Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Dança Psicologia Social Comunitária: revisitando o IAP de um curso dedançar em uma associação cultural do bairro Dança Psicologia Social Comunitária: Revisitando P.A.R. de uma dança do ventre Curso em uma Sociedade Cultural Local Alejandra Astrid León Cedeno Universidade Estadual de Londrina alejandra@uel.br resumo resumo Desde março de 2008 tenho apoiado o trabalho comunidade artística de uma associação cultural do periferia de Londrina (Brasil), dando aulas de dança árabe para cinco líderes comunitários e, recentemente, para outras jovens também. Este texto ia ser princípio, uma análise psicossocial desse processo, mas o foi tão rico que também inspirou o movimento inverso: revisitando as fases depesquisa-ação participativa (PAR), que é o proposta metodológica utilizada por nas práticas psicossocial da comunidade. Tal revisão foi feita realizado a partir dos ensinamentos dos alunos, o dança e o trabalho do psicólogo social Peter Spink, que centra-se na importância da vida quotidiana e reconstrói assim o que pode ser pesquisa e ação dos psicólogos sociais. proponho fazer uma releitura do IAP a partir de uma psicologia social libertário, enraizado no corpo e baseado no quevida cotidiana, que epistemologicamente se baseia em saberes situados (Haraway, 1995). Desde março de 2008, estou na área artística – trabalho comunitário de uma sociedade cultural em uma favela Londrina (Brasil), ensinando dança do ventre para cinco líderes comunitários e, recentemente, a outras jovens também. Este texto era para ser um psicossocial análise deste processo, mas tem sido tão rico que inspirou o movimento oposto: revisitar e alterar a Pesquisa- Ação Participativa, que é o proposta metodológica utilizada em Psicologia Comunitária. práticas. Esta revisão foi feita com base no que alunos de dança me ensinaram, sobre dança e sobre Peter O trabalho de Spink, que defende a importância do cotidiano vida e reconstrói como poderia ser a pesquisa e ação em Psicologia Social. proponho um libertário psicologia social, fundamentada no corpo e vida cotidiana, e acompanhando a situação de Haraway proposta epistemológica do conhecimento (Haraway, 1995). Palavras-chave: Psicologia comunitária; dança de barriga; Vida quotidiana; conhecimento situado Palavras-chave: Psicologia comunitária; dança do ventre; Vida cotidiana; conhecimento situado Introdução Como qualquer área da Psicologia, a psicologia social comunitária é um conjunto de pluralidades, de Trabalhos tão diversos quanto os locais onde atuam. No entanto, foram construídas diretrizes nas quais vários autores, profissionais e lideranças comunitárias concordam, e que Maritza Montero (1994) sistematiza como princípios teóricos da psicologia comunitária: união entre teoria e prática,transformação social como meta, poder e controle nos membros da comunidade, conscientização, socialização, autogestão e participação. Além disso, há um consenso considerável sobre a importância depesquisa-ação participativa (PAR), desenvolvida por Orlando Fals Borda (e posteriormente por vários autores ao redor do mundo) com base na pesquisa-ação de Kurt Lewin, e que Montero também sistematiza fases não lineares que servem de guia para a ação: familiarização, detecção de necessidades, conscientização, priorização, conquistas e retorno sistemático de informações. Este texto é o resultado de uma difração (Haraway, 1995) desses princípios e não um reflexo de os mesmos. Tal difração ocorreu sob a influência da epistemologia dos saberes situados de Donna Haraway, seguindo a compreensão metodológica de Peter Spink da psicologia social como ação cotidiana baseada na convivência (2003, 2007, 2008) e, principalmente, graças à experiência comunitária de ministrar um ano e meio de curso de dança árabe para mulheres que são mães e Líderes comunitários. O curso teve início em março de 2008 na Associação “Ciranda da Cultura”, a pedido de um jovem mãe que mora no bairro. Desde então dançamos todos os sábados à tarde. este é um espaço muito rico que funciona como um laboratório no qual aprendemos sobre os efeitos transformadores da dança na vida das pessoas: os participantes têm tempo para si, ajudam-se, eles podem se observar melhor e aprender diferentes posturas, mudando na dança e também na vida. O que muda a dança em nossas vidas e nas práticas psicossociais comunitárias? O presente trabalho é uma resposta modesta e situada a esta pergunta. Como diria Haraway (1995), não pretendo falar por esse grupo de mulheres, nem me limitar a observá-lo e analisá-lo, mas sim articular-me com ele e, do nosso trabalho conjunto, me posiciono para conversar com colegas de psicologia social (comunidade) e áreas afins para repensar o que estamos fazendo. Pretendo narrar esse processo de "dança comunitária" e, a partir daí, revisitar e difratar as fases da pesquisa-ação participativo, numa linha relacionada com as obras de autores latino-americanos como Marisela Montenegro (2001), Karla Montenegro (2005) e Antar Martínez (2009). Da mesma forma, proponho escrever esta história em uma linguagem menos formal do que a acadêmica clássica, com a objetivo que meus alunos e outras pessoas de comunidades não acadêmicas possam entender o que aqui é dito e discutir sobre isso como igual para igual. Sobre o lugar e nossa história conjunta Desde 1999, a associação "Ciranda da Cultura" oferece atividadespromoção cultural e de saúde aos moradores de um conjunto de bairros da periferiaLondres (Brasil). Nestes 10 anos, várias pessoas da comunidade coordenaram ou ensinaramcursos artísticos e de saúde física e mental, junto com pessoas da academia, de outras comunidades, associações artísticas ou o serviço de saúde local. Em 2008, por exemplo, cursos de artes plásticas para crianças, dois grupos de breakdance (um para crianças e outro parameninas, ambas organizadas por elas mesmas), alongamentos, trabalho com hipertensos, dança árabe, capoeira, caminhadas em grupo, encontros em grupo com psicólogos, bailes e festas mensais para adolescentes. Quase todas essas atividades continuam hoje. Dois alunos de dança árabe da "Ciranda" trabalham na coordenação deste projeto, nos cursos e em outros projetos comunitários desde sua fundação, e os demais têm vínculo mais recente com essas ações. Todos são vizinhos e realizam atividades voluntárias e/ou remuneradas envolvendo o relação entre mães e filhos e o cuidado destes: trabalham em pré-escolas ou escolas setor, no Ministério da Criança (que acompanha gestantes e crianças de 0 a 6 anos) e no alfabetização de adultos, além de estar na Ciranda. Nestes tempos de individualismo exacerbado e subjetividades capitalistas, diariamente criam fortes relações de ajuda mútua na vizinhança onde vivem e trabalham. As contradições também passam por eles, como todos os seres humanos. Mas eles têm muito a nos ensinar. Apoiei o trabalho da "Ciranda" entre 2001 e 2003 como psicóloga social, participando de um projeto de pesquisa sobre formas de organização comunitária nos 6 bairros deste complexo. Nós fizemos entrevistas e encontros coletivos com membros das 33 organizações comunitárias que estiveram em nesse período, perguntamos quem queria trabalhar mais profundamente conosco e, a partir “necessita detecção”, trabalhei com oito mães de uma pré-escola comunitária em um projeto para construir alternativas comunitárias à violência doméstica, em quatro eixos: um espaço de diálogo sobre própria vida e situação familiar (coletivamente ou cada mãe comigo em particular quando Perguntou); atividades artesanais e a venda de empanadas, que serviam como fonte de renda e Suporte mutúo; atividades de entretenimento gratuitas, apenas para mães ou também para seus filhos; e apoio financeiro à pré-escola com a venda de lixo reciclável ou com a confecção de artesanato. Em 2008 comecei a dar o curso de dança árabe e a coordenar outras atividadescom crianças e adolescentes responsáveis por estudantes de psicologia e moradores do bairro, que frequentaram um curso de capoeira infantil e encontros regulares com adolescentes. Em 2009, a partir do primeiro ano do curso, Surgiram dois projetos conjuntos, solicitados por eles: abrir um novo curso de dança e construir um espaço de reflexão e troca sobre o que é ser mãe, pois serviria para si e para o muitas mães do bairro que às vezes “não sabem o que fazer com os filhos”. A proposta foi construir esta iniciativa horizontalmente e começou em março de 2009 graças a duas delas, outras cinco mães do bairro e quatro estudantes de psicologia que prometeram cuidar espaço. Este é um primeiro aprendizado rico e curioso: os trabalhos da psicologia social comunitária latino- americanos -ou de áreas afins- que conheço trabalham mais com a participação da comunidade, com a solução de necessidades coletivas (ambientais ou de saúde, educação, saúde, autoconstrução, transporte, terra, contenção da violência, etc.) e com produção coletiva para gerar emprego e renda (através de costura ou patchwork, venda de alimentos, artesanato, agricultura, entre outros). A dimensão afetiva, apesar de presente, nem sempre é trabalhada como eixo essencial do trabalho psicossocial comunitário (León e Montenegro, 1998). mesma coisa acontece especificamente com a dimensão familiar. No entanto, a noção de redes sociais e apoio social (Herrero, 2004; Arango, 2003), trabalhada na perspectiva da saúde mental comunitária, vem ganhando força em diferentes disciplinas e aproximando-se das propostas transformadoras do Psicologia Social. Carlos Arango (2003) chega a dizer que após mais de trinta anos de pesquisa sobre apoio social, os pesquisadores finalmente reconhecem que “a dimensão afetiva é o fundamento do social” (p. 86) e que “de uma perspectiva psicossocial não há distância entre laços afetivos e estrutura social, que nos alerta para desenvolver a capacidade de reconhecer como a estrutura social se manifesta na forma como nos relacionamos afetivamente, e vice-versa” (p. 87). No caso da Ciranda, o trabalho diário de transformação social dá grande importância ao apoio dimensão afetiva e familiar: muito do que esses líderes comunitários fazem, em um perspectiva micro, tem a ver com o fortalecimento das relações familiares e o autocuidado, tanto que os cursos ministrados nesta associação são sobre saúde (basicamente através do trabalho corpo) para cuidar de si, e a arte, para embelezar a vida. Epistemologia e método de trabalho com a dança O objetivo final do meu trabalho na Ciranda é apoiar o fortalecimento das subjetividades rebeldes, que construir novas formas de vida e não ficar indiferente ao horror (Sousa Santos, 2007). Eles e pesquisas através de trabalho corporal semanal (no meu caso com dança árabe), conversas da abertura de espaços solicitados pelos participantes para fortalecer as relações familiares e comunidade e ações coletivas que derivam desses espaços. ao trabalho psicossocial acrescentam- se contribuições de outras áreas, corroborando o argumento de Fals Borda (2008), pioneiro da pesquisa-ação participativa, que disse antes de morrer que diversas perspectivas – que constituiu "uma fraternidade de intelectuais críticos" - pôde dar importantes contribuições e complementares para a "libertação dos povos que sofrem com os sistemas de poder opressores". Nesta proposta de trabalho, o que é conhecer e como é conhecido? A resposta vem de Donna Haraway, feminista americana que se situa nas chamadas epistemologias feministas e fala sobre saberes situados. Por que Haraway, se a psicologia comunitária tem fundamentos epistemológicos que até hoje revolucionar a ciência hegemônica? Haraway é feminista e seu olhar traz contribuições que podem enriquecer nossa área. Feministas argumentavam que o pessoal é político, que é necessário reivindicar o corporal e o afetivo, colocando entre parênteses um sistema moral e científico que repousa na racionalidade (Phoca e Wright, 1999). Este, o pessoal-político, o corporal e o afetivo, se reivindica no dia a dia com as mulheres da Ciranda, mulheres pardas, brancas e mestiças, de classe trabalhador, entre 20 e 50 anos, todos com filhos (exceto um adolescente que ingressou recentemente) e ajudar a cuidar de outras crianças, todas envolvidas de uma forma ou de outra com o trabalho comunitário afetivo. Haraway também vem das chamadas “ciências duras”: ela é uma bióloga americana, e diz que trabalha em a “barriga do monstro” (Haraway, 1999). A partir dessa experiência, ele critica fortemente a epistemologia realista que diz que a realidade está fora do observador, que "está lá" independente do observador e que é possível abordá-lo metodologicamente, com procedimentos objetivos e mensuráveis do método científico. Ele critica a neutralidade sem compromisso e diz que ela não se encontra apenas no realismo, mas também no relativismo. Nesse sentido, os saberes situados são uma dupla crítica do realismo e do relativismo. Diz Haraway (1995) que ambos acabam tendo efeitos semelhantes, embora um faça o contrário do outro: o realismo pretende ter um acesso privilegiado à realidade e fazê-lo do nada; a o relativismo é uma maneira de não estar em lugar nenhum fingindo estar em todo lugar. Ambos negam apostas na localização, corporeidade e perspectiva parcial, ambas impedem de ver bem. O A moral é simples: só a perspectiva parcial promete uma visão objetiva” (p. 329). Tem uma multiplicidade de saberes e interpretações possíveis, só que para conhecer profundamente e objetivamente, é preciso posicionar-se, politizar-se, optar por uma interpretação que se construa sobre o relação entre quem “sabe” e quem “é conhecido”. Nem todas as interpretações são válidas; De jeito nenhum mundos são possíveis. Esta não é uma forma privilegiada de acesso à realidade, mas uma interpretação politicamente situada, que se situa no espaço público da academia e do militância a ser debatida. Os insights sobre dança, comunidade e vida dos participantes que estão sendo produzidos são construídas entre nós, localizadas neste tempo e lugar, e se opõem à visão do Olho Divino, do fingir ver tudo do nada. Nessa abordagem, o conhecimento produzido é necessariamente situado, sem uma pretensão universalista, mas podendo ser útil em diferentes situações que parcialmente conectado. Por exemplo, além de trabalhar de forma ativista com danças árabes em Ciranda, foi- me possível fazê-lo num centro social ocupado em Barcelona (León Cedeño, 2006), unir homens e mulheres e em torno de uma causa comum: a luta pela preservação da esse espaço artístico e a denúncia da especulação imobiliária; ou também como forma de aproximação ativistas palestinos e israelenses; ou colocar várias pessoas lado a lado em um serviço público de saúde brasileira, indo além de sua hierarquia cotidiana (médicos, agentes comunitários, pacientes, pessoas da comunidade). A epistemologia do conhecimento situado se propõe a trabalhar em conexões parciais, ou seja, constrói em relação, mas isso não é total: é uma dança entre as semelhanças e a distância produtiva entre os participantes – e todos nós “conhecemos” e “somos conhecidos” mostrando nossa dança e conversando. Uma objetividade incorporada é assim produzida. Objetivamente, podemos ver se um aluno aprendeu ou não a fazer um passo de dança, mas isso não é uma objetividade desencarnada, neutra, asséptica: nós Assumimos a responsabilidade por suas consequências e por ver, além do passo de dança como algo mecânico, o que que está envolvido no corpo e na história de quem ainda não conseguiu aprendê-lo, e em que corpo pode estar significando por esta "dificuldade". Derivado da epistemologia, o método seguido neste trabalho está dentro do quadro campo-tópico metodológico (Spink, 2003), o que implica: a preocupação central com a relação e colaboraçãoentre quem investiga e quem é investigado; o uso de vários métodos simultaneamente, sem se preocupar com sua validação mútua; pesquisa tendo um ponto de partida, mas não um planejamento antecipado da estratégia, construindo junto com as pessoas “investigadas” em um caminhar sem saber realmente para onde está indo e como chegará lá; e seguindo os caminhos de Peter Spink não métodos ortodoxos de narração das investigações, adequados ao tipo de trabalho realizado. O procedimento adotado é dar aulas de dança árabe seguindo o método Rhamza Alli (o pioneiro da dança árabe em Londrina, em cuja companhia danço desde 1998), que trabalha com alongamento, dissociação do tronco, quadril e pescoço, vibrações, ondulações, braços e mãos, passos de dança, coreografia, expressão e manuseio de instrumentos de dança. As aulas são entrelaçadas com conversas sobre questões levantadas pelos participantes ou sobre os efeitos da dança. Essa discussão sobre os efeitos tem a ver com meu próprio processo de leitura da dança à luz do psicologia social e vice-versa. Um autor muito útil para fazer essa transição é Stanley Keleman (1995), pois graças a ele pude descobrir que em nossas aulas passamos metade do tempo em pé em uma postura “aterrada” (enraizada na terra, algo essencial para focarmos); que ocupamos espaços de feminilidade e contato com nós mesmos são praticados por mulheres há milênios (esta é a dança mais antigo conhecido no mundo: tem de 5 a 7 mil anos); que a partir do postura enraizada praticamos detalhadamente as mudanças de postura e depois voltamos ao nosso eixo (é vê muito claramente quem não está focado, e nessas horas é conveniente lembrar de Keleman quando ele diz que as tempestades podem nos desarraigar e nos fazer crescer); que o corpo sabe o que quer e expressa em gestos, então se abrimos espaços em que o corpo pode se expressar e podemos ouvindo, poderemos mudar na dança e na vida. Nossa postura muda ao dançar e ao viver; este é um processo diário que em alguns aspectos pode ser curto e em outros é longo e difícil. Sim relacionamos o que nosso corpo nos diz com nossa vida, o processo é muito mais rico. Vocês Agradeço esse aprendizado ao Grupo Contato (São Paulo, Brasil), coordenado por Tatiana Bichara, que É um exemplo do enorme poder de trabalhar com dança e saúde mental em moldes horizontais. A dança árabe trabalha com diferentes estilos e emoções e todos eles são importantes, dando razão Keleman quando diz que se pulsarmos e variarmos nossa auto-expressão, isso não significa que estamos instável, não confiável, ou que não sabemos quem somos (p. 33). Quando abrimos para correr movimentos e entrando em posturas até então desconhecidas, praticamos uma descontinuidade que é emancipatório: Não há continuidade que não incorpore algum tipo de descontinuidade. viva isso descontinuidade pulsante destrói estereótipos, exige que deixemos o velho e levantemos novos espaços, novas formas, novas conexões. Negar essa descontinuidade é uma tentativa de estabelecer segurança, posses permanentes, uma estrutura social rígido (pág. 33). Resumindo, então, este trabalho se baseia na proposta epistemológica do conhecimento situado (sabemos pela ligação parcial com outras posições, como disse Haraway em 1995), mas o conhecimento não ocorre em nenhuma conexão e sim naquela que nos afeta naquele momento e lugar da posição que ocupamos. Portanto, esse conhecimento localizado, enraizado, afetado e diariamente gera um compromisso que se traduz em ações concretas e exige dedicação para poder existe, mas não uma entrega total e parcial, o que implica espaços de autocuidado como este curso de dança, que ajuda a estabelecer limites, a assumir limitações e a pedir ajuda: "onde eu não chego, Os outros chegam." Essa rendição é uma conexão parcial, politizada, construída. Discutindo este trabalho com os alunos: efeitos dadança e crítica ao Olho Divino dos “interventores” Precisamos parar de pensar em interpretar, analisar e sistematizar, imaginando que podemos oferecer uma melhor interpretação da realidade; em vez disso, vamos nos concentrar narrando o que as pessoas estão nos dizendo e procurando maneiras diferentes de falar sobre questões atuais que podem ser mais úteis do que as que temos (Spink, 2007, p. 566). Seguindo Spink (2007), ao invés de interpretar, analisar e sistematizar, vou me concentrar em narrar duas momentos especiais de conversa com meus alunos, pois eles me levaram para rever criticamente nossa atuação como pesquisadores sociais e pensar o trabalho corporal através da dança como um rico elemento de pesquisa e trabalho conjunto. Neste curso de dança, além de falar diariamente sobre como é a própria vida, o comunidade e projetos, em duas ocasiões conversei com meus alunos sobre as anotações que serviram como base deste artigo. Na psicologia comunitária, isso costuma ser chamado de "devolução sistemática". informação”, mas esse nome soa seco e distante quando comparado à riqueza daqueles conversas e o quanto me fizeram pensar sobre as relações de poder que podemos ser exercício e que, sendo tão diários, são invisíveis. Na primeira conversa, eles destacaram quatro elementos que deram sentido ao curso na ponto de “ter começado como algumas aulas de dança e ter se tornado a mais importante aos sábados. Foram eles: "cumplicidade", "respeito", "poder reclamar" e "isso não é terapia, mas parece, só que é alegre”. Por cumplicidade compreenderam a abertura de um espaço de cuidado de si e do outro, que os ajuda a recuperar do enorme trabalho afetivo que o lar, o emprego e o trabalho comunitário implicam. Eles estavam dizendo: "Tenho um espaço só meu, onde posso estar comigo mesmo, um espaço sagrado para mim." outros textos (sistematizado por Abrão e Pedrão, 2005) registram que a dança do ventre pode produzir benefícios físicas e psicológicas semelhantes às que se relacionam; no entanto, a concepção deste espaço como ação coletiva de ajuda mútua é mais exacerbada aqui do que nas aulas de dança "comerciais". Por exemplo, os alunos se reuniam em outros dias para ensaiar coreografias e praticar movimentos; eu sei emprestavam roupas, maquiagens e acessórios de dança (contrariando a lógica mercantilista de que cada um tem suas coisas); nos vestimos juntos antes de dançar (um pequeno contraste com individualismo e competitividade); quando uma colega teve seu bebê, as outras passaram a ter aulas quinzenais para “esperar por ela”. Eles desenvolveram (entre si e comigo) uma maior proximidade e integração. Ocuparam o espaço pedindo outras coisas: história da dança do ventre, teoria, educação das crianças, dificuldades com as crianças, discussões sobre os efeitos do tráfico de drogas nas crianças e adolescentes ou a concretização do projeto de discussão-reflexão e troca de experiências sobre as crianças. Respeito referia-se a respeitar o ritmo do outro ("sei que tenho dificuldades, mas sou aceito pelos outros"). todos e isso me faz sentir bem e me ajuda a aprender”), para abrir um espaço em que todos nos sentimos aceitos em nossa singularidade (“cada um é de um jeito e aqui desenvolve seu estilo”), para poder praticar algo que de outra forma não poderiam praticar (“essa dança é cara e se não fosse tão nunca poderíamos aprender”) e porque a presença de nossos filhos (eu também tenho o meu) fazer parte da atividade e não atrapalhar: “muitas vezes as mães não podem ir às atividades porque não temos com quem deixar nossos filhos e não podemos levá-los. Aqui estão eles com nós. Eu gosto disso, porque onde meu filho não é bem-vindo, eu também não sou e não quero estar lá”. “Na universidade e nos espaços acadêmicos não se pode levar crianças, incomodam até fique quieto e sem incomodar ninguém.” Se estamos construindo iniciativas acadêmicas ou trabalhistas no que agimos como se as crianças não existissem ou fossem um obstáculo, e com isso dividimosa vida pessoal (privado) do trabalho (público), precisamos repensar qual sociedade estamos construindo para de nossas práticas diárias. As reclamações indicaram que construímos o curso como um espaço para desabafar medos, preocupações, dúvidas e reclamações sobre as atitudes machistas dos maridos; dificuldades em relação pais-filhos, que é uma dimensão que continua a ser mais cuidada pelas mulheres e eles reclamam disso; conflitos na comunidade -quando existem- devido à violência, uso abusivo de drogas ou tráfego. Aqui é pertinente lembrar Arango (2003) quando diz que não há distância entre a estrutura vida social e afetiva e recomenda estudar como uma se manifesta na outra. Esses Os conflitos cotidianos localizam-se em um lugar específico, mas também se deslocam para outros lugares. O machismo, dificuldades na relação pais-filhos, violência, uso de drogas e tráfico de drogas não se restringe às áreas pobres do Brasil ou da América Latina: eles atravessam várias classes nas sociedades do chamado Primeiro e Terceiro Mundo. Ao dizer que esse espaço parece terapia, mas é alegre, eles se referiam ao fato de que “os psicólogos já trabalho aqui e me senti agredido e me defendi, e a gente não vem aqui para fazer terapia, mas para fazer os movimentos que vemos se estamos abertos ou fechados, se alguém não está bem, o que é que nos custa mais"; “Na terapia eu saía chorando porque me sentia inferior, tinha mais dificuldades que os outros, e aqui Encaro de uma forma mais leve, aprendi a me ver no espelho, estou pronta para dançar público, mesmo que me assuste”. Também neste momento, outra possibilidade que o curso tem fortalecido é a de percebem suas próprias inseguranças e trabalham nelas com linguagem simples. Por exemplo, digamos que são "algumas rainhas" e que "rainhas não olham para o chão" e "nunca se apressam". Uma delas me disse que tinha gostou dessa metáfora e a levou para outras áreas de sua vida: “se sou rainha, minha casa é meu palácio”, ela disse, insinuando que da segurança e leveza de ser uma rainha ela poderia olhar profundamente suas dificuldades e medos, trabalhando até diluir e, ao mesmo tempo, aperfeiçoando seus movimentos. Outras frases que servem de exemplo são: “a gente já sabe que você é um guerreiro, mas aqui você pode desarme e deixe a armadura do lado de fora”, ou “você é como carregar o mundo nos ombros!”. As meninas riem, se olham e se soltam, e eu também. Isso pode parecer trivial, mas não é: Eles, como líderes comunitários comprometidos, sofrem muita pressão e frustração que às vezes é expressa corporalmente e que este curso os ajuda a observar, elaborar e compartilhar. Nesse sentido, trabalho com uma visão crítica das formas de poder, dominação e controle que passam nossa vida diária. Por exemplo, critico versões comerciais com dança do ventre como mera sedução dos homens, reproduzindo assim a lógica do homem que deseja e da mulher que é o objeto, cujo "destino" deve ser observado pelo olhar masculino, e que aprende cedo que não gosta do próprio corpo, para que possa ser uma boa consumidora da indústria da beleza beleza: dietas, moda, academias, cirurgias plásticas, maquiagem, cremes, vitaminas. Assim, considero queeste curso trabalha com um processo de aceitação do próprio corpo - algo que parece tão simples, mas que pode ser tão profundamente subversivo e difícil, particularmente no Brasil, onde é praticado exacerbou o culto do corpo escultórico. Neste ponto, é importante lembrar que as feministas não apenas reivindicar o corpo, mas também criticar as formas de compreensão do corpo feminino de sociedade patriarcal, baseada na racionalidade científica (Pujol, Montenegro e Balasch, 2003). Na segunda reunião para discutir uma primeira versão deste texto, surgiu um tema difícil e fundamental a ser discutido: o preconceito, especificamente o preconceito vindo da academia e da alguns profissionais formados em instituições universitárias. Disseram que a academia "fala outra língua, e se você quer chegar lá, você tem que conseguir aprender a falar aquela língua que é muitodifícil, e nossa linguagem parece inútil ali; parece que eles não querem aprender conosco”. Desabafaram dizendo que estavam fartos de tantos preconceitos: “como se não bastasse ouvir isso a gente mora num buraco, que aqui todo mundo é bandido, que todo mundo é bandido, que coitado nós, existem vários professores da pré-escola e da escola do bairro que pensam o mesmo; vão a trabalham com roupas muito caras, selecionam as crianças mais bem vestidas ou as mais brancas e discriminamsutilmente para outros que podem precisar de mais atenção.” “Na escola quase todos os professores Eles chegam de carro e, com medo de serem roubados, os estacionam no pátio da escola. De não há recreio e as crianças passam o dia todo sentadas. E quando as aulas de educação física chegam e a professora vai passear com as crianças pelo bairro, eles falam pra ele que é um absurdo, que é ruim professor e que arrisca a vida das crianças. “O mais triste é que essas pessoas gastam em concursos audiências com um discurso de igualdade, diversidade, respeito às diferenças. E provavelmentetenha boas intenções quando você vier. Mas eles fazem mais mal do que bem." “Não esqueço quando o universitários e ficaram impressionados porque nunca tinham visto uma favela, e entendemos que não é culpa deles não ter nascido aqui nem ter vindo para cá; o que não cabe no cabeça é que eles não querem saber que isso existe”. Ao fazer essa crítica, meus líderes da comunidade estudantil denunciaram, sem conhecer essas palavras, o Ojo A ciência divina e desencarnada criticada por Haraway (1995). Eles denunciaram o sentimento interveio “perturbados”, separados epistemologicamente dos pesquisadores “especialistas” que têm a conhecimento para “aconselhá-los” a melhorar suas condições de vida – nas palavras de Montenegro, 2001, e Montenegro, 2005, para se referir à intervenção social a partir de perspectivas participativo. Essa separação epistemológica pode ser sutil ou implícita: um dos meus alunos de dança, com grande experiência nesta área, afirmou que "a fala que eles têm (certos professores) é muito legal, mas na hora de agir, surgem muitos preconceitos”. Como esses autores discutem, aqui os alunos denunciam que os "intervindos" são definidos como ser "culpado": todas as pessoas do bairro seriam vistas como bandidos, bandidos, vulneráveis, com famílias desestruturadas, "coitadinhos". Professores e profissionais viriam para “salvá-los” proporcionando- lhes educação e oportunidades que "deixaram" e que por isso poderiam ceder abundância. Simultaneamente, estariam encarnando uma hierarquia na qual são superiores (por manter carros no pátio da escola ou usar roupas caras para ensinar) e brincar medos (dos “bandidos e bandidos”) e preconceitos (contra crianças mais pobres, crianças mais negras ou aqueles que são mais sujos) que contribuem para que essas pessoas sejam colocadas como "culpadas" e com as quais as acções educativas ou de intervenção social continuam a justificar-se. Karla Montenegro argumenta que os "intervindos" que estão "desnecessários" recebem o que lhes falta (neste caso, educação, disciplina ou higiene), enquanto os chamados intervenientes "permanecem estáticos e inalteráveis: suas fontes de saber e poder parecem inesgotáveis” (Montenegro, 2005, p. 63). Com esta reclamação, nem eles nem eu pretendemos menosprezar a importância da educação pública, nem dizer que todas as experiências de intervenção constroem as pessoas do bairro de forma pejorativa. A política educação pública, saúde e seguridade social são direitos que devemos reivindicar e aprofundar. Sem No entanto, é chocante ver quantas pessoas vão educar ou "fazer intervenção social" acreditando que ele está indo muito bem e suas ações podem gerar tantos efeitos perversos. Como diz Montenegro (2001), um perigo de trabalharcom intervenção social é assumir que é bom para definição. Ouvindo meus alunos, eu tinha mais certeza do que eu queria fazer profissionalmente – e escrevendo neste artigo - foi colocar um amplificador nesses comentários e que muitas pessoas que que trabalham com projetos sociais pudessem ouvi-los. Mais do que esquadrinhar a vida dos alunos analisando o que dizem e fazem, queria me dirigir a alguém que trabalha em psicologia comunitária e áreas afinidades de olhar para dentro e repensar o que fazemos. Revisitando a psicologia social comunitária Embora trabalhemos de forma mais democrática, na pesquisa-ação a ciência continua a ser especial (...) Reason e Bradbury disseram que uma intenção primária de pesquisa-ação é produzir conhecimento prático que é útil para as pessoas na condução diária de suas vidas, mas as pessoas não precisam de apoio para produzir conhecimento prático: faz parte do processo de viver” (Spink, 2007, p. 571) Depois de ouvir esses argumentos duros que ajudamos a construir treinando profissionais ou "intervindo" diretamente, proponho refletir sobre os princípios teóricos e práticos da psicologia comunitária a partir de contribuições do "cotidiano ativista" e do "cotidiano acadêmico". Do "cotidiano ativista", reivindico o que esses alunos me ensinam, bem como as lições aprendi com pessoas de outros grupos rebeldes (alguns deles contados em León Cedeño, 2006, 2007). Do "cotidiano acadêmico", reivindico a epistemologia de Haraway e o trabalho A abordagem teórico- metodológica de Spink, que defende a importância de estudar o cotidiano, revisá-lo e alterá-lo, porque é aí que nossas vidas acontecem (Spink, 2008). Na dimensão cotidiana é onde o que é quase invisível pode aparecer; É onde podemos ver se dia a dia estamos exercendo preconceitos como os mencionados pelos alunos, construindo as pessoas das comunidades populares como "pessoas necessitadas" e nós como profissionais "excedentes" (Montenegro, 2005); é onde podemos rever nossas pequenas ações todos os dias. Graças às reclamações dos alunos e aos textos citados anteriormente (como os de Montenegro, 2001; Montenegro, 2005 ou Balasch, León e Montenegro, 2003), posso criticar a construção de dois grupos de pessoas, que seriam diferentes uns dos outros e internamente homogêneos: os “agentes externos” (investigadores-intervenientes, com conhecimento científico) e os "agentes internos" (investigados-intervenientes, com o conhecimento popular). Embora em perspectivas participativas como a psicologia comunidade e educação popular afirma-se que os agentes internos são também pesquisadores e coconstrutores de conhecimento, a criação desses dois “blocos” gera efeitos de pessoas “em excedente” e pessoas “desnecessárias”, e mostra o que Spink (2007) chama de cisão epistemológica entre investigador e investigado. A pesquisa parte de duas entidades: “você” e “eu”, não de “nós”. Spink defende a importância de começar por “nós”. Não um "nós" que elimina nossas diferenças, que esconde conflitos ou nos idealiza: como diz Martínez (2009), os entrevistados não são os mesmos Eles não precisam ser para nós, e as pessoas da comunidade não são homogêneas. Este "nós" refere-se a uma dimensão coletiva, de seres humanos que são diversos, mas que temos em comum um horizonte de transformação e podemos trabalhar juntos buscando nos aproximar dele. Diz Spink: “por que Por que insistir que somos diferentes dos outros? Somos capazes de reconhecer que estamos aqui, com os homens e mulheres cozinheiros, encanadores, bombeiros, herboristas, líderes comunitários e outros, simplesmente como mais uma parte de um esforço coletivo para construir utopias?” (2007, p.572). Para Spink (2007, 2008), então, o conhecimento gerado pela psicologia social é um conhecimento mais e não um saber especial, muito menos superior, "de sobra". Construir conhecimento juntos outros, conversando, passando tempo juntos, vivendo juntos, debatendo, atuando. Esta posição é semelhante a o de Haraway, quando diz que o saber se dá graças ao contato ou conexão parcial com outros posições, trabalhando juntos sobre o que nos afeta neste encontro e assim construindo um conhecimento localizada, uma objetividade incorporada, posicionada. Essas premissas podem servir para redescrever o IAP em seu cotidiano, pois é justamente nele que onde emergem as contradições do "belo discurso", como denunciaram meus alunos. O a transformação social é também a autotransformação que ocorre nos relacionamentos. Portanto, o transformação social proposta pela psicologia comunitária - e outras áreas que trabalham com pesquisa-ação participativa - também implica revisar e reinventar nosso trabalho repetidamente, dos encontros que indicam contradições, verticalidades, Ojo Divino. Como diz Keleman (1995), quando vivenciamos outras posturas e movimentos vivenciamos uma descontinuidade que é emancipatório. As microtransformações que proponho, então, referem-se a revisar as fases de Pesquisa-Ação Participativa (familiarização ou constituição da equipe, detecção de necessidades, conscientização, priorização, conquistas, retorno sistemático de informações), pensando no seu cotidiano e enraizando-os no corpo para torná-los cada vez mais libertários. Para avançar nessa direção, Peter Spink argumenta que pode ser muito mais útil trabalhar fortalecer as iniciativas existentes em vez de nos dedicarmos à criação de novos grupos, o que em teoria poderia ser muito bom, mas que ninguém do local pediu (e criar novos grupos é algo que o psicólogos sociais e outros profissionais da área social que temos por hábito). trabalhar de maneira mais útil -e enraizada, diria Keleman-, Spink propõe passar um bom tempo conhecendo são: o local, suas organizações, suas iniciativas formais ou informais, suas formas de atuação, suas formas de falar, as pessoas que ali vivem ou trabalham, suas histórias e ações, seus desejos e precisa. Este último pode ajudar a redescrever a "constituição da equipe" que funcionará, porque às vezes é pertinente que seja negociado e instituído, mas às vezes já está constituído (ou é formalizado para "incluir" o agente externo ou "agradá-lo") e outras vezes é muito mais informal e difusa do que a "constituição da equipe" proposta na psicologia comunitária. Se traduzirmos Spink em chave psicossocial comunitária, familiarização, que segundo Montero (1994) seria a primeira fase da pesquisa-ação participativa, pode ser mais lenta e profunda, seguindo algo como o que propõe o movimento “slow food” versus “fast food”: ter tempo para nos conhecermos melhor, nos aproximarmos e assim trabalharmos melhor e construirmos relacionamentos afetivos, pois se formas de se relacionar constroem a estrutura social e vice-versa (Arango, 2003), para mudar nossas sociedades devemos também mudar as formas de nos relacionarmos, e para isso temos Para saber mais. Mesmo quando temos pouco tempo para realizar o projeto, devido a limitações institucional ou não, você pode trabalhar menos tempo seguindo os mesmos princípios. Da mesma forma, mesmo que uma iniciativa tenha anos, em tempos de crise é necessário familiarizar-se intenso, para estreitar os laços entre as pessoas e se envolver mais com o projeto (eu ministrado pelos membros do Centro Social Ocupado Les nauS e contei-o em León Cedeño, 2006). A familiarização é a fase maior e mais profunda, diria infinita, e a familiarização através da dança ou de outras manifestações artísticas traz grande riqueza ao trabalho, pois nos permite criar raízes, nos desenraizamos (quando precisamos) com uma rede de apoio e nos conhecemos movimento, aceitando nossas limitações e as dos outros e criando coletivamente a partir nossas facilidades e dificuldades. Mas não vivemos só de arte: psicólogos sociais fundamentalmente agimos falando (Spink, 2008). Não afirmo que todos os psicólogos os membros da comunidade têm que dançar, longedisso, mas me interessa destacar a dimensão corporal que só começou a ser resgatado na psicologia social a partir de meados da década de 1990 (Pujol, Montenegro e Balasch, 2003). Interessa-me que, quando for o caso, a dança possa ser considerada como uma oportunidade de trabalho e não como uma atividade menor, banal ou meramente recreativa. é vital defender a dança e a conversa como dois momentos de um mesmo processo e especificar a "tradução" do que a dança nos traz para que possamos esclarecer quais são nossos movimentos e gestos expressar e o que a dança pode nos proporcionar. A detecção de necessidades, como bem diz Martínez (2009), pode ser redefinida se a entendermos como uma rede de conversas para entender os desejos das pessoas com quem trabalhamos e de nós mesmos eles mesmos, com base no potencial das pessoas e não em suas deficiências. consciência, para tornar-se um conceito mais cotidiano, implica que somos afetados por coisas pequenas, muito pequenas coisas, e isso pode mudar nossas visões e ações: fazer lição de casa com as meninas debaixo de uma árvore, almoçar com alguém do lugar que nos convidou para sua casa, conversar enquanto saímos do bairro em ônibus, varrer, limpar, esfregar ou cozinhar juntos, dançar juntos, respirar juntos, trocar confidências, viva mais. É a conscientização de todos os envolvidos e ocorre de diferentes formas para cada um, formas que precisamos expressar e ouvir, e fazemos isso falando para medir que trabalhamos juntos diariamente. Nesse sentido, a priorização e as conquistas podem ocorrer de forma decisiva em momentos chave para o processo, mas também podem ocorrer dia após dia, quando priorizamos parar de dançar e falar sobre a frustração para as pessoas que não vêm, ou sobre as dificuldades com os filhos ou o casal, ou sobre as alegrias da festa comunitária organizada na semana anterior, ou sobre o vizinho que está prisioneira e deixou seu bebê sem leite materno. E ação é tudo, como já dizia Nietzsche. Não não vamos necessariamente vê-lo apenas em um momento, “o momento das realizações”, mas através todo o processo. O IAP clássico seguiu a proposta de realizar planejamento, execução e avaliação (Martínez, 2009), uma receita ocidental que parece ter sido cooptada pelo Banco Mundial, mas se o ação ocorre ao longo do processo comunitário, nem sempre ocorre com esses três momentos, ou neste pedido. Da mesma forma, o retorno sistemático de informações pode ocorrer em todo o nosso reuniões, de uma forma mais informal, embora também existam momentos mais formais em que Vamos ouvir o conhecimento das pessoas do lugar e dar-lhes um relato, história, vídeo ou mural que narra o que fizemos juntos. Da minha convivência com os alunos de dança e com outros grupos, defendo a utilidade de posicionam-se em uma ética que segue Haraway (1995) e em uma posição metodológica influenciada por Spink e consistente com Haraway, porque pensar epistemologicamente de forma situada e a partir do encontro nos leva metodologicamente a construções mais libertárias e, digamos, "desordenadas", porque partem do trabalho conjunto, da convivência. Às vezes eles ocorrem no evento e não no planejamento, execução e avaliação propostos pelo IAP mais clássico. Existem processos que você não sabe o que eles vão ser ou como eles vão sair, ou atividades que são planejadas e saem de uma maneira totalmente diferente do que planejadas, ou ações que variam e outras que seguem um planejamento prévio. O trabalho psicossocial comunitário não é apenas um conjunto de reuniões e a "criação da equipe" que implica uma concepção mais fechada do grupo: também podem ser pessoas que entram e saem, são vários grupos em um, é comer juntos ou dançar juntos ou trabalhar juntos. E trabalhando desta forma mais soltos e menos classicamente “científicos” pagamos um preço: como diz Spink (2007), podemos ser julgados pela comunidade acadêmica “como outsiders, como ativistas que fingem ser cientistas, ou como pessoas de bom coração, mas metodologicamente insanas” (p. 570). Historicamente, quem trabalha com IAP foi marcado com esses adjetivos por cientistas positivistas. O IAP menos planejado, então você provavelmente receberá ainda mais críticas, mas em certas práticas isso faz muito sentido. Não em todos: seguindo Haraway, esta não é uma proposta universalista, mas uma perspectiva parcial que nos permite enxergar bem em determinados processos. Como podemos utilizar o PAR incorporando propostas metodológicas mais “frouxas” quando necessário? necessário? Dentro do quadro metodológico do campo-tópico (Spink, 2003), e com base na formação teórico-metodológica do IAP, propus um método de trabalho provisoriamente denominado “intercâmbio construtiva” (León Cedeño, 2006, 2007), que se refere ao apoio à auto-organização de grupos trabalhando em conjunto com eles e ajudando-os no que for possível e no seu interesse. O a troca construtiva se baseia em três princípios: ajudar sem atrapalhar, trabalhar por meio da troca e ajudar a fortalecer a rede afetiva dos grupos na medida em que julgarem conveniente. Tal princípios têm se mostrado úteis neste curso de dança e no trabalho conjunto com vários grupos de diferentes localizações geográficas (León Cedeño, 2006). Epistemologicamente, a troca construtiva é Harawayan: ela responde ao que sabemos no reunião entre cargos, trabalhando em conjunto. Agora, na prática, isso pode significar formas tão variadas que talvez seja inútil e incoerente querer esboçar uma receita. E talvez não não faltam, pois a proposta não linear de fases do IAP é muito útil (servem como guia de ação para muitos profissionais) e pode ser "cotidiano": com a ideia de uma familiarização mais longa, que proposta é realocada parcial ou totalmente, dependendo de cada caso. Mas troca construtiva e seus três princípios podem permear todo o processo, independentemente de seguirem ou não as fases do IAP e além das atividades realizadas e das particularidades de cada experiência, pois é um forma flexível de trabalhar que responde a uma epistemologia comprometida, traduzida em ações concreto e situado. No caso do curso de dança, uso esses três princípios no dia a dia. Eu tento ajudar sem atrapalhar. fortalecendo as formas de trabalho da Ciranda, trabalhando em atividades que atendem e interessam a todos e ouvindo o máximo possível para que possam definir e reformular as regras de funcionamento do curso de dança e dos encontros de mães. Trabalho por intercâmbio oferecendo atividades que interessados e ter o privilégio de poder discutir meus aprendizados com eles e escrever este artigo que está escrito assinado por mim, mas que foi vivido coletivamente. E ajudo a fortalecer a rede afetiva entre eles conversando, dançando, levando meu filho e meu marido para brincar com seus filhos, participando em outras atividades que organizam com muito empenho e abrindo com eles esses espaços de possibilidades em que nos conhecemos mais profundamente e lançamos bases firmes para um trabalho enraizado Finalmente, quero repetir que esta tem sido uma forma incrível de familiarização. Do que o estudantes de dança me disseram que eu podia ver como podemos ser arrogantes e excludentes na vida cotidiana sem realizá-lo. Como acadêmicos, podemos excluir os filhos daqueles com quem trabalham e depois reclamam por que não vêm às reuniões para cuidar da casa e dos filhos, ao invés fazer atividades conjuntas ou que as incluam de alguma forma. Como acadêmicos podemos ter um belo discurso sobre igualdade, diversidade, trabalhar com as diferenças, podemos acreditar e continuar exercendo nossos preconceitos, nossa separação Sujeito-Objeto, nosso Olho Divino, exercitando uma Psicologia Social da Distância e simultaneamente defender posturas que optam pela rendição construir novas formas de vida. Eu quero uma Psicologia Social do parto, do conexões parciais, a partir da ação conjunta;uma psicologia libertária que busca a transformação social que é também pessoal, que se enraíza no corpo e na vida cotidiana, nas formas como falamos, ouvimos e suportamos fisicamente as consequências de nossas palavras. E os os princípios psicossociais comunitários nos ajudam, sempre mais revisitados; mas os três princípios metodológicos de troca construtiva percorrem toda esta discussão; Eu os sigo e eles podem parecem óbvios, mas aqui são essenciais: ajudar sem atrapalhar, trabalhar por meio de trocas e ajudar fortalecer a rede afetiva dos grupos na medida em que julgarem pertinente. Se ouvirmos o pessoas com quem trabalhamos, elas nos mostrarão como podemos trabalhar de forma ética e útil para criar cada vez mais espaços de intensa vida e resistência.
Compartilhar