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Escrita Criativa Características da escrita poética na arte e na literatura Prof. Dr. Lucas Toledo de Andrade • Unidade de Ensino: 02 • Competência da Unidade: Conhecer a relação entre o estudo dos gêneros literários e a Escrita Criativa. Perceber o funcionamento do texto literário, a partir da reflexão sobre o tratamento editorial e as estratégias de autopublicação. • Resumo: A aula abordará as possibilidades do trabalho com a Escrita Criativa, a partir do reconhecimento dos gêneros literários e dos mecanismos de funcionamento dos textos. • Palavras-chave: Gêneros literários; Discurso literário; Discurso do autor. • Título da Teleaula: Características da escrita poética na arte e na literatura. • Teleaula nº: 02 Contextualização • No momento da escrita, é importante conhecer os gêneros literários? • Quais as diferenças entre a escrita em prosa e em verso? • Como funciona um texto literário? • O tratamento editorial pode ser realizado individualmente? • O que você entende por autopublicação? Contextualização A Escrita Criativa pode ser utilizada para elaboração de textos literários e também para a compreensão dos tipos de discursos literários. Por mais estranho que possa parecer, a prática da escrita criativa e a produção literária podem ser usadas para soluções do dia a dia. Por isso, o texto literário pode ser visto como uma ferramenta de criação, de criatividade e de curiosidade, uma vez que no ato da escrita cria-se mundos novos e também reflete-se sobre mudanças no mundo em que vivemos. Os gêneros na poética clássica e a Escrita Criativa em prosa e em verso • Gêneros literários como prática de escrita. • Conhecimento fundamental para a escrita dos textos. • Conceito amplo e de difícil definição. • Valor contextual e discursivo. • Estabilidade e distinção. A definição dos gêneros literários 1 2 3 4 5 6 • Lírico: expressão do caráter e das paixões do eu-lírico. • Épico: narração de fatos apurados ou inventados a respeito da história de um herói representante de uma coletividade. • Dramático: narrativa voltada à representação e performance dos atores. Ela possui extensão pequena. Poética, de Aristóteles Disponível em: https://bit.ly/3J0HLUU De acordo com Massaud Moisés, na prosa, o autor “o sujeito que pensa e sente está agora dirigido para fora de si próprio, buscando seus núcleos de interesse na realidade exterior, que assim passa a gozar da autonomia em relação ao sujeito” (MOISÉS, 1987, p.94). • A preocupação do autor é com o objeto da escrita e não com a sua persona. Escrita em Prosa Disponível em: https://bit.ly/33gwX6b “Seriam onze horas da manhã. O Campos, segundo o costume, acabava de descer do almoço e, a pena atrás da orelha, o lenço por dentro do colarinho, dispunha-se a prosseguir no trabalho interrompido pouco antes. Entrou no seu escritório e foi sentar-se à secretária. Defronte dele, com uma gravidade oficial, empilhavam-se grandes livros de escrituração mercantil. Ao lado, uma prensa de copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato; mais adiante, sobre um mocho de madeira preta, muito alto, via-se o Diário deitado de costas e aberto de par em par.” (AZEVEDO, 2013, p. 13) Trecho de Casa de pensão A poesia buscaria o confronto e a expulsão das sensações do eu lírico, tendo por objeto o “eu” e exprimindo a relação do artista com a sociedade, por meio de um viés interior. • A preocupação do poeta e com a sua persona. Ela que definirá o modo como o eu lírico vê o mundo. Escrita em verso Disponível em: https://bit.ly/33gwX6b “De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. [...]” (MORAES, 2002) Trecho de “Soneto de fidelidade” ESCRITA EM PROSA = “NÃO-EU”. ESCRITA EM VERSO = “EU”. Verso e prosa 7 8 9 10 11 12 Hibridização dos gêneros PROSA POÉTICA POESIA EM PROSA “Daí, depois, tudo recomeçou de novo, em mais bravo. E nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe – mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande sertão é a forma arma. Deus é um gatilho?” (ROSA, 2019, p. 248) Prosa poética Palhaços muito sólidos. Vários exploraram vossos mundos. Sem necessidades, e com pressa de utilizar suas brilhantes faculdades e conhecimento de vossas consciências. Que homens maduros; Olhos bestificados à maneira da noite de verão, vermelhos e negros, tricolores, de aço salpicado de estrelas de ouro; faces deformadas, plúmbeas, cadavéricas, inflamadas; rouquidões brincalhonas! O andar cruel dos ouropéis! — Há alguns jovens, — como veriam Querubim?[...]” (RIMBAUD, 2012, p. 11) Poesia em prosa As várias facetas do literário O texto literário é feito por vários elementos várias mãos e vários tratamentos editoriais, por isso o texto mobiliza discursos e sentidos na sua constituição. Discurso literário Disponível em: https://bit.ly/3LducmZ Características do texto literário • Conotação. • Subjetividade. • Plurissignificação. • Não utilitarismo. 13 14 15 16 17 18 “O texto literário é focado, principalmente, na expressividade do autor. Em geral, esse tipo de construção é repleta de manifestações poéticas e está aberto ao espaço subjetivo. Muitas vezes, a produção é destinada ao entretenimento do leitor e pode utilizar a criatividade para a escrita ficcional, além de ser destinado a expressão.” (ELIAS, 2022) Discurso literário FUNÇÃO POÉTICA “Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco.” (MELO NETO, 1996) Trecho de “Catar feijão” Para Maingueneau, o espaço literário é o local em que o texto ganha valores e passa a ser legitimado por terceiros. Segundo ele, esse espaço é divido em três partes: rede de aparelho, campos discursivos e memórias discursivas. Espaço literário Rede de aparelho: mediação do texto para a sua circulação (professores, leitores, editoras). Campos discursivos: contatos, colisões e conflitos que provocam os variados sentidos para o capital simbólico do texto. Memórias discursivas: intertextualidade trazida pelos leitores que geram associações interdiscursivas. Espaço literário Disponível em: https://bit.ly/3fCg5cp Para Maingueneau, o discurso literário é ambíguo: por um lado reivindica o estatuto de um verdadeiro tipo de discurso; por outro é um rótulo que não designa uma unidade estável, mas um conjunto de fenômenos que fazem parte de épocas e sociedades distintas, sendo assim, totalmente, instável. Discurso literário 19 20 21 22 23 24 Obras Público Autores Sistema literário “[...] conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes de seu papel; um conjunto de receptores formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor [...] que liga uns aos outros.” (CANDIDO, 2000, p. 23) Sistema literário De acordo com as discussões realizadas, você considera importante o ensino de literatura durante o trabalho com a prática de Escrita Criativa? Disponível em: https://bit.ly/3rtGCzl Funcionamento do texto literário • Enredo. • Personagem. • Tempo. • Espaço. • Narrador. Elementos da narrativa “Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde. Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabeloscrescidos e desalinhados, tinha um jeito jovial de estudante. ― Minha querida Raquel. Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.” (TELLES, 2000) Trecho de “Venha ver o pôr do sol” 25 26 27 28 29 30 • Eu lírico. • Verso. • Estrofe. • Métrica. • Ritmo. • Rima. Elementos do poema “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração.” (PESSOA, 1965) Autopsicografia • Personagens. • Prólogo. • Atos (exposição; clímax; desenlace). • Cenas. • Epílogo. • Rubrica. Elementos do texto dramático PRIMEIRO ATO UMA SALA NA CASA DOS PROZOROV. ENTRE SUAS COLUNAS SE DIVISA A SALA DE JANTAR. É UM MEIO-DIA ENSOLARADO E ALEGRE. NA SALA DE JANTAR ESTÃO PONDO A MESA PARA O ALMOÇO. OLGA, VESTINDO O UNIFORME AZUL DAS PROFESSORAS DE LICEU CORRIGE, SENTADA OU ANDANDO, OS CADERNOS DE SUAS ALUNAS. [...] Trecho de Três irmãs OLGA: Hoje faz exatamente um ano que morreu nosso pai, dia 5 de maio, dia da sua santa, Irina. Fazia muito frio e nevava. Eu pensava que não iria sobreviver, e você, desmaiada, estava estendida aqui no chão como um cadáver. Porém desde então se passou um ano, e já podemos recordá-lo de coração leve e você já se veste de branco e tem o rosto iluminado. (O RELÓGIO BATE DOZE HORAS) Também, então, o relógio bateu. (PAUSA) Trecho de Três irmãs Para Maingueneau, para compreender o processo de escrita de um texto literário é importante compreender o seu funcionamento e mecanismos, denominados embreagens discursivas. Funcionamento do texto literário Disponível em: https://bit.ly/34BFMYz 31 32 33 34 35 36 As embreagens são o tipo de cenografia que o autor realizará, isto é, o tipo de texto que o autor vai escolher; o tipo de código linguístico, isto é, a língua que o autor vai mobilizar no texto; e o ethos do autor, isto é, a representação do autor ou de personagens numa sociedade. Embreagens discursivas CENOGRAFIA: representação e forma de enunciação do texto. Por exemplo, escrita em prosa e em verso. CÓDIGO LINGUÍSTICO: mobilização da língua no texto. Por exemplo, uso de variações linguísticas em determinada obra. ETHOS LINGUÍSTICO: processo de corporificação dos personagens a partir de suas condutas. Por exemplo, estereótipos em torno de um personagem. Embreagens discursivas O discurso do autor e tratamento editorial O autor tem um papel fundamental na constituição do texto literário, pois ele realiza a gestão do texto, por meio da atividade criadora (paratopia criadora). O discurso do autor Disponível em: https://bit.ly/3HC4TJk Instâncias da paratopia criadora Pessoa EscritorInscritor PESSOA: condição de sujeito do autor (data de nascimento, relações familiares, entre outros). ESCRITOR: relação com a vida pública (grupo de leitores, editoras, eventos, feiras de livros, entre outros). INSCRITOR: construção da obra em sua produção (escrita, materiais adotados, entre outros). Instâncias da paratopia criadora Pessoa EscritorInscritor “Essas instâncias funcionam em interdependência, e só na sua conexão tripla é que definem a autoria: trata-se de um nó borromeano. Em outros termos, trata-se de entender que ‘[...] os escritores produzem obras, mas escritores e obras são, num dado sentido, produzidos eles mesmos por todo um complexo institucional de práticas’” (MAINGUENEAU, 2006, p. 53). 37 38 39 40 41 42 O tratamento editorial fazem parte do processo criativo da escrita e podem ser divididos em três fases: pré-textual, desenvolvimento, pós-textual. Tratamento editorial Disponível em: https://bit.ly/3HCA6Mj PRÉ-TEXTUAL: constitui-se das atividades para a preparação do texto (como se constitui o texto?). DESENVOLVIMENTO: aplicação do processo de preparação da fase anterior (técnicas e mecanismos discursivos). PÓS-TEXTUAL: revisão e preparo textual para a publicação (trabalho do revisor e preparador do texto). Tratamento editorial A autopublicação ou edição independente é um processo que cada vez mais os autores em plataformas de autopublicação gratuitas e em plataformas de crowdfunding optam para divulgação. Edição independente Disponível em: https://bit.ly/3HCA6Mj • Autonomia. • Escrita em redes sociais. • Predomínio da autoficção (João Doerdelein, Ryane Leão, Zach Magiezi, Lucão). • Expansão das noções do texto literário. • Criação de novas redes de circulação e legitimação das obras. Autopublicação Disponível em: https://bit.ly/3GDFZHQ De acordo com as discussões realizadas na aula, é possível dizer que a autopublicação pode ser vista como uma importante estratégia no mercado editorial contemporâneo? Por quê? Disponível em: https://bit.ly/3GDFZHQ Vamos revisar? 43 44 45 46 47 48 Os gêneros na Poética clássica e a Escrita Criativa. Escrita em prosa e escrita em verso. O discurso e o espaço literário. O funcionamento do texto literário. O discurso do autor e tratamento editorial. A Escrita Criativa e as estratégias de autopublicação. Revisão REFERÊNCIAS AZEVEDO, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Martins Claret, 2013. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2000. ELIAS, Kauane. Texto literário. Disponível em: https://bit.ly/3Ymc2FP. Acesso em: 11 de fev. de 2023) MAINGUENEAU, Dominique. Discurso Literário. São Paulo: Contexto, 2014. MELO NETO, João Cabral. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. REFERÊNCIAS MORAES, Vinícius. Soneto de fidelidade e outros poemas. São Paulo: Ediouro, 2002. MOISÉS, Massaud. Dicionários de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004. RIMBAUD, Arthur. Iluminações. Tradução de Janer Cristaldo. Versão Digital: Ebooks do Brasil, 2012. ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o por do sol e outros contos. São Paulo: Ática, 2000. REFERÊNCIAS PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965. TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e linguística. 3. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2011. 49 50 51 52
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