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Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Diuréticos O rim filtra o volume de líquido extracelular (VLEC) por meio dos glomérulos renais, enquanto os néfrons renais regulam com precisão o volume de líquido do corpo e sua quantidade de eletrólitos por meio dos processos de secreção e reabsorção. Os diuréticos aumentam a taxa do fluxo de urina e a excreção de Na+ e são usados para corrigir o volume ou a composição dos líquidos corporais. Os diuréticos clinicamente úteis também aumentam a taxa de excreção de Na+ (natriurese) e do ânion que o acompanha (geralmente o 𝐶𝑙−). Anatomia e fisiologia renal A unidade básica do rim para a formação de urina é o néfron. A parte inicial do néfron, o corpúsculo renal, consiste em uma cápsula (cápsula de Bowman) e em um tufo de capilares (o glomérulo) localizado dentro da cápsula. O glomérulo recebe o sangue de uma arteríola aferente, e o sangue sai do glomérulo por uma arteríola eferente. O ultrafiltrado produzido pelo glomérulo se acumula no espaço entre o glomérulo e a cápsula (espaço de Bowman) e entra em uma porção tubular longa do néfron, onde é reabsorvido e condicionado. Visão geral da função do néfron O rim filtra grandes quantidades de plasma, reabsorve substâncias que o corpo precisa conservar e retira ou secreta substâncias que precisam ser eliminadas. Normalmente, cerca de 65% do Na+ filtrado é reabsorvido no túbulo proximal e, como essa parte do túbulo é muito permeável à água, a reabsorção é basicamente isotônica. Entre as faixas externa e interna da medula externa, o túbulo modifica abruptamente a sua morfologia, passando a constituir o RRD (ramo descendente delgado) – que penetra na medula interna e dá origem ao RAD (ramo ascendente delgado). Na junção entre a medula interna e externa, o túbulo modifica a sua morfologia, tornando-se o RAE (ramo ascendente espesso). Assim, o túbulo reto proximal e os segmentos RDD, RAD e RAE são conhecidos como alça de Henle. O RAE passa entre as arteríolas aferente e eferente e estabelece contato com a arteríola aferente por meio de um grupo de células epiteliais e colunares especializadas conhecido como mácula densa. A mácula densa está localizada estrategicamente para sentir as concentrações de NaCl que deixam a alça de Henle. Se a concentração de NaCl for demasiado elevada, a mácula densa emite um sinal químico para a arteríola eferente do mesmo néfron, causando a sua constrição, com consequente redução da TFG (taxa de filtração glomerular). A TFG protege o organismo contra a perda de sol e volume. Após a mácula densa, o túbulo modifica mais uma vez a sua morfologia, transformando-se no TCD (túbulo contorcido distal). O RAE e o TCD são coletivamente denominados segmento diluente do néfron, visto que estes transportam 𝑁𝑎𝐶𝑙 ativamente e são impermeáveis à água, o que confere a capacidade de produzir uma urina diluída. O sistema de ductos coletores constitui uma área de controle fino da composição e do volume do ultrafiltrado. É lá que são feitos os ajustes finais na composição de eletrólitos, um processo modulado pela aldosterona. A vasopressina (ADH – hormônio antidiurético) também modulam a permeabilidade à água dessa parte do néfron. Na ausência de ADH, o sistema de ductos coletores é impermeável à água, e a urina excretada é diluída. Na presença de ADH, o sistema de ductos coletores é permeável à água, que é reabsorvida. Inibidores da anidrase carbônica Existem três inibidores da anidrase carbônica de administração oral: acetazolamida, diclorfenamida e metazolamida. Mecanismo e local de ação A anidrase carbônica, presente em grandes quantidades nas células epiteliais do túbulo proximal, tem um papel fundamental na reabsorção de NaHCO3 e na secreção ácida. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé No espaço intracelular, essa enzima catalisa a reação 𝐶𝑂2 + 𝐻2𝑂 ⟺ 𝐻2𝐶𝑂3 . O ácido carbônico (𝐻2𝐶𝑂3), por sua vez, se dissocia em 𝐻+ e 𝐻𝐶𝑂3−, e o íon hidrogênio é secretado para a luz tubular, em troca pelo sódio. Na luz tubular, o 𝐻+ reage com o 𝐻𝐶𝑂3− , resultando na formação de 𝐻2𝐶𝑂3 , que se dissocia em 𝐶𝑂2 e 𝐻2𝑂 na presença da anidrase carbônica. O 𝐶𝑂2 , por ser lipofílico, rapidamente se difunde para o interior da célula, reagindo com a água. O resultado final é a reabsorção tubular de bicarbonato de sódio e água. Os inibidores da anidrase carbônica inibem fortemente tanto a anidrase carbônica ligada à membrana como a citoplasmática e podem causar abolição quase completa da reabsorção de NaHCO3 no túbulo proximal. Dessa forma, ocorrem: Diminuição da produção intracelular de íons de hidrogênio disponíveis para a troca com íons de sódio; Inibição da desidratação do ácido carbônico, resultando em acidificação do líquido intratubular; Redução da secreção de íons de hidrogênio. A anidrase carbônica está envolvida na formação de bicarbonato de sódio no humor aquoso, pelos processos ciliares. Assim, a inibição da anidrase carbônica reduz a formação do humor aquoso, consequentemente reduzindo a pressão intraocular. Isso justifica o uso dos IACs no tratamento do glaucoma. Efeitos na excreção urinária A inibição da anidrase carbônica está associada a um rápido aumento na excreção urinária de 𝐻𝐶𝑂3−. Isso, em conjunto com a inibição do ácido titulável e a secreção de 𝑁𝐻4+ leva a um aumento do pH urinário para cerca de 8 e ao desenvolvimento de acidose metabólica. Além disso, ocorre um pequeno aumento na excreção de 𝐶𝑙−, sendo o 𝐻𝐶𝑂3− o principal ânion excretado junto com os cátions 𝑁𝑎+ e 𝐾+. Usos terapêuticos A eficácia dos inibidores da anidrase carbônica como agentes isolados é baixa. A combinação de acetazolamida com diuréticos que bloqueiam a absorção de 𝑁𝑎+ no néfron provoca uma resposta natriurética acentuada. Mesmo assim, a utilidade em longo prazo dos inibidores da anidrase carbônica é comprometida pelo desenvolvimento de acidose metabólica. A principal indicação para os inibidores da anidrase carbônica é o glaucoma de ângulo aberto. A acetazolamida pode proporcionar alívio sintomático em pacientes com doença das grandes altitudes. Também podem ser úteis para corrigir a alcalose metabólica, em especial a causada pelos aumentos na excreção de 𝐻+ induzidos pelos diuréticos. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas Reações tóxicas graves aos inibidores da anidrase carbônica são raras. Entretanto, podem provocar depressão da medula óssea, toxicidade cutânea, lesões renais e reações alérgicas. Com grandes doses, os pacientes podem exibir sonolência e parestesias. A maioria dos efeitos adversos, contraindicações a interações medicamentosas são secundárias à alcalinização da urina ou à acidose metabólica, incluindo: Desvio da amônia de origem renal da urina para a circulação sistêmica, o que pode induzir ou agravar a encefalopatia hepática; Cólica ureteral e formação de cálculos, devido à precipitação de sais de fosfato de cálcio na urina alcalina; Agravamento da acidose metabólica ou respiratória; Redução da taxa de excreção urinária de bases orgânicas fracas. Assim, os IACs são contraindicados para pacientes com cirrose hepática, com acidose hiperclorêmica ou doença pulmonar obstrutiva crônica grave. Diuréticos osmóticos Os diuréticos osmóticos são livremente filtrados no glomérulo, sofrem reabsorção limitada pelo túbulo renal e são relativamente inertes do ponto de vista farmacológico. Eles são administrados em doses altas o suficiente para aumentar significativamente a osmolalidade do plasma e do líquido tubular. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Mecanismoe local de ação Os diuréticos osmóticos atuam tanto no túbulo proximal quanto na alça de Henle, sendo esta última o principal local de ação. No túbulo proximal, os diuréticos osmóticos atuam como solutos não reabsorvíveis que limitam a osmose da água no espaço intersticial e, portanto, reduzem a concentração luminal de 𝑁𝑎+ a ponto de cessar a sua reabsorção efetiva. Ao extrair água dos compartimentos intracelulares, os diuréticos osmóticos expandem o VLEC, reduzem a viscosidade do sangue e inibem a liberação de renina. Esses efeitos aumentam o fluxo sanguíneo renal, enquanto o aumento no fluxo sanguíneo da medula renal remove o 𝑁𝑎𝐶𝑙 e a ureia da medula, reduzindo a tonicidade medular. A redução na tonicidade medular produz uma redução na extração de água do RDD (ramo descendente delgado), que, por sua vez, limita a concentração de 𝑁𝑎𝐶𝑙 no líquido tubular que entra no RAD (ramo ascendente delgado). Este último efeito reduz a reabsorção passiva de 𝑁𝑎𝐶𝑙 no RAD. Além disso, os diuréticos osmóticos inibem a reabsorção de 𝑀𝑔2+ no RAE (ramo ascendente espesso). Efeitos na excreção urinária Os diuréticos osmóticos aumentam a excreção urinária de quase todos os eletrólitos, incluindo 𝑁𝑎+, 𝐾+, 𝐶𝑎2+, 𝑀𝑔2+, 𝐶𝑙−, 𝐻𝐶𝑂3− e fosfato. Usos terapêuticos Todos os diuréticos osmóticos são usados para controlar a pressão intraocular durante ataques agudos de glaucoma e para reduções rápidas na pressão intraocular. Além disso, o manitol é usado para reduzir o edema cerebral e a massa encefálica, sendo utilizado também no tratamento ou prevenção de lesão renal aguda. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas A extração da água pode provocar hiponatremia, o que causa os efeitos adversos comum, que incluem cefaleia, náuseas e vômitos. Em contrapartida, uma perda de água maior que a de eletrólitos pode causar hipernatremia e desidratação. Além disso, a glicerina é metabolizada e pode provocar hiperglicemia. Os diuréticos osmóticos são contraindicados para pacientes que estão anúricos por causa de doença renal grave. O extravasamento de ureia pode provocar trombose ou dor e ela não deve ser administrada a pacientes com função hepática comprometida, por causa do risco de elevação dos níveis sanguíneos de amônia. Tanto o manitol quanto a ureia estão contraindicados para pacientes com sangramento craniano ativo. Diuréticos de alça (inibidores do simporte de Na+-K+-2Cl-) Os diuréticos de alça inibem a atividade do simportador de 𝑁𝑎+-𝐾+-2𝐶𝑙− no RAE da alça de Henle. Esses inibidores são altamente eficazes, visto que: Cerca de 25% da carga filtrada de 𝑁𝑎+ normalmente é reabsorvida pelo RAE; Os segmentos do néfron depois do RAE não possuem a capacidade de reabsorção para recuperar o fluxo de material que saiu do RAE. Entre esses inibidores, apenas a furosemida, a bumetanida, o ácido etacrínico e a torasemida estão disponíveis nos Estados Unidos. Mecanismo e local de ação Esses agentes atuam principalmente no RAE, onde o fluxo de 𝑁𝑎+, 𝐾+ e 𝐶𝑙− do lúmen para dentro das células epiteliais é mediado por um simportador. Os inibidores desse simportador bloqueiam a sua função, praticamente paralisando o transporte de sal nesse segmento do néfron. Esses inibidores também inibem a reabsorção de 𝐶𝑎2+ e 𝑀𝑔2+ no RAE, anulando a diferença de potencial transepitelial que constitui a força propulsora dominante para a reabsorção desses cátions. Efeitos na excreção urinária Os diuréticos de alça aumentam acentuadamente a excreção urinária de 𝑁𝑎+ e 𝐶𝑙−, bem como a excreção de 𝐶𝑎2+, 𝑀𝑔2+, 𝐾+ e ácido titulável. A furosemida possui atividade inibidora fraca da anidrase carbônica e, portanto, aumenta a excreção urinária de 𝐻𝐶𝑂3− e fosfato. Quando usados de forma aguda, os diuréticos de alça aumentam a excreção de ácido úrico, enquanto a Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé sua administração crônica resulta em excreção diminuída desse ácido. Usos terapêuticos O uso principal dos diuréticos de alça é no tratamento do edema pulmonar agudo. Um rápido aumento na capacidade venosa junto com uma rápida natriurese reduz as pressões de enchimento do ventrículo esquerdo e, portanto, alivia rapidamente o edema pulmonar. Também são usados amplamente para o tratamento da ICC crônica, quando é desejável obter uma diminuição do VLEC para minimizar a congestão venosa e pulmonar. Em pacientes com TFG baixa ou hipertensão resistente, os diuréticos de alça são os diuréticos de escolha. Entretanto, são menos eficazes que os tiazídicos. Em pacientes com superdosagem de um fármaco, os diuréticos de alça podem ser usados para induzir diurese forçada e facilitar a eliminação renal. Além disso, combinados com a administração de soro fisiológico isotônico, os diuréticos de alça são utilizados para tratar hipercalcemia. Também são usados no tratamento do edema associado à doença renal crônica, onde é exigido doses mais altas do diurético de alça. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas A maioria dos efeitos adversos ocorre graças a anormalidades no equilíbrio hidroeletrolítico. O uso exagerado desse diurético pode provocar grave depleção do 𝑁𝑎+ total do corpo, o que pode se manifestar como hiponatremia ou depleção do volume líquido extracelular associado a hipotensão. O aumento da liberação de 𝑁𝑎+ no túbulo distal leva a um aumento da excreção urinária de 𝐾+ e 𝐻+, provocando alcalose hipoclorêmica. Se a captação dietética de 𝐾+ não for suficiente, pode surgir hipopotassemia. O aumento da excreção de 𝑀𝑔2+ e 𝐶𝑎2+ pode provocar hipomagnesemia e hipocalcemia. Os diuréticos de alça devem ser evitados em mulheres com osteopenia na pós-menopausa, nas quais a excreção aumentada de 𝐶𝑎2+ pode ter efeitos deletérios sobre o metabolismo ósseo. Podem provocar ototoxicidade, o que ocorre com mais frequência com a administração intravenosa rápida e com menor frequência com a administração oral. Para evitar a ototoxicidade, a velocidade de infusão da furosemida não deve passar 4 mg/min. As contraindicações incluem depleção grave de 𝑁𝑎+ e de volume, hipersensibilidade às sulfonamidas e anúria não responsiva a uma dose de teste do diurético de alça. Interações medicamentosas: Aminoglicosídeos, carboplatina, paclitaxel e outros (sinergismo de ototoxicidade); Anticoagulantes (aumento da atividade anticoagulante); Glicosídeos digitálicos (aumento de arritmias induzidas por digitálicos); Lítio (aumento dos níveis plasmáticos de 𝐿𝑖+); Propranolol (aumento dos níveis plasmáticos de propranolol); Sulfonilureias (hiperglicemia); Cisplatina (risco aumentado de ototoxicidade induzida por diuréticos); AINE (resposta diurética atenuada e toxicidade do salicilato com altas doses de salicilatos); Probenecida (resposta diurética reduzida); Diuréticos tiazídicos (sinergismo da atividade diurética de ambos os fármacos, levando a profunda diurese); Anfotericina B (aumento do potencial de nefrotoxicidade e intensificação do desequilíbrio eletrolítico). Diuréticos tiazídicos (inibidores do simporte Na+-Cl-) Essa classe inclui diuréticos derivados da benzotiadiazina (diuréticos tiazídicos), como a bendroflumetiaida, clorotiazida, hidroclorotiazida e meticlotiazida, e agentes farmacologicamente semelhantes aos diuréticos tiazídicos, mas que diferem estruturalmente (diuréticos semelhantes às tiazidas), como a clortalidona, indapamida e metolazona. Mecanismo e local de ação Os diuréticos tiazídicos inibem o transporte de 𝑁𝑎𝐶𝑙 no TCD e o túbulo proximal pode representar um local de ação secundário. Thaís Lopes Valente– Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé O transporte é impulsionado por uma bomba de 𝑁𝑎+ na membrana basolateral. A energia livre no gradiente eletroquímico do 𝑁𝑎+ é aproveitada por um simportador de 𝑁𝑎+-𝐶𝑙− na membrana luminal que desloca, contra o seu gradiente eletroquímico, o 𝐶𝑙− para a célula epitelial. O 𝐶𝑙−, então, sai de forma passiva pela membrana basolateral por um canal de 𝐶𝑙−. Os diuréticos tiazídicos inibem o simportador de 𝑁𝑎+-𝐶𝑙−, que é expresso predominantemente no rim e localizado na membrana apical das células epiteliais do TCD. A expressão desse simportador é regulada pela aldosterona. Efeitos na excreção urinária Esses inibidores aumentam a excreção de 𝑁𝑎+ e 𝐶𝑙−. Entretanto, as tiazidas são apenas moderadamente eficazes, já que cerca de 90% da carga filtrada de 𝑁𝑎+ é reabsorvida antes de alcançar o TCD. Além disso, também aumentam o 𝐾+ e a excreção de ácido titulável. Alguns diuréticos tiazídicos também são inibidores fracos da anidrase carbônica, um efeito que aumenta a excreção de 𝐻𝐶𝑂3− e fosfato e provavelmente é responsável pelos seus efeitos fracos no túbulo proximal. A administração aguda de tiazida aumenta a excreção de ácido úrico, mas essa excreção é reduzida após a administração crônica. Como os inibidores do simporte de 𝑁𝑎+-𝐶𝑙− inibem o transporte no segmento diluente cortical, esses diuréticos atenuam a capacidade do rim em excretar urina diluída durante a diurese da água. Usos terapêuticos São usados no tratamento do edema associado a doenças cardíacas, doença hepática e doença renal. A maioria dos diuréticos tiazídicos é ineficaz quando a TFG for inferior a 40 mL/min. Esses diuréticos reduzem a pressão arterial em pacientes hipertensos e são amplamente usados no tratamento da hipertensão em associação com outros agentes anti-hipertensivos. Os diuréticos tiazídicos que reduzem a excreção urinária de 𝐶𝑎2+ às vezes são empregados para tratar a nefrolitíase por 𝐶𝑎2+ e podem ser uteis para tratar a osteoporose. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas Os diuréticos tiazídicos raramente provocam distúrbios GI, hematológicos, dermatológicos ou no SNC. A incidência de disfunção erétil é maior do que com vários outros agentes anti-hipertensivos. Os efeitos adversos mais graves estão relacionados a anormalidades no equilíbrio de líquidos e eletrólitos. Esses efeitos adversos incluem depleção do volume extracelular, hipotensão, hipopotassemia, hipocalcemia e hiperuricemia. Diuréticos poupadores de K+ (inibidores dos canais de Na+ do epitélio renal) O triantereno e a amilorida são os únicos fármacos dessa classe que estão em uso clínico. Ambos os fármacos provocam pequenos aumentos na excreção de 𝑁𝑎𝐶𝑙 e geralmente são usados por causa de suas ações anticaliuréticas, para compensar os efeitos de outros diuréticos que aumentam a excreção de 𝐾+. Mecanismo e local de ação A amilorida e o triantereno bloqueiam os canais epiteliais de sódio na membrana luminal das células principais na parte final dos túbulos distais e nos duetos coletores ao se ligarem a um local no poro do canal. Efeitos na excreção urinária A porção final do túbulo distal e o ducto coletor possuem capacidade limitada de reabsorção de solutos, portanto o bloqueio do canal de 𝑁𝑎+ nessa parte do néfron aumenta apenas levemente as taxas de excreção de 𝑁𝑎+ e 𝐶𝑙− O bloqueio dos canais de 𝑁𝑎+ hiperpolariza a membrana luminal, reduzindo a voltagem transepitelial negativa do lúmen. Como a diferença de potencial negativa do lúmen geralmente se opõe à reabsorção de cátions e facilita a secreção de cátions, a atenuação da voltagem negativa do lúmen reduz as taxas de excreção de 𝐾+, 𝐻+, 𝐶𝑎2+ e 𝑀𝑔2+. A administração crônica pode reduzir a excreção de ácido úrico. Usos terapêuticos Em razão da leve natriurese induzida pelos inibidores dos canais de 𝑁𝑎+, esses fármacos raramente Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé são usados como agentes isolados no tratamento de edema ou hipertensão. A coadministração desses aumenta a resposta diurética e anti-hipertensiva dos diuréticos tiazídicos e de alça. Além disso, a capacidade dos inibidores dos canais de 𝑁𝑎+ de reduzir a excreção de 𝐾+ tende a contrabalançar os efeitos caliuréticos dos diuréticos tiazídicos e de alça e resultar em valores plasmáticos normais de 𝐾+. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas O efeito adverso mais perigoso dos inibidores dos canais de 𝑁𝑎+ renais é a hiperpotassemia. Dessa forma, o monitoramento rotineiro do nível sérico de 𝐾+ é essencial em pacientes que recebem diuréticos poupadores de 𝐾+. Os efeitos adversos mais comuns da amilorida são náuseas, vômitos, diarreia e cefaleia e os do triantereno são náuseas, vômitos, cãibras nas pernas e tontura. Diuréticos poupadores de K+ (antagonistas da aldosterona) Os mineralocorticoides causam retenção de sal e água e aumentam a excreção de 𝐾+ e 𝐻+ por meio de sua ligação a receptores de mineralocorticoides específicos. Dois desses diuréticos são a espironolactona e eplerenona. Mecanismo e local de ação As células epiteliais na porção final do túbulo distal e no ducto coletor contêm receptores de mineralocorticoides (MR) citosólicos com alta afinidade pela aldosterona. Quando a aldosterona se liga aos MR, o complexo MR-aldosterona sofre translocação para o núcleo, onde regula a expressão de diversos produtos gênicos, denominados AIP (proteína induzida por aldosterona). As AIPs afetam a produção, a destruição, a localização e a ativação de diversos componentes do sistema que medeia a reabsorção de 𝑁𝑎+ na porção final dos túbulos distais e nos ductos coletores. Consequentemente, o transporte transepitelial de 𝑁𝑎𝐶𝑙 é potencializado e a voltagem transepitelial negativa do lúmen é aumentada. Esse último efeito aumenta a força motriz para secreção de 𝐾+ e 𝐻+ dentro do lúmen tubular. Fármacos como a espironolactona e a eplerenona inibem de forma competitiva a ligação da aldosterona ao MR. Assim, o complexo MR-fármaco não é capaz de induzir a síntese das AIPs. Efeitos na excreção urinária Os efeitos sobre a excreção urinária se assemelham aos induzidos pelos inibidores dos CENa renal. Entretanto, quanto maior o nível endógeno de aldosterona, maiores os efeitos desses fármacos sobre a excreção urinária. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas A espironolactona tem alguma afinidade pelos receptores de progesterona e de androgênio e, portanto, induz efeitos colaterais como ginecomastia, impotência e irregularidades menstruais. A hiperpotassemia é o principal risco desses fármacos, que também podem induzir cirrose metabólica em pacientes com cirrose. A espironolactona também pode induzir diarreia, gastrite, sangramento gástrico e úlceras pépticas. Os efeitos adversos no SNC incluem sonolência, letargia, ataxia, confusão e cefaleia. Peptídeos natriuréticos (inibidores não- específicos de canais de cátions) Quatro NP são importantes para a fisiologia humana: o ANP, o BNP, o CNP e a urodilatina. O ducto coletor medular interno (DCMI) constitui o principal local de ação dos NP. O ANP e o BNP são produzidos pelo coração em resposta ao estiramento da parede; o CNP é originado a partir de células endoteliais e renais; e a urodilatina é encontrada no rim e na urina. Mecanismo e local de ação O DCMI é o último local ao longo do néfron onde o 𝑁𝑎+ é reabsorvido (até 5% da carga filtrada). Os efeitos dos NP são mediados por meio dos efeitos do GMPc sobre os transportadores de 𝑁𝑎+. Dois tipos de canais de 𝑁𝑎+ são expressos no DCMI. O primeiro é um CNGCc,não seletivo de alta condutância. Esse canal é inibido pelo GMPc intracelular e pelos NP em virtude de sua capacidade de estimular a atividade da guanililciclase ligada à membrana e de elevar Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé o GMPc. O segundo tipo de canal de 𝑁𝑎+ expresso no DCMI é o CENa, um canal de Na+ altamente seletivo de baixa condutância. A maior parte da reabsorção de Na+ no DCMI é mediada pelo CNGCc. Efeitos sobre a excreção urinária A excreção urinária de 𝑁𝑎+ aumenta com a nesiritida, mas o efeito pode ser atenuado pela suprarregulação da reabsorção de 𝑁𝑎+ nos segmentos superiores do néfron. A TFG aumenta em resposta à nesiritida em indivíduos normais, porém, em pacientes com ICC tratados, a TFG pode aumentar, diminuir ou permanecer inalterada. Outros efeitos A administração de nesiritida reduz as resistências sistêmica e pulmonar e a pressão de enchimento do ventrículo esquerdo, ao mesmo tempo em que induz um aumento secundário no débito cardíaco. Usos terapêuticos O ANP (carperitida, disponível apenas no Japão) e o BNP (nesiritida) recombinantes humanos são os agentes terapêuticos disponíveis dessa classe de fármacos. A nesiritida está indicada para o tratamento da ICC agudamente descompensada. Toxicidade, efeitos adversos, contraindicações e interações medicamentosas A nesiritida pode provocar hipertensão e existe uma preocupação quanto a efeitos renais adversos.
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