 
piadas saudáveis, o cérebro aumenta seu nível de atenção e de conexões neurais, 
o que favorece o surgimento de uma memória. A partir desse momento, cabe 
ao professor mediar atividades para retomar a temática, transformando-a em 
memórias de longa duração.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos esta unidade com uma conissão: eu gosto dos assuntos que remetem a 
formação de memórias e a consolidação de novosaprendizados, os quais icarão reti-
dos nos neurônios por dia, meses ou décadas, em decorrência das adaptações físicas, 
químicas e anatômicas que ocorrem nessas estruturas . Tudo isso acontece em virtude 
dos estímulos diversos, sejam eles do ambiente ou dos mediadores de conhecimento.
A formação das memórias humanas depende da funcionalidade harmoniosa 
de diversas estruturas neurológicas, como o hipocampo, córtex entorrinal, amíg-
dala cerebral e outras áreas vinculadas ao sistema nervoso. Nesse viés, um dos 
elementos cruciais para o armazenamento de novos conhecimentos é considerar 
as emoções individuais e a base de conhecimentos prévios já memorizados sobre 
um determinado assunto. Desse modo, um aprendiz confortável emocional-
mente tende a ativar e a usar melhor o cérebro racional e, consequentemente, 
aprender mais e melhor.
Constatamos que o ato de aprender e moldar o cérebro humano é bastante 
individual, uma vez que os motivadores de cada pessoa podem ser diferentes, 
bem como sua personalidade. Independentemente da historicidade de cada um, o 
aprendizado está relacionado, de maneira direta, com a prática, o nível de atenção 
e motivação do aprendiz e, sobretudo, com as estratégias, métodos e oportuni-
dades que serão oferecidas, nos mais diferentes contextos, para esses indivíduos 
que necessitam absorver um novo conhecimento.
Caro(a) aluno(a), ica evidenciado, nesta unidade, que pensar em estratégias 
que ampliem ou promovam mais facilmente a construção do aprendizado é 
importante, sendo, o humor, uma excelente maneira de se ensinar, de conectar 
conceitos, reduzir o estresse, aumentar a socialização dos aprendizes e, o mais 
importante: construir, em cada indivíduo, a vontade de voltar para a sala de 
aula e aprender cada vez mais.
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Figura 1 – Lobos cerebrais
É, na parte posterior (lobo occipital) da nossa cabeça, que analisamos as informações 
visuais. Já no lobo temporal, localizado próximo a orelha, processamos as informações 
auditivas, enquanto, no lobo parietal, há o processamento cinestésico. Por sua vez, no 
córtex motor, processam-se as informações relacionadas aos movimentos. No lobo 
frontal (testa), operam a consciência e personalidade e, abaixo dos lobos frontais, está o 
córtex pré-frontal, uma superestrutura que analisa com antecedênciaa todas as nossas 
ações, orquestrando as funções mentais.
Os hemisférios cerebrais, as estruturas neurológicas e as células que levam os 
comandos até as estruturas periféricas do corpo humano estão interconectadas. 
Desse modo, a imensa conexão existente entre as estruturas neurológicas permite 
considerar que o processamento das informações acontece em áreas especíicas. 
No entanto, a superestrutura encefálica apresenta uma rede de conexões íntimas 
o suiciente para se conectar rapidamente a diversas outras regiões.
Ilustríssimo(a) aluno(a), no que se refere a aprendizagem, não é possível separar 
as possibilidades cognitivas, as quais possuem diversas estruturas neurológicas que 
Lobo frontal
Lobo temporal
Lobo parietal
PosteriorAnterior
Lobo occipital
Sulco central
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realizam processos de modo interligado. Entretanto, fragmento, aqui, a cognição, 
para esclarecer o modo pelo qual o nosso cérebro processa as mais diferentes infor-
mações que se pode receber e analisar. Em resumo, a cognição é um dos principais 
elementos que alicerçam a aprendizagem e, sobretudo, está relacionada com a ca-
pacidade que temos de receber informações do ambiente, encontrar respostas em 
nossas memórias e realizar uma ação referente ao estímulo recebido.
De acordo com Boyd e Bee (2011), as teorias cognitivas enfatizam os aspectos 
mentais do desenvolvimento, tais como lógica e memória. Por essa razão, um 
bebê, comumente, joga as coisas ao chão, a im de realizar uma análise repleta de 
atenção, como se ele já soubesse o percurso que tal objeto percorrerá e onde ele 
parará. Nessa repetição de jogar objetos no chão, os bebês aprendem o mundo 
ao seu redor e, assim, formam quadros mentais que subsidiarão seus comporta-
mentos. Após essa aprendizagem, pouco a pouco, o bebê amadurece, avançando 
na interação com o mundo ao seu redor.
Para esclarecer melhor a lógica da cognição humana, faça a seguinte relexão: 
imagine um pedestre em movimento, no meio de um tráfego intenso da cidade: 
quais informações ele precisa processar? Muitas, não é mesmo? Esse ambiente ofe-
rece ao pedestre diversos estímulos ambientais, desde um outro pedestre que está 
no caminho e se deve desviar da velocidade dos carros, para que não seja atingi-
do, da grande variedade de estímulos sonoros e entre tantas outras informações. 
Todos esses estímulos podem ser considerados como input, ou seja, entrada de 
informações para processamento. Por outro lado, a ação realizada como resultado 
do processamento da informação é denominado output.
Dessa forma, é possível avançarmos para os três importantes estágios de pro-
cessamento da informação: a identiicação do estímulo; a seleção da resposta; e 
a programação da ação. Esses estágios de processamento estão entre o input e o 
output (SHIMIDT; WRISBERG, 2010).
O primeiro estágio fornece fontes importantes de informação, indicando o 
que se deseja como resultado inal, o que permite, conforme o exemplo exposto, 
evitar um pedestre ou veículo. Esse primeiro estágio depende diretamente da 
captação de estímulos do ambiente para reunir os componentes da informação, 
utilizando, para isso, os sistemas sensoriais, tais como: visão, audição, tato, olfato 
e paladar. Quando o indivíduo consegue reunir todas as etapas necessárias da 
informação recebida do ambiente, avança-se ao próximo estágio.
O estágio dois, de seleção da resposta, relaciona-se com as diversas possibi-
lidades de se criar uma ação e resolver os problemas provenientes do estágio de 
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identiicação de estímulo. Suponha que um veículo que se desloca na rua apresenta 
uma determinada velocidade e devemos decidir se atravessamos rapidamente a via 
na frente do carro ou esperamos ele passar. Nesse caso, a seleção da resposta está 
intimamente associada à variabilidade de memórias, aprendizados armazenados 
para as mais diferentes e possíveis resoluções do input.
Por im, o terceiro estágio de programação da resposta depende do construto 
selecionado no segundo estágio. É, nesse momento, que se prepara para a ação. 
Aqui, organiza-se o sistema sensorial, indicando para qual lado a nossa visão deve 
olhar, são ajustadas a base postural e preparados os músculos e os programas 
motores para a execução dos movimentos. Quando todas essas etapas estiverem 
ajustadas, o output será visto, fotografado ou ilmado.
Caríssimo(a), vamos simpliicar essa explicação. Quando você está resolvendo uma 
prova teórica, ao ler (input) um determinado item (questão), você está captando e es-
truturando elementos de informações em seu encéfalo, utilizando, para isso, o sistema 
sensorial da visão. Após identiicar os estímulos sobre a temática, os comandos presentes 
no enunciado irão buscar, em suas memórias, uma resposta, a qual pode ser assinalada 
entre os itens A e E. Após a realização de uma a análise detalhada, você acredita que a 
alternativa correta se encontra na letra B. Assim, para assiná-la, deve estruturar e or-
ganizar o movimento de sua mão, anotando, na folha (output), o construto cognitivo.
Como foi perceptível, desde a resolução de problemas até a sua expressão 
em forma de ação exige, em seu conjunto, diferentes funções cognitivas, as quais 
também podem ser signiicadas por habilidades, capacidades ou competências 
cognitivas. São elementos das funções cognitivas: atenção; funções motoras; fun-
ções visuais; memória; funções executivas; praxia construtiva; linguagem e nível 
intelectual. Tome, por exemplo, a seguinte situação: você chega em casa e sente um 
odor de fumaça (atenção).Ao reconhecer o cheiro (percepção) com base no que 
já aprendeu (memória), percebe que esse pode ser um sinal de incêndio. Desse 
modo, você buscará estratégias para resolver o problema (funções executivas).
Essas habilidades cognitivas são usadas para aprender, compreender e in-
tegrar as informações de forma signiicativa. A informação aprendida cogniti-
vamente é entendida e assimilada, não apenas memorizada. Dessa forma, são 
subdivididas em capacidades executivas, motoras, simbólicas, sociais etc., as 
quais remetem-se ao domínio da linguagem, à compreensão de fenômenos, 
ao enfrentamento de situações problemas, à construção de argumentações e à 
elaboração de propostas (FONSECA, 2007).
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Para treinar processos cognitivos, devemos visualizar, imaginar, verbalizar e 
categorizar as informações processadas cognitivamente, que são emocionalmente 
ativadas, controladas e reguladas ao possibilitar uma aprendizagem signiicativa, 
com a capacidade de pensar e de raciocinar que deve ser ensinada.
Para melhor elucidar, observe o exemplo a seguir: abrir uma porta depois da 
campainha ser tocada. Para fazer tal ação, uma pessoa deve ser capaz de identi-
icar um som, desviar a atenção para ele, relacioná-lo a um objeto físico dentro 
do ambiente, mesmo que não seja o objeto real fazendo o barulho e, em seguida, 
usar as habilidades motoras para alcançar a porta e abri-la. Todas essas etapas 
são classiicadas como habilidades cognitivas.
O desenvolvimento cognitivo é um conjunto de competências que podem ser 
diagnosticadas e ensinadas separadamente, e, certamente, correlaciona-se com a cul-
tura. No entanto, diiculdades de aprendizagem podem surgir por várias causas, como 
baixo Q.I., fracos hábitos de estudos, autoconceito negativo, fraca atitude, conlitos 
emocionais, ensino pobre ou dispedagogia, falta de motivação e desenvolvimento ina-
dequado dos processos cognitivos que viabilizam a aprendizagem (FONSECA, 2007).
Para elucidar a aplicação de elementos que discorremos até aqui, observe o 
quadro a seguir.
HABILIDADES OS ESTUDANTES GOSTAM DE OS PROFESSORES PODEM FAZER
Naturalista
Passar o tempo ao ar livre, obser-
var, colecionar plantas, pedras, 
animais, perceber a natureza.
Utilizar o espaço fora da sala de 
aula, ter plantas e animais na 
sala de aula, conduzir experiên-
cias de ciências etc.
Linguística
Contar histórias, trocadilhos, 
adivinhações, jogos de pala-
vras, criar poemas.
Criar projetos de leitura e escri-
ta, ajudar os alunos a preparar 
discursos, despertar para os 
debates, palavras cruzadas.
Musical
Escutar e tocar instrumento, rela-
cionar ritmo, rimas, criar notas.
Reescrever letras de músicas 
para ensinar conceito, ensinar 
história por meio de música.
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HABILIDADES OS ESTUDANTES GOSTAM DE OS PROFESSORES PODEM FAZER
Lógico-
matemática
Trabalhar com números, 
adivinhar coisas e, ao analisar 
situações, compreender como 
as coisas funcionam, exibir pre-
cisão em resolver problemas.
Usar jogos de estratégias, usar 
objetos concretos, gravar infor-
mações em gráico, estabelecer 
linhas de tempo e espaço, mapas.
Cinestésico
Jogar esportes e ser ativo, 
usar corpo, arte, dança, repre-
sentar mímicas.
Proporcionar atividades de 
movimentos.
Espacial
Rabiscar, pintar, desenhar 
ou criar representações 
tridimensionais, trabalhar 
com quebra-cabeça, 
completar labirintos, montar e 
desmontar coisas.
Desenhar mapas e labirintos, 
conduzir atividades de visuali-
zação.
Intrapessoal
Controlar os próprios 
sentimentos e humores, 
estabelecer metas pessoais, 
aprender a escutar, utilizar 
habilidades metacognitiva.
Permitir o trabalho no ritmo 
de cada um, designar proje-
tos individuais e direcionados, 
estabelecer metas, oferecer 
oportunidades de receberem 
feedbacks dos outros, envolver 
em um projeto de relexão.
Interpessoal
Curtir amigos, liderar, meditar, 
dividir, entrar em consenso, 
trabalhar como membro de 
um time efetivo.
Utilizar aprendizagem cooperati-
va, passar projetos em grupo ou 
em duplas, criar situações nas 
quais troquem informações.
Quadro 1 – Propondo atividades combinadas / Fonte: Relvas (2010, p. 104).
Assim como discutimos, o quadro apresentado indica o que se pode fazer para 
criar estratégias do que se pode fazer para trabalhar e desenvolver as habilidades 
predominantes nos aprendizes. Desse modo, desperta-se o interesse em aprender 
a aprender, conhecer, conviver, fazer e ser.
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O sistema límbico inluencia o comportamento instintivo e subconsciente (sem 
acesso voluntário) das pessoas e, em grande parte das vezes, está associado às res-
postas relacionadas com a sobrevivência ou a reprodução. Nos seres humanos, o sis-
tema límbico e as diversas estruturas associadas desempenham papéis complexos, 
relacionados com a expressão de instintos, impulsos ou emoções (PARKER, 2009).
A ação primitiva inata pode ser modiicada por considerações racionais, ela-
boradas por regiões superiores do encéfalo (acesso voluntário), considerando a 
execução de nossas ações, os valores morais, sociais e culturais. Sobretudo, essas 
modiicações são essenciais ao comportamento humano, uma vez que nem sem-
pre os atos humanos são racionais, em especial, em tempos de tensão ou crise.
Permita-me lhe apresentar uma situação para esclarecer melhor: o que difere 
os seres humanos de um animal selvagem? O raciocínio. Agora, imagine uma 
super mulher, batalhadora, que estuda e trabalha muito e, além de tudo, deve 
gerir uma família e, obviamente, uma casa: você deve conhecer alguém assim, 
não é mesmo? Considere que seu esposo, em um dia de folga, agende, em sua 
residência, um jantar com parentes e amigos. No entanto, nesse dia, a mulher se 
encontra muito atarefada no trabalho, faculdade ou pós-graduação. Ao ser in-
formada pelo esposo de sua decisão, a mulher não gosta muito da ideia, pois sua 
casa está bagunçada demais para receber visitas e ela sabe que deverá trabalhar 
muito nesse evento social, mesmo após um dia repleto de atividades desgastantes.
À medida que a hora do almoço chega, essa mulher corre para casa para 
arrumá-la, iniciar o preparo de algum prato para servir à noite e, logo depois, 
volta para a sua rotina de trabalho. Ao inal do dia, a mulher corre para casa e, 
com muito esforço, consegue deixar tudo em ordem e solicita ao seu esposo que 
observe o prato que levou ao forno, pois ela iria se banhar. Alguns minutos depois, 
a mulher deixa o chuveiro desesperada e corre para a cozinha, pois sentiu um 
odor de queimado. Ao chegar ao forno, seu prato, o qual havia sido preparado 
com tanto esforço, já havia queimado.
Caríssimo(a), no início do parágrafo anterior, deinimos a principal diferença 
entre seres humanos e animais selvagens. Pelo fato de que a mulher é um ser ra-
cional, ao se deparar com aquela situação, ela olha para o seu cônjuge e diz: “tudo 
bem, eu faço outro”. Talvez, esteja rindo e se lembrando de sua mãe, tia ou avó 
na mesma situação. Contudo, para muitas mulheres, a ação não seria essa: um 
momento de fúria, de insatisfação e de descontentamento tomaria conta de todo 
o organismo e, possivelmente, panelas iriam voar. É claro que algumas palavras de 
muito carinho, ou seja, a tentativa de se justiicar ou argumentar só iria piorar a 
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cérebro e no cerebelo participam ativamente da elaboração dos comportamentos 
executivos dos seres humanos.
O córtex pré-frontal, presente nos lobos frontais, está relacionado com as 
funções superiores que podem ser representadas por diversos comportamentos 
humanos. Assim sendo, qualquer lesão da área pré-frontal determina a perda de 
concentração, diminuição da habilidade intelectual, déicit de memória e julga-
mento. Para simpliicar, essa região está associada com a fala, as funções motoras, 
controle práxico, exploração visual, planiicação e programação de tarefas, julga-
mento social e entre outras (RELVAS,2010).
Nos lobos frontais, quando intactos, está a integridade do bom desempenho 
executivo. Diversas estruturas neuronais, mesmo que fora dos lobos frontais, 
conectam-se a essa região cerebral, a qual apresenta a função cognitivo-com-
portamental importante, como impor metas elaboradas ao comportamento 
humano, desde planos acadêmicos, proissionais ou meramente pessoais, prees-
tabelecidas pelo próprio indivíduo. Sempre existe uma escolha, não é mesmo? 
Você pode concluir a leitura deste material e vencer mais essa etapa ou parar 
para passear com seus amigos: essa regulação do seu comportamento é inluen-
ciada pela atuação dos lobos frontais.
O correto funcionamento das estruturas anatômicas do encéfalo humano 
possibilita a organização das funções cognitivas e a aplicação de suas capacidades 
em diversas situações da vida real, seja como ferramenta biológica de sobrevi-
vência, seja para a eicácia dos recursos físicos e sociais com propósitos de curto, 
médio ou longo prazo (FONSECA, 2014).
A desorganização das funções executivas causada por alguma lesão neuro-
lógica ou por alguma síndrome especíica resultará em uma maior propensão 
de indivíduos com diiculdades de aprendizagens. Isso se dá, em virtude de limi-
tações para auto-regular o funcionamento executivo como forma de reagir aos 
estímulos do ambiente ou por alterações cognitivo-comportamental que podem, 
inclusive, ocasionar mudanças na personalidade individual.
Por outro lado, uma criança de dois anos, mesmo que sem lesão neurológica, 
já processa bem os estímulos verbais, desde que curtos e limitados, reagindo, por 
exemplo, a um comando de “pegue a bola”. A partir dos quatro anos, inluencia-
da pela maturação neurológica que está acontecendo, já é possível, além de com-
preender os comandos verbais, associá-los a respostas motoras, sendo capaz de 
compreender e executar ações do tipo “com um apito, jogue a bola para o alto. 
Com dois apitos, segure a bola e pule o mais alto que conseguir”. Indivíduos com 
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lesões nos lobos frontais mostram-se incapazes de processar todos esses comandos.
Os lobos frontais são extremamente atuantes em nosso funcionamento execu-
tivo. Essa região neurológica também é extremamente atuante em nossa memória 
operacional ou memória de trabalho, responsável por manter uma informação viva 
em nossa cabeça até que outros processamentos sejam inalizados. Pode-se tomar, 
como exemplo, um ilme: você ica, aproximadamente, duas horas frente a tela e, 
ao inal, consegue se lembrar de praticamente todo o desenrolar da história. Isso 
é possível, pois a memória de trabalho manteve essas informações vivas em sua 
mente, a im de que, ao chegar no inal do ilme, a história izesse sentido. O mesmo 
vale para armazenarmos temporariamente um número de telefone que deve ser 
anotado até conseguirmos papel e caneta para transpormos a sequência numérica.
Sob essa perspectiva, os lobos frontais também são responsáveis diretos na codiicação 
das memórias, possibilitando ações cotidianas com o mínimo de esforço, indicando que os 
comportamentos sociais podem ser guiados por crenças e atitudes morais (LENT, 2013).
Excelentíssimo(a) aluno(a), você deve estar se questionando: talvez esta seja 
a passagem mais complexa do material, não é mesmo? Contudo, posso tranqui-
lizá-lo(a) ao airmar que as funções executivas estão presentes em praticamente 
todas as nossas ações diárias: é possível encontrá-las em resoluções de problemas 
que demandam criatividade, planejamento, lexibilidade cognitiva ou até mes-
mo respostas rápidas. Desse modo, podemos observar as funções executivas em 
nossas memórias, ou seja, em nossos aprendizados armazenados e que serão uti-
lizados como um banco de dados responsável pela resolução dos mais diferentes 
problemas que um indivíduo pode se deparar.
Para se ter sucesso escolar, o estudante deve evocar um conjunto muito diver-
siicado de competências executivas, a saber: estabelecer objetivos; planiicar, gerir, 
predizer e antecipar tarefas, textos e trabalhos; priorizar e ordenar tarefas no espaço 
e no tempo para concluir projetos e realizar testes; organizar e hierarquizar dados, 
gráicos, mapas e fontes variadas de informação e de estudo; separar ideias e con-
ceitos gerais de ideias acessórias ou de detalhes e pormenores; pensar, reter, mani-
pular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo que lêem; lexibilizar, alterar e 
modiicar procedimentos de trabalho e abordagens a temas e tópicos de conteúdo, 
aplicando diferentes estratégias de resolução de problemas; manter e manipular 
informação na memória de trabalho; automonitorizar o progresso individual e do 
grupo de trabalho; autorregular e veriicar as respostas produzidas e a conclusão, re-
visão e veriicação de tarefas, projetos, relatórios e trabalhos individuais ou de grupo; 
reletir e responsabilizar-se pelo seu estudo e sobre o seu aproveitamento escolar etc. 
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apresenta alta relevância nos mecanismos de processamento neural. Por im, as 
funções executivas têm, por inalidade, integrar as funções cognitivas e as cona-
tivas (sistema límbico), para a execução das ações, que, na maioria das vezes, são 
expressadas por meio de movimentos corporais.
Caríssimo(a) aluno(a), a neuropsicopedagogia tem, por função, revelar-nos as 
habilidades do cérebro. Para tanto, é fundamental uma divisão entre os processos 
psicocognitivos, os quais são responsáveis pela aprendizagem, e os processos 
psicopedagógicos, responsáveis pelo ensino. Desse modo, a tríade funcional da 
aprendizagem humana apresentada na igura anterior pode ser aplicada.
A cognição humana, assim como fora exposto, depende da ótima interligação 
de diferentes áreas do cérebro, resultando na integração das informações recebi-
das com o planejamento das ações em resposta aos mesmos estímulos captados. 
As áreas cognitivas se conectam com praticamente todo o encéfalo, inclusive 
com o sistema límbico. Por essa razão, nossas tomadas de decisões dependem 
do comportamento emocional. Essa relação entre cognição e emoção resulta 
nas funções mais complexas, denominadas funções executivas, que envolvem, 
segundo Paula, Pinto e Lúcia (2008), iniciação, planejamento, levantamento de 
hipóteses, lexibilidade mental, tomada de decisão, auto-regulação, julgamento, 
utilização de feedback e auto-percepção.
Em contrapartida, a aquisição de aprendizagens pode ser inluenciada pela 
falha de uma das funções mencionadas. O sistema límbico pode criar barreiras 
que forneçam, ao aprendiz, um fator limitador, como a desmotivação, a desorga-
nização, a desplaniicação, a perda de estratégias de atenção, a criação, a busca e 
a conquista de objetivos e ins a atingir etc., que se repercutem quer nas funções 
cognitivas, quer nas funções executivas (FONSECA, 2014).
Em virtude dessa íntima relação entre as funções apresentadas, é fundamental 
conhecer os mecanismos de aquisição de aprendizagens para que os processos 
de ensino sejam adequados e compatíveis aos aprendizes. Em resumo, os mais 
diferentes proissionais, em seu desenvolvimento de ações que visam a aprendi-
zagem, devem estar atentos às emoções, aos sentimentos, ao estado de humor e 
todos os elementos que envolvem o sistema límbico, pois eles podem acelerar o 
funcionamento cognitivo e, por consequência, executivo, ou até mesmo bloqueá-
-lo, inviabilizando a aquisição de novos conhecimentos.
Para lhe exempliicar melhor, faça a seguinte relação: um aprendiz, em sala 
de aula, pode apresentar baixo rendimento cognitivo e, muitas vezes, análises 
elaboradas. Assim, a solicitação de diversas avaliações multiproissionais serão 
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As emoções que sentimos permitem mudar nossas memórias. A cada vez que relembra-
mos algo, surge uma nova ideia de realidade e já não se sabe se é como realmente vimos, 
assistimos na televisão ou se ouviu. Isso permite a formação da personalidade, construto

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