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[Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 1 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Ainda não Revisto Fundamentos de Didáctica de Física - Didáctica de Física I Sebenta elaborada pelo Prof. Doutor Gil Gabriel Mavanga Professor de Física e sua Didáctica no Departamento de Física da Faculdade de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Pedagógica. Maputo, 2010 [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 2 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Prefácio Caro estudante, a presente sebenta de Didáctica Física I destina-se ao uso interno no âmbito do curso de formação de professores de Física na Universidade Pedagógica. A sebenta tem como objectivo geral oferecer subsídios teórico-práticos sobre as metodologias de ensino da disciplina de Física no nível escolar e trazer para reflexão vários aspectos que caracterizam o processo de ensino-aprendizagem da Física nos dias de hoje. A sebenta apresenta uma visão geral dos fundamentos básicos da Didáctica específica do curso de Ensino de Física. Na unidade 1, “O Ensino e Aprendizagem da Física: características e práticas vigentes”, faz-se reflexão sobre alguns problemas que enfermam o ensino e a aprendizagem da Física. Analisa também o contributo da Didáctica de Física como ciência, no ensino e aprendizagem da Física. Discute-se igualmente aspectos que têm a ver com a motivação dos alunos para aprendizagem, pois esta constitui um requisito essencial para o interesse e sucesso dos alunos na disciplina. Na segunda unidade, a sebenta discute alguns métodos de trabalho das ciências no processo de aquisição de conhecimentos. A unidade 3 enfatiza o papel da experiência e do trabalho experimental no processo de ensino e aprendizagem das Física. A quarta a unidade debruça-se sobre as características de uma aula de Física designadas aqui como “funções didácticas”. Por sua vez na unidade 5 a sebenta trata do processo de formação de conceitos e leis na sala de aulas, para na unidade 6 discutir a questão das concepções alternativas dos alunos, factor determinante da aprendizagem. A unidade 7 fala sobre as actividades de aprendizagem do aluno, do tipo de tarefas a serem desenvolvidas em aula e discute a importância da resolução de problemas em Física. A finalizar a unidade 8 enfatiza a o papel dos meios de ensino no processo de ensino-aprendizagem. Como exemplos são analisadas as características do livro do aluno, do quadro e do computador. Para além do conteúdo teórico a sebenta oferece um número suficiente de tarefas com ajuda das quais o estudante pode exercitar as matérias em causa. O Autor [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 3 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Índice Objectivos da Sebenta Unidade 1: O Ensino e Aprendizagem da Física – Características e Práticas vigentes Introdução 1.1. As dificuldades de ensino e de aprendizagem da Física [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 4 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Objectivos da Sebenta A presente Sebenta tem como principais objectivos: Caracterizar a situação actual do processo de ensino-aprendizagem da Física: porquê, para quê e como ensinar Física; Reconhecer e argumentar sobre o contributo da Didáctica de Física como ciência para o ensino e aprendizagem da Física; Desenvolver os fundamentos do ensino-aprendizagem da Física; Construir um conhecimento unificado de todos os grandes temas de Física no âmbito da sua aprendizagem; Planificar aulas e actividades de aprendizagem, e tomar decisões tendentes a melhorar o processo de ensino-aprendizagem; Desenvolver competências de conduzir uma aprendizagem significativa dos conceitos, teorias, leis e fenómenos físicos, baseando-se no desenvolvimento conceptual através duma prática que estimule a auto-construção do conhecimento por parte do aluno; Desenvolver competências para utilizar situações físicas e para estabelecer pontes entre o conhecimento físico e outros saberes no contexto da ciência, da tecnologia e da sociedade. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 5 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Introdução Caro estudante, na unidade 1, você vai iniciar com o estudo da Didáctica de Física fazendo profundas reflexões e avaliação crítica sobre as características do ensino e aprendizagem de Física hoje, tanto no cômputo internacional como nacional. Se você já é professor de Física, a sua experiência prática valerá para identificar as lacunas e problemas que enfermam o ensino e a aprendizagem da Física em Moçambique. No cômputo internacional a leitura de textos e extractos da bibliografia que falem da crise no ensino da Física, serão a base da sua reflexão. Ainda nesta unidade você vai discutir os contributos da Didáctica de Física como ciência para o ensino e a aprendizagem da disciplina. O último tema da unidade levar-lhe-á a identificar os caminhos/técnica para a motivação dos alunos para a aprendizagem da Física. 1.2. As dificuldades de ensino e de aprendizagem da Física Segundo Lopes 2004, a aprendizagem da Física é uma tarefa bastante exigente. Alunos, pais e outros agentes educativos queixam-se das suas dificuldades. Os professores de Física, por seu lado, apresentam as mesmas queixas todos anos, relativamente aos seus alunos que não aprendem, às escolas que não têm instalações e equipamento e ao sistema educativo com programas longos a serem cumpridos em turmas numerosas. Entre diversidade de opiniões existem porém aspectos comuns que caracterizam o ensino e a aprendizagem da Física na sala de aulas. Se você, caro estudante, já é professor de Física no Ensino Secundário Geral, reflicta neste momento sobre o que são problemas do ensino e a aprendizagem da Física nas suas próprias aulas e na sua escola. O processo de ensino e a aprendizagem da Física apresenta algumas dificuldades que são já do domínio do senso comum. Quem o diz é Lopes 2004. Actividade: Com base na sua experiência própria ou naquilo que você já ouviu dizer, que problemas, na sua opinião, enfermam o ensino e a aprendizagem da Física na sua escola? Unidade 1: O Ensino e Aprendizagem da Física – Características e Práticas vigentes [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 6 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 O seguinte quadro apresenta alguns exemplos, mais ou menos estruturados de indicadores sobre alguns problemas pertinentes no ensino-aprendizagem, em áreas que têm sido objecto de investigação no âmbito da Didáctica. São nomeadamente concepções alternativas, resolução de problemas, aprendizagem da Física, a actividade experimental e concepções/práticas de ensino dos professores. Quadro 1.1: Indicadores sobre os problemas de ensino e da aprendizagem da Física. Tipo de Indicadores Indicadores Institucionais O índice de reprovações em Física é bastante elevado tanto no Ensino Secundário como nos cursos universitários; O investimento em instalações e equipamento e respectiva manutenção foi sempre bastante pobre ou praticamente inexistente; O tempo reservado para o ensino-aprendizagem da Física, como de outras ciências naturais é bastante reduzido comparativamente aos programas longos das diferentes classes. Opiniões dos alunos Acham que a Física, tal como é ensinada na sala de aulas: - não está ligada ao dia-a-dia; - recorredemasiado a fórmulas, para tudo; - utiliza situações pouco reais; - utiliza exemplos de problemas que são de uma qualidade totalmente desfasada da qualidade dos problemas do mundo real; - não recorre a experiências, o que seria mais interessante e facilitaria a aprendizagem dos alunos; Queixam-se que: - a abordagem dos diferentes assuntos é demasiado teórica, não acompanhada de actividades práticas que permitam ver e viver o desenrolar dos fenómenos; - quando há experiências nunca participam na sua realização e muito menos na preparação. Opiniões dos professores Consideram que os alunos: - não entendem os problemas e não apresentam requisitos em termos de conhecimentos teóricos adequados; - não têm capacidade de raciocínio lógico, não têm hábito de estudo e não gostam da Física Queixam-se sistematicamente: - da falta crónica de meios; - da extensão dos programas de ensino, razão pela qual não têm tempo para realizar experiências; Assumem, sem receios, que: - o ensino da Física é muito, mas não têm alternativa face à extensão dos programas de ensino de face à inexistência de condições materiais para realizar experiências; - fazer experiências exige muito mais tempo de preparação; - não possuem preparação psico-pedagógica adequada; - não conhecem as experiências ideias a realizar nos diferentes assunto abordados pelos programas de ensino. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 7 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Observação da prática lectiva Trabalho experimental na sala de aulas de Física - É rara ou quase inexistente a sua realização e quando existe tem um carácter mecanicista; - Assume, quase sempre, o carácter de ilustração/ visualização/ verificação de conhecimentos previamente construídos teoricamente. Perante uma situação física colocada, os alunos recorrem a conhecimentos/saberes do senso comum, independentemente da formação anterior. Resolução de exercícios e/ ou problemas: - Os exercícios e/ ou problemas são resolvidos de forma mecanicista; - Na maior parte das vezes os exercícios e/ ou problemas são meramente reprodutivos; - Os problemas são resolvidos sempre após a apresentação dos conteúdos, representam sempre o mesmo estágio académico de tratamento dos conteúdos e tipo de questões apresentadas induzem o uso imediato de fórmulas; Os assuntos são apresentados de maneira lógica (portanto do ponto de vista do professor) e não atendendo às necessidades psicológicas (do ponto de vista dos alunos). Os casos arrolados no quadro anterior representam apenas alguns exemplos de indicadores da situação do ensino-aprendizagem da Física na escola. Expliquemos alguns dos indicadores aqui apresentados. 1.3. Concepções alternativas Segundo Lopes 2004, várias pesquisas realizadas em diferentes países, com diferentes alunos (com escolaridades diferentes) e em diferentes conteúdos da Física, evidenciam que grandes percentagens de alunos (e de alguns professores) mobilizam ideias com uma determinada estrutura lógica, em contextos diferentes, que diferem do conhecimento físico padrão, independentemente do grau de instrução e dos contextos culturais. Perante uma situação física, a abordagem que se faz é diferente da abordagem feita por um físico. Estas constatações desacreditam a eficácia do ensino da Física centrado na exposição cuidada e bem estruturadas dos conteúdos a aprender, por parte do professor. Em outras palavras, os resultados destas pesquisas revelam uma inadequação gritante das estratégias de ensino-aprendizagem, a uma aprendizagem eficaz da Física. Um exemplo prático disso é o frequente fracasso dos alunos e mesmo de alguns estudantes, na aplicação do conceito de movimento sob acção de forças na prática. Mesmo depois do tratamento das leis de Newton, estes argumentam com frequência na base do conceito aristoteliano (384-322 antes de Cristo) ou de outros filósofos da era antes de Galileu e de Newton, segundo o qual, “só existe movimento de um corpo quando uma força se exercer continuamente sobre ele, e estiver orientada na direcção do movimento do corpo”. Ou ainda, que “a velocidade de um corpo é tanto maior quanto maior for a força exercida sobre ele”. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 8 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 1.4. Resolução de problemas Este é um dos métodos de trabalho das ciências físicas. Na sala de aulas a resolução de problemas é reconhecida, tanto pelos alunos como pelos professores, como muito importante. Porém alguns aspectos implícitos enfermam a actividade de resolução de problemas, como por exemplo: Os problemas têm de ter sempre uma solução; Os problemas só podem ser apresentados e resolvidos depois da matéria dada; O enunciado deve ser preciso e explícito (ter todos os dados e nenhum a mais); Analisar qualitativamente o enunciado e discutir o resultado é perca de tempo; Copiar a resolução no quadro é, para o professor, suficiente para o aluno perceber o exercício/problema e a sua resolução; A orientação do professor está padronizada ora para a busca da fórmula correcta, ora para o raciocínio do professor, ora para tirar algumas dúvidas; Os professores acreditam pouco que possam diminuir as dificuldades dos alunos na resolução de problemas; As dificuldades crónicas dos alunos derivam de factores pessoais. 1.5. Aprendizagem da Física As pesquisas didácticas têm revelado que o processo de ensino-aprendizagem enfrenta diversas dificuldades de vários tipos. Lopes 2004, refere que a natureza do conhecimento físico tem certas particularidades que reclamam uma análise dos conceitos e da sua natureza e um aprofundamento do processo de criação do conhecimento. Questões como: Qual é natureza dos conceitos físicos? Que semelhanças e diferenças existem entre os processos de criação de conhecimento científico efectuados pelos cientistas e pelos alunos?, são determinantes para uma aprendizagem efectiva da Física. A aprendizagem da Física envolve muitas dimensões tais como: pensar e pensar sobre o pensar, identificar e formular questões correctas relativamente às situações físicas e ao conhecimento, abordar qualitativamente os problemas, dominar técnicas de cálculo, construir e/ou utilizar modelos teóricos, dominar técnicas experimentais, confrontar os resultados experimentais com modelos teóricos, etc. O problema didáctico é justamente saber de que forma é possível facilitar que todas estas dimensões [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 9 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 sejam trabalhadas, aprendidas e o seu domínio efectivo seja progressivo quantitativa- e qualitativamente. “Os conceitos fazem parte de uma estrutura conceptual, estão em rede entre si” (Lopes 2004). É esta rede que representa as relações existentes entre os conceitos que precisa de evoluir e não os conceitos em si e individualmente. Por isso, a reestruturação dos conceitos é uma tarefa didáctica que deve estar sempre presente no professor e na aula, através do diagnóstico e do plano de acção. Por exemplo, a formação do conceito “aceleração” na Cinemática, é feita em interligação com outros conceitos como os conceitos de movimento, velocidade, variação da velocidade, tempo, etc. 1.6. Trabalho experimental “O Trabalho experimental (TE) é um aspecto chave da Edução Científica desde há mais de 100 anos” (Wellington, 2000). Hoje em dia o TE constitui um tema de grandes debates e de reflexão no âmbito da educação em ciências. São várias e por vezesdivergentes as intervenções que têm surgido de todos os sectores da comunidade educativa. Apesar disso, a crença nas potencialidades do TE como meio de ensino em ciências particularmente da Física, é amplamente partilhada por professores e decisores de currículos, podendo mesmo afirmar-se que o TE tem um papel central e importante nos programas de Ciências em muitos países, referem Matos e Morais (2002) citando (Woolnough 1991). Não obstante, segundo Lopes 2004, o TE faz parte da própria essência da construção do conhecimento científico. Como acontece com a resolução de problemas, a que nos referimos anteriormente, o TE constitui um dos métodos fundamentais de trabalho das ciências naturais e da Física em particular. De acordo com Lopes 2004, o TE no ensino da Física nas escolas é caracterizado por três tipos de dificuldades: Há poucas condições para se realizar trabalho experimental de forma exaustiva e sistemática (tempo curricular e condições materiais para a preparação das experiências e para a sua realização na sala de aulas); A forma como o TE é integrado no currículo da disciplina de Física prejudica a sua efectiva realização. A aplicação do TE na aprendizagem tem variado, do ponto de vista pedagógico, entre os papéis de fonte directa de conhecimento ou como verificação da validade de construções teóricas, supostamente acabadas sem possibilidades de levantar novas questões. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 10 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Este segundo papel deixa transparecer que o TE só é realizado depois de todos os conhecimentos teóricos terem sido abordados. A concepção dos professores de Física sobre o TE na ciência condiciona de forma decisiva a forma como estes integram o TE no currículo, a forma como preparam as actividades experimentais e a forma como organizam o trabalho na sala de aulas. 1.7. Concepções/ práticas de ensino dos professores Basicamente, as concepções de ensino dos professores têm forte relação com aquilo que foram as vivências como alunos, da prática dos que foram seus professores na infância e na adolescência. Essas memórias funcionam como referência da prática de ensino actual. Alguns aspectos que caracterizam estas práticas são: A prática lectiva é alicerçada nas concepções mais profundas do professor, entre outras, as convicções pessoais e o reportório das práticas de anteriores professores; A variedade das estratégias utilizada é apenas para motivar os alunos; A prática e a concepção de ensino encontram-se profundamente marcadas pela justificação do tempo como factor limitador, sem que isso corresponda, necessariamente, a uma procura de formas eficazes de o rentabilizar; O ensino é orientado para que os alunos tenham “sucesso” a qualquer custo, nas provas de avaliação; As práticas de ensino têm poucas variedades de actividades lectivas e estão centradas na apresentação de assuntos. Todos estes aspectos revelam claramente que o estudo das concepções e práticas de ensino dos professores é uma área de investigação essencial para que as mudanças nas práticas de ensino possam ser efectivas e delas resultem aprendizagens de maior qualidade. 1.8. Algumas exigências da Física e do seu ensino-aprendizagem Neste ponto pretende-se apenas levantar alguns aspectos que são características típicas da Física como um corpo de conhecimentos sobre a Natureza. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 11 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 A Física, como ciência da natureza, está intrinsecamente, ligada ao mundo físico e, em larga medida, directa ou indirectamente, também a vida quotidiana dos cidadãos. Constitui um exemplo prático, as suas aplicações na tecnologia em prol do nosso bem-estar no dia-a-dia. As suas leis permitem explicar a evolução do Universo e da Terra e os fenómenos naturais que ocorrem em nossa volta. A Física dá-nos acesso a importantes conhecimentos sem os quais, a conservação do nosso planeta e dos habitats nele existentes não seria inteiramente realizável. Simplesmente é preciso perceber que a Física, tal como acontece com outras Ciências, tem uma forma muito específica de se relacionar com o mundo real. Nunca o faz directamente. A Física estabelece esta ligação através de modelos teóricos, usados como idealizações da realidade, e que se enquadram nas teorias físicas mais vastas, complexas e abstractas. Além disso, ela, como um corpo de conhecimentos, apresenta-se como um sistema conceptual muito bem estruturado e formalizado. É provavelmente isto que torna o ensino e a aprendizagem intrinsecamente difíceis. E o ponto crítico é sem dúvida que o ensino da Física tem que ajudar o aluno a perceber a relação entre a Física e a sua vivência do dia-a-dia e quanto é interessante o seu estudo. Mais ainda é importante que o ensino de Física reconheça sempre esta característica de que a Física recorre a modelos teóricos para se relacionar com a realidade. 1.9. Porquê e para quê ensinar/aprender a Física? A ciência e a educação científica jogam um importante papel na compreensão da natureza pelo homem e, preparam-no para que possa encontrar as respostas às questões referentes aos problemas do seu dia-a-dia. A Física como uma das ciências da natureza permite a aquisição de conhecimentos exactos e sistemáticos sobre os fenómenos e regularidades da natureza, assim como sobre a aplicação destas leis para o bem da humanidade. Ela fornece ao jovem uma concepção científica e filosófica correcta do mundo e das transformações que ocorrem na natureza e na sociedade, o que lhe possibilita descobrir a sua relação com o mundo e a sua identidade. Argumentação: É com o domínio dos conhecimentos das ciências físicas que o homem se torna capaz de resolver vários problemas em vários ramos da vida social, como por exemplo na indústria, na agricultura, na economia, na medicina, no meio ambiente e na produção em geral. Para além dos conhecimentos sólidos sobre a natureza o ensino permite o desenvolvimento da personalidade da juventude escolar, proporcionando-lhe novas capacidades, habilidades e boas atitudes, úteis para a vida futura e para o trabalho. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 12 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Argumentação: Uma pessoa cientificamente preparada, ganha curiosidade, capacidades e habilidades, facilidade de compreensão, adaptabilidade e flexibilidade espontânea, entusiasmo e iniciativa criadora, facilidades em planificar, conceber e conduzir investigações. 1.10. O contributo da Didáctica de Física para o ensino e aprendizagem da Física Vários estudos investigatórios foram já capazes de provar que para ser um bom professor de Física não basta ter tido uma boa formação em Física. Esta afirmação apoia-se no facto de que a dificuldades de aprendizagem, o insucesso escolar também se regista em alunos cujos professores têm uma boa preparação em Física. Cabe a Didáctica de Física, através de uma investigação permanente, evidenciar que competências um professor de Física deve ter para se identificar como bom professor. 1.10.1. Características da Didáctica de Física Segundo Kirscher, Griwidz e Häuβler (2000) a Didáctica de Física é caracterizada por vários aspectos a considerar: 1. A Didáctica de Física ocupa-se com as teorias, métodos, modos de pensamento e resultados da disciplina de Física, como também com a sua génese e sistemática em relação à aprendizagem e ao ensino; - Escolha de conteúdos para o processo de aprendizagem, - Que papel joga a estrutura e sistemática da disciplina das ciências físicas para a concepção e realização de umaaula de Física? 2. A Didáctica de Física trata dos fundamentos filosóficos do conceito da Natureza e da relação entre o Homem e a Natureza; 3. A Didáctica de Física enaltece a relação recíproca entre as ciências naturais, a técnica a, e a sociedade; 4. A Didáctica de Física investiga a relevância social das ciências físicas e estabelece ligação ente a Física da sala de aulas e as questões políticas, sociais e morais da actualidade; 5. A Didáctica de Física pesquisa as concepções alternativas (pré-concepções) dos alunos e professores e o entendimento pré-escolar dos fenómenos físicos, sob consideração particular das dificuldades de aprendizagem que delas derivam; 6. Do ponto de vista da prática escolar a Didáctica de Física caracteriza-se por: [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 13 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 - projectar e testar objectivos e tarefas do ensino da Física; - desenvolver e testar alternativas metodológicas da realização de aulas de Física; - testar e avaliar a eficácia de formas de organização e socialização da aprendizagem (trabalhos de grupo, aulas em projectos, etc.). 7. A Didáctica promove a interdisciplinaridade na medida em que através de aulas-projecto podem ser discutidos na aula de Física temas que também são objecto de estudo de outras ciências. 8. A Didáctica de Física ocupa-se com o desenvolvimento, avaliação e revisão de unidades temáticas dos currículos escolares de Física. 1.9.2. O objecto de estudo da Didáctica de Física “O objecto de estudo da Didáctica de Física é o ensino e a aprendizagem da Física em ambientes específicos com intencionalidade didáctica. Ela reporta-se à promoção, acelerada e eficaz, da aprendizagem da Física em contextos de educação/cultura científica, de formação técnico/científica ou de formação de cientistas” Lopes 2004. Outro campo de actuação da Didáctica de Física é a formação dos agentes que facilitam e promovem a aprendizagem e os próprios ambientais específicos. Os ambientes específicos tanto podem ser mais formais como a sala de aulas, mas também menos formais como os museus interactivos de ciências, oficinas, etc. Lopes (2004) classifica em três os contextos de aprendizagem em que a Didáctica de Física pode estar envolvida, nomeadamente: Educação/cultura científica: que permite a cada cidadão (criança, jovem, adulto) compreender e participar e mesmo intervir no mundo tecnológico que o rodeia ou dos problemas que afectam a humanidade; Preparação científica básica para uma formação profissional (engenheiros por exemplo) ou suporte básico para o desenvolvimento de competências profissionais mínimas (por exemplo um técnico de mecânica); A formação avançada de cientistas em laboratórios. A formação de professores, agentes que devem promover e facilitar uma aprendizagem de qualidade da Física em qualquer um dos três contextos constitui o ponto crítico da articulação entre a investigação e prática profissional. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 14 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 1.9.3. Objectivos da Didáctica de Física Um dos principais objectivos da Didáctica de Física enquanto área de conhecimento é a formulação de problemas investigáveis sobre o ensino e a aprendizagem da Física, os seus contextos, os ambientes em que ocorrem e a sua relevância social. Para além disso, constituem objectivos um tanto a quanto mais pragmáticos e outros mais teóricos, os seguintes: Oferecer subsídios sobre o papel da Didáctica de Física, sobre os métodos específicos de estudo e ensino da disciplina, assim como desenvolver competências no futuro professor na planificação e tomada de decisões que visem o melhoramento do processo de ensino aprendizagem Perseguir e contribuir com as suas pesquisas para a qualidade do ensino-aprendizagem; Adequar o ensino da Física as novas exigências sociais; Conceber, implementar e avaliar desenhos curriculares de temas relevantes de Física com fundamentação científica, epistemológica, didáctica e social; Conceber e testar actividades de ensino e aprendizagem inovadoras e fundamentadas na investigação didáctica, visando elevar a qualidade de aprendizagem da Física nas escolas; Compreender os mecanismos de aprendizagem de conceitos e sua utilização em situações físicas de sujeitos concretos; Compreender os factores externos ao sujeito que influenciam decisivamente na aprendizagem; Compreender o papel dos professores no processo de ensino-aprendizagem; Formar professores reflexivos na acção com o objectivo de melhorar a aprendizagem dos seus alunos; Integrar as actividades experimentais nas demais actividades de ensino e aprendizagem. Estudar factores pessoais e sociais de professores e alunos que influem no ensino- aprendizagem; Estudar factores internos e externos à escola que afectam professores e alunos e o ensino- aprendizagem; Construir e usar modelos que permitam compreender e antecipar “factos didácticos”. Recolher, tratar e apropriar investigação produzida pela Didáctica da Física, visando fortalecer novas metodologias no Ensino da Física. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 15 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 1.9.4. A investigação em Didáctica de Física A investigação na Didáctica de Física inicia nos finais da década 60, quando se detectam os primeiros sinais da crise no ensino da disciplina, particularmente nos países mais desenvolvidos. As actividades de investigação predominantes na Didáctica de Física resumem-se nos seguintes aspectos: Estudo da evolução conceptual que passa pelo estudo das ideias dos alunos e o seu desenvolvimento, fazendo com que se aproximem cada vez mais da matriz conceptual da Física tanto no que se refere à qualidade dos conceitos físicos como à forma de os utilizar; Concepção, teste e aplicação de modelos de intervenção pedagógica, visando o desenvolvimento de competências cognitivas e metacognitivas; Estudo sobre o trabalho experimental, sua importância para a aprendizagem das Ciências físicas, as formas da sua aplicação, organização em aula e sua mediação didáctica no contexto da relação entre as dimensões teórica e experimental da Física; Estudos sobre a resolução de problemas e sobre os modelos didácticos para a sua própria mediação; Estudos sobre o pensamento e as práticas dos professores e dos processos por eles mediados na transposição dos diferentes saberes. 1.9.5. Ligação entre a Didáctica de Física e outras áreas do saber A Didáctica de Física, como área do saber, estabeleceu desde os primeiros momentos ligações estreitas com a própria Física e com a Psicologia da Aprendizagem. Actualmente, ela está relacionada com outras áreas do saber como é o caso da História da Física, das Neurociências, da Sociologia, da Epistemologia e da Pedagogia. A par disso, estabelece uma relação com a prática lectiva em várias dimensões. O esquema da figura 11, adaptado de Lopes, 2004, clarifica as ligações que a Didáctica de Física tem com outras ciências. A História da Física contribui para a compreensão da evolução conceptual dos indivíduos. A Epistemologia contribui para esclarecer a natureza dos conceitos físicos e a sua génese. A Sociologia contribui para esclarecer as influências do contexto social nos ambientes de aprendizagem da Física, da sua relevância social, etc. Enquanto isso as Neurociências entram com conhecimentos básicos sobre determinados aspectos da aprendizagem e as suas condicionantes. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 16 Sebenta sobre Fundamentos deDidáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Figura1.1:Relação da Didáctica de Física com outras áreas do saber. 1.9.6. Articulação investigação-ensino-formação de professores O modelo de articulação mais utilizado é o da racionalidade técnica, comum às ciências naturais, que se caracteriza por um encadeamento linear e unidireccional entre a investigação, a formação de professores e a inovação no ensino, com um ponto de partida e um ponto de chegada. Entre a produção do conhecimento (investigação) e a sua utilização há uma separação temporal e espacial. Veja a figura 2. Figura 1.2. Esquema representativo do modelo de articulação entre a investigação, a formação de professores e aplicação dos seus resultados no ensino. Actividades: 1. No seu entender que aspectos interligam a Didáctica de Física e a Prática Lectiva da disciplina? 2. Em que aspectos a Psicologia da aprendizagem articula com a Didáctica de Física? [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 17 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Entre os três momentos cruciais ocorre sempre alguma perca de informação. Um outro modelo de articulação mais recente é aquele que estabelece uma ligação espacial e temporal entre a produção do conhecimento e a sua utilização. Neste modelo a investigação é feita não só com professores mas também pelos professores, ou seja, os professores são objecto e sujeito da investigação em curso. A participação dos professores na investigação, como investigadores, permite que estes a lógica da produção e os códigos em que o conhecimento produzido se encontra, tornando possível a sua utilização imediata sem muitas percas de informação. Neste modelo a investigação, a formação de professores e a inovação no ensino beneficiam directamente. O ponto de partida pode ser um problema de ensino que para ser resolvido necessita de uma investigação e formação de professores. O ponto de chegada será a eventual resolução do problema de ensino, o desenvolvimento do corpo de conhecimento da educação científica e o aperfeiçoamento da prática profissional dos envolvidos. 1.10. O papel da motivação na aprendizagem da Física Um dos requisitos para uma aprendizagem com sucesso é a motivação dos alunos para com os conteúdos e para com os métodos através dos quais eles são ministrados. Concorrem para a motivação aspectos conjugados como: a autonomia do aluno na aprendizagem, o apoio do professor no desenvolvimento de competências; maior atenção na orientação para a aprendizagem; o aspecto social do ambiente da sala de aulas; a relevância dos conteúdos, sua ligação com a vida dos alunos e o interesse individual dos alunos sobre os conteúdos. 1.10.1. Visão geral do conceito e da acção de motivação e sua relação com a aprendizagem Numa publicação electrónica Medel (2008) refere que o dicionário Silveira Bueno, apresenta como sinónimos de motivação, a exposição de motivos ou causas; animação; entusiasmo. Daí pode-se concluir que estar motivado para fazer algo é estar animado ou entusiasmado para essa actividade. E aqui uma questão se coloca: Como atingir esse estado de animação e entusiasmo? Na área educacional os professores estão sempre se perguntando sobre o que devem fazer para que os alunos realmente aprendam. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 18 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Qualquer coisa que se faça na vida, é necessário primeiro haver vontade de realizá-la, senão nada acontece. Isso também ocorre na educação. A educação requer uma acção e como resultado dessa acção, há a APRENDIZAGEM. Mas para que se realize a acção e esta resulte no aprendizagem é necessário, inicialmente, que haja a VONTADE, nesse caso, a vontade de aprender. O professor deve descobrir estratégias e recursos para fazer com que o aluno queira e tenha vontade de aprender. Por outras palavras, o professor deve fornecer estímulos para que o aluno se sinta motivado a aprender. A aprendizagem é influenciada por múltiplos factores, que se implicam mutuamente e que embora possamos analisá-los separadamente, fazem parte de um todo que depende, quer na sua natureza, quer na sua qualidade, de uma série de condições internas e externas ao sujeito. Aprender é uma construção que envolve toda a actividade do ser humano: biológica, psicológica, social e cultural, nos seus múltiplos aspectos. É neste fio de pensamento que Lima (2008), considera a aprendizagem de um fenómeno extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais e ainda que esta resulta do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem como da transferência destes para novas situações. Assim, para aprender é imprescindível “poder” fazê-lo, o que faz referência às capacidades, aos conhecimentos, às estratégias e às destrezas necessárias. Mas para isso é necessário “querer” fazê-lo, ter a disposição, a intenção e a motivação suficientes. Podemos assim distinguir dois tipos de motivação, a intrínseca e a extrínseca. Está-se na presença de uma motivação intrínseca quando ela é um processo que se dá no interior do sujeito. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. Neste caso, existe vontade própria para alcançar o objectivo. Por outro lado, a motivação, está intimamente ligada às relações de troca que o indivíduo estabelece com o meio, principalmente, seus professores e colegas, no caso de situações escolares. O interesse é sim indispensável para que o aluno tenha motivos de acção no sentido de apropriar-se do conhecimento, contudo, muitas vezes, essa predisposição para acção precisa de ser estimulada pelo ambiente com que ele se relaciona. Estamos assim a falar da motivação que vem de fora, ou seja, da motivação extrínseca. Por exemplo, muitas vezes, uma pessoa sente-se levada a fazer algo para evitar uma punição ou para conquistar uma recompensa. A iniciativa para a realização da tarefa não partiu da [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 19 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 própria pessoa, mas de um terceiro, que a estimulou de alguma forma para que ela se movimentasse em direcção ao objectivo pretendido. A pessoa não teria caminhado em direcção ao objectivo caso não houvesse a “punição” ou a recompensa. As pessoas podem, também, agir levadas por um impulso interno, por uma necessidade interior, existe motivação, que pode ser transformada em movimento permanente por meio de uma determinada estimulação. Daí que a acção de motivar deve ser considerada uma tarefa primordial do professor, identificar e aproveitar aquilo que atrai o aluno, a criança, aquilo de que ele mais gosta. O professor deve procurar atrair, encantar, prender a atenção, seduzir o aluno, utilizando o que ele gosta de fazer como forma de engajá-lo cada vez mais no processo de ensino- aprendizagem. Bock 1999, cita algumas sugestões de como criar interesses: 1. Propiciar a descoberta. O aluno deve ser desafiado, para que deseje saber, e uma forma de criar este interesse é dar a ele a possibilidade de descobrir. 2. Desenvolver nos alunos uma atitude de investigação, uma atitude que garanta o desejo mais duradouro de saber, de querer saber sempre. Desejar saber deve passar a ser um estilo de vida. Essa atitude pode ser desenvolvida com actividades muito simples, que começam pelo incentivo á observação da realidade próxima ao aluno- sua vida quotidiana -, os objectos que fazem parte de seu mundo físico e social. Essas observações sistematizadas vãogerar dúvidas (por que as coisas são como são?) e aí é preciso investigar e descobrir. 3. Falar ao aluno sempre numa linguagem acessível e de fácil compreensão. 4. Os exercícios e tarefas deverão ter um grau adequado de complexidade. Tarefas muito difíceis, que geram fracasso, e tarefas fáceis, que não desafiam, levam à perda do interesse. 5. Compreender a utilidade do que se está aprendendo é também fundamental. Não é difícil para o professor estar sempre retomando em suas aulas a importância e utilidade que o conhecimento tem e poderá ter para o aluno. As pessoas estão sempre “pré-dispostas” a aprender coisas que são úteis e têm sentido para sua vida. Actividade: No estudo do conceito “momento de uma força” pode ter influência motivadora, o aluno descobrir e entender fisicamente porquê do posicionamento das pegas de fechadura nas portas da sua casa. Em conexão com as sugestões Book 1999, explique como este exemplo pode ser usado para motivar os alunos. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 20 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a acção, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objecto de satisfação. Apresenta-se como o aspecto dinâmico da acção: é o que leva o sujeito a iniciar uma acção, a orientá-la em função de certos objectivos, a decidir a sua prossecução e o seu termo. Uma das grandes virtudes da motivação é melhorar a atenção e a concentração do indivíduo naquilo que faz. Ao sentir-se motivado o indivíduo tem vontade de fazer algo e se torna capaz de manter o esforço necessário durante o tempo necessário para atingir o objectivo proposto. Neste sentido, na área educacional, faz-se necessária a presença da motivação nas instituições de ensino, não só motivação dos alunos, mas também motivação de professores e profissionais envolvidos no processo educativo, a fim de que obtenhamos maior prazer em aprender e melhores resultados na hora de ensinar. Alunos motivados, mostram melhores desempenhos; professores motivados, demonstram maior envolvimento. Algumas formas para se alcançar esse estado de motivação são por exemplo: Dar tratamento igual a todos os alunos; Aproveitar as vivências que o aluno já tem e traz para a escola no momento de montar o currículo, incluir temas que tenham relação, isto é, estejam ligados à realidade do aluno, a sua história de vida, respeitando a sua vida social, familiar; Mostrar-se disponível para o aluno, ou seja, mostrar que ele pode contar sempre com o professor; Ser paciente e compreensivo com o aluno; Procurar elevar a auto-estima do aluno, respeitando-o e valorizando-o; Utilizar métodos e estratégias variadas e propostas de actividades desafiadoras; Mostrar-se aberto e afectivo para e com o aluno; Dar carinho e limites na medida certa e no momento adequado; Manter sempre um bom relacionamento com o aluno, e consequentemente, um clima de harmonia; Fazer de cada aula um momento de real reflexão; Ter expectativas positivas acerca do aluno; Saber ouvir o aluno; Não ridicularizá-lo; [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 21 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Amar muito o que faz, a sua profissão de professor; Mostrar para o aluno que ele pode fazer a DIFERENÇA, isto é, que ele tem o seu lugar e o seu valor no mundo; Perceber que ele, o professor, pode fazer a DIFERENÇA, para o aluno; 1.10.2. Definição do termo “motivação” para a aula: A motivação para a aula pode ser vista em dois eixos: do ponto de vista didáctico e do ponto de vista metódico. 1. Do ponto de vista didáctico a motivação definida como a abertura mental (do intelecto) para uma atitude ambicionada em relação à uma determinada temática (dentro e fora da escola). 2. Do ponto de vista metódico a motivação é o estímulo para o processo de ensino- aprendizagem. Neste ponto de vista motivar é procurar criar no aluno condições ideais para o sucesso da aula, de modo em que ela: direcciona a sua atenção para um certo objectivo; estimula uma opinião afirmativa (atitude positiva/aceitação) por parte do aluno, em relação ao tema em causa; permite o reconhecimento da problemática inserida no tema da aula e Actividades: 1. Escreva um depoimento sobre a sua própria concepção em relação a motivação e sobre a sua própria convicção em relação a sua importância para a aprendizagem; 2. O quê que para si falta para alunos e professores estarem motivados para o processo de ensino-aprendizagem nas nossas escolas? Mencione 5 aspectos que consideres fundamentais. 3. Apresente, com base na sua experiência profissional, pelo menos 5 formas que você tem vindo a usar para motivar os alunos nas suas aulas. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 22 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 estimula a prontidão para a pesquisa da reconhecida problemática (desenvolvimento da inteligência investigadora). 1.10.3. Função das medidas de motivação na aula de Física Por estamos a falar de Didáctica de Física voltaremos as nossas atenções aos aspectos de motivação na aula de Física. As medidas de motivação na aula de Física devem provocar de uma forma contínua uma abertura em relação aos problemas da natureza e da técnica. Isto significa que os alunos devem: ganhar interesse sobre os conteúdos de aprendizagem na aula de Física; ganhar interesse sobre questões físicas de uma forma geral; desenvolver interesse sobre os processos dos fenómenos naturais; desenvolver uma consciência de responsbilidade para com a natureza e para com o meio ambiente. Tratando-se apenas de um tema de aula, o papel da motivação será o de mover os alunos para uma “auto-disposição” para a participação no processo de ensino e aprendizagem nessa aula. 1.10.4. Condições que influênciam a motivação dos alunos Vamos segundo ”Willer, Jörg (1977)” diferenciar 4 classes de condições: 1. A personalidade do professor. Um bom didacta, tem no seu ânimo, a fonte de motivação para os seus alunos; 2. A personalidade do aluno; 3. A situação concreta do processo de ensino-aprendizagem (especialmente dos métodos de ensino); 4. A “pré-experiência” do aluno, isto é, em relação às condições iniciais da aprendizagem. Está claro que a aprendizagem significativa, processa-se quando um novo conteúdo (ideias ou informações), relaciona-se com conceitos relevantes, claros e já disponíveis na estrutura cognitiva. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 23 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Quanto à 1: também chamada motivação relacionada ao professor A motivação do aluno é influenciada pelo: Nível dos conhecimentos científicos do professor, O engajamento e o prazer do professor durante a aula (função de ser exemplar), A forma como o professor se apresenta e se expressa. Quanto à 2: também chamada motivação relacionada ao aluno A motivação do aluno é influênciada por factores imanentes da personalidade, que constituem as condições em que a personalidade do aluno se baseia, como por exemplo: Condições gerais: A idade (a motivação depende da idade) O género (várias pesquisas têm mostrado que as raparigas se interessam pouco por questões das ciências da natureza); O meio ambiente e questões à ela ligadas, ambiente social, o quotidiano do aluno; O nível de pretensões (exigências) individuais : o Rendimento o Exigência na qualidade de uma experiência(precisão de uma medição, ou êxito numa construção) Condições especiais, eventualmente com motivos extrínsecos no passado: A indereferença quanto à conhecimentos; A aversão para com determinados temas; A indeferença geral; A aversão para com tarefas escolares; A perca da auto-confiança; A decadência geral do rendimento. Quanto à 3: Motivação relacionada com a aula - Com influência positiva: Usar possibilidades de visualização; [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 24 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Estabelecer ligações com a aplicação, mostrar em particular as ligações interdisciplinares; Realizar experiências do aluno e do professor; Prestar atenção aos requisitos e às condições iniciais de aprendizagem; Dar mais autonomia ao aluno para a construção do conhecimento, bastando para isso uma perfeita orientação do professor; Diversificar os métodos e actividades de aprendizagem. - Com influência negativa: Limitação na apresentação verbal da aula; Repitição frequente dos mesmos procedimentos de condução da aula. Quanto à 4: Condições iniciais de aprendizagem – Experiências dos alunos A ligação com os conhecimentos sobre os factos, capacidades e actividades já existentes, pode tornar o processo de aprendizagem do aluno mais interessante. 3.5. Exemplos de medidas com uma influência motivadora na aula de Física: Motivar com Experiências em Black-Box (demonstrar sem comentários e reservar a explicação dos resultados para depois); Colocar questões paradoxais, (por exemplo: “Pode a água escorrer para cima?”; Mostrar fenómenos que constituam surpresa; Criar situações de conflito cognitivo; Explicar fenómenos naturais (como por exemplo o arco-íris); Dar tarefas de observação (por exemplo: Observar a relação entre a pressão do ar e o tempo durante uma semana); Verificar hipóteses dos alunos em experiências (por exemplo: circuitos em paralelo); Superar dificuldades em tarefas experimentais, (por exemplo: identificar um erro num circuito eléctrico); Mostrar modelos funcionais no lugar de desenhos (por exemplo: um motor); Realizar visitas de estudo (por exemplo: Fábrica, Museu, Barragem, etc.) ; Fornecer a visão histórica de um dado facto (como se fazia no passado?); Mostrar filmes; Estimular o diálogo através de slids ou fotos ; [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 25 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Realizar pequenas aulas projecto (por exemplo: construção de uma câmara escura) e discutir sobre os erros de construção; Promover situações de jogos; Organizar competições na experimentação em trabalhos em grupo (Quem obteve a melhor medição?); Dar pequenos e adequados trabalhos de casa em forma de experiências caseiras (Uma ocupação intensiva e autónoma com um determinado assunto pode ser bastante motivadora). Resumo da Unidade Caro estudante, a unidade que você acaba de terminar de estudar, procura criar um momento de reflexão sobre os problemas que caracterizam o processo de ensino-aprendizagem da Física tanto no contexto nacional como internacional. Faz um “brainstorming” dos referidos problemas, resultantes de observações e pesquisas de opinião efectuados com alunos e professores do Ensino Secundário Geral um pouco por todo lado. Sem dúvida que alguns dos aspectos levantados se identificam com as práticas lectivas de cada um de nós. Essencialmente são destacados aspectos como as concepções alternativas, a resolução de problemas, a aprendizagem, o trabalho experimental, as concepções/ práticas de ensino dos professores como indicadores chaves da situação do ensino-aprendizagem da Física. Mais ainda se enfatizam as exigências da Física e do seu ensino as quais, quando não compreendidas tornam o processo de ensino-aprendizagem deficitário tanto do lado do professor como do aluno. A lição termina justificando o porquê e o para quê da integração da Física nos currículos educacionais. A Didáctica de Física ocupa-se com assuntos do ensino e da aprendizagem da Física. Como ciência ela descreve e reflecte modelos epistemológicos de ensino e concepções modernas sobre aprendizagem escolar que resultam das transformações políticas, sociais e tecnológicas das sociedades. A Didáctica de Física encontra na Física a principal ciência com que ela se relaciona. Mas ela é uma ciência interdisciplinar estabelecendo ligações estreitas com outras áreas do saber como é o caso da Técnica, da Psicologia, da Pedagogia, da Filosofia, da Sociologia, etc. Como ciência a Didáctica de Física é bastante nova, tendo iniciado a sua evolução como tal nos finais dos anos 60. Antes dessa época o ensino não tinha correspondência com os notórios progressos da sociedade industrial; a ciência era apresentada como uma mera colecção de factos, o espírito da descoberta estava ausente ensino da ciência, e não se registava nenhum avanço da ciência na escola, ao contrário do que acontecia no laboratório e na sociedade. Desde a sua implantação como ciência a Didáctica de Física encarnou como seus objectos de estudo o ensino e a aprendizagem da Física nos seus diversos aspectos, com o objectivo único de melhorar a qualidade da aprendizagem sobre a natureza. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 26 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 A aprendizagem é um processo que consiste em incorporar, estabelecer ligações entre os novos conhecimentos e os previamente já existentes na estrutura cognitiva do aluno. Os conhecimentos que o aluno apresenta e que correspondem a um percurso de aprendizagem contínuo são fundamentais na aprendizagem de novos conhecimentos. São os conhecimentos que o aluno já possui que influenciam o comportamento do aluno em cada momento. Nesse processo a motivação joga um papel bastante fundamental. Não há aprendizagem sem motivação. Um aluno está motivado quando sente necessidade de aprender o que está sendo tratado. Por meio dessa necessidade, o aluno se dedica às tarefas inerentes até se sentir satisfeito. Nesse contexto, os professores carregam consigo uma tarefa difícil, que é identificar estratégias que permitam mobilizar seus alunos para uma maior inserção no processo de ensino-aprendizagem, pois é disso que depende o sucesso da educação. Tarefas de Consolidação 1. Faça um pequeno depoimento de meia página sobre o que para si é ensinar e aprender Física. 2. Aliste do quadro 1.1 apresentado os aspectos que mais se identificam com o seu processo de ensino-aprendizagem na aula de Física. 3. Indique 5 aspectos essenciais sobre os quais você mais incide durante a resolução de problemas com os seus alunos na sala de aulas? 4. Faça, com ajuda dos livros escolares de Física, o levantamento dos modelos teóricos que a Física usa para falar dos fenómenos naturais que ela estuda. 5. Calcule o espaço percorrido por um objecto que se desloca ao longo de uma trajectória rectilínea segundo a equação 254025 ttx (SI) nos primeiros 5s. Tente inferir os modelos explicativos subjacentes a sua resposta. 6. Uma mãe aflita pelo facto de seu filho estar doente, lhe coloca a mão na testa para verificar se este está ou não quente (com febre). E ela depois exclama dizendo “o meu filho está com temperatura”, para depois sair correndo com o seu filho para a unidade sanitária mais próxima. Comente este procedimento. Como é você iria proceder e porquê? O que seria de uma criança sem temperatura? 7. Fazer uma experiência na sala de aulas é suficiente para que os alunos aprendam? Que acções adicionais, você acha importantes serem levadas acabo tanto pelo alunocomo pelo professor? 8. Leia o texto “Trabalho experimental nas aulas de ciências físico-químicas do 3º Ciclo do ensino básico: Teorias e práticas dos professores” de Margarida Matos e Ana Maria Morais, Revista de Educação XII (2) 75-93 (2004), disponível na Net pelo endereço: http://revista.educ.fc.ul./pt. Sintetize os principais pontos gerais sobre as convicções e práticas dos professor relativamente ao [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 27 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 trabalho experimental. Nota: O texto físico também pode ser encontrado no seu centro de recursos. 9. Identifique um livro de Didáctica de Física no seu centro de recursos ou na sua biblioteca particular e produza uma ficha de leitura contendo os seguintes elementos: - Identificação do livro (autor, ano de publicação, título, cidade, editora); - Principais assuntos tratados e respectivos enfoques; - Palavras-chave; - Ligações com a Física. 10. Leia o texto “A emergência da Didáctica das Ciências como campo específico de conhecimento” Cachapuz, Praia, Peréz, Carrascosa e Terrades 2001, in Revista portuguesa de Educação; e faça um resumo sobre a história evolutiva da Didáctica das Ciências; 11. Leia o texto “Investigação em Didáctica das Ciências em Portugal: um balanço crítico”(Cachapuz, 1997) e responda as seguintes questões: i) Qual é a importância da investigação em Didáctica para o ensino? ii) Explique a articulação entre a investigação e o ensino. 12. Busque dos assuntos tratados na lição anterior três exemplos de situações e formule três problemas relevantes para a investigação em Didáctica. Proponha métodos de abordagem e de resolução para cada caso. 13. Com que áreas de conhecimento se relaciona a Física como ciência e como objecto de estudo na educação em ciências? Faça um esquema. 14. Organiza um jogo de palavras cruzadas sobre um tema de Física a sua escolha, o qual deve ser resolvido pelos alunos, como actividade de motivação no início de uma aula; 15. Uma das formas de motivação dos alunos é realização de experiências simples de Física que provoquem curiosidade no aluno sobre a essência das coisas. Prepare pelo menos 5 experiências simples e a mão livre para a motivação dos alunos na introdução do conceito de pressão; 16. De que modo a atenção do professor para com os requisitos e as condições iniciais de aprendizagem é útil para a motivação dos alunos? 17. Quais são os requisitos para a aprendizagem do tema movimento rectilíneo uniforme? 18. A partir dos manuais escolares de Física ou outras fontes disponíveis identifique, em todos os capítulos, quais das experiências nelas descritas se adequam para a finalidade de motivação dos alunos para a aula. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 28 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Introdução A aquisição de conhecimentos em Física como nas ciências naturais em geral obedece a certos procedimentos que vamos nesta unidade designar por métodos científicos de aquisição de conhecimentos. Os métodos científicos constituem os métodos específicos de trabalho das ciências, que tanto podem ser aplicados nas ciências como no ensino das ciências. Nesta unidade discutiremos os seguintes métodos de aquisição do conhecimento: o método de generalização indutiva, o método de conclusão dedutiva, o método experimental, o método de analogia, o método de modelo e o método analítico-sintético. 2.1. Método de generalização indutiva Falar de método de generalização indutiva é o mesmo que dizer método indutivo, que provém do termo indução. A indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. O objectivo dos argumentos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. Exemplo: O cobre conduz energia; O zinco conduz energia; O cobalto conduz energia; Ora, o cobre, o zinco e o cobalto são metais. Unidade 2: Métodos Científicos de aquisição do conhecimento nas Ciências Naturais [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 29 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Conclusão: Logo todo o metal conduz energia. 2.1.1. Características do Método Indutivo: 1. De premissas que encerram informações acerca de casos ou acontecimentos observados, passa-se para uma conclusão que contém informações sobre casos ou acontecimentos ainda não observados; 2. Passa-se pelo raciocínio, dos indícios percebidos, a uma realidade desconhecida, por eles revelada; 3. O caminho de passagem vai do especial ao mais geral, dos indivíduos às espécies, das espécies ao género, dos factos às leis ou das leis especiais às leis gerais; 4. A extensão dos antecedentes é menor do que a da conclusão, que é generalizada pelo universalizante “todo”, ao passo que os antecedentes enumeram-se apenas “alguns” casos verificados; 5. Quando descoberta alguma relação constante entre duas propriedades ou dois fenómenos, passa-se dessa descoberta à afirmação de uma relação essencial e, em consequência, universal e necessária, entre essas propriedades e/ou fenómenos. 2.1.2. Etapas do Método Indutivo: Consideremos três elementos ou etapas fundamentais para o método de indução: a) Observação dos fenómenos: – nesta etapa, observamos os factos ou fenómenos e os analisamos, com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação; b) Descoberta da relação entre eles: – na segunda etapa, procuramos, por intermédio da comparação, aproximar os factos ou fenómenos observados, com a finalidade de descobrir alguma relação constante existente entre eles; c) Generalização da relação: – nesta última etapa, generalizamos a relação encontrada na precedente, entre os fenómenos e factos semelhantes, muito dos quais ainda não observados (ou até não observáveis) [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 30 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Definição de método de generalização indutiva: É um método científico de conhecimento que tem como objectivo descobrir algo de comum, a partir de várias afirmações individuais ganhas empiricamente ou teoricamente (decorre do particular para o geral). O método de generalização indutiva apresenta as seguintes características: A segurança da generalização cresce com o número de afirmações individuais e com a qualidade destas afirmações; A generalização é falsa, caso haja um exemplo contraditório; Uma afirmação ganha através da generalização deve ser testada em outras situações. A seguinte figura mostra de forma esquemática os caminhos e passos a dar na aplicação do método de generalização indutiva. Figura 2.1. Esquema de passos do método indutivo Quando a aquisição do conhecimento é resultante de dados empíricos, ou seja, obtido por via empírica, o seguinte esquema visualiza os passos mostra as fases. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 31 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Figura 2.2. Esquema de passos do método indutivo pela via empírica Por sua vez, a aquisição do conhecimento resultante de dados teóricos, ou seja, através da via teórica, obedece aos passos representados no esquema que se segue. Figura 2.3. Esquema de passos do método indutivo pela via teórica 2.1.3. Fases e exemplo do procedimento no método de generalização indutiva. O seguinte exemplo mostra as diferentes fases de realização do métodode generalização indutiva. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 32 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Quadro 1.2: Etapas de realização do método de generalização indutiva Exemplo Fases Qualitativo Quantitativo (1) Obtenção de resultados empíricos Num circuito eléctrico simples são pesquisados diferentes materiais quanto à sua condutividade eléctrica. Conclui- se que Fe, Al e Zn conduzem a corrente eléctrica e que madeira, plástico e papel não conduzem corrente eléctrica. Num circuito eléctrico simples são medidas a tensão e a corrente num dado resistor. (2) Generalização indutiva Fe, Al e Zn são metais. Então os metais conduzem corrente eléctrica. U I 1a afirmação U/I= Const. 2a afirmação Para cada condutor a constante possui um determinado valor. (3) Dedução de conclusões Se os metais conduzem corrente eléctrica então o Cobre (Cu) devia conduzir corrente eléctrica. Se U/I= Const., então para qualquer outro condutor deveria resultar uma constante. (4) Avaliação experimental A experiência prova as conclusões tiradas. 2.2. Método de Conclusão Dedutiva O Método de Conclusão Dedutiva é um método científico de conhecimento que tem com o objectivo de ganhar novas afirmações com ajuda de conclusões lógicas e convincentes, a partir de afirmações seguras (verdadeiras) ou mais ou menos seguras (tomadas como verdadeiras). As particularidades que caracterizam este método são: O grau de generalidade das afirmações iniciais assim como das novas afirmações obtidas, não é relevante para uma dedução conclusiva; As afirmações ganhas através da conclusão dedutiva necessitam de uma comprovação experimental caso estas provenham de afirmações apenas tomadas como verdadeiras; Na aula de Física a conclusão dedutiva pode ser realizada como uma dedução matemática, dedução verbal (qualitativa) ou dedução gráfica. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 33 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 O seguinte esquema mostra de forma resumida os passos de realização do método dedutivo. Figura 2.4. Esquema de passos do método dedutivo 2.2.1. Fases e exemplo do procedimento no método de conclusão dedutiva. O seguinte exemplo mostra igualmente as diferentes fases de realização do método de conclusão dedutiva. Quadro 1.3: Etapas de realização do método de conclusão dedutiva Fases Exemplo (1) Existência de afirmações teóricas e suas condições de validade 1. A força exercida sobre um condutor de comprimento l, percorrido por uma corrente I num campo magnético B constante é F= B.I.l (1) 2. Para a transformação da energia mecânica em energia eléctrica durante o movimento do condutor em uma distância S dentro do campo é válido tomando em conta o PCE que: Wmec= Wel. (2) [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 34 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Para os trabalhos realizados é válido escrever Wmec= F. S (3) e Wel= Uind. I. t (4) (2) Fixação do grau de veracidade das afirmações relevantes (1), (2), (3) e (4) são afirmações verdadeiras (3) Conclusão dedutiva: (Realizar operações matemáticas ou mentais) De (3) e (1) resulta que: Wmec= B.I.l.S (5) Conclusão dedutiva: Segundo (2) segue que B.I.l.S= Uind. I. t (6) Considerando que A= l.S ....... (4) Formulação da nova afirmação Então: Uind. = B.A/ t (7) (5) Comprovação da nova afirmação na experiência e na prática. As relações ou dependências ganhas pela via dedutiva, são comprovadas na experiência através da demonstração de que Uind. t~ B e Uind. t~ A (6) Conclusão sobre a validade das afirmações Através da verificação experimental das relações em (5) conclui-se que as afirmações são válidas. 2.3. Método Experimental Definição: É o método científico de conhecimento que tem como objectivo avaliar ou verificar a veracidade de hipóteses com ajuda da experiência (Brechel, Gau, Gobel, Kutter e Seltman 1989). Uma hipótese é uma suposição fundada que se faz na tentativa de explicar um dado fenómeno que ainda encontra explicação nas leis e condições até agora conhecidas. Ela funciona como resposta e explicação provisória à um dada questão. Apesar de se tratar de uma previsão fundada a sua validade carece de testagem experimental. As hipóteses são afirmações que se caracterizam pelo seguinte: • Não devem contradizer nenhuma verdade já aceite ou explicada; • Simplicidade; • Consistência interna e externa; • Especificidade (identificar o que deve ser observado); • Verificabilidade (ter referência empírica); [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 35 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 • Plausibilidade e Clareza; • Relação com uma teoria; • Capacidade preditiva e/ou explicativa; As hipóteses são formuladas na base de observações e experiências pessoais, conhecimentos já acumulados em aprendizagens anteriores, comparações analógicas com outros conhecimentos já adquiridos, a cultura geral na qual a ciência se desenvolve Intuição, etc. O papel da experiência é exactamente verificar a veracidade das hipóteses formuladas na tentativa de explicar um fenómeno ou uma relação ainda não conhecida. O método experimental é um método científico comum à maioria das ciências e segue os seguintes passos: 1. Colocação do problema de forma teórica ou experimental por parte do professor; 2. Os alunos procuram responder hipoteticamente a partir dos conhecimentos prévios e raciocínio lógico o problema em causa (formulação de hipóteses); 3. A partir das hipóteses formuladas são deduzidas conclusões testáveis experimentalmente; 4. Planificação e realização da experiência com vista a verificação das conclusões deduzidas; 5. Confrontação dos resultados experimentais com as hipóteses formuladas; 6. Caso as hipóteses sejam confirmadas experimentalmente segue-se a formulação da teoria. Em caso de não confirmação das hipóteses faz-se a revisão minuciosa da experiência ou reformulação das hipóteses. A figura que se segue mostra o procedimento do método experimental. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 36 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Figura 2.5. Passos do método experimental Quadro 1.4: Etapas de realização do método experimental Fases Explicação Exemplo (1) Observações Experiências Afirmações Observação: Um líquido em evaporação (Obs. Na sala de aulas o professor cria as condições para a formulação de hipóteses por parte dos alunos, através da colocação do problema (questão), que pode estar relacionada com uma observação experimental ou não.) (2) Formulação de uma hipótese para a explicação do fenómeno. Hipótese: A observação pode querer explicar que num líquido existem partículas cuja energia de movimento é tão grande, tal que estas conseguem vencer as forças de ligação que actuam entre elas. (Obs. Na sala de aulas os alunos formulam hipóteses como respostas possíveis ao problema colocado pelo professor.) (3) Dedução de conclusões que podem ser verificadas experimentalmente. Se a hipótese estiver correcta, então as seguintes experiências devem reproduzi-la. 1. A evaporação em elevadas temperaturas do ambiente decorre mais rapidamente, dado que (justificação) haverá mais partículas com maior energia de movimento. 2. As partículas do líquido que ficam esfriam, pois (justificação) com a saída das partículas com elevada energia de movimento, a energia média de movimento das partículas que ficam, diminui.Planificação, projecção do arranjo e realização da experiência. Para a verificação da 1a conclusão: Observação de iguais quantidades de um mesmo líquido sob diferentes temperaturas-ambiente. Para a verificação da 2a conclusão: Um líquido de fácil evaporação, por exemplo o álcool deve deixar a sensação de mão esfriada quando evapora. (4) Realização da experiência para a verificação das Montagem do arranjo da experiência 1. Coloca-se em dois vidros de relógio iguais quantidades de água. Um dos vidros é exposto à temperatura ambiente e o outro é aquecido com raios infravermelhos. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 37 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 conclusões 2. Na parte traseira da mão coloca-se pequena quantidade de álcool. Realização da experiência, (variação das condições da experiência) As experiências são feitas e repetidas com outros líquidos. Por exemplo no lugar da água na 1a experiência usa-se álcool e na 2a no lugar de álcool usa-se éter. Levantamento de dados (observar, medir, protocolar e avaliar) Na 1a experiência verifica-se uma rápida evaporação no caso de alta temperatura. Na 2a regista-se a sensação de esfriamento. Os mesmos efeitos repetem-se com outros líquidos. (5) Interpretação dos resultados de acordo com as hipóteses Formulação dos resultados - A velocidade de evaporação depende da temperatura- ambiente. - Com a evaporação esfria o líquido que fica. Comparação dos resultados com as conclusões tiradas a partir das hipóteses Os resultados estão em concordância com as conclusões. Por isso a explicação hipotética pode ser solidificada. Para a segurança da hipótese deveriam ser formuladas mais conclusões e realizadas mais verificações experimentais. 2.4. Método de Analogia Definição: É um método científico de conhecimento que têm como objectivo a aquisição de conhecimentos através do uso de analogias e de conclusões analógicas (comparação de dois ou mais objectos, processos, fenómenos ou leis) (Brechel, Gau, Gobel, Kutter e Seltman 1989). Analogia é a concordância entre dois ou mais objectos, os quais de um modo geral são diferentes, no que respeita à determinadas características, como por exemplo na estrutura, no funcionamento, no comportamento, etc. Conclusão analógica é um procedimento no qual, a partir da semelhança ou da concordância entre dois ou vários factos, quanto a determinadas características, relações, estruturas ou funcionamento já conhecidos, se podem deduzir conclusões sobre semelhança ou concordância noutras características, relações, estruturas ou funcionamento, ainda não conhecidos. Actividade: Exemplifique estas fases do método experimental no estudo da lei da reflexão da luz. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 38 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Particularidade do método e analogia: Os conhecimentos ganhos através de conclusões analógicas carecem de comprovação na prática, na experiência e na vida diária. A figura a baixo mostra a operacionalização do método de analogia Esquema de operacionalização do método de analogia Figura 2.6. Esquema do método de analogia 1. Em ambos os sistemas iniciais A e B há concordância nas características conhecidas; 2. O sistema inicial A possui características adicionais conhecidas; 3. Através da conclusão analógica sobre o sistema B, são transferidas a partir de A, características ainda desconhecidas em B, mas esperadas. 4. Obtenção de características adicionais ainda não conhecidas em ambos os sistemas A e B, mas que não são relevantes para o problema colocado. A seguir, no quadro 1.5, são apresentadas as etapas de aplicação do método de analogia Quadro 1.5: Etapas de realização do método de analogia Caracte- rísticas Sistema A Sistema B Gases Líquidos C1 C2 C3 - São constituídos por partículas; - As partículas podem ser ligeiramente deslocadas; - As partículas encontram-se em constante movimento. As partículas do gás exercem forças sobre as paredes do recipiente e nas superfícies do Conclusão analógica: O mesmo devia ser nos líquidos. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 39 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 C4 corpo mergulhado nele. Comprovação: Jactos de água devido a pressão quando se fura um tubo de água. C5 A pressão no gás contido num recipiente fechado é igual em todos os pontos do gás e actua em todas as direcções. Conclusão analógica: O mesmo devia ser nos líquidos. Comprovação: Jactos de água em todas direcções. C6 Com o aumento da pressão o volume do gás diminui consideravelmente Conclusão analógica: O mesmo devia ser nos líquidos. Comprovação: O volume do líquido quase não se altera. A conclusão em relação a característica C6 ganha através da analogia sobre as propriedades dos líquidos não pôde ser comprovada. Causa: Gases e líquidos diferenciam-se consideravelmente no que respeita a mudanças de volume. C7 As distâncias entre as partículas são suficientemente grandes. As distâncias entre as partículas são ligeiramente pequenas. Exemplos de uso de Analogias em Física. Analogia entre gases e líquidos Analogia entre m.r.u. e m.c.u. Analogia entre movimentos de rotação e de translação Analogia entre espelhos e lentes ópticas Analogia entre correntes de líquidos e corrente eléctrica. 2. 5. Método do modelo Definição: É um método científico de conhecimento, que tem como objectivo a construção de modelos os quais são usados: Actividade: Aplique o método de analogia no estudo do movimento circular uniforme supondo conhecidas as características semelhantes do movimento rectilíneo uniforme [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 40 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 - como meio de aquisição de novos conhecimentos, - para a transmissão de conhecimentos sobre um determinado objecto ou - como substituto do funcionamento de um sistema dinâmico. O modelo é um objecto ideal ou material, que na base da analogia na estrutura, no funcionamento e no comportamento em relação ao respectivo original, é usado pelo homem como objecto-substituto para a resolução de determinadas tarefas, as quais através de operações directas no original não seriam solúveis ou pelo menos nas condições dadas só seriam resolvidos com muito esforço. A analogia e a conclusão analógica constituem a base do método do modelo. 2.5.1. Funções de modelos 1) Modelos são meios para a aquisição de novos conhecimentos. Eles são a base de muitas teorias. Exemplo: Com a utilização do modelo ponto material faz-se o estudo das leis dos movimentos dos corpos. 2) Modelos são meios para a visualização do conhecimento, para facilitar a compreensão do original. Exemplo: O modelo do motor a diesel é usado para visualizar o funcionamento de um motor original de combustão. 3) Modelos são meios para avaliação do funcionamento de construções técnicas. Exemplo: O funcionamento das asas de um avião é testado com ajuda de pequenos modelos em canais de fortes correntes de ar. 2.5.2. Características e relação dos modelos com a realidade O seguinte quadro mostra as características dos modelos usados em Física e comparados aos objectos reais que os representam. [Prof. Doutor Gil Mavanga – Departamento de Física – Universidade Pedagógica] Page 41 Sebenta sobre Fundamentos de Didáctica Física – Didáctica de Física I 2010 Quadro 1.6. Caracterização dos modelos e sua comparação com o real Particularidades dos modelos Exemplo
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