Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/19 TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS AULA 6 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/19 Profª Natali Hoff CONVERSA INICIAL Desde o fim da década de 1980 e começo da seguinte, os estudos em Relações Internacionais passaram por uma série de importantes transformações, que vão desde a pluralização das agendas de pesquisa até o questionamento radical dos pressupostos teórico-metodológicos que vinham guiando a área desde a sua formação. Muito importantes nesse processo de inflexão foram as contribuições trazidas de disciplinas próximas, contribuições que confluíram para uma crítica à epistemologia positivista e às teorias hegemônicas, como o realismo e o liberalismo. Abordagens como o pós-estruturalismo, o feminismo, a teoria crítica e o construtivismo ajudaram a compor um novo cenário disciplinar, dando corpo a uma “virada pós-positivista” nas relações internacionais. As transformações, contudo, não se limitaram à introdução de novas abordagens: a própria realidade internacional – objeto de estudo da área – sofreu, a partir do final dos anos 1980, algumas transformações fundamentais, sendo a mais importante delas a crise e o posterior colapso da União Soviética, dando fim à chamada Guerra Fria e ao conflito entre dois polos de poder, representativos, cada um deles, de modelos de organização social, econômica, cultural e política distintos. Essa nova ordem internacional, pós-Guerra Fria, trouxe uma série de novos debates e problemáticas aos especialistas da área, que passaram a teorizar a respeito do futuro de um sistema internacional não mais organizado segundo uma lógica bipolar. Nesta aula, serão abordadas algumas das características fundamentais dessa nova ordem internacional, como a intensificação da globalização (visível no aumento do comércio internacional, na integração global dos mercados financeiros, assim como no incremento das tecnologias de informação e de comunicação); o desenvolvimento, ainda que tateante, de processos de integração regional, como é o caso da União Europeia, bem como a consolidação de uma sociedade civil global, formada por movimentos sociais e Organizações Não Governamentais (ONGs), cuja atuação e configuração passaram a ser cada vez mais transnacionais. Como fio-condutor dessas discussões, a 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/19 questão do lugar e do papel dos Estados nacionais nessa nova ordem internacional, pós-Guerra Fria e cada vez mais globalizada, tem se mostrado de extrema importância para a disciplina. No Tema 1 da aula, será retomado sucintamente o debate entre autores neorrealistas e neoliberais (o chamado debate neo/neo), fundamental para as reflexões da área a respeito do lugar dos Estados nacionais na nova ordem internacional. O Tema 2 abordará o surgimento histórico dessa nova ordem, a partir do fim da União Soviética, no início dos anos 1990, procurando delinear algumas das principais transformações pelas quais o sistema internacional tem passado desde então. No Tema 3, serão analisados alguns dos impactos do avanço da globalização sobre a atuação e as capacidades dos Estados nacionais, sobretudo em um ambiente de interdependência complexa crescente. O Tema 4 será dedicado a outro aspecto fundamental da globalização: o dos processos de integração regional, tal como a União Europeia, que ganharam renovado impulso nesta nova ordem internacional, ainda que não sem tensões e retrocessos. Por fim, o Tema 5 abordará a importância dos chamados atores transnacionais, como ONGs, empresas, movimentos sociais e até mesmo indivíduos, na conformação das dinâmicas recentes da política mundial. TEMA 1 – DEBATE ENTRE NEORREALISMO E NEOLIBERALISMO A partir do final da década de 1970, as relações internacionais assistiram a uma reedição do primeiro grande debate teórico da disciplina, aquele entre realistas e liberais. O contexto dessa reedição ocorreu na esteira das crises do petróleo (em 1973 e 1979) e da fase final da Guerra Fria, com uma relativa diminuição das tensões entre as duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética (Pereira, 2016, p. 176). Conhecido como debate neo/neo, as premissas realistas e liberais clássicas foram confrontadas e revisadas a fim de explicar as novas dinâmicas da realidade internacional, como a intensificação do processo de globalização – e, por essa via, da interdependência econômica entre os Estados – e a consolidação de atores internacionais não estatais, como empresas e organizações não governamentais de caráter transnacional. Ainda que surgido no final dos anos 1970, muitos dos elementos do debate neo/neo continuaram pautando as agendas de pesquisa da disciplina mesmo após as transformações do início da década de 1990, em que uma nova ordem internacional surgiu, não mais baseada em uma bipolaridade. O início do debate ocorreu por meio da publicação de dois trabalhos seminais para o estabelecimento das abordagens neoliberais e neorrealistas: respectivamente, Power and 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/19 Interdependence, publicado em 1977, por Robert Keohane e Joseph Nye Jr.; e Theory of International Politics, publicado em 1979, por Kenneth Waltz. O livro de Keohane e Nye Jr. compreende a realidade internacional contemporânea a partir da noção de interdependência complexa, em que os “intercâmbios internacionais de fluxos de capital, bens, pessoas, serviços e informações [...] atravessam as fronteiras nacionais” (Keohane; Nye Jr., 2011, p. 7), gerando, na maioria dos casos, situações de dependência mútua entre os países – efeitos recíprocos –, ainda que em base assimétricas: assim, países exportadores de petróleo possuem um importante instrumento de barganha em relação aos países importadores e sem reservas energéticas próprias; entre estes países importadores, contudo, o grau de vulnerabilidade é também variável, com países como os Estados Unidos estando, durante as crises do petróleo nos anos 1970, menos vulnerável às flutuações de preço dos barris do que o Japão ou a Europa Ocidental, por exemplo (Pereira, 2016, p. 181). Da mesma forma, um país que importe artigos de luxo (joias, perfumes, casacos de pele) é menos vulnerável a uma interrupção do acesso contínuo a tais bens do que aquele que depende de uma oferta constante de algum bem vital para a atividade econômica (como é o caso do petróleo) (Keohane; Nye Jr., 2011, p. 8). Essa rede de relações de interdependência assimétrica é importante, segundo os autores, porque força a análise a ir além da concepção realista de poder, que o define sobretudo como o conjunto de recursos bélicos detidos por determinado Estado. Keohane e Nye Jr. (2011) chamam a atenção para como as relações assimétricas estabelecidas em torno de determinada questão (recursos energéticos, meio ambiente, comércio internacional etc.) podem servir como fontes específicas de poder nas negociações internacionais, ainda que por parte de Estados “fracos” do ponto de vista militar. A vantagem, nesses casos, será sempre do ator menos vulnerável às mudanças – e, portanto, menos dependente – em determinada relação assimétrica de interdependência (Keohane; Nye Jr., 2011, p. 10). Nesse contexto, argumentam eles, não apenas a dimensão militar da realidade internacional deixou de ocupar a centralidade política que possuía – pois as fontes de poder se pluralizaram e se complexificaram –, mas os Estados também perderam autonomia e margem de manobra para as suas ações, sobretudo com o crescimento do comércio internacional e dos fluxos de capital financeiro entre os países, processos nos quais atores não estatais, como as empresas transnacionais, passaram a ocupar lugar de destaque. 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/19 Este, aliás, é outroponto importante de ruptura da teoria neoliberal com o realismo: não enxergar os Estados como atores coesos e monolíticos, nem como as unidades exclusivas de análise da realidade internacional. Ao contrário, os Estados seriam entidades que se conectam por múltiplos canais, não apenas interestatais, mas também transgovernamentais, como no caso das relações entre órgãos específicos de governo com seus equivalentes em outros Estados. Além disso, os países também estabelecem conexões econômicas e sociais que estão muitas vezes para além do controle estatal, como no caso das relações transnacionais estabelecidas por empresas, universidades, movimentos sociais ou ONGs (Pereira, 2016, p. 183-184). Dessa forma, uma das principais conclusões da obra de Keohane e Nye Jr. é a da crescente relevância – sobretudo em função da natureza complexa da política mundial depois dos anos 1970 – dos regimes e das organizações internacionais como instrumentos de viabilização da cooperação entre os Estados. Esses regimes podem ser compreendidos como “conjuntos de princípios implícitos ou explícitos, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão em torno das quais as expectativas dos atores convergem em determinada área das relações internacionais” (Krasner, 1983, p. 2). Um exemplo de regime internacional é o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT), que funciona como base normativa para a cooperação e a negociação entre países em matéria de comércio internacional. Em 1995, a tal regime somou-se uma organização internacional, a Organização Mundial do Comércio – OMC (Pereira, 2016, p. 195). A resposta ao trabalho de Keohane e Nye Jr. veio em 1979, com a publicação de Kenneth Waltz, Teoria das relações internacionais, no qual este autor rebateu parte das críticas neoliberais aos pressupostos do realismo e avançou uma abordagem estruturalista ou sistêmica das relações internacionais que continua a repercutir em autores mais recentes da disciplina, como os neorrealistas Robert Gilpin e John Mearsheimer (Pereira, 2016, p. 185) ou mesmo o construtivista Alexander Wendt. Quem sabe a principal inovação da abordagem proposta por Waltz (2010) tenha sido a de deslocar o nível de análise em que tradicionalmente a realidade internacional vinha sendo explicada, tanto por realistas quanto por liberais. Segundo ele, seria preciso romper com abordagens “reducionistas”, quer dizer, com as tentativas de se explicar o todo (a dinâmica e a estrutura da política internacional) levando em conta suas partes (os Estados e seus atributos). Em vez de a teorização começar, portanto, focando as características individuais de cada ator estatal (suas capacidades militar e econômica), a fim de explicar como cada um deles se comporta e como o 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/19 sistema internacional é afetado por esses comportamentos, Waltz (2010) propõe, nos primeiros três capítulos do livro, que se comece pela análise das propriedades propriamente sistêmicas da realidade internacional (o todo), que não são redutíveis nem aos atributos dos Estados (as partes), nem às interações diretas entre eles (o todo é maior, nesse raciocínio, do que a soma de suas partes). Esse foco analítico permitiria, de acordo com Waltz, explicar por que determinados padrões de comportamento estatal emergem ou se transformam, assim como por que determinados processos e eventos se repetem ao longo do tempo, incluindo aí aqueles não desejados nem antecipados pelos atores (Pereira, 2016, p. 186). Dentre as principais características sistêmicas da realidade internacional estariam o seu caráter descentralizado e anárquico: ao contrário da estrutura política interna aos Estados nacionais, em que as instituições são organizadas de maneira centralizada e hierárquica, a estrutura política internacional não possuiria um centro ou uma hierarquia formalizada, já que todos os Estados cumpririam aí a mesma função e possuiriam o mesmo grau de autoridade formal. Ou seja: na ausência de um governo com jurisdição global, o sistema internacional só poderia ser caracterizado como anárquico, com suas unidades – os Estados – orientando-se para a autoajuda, quer dizer, para a busca pela sobrevivência como unidades políticas independentes e para a manutenção ou melhora de suas posições relativas na distribuição de recursos de poder (Waltz, 2010). Para Waltz (2010), regimes e organizações internacionais teriam uma capacidade apenas limitada de constranger o comportamento dos atores estatais – comportamento determinado pelas características de anarquia e autoajuda do próprio sistema internacional –, já que que não contariam com os atributos e as capacidades de um autêntico Estado: dependeriam, ao contrário, dos recursos e da colaboração dos Estados mais poderosos para se fazerem efetivos. Ainda que não negue a existência de uma ampla gama de atores na esfera internacional (como as empresas transnacionais e os organismos internacionais), o autor sublinha o peso que os Estados nacionais – sobretudo os mais fortes – continuam a ter na determinação da estrutura da política internacional: são eles que definem o cenário no qual os demais operam, dando mais ou menos liberdade de ação a estes (Pereira, 2016, p. 190). Contudo, Waltz concorda com a posição de neoliberais como Keohane e Nye Jr. em um ponto importante: o recurso bélico não deve ser pensado como única fonte relevante de poder no sistema internacional, nem a segurança pode ser colocada como o tema dominante da agenda dos Estados. De acordo com Waltz (2002, p. 133-134, citado por Pereira, 2016, p. 188), “os Estados usam meios 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/19 econômicos para fins militares e políticos; e meios militares e políticos para alcançar interesses econômicos”. Esse ponto de concordância entre os autores do debate neo/neo é importante, pois reflete um processo de convergência gradual entre as duas abordagens. Posteriormente, o próprio Kehoane irá reconhecer, em sua teoria neoliberal institucionalista, que os Estados nacionais possuem centralidade como atores das relações internacionais, ainda que o autor não abandone a premissa liberal da importância crescente dos regimes e organismos internacionais na definição da política mundial (Pereira, 2016, p. 193-194). Como será visto nas próximas seções, muitas das questões levantadas pelo debate neo/neo continuarão relevantes para a análise da ordem mundial pós-Guerra Fria. TEMA 2 – FIM DA GUERRA FRIA E NOVA ORDEM INTERNACIONAL A configuração do sistema internacional ao longo do período da chamada Guerra Fria era, tal como conceitualizado por Aron (2002), de natureza bipolar: duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, lideravam blocos de países que representavam modelos de organização econômica e política bastante distintos – os modelos capitalista e socialista. As duas superpotências também estiveram presentes em vários dos conflitos do período que se estendeu da década de 1950 a 1980, fornecendo suporte militar e econômico aos atores a elas ligados. Esse sistema bipolar, ainda segundo Aron (2002, p. 159-160), podia também ser caracterizado como moderadamente heterogêneo, pois os diferentes Estados organizavam-se em blocos e alianças com base em duas ideologias rivais mais importantes, evitando o desequilíbrio que a presença de um número maior de ideologias poderia produzir. É justamente esse sistema internacional bipolar e heterogêneo que implodiu a partir do declínio de uma das duas superpotências, a União Soviética, colocando em xeque o equilíbrio da política mundial até então mantido por tal bipolaridade. O que se tem, a partir dos anos 1990, assim, é uma redefinição dos polos de poder, com a permanência de uma das superpotências, os Estados Unidos, em posição dominante na esfera internacional, tanto no aspecto bélico quanto econômico: é ela a possuidorado maior arsenal de armas nucleares e do maior orçamento de defesa, assim como a detentora da maior economia do mundo, com PIB estimado em 22,48 trilhões de dólares, em 2020 (Pereira; Blanco, 2021). 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/19 Inúmeras têm sido as implicações do fim da Guerra Fria e do estabelecimento de uma nova ordem mundial, agora sem o equilíbrio de poder propiciado pela rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética. Uma importante consequência diz respeito à natureza dos conflitos bélicos. Com a fragmentação da União Soviética e de países que compunham o bloco socialista, tal como a Iugoslávia, diversos conflitos de natureza étnica e de cunho nacionalista voltaram à tona no leste da Europa. Houve assim um crescimento de conflitos internos aos Estados (intraestatais), ao menos quando comparados àqueles ocorridos entre Estados (interestatais). Isso não quer dizer que conflitos intraestatais, como guerras civis, não estivessem também presentes ao longo da Guerra Fria, como no caso de diversos países africanos desde os anos 1960 – tais conflitos, contudo, foram obscurecidos pelas guerras interestatais do período (Hobsbawm, 2007). Se os anos 1990 assistiram ao retorno de conflitos étnicos e de movimentos nacionalistas em países, sobretudo do Leste europeu, processos de integração regional também conheceram grandes avanços nessa mesma década: a aprovação do Tratado de Maastrich, em 1992, por exemplo, foi um passo fundamental para a integração de diversos países europeu, dando origem à atual União Europeia e lançando as bases para a criação de uma moeda comum. Tal movimento contraditório – de avanço simultâneo de tensões étnicas e nacionalistas, de um lado, e de processos de integração econômica e política, de outro – é justamente um dos traços característicos dessa nova ordem internacional, nascida a partir do fim da Guerra Fria. No caso europeu, a tensão entre os movimentos nacionalistas – muitas vezes ligados a partidos de extrema direita – e o avanço dos processos de integração regional tem sido reforçada por crises como a migratória e a econômica ao longo da década de 2010. De acordo com Nye Jr. (2002), os processos de integração regional são facilitados por contextos nacionais de crescimento econômico e de consolidação das instituições democráticas, quando procedimentos e decisões podem ser discutidos mais abertamente e opiniões extremistas tendem a ser desencorajadas. No que diz respeito à segurança internacional, importantes transformações na natureza das ameaças aos Estados também ocorrem: novas formas de organização do terrorismo consolidam-se, sobretudo no que diz respeito ao seu caráter transnacional e desterritorializado. A Al Qaeda, responsável pelos emblemáticos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, por exemplo, organizava-se em células localizadas em diferentes países, transcendendo fronteiras e limites nacionais. Como apontado por Nye Jr. (2002), os alvos e meios dessas novas práticas terroristas vão além das modalidades tradicionais – como o emprego de explosivos ou armas 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/19 biológicas –, recorrendo agora também às tecnologias de informação e de comunicação, a fim de produzir novos tipos de ameaça e de risco, como no caso de ataques a infraestruturas computadorizadas de eletricidade, de saúde, controle aéreo ou financeiras: “muitas das novas ameaças não serão suscetíveis de solução por parte de exércitos disparando explosivos potentes” (Nye Jr., 2002, p. 273). Outra importante discussão, no âmbito das relações internacionais, a respeito da nova ordem mundial, diz respeito às novas configurações de poder vigentes desde então. Muito dessa discussão centra-se, como mostrado anteriormente, na análise da pluralização e da complexificação das fontes de poder e da crescente interdependência entre os países por conta do avanço do processo de globalização. Para os neorrealistas, como Waltz, o ponto fundamental diz respeito às condições de estabilidade do sistema internacional, antes garantidas pela natureza bipolar da política mundial durante a Guerra Fria. A abordagem neoliberal de Nye Jr. (2002) procura incorporar algumas das preocupações neorrealistas, sugerindo que a nova ordem seja compreendida com base na metáfora de um “xadrez tridimensional” (Pereira; Blanco, 2021). Na visão de Nye Jr. (2002), a primeira dimensão desse xadrez diria respeito às relações bélicas e militares entre os Estados, caracterizada agora por um caráter unipolar, dada a ampla dominância dos Estados Unidos nessa matéria. A segunda dimensão diria respeito às relações econômicas, com Estados Unidos, União Europeia e Japão controlando dois terços da produção mundial (à época da análise do autor, nos anos 2000). A decadência econômica da antiga superpotência, Rússia, veio também acompanhada da entrada de um novo ator economicamente relevante nessa dimensão: a China, dona de um crescimento econômico superior, em média, a 10% ao ano, desde o final da década de 1970. Além disso, as crises econômicas europeia e japonesa nos anos 2010 e a recente guerra comercial entre Estados Unidos e China parecem mostrar que a dimensão econômica desse xadrez vem adquirindo uma nova configuração, caracterizada pelo predomínio desses últimos países. Por fim, a terceira dimensão diria respeito aos atores transnacionais não estatais, como empresas e ONGs, atores com capacidades bastante variadas de influência: as empresas transnacionais, em particular, estariam muitas vezes em condição de rivalizar com certos Estados, o que leva Nye Jr. (2002) a caracterizar essa dimensão como a de maior dispersão de poder. Essas três dimensões elencadas pelo autor estariam, contudo, em uma relação hierárquica: a dimensão militar ocuparia o topo, sendo ainda determinante para a dinâmica do sistema internacional; a dimensão econômica, por sua vez, ocuparia a posição intermediária, e a dos atores transnacionais, a posição inferior. 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/19 Qualquer análise a respeito das configurações de poder na nova ordem mundial precisaria levar em conta, portanto, essa relação entre as diferentes dimensões, relação que configuraria uma “interdependência de níveis múltiplos” (Nye Jr., 2002, p. 276). TEMA 3 – GLOBALIZAÇÃO E ESTADOS NACIONAIS A globalização pode ser descrita como um processo histórico de intensificação das interações entre Estados nacionais, processo que envolve não apenas governos, mas também as próprias sociedades nacionais administradas por esses Estados: trata-se, portanto, de um conjunto de intercâmbios interestatais e, também, intersocietais que ultrapassa as fronteiras nacionais, estando parte dele fora do controle de governos. Sendo assim, nenhuma descrição do processo de globalização pode estar completa sem levar em conta as conexões societais estabelecidas entre atores transnacionais, como empresas, movimentos sociais e ONGs (Pereira; Blanco, 2021). Um aspecto fundamental da globalização diz respeito à intensificação dos fluxos econômicos entre os países, sejam esses fluxos de natureza financeira, comercial, de investimento ou de tecnologia. No que tange ao comércio internacional, um significativo crescimento tem sido verificado desde o fim da Segunda Guerra Mundial: do pós-guerra à década de 1990, o montante do comércio internacional passou de 57 bilhões para seis trilhões de dólares (Gilpin, 2004, p. 36). Em relação aos fluxos de capital financeiro, o volume de troca de divisas (em moedas nacionais), ao final dos anos 1990, já chegava a 1,5 trilhão por dia: “A gigantesca escala, velocidade e natureza especulativa dos movimentos financeiros através das fronteiras nacionais tornou os governos mais vulneráveis às mudanças bruscas nesses movimentos” (Gilpin, 2004, p. 38). Esses montantes mostram a fragilidade da economia global peranteo caráter volátil dos fluxos de capital, muitos deles focados exclusivamente na especulação financeira. Em relação ao capital produtivo de investimento, destaca-se cada vez mais o papel das empresas transnacionais e dos IDEs (Investimentos Diretos Estrangeiros), responsáveis por parte significativa do crescimento econômico e do bem-estar social em muitos países. Esse fato tem tornado as empresas transnacionais em atores cada vez mais relevantes nos processos decisórios internos aos Estados nacionais, bem como nas organizações econômicas internacionais: Controlando a maior parte dos capitais de investimento, da tecnologia e do acesso aos mercados globais em todo o mundo, essas empresas tornaram-se atores centrais não apenas nas questões 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/19 econômicas internacionais mas também nas políticas, o que em muitos países levou a uma reação. (Gilpin, 2004, p. 41). Ainda assim, um autor neorrealista como Robert Gilpin continua sublinhando a centralidade da política e dos Estados nesse processo de globalização econômica, já que são estes, segundo o autor, que fornecem as bases políticas e militares para uma economia mundial unificada e minimamente estável. Nesse sentido, as regras e regimes internacionais em matéria de economia só podem ter êxito se apoiadas em base política sólida, o que, por sua vez, só pode ser obtido por meio da intervenção dos Estados mais fortes, como Estados Unidos, Europa ocidental, Japão, China e Rússia (Gilpin, p. 74-75). Mesmo com organizações internacionais como a OMC, a liderança por parte desses Estados continua fundamental para a solução de problemas e impasses na economia mundial: esse é justamente um dos principais argumentos da chamada teoria da estabilidade hegemônica, que condiciona a efetividade dos regimes internacionais a uma liderança hegemônica capaz de sustentá- los (Kindleberger, 1973; Gilpin, 1987). É inegável, contudo, que a força das empresas transnacionais como atores do sistema internacional tem aumentado com a intensificação do processo de globalização: de acordo com Martins (1999, p. 47), estima-se que ao menos 40% dos fluxos de comércio internacional sejam realizados entre filiais de grandes empresas. Isso torna a economia de muitos países extremamente vulnerável às decisões de investimento por parte dessas empresas transnacionais, o que também tem levado muitos governos a tomarem decisões políticas – em matéria fiscal e trabalhista, por exemplo – que tornem suas economias mais atrativas aos interesses de tais atores. Trata-se, dessa forma, de uma perda de autonomia política por parte dos Estados, sobretudo daqueles economicamente mais frágeis e mais dependentes de investimentos estrangeiros. Autores como Gilpin, Hobsbawm e Nye Jr. concordam, contudo, que os Estados nacionais permanecem centrais na nova ordem mundial, ainda que tenham perdido certa autonomia em matéria de decisão econômica: para Hobsbawm (2007), os Estados territoriais permanecem como únicas autoridades efetivas do ponto de vista político-militar, ainda que alguns deles não detenham mais o monopólio da força e a legitimidade política necessárias para o controle de suas populações e territórios. Para Nye Jr. (2002, p. 265), o Estado nacional não se tornou ainda obsoleto, pois suas instituições políticas continuam sendo ainda as únicas capazes de fornecer algum grau de segurança física, bem-estar econômico e identidade comum aos seus cidadãos: “As empresas multinacionais e as organizações internacionais carecem da força para prover às necessidades de segurança e da 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/19 legitimidade para proporcionar uma sede para a identidade comum. As comunidades virtuais são ainda mais fracas do que as geográficas” (Nye Jr., 2002, p. 265). Outro aspecto importante da globalização, para além das questões econômicas, diz respeito às transformações culturais por ela motivadas: ainda que se assista a um inegável crescimento na disseminação de uma cultura global de matriz estadunidense, a forma como essa cultura é apropriada por diferentes sociedades tem se mostrado bastante variável. Como apontado por autores como Berger e Huntington (2004), os impactos da globalização sobre diferentes culturas têm sido mediados por mecanismos de hibridismo e de localização: o hibridismo corresponde à síntese entre traços culturais locais e traços culturais estrangeiros, ocasionando o surgimento de novos elementos, distintos de ambas as culturas originais; a localização, por sua vez, descreve a adaptação local de influências oriundas da cultural global. Exemplos de hibridismo podem ser vistos nas artes, como no caso do surgimento de novos gêneros musicais geradas pela fusão de influências locais e globais; a localização pode ser exemplificada pela adaptação a que os serviços e bens produzidos por empresas transnacionais precisam passar, a fim de adequar aos gostos locais, como no caso de cadeias de lanchonetes ou fast-food. Em ambos os exemplos, vê-se que “a ideia de uma homogeneização global inconsciente subestima em muito a capacidade dos seres humanos de serem criativos e inovadores quando enfrentam desafios culturais” (Berger; Huntington, 2004, p. 21). TEMA 4 – GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO REGIONAL A globalização não é visível apenas em aspectos econômicos e culturais, como os da formação de uma cultura global ou do aumento dos fluxos de capital entre os países; ela também se faz presente em processos políticos de integração regional, que ganharam novo fôlego a partir do final da década de 1980. Essa tendência ao regionalismo é mais um ângulo com base no qual se podem analisar as mudanças na autonomia dos Estados nacionais na nova ordem internacional (Pereira; Blanco, 2021). A integração de Estados em blocos políticos regionais tem sido interpretada ao menos de duas formas distintas: como tentativa, por parte dos atores estatais, de realizar uma abertura mais gradual à globalização, criando assim condições preparatórias para movimentos futuros mais ambiciosos de integração no nível internacional; ou ainda, ao contrário, como uma estratégia de defesa, por parte dos Estados, contra as consequências econômicas geradas pela globalização (Lima; Coutinho, 2005). 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/19 Em comum, ambas as interpretações enxergam os processos de integração como efeito das decisões estratégicas tomadas pelos atores estatais frente a um ambiente de crescente competição global: “O regionalismo é, nesse sentido, uma postura reativa, entregue à necessidade de se tornar mais competitivo justamente num momento em que diminui a capacidade dos Estados de individualmente formularem políticas e regularem mercados” (Lima; Coutinho, 2005, p. 3). A questão da autonomia dos Estados nacionais em processos de integração regional tem levado à análise dos aspectos institucionais envolvidos nesses processos, bem como da efetividade ou consolidação dessas novas institucionalidades, as quais criam esferas decisórias – como parlamentos – fora das tradicionais unidades políticas representadas pelos Estados. Mais céticos em relação à possibilidade de regionalismos robustos, autores neorrealistas enfatizam a centralidade mantida pelos atores estatais nesses processos, já que as decisões produzidas pelos blocos tendem a expressar os interesses dos principais atores que os compõem (como a Alemanha, no caso da União Europeia, ou o Brasil, no caso do Mercosul). De maneira geral, neorrealistas consideram improvável a transferência de poder decisório dos Estados nacionais para instituições regionais (Camargo, 2008, p. 473). Teóricos liberais, por outro lado, têm dominado o debate sobre integração: autores como Ernst Haas (1958) procuraram aventar, inclusive, a possibilidade de formação de superestados, derivados justamente da integração dos países em blocos políticos.Essa possibilidade, contudo, não foi confirmada pelos processos históricos concretos de integração regional, levando a um diagnóstico mais suavizado que enxerga, em blocos como a União Europeia, uma partilha de soberania entre diferentes níveis decisórios (Camargo, 2008). Seja como for, casos como o da União Europeia têm servido para ilustrar as tensões envolvidas na tentativa de conciliar a necessidade de integração, por um lado, e o interesse pela manutenção da autonomia e soberania dos Estados nacionais, por outro. Essas tensões têm produzido processos de integração marcados por avanços e retrocessos, como fica claro na recente saída do Reino Unido da União Europeia – o chamado Brexit (Pereira; Blanco, 2021). Ainda assim, o Parlamento Europeu, criado em 1979 e consolidado pelo Tratado de Maastrich em 1992, possui hoje efetivo poder de veto em determinadas matérias econômicas fundamentais para a integração da região (Medeiros; Campos, 2009), sendo o exemplo mais bem acabado de um parlamento supranacional, formado por representantes eleitos que devem prestar contas diretamente aos cidadãos que representam. 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/19 Para além das tensões já elencadas, relativas à tentativa de manutenção de autonomia por parte dos atores estatais, a atitude dos cidadãos dos países envolvidos em processos de integração também deve ser considerada. No caso europeu, fatores como a crise econômica que afetou economias do bloco (sobretudo, Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda), aprofundando desigualdades regionais; a crise dos refugiados (oriundos de países como Síria e Iraque), cujo ápice ocorreu em 2015 e 2016, e que veio a se somar aos deslocamentos migratórios de cunho econômico; e o crescimento eleitoral da extrema direita em diversos países europeus (como Itália e Hungria) têm alimentado um sentimento de euroceticismo em relação às vantagens prometidas pela integração, demonstrando, assim, a complexidade de processos dessa natureza (Pereira; Blanco, 2021). TEMA 5 – ATORES TRANSNACIONAIS Como dito anteriormente, a globalização não pode ser entendida apenas com base no aumento das interações interestatais: ela se refere, também, ao incremento das interações entre atores societais – como empresas, ONGs e movimentos sociais – de diferentes países. A denominação atores transnacionais procura justamente ressaltar essa diferenciação, salientando o quanto o aumento das trocas – informacionais, econômicas, migratórias, políticas – ocorrem muitas vezes para além do controle das instituições de governo que compõem o Estado. Foi por meio da tradição teórica liberal – especificamente a sociológica, de autores como Karl Deutsch e James Rosenau – que as relações transnacionais estabelecidas entre sociedades, grupos e indivíduos ganharam relevância como objetos de estudo das relações internacionais. Desse ponto de vista, que procura ir além das tradicionais relações entre atores estatais, mesmo indivíduos podem ser considerados como atores transnacionais. De acordo com Rosenau (2000), a relevância dos indivíduos para as relações internacionais foi potencializada pela erosão e pela dispersão do poder dos Estados e de suas instituições, assim como pelo incremento dos meios de comunicação e de transporte, responsáveis por aumentar o senso de eficácia que os indivíduos atribuem a suas próprias atuações políticas, além da transformação dos temas prioritários da agenda internacional, com o ganho de importância de temáticas como ambientalismo, tráfico de drogas e terrorismo (Rosenau, 2000, p. 366-368). Autores neoliberais como Keohane e Nye Jr. têm criticado a pouca importância dada pelos realistas aos atores transnacionais, negligência produzida, segundo eles, pela redução da política 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/19 internacional ao comportamento dos Estados. Ainda que reconheçam a importância destes, Keohane e Nye Jr. (2011) questionam a ausência de atenção, por parte dos realistas, a atores transnacionais – como empresas, ONGs e movimentos sociais –, sugerindo que a definição de política internacional seja ampliada a fim de abarcá-los: nesse sentido, deve ser considerado relevante, todo ator capaz de controlar recursos substantivos que possam ser utilizados de maneira efetiva como mecanismos de pressão e influência sobre outros autores – incluindo aí os Estados. Segundo essa abordagem, a pluralização e a complexificação das fontes de poder e de interdependência no sistema internacional contemporâneo obrigam a que se amplie o critério por meio do qual são definidos os atores e recursos politicamente relevantes a serem considerados: de acordo com autores como Herz (1988) e Villa (1999), a noção de influência sobre processos e esferas decisórias deve ser tomada como critério principal para a delimitação dos atores politicamente relevantes na esfera internacional. ONGs, por exemplo, exercem influência ainda que não monopolizem recursos bélicos, pois apresentam propostas em conferências globais e trabalham pela construção de consensos em torno de determinados temas, colaborando, por essa via, para a determinação da agenda política das organizações internacionais e mesmo de Estados nacionais (Villa, 1999). Ainda que os atores transnacionais sejam definidos conjuntamente pelo seu caráter não estatal, importantes diferenças podem ser percebidas entre eles: empresas transnacionais, por exemplo, organizam-se de maneira hierárquica, baseadas em um centro (matriz) e orientando-se pela obtenção de lucro privado a fim de atender a seus acionistas. ONGs e movimentos sociais, por outro lado, compõem o que Jean Cohen (2003) nomeia como sociedade civil, ou seja, uma esfera de interação social cuja lógica é distinta tanto da economia (poder econômico) quanto do Estado (poder militar e administrativo). Tal sociedade civil configura-se como um espaço de associação voluntária entre indivíduos mobilizados em torno de uma pauta pública comum, apresentando formas de atuação que vão do local ao transnacional, como no caso de organizações como Greenpeace e World Wide Fund (WWF). Em um contexto de avanço da globalização, importantes transformações puderam ser verificadas na configuração dessa sociedade civil: cada vez mais, o incremento dos meios de comunicação (como no caso do advento e popularização da internet) tem possibilitado um processo de transnacionalização de atores como ONGs e movimentos sociais, por meio da ampliação das redes e conexões entre indivíduos e grupos em uma escala mundial (Pereira; Blanco, 2021). De acordo com 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/19 Keck e Sikkink (1998, citado por Cohen, 2003, p. 434), essa sociedade civil globalizada é composta por “estruturas comunicativas das quais participam atores situados em diferentes posições com a finalidade de influir nas políticas públicas, nos discursos, nas normas e nos processos decisórios de entidades muito poderosas”. Essas estruturas comunicativas, que se utilizam das novas tecnologias de informação, formam a infraestrutura responsável por formas inovadoras de ação coletiva, de produção de identidades compartilhadas e de modelos de “solidariedade entre estranhos” (Cohen, 2003, p. 435), em uma escala e intensidade anteriormente impossíveis. NA PRÁTICA Como visto nesta aula, a globalização é um processo complexo, que diz respeito não apenas ao aumento das interações entre atores estatais e entre órgãos governamentais, mas também entre as sociedades nacionais de uma maneira mais ampla, por meio de fluxos de comércio, capital, informação e pessoas. Anualmente, a DHL e a Universidade de Nova York publicam o Global Connectedness Index (Índice de Conectividade Global – GCI), que classifica 169 países do mundo de acordo com o grau de conectividade global de cada um e elaborando, com base nisso, um ranking desses países, atualmente liderado por Holanda,Singapura, Bélgica, Emirados Árabes Unidos e Irlanda. Saiba mais O relatório dessa pesquisa para o ano de 2020 pode ser encontrado no link a seguir; na página 47, você poderá conferir o ranking completo: ALTMAN, S. A.; BASTIAN, P. DHL Global Connectedness Index 2020 – The state of globalization in a distancing world. Boon: DHL, 2020. Disponível em: <https://www.dhl.com/co ntent/dam/dhl/global/dhl-spotlight/documents/pdf/spotlight-g04-global-connectedness-index- 2020.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2021. FINALIZANDO Nesta aula, foram explorados alguns dos efeitos da intensificação do processo de globalização e da consolidação de uma chamada nova ordem mundial, após o colapso do sistema bipolar https://www.dhl.com/content/dam/dhl/global/dhl-spotlight/documents/pdf/spotlight-g04-global-connectedness-index-2020.pdf 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/19 característico do período da Guerra Fria. Entre tais efeitos, destaca-se o incremento das trocas – informacionais, econômicas, migratórias, políticas – entre os países, dando origem a uma conectividade global assimétrica, compreendida por autores como Keohane e Nye Jr. com base no conceito de interdependência complexa. Tais transformações do cenário global impuseram um questionamento profundo das relações internacionais acerca do lugar dos Estados nacionais – tradicionais unidades de análise da disciplina – nas relações de poder contemporâneas. A ascensão de atores transnacionais – como empresas, ONGs e movimentos sociais –, a tensão entre nacionalismos e regionalismos, a crescente interdependência financeira e a formação de uma sociedade civil global são fatores que colocam em xeque os Estados nacionais como atores centrais da política mundial. Ainda que neoliberais e neorrealistas concordem a respeito da continuidade dos atores estatais como principais forças do sistema internacional, tornam-se cada vez mais claras as fragilidades do sistema de Estados tal como este tem sido tradicionalmente concebido. Em meio a esses questionamentos, a análise do papel dos regimes e das organizações internacionais tem sido cada vez mais relevante, assim como de seus claros limites, ressaltados por autores neorrealistas, que chamam a atenção para o papel ainda fundamental das grandes potências na garantia da efetividade dessas institucionalidades internacionais. Em resumo, os diagnósticos acerca do destino das dinâmicas internacionais de poder no século XXI permanecem ainda em aberto, cabendo às pesquisadoras e pesquisadores da área a produção de novos conceitos e de novas abordagens capazes de lidar com uma realidade em transformação cada vez mais acelerada. REFERÊNCIAS ARON, R. Paz e guerra entre as nações. Brasília: Universidade de Brasília, 2002. BERGER, P.; HUNTINGTON, S. (orgs.). Muitas globalizações: diversidade cultural no mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Record, 2004. CAMARGO, S. União Europeia – uma comunidade em construção. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, maio/ago., 2008. Cohen, J. Sociedade civil e globalização: repensando categorias. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 3, p. 419-459, 2003. 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/19 Gilpin, R. The political economy of the international relations. Princeton: Princeton University, 1987. _____. O desafio do capitalismo global: a economia mundial no século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004. HAAS, E. The uniting of Europe: political, social and economic forces 1950-1957. Stanford: Stanford University, 1958. Herz, M. A dimensão cultural das relações internacionais e os atores não governamentais. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 69-82, 1988. HOBSBAWM, E. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. KEOHANE, R.; NYE JR., J. Power and interdependence. New York: Longman, 2011. Kindleberger, C. The World in depression, 1929-39. Berkeley: University of California, 1973. KRASNER, S. Structural causes and regimes consequences: regimes as intervening variables. In: KRASNER, S. International regimes. Ithaca: Cornell University, 1983. Lima, M. R. S. de; Coutinho, M. V. Globalização, regionalização e América do Sul. Análise de Conjuntura OPSA, Rio de Janeiro, n. 6, maio, 2005. MARTINS, Luciano (1999). Novas dimensões da “segurança internacional”. In: Dupas, G.; Vigevani, T. (orgs.). O Brasil e as novas dimensões da segurança internacional. São Paulo: Alfa-Omega. MEDEIROS, M. A.; CAMPOS, C. R. União Europeia, reformas institucionais e déficit democrático: uma análise a partir do mecanismo de codecisão. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 52, n. 1, p. 29-52, 2009. Nye JR., J. Compreender os conflitos internacionais: uma introdução à teoria e à história. Lisboa: Gradiva, 2002. PEREIRA, A. Teoria das relações internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. PEREIRA, A.; BLANCO, R. Teorias contemporâneas das relações internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2021. 04/07/2022 22:00 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/19 Rosenau, J. Governança, ordem e transformação na política mundial. In: Rosenau, J.; Czempiel, E.- O. (orgs.). Governança sem governo – ordem e transformação na política mundial. Brasília: Universidade de Brasília, 2000. Villa, R. Da crise do realismo à segurança global multidimensional. São Paulo: Annablume, 1999. WALTZ, K. Theory of international relations. Long Grove: Waveland, 2010.
Compartilhar