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TÉCNICAS DE ESCRITA PROF.A MA. NATÁLIA BARROS DA SILVA GOMES Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Luana Cimatti Zago Silvério Marta Yumi Ando Renata da Rocha Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araujo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 1. LER E ESCREVER: DUAS FACES DE UM BOM TEXTO ........................................................................................ 5 2. O QUE É ESCREVER BEM? ....................................................................................................................................7 3. TEXTOS E CONTEXTOS ........................................................................................................................................ 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................15 TEXTO E COMUNICAÇÃO PROF.A MA. NATÁLIA BARROS DA SILVA GOMES ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: TÉCNICAS DE ESCRITA 4WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A primeira unidade deste material visa apresentar uma introdução acerca da ideia de texto como ato comunicativo. Esse é o ponto de partida para compreender, na sequência, as principais técnicas de escrita para produzir textos jornalísticos. Ao longo desta etapa, portanto, trataremos a leitura como prática fundamental no processo de escrever. Isso porque, sem reunir referências (históricas, culturais, sociais, econômicas etc.), um/a jornalista não consegue pensar bons temas, não sabe quais fontes escolher para entrevistar ou como construir um texto que, além de difundir informação, seja relevante para os/as leitores/ as. Nesse sentido, outro tópico a ser abordado é a perspectiva sobre o que consideramos um bom texto. Como é de� nida a qualidade de uma matéria jornalística? Antes ainda, como saber se o que foi escrito está coerente, se cumpre os objetivos propostos por quem escreve? Tais ideias serão trabalhadas com base na valorização da pluralidade de sentidos. Por � m, temos o intuito de prepará-lo/a para os conteúdos subsequentes, a partir da apresentação de uma visão geral acerca das diferenças de abordagem do texto escrito, com base nos contextos em que está inserido. Contexto aqui compreendido não apenas como meio de comunicação ou plataforma, mas como espaço geográ� co, ideológico, interesses e repertório envolvidos. 5WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. LER E ESCREVER: DUAS FACES DE UM BOM TEXTO Imagine-se na seguinte situação: você precisa escrever um artigo de opinião de 15 linhas sobre a reforma da previdência, posicionando-se de maneira contrária. Não há texto de apoio e o enunciado é bastante objetivo, sem contextualização. Pode ser uma prova de vestibular, a redação de um concurso público ou uma dinâmica de entrevista de emprego. O fato é que você deseja muito escrever bem. O grande problema é que você apenas ouviu falar sobre a reforma e pouco entende sobre aposentadoria. Como, então, escrever sobre um tema desconhecido? Pior ainda, como argumentar, apresentando um posicionamento contrário a algo sobre o qual você não tem referência? Tenho certeza de que se veria em pânico e, ainda que tentasse produzir algo para não entregar a folha em branco, di� cilmente teria sucesso na prova ou conseguiria o trabalho. Isso porque, sem repertório, não saímos do lugar. Esse repertório é adquirido ao longo de toda a vida, por meio do lugar onde vivemos, das oportunidades que nos são apresentadas, das pessoas com as quais convivemos e com as quais interagimos, das experiências que vivenciamos e, o que nos interessa fundamentalmente aqui, das leituras que fazemos. De acordo com Kleiman (1997), o mesmo vale para o processo de compreensão do que lemos, que se dá a partir da mobilização de três tipos de conhecimento: LINGUÍSTICO TEXTUAL DE MUNDO Fonológico; morfológico; sintático. Estruturas dos gêneros, esti- los de escrita etc. Conhecimentos acerca do mundo social, cultural etc. O/a leitor/a tem registrado na memória o signifi cado de determinada palavra, portan- to, a reconhece quando lê e sabe o que representa. O/a leitor/a sabe o que é um texto narrativo, de modo que consegue identifi car quando tem um conto ou romance em mãos, sem confundi-lo com um relato, por exemplo. O/a leitor relaciona o texto em questão às referências adquiridas durante a vida. Ao assistir a um fi lme como Har- ry Potter saberá que aquele contexto, embora cativante, não é real. Quadro 1 - Tipos de conhecimento. Fonte: Adaptado de Kleiman (1997). Ao pensar em “leitura”, acredito que a primeira ideia que veio à sua mente foi algo relacionado a livros, revistas, artigos disponíveis na internet, en� m, a textos verbais escritos – principalmente os acadêmicos ou didáticos. Contudo, a concepção de leitura que trago aqui é a multimodal ou multissemiótica, que faz parte dos pressupostos do linguista e pesquisador alemão Gunther Kress (1940-2019). Com base nessa visão mais pluralista, a prática da leitura inclui assistir a um � lme, uma série, uma peça de teatro ou um espetáculo de dança; ouvir uma história, uma música ou uma orquestra inteira tocando; perceber os signi� cados dos gestos e das expressões faciais de alguém. A palavra “multimodal” vem justamente da ideia de “muitos modos de linguagem”. Dessa forma, não se limita à decodi� cação alfabética e ortográ� ca nem se esgota nesse processo. 6WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Após assistir a esse � lme, você deve ter notado que houve di� culdade para estabelecer comunicação com os alienígenas porque a linguagem deles não era a verbal, mas um pensamento circular, que se materializava em mensagens também circulares e visuais. Nesse sentido, � ca evidente o que discutimos até aqui a respeito da ideia de a leitura ser muito mais ampla do que apenas decodi� car letras em um papel, pois a linguagem é multimodal. Embora boa parte das de� nições de dicionário acerca do verbo “ler” seja parecida com a de Ferreira (2001, p. 454), isto é, “[...] percorrer com a vista(o que está escrito), proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as (e interpretando-as)”, a leitura pressupõe ler todo tipo de texto. Inclusive, assim como destaca Paulo Freire (1989, p. 9), “[...] a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele”. Ler, portanto, refere-se também à leitura de mundo, dos inúmeros conhecimentos disponíveis ao nosso redor, que in� uenciam no processo de leitura “tradicional”, de decodi� cação do código escrito. Sendo assim, [...] há tantas leituras quanto leitores, o que faz com que o processo de leitura seja dinâmico, tenha uma natureza plural e se modi� que constantemente. Ao entrar em contato com o texto, o leitor não o vê de um só ângulo, mas de acordo com seu conhecimento de mundo em um determinado momento; sua leitura pode sofrer mudanças, fazendo com que o ato de ler dependa de uma série de fatores. Mais uma vez, reforçamos a necessidade de considerar que ‘a leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento’ (MARTINS, 1994, p. 33). É nessa interação entre cada um dos elementos do processo que a leitura efetivamente ocorre (CARVALHO; PAGANI; GOMES, 2015, p. 157). Tendo isso em vista, retomamos a ideia de que a leitura é uma prática fundamental no processo de escrever. Isso porque, sem reunir referências (históricas, culturais, sociais, econômicas etc.), não é possível discorrer a respeito de qualquer temática. Quanto mais conhecimento acumulado se tem sobre um assunto, mais possibilidades de encaminhamentos, mais argumentos, mais exemplos para ilustrar o que se diz, en� m, maiores são as chances de escrever algo signi� cativo. Para compreender, na prática, como a comunicação vai além da palavra escrita, assista ao fi lme A Chegada. Em linhas gerais, a história se refere à chegada de na- ves alienígenas nas principais cidades do mundo. As autoridades tentam entender qual é o objetivo desses “visitantes” e, com o intuito de se comunicar, convocam uma linguista e um militar para fazerem a interpretação das mensagens. Após assistir a esse fi lme, você deve ter notado que houve difi culdade para es- tabelecer comunicação com os alienígenas porque a linguagem deles não era a verbal, mas um pensamento circular, que se materializava em mensagens tam- bém circulares e visuais. Nesse sentido, fi ca evidente o que discutimos até aqui a respeito da ideia de a leitura ser muito mais ampla do que apenas decodifi car letras em um papel, pois a linguagem é multimodal. 7WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O texto jornalístico exige ainda mais nesse sentido. Para que ele nasça, é necessária uma boa pauta (um roteiro de produção, que abordaremos na Unidade 3), isto é, que o/a jornalista consiga pensar num bom tema para explorar, quais fontes (pessoas ou documentos que podem contribuir com informações sobre a temática) entrevistar ou pesquisar, além de como construir um texto que seja informativo e relevante para os/as leitores/as. Quando dizem que um/a bom/a jornalista lê muito e sabe muito tem a ver com essa necessidade de estarmos preparados/as para enfrentar qualquer tema. Atuar no jornalismo implica sermos generalistas, ou seja, sabermos um pouco de tudo, sem entender tudo, necessariamente, com profundidade. Como apontam Nascimento e Sommer (2005, p. 426), “[o] jornalista é um dos pro� ssionais com maior demanda de informação, pois vive sob a pressão de estar bem informado e saber buscá-la rápida e precisamente para suas atividades laborais”. Nesse sentido, ainda que não se saiba a respeito de algo, é preciso saber como descobrir, onde procurar. Para fechar este primeiro tópico, imagine-se em mais uma situação. Você é repórter de um veículo de comunicação e nem sempre pode escolher as pautas que vai realizar. Um dia, você fala de cultura, noutro de saúde e, em determinado momento, precisa escrever sobre uma questão política. É o período eleitoral e vazou uma informação sobre um dos candidatos, a qual tem a ver com uma situação antiga da cidade. Dessa vez, você conhece o contexto porque já ouviu falar da tal história e sabe exatamente quem poderia dar entrevista. Então, você pesquisa um pouco mais sobre o tema, lê algumas matérias publicadas sobre o caso antigo e se sente preparado/a para escrever a respeito. Política pode até não ser o seu forte, mas, com repertório, o texto � ui. 2. O QUE É ESCREVER BEM? No tópico anterior, discutimos a necessidade de ser um/a bom/a leitor/a (de mundo e de textos, em diferentes modos de linguagem) para escrever bem. Isso porque, tanto a leitura quanto a escrita são processos que pressupõem agência. Quem escreve o faz considerando “o outro” e quem lê o faz considerando a autoria, o contexto e uma série de fatores. Portanto, a interação autor-texto-leitor se dá desde o início da construção textual. De acordo com Nascimento (2009), escrevemos por diferentes motivos e temos diferentes relações com a escrita. Há textos que são planejados, outros que vamos escrevendo conforme as ideias surgem e alguns que parecem se construir sozinhos. Há quem enxergue a escrita como uma atividade penosa e outros que são instigados por esse desa� o. Quando escrevemos, exercemos continuamente nossa capacidade de escolher e de combinar estruturas; delineamos, a partir daí, identidade, autoria, em meio a tantos ‘outros’ textos, a tantos ‘outros’ escritores, a tantas outras escolhas e combinações, a tantas outras possibilidades. Assim, escrever é , de certa forma, assumir a palavra para si, deixar marcar-se pela letra, essa tatuagem invisível que nos projeta, que nos de� ne e que nos faz falantes, comunicadores natos (NASCIMENTO, 2009, p. 2). Existe, portanto, uma ligação indissociável entre texto e comunicação, considerando que este nasce da intenção de tornar comum o que se pensa a respeito de algo, de compartilhar com alguém o nosso modo de signi� car o mundo, de uma maneira compreensível para o outro. Um texto, portanto, não é um aglomerado de frases; pelo contrário, cada palavra se relaciona, a � m de constituir uma unidade comunicativa. 8WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Se você estiver pensando que encontrará uma “fórmula mágica” para produzir um bom texto, ou seja, para escrever bem, sinto dizer que isso não é possível. Contudo, há estratégias que podem melhorar o processo de produção. Uma delas, por exemplo, é seguir três passos básicos: 1) planejamento; 2) escrita; 3) revisão. Ainda que, como dissemos no início deste tópico, nem todos os textos sejam planejados, é importante traçar objetivos que, de certa forma, ditem o tipo e o gênero, a organização e o estilo. Ter um projeto, fazer um rascunho ou um mapa de ideias – ainda que apenas mentalmente – auxilia a manter o foco durante o processo de escrita e a não fugir da temática. Já mencionamos neste material, por exemplo, a pauta jornalística, que serve justamente como um guia de produção. Na sequência, passamos a redigir as informações previamente organizadas no planejamento. Cada texto terá uma estrutura baseada no tipo e no gênero; contudo, em geral, temos uma introdução, seguida de desenvolvimento e conclusão. Por � m, chega o momento de veri� car os aspectos que envolvem a produção. Revisar o cumprimento dos propósitos estabelecidos, da coesão e coerência, do vocabulário adequado, da sintaxe e da ortogra� a, ou seja, cada linha do texto e a ideia geral. Seguir esses três passos, porém, não se caracteriza como uma regra nem precisa ser feito de forma estanque e sequenciada. Tais etapas podem, inclusive, ocorrer ao longo de todo o processo: planejamos um parágrafo, escrevemos e revisamos – até mesmo frase a frase. Além disso, estamos o tempo todo tentando conectar as ideias, interligá-las para deixar o texto � uido, o queexige revisão constante. Por ser ato de comunicar, a escrita não se faz, como muitas vezes pensamos, apenas com um ‘eu’ que escreve, uma língua ‘de base’ e um papel (ou uma tela) em branco. Há outros elementos envolvidos nesse processo, dos quais nem sempre nos damos conta: como dissemos anteriormente, o ‘eu’ não é uno e desdobra-se (dialoga) em um ‘outro’; além disso, a língua também permite ‘arranjos’ variados e conseguimos efeitos diversos a partir da forma que imprimimos ao texto; o meio de comunicação utilizado in� uencia, ainda (e por vezes determina), as signi� cações do texto (um ‘mesmo’ texto visualizado em uma tela de computador e em uma página manuscrita de papel será de fato o ‘mesmo’ texto?). En� m, quando escrevemos, quando nos expressamos, colocamos em funcionamento uma rede de competências e de peças (somos uma delas) que ora se encaixam, ora necessitam de ajustes, em um complexo sistema de construção e reconstrução de sentidos (NASCIMENTO, 2009, p. 3). Tendo em vista que o texto não é uma prática fechada em si mesma, além das preocupações com as questões gramaticais e estruturais, também é essencial estar atento/a a outros dois fatores: 1) o/a leitor/a e 2) o interesse. É importante considerar que texto é um ato comunicativo e uma unidade de sen- tido. Este pode ser caracterizado pelos seguintes tipos textuais: narrativo, descri- tivo, argumentativo, expositivo, opinativo e injuntivo. Embora haja essa categori- zação geral, é possível que um único texto apresente pontos de mais de um tipo, ao mesmo tempo. A combinação entre narrativo e descritivo, por exemplo, é uma das mais comuns. 9WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Um texto bem escrito é aquele que faz sentido para quem o lê, ou seja, que se comunica com o outro. Sendo assim, deve haver cuidado ao apresentar as informações de maneira lógica, além de demonstrar domínio sobre o assunto. Esse tipo de postura é válido para os textos informativos, que são o nosso enfoque aqui; contudo, quando tratamos de textos literários e � ccionais, por exemplo, a função pode ser evocar sentimentos no/a leitor/a. Sendo assim, é fundamental que você identi� que o interlocutor e não perca de vista o objetivo comunicacional. Além de compreender a quem se destina o seu texto para, então, escrever de maneira a atingi-lo, faz-se necessário despertar o interesse de quem lê. Vivemos em um contexto abarrotado de conteúdo por todos os lados, o que faz as pessoas � carem mais seletivas sobre aquilo que consomem. Por que alguém leria o seu texto em vez de outro, publicado por um veículo de comunicação de sua preferência? Ou, ainda, por que leria o seu texto em vez de passar um tempo rolando o feed do Instagram? Além de informar, é preciso cativar o/a leitor/a. Para tanto, você precisa usar a criatividade e a criticidade. Uma abordagem diferente e inteligente é meio caminho andado para prender a atenção. É preciso despertar a necessidade de continuar lendo as próximas palavras, a próxima frase, o próximo parágrafo. Sendo assim, o objetivo de uma linha de texto é fazer com que a pessoa queira ler a próxima linha de texto. No jornalismo, temos uma arquitetura textual básica, chamada de pirâmide invertida. Você deve estudar esse conceito em disciplinas mais especí� cas, porém, em linhas gerais, o austríaco Carl Tiuí Hummenigge (1853-1935) desenvolveu essa técnica durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), visando informar a população acerca dos acontecimentos nos campos de batalha de forma rápida, clara e objetiva. Figura 1 – Imagem ilustrativa da Pirâmide Invertida. Fonte: Pinterest (2019). 10WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O que nos interessa nessa técnica, principalmente, são as seis perguntas do lead: Quem? O quê? Quando? Como? Onde? Por quê? Geralmente, elas são respondidas (não necessariamente nessa ordem) no primeiro parágrafo do texto, com base no que for mais relevante. Por isso, é chamada de pirâmide invertida, pois a ordem do texto parte da informação mais importante para a menos importante. Retomamos essa ideia porque, além de auxiliar no planejamento do texto, saber responder a essas perguntas, segundo Nascimento (2009, p. 6-7), aponta outras seis questões que devem ser consideradas antes de começar a escrever: - Quem é esse ‘eu’ que escreve? Qual o papel (ou papéis) que exerço na produção do texto? Aluno? Professor? Jornalista? Funcionário? Amigo? - Para quem eu escrevo? Qual é o per� l desse ‘outro’ a quem se destina a escrita? - Eu escrevo sobre o quê ? Qual assunto ou fato o texto vai abordar? Tenho conhecimento su� ciente sobre isso? - Qual o melhor veículo ou canal a ser utilizado para a ‘transmissão’ da mensagem? Devo usar a Internet, o telefone? - Qual o formato adequado de texto? Que texto será esse? Um artigo? Uma carta? Um e-mail? - E qual o código a ser utilizado? Devo usar a língua portuguesa? Em um registro mais coloquial, mais informal ou mais formal? É interessante utilizar outros códigos, como o fotográ� co e o gestual? Pensar a respeito das perguntas do lead e das proposições feitas por Nascimento (2009) pode funcionar como ponto de partida para delinear o texto. Isso não signi� ca que você precise colocar essas respostas no papel (ou na tela), desde que estejam claras na sua mente, basta. A seguir, apresentamos um resumo das principais dicas para escrever bem: DICAS Cultive os hábitos de leitura e escrita Seja claro/a na construção textual Intercale frases longas e curtas para dar fl uidez e ritmo aos parágrafos Prefi ra a ordem direta (sujeito + verbo + predicado) Cuidado com as repetições de palavras e ideias Utilize palavras e expressões de uso comum, que possam ser entendidas pelo maior número de leito- res/as Ao utilizar termos técnicos, explique-os de maneira didática Procure abordar o tema de forma crítica e criativa Mantenha o foco no tema, no tipo e no gênero textual em questão Quando se tratar de um texto jornalístico, ouça todas as vozes representativas do fato (não apenas os “dois lados” da história) Se houver tempo e oportunidade, deixe o texto “descansar” por um tempo e, depois, leia em voz alta Quadro 2 - Resumo das principais dicas para escrever bem. Fonte: A autora. Escrever bem, portanto, não signi� ca apenas apresentar informações extremamente relevantes e de uma forma coerente, sem erros de ortogra� a ou vocabulário inadequado ao contexto, mas também saber construir um texto que chame a atenção de quem lê, com criatividade e criticidade. No � m das contas, um bom texto é aquele que cumpre o seu objetivo comunicacional, seja ele qual for. 11WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. TEXTOS E CONTEXTOS A � m de re� etirmos sobre como os textos estão intimamente relacionados aos seus respectivos contextos, considere a imagem representativa de um objeto que deve ser muito presente em seu cotidiano: uma cédula. Exatamente, o dinheiro que utilizamos para consumir, em forma de papel. Você acredita que ela pode ser considerada um texto, ou seja, uma unidade de sentido? Observe a imagem a seguir: Figura 2 - Cédula brasileira de um cruzeiro. Fonte: Pinterest (2019). Como você pode observar, trata-se de uma cédula brasileira de um cruzeiro, utilizada na década de 1950. Nela, é possível encontrar as seguintes informações: República dos Estados Unidos do Brasil. No Tesouro Nacional - Marquês de Tamandaré. Um cruzeiro. Além de outras frases, números de série, imagens e elementos grá� cos. Essa é uma cédula de quase 70 anos, que faz parte de um momento histórico, econômico e político especí� co do nosso país. Avançando alguns anos na história, você se lembra da cédula de R$ 10, produzida em comemoração ao aniversário do Brasil, nos anos 2000? Veja a imagem: Figura 3 - Cédula brasileira comemorativa de R$ 10. Fonte: Pinterest (2019). Nessa cédula, tambémtemos informações sobre a nacionalidade, a moeda em vigor, o valor, o local de produção, a personalidade homenageada etc. Sendo assim, podemos considerar as cédulas como um texto, pois representam uma unidade de sentido, que faz parte de atos comunicativos – são utilizadas para negociações � nanceiras. É válido mencionar, porém, que a cédula adquire um sentido textual diferente, dependendo da situação comunicacional. 12WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em geral, a cédula assume um papel-moeda, sendo um recurso de compra e venda de produtos. Nesse contexto, não importa se ela é de 1950 ou uma edição comemorativa do aniversário do Brasil, se ela tem estampada o rosto desta ou daquela personalidade histórica, porque o valor é o seu aspecto mais importante. Já para um numismata (numismática é o estudo das cédulas, moedas e medalhas a partir de um ponto de vista histórico, artístico e econômico, porém também é usado como sinônimo do colecionismo desses itens), o sentido textual das cédulas apresentadas acima é de estudo ou de coleção. Dessa forma, embora o texto seja uma unidade de sentido, isso não signi� ca que possui sentido único. Como tratamos no primeiro tópico desta unidade, o conceito de texto é plural e multimodal. Estamos rodeados de diferentes tipos de textos, considerando que, ao falarmos, ouvirmos, lermos e escrevermos, produzimos textos. Nós conversamos, fazemos declarações de amor e amizade, ouvimos notícias pelo rádio e pela TV ou músicas e vídeos pelo YouTube, assistimos a palestras e discursos, lemos revistas, e-mails e bulas de remédio, escrevemos bilhetes, relatórios, mensagens no WhatsApp. Consumimos e produzimos textos o tempo todo. Isso porque eles são a nossa forma mais comum de expressão. O absolutamente evidente é que falamos sempre em um lugar, onde acontece determinado evento social, e com a � nalidade de, intervindo na condução desse evento, executar qualquer ato de linguagem: expor, defender ou refutar um ponto de vista, fazer um comentário, dar uma justi� cativa, uma ordem, fazer um relato de um fato, convencer, expressar um sentimento, apresentar um plano, uma pessoa, um lugar, fazer uma proposta, ressaltar as qualidades de um produto, pedir ou oferecer ajuda, fazer um desabafo, defender-se, protestar, reivindicar, dar um parecer, sintetizar uma ideia, expor uma teoria; en� m, fazemos o dia todo e todos os dias, inúmeras ações de linguagem, cada uma, parte constitutiva de uma situação social qualquer (ANTUNES, 2010, p. 34-35). Podemos a� rmar que um texto não é uma soma de frases e palavras, mas se constrói a partir da interação comunicativa entre indivíduos, por meio de uma manifestação linguística, in� uenciada por diversos fatores situacionais, que constroem sentidos. Diante disso, há sete itens que caracterizam a textualidade, isto é, fatores internos e externos que interferem na produção e na leitura, na qualidade do texto: COESÃO Relação de encadeamento de partes e unidades. COERÊNCIA Sentido construído. INTENCIONALIDADE Intenção comunicativa de quem escreve. ACEITABILIDADE Expectativas de quem lê. INFORMATIVIDADE Dados novos. SITUACIONALIDADE Contexto (situação comunicativa). INTERTEXTUALIDADE Referência a outros textos (diálogo). Quadro 3 - Elementos de textualidade. Fonte: A autora. Como esses itens são relevantes para a nossa discussão, vamos explicar, brevemente, cada um deles. A coesão faz parte da organização interna do texto, tratando-se das ligações entre os elementos (frases, períodos, parágrafos), de modo a in� uenciar na organização das ideias. Lembra-se dos famosos conectivos? São os clássicos elementos coesivos, responsáveis por encadear as ideias. Primeiro, temos os termos anafóricos (retomam o que foi dito) e os catafóricos (antecipam ou anunciam algo a ser apresentado). 13WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Um exemplo do primeiro tipo é a retomada por meio de substituição por pronome pessoal: Os olhos são o espelho da alma. Eles revelam o que sentimos. Já o segundo pode ser exempli� cado pelo uso de um pronome demonstrativo: A professora disse isto: é importante que um texto seja coeso. Os segmentos textuais são encadeados por meio de relações lógicas de causa, � nalidade, conclusão, contradição, condição etc., por meio das conjunções ou locuções conjuntivas. Um exemplo de relação conclusiva seria: O aluno estudou muito sobre textualidade, portanto, escreve bons textos. Agora pensando no desenvolvimento do texto como um todo, há os seguintes processos lógicos: gradação, conjunção argumentativa, disjunção argumentativa, conclusão, explicação ou justi� cativa, contrajunção, argumento decisivo e generalização, representados pelos conectivos: inclusive; além disso; caso contrário; portanto; porque; porém; além do mais e de fato, respectivamente. A coerência também faz parte da organização interna do texto, mas se relaciona ao modo contínuo de construção de sentidos que um texto pode apresentar. Dito de outra forma, ao delimitar um tema, é necessário apresentar as informações de maneira que não haja contradições ou lacunas sobre ele, apenas uma progressão lógica de argumentos, dados e exemplos. Um texto é caracterizado como coerente quando há interpretabilidade, ou seja, o/a leitor/a consegue produzir sentidos a partir de sua leitura. A coerência se manifesta, portanto, na interação entre o que está escrito e os conhecimentos de quem lê. Muitos linguistas se dedicaram a tratar dessas questões de textualidade, entre eles, Francisco Platão Savioli e José Luiz Fiorin. Nessa obra, os professores e pes- quisadores abordam a prática da leitura e da redação de textos, a fi m de capacitar os/as leitores/as a construir os mais diferentes tipos de texto – literários, publici- tários, jornalísticos, científi cos. PLATÃO, F.; FIORIN, J. L. Lições de texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 2001. 14WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Além desses elementos internos, há fatores externos, isto é, extratextuais, que afetam a produção e o consumo do conteúdo. A intencionalidade, por exemplo, tem a ver com a capacidade de quem produz em escrever um texto que atenda aos seus objetivos comunicativos: informar, convencer, defender, persuadir, opinar etc. Dessa forma, é o fator que orienta a produção textual. Já a aceitabilidade é a outra face da moeda, isto é, as expectativas que o/a leitor/a cria com base em seus objetivos de leitura, de modo que elas se alinham ou não às proposições do/a autor/a. Quem lê compreende o texto como aceitável desde que seja coerente, coeso e passível de interpretação. A informatividade também é um processo que se estabelece na relação entre autor-texto- leitor. Isso porque dependerá do grau de previsibilidade ou expectativa da informação presente no texto. Por exemplo, se quem escreve faz referência a uma série de drama médico, como House, M.D. (2004-2012) ou Grey’s Anatomy (2005-), pressupõe que quem lê saberá do que se trata, ainda que não tenha assistido. Caso o/a leitor/a nunca tenha tido contato com o universo das séries – não tenha acesso a Net� ix ou qualquer plataforma de streaming – a informação será tão nova ao ponto de, por exemplo, afetar sua compreensão ou, dependendo de como for apresentada, caracterizar-se como um dado novo, que contribui para a aprendizagem do/a leitor/a sobre o tema. O texto pode atender às expectativas ou romper com elas. No que diz respeito à situacionalidade, como o próprio nome já diz, refere-se à situação de produção e recepção do texto, que interfere no processo interpretativo. Trata-se do momento e do lugar, do contexto de comunicação. Por � m, a intertextualidade é o diálogo entre os diferentes textos existentes. Muitos conteúdos só fazem sentido quando relacionados a outros conteúdos, de modo que esses últimos funcionam como contextos/referênciaspara os primeiros. O � lme Matrix (1999), por exemplo, é conhecido pela quantidade de intertextos presentes no roteiro, tais como situações bíblicas, a alegoria ou mito da Caverna, de Platão, e, até mesmo, o livro Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll. A intertextualidade pode ser implícita (cabe ao/à leitor/a perceber) ou explícita (há indicação de fonte). Além disso, pode ser feita por meio de: citação, paráfrase, paródia, epígrafe ou tradução. Elencamos todos esses elementos a � m de demonstrar que não existe texto sem contexto e que este último in� uencia tanto no processo de produção quanto de interpretação do conteúdo. Na próxima unidade, revisaremos algumas regras gramaticais para auxiliar na sua escrita e, mais adiante, retomaremos a importância do contexto ao tratar das especi� cidades do texto jornalístico. Com base nos estudos encaminhados até aqui, você acredita que conseguiria analisar um texto, apontar os elementos de textualidade presentes nele e avaliar se é ou não um bom texto? Para testar seus conhecimentos, afi nal, aprendemos muito alinhando teoria e prática, escolha um texto de sua preferência (verifi que se está alocado em um site de credibilidade) e faça esse exercício de refl exão. 15WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade tinha como objetivo apresentar uma introdução acerca da ideia de texto como ato comunicativo, pois acreditamos que seja o ponto de partida para compreender, na sequência, as principais técnicas de escrita no processo de produção de textos jornalísticos. Ao longo desta etapa, portanto, tratamos a leitura como prática fundamental no processo de escrever e apresentamos um conceito pluralista, a partir de uma perspectiva multimodal do que seja “ler”. Também abordamos o que seria “escrever bem” ou um “bom texto”, com base na ideia de que essa característica se aplica ao conteúdo que cumpre seu objetivo comunicacional. Por � m, discutimos a importância de entender que existem diversos elementos que in� uenciam na maneira como um texto é produzido e lido, relacionados aos sete fatores de textualidade. 1616WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................17 1. FUNÇÕES DA LINGUAGEM ...................................................................................................................................18 2. A CONSTRUÇÃO DO PARÁGRAFO....................................................................................................................... 20 3. VOCABULÁRIO .......................................................................................................................................................21 6. PONTUAÇÃO ......................................................................................................................................................... 23 7. ESTILO E RECURSOS DE LINGUAGEM ............................................................................................................... 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 28 DE VOLTA À GRAMÁTICA ESCOLAR PROF.A MA. NATÁLIA BARROS DA SILVA GOMES ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: TÉCNICAS DE ESCRITA 17WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A segunda unidade deste material tem como objetivo relembrar algumas regras gramaticais essenciais para escrever de maneira adequada. Esta é a segunda parada na jornada para compreender as principais técnicas de escrita na produção de textos jornalísticos. Ao longo desta etapa, portanto, abordaremos alguns tópicos estudados durante o período escolar, no Ensino Fundamental e Médio, acerca da língua portuguesa. Vale destacar que faremos isso de maneira bastante resumida, de modo que foi necessário selecionar apenas alguns temas, deixando inúmeros de fora, tais como a concordância verbal/nominal e o uso da crase. Iniciamos a unidade com as seis funções da linguagem, propostas pelo linguista russo Roman Jakobson, porque, para produzir bons textos, é importante que se tenha em mente qual a funcionalidade dele. Na sequência, tratamos do processo de construção do parágrafo, a� nal, essa técnica faz toda a diferença na coesão e coerência do texto, isto é, nos fatores de encadeamento de ideias. Em seguida, destacamos a importância das questões vocabulares para que se façam boas escolhas de uso da língua para atingir o/a leitor/a. Por � m, apontamos como a pontuação pode parecer um sinal inofensivo, mas que é capaz de causar grandes mal-entendidos, se empregada de forma errada. Sendo assim, revisamos os principais tipos, entre eles, a vírgula. Além disso, destacamos que independentemente do recurso e, até mesmo, de se usar algum ou não, é fundamental compreender e exercitar o próprio estilo de redação. 18WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. FUNÇÕES DA LINGUAGEM Como já apontamos nesta unidade, a comunicação sempre vem acompanhada de intencionalidade. As nossas interações têm objetivos especí� cos, como explicar algo a alguém, convencer alguém de um posicionamento ou apenas conversar com alguém. Sendo assim, como destaca Nascimento (2009, p. 8), “[...] são várias as funções atribuídas ao ato de comunicar e re� etir sobre qual função determinado texto cumpre, qual o seu papel e por que é escrito pode ser uma importante estratégia tanto para a leitura como para a redação”. A � m de sistematizar essa prática, o linguista russo Roman Jakobson (1896-1982) criou o conceito de “funções da linguagem”, dividindo-as em seis: referencial (ou denotativa), emotiva (ou expressiva), conativa (ou apelativa), fática, metalinguística e poética. Tais funções não são exploradas isoladamente, em uma mesma situação comunicativa, podemos encontrar mais de uma, porém há sempre uma que se sobressai (é predominante) para que seja possível identi� car a � nalidade principal do texto. Lembra-se do modelo tradicional de comunicação, difundido por Shannon e Weaver, expoentes da Teoria Matemática (ver Unidade 2 da disciplina de Teorias da Comunicação)? Figura 4 – Esquema do modelo de comunicação de Shannon e Weaver. Fonte: Wikipedia (2017). A comunicação, nesse diagrama, é entendida como um sistema linear. Tal modelo foi revisado ao longo da história e enquanto alguns itens foram suprimidos, outros foram acrescentados. Há, portanto, uma mensagem, que é transmitida de um emissor para um receptor, através de um canal, utilizando-se de um código comum, que abrange um contexto, também chamado de referente. Esses pressupostos são retomados para demonstrar o enfoque de cada função da linguagem, como é possível perceber no quadro a seguir. 19WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FUNÇÃO REFERENCIAL Foco no referente (contexto) Caracteriza-se por uma abordagem objetiva, que visa apagar os sinais do emissor e do receptor no texto. Usa-se a 3a pes- soa para deixar a infor- mação mais impessoal. O foco é o objeto ou o contexto a que a comu- nicação se refere. Os textos jornalísticos, científi cos e técnicos apresentam essa função como predominante. FUNÇÃO EMOTIVA Foco no emissor Caracteriza-se pela ex- pressão da subjetividade de quem comunica a mensagem, isto é, seus sentimentos e emoções. Uso frequente da 1a pes- soa do singular e dos pronomes possessivos “meu/minha”, embora também possa estar em 3a pessoa. Textos escritos em diá- rios, atualizações de status em redes sociais e, principalmente, os tex- tos literários apresentam essa função como predo- minante. FUNÇÃO CONATIVA Foco no receptor A intençãodesse tipo de texto é convencer ou persuadir “o outro”. Sendo assim, utiliza vo- cativo e verbos no impe- rativo. Os discursos persuasi- vos, como o publicitário e o político, têm essa fun- ção como predominante. FUNÇÃO FÁTICA Foco no canal O foco é iniciar, manter ou facilitar a comunica- ção, o contato, apesar dos ruídos (inclusive, com o objetivo de evitá- -los). Os cumprimentos: “Oi, tudo bem?” e “bom dia” ou as expressões utiliza- das durante os diálogos: “né ”, “entendeu?” indicam que essa função é predo- minante. FUNÇÃO METALIN- GUÍSTICA Foco no código Caracteriza-se pela uti- lização do código para explicar o próprio códi- go, isto é, quando a lin- guagem se volta para si mesma, em um sistema autorreferencial. O principal exemplo é o dicionário, em que as palavras explicam as pró- prias palavras, por meio dos verbetes. Há poesias, músicas, fi lmes e foto- grafi as que falam de si mesmas. FUNÇÃO POÉTICA Foco na mensagem A preocupação está no modo como a mensa- gem é transmitida, na forma, ou seja, qual é o ritmo e a estrutura, se tem ou não sonoridade, por exemplo. É, em mui- tos casos, confundida com a função emotiva. Apesar do nome, que nos leva a pensar diretamente na poesia, a função não se restringe a ela, pode ser observada em textos publicitários, crônicas e outros gêneros literários em que o estilo é o foco. Quadro 4 - Síntese das seis funções da linguagem propostas por Jakobson. Fonte: A autora. 20WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Vale retomar a ideia de que não haverá uma única função no texto, o importante é identi� car a que for predominante e que, por sua vez, dialoga com as outras (secundárias), durante o processo interpretativo. “É a função que ocupa a posição de dominante que de� nirá o per� l da mensagem, seu objetivo e sua caracterização” (NASCIMENTO, 2009, p. 17). Qualquer texto, seja verbal (oral ou escrito) ou não verbal (anúncio publicitário, fotogra� a, música, pintura, cinema etc.) apresentará, necessariamente, pelo menos uma das seis funções. 2. A CONSTRUÇÃO DO PARÁGRAFO Não sei se a sua professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental fazia ditado em sala. Mas, se fazia, você certamente lembrará da frase: “Na outra linha, parágrafo, letra maiúscula”. Pois é, sabemos que o parágrafo é o bloco de texto que ocupa o espaço de uma margem a outra da página, com um recuo na primeira linha que, conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), deve ser de 1,25 cm – no papel, fazemos no “olhômetro” mesmo e, quando crianças, usávamos “dois dedinhos” a partir da margem esquerda como unidade de medida. Da mesma forma como o texto é uma unidade de sentido, o parágrafo também. Sendo assim, é importante que cada um deles tenha um encadeamento coerente de ideias e seja coeso, pois cada parte formará o todo textual. Lembra-se quando falamos sobre o planejamento, na Unidade 1? A partir do momento em que pensar a estrutura do texto, de� nirá também os tópicos que podem ser desenvolvidos, como núcleos temáticos, organizados em orações, períodos e parágrafos. Sendo assim, o parágrafo não tem apenas uma � nalidade estética, de separar ou dividir o texto em partes mais ou menos iguais, visando facilitar a leitura. Ele é elemento essencial da composição. A função do parágrafo é apresentar, em unidades encadeadas, as etapas do raciocínio lógico a que toda redação deve obedecer. Em outras palavras, o parágrafo é uma unidade de ideias. Enquanto unidade de ideias, subentende- se que a cada parágrafo deve corresponder uma e só uma ideia principal. A essa ideia principal, básica, ajuntam-se outras, secundárias, que vão apresentando detalhes de maior ou menor importância, que vão con� rmando, corroborando, exempli� cando a ideia-nú cleo (ANDRADE, 2011, p. 107-108). A progressão dos parágrafos, isto é, a forma como são encadeados e interligados indica a linha de raciocínio lógico proposta por quem escreve. Nesse sentido, subdividimos a ideia central (o tema) em partes a � m de que a apresentação do todo se torne mais clara e organizada. De acordo com Andrade (2011), quando um texto é bem escrito, é possível identi� car a ideia principal de cada parágrafo e “refazer os passos”, por assim dizer, do planejamento utilizado pelo/a autor/a, ou seja, conseguimos esquematizar os tópicos fundamentais do texto. No que diz respeito ao encadeamento do texto, os parágrafos são apresentados na seguinte ordem: 1) introdutório ou pará grafo-chave; 2) contraposto (entre a introdução e o desenvolvimento); 3) explicativo (geralmente, inicia o desenvolvimento); 3) de� nitó rio (tanto pode fazer parte da introdução quanto do desenvolvimento); 4) argumentativo; 5) comparativo; 6) enumerativo (elenca exemplos, tópicos etc.); 7) reiterativo (retoma as ideias por meio da repetição das principais); 8) judicativo (de julgamento); 9) conclusivo. É importante destacar que essas possibilidades apontadas por Andrade (2011) devem ser utilizadas conforme o tipo e o gênero textual, assim como de acordo com os objetivos comunicativos. 21WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Como unidade de sentido, o chamado “parágrafo padrão” parte do geral ao particular (dedutivo) e, portanto, apresenta a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. Em linhas gerais, a primeira parte traz o tópico frasal, com a ideia principal; a segunda especi� ca, discute e analisa a ideia; a terceira expõe o desfecho do raciocínio. Esta última nem sempre aparece, principalmente quando o parágrafo é pouco extenso. Entretanto, essa estrutura não é uma camisa de força. Quem escreve deve estar atento ao tema, ao gênero, ao contexto, ao destinatário da mensagem e, até mesmo, ao próprio estilo de escrita. Não existe um tamanho certo para delimitar o parágrafo, pois este varia conforme o grau de complexidade da ideia principal. Há situações em que, em poucas linhas, consegue- se esclarecê-la e exempli� cá-la. Em outras, é necessário argumentar, mostrar dados, discutir questões, até que o tópico seja esgotado. A partir das mudanças tecnológicas, principalmente após os anos 2000, a produção textual foi afetada em diversos níveis, um deles é justamente a construção de parágrafos. Eles acabam por ser mais curtos, na medida em que os indivíduos preferem desdobrar a discussão em dois ou três “blocos”, para permitir que o texto � que extenso. De acordo com Andrade (2011), não há rigidez nesse sentido, mas, via de regra, o parágrafo padrão possui uma ou duas frases introdutórias, entre três e cinco de desenvolvimento e mais uma ou duas de conclusão, ou seja, tem, em média, de oito a 12, no máximo 15 linhas, no total. Em termos de extensão, há quem pre� ra intercalar parágrafos mais longos e outros mais curtos ou médios para tornar a leitura mais agradável e há quem pre� ra estabelecer uma espécie de padrão estético. O mais importante é não comprimir ou estender um parágrafo apenas para � car “mais bonito”, pois a preocupação com o conteúdo deve se sobressair. O parágrafo, portanto, deve ter unidade de sentido, coerência, objetividade e clareza. 3. VOCABULÁRIO Quando relacionamos, na Unidade 1, a leitura ao desenvolvimento de repertório, acabamos não mencionando o quanto isso se estende também à ampliação de vocabulário. A� nal, sem ele, o texto pode � car pobre. Pense na seguinte situação: quando somos pequenos e estamos aprendendo a falar, é um processo que se inicia justamente pela compreensão de que determinados objetos possuem nomes especí� cos e, assim, começamos a emitir sons que imitam as palavras que ouvimos e vamos estabelecendo comunicação, de forma cada vez mais complexa. Uma situação parecida ocorre quando tentamos aprender uma língua estrangeira, seja ela qual for. Não conseguimos começar conversando sobre inúmeros assuntos porque nos faltam as palavras. Às vezes, tentamosiniciar uma frase, mas esbarramos em algo que não sabemos e travamos. Então, aprendemos algumas regras gramaticais, vocabulários diversos sobre coisas simples, que usamos no dia a dia e, assim, conseguimos construir frases, textos, diálogos. O tópico frasal é aquele que representa a ideia principal do texto, de modo que aparece logo na introdução. Em geral, estrutura-se por um ou dois períodos cur- tos, que apresentam uma declaração inicial, uma defi nição, uma referência a um acontecimento ou uma interrogação. O tópico guia a apresentação das ideias que serão explanadas no desenvolvimento, pois anuncia a temática, garantindo objeti- vidade, coerência e unidade ao parágrafo. 22WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para a produção textual, quanto mais vasto for o nosso repertório vocabular, mais saberemos adequar o texto ao contexto – quando utilizar uma linguagem mais informal e quando caprichar na formalidade, por exemplo – e menos repetiremos palavras. Aliás, essa é uma prática que di� culta a leitura, pois distrai o/a leitor/a do conteúdo, na medida em que a repetição incomoda e quebra o � uxo de pensamento. Em várias pro� ssões, além de vocabulário, é preciso conhecer alguns termos técnicos e, no Jornalismo, não é diferente. Nas redações dos diferentes meios de comunicação e, até mesmo, em outras funções que não a de repórter, são utilizados jargões, isto é, expressões próprias. Assim, para você, estudante de jornalismo, conhecer esse vocabulário é fundamental para desempenhar melhor a sua função futuramente e para, desde já, se ambientar à linguagem da sua área. Preste atenção, foca! Talvez você já tenha sido chamado/a assim por colegas ou até por pro� ssionais da Comunicação. “Foca” é o apelido que se dá ao/à jornalista iniciante, recém- formado/a ou ao estudante desse curso. Conforme o Observatório da Imprensa, “[...] é o jornalista novato, bisonho – ou seja, não experimentado –, aquele que ainda pensa em fazer um curso de Jornalismo ou o jovem que está caminhando para essa pro� ssão. O foca nos Estados Unidos é cub, que em inglês signi� ca � lhote”. Esse é um dos vários jargões que mencionamos. Então, se alguém te chamar de “foca” por aí, agora já sabe o motivo. Figura 5 – Ilustração do “Foca” jornalístico. Fonte: Blog Fala, foca! (2012). Ter vocabulário não basta; a� nal, as palavras podem apresentar variações de signi� cado dentro do mesmo país e até da mesma cidade. Mexerica, poncã, bergamota são vocábulos que dizem respeito a uma mesma fruta, por exemplo. A língua portuguesa é rica em diversidade, de forma que, novamente, o contexto in� uenciará a produção textual. Um grupo de amigos se comunica com termos distintos de um grupo de empresários participando de uma reunião. Se esses mesmos grupos moram no norte ou no sul do país, as gírias e expressões serão diferentes. Embora seja o mesmo idioma, há variações, por exemplo, no que diz respeito à expressão da língua, se é oral ou escrita; os regionalismos, que incluem os modos de falar (sotaques) e as diferenças vocabulares. Para conhecer vários jargões jornalísticos, você pode acessar o portal Casa dos Focas e conferir uma lista de A a Z com os principais. Disponível em: http://www. casadosfocas.com.br/vocabulario-de-jornalismo/. Acesso em: 15 dez. 2019. 23WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As questões vocabulares são importantes para que você faça boas escolhas ao produzir seus textos. É preciso saber quando utilizar uma linguagem formal ou culta (língua padrão escolarizada), a comum ou coloquial (que admite espontaneidade e certa informalidade) e a informal ou popular (que possui pouca inferência normativa). A primeira é mais utilizada em textos cientí� cos, a segunda pela mídia e a terceira é comum na oralidade, por exemplo. No papel de produtor/a de conteúdo, é você quem deverá traçar as melhores estratégias de uso da língua para atingir seu/sua leitor/leitora. 6. PONTUAÇÃO A pontuação pode parecer um sinal inofensivo da língua portuguesa, porém, veremos que um erro nesse sentido pode causar grandes mal-entendidos. Sendo assim, é imprescindível que você, como futuro/a comunicador/a, saiba pontuar corretamente os seus textos. De acordo com Nascimento (2013), a pontuação ganhou importância no processo de interpretação de textos, desde o desenvolvimento da linguagem. Ainda conforme o autor, no século II a.C., já havia frases separadas por sinais que, ao longo da história, foram sistematizados nas noções de pontuação que temos hoje. Na imagem a seguir, é possível perceber os tipos de notações existentes, que vão além dos comuns “ponto � nal” e “vírgula”. Figura 6 – Síntese dos tipos de pontuação. Fonte: Nascimento (2013, p. 60). Um vídeo interessante sobre as variações linguísticas pode ser visto nessa série de reportagens, que trata da pluralida- de brasileira no que diz respeito à linguagem e suas formas de expressão: VIA BRASIL. Reportagens sobre os sotaques do Brasil. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uSzZ5vl45hI. Acesso em: 15 dez. 2019. 24WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A vírgula é a que apresenta o maior número de regras: quando usar, quando o uso é ideal, porém, facultativo e quando não deve ser utilizada. Há divergências entre linguistas nesse quesito, porém, elencaremos as regras que mais apresentam consenso. Antes, ressaltamos que ela indica uma pausa breve, relacionada à sintaxe e não à respiração, como se costuma inferir. Além disso, não se deve separar com vírgula elementos que tenham relação sintática direta entre si, tais como sujeito de predicado, verbo de objeto direto ou indireto, substantivo de complemento nominal e assim por diante. Casos em que a vírgula é obrigatória: 1) Para demarcar os vocativos. Ex.: Querido, você pode me passar a salada? 2) Para separar palavras repetidas, conjunções ou termos de mesma função sintática. Ex.: Compramos luvas, botas, casacos e cachecóis. Estamos preparados para o inverno. (Todos os itens são objetos diretos do verbo “comprar”). 3) Para separar termos deslocados da sua posição sintática. Ex.: De que o marido cometeu o crime contra a esposa, não há evidências. 4) Para separar as orações coordenadas assindéticas (independentes), sem conjunção coordenativa. Ex.: Minha � lha não quer trabalhar, estudar, ser independente. 5) Para separar orações coordenadas sindéticas, que apresentam conjunção coordenativa. Ex.: O dia estava lindo, mas muito frio e úmido. 6) Para separar aposto explicativo. Ex.: Clarice, a diretora da instituição, é quem responde pelas questões administrativas. 7) Para separar locuções explanatórias: a meu ver, isto é, ou seja, ou melhor, por exemplo, quero dizer etc. Ex.: Eu não sabia o que signi� cava “nociva”, ou seja, deixei de escrever a redação e perdi o vestibular. 8) Para separar orações intercaladas ou interferentes que aparecem entre as orações. Ex.: Criar universos, diz a escritora famosa, é uma das belezas da minha pro� ssão. 9) Para separar oração subordinada que explica o nome que antecede o pronome relativo. Ex.: O juiz, que deveria ser um exemplo de conduta, estava envolvido no processo de corrupção. 10) Para separar o local da data, quando escritos por extenso. Ex.: Maringá, 25 de dezembro de 1993. 25WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Casos em que é recomendável, porém não obrigatório, o uso da vírgula: 1) Para separar adjuntos adverbiais – quando estão antepostos ou queremos enfatizá- los. Ex.: Na semana passada, assisti a uma série incrível na Net� ix. (A vírgula separa o adjunto adverbial de tempo anteposto). 2) Para separar os termos paralelos de provérbios ou máximas. Ex.: Avô rico, � lho nobre, neto pobre. Se a vírgula indica uma pausa breve, o ponto e vírgula corresponde a uma pausa maior que esta, emboraainda menor que a do ponto � nal. Esse recurso é geralmente utilizado nas seguintes situações: 1) Para preparar orações coordenadas assindéticas, principalmente as que forem longas. Ex.: A família passava por um momento difícil; o marido perdeu o emprego; a esposa ganhava pouco para sustentar as oito crianças; os boletos do colégio não paravam de chegar; o aluguel aumentou; a sorte estava lançada. 2) Para separar orações coordenadas sindéticas da coordenada inicial, principalmente quando uma delas ou as duas já possuem vírgula. Ex.: Até hoje, não conseguiram descobrir a cura para o câncer; contudo, as pesquisas continuam e os/as cientistas não perderam as esperanças. Um texto com uma vírgula errada ou sem ela pode gerar mal-entendidos signifi - cativos, que talvez sejam apenas engraçados ou causem problemas. Como você está estudando para ser um/a jornalista, é importante compreender a seriedade das suas escolhas ao produzir um texto. É preciso escrever com responsabilidade. Figura 7 – Exemplo de problemas de compreensão causados pela falta da vírgula. Fonte: Segre- dos do Mundo (2019). 26WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3) Separar itens ou enumerações. Ex.: Os principais sintomas de infarto são: a) dor no peito, que pode irradiar para o braço esquerdo, o pescoço, a mandíbula, o estômago e até as costas; b) náusea; c) vômito; d) suor frio; e) desmaio. O ponto � nal é aquele que indica a � nalização de uma frase ou período. É a partir dele que se torna possível separar pensamentos e ideias completas de outras. Já os dois pontos devem ser usados nas seguintes situações: 1) Para separar uma exempli� cação, explicação, consequência ou comprovação do que foi explicitado na oração anterior. Ex.: O parágrafo padrão apresenta três itens: introdução, desenvolvimento e conclusão. 2) Para apresentar citações ou discurso direto, com verbo expresso ou oculto. Ex.: No meio da multidão, uma mulher se levantou e disse: “Essa palestrante é uma vigarista!”. Um sinal de pontuação bastante utilizado em textos cotidianos é o travessão, que deve ser usado: 1) Para separar expressões enfáticas intercaladas. Ex.: Os candidatos – Jair Bolsonaro e Fernando Haddad – participaram de um debate caloroso na televisão, ontem. 2) Para indicar mudança de interlocutores em um diálogo. Ex.: – Sei que não posso ir até lá – disse a menina. – Não adianta se fazer de vítima, � lha. 3) Para separar título de subtítulo, quando estiverem em uma mesma linha. Ex.: Manual de Radiojornalismo – Fundamentos teóricos e práticos. Vale também retomarmos as regras para o uso de parênteses, que devem ser usados: 1) Para separar uma palavra, frase ou período intercalado, com o objetivo de acrescer informação adicional, porém, não essencial. Ex.: Renato Russo (nome artístico de Renato Manfredini Júnior) foi um cantor e compositor brasileiro, conhecido por ter sido o idealizador e vocalista da banda Legião Urbana. 2) Para informar a sigla de um órgão ou entidade, previamente apresentado por extenso. Ex.: A partir de amanhã, a Universidade de São Paulo (USP) entra em estado de greve. Esse breve apanhado de algumas regras das notações sintáticas de pontuação serve como um ponto de partida para guiar você, estudante, na produção textual. Contudo, não foi possível falar de itens distintivos, como: alínea, aspas, asterisco, chave, colchetes e hífen; subjetivos como os pontos de exclamação, interrogação e as reticências. Contudo, tratamos de todos os objetivos: dois pontos, ponto e vírgula, ponto � nal e vírgula. 27WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 7. ESTILO E RECURSOS DE LINGUAGEM Ao pensarmos em “estilo” de texto, logo as obras literárias nos vêm à mente. Isso porque fomos ensinados que os fatores estéticos estão na literatura e, geralmente, não nos demais gêneros. Contudo, a estilística tem a ver com a subjetividade, ou melhor, a marca que aquele/a que escreve consegue deixar em sua escrita. De acordo com Nascimento (2009, p. 104), “[...] além de trazer mais ‘pessoalidade’ ao texto, os recursos estilísticos conferem à redação maior expressividade e, não raro, maior carga informativa, uma vez que são capazes de dotar a escrita de singularidade e propiciar maior envolvimento por parte do leitor”. Sendo assim, o discurso jornalístico também comporta o uso de � guras de linguagem, ainda que essa prática seja mais comum em publicações como revistas ou livros-reportagens, além de formatos como crônicas e críticas. Embora menos comum, também há espaço para o estilo demarcado em reportagens e notícias do cotidiano. Entre os recursos estilísticos mais presentes no jornalismo estão: a ironia, a metáfora, a metonímia e a antítese, uso de “fórmulas � xas”, como provérbios e clichês, a hipérbole, a personi� cação e os recursos sonoros, como a rima e a onomatopeia. Independentemente do recurso e, até mesmo, de se usar algum ou não, é fundamental compreender e exercitar o próprio estilo de redação. Cada sujeito tem formas particulares de se expressar e são elas que permitem alguém reconhecer o seu texto sem precisar ler a assinatura com o seu nome. Siga os padrões ou não, seja criativo/a ou não, faça arranjos inovadores ou não, mas use a linguagem para expressar sua subjetividade. Experimente combinações e composições, explore seu vocabulário, considere o contexto e o interlocutor, revele-se em seus textos. 28WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS A segunda unidade deste material visava relembrar algumas regras gramaticais essenciais para escrever de maneira adequada. Ao longo desta etapa, portanto, abordamos alguns tópicos estudados durante o período escolar, no Ensino Fundamental e Médio, acerca da língua portuguesa. Vale destacar que isso foi feito de maneira bastante resumida, de modo que foram deixados inúmeros pontos de fora, tais como a concordância verbal/nominal e o uso da crase. Iniciamos a unidade com as seis funções da linguagem, propostas pelo linguista russo Roman Jakobson, porque, para produzir bons textos, é importante que se tenha em mente qual a funcionalidade deles. Na sequência, tratamos do processo de construção do parágrafo, a� nal, essa técnica faz toda a diferença na coesão e coerência do texto, isto é, nos fatores de encadeamento de ideias. Em seguida, destacamos a importância das questões vocabulares para que se faça boas escolhas de uso da língua para atingir o/a leitor/a. Por � m, apontamos como a pontuação pode parecer um sinal inofensivo, mas que é capaz de causar grandes mal-entendidos, se empregada de forma errada. Sendo assim, revisamos os principais tipos, entre eles, a vírgula. Além disso, destacamos que, independentemente do recurso e, até mesmo, de se usar algum ou não, é fundamental compreender e exercitar o próprio estilo de redação. 2929WWW.UNINGA.BR UNIDADE 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 30 1. POR ONDE COMEÇAR? .........................................................................................................................................31 2. FONTES E ENTREVISTAS .................................................................................................................................... 34 3. OBJETIVIDADE X NEUTRALIDADE .......................................................................................................................37 4. EXPLICAR O FATO SEM PERDER A HISTÓRIA DE VISTA ................................................................................ 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................41 ESPECIFICIDADES DO TEXTO JORNALÍSTICOPROF.A MA. NATÁLIA BARROS DA SILVA GOMES ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: TÉCNICAS DE ESCRITA 30WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A terceira unidade deste material tem como objetivo apresentar e discutir as especi� cidades do texto jornalístico no que se refere aos modos de construir o texto. Esta é a terceira parada na jornada para compreender as principais técnicas de escrita na produção de textos jornalísticos e, neste ponto, estamos mais próximos do � nal da disciplina. Para começar as discussões, o primeiro tópico trata, justamente, do ponto de partida do trabalho jornalístico, que é a pauta. Caracterizando-se como uma espécie de roteiro, é utilizada para guiar a produção, seja ela para qual meio de comunicação for. Apresentaremos, portanto, um modelo que serve como base para o desenvolvimento dela. Na sequência, abordaremos dois pontos fundamentais no fazer jornalístico: as fontes e as entrevistas. Tanto sobre um item quanto sobre o outro elencaremos os tipos, como e quando utilizá-los. Em seguida, trataremos de um contraponto polêmico na história do Jornalismo: objetividade x neutralidade. Neste tópico, discorreremos sobre o fato de que uma matéria deve ser objetiva, porém jamais será neutra. Todas as escolhas e os encaminhamentos que levam ao produto � nal são frutos de intencionalidades, que deixam marcas e, portanto, não há motivos para se buscar ou se prometer um texto neutro. Por � m, traçamos um panorama sobre uma vertente jornalística que se relaciona a essa “liberdade da escrita”, de não se preocupar com a neutralidade nem mesmo com a objetividade, apenas em como contar a história da melhor forma possível. O chamado jornalismo literário tem permitido retomar as aproximações entre jornalismo e literatura, presentes no início do desenvolvimento do primeiro. 31WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. POR ONDE COMEÇAR? No jornalismo, tudo começa com uma boa história. Daí em diante, temos técnicas de produção para escrever bons textos (como vimos nas primeiras duas unidades desta apostila), para adequar os textos a cada um dos meios de comunicação (como veremos de maneira mais aprofundada na Unidade 4) e para informar com ética e reponsabilidade. Sem uma boa história, porém, não saímos do lugar. A ela damos o nome de “pauta”. De acordo com Erbolato (2002), o conceito de pauta esbarra na ideia de ponto de partida, roteiro, guia. Quando enxergamos um acontecimento que pode (ou deve, conforme a nossa função social) ser noticiado, dizemos que “temos uma pauta”. A partir disso, reunimos os principais detalhes, os encaminhamentos e traçamos os objetivos do texto. Então, com base em um trabalho de pesquisa, apresentamos os meios para que a matéria seja produzida no menor tempo possível e com o maior nível de qualidade. A pauta, contudo, não é apenas uma ideia, é uma estrutura que deve ser elaborada/ adaptada de acordo com as características do meio de comunicação (jornal, rádio, TV, web) e da empresa onde o/a repórter trabalha e deve “facilitar” a sua vida, trazendo informações claras, objetivas e verdadeiras. Para desenvolvê-la, é importante estarmos atentos/as aos seguintes itens: 1) Interesse público; 2) Relevância do tema; 3) Alcance do público-alvo; 4) Possibilidades de desdobramento. O/a responsável por escrever a pauta assume a função de pauteiro/a, que, aliás, é um dos cargos mais bem pagos das redações, justamente porque sem boas histórias não se faz jornalismo. Contudo, vale destacar que, a partir das inúmeras mudanças sofridas na pro� ssão ao longo dos anos, essa função acabou se tornando uma das mais raras. Ela é encontrada, via de regra, nos veículos de televisão porque necessitam, em geral, de agendamento prévio com as fontes, por exemplo. Hoje, o/a repórter também é pauteiro/a. Uma pauta, segundo Erbolato (2002), possui quatro itens principais: cabeçalho, apresentação das fontes, encaminhamento/enfoque, informações adicionais. Outros/as autores/ as e os/as jornalistas, no dia a dia, acabam acrescentando ou retirando itens, conforme a necessidade, de modo que é possível você encontrar pautas com esquemas diferentes, porém o objetivo é sempre o mesmo: guiar a produção noticiosa. Veja o quadro a seguir: CABEÇALHO É composto por: - Retranca: duas ou três palavras que indicam o tema; - Editoria: seção em que a matéria se enquadra; - Nome do/a redator/a ou da equipe de reportagem; - Data de elaboração e hora de realização da pauta; - Local de realização da pauta; - Uma sugestão de título provisório. APRESENTAÇÃO DAS FONTES Deve indicar: - No mínimo três fontes, sendo uma delas ofi cial (especialista no assunto, cargo de chefi a/político); - Nome completo; - Idade: se for importante para a matéria; - Profi ssão/cargo/função; - Endereço e telefone (de preferência, fi xo e celular); - Contato digital (e-mail, redes sociais). 32WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ENCAMINHAMENTO / ENFOQUE Deve apresentar: - Uma sinopse/resumo da pauta; - Escrever, em poucas linhas (≅ 15): justifi cativa + histórico + ideias gerais + orientações/direcionamentos; - Serve para situar o/a repórter. INFORMAÇÕES ADICIONAIS - Citar outras referências (ex. matérias anteriores, ganchos, tex- tos de outros veículos), isto é, itens de pesquisa; - Anexar arquivos interessantes/importantes; - Informação que aparenta ser signifi cativa, mas que ninguém checou/apurou ainda; - Sugestões de perguntas para as entrevistas. Quadro 1 – Explicações sobre os itens da pauta. Fonte: A autora. É importante destacar que a pauta não é uma camisa de força, rígida e imutável ou a matéria pronta. A função do/a pauteiro/a é ler tudo o que estiver ao alcance (lembra-se do que tratamos na Unidade 1?), estar sempre bem informado/a e procurar a chave para uma boa matéria. Para isso, deve estar atento/a às inspirações cotidianas, consumir o maior número de notícias possível, lembrar das pautas sazonais (aqueles temas que sempre são abordados em épocas especí� cas, como o Natal e o Ano Novo, por exemplo), tentar propor olhares diferentes para assuntos comuns. Contudo, a pauta pode ser derrubada pelo/a repórter, caso se descubram outros fatos mais relevantes no processo ou informações diferentes por parte das fontes. RETRANCA: EDITORIA: EQUIPE: DATA/HORA: LOCAL: SUGESTÃO DE TÍTULO: FONTE 1: FUNÇÃO/CARGO: ENDEREÇO: TELEFONE: CONTATO DIGITAL: FONTE 2: FUNÇÃO/CARGO: ENDEREÇO: TELEFONE: CONTATO DIGITAL: FONTE 3: FUNÇÃO/CARGO: ENDEREÇO: TELEFONE: CONTATO DIGITAL: ENCAMINHAMENTO: INFORMAÇÕES ADICIONAIS: SUGESTÕES MULTIMÍDIA: Quadro 2 – Modelo de pauta. Fonte: A autora. 33WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em geral, o modelo de pauta é o que se pode ver acima. A partir dele, conseguimos preencher com as informações explicitadas no quadro anterior, a � m de guiar a nossa produção ou a de outra pessoa. Perceba que, além dos itens apresentados por Erbolato (2002), acrescentei “sugestões multimídia”. Isso porque, independentemente do veículo de comunicação “de partida”, a prática atual tem sido a de empacotar a notícia a partir de todos os modos, meios e possibilidades. Um texto, geralmente, vem acompanhado de uma imagem e pode também trazer um vídeo e um arquivo em áudio como complemento, ao ser publicado na internet. Nascimentos, mortes, casamentos, desastres naturais, incêndios, guerras, inaugurações de obras públicas, invenções, declarações de governantes, testes em laboratório para a cura de doenças, viagens diplomáticas, formaturas, funerais, � lmagens de telenovelas, espetáculos, gravações de discos, passeios, assassinatos, desmoronamentos, todo tipo de história pode ser considerado uma pauta, desde que atenda aos critérios de noticiabilidade e aos valores-notícia. Para � nalizar este tópico, vale mencionarque, no dia a dia, a maioria dos/as jornalistas não escreve a pauta como no modelo que descrevemos aqui. Isso porque aprenderam, como você, a fazer isso na faculdade, exercitaram essa habilidade inúmeras vezes ao longo da graduação e nos estágios, até chegar a um ponto em que o processo se torna automático. A pauta é rascunhada mentalmente, sem a necessidade de colocar no papel. Isso não signi� ca, porém, que perderam a história de vista. Pelo contrário, demonstra que ela está tão “dentro de si”, que pode ser trabalhada a partir do próprio pensamento. Embora este não seja o enfoque desta apostila, os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia são conceitos essenciais para o conhecimento de qualquer jorna- lista comprometido/a com sua profi ssão. Sendo assim, indicamos o livro organi- zado por Silva, Silva e Fernandes (2014), que trata das duas temáticas. Fonte: Amazon (2019). SILVA, G.; SILVA, M. P.; FERNANDES, M. L. (org.). Critérios de noticiabilidade – pro- blemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014. 34WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. FONTES E ENTREVISTAS O próximo passo depois de encontrar uma boa história a ser contada é escolher bem as fontes e usar as técnicas de entrevista adequadas para conseguir as informações que se deseja. Como já explicitamos, “[...] fonte é qualquer pessoa que presta informações ao repórter” (ERBOLATO, 2002, p. 160), além de qualquer texto ou documento que contribua de alguma maneira para a construção da matéria. Ainda conforme o autor, existem tipos de fontes, as quais serão elencadas no quadro a seguir. FIXAS: recorremos a elas sempre para os assun- tos diários, tais como representantes da polícia, da prefeitura, da câmara municipal, dos centros de saúde, dos sindicatos etc. MUTÁVEIS: procuradas excepcionalmente para esclarecer um fato específi co. Ex.: Uma psicóloga para tratar do uso de medicamentos, como a Rita- lina, por parte dos pais para lidar com o comporta- mento dos fi lhos. DIRETAS: pessoas envolvidas em um fato ou ocorrência, assim como os comunicados/notas a respeito da situação (uma nota ofi cial da as- sessoria de imprensa do presidente, por exem- plo). INDIRETAS: pessoas que, por dever profi ssional, sabem de algo circunstancialmente, assim como os documentos ligados ao assunto. Ex.: A profes- sora de uma criança que usa Ritalina. Ela não está envolvida por não ser quem ministra o medica- mento mas tem informações sobre o caso. ADICIONAIS: aquelas que fornecem informa- ções suplementares ou ampliam a dimensão da história, tais como livros, enciclopédias, atlas, relatórios, sites de busca, portais. Além de histo- riadores/as e/ou pessoas que conhecem fatos passados e que se conectam aos acontecimen- tos atuais. OSTENSIVAS: o/a leitor/a sabe quem é ou o moti- vo de terem sido “consultadas”. Ex.: O prefeito do Rio de Janeiro declara que a situação será resolvi- da o mais rápido possível. INDETERMINADAS: quando não há menção sobre quem deu as informações. Ex.: Conforme alguns setores da indústria, o produto não será mais produzido. OFICIAIS: especialistas no assunto, pessoas que possuem cargo de chefi a e/ou função política. Ex.: Advogados/as, médicos/as, prefeitos/as, coorde- nador/a de curso de graduação etc. NÃO DECLARADAS: pessoas bem informadas, geralmente, com acesso à informação privilegia- da (Ex.: política), que adiantam notícias, julgam/ analisam acontecimentos delicados, mas não aparecem no texto (nem de maneira generaliza- da, como as fontes indeterminadas). PORTA-VOZES: são aqueles que têm autorização de uma autoridade ou de um grupo importante para comunicar seus pensamentos, dar declara- ções. Ex.: Assessores de imprensa. Quadro 3 – Classi� cação dos tipos de fontes. Fonte: Adaptado de Erbolato (2002). Além dessa classi� cação, existem muitas outras, propostas por comunicadores/as e pesquisadores/as, tais como: Gieber e Johnson (1961), Molotch e Lester (1974), Gans (1980), Lage (2001), Chaparro (2009), sem falar nos manuais de redação da Folha de S. Paulo, do Estado de S. Paulo, do Globo e do Zero Hora. Na tentativa de organizar a tipi� cação das fontes em uma classi� cação “única”, reunindo as constantes das proposições anteriores, Schmitz (2011) criou uma matriz, que relaciona de forma dinâmica os tipos, os grupos e as classes. 35WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 – Matriz de tipi� cação das fontes proposta por Schmitz (2011). Fonte: Schmitz (2011, p. 7). Independentemente da classi� cação e da nomenclatura que se resolva utilizar, o mais importante é que os textos jornalísticos dependem do que as fontes dizem para serem construídos. Não adianta ter uma grande ideia, conhecer uma boa história, mas não ter quem possa falar sobre ela. Selecionadas as fontes, é preciso realizar entrevistas, a � m de coletar as informações necessárias. Quanto a essa prática, existem algumas dicas que podem auxiliar o seu trabalho de apuração. Primeiro, considerando que seja possível agendar a entrevista previamente, o ideal é que tanto você quanto a pessoa entrevistada possam se preparar. Imagine “cair de paraquedas” em uma coletiva de imprensa com um atleta olímpico de natação, sem entender o motivo da visita dele ou qualquer questão signi� cativa sobre o esporte. Certamente, surgiriam termos e dados que você não domina, você teria di� culdades para conduzir (ou, até mesmo, formular) as perguntas, � caria com cara de “não sei o que estou fazendo” e não saberia como abordar o potencial informativo daquela situação na hora de escrever. É grande a possibilidade de algo assim acontecer, a� nal, as pautas podem aparecer de última hora. Por isso, somos conhecidos como “generalistas” e precisamos entender minimamente de todos os assuntos ou, pelo menos, ter condições de se adaptar a uma situação desse tipo. Considerando, porém, que houve agendamento, é interessante pesquisar ao máximo sobre o tema e a fonte, além de ter clareza a respeito do objetivo da entrevista – como essa pessoa pode contribuir? O que você precisa saber que seria interessante para a matéria? Vale, inclusive, rascunhar um roteiro com sugestões de perguntas. Este, contudo, não deve ser rígido ao ponto de engessar a entrevista. Para Nascimento (2009, p. 99), [o] repórter não pode prestar mais atenção no roteiro do que no entrevistado; se isso acontecer, ele pode perder informações importantes ou mesmo perguntar algo que o entrevistado acabou de responder. A ideia é aproximar ao máximo a entrevista de sua matriz, que é o diálogo, o colóquio (como a conversação entre duas ou mais pessoas). Assim como as fontes possuem tentativas de tipi� cação, o mesmo ocorre com as entrevistas. Ao considerar as circunstâncias de realização e a postura assumida pelo/a repórter em cada uma delas, Lage (2001) de� ne quatro categorias, sendo elas: ocasional, confronto, coletiva e dialogal. A primeira delas diz respeito às situações em que a entrevista não foi programada, de modo que o/a jornalista não tinha como se preparar, fazer um roteiro, pesquisar o assunto – como no exemplo do atleta olímpico. Eventualmente, encontramos artistas, políticos, líderes religiosos ou pessoas comuns que tenham algo signi� cativo a dizer. Não podemos perder a história de vista, então, fazemos uma entrevista ocasional. 36WWW.UNINGA.BR TÉ CN IC AS D E ES CR IT A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Já nos casos em que a pessoa a ser entrevistada é objeto de alguma investigação ou denúncia, o/a repórter/a acaba assumindo o papel de “acusador/a”. Vale destacar, porém, que o confronto deve ser baseado em documentos, depoimentos e outras informações coletadas previamente, não em “achismos” do/a jornalista. Além disso, ainda que o intuito seja “colocar a fonte contra a parede”, isso deve ser feito com ética e responsabilidade, sem práticas sensacionalistas, que
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