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DILEMAS ÉTICOS NA PRÁTICA MÉDICA NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Grupo: Lourdes Laryssa Melo, Luana Gonçalves, Maria Vitória Pereira, Renatha Lima Superlotaçãonos serviços de emergência Constituição de 1988 → Saúde como direito de todos e dever do Estado? Medicina curativa x preventiva → APS, setores de emergência e serviços especializados. MAAAAS... Artigo 24 do CEM: “É direito do médico suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições mínimas para o exercício profissional ou não remunerar condignamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência". Greve nos serviços de emergência Legal ou ilegal? É vedado, portanto, aos serviços de emergência, a utilização da greve Greve nos serviços de emergência E os médicos residentes? A Lei 6.932/81 estabele que a Residência Médica é uma modalidade de ensino, recebendo o médico uma “bolsa”. Não há relação de emprego. A responsabilidade pelo atendimento é da instituição Mas atenção: se o residente está no local e há uma emergência, ele não pode recusar atendimento! Deveres do médico e do hospital INTEGRIDADE em relação ao prontuário DISPONIBILIDADE CONFIDENCIALIDADE LEGALIDADE Paciente de 55 anos, portador de insuficiência coronariana crônica, com antecedente de duas internações em UTI, uma para angioplastia e colocação de stent, há 5 anos, e outra, há 2 anos, para revascularização, chega ao PS com dor precordial em aperto, de forte intensidade, bastante agitado, pálido, necessitou sedação para melhor investigação do seu quadro. Doze horas após, paciente recobra a consciência na UTI, bastante assustado e ansioso, é informado de sua situação, da necessidade de um novo estudo coronariano, o que recusa em função das internações anteriores. Alta a pedido Apresentação de caso Mesmo depois de esclarecida a possibilidade de estar ocorrendo obstrução de uma das pontes, exige alta. Chega a retirar, inclusive, os eletrodos de monitoramento cardíaco do peito. Em princípio, o médico nega-se terminantemente a fornecer alta a pedido, temendo que o pior aconteça logo que o paciente vá para casa. Porém, eticamente, não se sente “confortável” em determinar internação compulsória, apesar da gravidade do quadro apresentado. Pede, então, a opinião da família, explicando, entre outros fatos, que a alta implicaria, necessariamente, em grande risco de morte. Alta a pedido perante iminente risco de morte Apresentação de caso Informados da situação, familiares exigem que o paciente não seja liberado “de jeito nenhum”. Caso isso aconteça, inclusive, pretendem entrar na Justiça contra o médico e o hospital, por “omissão de socorro”, além de registrarem queixa ao Cremesp, por eventual negligência. Indignado, o paciente continua insistindo, apoiando-se no direito de exercer sua autonomia, já que está lúcido e seguro de sua decisão. E agora, o que você faria? Alta a pedido perante iminente risco de morte Apresentação de caso Alta a pedido perante iminente risco de morte O Art. 31 do Código veda ao médico “Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte”. O Art. 32 determina que o médico não deixe de “usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente” X CREMESP: "Para a solução da questão (alta a pedido) é fundamental que se diferencie a alta a pedido que não envolve iminente risco de vida daquela em sentido contrário" Alta a pedido perante iminente risco de morte O caso em questão apresenta um risco concreto de morte, mas não iminente. A alta será dada quando estiver comprovado, através de documento escrito (e testemunhado), que é assim que o usuário (doente) deseja. O aval dos familiares, quando obtido, reforçará o valor da decisão do enfermo. Emergência Pediátrica Caso 1. LSA, 4 anos, feminina, é atendida na emergência de hospital universitário pelo interno de plantão, trazida pela mãe, com queixas de febre, dor de cabeça e vômitos. Após a realização de exame clínico, frente a uma suspeita de meningite, é decidida a sua admissão na sala de observação e a realização de punção lombar. A menina é colocada em box de isolamento, sendo proibida a entrada de familiares. É mantida despida durante as três tentativas de punção lombar. Da sua chegada à emergência até as tentativas frustradas, mais três acadêmicos examinaram a criança, inclusive com pesquisa de sinais meníngeos, deixando a paciente mais assustada e irritada. Emergência Pediátrica Emergência Pediátrica A companhia da criança pelos pais é um imperativo legal: para amparar e proteger, mas também para responder juridicamente por ela, um indivíduo incompetente para decisões. acompanhamento: necessidade ou direito? Artigo 12 do ECA: "os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente" Para a realização de procedimentos, a equipe médica tem a escolha de permitir ou não a permanência dos pais, o que não é usual Ampla informação aos pais e à criança, respeitando sua fase cognitiva e associando ao amparo psicológico, quando necessário Emergência Pediátrica Caso 2. MMS, 3 anos, masculino, trazido por uma vizinha à emergência com manchas roxas pelo corpo. A mesma tem informações de que a criança é muito agitada e que se bate com muita freqüência. Há 2 dias, a mãe e o padastro da criança, ambos alcoolistas e desempregados, teriam deixado a criança aos cuidados da vizinha por algumas horas, e não mais voltado. Aparentemente mal cuidada e muito emagrecida, mostra-se assustada. Ao exame, apresenta lesões de impetigo distribuídas pelo corpo, algumas lesões cicatriciais em palma de mãos e planta de pés. Região perineal e genital com hematomas e fissura anal. A pediatra de plantão suspeita de maus-tratos. Emergência Pediátrica Na maioria das vezes, ocorre dentro da própria família os abusos e violências: desde pressão emocional até agressão física violência e maus tratos contra a criança Nem sempre é tão evidente: pode se manifestar por contusões, fraturas, queimaduras e rupturas de órgãos, lesões permanentes e, até mesmo, óbito SUSPEITA! Histórias referidas pelos parentes não são compatíveis com a lesão ou com o desenvolvimento motor da criança, histórias conflitantes, lesões de idades diferentes, tempo longo entre o "acidente" e a busca de atendimento , lesões múltiplas, assimétricas, não explicáveis por um último trauma Emergência Pediátrica SUSPEITEI MAUS TRATOS, E AGORA? violência e maus tratos contra a criança Mesmo sem justificativa clínica, uma simples suspeita é suficiente para internar a criança Uma suspeita ou confirmação de maus tratos deve ser obrigatoriamente comunicada ao Conselho Tutelar da região (ECA-artigo 13) Uma suspeita ou confirmação de maus tratos deve ser obrigatoriamente comunicada ao Conselho Tutelar da região (ECA-artigo 13) -> infração administrativa não comunicar à autoridade (ECA-artigo 245) Emergência Pediátrica Caso 3. MA, 15 anos, feminina, vem ao pronto atendimento (PA), acompanhada da mãe. Esta queixa-se que a filha vem apresentando febre, corrimento, prurido e dor na região genital. Por conta própria, tratou como candidíase vaginal há 1 semana sem sucesso. O médico explica à mãe a importância da consulta privada somente com a jovem; apesar de inconformada, a mãe se retira da sala. A adolescente relata que mantém relações sexuais com o namorado há 4 meses sem proteção. Ao exame físico ela está em bom estado geral, com sinais vitais sem alteração, afebril, cooperativa, sem dados positivos. Ao exame ginecológico nota-se a presença de pequenas úlceras nos grandes lábios e na vulva sugestivas de herpes. São coletados os exames pertinentes à hipótese diagnóstica.Emergência Pediátrica O código civil brasileiro considera menores de 16 anos absolutamente incapazes e entre 16 e 18 anos relativamente incapazes. Na medicina considera-se o adolescente um "menor maduro": capaz de consentir, negar ou escolher o tratamento em relação à sua própria saúde atendimento ao adolescente Como uma passoa capaz, ao adolescente deve ser assegurada confidencialidade e privacidade (CEM - artigo 103) No caso anterior: o médico deve informar à paciente que se trata de uma IST e que o tratamento é obrigatório e extensivo ao parceiro, deve também orientar em relação ao tratamento adequado e prevenção pelo uso de preservativo. A quebra do sigilo é aceita quando há risco de vida para o adolescente ou terceiros ou, ainda, situações de risco como uso de drogas, ideação suicida, entre outros Emergência Pediátrica Caso 4. PRM, 14 anos, feminina, chega ao PA com queixa de vômitos, fraqueza e dor abdominal. Nega febre, diarréia. Refere que a menarca ocorreu há mais ou menos 8 meses, mas tem um ciclo irregular e há 2 meses está amenorréica. Admite que mantém relações sexuais sem proteção. Quando questionada sobre o fato de estar só no PA, refere que avisou a mãe no trabalho e que a mesma estará chegando a qualquer momento. Ao exame físico, paciente está em regular estado geral, desnutrida, afebril e algo desidratada. Ao exame físico segmentar, tem abdome inocente, sem outras alterações. Quando o médico alerta sobre a possibilidade de gravidez, a adolescente implora ao médico que não conte à mãe. O exame de ultrasom pélvico revela gravidez. Emergência Pediátrica GRÁVIDA! Conta ou não conta à mãe da adolescente? atendimento ao adolescente A gravidez gera implicações biológicas e psicossociais para a mãe adolescente e seu filho, além da gravidez na adolescência é considerada de alto risco Deve-se encorajar a paciente para que ela mesmo conte aos seus responsáveis ou intermediar esse contato e revelação, exceto quando há suspeita ou confirmação de abuso sexual por membro da família Paciente, sexo feminino, 28 anos, procurou o HRDM devido a dores fortes em abdome a cada 6 a 10 minutos, há duas horas. Paciente relatava ter sido gestação desejada, iniciou pré-natal com 9 semanas e 5/7 na USF e foi encaminhada para seguimento no CESMUC por se tratar de gestação gemelar. IG de 33 e 3/7 semanas. A paciente relatou então que as contrações se iniciaram na segunda-feira por volta das 20h, a cada 6 minutos, e que um feto se movimentava mais que o outro. Foi encaminhada e internada no HBL por volta das 22h da terça-feira. Houve a tentativa de inibição do trabalho de parto prematuro com Nifedipina, e a consequente avaliação da vitalidade fetal através da cardiotocografia dos dois fetos. A cardiotocografia foi realizada e aparentemente registrava o batimento dos dois fetos, entretanto a ultrassonografia realizada identificou a ausência de movimentos e batimentos cardíacos do 2º feto, nos levando a entender que a cardiotocografia havia registrado batimentos do mesmo feto vivo. Emergência obstétrica O duo mãe-bebê em um cenário de risco Emergência obstétrica O duo mãe-bebê em um cenário de risco Óbito de 1 dos fetos → outro óbito + sequelas neurológicas + parto pré-termo Maturidade fetal? → indução de parto → dilatação? → cesariana USG de 1º trimestre - placentação monocoriônica → APS, REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA!!! Aborto terapêutico → risco vital para a mãe, agravo de doença materna e dano psicossocial da mãe. Triagem na Emergência o dilema moral da triagem Conceito: procedimento de alocação de recursos médicos, a fim de ajudar o maior número possível de pacientes do modo mais eficiente possível. Número inesperadamente elevado de pacientes + recursos médicos limitados -> estabelecer prioridades e decidir a quem cabe com mais urgência os cuidados intensivos. Deve ser realizada com base em critérios claramente definidos. Triagem na Emergência o dilema moral da triagem As medidas devem seguir os critérios médicos, as vontades e as efetivas condições clínicas de um paciente. Parâmetros de diagnósticos: idade, doenças anteriores, função dos órgãos, valores de laboratório etc. Nas terapias intensivas, avaliam-se também as probabilidades de sucesso e as porcentagens de risco. Mesmo no caso de uma situação clínica inevitável de triagem, devem ser considerados e seguidos os aspectos fundamentais da ética e da moral no campo da medicina. Prognósticos individualizados como fatores decisivos. Problemas Éticos na Pandemia O que diz o Código de Ética Médica? Problemas enfrentados por profissionais de saúde da linha de frente: desgaste físico e emocional, sobrecarga de trabalho, medo, isolamento da família, cuidar de colegas de trabalho, escassez de EPI, escassez de ventiladores e outros equipamentos médicos, etc. Direito do médico de se recusar a exercer sua profissão em instituição, pública ou privada, onde as condições não se apresentem de forma digna ou possam prejudicar a sua saúde, a de seus pacientes ou dos demais profissionais (salvo em situações de urgência e emergência). Problemas Éticos na Pandemia 3. Ao atender dois pacientes com necessidade de ventilação mecânica e havendo apenas um ventilador, qual deles devo escolher? 4. Como alocar recursos escassos, como leitos de UTI, ventiladores e medicamentos? 5. Na ausência de equipamento de proteção individual (EPI) adequado, tenho a obrigação moral e o dever profissional de prestar assistência? Alguns questionamentos levantados pelos profissionais de saúde neste contexo: Cometo infração ética e incorro em crime de omissão de socorro ao deixar de oferecer assistência adequada para pessoas vulneráveis? Sendo a morbimortalidade maior entre idosos, devo priorizar um paciente mais jovem em detrimento de um mais velho? 1. 2. Problemas Éticos na Pandemia Ética da solidariedade. A tomada de decisão dos profissionais precisa considerar o bem social. População idosa: priorizar ou não? Outros critérios: anos de vida a serem ainda vividos, presença e extensão de comorbidades, grau de fragilidade, expectativa de recuperação com boa qualidade de vida, características e estado de saúde, cálculo do índice basal funcional e cognitivo, medição da gravidade da doença, possibilidade de reversibilidade e potencial de recuperação após o tratamento. REFERÊNCIAS CARVALHO, Paulo Roberto Antonacci; TORREAO, Lara de Araujo. Aspectos éticos e legais na emergência. Jornal de Pediatria: Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. vol. 75, supl. 2 (dez. 1999), p. s307-s314, 1999. CRUZ, Óscar Alberto Castejón et al. Dilemas éticos en la práctica clínica quirúrgica y gineco obstétrica. Revista Médica Hondureña, v. 86, n. 3-4, p. 138-143, 2018. HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO tem superlotação, pacientes em corredores e expostos à chuva. G1 PE e TV Globo, Recife, 24 agosto 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2021/08/24/hospital-da-restauracao-tem-superlotacao-pacientes-em-corredores- e-expostos-a-chuva.ghtml. Acesso em: 30 mai. 2022. PEREIRA, L. A. Aspectos éticos e legais do atendimento de emergência. Revista AMRIGS, Porto Alegre, 48 (3): 190-194, jul.-set. 2004. PADOVANI, Tania Regina et al. Óbito fetal em gestação gemelar monocoriônica. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, 2018. SÃO PAULO. Bioética Clínica. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. São Paulo, 268 p, Centro de Bioética, 2009. VENCESLAU, A. B. Falta de material, UTI improvisada e superlotação: médica denuncia cenário de atendimento de crianças em UPAS e hospitais em Pernambuco; óbitos foram registrados. Diário de Pernambuco, Recife, 18 maio 2022. Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2022/05/falta-de-material-uti-improvisada-e-superlotacao-medica-denuncia- cen.html. Acesso em 30 mai. 2022.
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