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Introdução As lesões de classe V são todas aquelas localizadas no terço cervical, tanto de dentes anteriores quanto de dentes posteriores, seja na arcada superior ou na arcada inferior. Existem dois tipos de lesões de classe V possíveis de serem encontradas: as cariosas e as não cariosas, que são as lesões de classe V que mais estão ocorrendo atualmente, muitas vezes sendo ocasionadas por hábitos alimentares. Atividade das Lesões Cariosas Podemos encontrar dois tipos de lesões cariosas, que são as lesões de cárie crônica (lesões estáveis, mas que estão presentes) e as lesões de cárie ativa. Quando se está diante de uma lesão de cárie, independentemente de ser cárie ativa ou cárie crônica, deve-se proceder com a sua remoção. Embora a lesão de cárie crônica seja estável, a qualquer momento, bastando o paciente ter uma queda de imunidade, ela pode ser reativada. Por conta disso é preciso remove-la. Adequação do Meio Oclusal Quando se tem várias lesões de classe V é preciso fazer a adequação do meio bucal, que consiste no preenchimento de todas as cavidades com cimento de ionômero de vidro, em um primeiro momento, e, posteriormente, com a restauração de cavidade por cavidade. Isolamento do Campo Para as lesões de classe V pode-se fazer dois tipos de isolamento: o isolamento relativo e o isolamento absoluto. O que vai definir se vai ser um ou outro é o tipo de cavidade. O isolamento relativo na classe V é feito com a introdução do fio retrator no sulco gengival com muito cuidado, pois incomoda bastante o paciente. Além disso, se o fio retrator for colocado de forma agressiva no sulco, pode-se romper as fibras do ligamento periodontal da região do fundo de sulco. No caso do isolamento absoluto se utiliza o lenço de borracha e o grampo 212 (que foi desenvolvido especificamente para lesões de classe V, pois é um grampo retrator, ou seja, promove a retração gengival para que seja possível visualizar a margem da cavidade). Normalmente, por ter sua parte ativa mais fina, o grampo 212 não possui uma boa estabilidade. Por conta disso, muitas vezes é necessário estabilizar o grampo ao elemento dental com godiva, como mostra a imagem a seguir. O grampo 212 (imagem 1) possui duas garras voltadas uma para a outra, na região em que se encaixa ao dente. No entanto, se observou que quando se alterava o posicionamento dessas garras se conseguia uma melhor estabilidade, gerando o chamado grampo 212 modificado (imagem 2). Outra modificação, que é possível ver na imagem anterior, é a divisão do grampo 212 ao meio, que facilita a sua utilização. Para o isolamento relativo, por sua vez, existem vários tipos de fio retrator disponíveis no mercado, com diferentes espessuras: 000, 00, 0, 1 e 2. Para selecionar o fio retrator a ser utilizado se aplica um jato de ar no sulco gengival, de forma que se observa o quanto de profundidade tem. A introdução desse fio no sulco gengival nunca deve ser feita com o auxílio de instrumentais pontiagudos, como hollembacks ou sonda exploradora. Deve-se utilizar um instrumental de ponta romba, que pode ser a espátula de resina ou o instrumento para fio retrator, pois diminui os danos à gengiva durante a introdução do fio. Como se pode visualizar na imagem a seguir, o fio retrator promove uma isquemia na região do sulco gengival. Isso acontece em virtude da adição de um hemostático na sua composição, que serve justamente para evitar sangramentos em decorrência da sua inserção. Restauração de Classe V Remoção de Tecido Cariado e Restauração Após a realização do isolamento, remove-se a dentina cariada, tendo cuidado para não confundir com a dentina reacional, que possui uma coloração castanho- amarronzada. Feito isso, os passos seguintes são relativos ao sistema adesivo, com o condicionamento ácido, controle de umidade e aplicação do adesivo. Em seguida se aplica a resina, da mesma forma que nos demais modelos de restauração (em incrementos). Com relação ao acabamento e polimento, as restaurações de classe V, mais do que qualquer outra, devem ficar extremamente lisas e polidas. Deve-se estar ciente de que a margem está no sulco gengival e, se não estiver muito lisa e polida, pode promover o acúmulo de biofilme, gerando sérios problemas periodontais. Para evitar colocar novamente o fio retrator em uma nova sessão, pode-se aproveitar o momento da confecção da restauração e fazer logo o acabamento e polimento. Para a realização do acabamento e polimento o ideal é utilizar os discos de lixa, removendo com muita delicadeza todo excesso que tiver na região cervical. Utiliza-se sempre a sequência completa de discos, iniciando pelo mais grosso e indo até o mais fino. Embora o disco de lixa mais fino já promova um certo polimento à restauração, ainda assim se deve fazer o polimento com disco de feltro e pasta diamantada, pois essa restauração, em termos de lisura de superfície, é mais importante do que qualquer outra. Situações Especiais As situações especiais são aquelas em que o protesista solicita que a restauração de classe V seja feita com amálgama de prata. Isso ocorre porque muitas vezes nessas regiões irão se localizar os grampos das próteses parciais de resina. O procedimento nesses casos tem como primeiro passo o preparo da cavidade, que é diferente das restaurações feitas com resina. Enquanto que nas restaurações de resina a remoção de tecido se limita ao que foi afetado irreversivelmente pela cárie, nas restaurações de amálgama é preciso fazer o preparo cavitário retentivo. As paredes circundantes da cavidade devem ser ligeiramente expulsivas, enquanto que a parede axial deve ser convexa. Além disso, é preciso fazer retenções na cavidade, pois as cavidades de classe V já possuem uma dificuldade em ficarem retidas e o amálgama sem essa retenção corre ainda mais risco de cair. Para a confecção das retenções pode-se utilizar dois tipos de brocas: Cone invertido n° 33 ½ - A face plana dessa broca faz com que não se perca a regularidade da parede axial, podendo ser apoiada sobre a face sem promover desgastes; Esférica n° ¼ e ½. A retenção é o ultimo procedimento feito no preparo da cavidade e deve-se tomar cuidado para que ela não seja feita às custas da parede axial, pois ela está voltada para a câmara pulpar. Dessa forma, a retenção deve ser feita nas paredes oclusal e gengival. Características da Cavidade Ao final do preparo se deve verificar se a cavidade está com as características adequadas para receber a restauração de amálgama, que são: Parede axial convexa; Paredes circundantes ligeiramente expulsivas; Ângulo cavo superficial nítido – Toda vez que que trabalha com amálgama esses ângulos devem ser nítidos, não podendo ser biselados; Retenções nas paredes gengival e oclusal. Confecção da Restauração Para se realizar uma restauração de classe V com amálgama é preciso utilizar uma matriz, pois quando o amalgama é injetado na cavidade a tendência é de que ele caia. Dessa forma, a matriz de Parula é a mais indicada para que seja possível aplicar e condensar o amálgama sem que ele caia na cavidade do paciente. A matriz de Parula, que também é chamada de matriz frenestrada, cria uma janela para o local onde o amálgama deve ser colocado. Para a obtenção dessa matriz é necessário ter as fitas de 5 e 7 mm, além de uma pinça porta-agulha, que é utilizada para posicionar a matiz ao redor do dente, demarcando o tamanho do contorno do dente. Após isso, essa matriz é retirada, ainda pinçada, e, com o alicate n° 141 da ortodontia, se pressiona a frente na frente do porta-agulha, em um lado e no outro. Feito esses passos se tem uma matriz chamada de matriz rebitada, que é um tipo de matriz individual que também pode ser utilizada na confecção de restaurações de amálgama de classe II. Essa matriz de rebite é transformadaem uma matriz de Parula com o auxílio de uma ponta cilíndrica. Para isso, coloca-se a matriz rebitada no dente em questão e, com a ponta cilíndrica se sente o local do preparo. Posiciona-se a ponta no centro do preparo e realiza a perfuração da matriz, circundando o preparo até que se faça toda a janela. Feito isso, coloca-se as cunhas de madeira e o amálgama passa a ser inserido em pequenas porções, pois é preciso condensar bastante o material para que ele fique bem adequado à retenção adicional. À medida que se vai chegando à superfície da cavidade se vai aumentando o diâmetro do condensador. Terminada a condensação do material, a matriz é removida através do corte feito na região entre ela e o dente. Além de remover a matriz, deve-se remover também as cunhas de madeira. A partir disso é feita a brunidura inicial, também chamada de pré-brunidura. Em seguida é feita a escultura, que nas classes V basicamente se restringe à bossa, que é um detalhe anatômico que impede que o alimento atinja com muita força a região periodontal durante a mastigação (por isso é importante devolver essa anatomia). Em seguida se checa as margens da restauração, que é uma etapa muito importante, principalmente nas regiões subgengivais. Além disso, realiza-se a brunidura pós-escultura. O acabamento e polimento deve ser feito com no mínimo 24 horas após a confecção da restauração. Essa etapa tem como objetivo promover uma superfície o mais lisa por filme, para que não se tenha acúmulo de biofilme. Além disso, nessa etapa também se refina a escultura. Com isso se melhora o desempenho clínico da restauração. O acabamento pode ser feito por meio de duas técnicas. A primeira delas utiliza borrachas abrasivas, onde a marrom faz o acabamento, a verde faz o polimento inicial e a azul faz o polimento final. A outra técnica consiste na utilização das brocas multilaminadas para acabamento e polimento específicas para amalgama (12 lâminas). O polimento nessa técnica é feito com a seguinte sequência de pastas: pedra pomes, branco de Espanha e óxido de zinco. Tratam-se de técnicas destintas: ou se faz uma ou se faz outra. As taças de borracha são muito mais caras (utiliza um kit para cada paciente, pois se desgastam). Além disso, a utilização das multilaminadas em associação com as pastas promovem um resultado melhor, pois promovem uma lisura de superfície e polimento muito melhor com o polimento feito com a sequência de pastas. Lesões Não Cariosas As lesões não cariosas podem decorrer de três motivos: Erosão; Abrasão; Abfração. Para que se possa fazer um bom tratamento para o paciente é necessário primeiro diagnosticar. É preciso saber diante qual tipo de lesão se está trabalhando, pois, para esses tipos de lesão de classe 5 não basta apenas restaurar. É extremamente importante que se remova o agente etiológico, o que só pode ser feito a partir do conhecimento acerca dele, daí a importância de fazer o diagnóstico entre essas 3 lesões. Abrasão A abrasão é uma lesão ocasionada por um desgaste mecânico, normalmente em virtude da escovação com força acentuada. Para que se faça o diagnóstico diferencial dessas lesões é importante notar que, por normalmente decorrerem da escovação com força acentuada, elas costumam aparecer em grupos. Por exemplo, quando o paciente escova com força no lado direito, as lesões de abrasão se apresentarão em vários dentes do lado direito e não em apenas um dente. Normalmente, pessoas destras costumam apresentar mais dessas lesões no lado direito, enquanto que pessoas canhotas apresentam mais no lado esquerdo, em decorrência da força empregada na escovação. Abfração As lesões de abfração acontecem na maioria das vezes em um único dente, em virtude da sua etiologia. A abfração é ocasionada por contatos prematuros. Quando se tem contato prematuro, ao mastigar, uma força oclusal excessiva será direcionada para o dente em questão, pois ele será o primeiro dente a tocar durante a mastigação, recebendo grampe parte da força exercida durante o ato mastigatório. Em decorrência dessa força muito grande empregada, os prismas de esmalte, na região cervical, tendem a se soltar. Como no terço cervical há pouco esmalte, a espessura de prismas de esmalte é muito fina. Conforme esses prismas de esmalte vão se soltando, promove-se lesões em forma de V ou de cunha. Além dos contatos prematuros naturais, a abfração também pode ocorrer em virtude da perda de um elemento dental, que promove uma movimentação dos demais elementos dentários do paciente. Dessa forma, pode ocorrer uma alteração na mordida normal do paciente, ocasionando um contato prematuro com dentes que sequer foram restaurados. Erosão A erosão é o resultado físico de uma perda patológica, crônica e localizada, que se dá quando o tecido dental duro é submetido quimicamente a ataques ácidos. É comum ver muitas lesões de erosão na face palatina dos dentes de pacientes que possuem refluxo forte/constante. Tratamento O tratamento dessas lesões consiste, primeiramente, no controle do agente etiológico. Em segundo lugar vem o emprego de um dessensibilizante, pois algumas lesões de classe V onde ocorre a exposição da raiz (muitas vezes por conta de uma retração gengival) nem sempre permite a aplicação da resina composta. Por outro lado, há situações em que o tratamento restaurador é o mais indicado. Restauração Na grande maioria dos casos, o material restaurador a ser empregado será a resina composta. O primeiro passo para o emprego da resina composta é a seleção da cor, que deve ser feita próxima à região cervical. Feito isso, realiza-se o isolamento e se prossegue com o procedimento restaurador já relatado, adaptando a ultima camada de resina preferencialmente com um pincel. Após a finalização da aplicação da resina, realiza-se então a checagem dos excessos, principalmente na região do sulco gengival. Em seguida se faz o acabamento e polimento. Hipersensibilidade As lesões de classe V podem vir acompanhadas de hipersensibilidade, que é uma dor aguda, curta e passageira, causada pela dentina exposta, em resposta a estímulos mecânicos, químicos, térmicos ou osmóticos. Essa hipersensibilidade pode ocorrer durante a escovação, que é um estímulo mecânico, ou durante o consumo de doces, bebidas quentes ou frias, por exemplo. A causa da hipersensibilidade é a exposição dos túbulos dentinários, que possuem terminações nervosas em seus interiores. A sensibilidade é explicada por meio da teoria hidrodinâmica, que diz que, quando os túbulos dentinários estão expostos ao meio bucal, ocorre uma penetração de fluídos no interior desses túbulos. A troca de fluidos entre os túbulos dentinários e o meio oral promove uma diferença de pressão que atinge as terminações nervosas, tendo como resposta a sintomatologia dolorosa. A exposição da dentina pode ser ocasionada tanto pela remoção do esmalte como pela perda do tecido periodontal (doenças periodontais), onde o esmalte se encontra íntegro, mas a raiz está exposta. A exposição da dentina é derivada da remoção do esmalte nos casos de erosão, abrasão e abfração, ou até uma lesão de cárie. Já os casos em que a dentina é exposta em decorrência da perda dos tecidos periodontais são derivados de doenças periodontais. Quando o verniz fluoretado (dessensibilizante) não resolve a hipersensibilidade, coloca-se uma camada de CIV, que com o tempo será perdida. No entanto, durante o período em que o CIV estiver em posição, ele irá obliterar os túbulos dentinários, visto que possui flúor em sua composição. A partir do momento em que o flúor fecha a entrada dos túbulos dentinários, o processo de hipersensibilidade do paciente será resolvido.
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