Buscar

Direito Internacional do Trabalho_3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 334 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 334 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 334 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO 
INTERNACIONAL
DO TRABALHO
Marcio Morena Pinto
3 ª Edição | Abril | 2022
Impressão em São Paulo/SP
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
Direito Internacional do Trabalho
Coordenação Geral
Nelson Boni
Coordenação de Projetos
Leandro Lousada
Professor Responsável
Marcio Morena Pinto
Revisão Ortográfica
Vanessa Almeida
Coordenadora Pedagógica de Cursos EAD
Eleonora Altruda de Faria
Projeto Gráfico, Diagramação e Capa
Janine Lopes
3ª Edição: Abril de 2022.
Impressão em São Paulo/SP
Copyright © EaD Know How 2012
Nenhuma parte desta publicação pode 
ser reproduzida por qualquer meio sem
a prévia autorização desta instituição.
CDD – 341.763
Sumário
Unidade 1 - A Internacionalização e o 
Direito Internacional do Trabalho ........... 9
1.1. O Trabalho na Vida do Homem ............11
1.1.1 Visões Histórico-Ideológicas 
do Trabalho ...................................................... 13
1.1.2 A Evoluçao Histórica das 
Relações de Trabalho ....................................... 16
1.1.3 As Revoluções Industriais ........................ 19
1.1.4 As Doutrinas Sociais e o Marxismo .......... 25
1.2. O Direito Internacional do Trabalho .....36
1.2.1. Os Primórdios de um 
Direito Internacional do Trabalho ..................... 36
1.2.2 Instrumentos Internacionais ..................... 41
1.2.3 Conceito e Objeto .................................... 47
1.2.4 Princípios Universais ............................... 49
1.2.5 Fundamentos ........................................... 53
Exercícios de Fixação ....................................... 54
Unidade 2 - Organização Internacional 
do Trabalho (OIT) ............................... 63
2.1. O Surgimento da OIT como 
Organização Internacional ...................65
2.2. Finalidades e Funções .........................69
2.3. Competência .......................................72
2.4. Natureza Jurídica ..................................74
2.5. Membros .............................................75
2.6. Composição: Órgãos da OIT ................77
2.6.1 Conferência ou Assembleia Geral ........... 78
2.6.2 Conselho de Administração ..................... 80
2.6.3 Repartição Internacional .......................... 82
2.7. Comissões Consultivas e Análogas ......84
2.8. Conferências Regionais e 
Conferências Técnicas .........................88
2.9. A OIT no Brasil .....................................89
2.10. Os Projetos da OIT no Brasil .................94
Exercícios de Fixação ....................................... 97
Unidade 3 - As Normas Internacionais 
Trabalhistas I: Tratados Internacionais 105
3.1. Os Tratados Internacionais ................107
3.1.1 Definição ............................................... 109
3.1.2 Classificação e Natureza Jurídica ........... 112
3.1.3 Formação dos Tratados: 
Celebração e Entrada em Vigor ..................... 114
3.1.4 Reservas ................................................ 122
3.1.5 Emendas ................................................ 125
3.1.6 Entrada em Vigor e Aplicação Provisória . 126
3.1.7 Observância, Aplicação e 
Interpretação dos Tratados ............................. 128
3.1.8 Os Tratados e seus Efeitos 
Para Terceiros Estados.................................... 132
3.1.9 Nulidade, Terminação e 
Suspensão da Aplicação dos Tratados ............ 133
3.1.10 Extinção e Suspensão de um Tratado ... 139
3.1.11 Depósito, Registro e Publicação .......... 142
3.2. Principais Tratados 
Firmados Pelo Brasil em 
Matéria Trabalhista e Previdenciária .145
3.2.1 Tratado de Itaipú .................................... 147
Exercícios de Fixação ..................................... 156
Unidade 4 - As Normas Internacionais 
Trabalhistas II: Convenções, 
Recomendações e Resoluções da OIT ... 161
4.1. Convenções .......................................163
4.1.1 Definição ............................................... 164
4.1.2 Natureza Jurídica .................................... 164
4.1.3 Modalidades E Classificação da OIT ...... 165
4.1.4 Vigência Internacional ........................... 169
4.2. Recomendações e Resoluções ...........171
4.3. Revisão ..............................................173
4.4. Convenções Ratificadas Pelo Brasil ....180
4.5. Soluções de Controvérsias 
Relativas às Convenções ....................192
4.6. Sistemas de Supervisão e 
Controle de Aplicação das 
Normas da OIT ...................................194
4.6.1 Controle Permanente ............................. 194
4.6.2 Controle por Provocação ....................... 202
4.7. Sanções ...............................................208
Exercícios de Fixação ..................................... 213
Unidade 5 - Integração das Normas 
Internacionais Trabalhistas no 
Ordenamento Jurídico Brasileiro ......... 237
5.1. A Soberania Estatal 
Frente às Convenções e 
Recomendações da OIT .....................239
5.2. Ratificação das Convenções da OIT ...245
5.3. Integração e Hierarquia dos 
Tratados e Convenções da 
OIT no Ordenamento Jurídico Interno . 251
5.4. Vigência e Eficácia em 
Âmbito Nacional ................................262
5.5. Denúncia............................................265
Exercícios de Fixação ...............................270
Unidade 6 - O Mercado 
Comum do Sul (Mercosul) .................. 273
6.1. A Formação do Bloco: 
Aspectos Históricos, 
Políticos e Econômicos ......................275
6.2. Características do 
Processo de Integração ......................283
6.3. Estrutura Institucional do Mercosul ....287
6.3.1 Conselho do Mercado Comum (CMC) ... 288
6.3.2 Grupo Mercado Comum (GMC) ........... 289
6.3.3 Comissão de Comércio do 
Mercosul (CCM) ............................................ 290
6.3.4 Parlamento do Mercosul (PM) ............... 292
6.3.5 Foro Consultivo 
Econômico-Social (FCES) .............................. 293
6.3.6 Secretaria do Mercosul (SM) ................. 294
6.3.7 Tribunal Permanente de 
Revisão do Mercosul (TPR) ............................ 295
6.3.8 Tribunal Administrativo-
Trabalhista do Mercosul (TAL)........................ 295
6.3.9 Centro Mercosul de 
Promoção do Estado de Direito (CMPED) ...... 299
6.3. O Direito do Trabalho no 
Âmbito do Mercosul ..........................300
6.4.1. Declaração Sociolaboral do Mercosul ... 302
6.4.2. A Conjuntura Politico-
Economica do Mercosul na Atualidade .......... 310
Exercícios de Fixação ..................................... 312
Referências Bibliográficas .........................321
Gabarito ....................................................331
9
1 
A INTERNACIONALIZAÇÃO E O DIREITO 
INTERNACIONAL DO TRABALHO
11
1.1. O TRABALHO NA VIDA DO HOMEM
É cediço que o homem é um ser racional, distin-
guindo-se dos animais não somente por sua capacidade 
de discernimento, mas também pela sua inerente socia-
bilidade manifestada pela comunicação com o mundo 
que está ao seu redor. Pode-se dizer então que o ho-
mem produz o mundo a si mesmo, no célebre sentido 
orteguiano de existência, cristalizado no aforismo: “Eu 
sou eu e minha circunstância”.
O homem, para Ortega y Gasset (1967, p. 47), tor-
na-se responsável pela mudança histórica e social quan-
do adquire plena consciência de suas circunstâncias. Por 
elas que ele se comunica com o universo numa relação 
constitutiva: nem eu existo à parte das coisas e nem elas 
existem à parte de mim. Logo, minha circunstância é 
parte constitutiva de mim mesmo.
Os seres irracionais, por sua vez, não produzem a 
própria existência, apenas a conservam de maneira ins-
tintiva, por meio de atos desprovidos de discernimento 
e que, simplesmente, lhes conduzem a uma situação de 
segurança, garantindo-lhes a rotineira conquista do ali-
mento e do abrigo seguro.
A principal ação transformadora do homem em 
relação ao mundo e a si mesmo se dá por meio do tra-
balho. O trabalho é o que realmente distingue os ho-
mens dos animais; o que os humaniza. Como observa 
Kamper (1998, p. 12-13), o trabalho se estendea todos 
12
os setores da vida humana, não se circunscrevendo à ati-
vidade remunerada, área onde costuma ser identificado, 
acabando por apoderar-se da própria vitalidade humana. 
O trabalho é sempre dirigido por uma finalidade 
consciente, criando e reproduzindo técnicas reiterada-
mente utilizadas ao longo da história, sempre com o 
objetivo de transformar a natureza, adaptando-a con-
forme as necessidades sociais. Ao modificar o seu en-
torno, o homem transforma a si próprio, se autopro-
duz, afastando-se dos animais que permanecem sempre 
os mesmos na sua essência.
Para Martins Filho (2009, p. 3), trabalho é toda a 
ação humana, realizada com gasto de energia física ou 
mental, acompanhada ou não do auxílio instrumental, 
dirigida a um fim determinado que produza efeitos no 
próprio agente que o realiza, a par de contribuir para 
transformar o mundo em que se vive.
Aranha e Martins (1993, p. 6), destacam um cunho 
mais humanista que o trabalho aporta, por ser uma 
atividade relacional. Além de desenvolver habilidades, 
permite que a convivência não só facilite a aprendiza-
gem e o aperfeiçoamento dos instrumentos e das técni-
cas, mas também enriqueça a afetividade resultante do 
relacionamento humano. No trabalho, o homem apren-
de a conhecer a natureza, as pessoas e a si mesmo ex-
perimentando emoções de expectativa, desejo, prazer, 
medo, inveja etc. Em poucas palavras, o trabalho é uma 
condição de transcendência e, portanto, é expressão da 
própria liberdade.
13
1.1.1 VISÕES HISTÓRICO-IDEOLÓGICAS 
DO TRABALHO
É curioso notar que uma concepção negativa de 
trabalho aparece nas avaliações que várias culturas do 
passado fizeram a seu respeito ao longo da história. A 
tradição grega e a tradição judaico-cristã, por exemplo, 
entram em consenso inequívoco quando atribuem ao 
trabalho uma função de penalidade. O trabalho serviria 
como uma pena que os homens deveriam suportar por 
terem transgredido as leis divinas.
Na Antiguidade grega acreditava-se que os deuses 
não trabalhavam. Todos os trabalhos manuais, princi-
palmente os mais pesados, eram rejeitados e desvalori-
zados. Desta feita, os trabalhos nos campos, nas minas 
e na construção civil, por exemplo, eram executados 
por escravos. Em contrapartida, a atividade intelectual, 
que abrangia a política e as artes, era supervalorizada e 
considerada como a acupação mais digna do homem, 
já que o pensar representava a essência fundamental de 
todo o ser racional.
Platão acreditava que a finalidade precípua dos 
homens livres era a reflexão, e não o trabalho manual, 
totalmente desvalorizado no âmbito da cidade-estado. 
Ao defender uma “aristocracia do saber” em sua obra 
República, Platão não considerava a classe dos traba-
lhadores como uma classe cidadã, pois não lhes sobra-
va tempo para a contemplação teórica da verdade e, 
14
tampouco, para a práxis política. O ideal humano de-
veria se realizar na figura do cidadão filósofo, ou seja, 
um homem livre das incumbências da sobrevivência, 
evidenciando-se um ideal de cunho altamente elitista.
Em sentido contrário, a crença judaica e a cristã pas-
sam a valorizar o trabalho manual, ensinando que Deus 
trabalhou seis dias e descansou no sétimo. Ora, se até 
mesmo Deus trabalhou para conceber o mundo tal como 
o conhecemos em toda a sua riqueza e diversidade, o ho-
mem também deve trabalhar. No entanto, note-se que, 
apesar de dar-se importância ao trabalho, a sua percepção 
é sempre negativa, estando associada à ideia de tortura, 
de maldição, de pena a ser executada com resignação etc.
Um mito universal que ilustra muito bem isso é 
a da expulsão de Adão e Eva do Paraíso (Genesis, III, 
19), onde os homens viviam originalmente felizes e 
tinham tudo de que necessitavam. Não havia miséria, 
necessidades, muito pelo contrário. O problema se co-
loca com a descoberta da árvore do conhecimento, cuja 
fruição era proibida aos homens. Como se sabe, o ho-
mem, junto da mulher, colheu o fruto e o comeu. Em 
seguida, como punição, Deus amaldiçoou as lavouras 
do homem, dizendo: “no suor do seu trabalho deverás 
ganhar o teu pão rosto”. Daí provém uma concepção 
de trabalho originalmente associada a uma maldição.
Outra famosa passagem bíblica que retrata o traba-
lho está na Segunda Carta de São Paulo aos Tessaloni-
censes (3, 10), na qual o apóstolo teria dito: “Quem não 
15
quer trabalhar, também não deve comer”, em resposta 
a um grupo de cristãos que queriam alienar-se dos es-
forços da vida profissional, eclesial e política à espera da 
vinda do Senhor.
Na Roma escravagista, o trabalho era visto como 
“ausência de lazer”. A palavra negotium indicava “negação 
do ócio”, significando, portanto, ocupação, trabalho, la-
buta e, por isso, os romanos formaram esta palavra que 
nasce da contração do advérbio nec (não), com o subs-
tantivo otium (ócio), significando descanso, recreação.
A etimologia do verbo “trabalhar” e da palavra 
“trabalho”, por sua vez, tem origem nos vocábulos 
latinos tripaliare e tripalium. O tripalium era um instru-
mento utilizado pelos agricultores, formado por três 
paus - algumas vezes munido com pontas de ferro - aos 
quais eram atados os animais. Indevidamente, o mesmo 
instrumento servia também para torturar os escravos, 
mantendo-os presos. Daí provém a associação do tra-
balho com agonia, sofrimento e pena.
Na Idade Média, São Tomás de Aquino procura rea-
bilitar o trabalho manual, dizendo que todos os trabalhos 
se equivalem. No entanto, a própria construção teórica 
de seu pensamento, calcada no restabelecimento da visão 
grega, tende a valorizar mais a atividade contemplativa.
Como assinala Kamper (1998, p. 20), nas condi-
ções da religiosidade e da cultura europeia, o trabalho 
foi inegavelmente visto como uma espécie de sacrifício 
ao qual os homens foram obrigados; um sacrifício de 
16
força vital e de tempo de vida que os homens preci-
sam realizar. No decorrer da história, o trabalho acaba 
mudando de natureza e acaba se transformando numa 
espécie de sacrifício voluntário, como diz Lutero, trans-
formando o que era um castigo em algo positivo.
1.1.2 A EVOLUÇAO HISTÓRICA DAS 
RELAÇÕES DE TRABALHO
Profundas transformações sociais marcaram a Bai-
xa Idade Média - período que se estendeu dos séculos X 
ao XV -, conduzindo o mundo à superação das estru-
turas feudais e à progressiva estruturação do que viria a 
ser o modo de produção capitalista. A autossuficiência 
típica do feudalismo, cuja base era uma economia agrá-
ria quase que totalmente a-monetária, foi substituída 
por uma economia comercial.
A rígida dupla hierarquia estamental que domi-
nava o cenário foi se desintegrando. Os senhores feu-
dais - proprietários de terras -, e os seus servos - grupo 
majoritário constituído pela maior parte da população 
camponesa, preso a terra e sofrendo intensa exploração 
daqueles -, tiveram que dar espaço a um novo grupo 
social ligado ao comércio e que alteraria definitivamente 
as relações trabalhistas: a burguesia.
O renascimento urbano e comercial foi consolidan-
do uma nova estrutura de classes. As vilas e as cidades 
17
cresceram tão rapidamente que mais da metade da po-
pulação rural havia sido deslocada para desenvolver ati-
vidades comerciais e artesanais, dando suporte ao desen-
volvimento de uma economia monetária e mercantil que, 
paulatinamente, foi substituindo a economia feudal.
Com o incremento do comércio, fortaleceram-se 
os grupos profissionais dos mercadores, chamados de 
“corporações de ofício”. Essas corporações de merca-
dores (ou “guildas”) eram associações que passaram a 
garantir o monopólio do comércio local, tutelando os 
interesses de seus membros em face da impotência do 
Estado, buscando garantir o monopólio de seus ramos 
de atividade, limitando diretamente o comércio feito 
por estrangeiros, através do controle dos preços e da 
qualidade dos produtos.
O capital acumulado permite aos burgueses com-
prar matérias-primas e máquinas, o que fez com que 
muitas famílias que desenvolviam o trabalhodoméstico 
nas antigas corporações e manufaturas passassem a dis-
por de seus antigos instrumentos de trabalho, vendo-se, 
de certa forma, obrigadas a vender a força de trabalho 
em troca de um salário para sobreviver.
Essa primeira etapa de acumulação de capital é co-
mumente chamada de acumulação primitiva. Realizada 
inicialmente por meio da transformação das relações de 
produção e surgimento do trabalho assalariado e concen-
tração dos meios de produção – nas mãos de poucos, 
seguidos da expansão capitalista, como explica Marx:
18
(...) a acumulação primitiva é apenas o processo históri-
co que dissocia o trabalhador dos meios de produção. É 
considerada primitiva porque constitui a pré-história do 
capital e do modo de produção capitalista
(...) Marcam época, na história da acumulação primi-
tiva, todas as transformações que servem de alavanca à 
classe capitalista em formação, sobretudo, aqueles deslo-
camentosde grandes massas humanas, súbita e violenta-
mente provadas de seus meios de subsistência e lançada 
no mercado de trabalho como levas de proletários desti-
tuídos de direitos. A expropriação do produtor rural, do 
camponês que fica privado de suas terras, constitui a base 
de todo o processo (1971, v. 2, p. 830-831). 
O capitalismo propiciou uma nítida separação en-
tre capital e trabalho. A burguesia acumulou patrimônio 
e moeda, enquanto os trabalhadores foram sendo limi-
tados à condição de assalariados, donos unicamente de 
sua força de trabalho. A burguesia foi então se prepa-
rando para o completo controle dos meios de produção, 
o que se consolidaria, definitivamente, com a Revolução 
Industrial (VICENTINO, 1997, p. 173).
Nessa nova concepção laborativa, caracterizada 
pela divisão do trabalho com ritmo e horários prees-
tabelecidos, o fruto do labor não mais pertence ao em-
pregado e a produção alcançada individualmente passa 
a ser vendida pelo empresário, que fica com os lucros 
19
obtidos. É nesse momento que se configura o nasci-
mento de uma nova classe social: o proletariado.
1.1.3 AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS
Foi a partir da segunda metade do século XVIII 
que se iniciou, na Inglaterra, a mecanização industrial, 
desviando a acumulação de capitais da atividade co-
mercial para o setor da produção. A esse processo de 
grandes transformações deu-se o nome de “Revolução 
Industrial”. Hobsbawn assinala que:
(...) pela primeira vez na história da humanidade, foram 
retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades 
humanas, que daí em diante se tornaram capazes da 
multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimita-
da, de homens, mercadorias e serviços. Esse fato e hoje 
tecnicamente conhecido pelos economistas como ‘partida 
para o crescimento auto-sustentável’. Nenhuma socieda-
de anterior tinha sido capaz de transpor o teto de uma 
estrutura pré-industrial, uma tecnologia e uma ciência 
deficientes, e consequentemente o colapso, a fome e a morte 
periódica, impunham à produção. (2005, p. 50).
É um momento de muitas novidades tecnológicas. 
Pascal concebe a primeira máquina de calcular. Torri-
celli constrói o barômetro. Inventa-se o tear mecânico, 
20
que tanto contribui para o desenvolvimento da indús-
tria têxtil, mormente na Inglaterra, onde sofreu um im-
pulso extraordinário e aumentou significativamente a 
produção de tecidos.
Outros setores também se desenvolvem, como o 
metalúrgico, impulsionando a produção em série e le-
vando à modernização e expansão dos transportes. Vale 
ressaltar que não apenas as cidades sentem o reflexo das 
novas tecnologias, mas também no campo processan-
do-se uma revolução agrícola.
É curioso notar que a máquina passa a exercer tal 
fascínio sobre a mentalidade do homem moderno que 
a ciência compara a natureza e o próprio homem a uma 
máquina, um conjunto de mecanismos cujas leis pre-
cisam ser descobertas. Descartes foi um dos célebres 
filósofos que tentou desvendar o comportamento dos 
animais comparando-os a máquinas, valendo-se do me-
canismo do relógio para explicar o modelo característi-
co do universo (ARANHA, MARTINS, 1993, p. 152).
Como analisa Hobsbawn sobre a era industrial, o 
poder e a velocidade a tudo transformavam:
A estrada de ferro, arrastando sua enorme serpente em-
plumada de fumaça à velocidade do vento, através de paí-
ses e continentes, com suas obras de engenharia, estações e 
pontes formando um conjunto de construções que fazia as 
pirâmides do Egito e os aquedutos romanos e até mesmo 
a Grande Muralha da China empalidecerem de provin-
21
cialismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela 
tecnologia. (2005, p. 72).
A introdução das máquinas no processo de pro-
dução de bens provocou alterações de várias ordens. 
Do ponto de vista econômico destaca-se a produção 
em larga escala, o que demandou, inicialmente, maior 
emprego da atividade pessoal do trabalhador e, sucessi-
vamente, a sua valorização pelo domínio adquirido do 
know-how do processo produtivo.
Outro fator relevante foi a concentração do ele-
mento humano que antes dela era disperso nos peque-
nos núcleos artesanais, em torno das unidades onde se 
instalaram as máquinas. (PINTO, 2003, p. 23).
Do ponto de vista social, o surgimento da máqui-
na ocorreu num momento em que a servidão mostrou 
uma de suas faces mais cruéis. Como assinalam Pazzi-
nato e Senise:
(...) a descoberta de novas técnicas permitiu a mecani-
zação da produção, consolidando o sistema fabril com a 
aplicação dos capitais em máquinas e matérias-primas. 
Porém o alto custo das máquinas e ferramentas indus-
triais levava os empresários a utilizá-las intensivamente, 
a fim de recuperar os investimentos iniciais e obter lucros. 
Isto era feito mediante o emprego de uma mão-de-obra ba-
rata e numerosa, submetida a jornadas médias de traba-
lho de dezesseis horas por dia. Mulheres e crianças eram 
22
largamente empregadas, uma vez que sua remuneração 
era inferior à da mão-de-obra masculina (1993, p. 177).
Como bem explicam Gomes e Gottschalk (2005, 
p. 2), quando os indivíduos são colocados em condições 
de vida semelhantes, tendem sempre ao associacionis-
mo, e com tanto mais força atrativas quanto mais precá-
rias sejam suas condições de existência. Nesse mesmo 
sentido, assinala Pinto:
(...) essa aglutinação facultou aos trabalhadores uma in-
tercomunicação, através da qual se abriu uma consciência 
coletiva em relação aos dois extremos de exploração a 
que eram submetidos: a péssima retribuição da energia 
pessoal utilizada e a utilização de sua força de trabalho 
em intensidade desmedida, que, associadas, levavam ao 
seu rápido esgotamento como unidade de produção e à 
sua quase total marginalização no gozo dos benefícios de 
conforto (2003, p. 25).
Tornou-se lendária e de citação obrigatória a ex-
pressiva canção de protesto que os trabalhadores ingle-
ses cantavam durante a Revolução Industrial: “eight hours 
to work/eight hours to play/eight hours to sleep/eight shillings 
a day” (oito horas de trabalho/oito horas de lazer/oito 
horas para o sono/oito “shillings” por dia).
23
Por volta de 1860 inicia-se a chamada “Segun-
da Revolução Industrial”, caracterizada por mais ino-
vações técnicas, como a descoberta da eletricidade, a 
transformação do ferro em aço, o desenvolvimento de 
novos meios de transporte como o automóvel e o avião 
e, mais tarde, o surgimento dos meios de comunicação.
Trata-se de um período de busca por maiores lu-
cros em relação aos investimentos feitos e que levou 
ao extremo a especialização do trabalho, ampliando a 
produção em série e barateando o custo da unidade 
produzida. Um exemplo clássico desse fenômeno ficou 
conhecido como “fordismo”, um revolucionário siste-
ma de organização do trabalho industrial de massa, ide-
alizado pelo empresário americano Henry Ford (1863- 
1947), fundador da Ford Motors Company.
A principal característica do fordismo foi a intro-
dução das linhas de montagem, nas quais cada operá-
rio ficava em um determinado lugar realizando uma 
tarefa específica, enquantoo automóvel se deslocava 
pelo interior da fábrica numa espécie de esteira. Com 
isso, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho e os 
funcionários da fábrica especializavam-se em apenas 
uma etapa do processo produtivo, repetindo essa mes-
ma atividade durante toda a sua jornada. Esse pro-
cedimento acabava por gerar uma alienação física e 
psicológica, pois os operários não mais tinham noção 
da totalidade do processo produtivo.
24
Essa forma de produção em série propiciou o sur-
gimento de grandes indústrias e a geração de grandes 
concentrações econômicas, que culminaram nos holdings, 
trustes e cartéis. (VICENTINO, 1997, p. 288).
O gigantesco salto tecnológico dos países indus-
trializados no seu esforço para vencer a convulsão uni-
versal proporcionada pela Segunda Guerra Mundial 
lançou a humanidade num terceiro estágio do processo 
iniciado dois séculos antes, ao qual muitos chamaram 
de “Terceira Revolução Industrial”, caracterizada por 
diversas inovações tecnológicas, associadas à informá-
tica. Como bem assinala Catharino:
Atualmente testemunhamos, sob a força inovadora da 
tecnologia herdade da Segunda Guerra Mundial, uma 
Terceira Revolução Industrial, desfechada dos alicerces 
da Primeira e com impacto milhares de vezes mais pode-
roso sobre toda a vida terrestre. (1981, p. 15)
Como bem resume Hobsbawn, sob qualquer as-
pecto, a Revolução Industrial foi, provavelmente, o 
mais importante acontecimento na história do mundo 
(2005, p. 52), influenciando diretamente o sistema de 
produção e gerando diversas mazelas sociais.
Para o economista, fundador e Presidente do Fó-
rum Econômico Mundial Klaus Schwab (2016, p.18), 
estamos no início da Quarta Revolução Industrial, ba-
seada na revolução digital, caracterizada pela internet 
25
mais rápida, inteligência artificial e aprendizagem auto-
matizada. 
Segundo o autor, o conceito da quarta revolução 
industrial é uma continuidade das outras três vividas 
pela sociedade, porém com o objetivo de utilizar todas 
as tecnologias exponenciais favorecendo o novo mer-
cado de trabalho transformando o modo de viver das 
pessoas.
1.1.4 AS DOUTRINAS SOCIAIS E O MARXISMO
A mecanização propiciou uma separação definitiva 
entre o capital, representado pelos donos dos meios de 
produção, e o trabalho, representado pelos assalariados, 
eliminando a antiga organização corporativa da pro-
dução utilizada pelos artesãos. O trabalhador perdeu a 
posse das ferramentas e máquinas e passou a viver da 
exploração máxima de sua força de trabalho.
Nesse contexto, é notório que o resplendor do 
progresso não ocultou uma questão social emergente, 
caracterizada pelo recrudescimento da exploração do 
trabalho e das condições sub-humanas de vida: exten-
sas jornadas de trabalho (de dezesseis a dezoito horas, 
sem direito a férias, sem qualquer garantia para a ve-
lhice, doença e invalidez); arregimentação de crianças e 
mulheres: mão de obra mais barata; condições insalu-
bres de trabalho (locais mal iluminados e sem higiene); 
e pagamentos muito baixos.
26
Como assinala Hobsbawn (2005, p. 64), as mais sé-
rias consequências geradas pela industrialização foram 
sociais. A transição da nova economia criou a miséria 
e o descontentamento; principais ingredientes da revo-
lução social que eclodiu na forma de levantes espontâ-
neos dos trabalhadores da indústria e das populações 
pobres das cidades, produzindo as revoluções de 1848 
no continente europeu e os amplos movimentos cartis-
tas na Grã-Bretanha.
Foi primeiramente junto à maquinaria que os tra-
balhadores de espírito mais simples “lutaram” de ime-
diato, na tentativa de destruir a força produtiva desen-
volvida pelo capital. Esse movimento ficou conhecido 
como “Ludismo”, em função do seu líder Ned Ludd.
O conflito com o proletariado girava em torno da 
exploração de sua mão de obra, cuja contraprestação 
mantinha sua renda em um nível de mera subsistência, 
possibilitando aos ricos acumularem mais lucros, per-
mitindo-lhes financiar a industrialização e, por conse-
guinte, um nível de vida luxuoso.
Da constatação dos efeitos negativos da Revolução 
Industrial é que surgem no século XIX os críticos do 
progresso. Esses críticos propunham reformulações so-
ciais e a construção de um mundo mais justo; ideais que 
desencadearam os movimentos socialistas e anarquistas 
que pretenderam enunciar e alterar aquela situação de-
plorável, germinando as primeiras iniciativas para a con-
solidação de uma legislação internacional do trabalho.
27
Calcados nas ideias do pensamento iluminista, os 
primeiros a refletir sobre os problemas causados pelas 
sociedades capitalistas em desenvolvimento ficaram 
conhecidos como “socialistas utópicos”, graças a sua 
visão mais romântica desses novos tempos.
Os seus principais representantes foram Robert 
Owen, Saint-Simon e Charles Fourier. O que todos ti-
nham em comum era o propósito de defender a criação 
de uma sociedade ideal na qual as classes viveriam em 
harmonia, buscando interesses comuns que estivessem 
acima da exploração ou da busca incessante pelo lucro.
Robert Owen (1771 – 1858) pode ser visto como 
um dos mais atuantes pensadores do socialismo utópi-
co. Acreditava que o caráter humano era fruto das con-
dições do local onde era formado. Portanto, defendeu 
a adoção de práticas sociais que primassem pela felici-
dade, pela harmonia e pela cooperação, para superar os 
problemas causados pela economia capitalista.
Na condição de administrador, teve a oportunidade 
de observar claramente as penosas condições às quais os 
trabalhadores eram submetidos. A partir dessa experiên-
cia, seguindo suas próprias convicções, Owen reduziu a 
jornada de trabalho de seus operários e defendeu a me-
lhoria de suas condições de moradia e educação.
Por essa razão, é considerado um dos precurso-
res da ideia de uma legislação internacional do trabalho, 
dirigindo alguns escritos em 1818 aos soberanos dos 
Estados da Santa Aliança, reunidos em Aix-la-Chapelle, 
28
para que tomassem medidas destinadas a melhorar a 
sorte dos trabalhadores, preconizando uma ação inter-
nacional no sentido de difundir as experiências pratica-
das em sua empresa. (VALTICOS, 1977, p. 29).
Saint-Simon (1760-1825) dividia a sociedade em 
dois setores: produtores e ociosos. Por essa razão, de-
fendeu uma reconfiguração social entre operários e 
industriais, pregando a manutenção dos privilégios e 
do lucro, desde que eles assumissem os impactos so-
ciais causados pela prosperidade econômica. Para ele, 
ao cumprir a sua responsabilidade social, o industriário 
poderia equilibrar os interesses sociais.
Outro crítico feroz da sociedade burguesa foi Char-
les Fourrier (1772-1837), defendendo uma sociedade 
sustentada por ações cooperativas que possibilitariam 
uma sociedade mais próspera. Fourrier acreditava ser 
possível reorganizar a sociedade em “falanstérios”, ou 
seja, fazendas coletivas agroindustriais. Seu projeto pre-
gava o fim da separação entre trabalho e lazer e a adap-
tação da educação às inclinações e habilidades de cada 
criança. Também preconizava que os bens fossem dis-
tribuídos de acordo com a necessidade de cada morador.
Em oposição aos socialistas utópicos, surgem os 
socialistas científicos ou marxistas, para quem os utópi-
cos projetavam uma sociedade sem antes avaliar devi-
damente as condições mais enraizadas que constituíam 
o capitalismo. Seu maior teórico foi Karl Marx (1818-
1883), cuja obra mais conhecida, O Capital (1867), 
29
causou uma revolução na economia e nas ciências so-
ciais em geral.
Como ressalta Aron, o pensamento de Marx é uma 
análise e uma compreensão da sociedade capitalista no 
seu funcionamento atual, na sua estrutura presente e no 
seu devenir necessário; ou ainda: “é uma interpretação 
do caráter contraditório ou antagônico da sociedade ca-
pitalista”. (ARON, 1997, p. 135-136).
O marxismo compõe-se de uma teoria científica 
que ficou conhecida como “materialismo histórico” 
e que defende a ideia de que toda sociedade é deter-
minada,em última instância, pelas suas condições so-
cioeconômicas, por ele chamadas de “infraestrutura”. 
Adaptadas a ela, as instituições, a política, a ideologia e 
a cultura como um todo compõem o que Marx chamou 
de “superestrutura”.
Ao analisar o homem como um ser social, Marx 
desenvolve uma nova antropologia, segundo a qual não 
existe uma “natureza humana” idêntica em todo tempo 
e lugar. Para ele, o existir humano decorre do agir, pois 
o homem se autoproduz à medida que transforma a na-
tureza por meio do seu trabalho. Isso porque o trabalho 
é considerado uma ação coletiva e a condição humana 
depende da sua existência social.
Por outro lado, o trabalho é um projeto huma-
no e, como tal, depende da consciência que antecipa a 
ação pelo pensamento. Com isso, se estabelece a dialé-
tica “homem-natureza e pensar-agir”. Nesse contexto 
30
marxista, as relações fundamentais de toda sociedade 
humana se circunscrevem às relações de produção, que 
revelam a maneira pela qual os homens, a partir das 
condições naturais, se utilizam das técnicas e se organi-
zam por meio da divisão do trabalho social.
O modo de produção é a maneira pela qual as for-
ças produtivas se organizam em determinadas relações 
de produção num dado momento histórico. No modo 
de produção capitalista, essas forças produtivas repre-
sentadas, sobretudo, pelas máquinas do sistema fabril, 
determinam as relações de produção caracterizadas 
pelo dono do capital e pelo operário assalariado.
No entanto, as forças produtivas só podem se 
desenvolver até certo ponto, pois ao atingirem um 
estágio por demais avançado, entram em contradição 
com as antigas relações de produção, que se tornam 
inadequadas. Surgem então as divergências e a neces-
sidade de uma nova divisão de trabalho. A contradição 
aparece como “luta de classes”, tema central do seu 
“Manifesto Comunista”.
A luta de classes é o confronto entre duas classes an-
tagônicas quando pugnam por seus interesses. No modo 
de produção capitalista, a relação antitética se faz entre o 
burguês, que é o detentor do capital, e o proletário, que 
nada possui e só vive porque vende sua força de trabalho.
Outro conceito marxista básico é o de “mais-va-
lia”. Marx explica que, ao comprar a força de trabalho, 
o capitalista adquire o direito de servir-se dela ou de 
31
fazê-la funcionar durante todo o dia ou toda a semana. 
Como o operário vendeu sua força de trabalho ao capi-
talista, todo o valor, ou todo o produto por ele criado 
pertence ao empregador, que é dono de sua força de 
trabalho por determinado período.
Dessa forma, chama-se “mais-valia” a quantidade 
de valor produzido pelo trabalhador além do tempo de 
trabalho necessário, isto é, do tempo de trabalho neces-
sário para produzir um valor igual ao que recebe sob a 
fora de salário. (ARON, 1997, p, 148).
Contra a ordem capitalista e a sociedade burguesa, 
Marx considerava inevitável uma ação política do ope-
rariado, uma “Revolução Socialista” que inauguraria a 
construção de uma nova sociedade. Num primeiro mo-
mento, ele defende a instauração de uma ditadura do 
proletariado, controlando-se o Estado, socializando-se 
os meios de produção e eliminando a sociedade privada.
Numa etapa posterior, o objetivo era alcançar o 
“comunismo”, que representaria o fim de todas as de-
sigualdades sociais e econômicas, inclusive do próprio 
Estado. Nessa etapa o homem viveria de acordo com 
o princípio: “De cada um segundo sua capacidade e a 
cada um segundo duas necessidades”.
Outra corrente ideológica de relevo surgida no sé-
culo XIX foi o anarquismo, que pregava a total supressão 
de toda forma de governo, defendendo a liberdade geral. 
Destaca-se, entre seus precursores, Pierre-Joseph Prou-
dhon (1809-1865) que, em 1840 publica o seu livro O 
32
Que é a Propriedade?, criticando os abusos do capitalismo 
e enfatizando o respeito à pequena propriedade, além de 
propor a criação de cooperativas e de bancos que con-
cedessem empréstimos sem juros aos empreendimentos 
produtivos, além de crédito gratuito aos trabalhadores.
Ao propor a criação de uma sociedade de homens 
livres e iguais, Proudhon defendia também a destrui-
ção do Estado, substituindo-o por uma “república de 
pequenos proprietários”, inaugurando assim o anar-
quismo. Sua crítica social conquista grande número 
de trabalhadores e, em 1848, Proudhon é eleito para 
a Assembleia Nacional. Participa pouco das atividades 
parlamentares, mas suas ideias contribuem para a trans-
formação do anarquismo em movimento de massa.
As propostas anarquistas de Proudhon inspira-
ram Leóo Tolstoi (1828-1921) e, principalmente, Mi-
khail Bakunin (1814-1876), que se tornou o líder do 
anarquismo terrorista ao apontar a violência como a 
única forma de se alcançar uma sociedade sem Estado 
e sem desigualdades.
Na segunda metade do século XIX, houve uma 
grande mobilização operária, com diversos levantes re-
volucionários em vários países europeus chamando a 
atenção da cúpula eclesiástica de Roma que, em 1891, 
publicou a encíclica Rerum Novarum, sob os auspícios 
do Papa Leão XIII, que criticava fortemente a falta de 
princípios éticos e valores morais na sociedade progres-
sivamente laicizada de seu tempo.
33
Como assinala Moreira (1997, p. 274), Leão XIII 
assumiu a realidade social de seu tempo, colocando-se 
num plano reformista, advogando o amparo do movi-
mento operário, aceitando o sindicalismo como forma 
moderna de enquadramento social e negando o caráter 
revolucionário das novas aspirações. Com isso, ele do-
tou a Igreja de uma doutrina social para os novos tem-
pos, definindo a intervenção de um Estado laico, mas 
não totalitário, em favor das novas classes produzidas 
pelo liberalismo capitalista.
Esse documento papal tornou-se um marco da 
Doutrina Social Cristã; “uma verdadeira Carta Mag-
na do trabalhador”, como a caracteriza Martins Filho 
(2009, p. 22). A diretriz básica da Doutrina Social Cristã 
é a da primaziado trabalho sobre o capital, uma vez que 
todo o trabalho tem o homem como fim, ou seja, o tra-
balho é para o homem e não o homem para o trabalho.
Essa encíclica referia-se a alguns princípios que 
deveriam ser usados na busca de justiça na vida social, 
econômica e industrial, como, por exemplo: o princí-
pio da dignidade humana; o princípio do bem comum; 
o princípio da destinação universal dos bens; a melhor 
distribuição de riqueza; a intervenção do Estado na 
economia a favor dos mais pobres e desprotegidos; e a 
caridade do patronato aos trabalhadores. A partir da pu-
blicação da Rerum Novarum, a Igreja não mais se desvin-
culou da questão social e de suas concepções políticas.
34
Quatro anos após a promulgação dessa Encíclica, 
surgiu o primeiro sindicato cristão na Alemanha. A par-
tir deste movimento sindical, nasceram vários partidos 
cristãos de massa, com forte apoio sindical e uma grande 
base eleitoral, sob a bandeira da defesa de um governo 
para o povo, de uma representação nacional e propor-
cional, da descentralização, da autonomia das províncias 
e da organização de uma economia de providências. En-
tre estes partidos de massas podemos destacar o Partido 
Popular Italiano (Partito Popolare Italiano), fundado em 
1919, pelo padre católico Don Luigi Sturzo.
Ainda durante o século XIX, o movimento operá-
rio europeu mostrou comportamento ora de ascensão, 
ora de refluxo, como analisa Vicentino (1997, p.297-
298). Na década de 40, surgiram manifestações como a 
“Liga dos Justos”, uma organização socialista que repre-
sentava vários países e seguia as ideias de Marx e Engels. 
Na Inglaterra, a ascensão trabalhista culminou no “car-
tismo” (1837-1848), um movimento popular que reivin-
dicava reformas nas condições de trabalho (limitação de 
jornada) e direitos políticos (sufrágio universal).
Na década de 1850, após as revoluções frustradas de 
1848 e a repressão do Estado, o movimento operário foi 
consideravelmente afetado, em muitos centros, chegando 
até mesmo a ser desativado quase por completo. Na déca-
da seguintevoltou a ganhar força. Em 1864 foi fundada a 
“Primeira Internacional Operária”, também chamada de 
“Associação Internacional dos Trabalhadores”.
35
Em 1889, numa nova ascensão trabalhista, foi fun-
dada a “Segunda Internacional”, com um sentido mais 
reformista e menos revolucionário, adotando os ideais 
da Social Democracia Alemã, o primeiro partido polí-
tico socialista, defendendo-se agora que o socialismo 
seria alcançado de forma gradual.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), 
as massas trabalhadoras dividiram-se, sepultando a Se-
gunda Internacional. No ano de 1919, em Moscou, no 
meio da Revolução Russa bolchevique, formou-se a 
“Terceira Internacional” que assumiu o nome de “In-
ternacional Comunista” ou “Comintern”, servindo de 
embrião aos primeiros partidos comunistas.
Em meio a todo esse panorama histórico é que 
surgem as primeiras tentativas de positivação e consoli-
dação de um direito que oferecesse maior proteção aos 
trabalhadores de todo o mundo: o Direito Internacio-
nal do Trabalho.
36
1.2. O DIREITO INTERNACIONAL 
DO TRABALHO
1.2.1. OS PRIMÓRDIOS DE UM DIREITO 
INTERNACIONAL DO TRABALHO
Como analisamos no capítulo anterior, a consolida-
ção do capitalismo e a rápida evolução econômica que a 
Europa experimentou ao longo século XIX como conse-
quência da industrialização, o operariado foi submetido 
a condições de vida degradantes, exigindo da sociedade 
e do próprio Estado um posicionamento no sentido de 
oferecer aos trabalhadores uma legislação de caráter pro-
tetivo. Os fundamentos históricos do Direito Internacio-
nal do Trabalho coincidem com esse momento, consa-
grando-se com a assinatura do Tratado de Versalhes.
Nesse percurso de universalização e positivação 
dos direitos trabalhistas, dois industriais tiveram um pa-
pel de grande relevância, segundo Valticos (1977, p. 29): 
o inglês Robert Owen (cuja contribuição para o Direito 
do Trabalho já examinamos no capítulo anterior), e o 
francês Daniel Le Grand. Le Grand, entre 1840 e 1855, 
não poupou esforços para que fosse adotada uma lei 
internacional do trabalho, dirigindo-se, para tanto, aos 
governantes dos principais países da Europa, principal-
mente ao da França.
37
Scelle (1927, p. 122) sustenta que a primeira ini-
ciativa oficial para se criar uma legislação do trabalho 
de cunho internacional coube à Suíça que, em 1855, 
através de uma proposta do Cantão de Glaris, cria uma 
verdadeira legislação industrial internacional.
No entanto, a primeira Conferência Internacional 
do Trabalho foi convocada posteriormente, em Berlim, 
em 1890, estando presentes os representantes da Ale-
manha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, 
Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Noruega, Por-
tugal e Suécia. Nessa ocasião, várias nações fizeram su-
gestões para a criação de uma Repartição Internacional 
para estudos e estatísticas de trabalho.
Para tornar realidade essas sugestões, Guilherme 
II pediu o apoio do Papa Leão XIII que, como respos-
ta, trouxe à luz a Encíclica Rerum Novarum em 1891 que 
propôs, pela primeira vez, como já vimos, soluções para 
resolver a situação precária do operariado, considerada 
como uma consequência do capitalismo liberal e da falta 
de princípios éticos e morais nas relações socioeconômi-
cas da época.
Em 1901, foi constituída a Associação Internacional 
para a Proteção Legal dos Trabalhadores, em Bruxelas. 
E em maio de 1905 teve lugar a Conferência de Berna, 
com a participação de quinze Estados, seguida de uma 
conferência diplomática, em setembro de 1906, com a 
presença de diversas nações, as quais resultaram em duas 
convenções: uma sobre a proteção dos trabalhadores nas 
38
atividades em contato com fósforo branco, e a segunda 
sobre a proibição do trabalho noturno das mulheres.
Dando um breve salto na história, chegamos ao 
período entre as duas grandes guerras mundiais, cha-
mado por Hobsbawn de a “Era das Catástrofes” (2005, 
p. 15), período esse que projetou consideráveis reflexos 
sobre o Direito Internacional do Trabalho.
Durante a primeira guerra, deflagrada em 1914, 
houve a queda do império czarista e o triunfo da revo-
lução soviética, o que proporcionou, pela primeira vez, 
a instauração de um regime nacional dirigido, ao menos 
teoricamente, pela classe trabalhadora.
Do ponto de vista jurídico, uma das principais con-
sequências geradas com o término da primeira guerra 
foi a assinatura do Tratado de Versalhes1, que se tornou 
uma das primeiras e mais importantes fontes do Direi-
to Internacional do Trabalho, representando uma etapa 
importante para o início de uma institucionalização do 
sistema internacional de proteção aos trabalhadores.
Esse tratado de paz, assim como o seu protoco-
lo anexo, foi assinado aos 28 de junho de 1919, tendo 
como celebrantes os Estados Unidos da América, o Im-
pério Britânico, França, Itália e Japão, como “potências 
principais aliadas”, secundados pela Bélgica, Bolívia, 
1 O Tratado de Versalhes foi sancionado no Brasil pelo Decreto n. 3.975, 
de 11 de novembro de 1919 (DOU, 12-11-1919), e ratificado em 10 de 
dezembro de 1919, ocorrendo o seu depósito da ratificação brasileira em 
Paris, a 10 de janeiro de 1920, promulgado pelo Decreto n. 13.990, de 12 
de janeiro de 1920.
39
Brasil, China, Cuba, Equador, Grécia, Guatemala, Hai-
ti, Hedjaz, Honduras, Libéria, Nicarágua, Panamá, Peru, 
Bolívia, Portugal, Romênia, Estado Servo-Croata-Slo-
veno, Sião, Tchecoslováquia e Uruguai enquanto “po-
tências associadas”, e a Alemanha. (CASELLA, SILVA, 
ACCIOLY, 2010, p. 107).
O Tratado de Versalhes fixou diversos princípios 
trabalhistas, os quais foram sendo positivados pelos pa-
íses industrializados ou em processo de industrialização, 
tratando de temas tais como: duração diária e semanal 
do trabalho; repousos do trabalhador; isonomia salarial; 
proteção especial ao menor e à mulher; direito de asso-
ciação; e tantos outros direitos responsáveis por formar 
o arcabouço do Direito Internacional do Trabalho tal 
qual o conhecemos hoje.
Outra relevante consequência da Primeira Guerra 
foi a criação da Liga das Nações, como parte do acordo 
de paz. Como analisa Ridruejo (2006, p. 683), a Liga 
das Nações, baseada na filosofia política da manutenção 
da paz por meio da trilogia arbitragem-segurança-de-
sarmamento, foi um grande fracasso no cumprimento 
dos seus objetivos.
Não se instaurou a obrigação completa de solucio-
nar jurisdicionalmente as controvérsias, nem se proibiu 
totalmente o recurso à guerra, pois não havia mecanis-
mos de controle eficientes para tanto. No campo do 
desarmamento, os resultados obtidos foram minima-
mente significativos.
40
Lamentavelmente, a proposta de uma sociedade 
de nações logo veio a falir no seu maior propósito: al-
cançar a paz mundial. Como afirma Hobsbawn (1995, 
p. 42), o acordo de Versalhes não podia ser a base de 
uma paz estável, estando condenado, desde o início, 
e, portanto, outra guerra era praticamente certa. E, de 
fato, pouco tempo depois, a ascensão do nazifascismo 
culminou no início de uma Segunda Guerra mundial, 
em 1939.
Ambos os fatos históricos são importantes para o 
Direito Internacional do Trabalho, pois tanto a Confe-
rência das Nações, como a assinatura do Tratado de Ver-
salhes, semearam o terreno para o surgimento daquele 
que seria o mais importante organismo internacional na 
seara do trabalho, a Organização Internacional do Tra-
balho (OIT), responsável pelo aperfeiçoamento e pela 
criação dos instrumentos disciplinadores das relações 
de trabalho em todo o mundo.
Nesse diapasão, Lloyd George, da Inglaterra, pro-
pôs a criação de uma comissão destinada ao estudo pre-
liminar da regulamentação internacional do trabalho, 
sugestão aprovada na Conferência de Paz, quando se 
determinou que o escopo principal dessa comissão se-
ria sugerir uma forma de organização internacional per-
manente, a qual pudesse estabelecer-se a fim de facilitar 
a diversos países uma ação conjunta em assuntos relati-
vos a condições de trabalho, bemcomo de recomendar 
41
os passos necessários para a criação de uma organiza-
ção conexa à Sociedade das Nações.
Samuel Gompers, dirigente máximo da Federação 
Americana do Trabalho, foi eleito o presidente dessa co-
missão, resultando aprovada a proposta de criação de um 
organismo permanente especial, vinculado à Sociedade 
das Nações, o qual viria a ser mundialmente conhecido 
com “Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.
No próprio Pacto da Sociedade das Nações, no seu 
art. 23, se estatuía que os seus membros se esforçaríam 
para assegurar condições de trabalho equitativas e huma-
nitárias para o homem, a mulher e a criança, em seus 
próprios territórios e nos países a que se estendessem 
suas relações de comércio e indústria, e, com tal objetivo, 
estabeleceriam e manteriam as organizações necessárias.
1.2.2 INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS
Com a criação da OIT, inicia-se um processo de 
positivação e universalização dos direitos dos trabalha-
dores, sendo que os seus principais instrumentos inter-
nacionais foram: a “Carta do Atlântico”, a “Declaração 
da Filadélfia”, a “Declaração Universal dos Direitos do 
Homem”, e o “Pacto Internacional de Direitos Econô-
micos, Políticos e Sociais”.
É interessante notar que todos esses documentos 
internacionais, firmados após a Segunda Guerra mun-
dial, estão imbuídos do espírito do célebre discurso 
42
proferido em 1941, pelo ex-presidente dos Estados 
Unidos, Franklin Roosevelt. A sua principal ideia des-
tacava a importância de uma segurança social que per-
mitisse ao trabalhador viver isento de medo em rela-
ção às forças econômicas que lhe eram infinitamente 
superiores.
Em agosto desse mesmo ano, Winston Churchill 
e Franklin Roosevelt firmaram a Carta do Atlântico. A 
principal proposta da Carta era lograr, no campo da eco-
nomia, uma estreita colaboração entre todas as nações, 
com o fim de conseguir uma melhoria generalizada nas 
normas de trabalho, bem como uma prosperidade eco-
nômica e segurança social. A esse documento aderiram 
os países da América, em março de 1945, mediante uma 
resolução adotada na Conferência de Chapultepec, no 
México (SÜSSEKIND et al, 2003, v.2, p. 1502).
No ano de 1944, a OIT convocou a sua 26ª Sessão 
da Conferência que teve lugar na Filadélfia. O objetivo 
dessa reunião era rever os princípios cardeais que de-
veriam nortear sua ação pós-guerra, aprovando-se uma 
“Declaração referente aos fins e objetivos da OIT”, 
mais conhecida como “Declaração da Filadélfia”.
Essa nova Declaração, grosso modo, repetia e amplia-
va alguns dos principais preceitos do Tratado de Versa-
lhes, consubstanciando alguns outros. Consagrava ain-
da que “todos os seres humanos, sem distinção de raça, 
crença ou sexo, têm direito a procurar seu bem-estar 
material e seu desenvolvimento espiritual em condições 
43
de liberdade, de segurança econômica e em igualdade 
de oportunidades”.
A Declaração da Filadélfia se estrutura em cinco 
capítulos. No primeiro capítulo busca-se reafirmar os 
princípios fundamentais sobre os quais se assenta a 
OIT, ressaltando-se que o trabalho não é uma merca-
doria. Nesse capítulo ainda se ressalta a importância da 
liberdade de expressão e de associação para o alcance 
do progresso; alerta-se para o fato de que a pobreza, 
em qualquer lugar do mundo, constitui um perigo para 
a prosperidade da humanidade.
Invoca-se uma luta contra a necessidade, a qual 
deve empreender-se com incessante energia dentro de 
cada nação, por meio da atuação do Estado, mediante 
um esforço internacional contínuo e coordenado, no 
qual os representantes dos trabalhadores e dos empre-
gadores, colaborando em pé de igualdade com os re-
presentantes dos governos, participem em discussões 
livres e em decisões de caráter democrático, a fim de 
promover o bem-estar comum. Afinal, o fim precípuo 
de todo o Estado deve ser a realização do bem comum, 
como assinala Azambuja (2001, p. 123).
Para Acquaviva (2000, p. 98), o fim do Estado no 
plano jurídico, é construir o Estado de justiça, e no 
plano social atender às necessidades assistenciais, pre-
videnciárias e educacionaiss da coletividade. No entan-
to, há uma finalidade que lhe é permanente e que bem 
resume todas as demais: a busca do bem comum. Nesse 
44
sentido, o Estado seria o meio para o homem alcan-
çar os seus interesses e se desenvolver. Para tanto, ele 
nunca deve ficar acima dos valores da pessoa humana, 
incluindo-se aqui os direitos sociais dos trabalhadores, 
que devem ser sempre preservados, caso contrário, se 
corre o risco de ferir-se a liberdade e a iniciativa indivi-
duais, caindo-se em um totalitarismo.
No segundo capítulo, se afirma que a experiência 
demonstrou plenamente o acerto da declaração contida 
na Constituição da OIT, a qual ressalta que a paz per-
manente só pode ser baseada na justiça social, enume-
rando regras pertinentes a esse desiderato.
No terceiro capítulo, se reconhece a solene obri-
gação da OIT de fomentar, em todas as ações do mun-
do, a execução de programas destinados a promover o 
bem-estar da humanidade, e no capítulo quarto, pro-
clama-se uma completa e ampla utilização dos recursos 
produtivos do mundo, necessária ao cumprimento dos 
objetivos enumerados na Declaração.
Esse objetivo pode ser assegurado mediante uma 
ação eficaz no plano internacional e nacional, compre-
endendo medidas tendentes a aumentar a produção e 
o consumo; evitar flutuações econômicas graves; reali-
zar o progresso econômico e social das regiões menos 
desenvolvidas; garantir maior estabilidade dos preços 
mundiais de matérias e produtos primários; e fomen-
tar um comércio internacional de alto e constante vo-
lume, motivo que, como assinala Süssekind (2003, v.2, 
45
p. 1503), realçam a integral colaboração da OIT com 
todos os organismos internacionais aos quais pode ser 
confiada parte da responsabilidade nesta grande tarefa, 
assim como na melhoria da saúde, da educação e do 
bem-estar de todos os povos.
O quinto e último capítulo afirma que os princípios 
enunciados na Declaração são plenamente aplicáveis a 
todos os povos, mas que as modalidades de sua aplicação 
devem levar em conta o grau de desenvolvimento social 
e econômico de cada Estado, primando-se por uma apli-
cação progressiva aos povos que ainda são dependentes, 
assim como aos que já alcançaram a sua independência.
O instrumento internacional mais significativo da 
história do desenvolvimento do Direito Internacional 
do Trabalho é, sem dúvida, a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem, adotada e proclamada pela Reso-
lução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Uni-
das, aos 10 de dezembro de 1948.
O seu texto retoma várias das disposições consa-
gradoras da filosofia social que havia sido proclamada na 
Declaração de Filadélfia, passando a ser acolhido como 
inspiração e orientação do processo de desenvolvimento 
humano e social de toda a comunidade internacional.
Como analisa Bobbio (1992, p. 26), a Declaração 
Universal dos Direitos do Homem representou a mani-
festação da única prova através da qual um sistema de 
valores pode ser considerado humanamente fundado e, 
portanto, reconhecido. Essa prova é o consenso geral 
46
acerca de sua validade; o consensus omnium gentium que 
faz-nos crer na universalidade desses valores.
Nesse mesmo sentido, Trindade (1991, p. 1), afir-
ma que a Declaração Universal dos Direitos do Homem 
constituiu um ímpeto decisivo no processo de generali-
zação da proteção dos direitos humanos testemunhado, 
permanecendo atualmente como fonte de inspiração e 
ponto de irradiação e convergência dos instrumentos 
de direitos humanos em âmbito global e regional.
Com a Declaração de 1948 tem início uma fase 
na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, 
universal e positiva. É universal no sentido de que os 
destinatários dos princípios nela convertidos não são 
mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas 
todos os homens; e positiva no sentido de que põe em 
movimento um processo em cujo final osdireitos do 
homem deverão ser não mais apenas proclamados ou 
apenas idealmente reconhecidos, mas efetivamente pro-
tegidos, até mesmo contra o próprio Estado que os te-
nha violado (BOBBIO, 1992, p. 30).
Como bem resume Trindade (1999, p. 26), a De-
claração Universal contribuiu decisivamente para a in-
cidência da dimensão dos direitos humanos tanto no 
direito internacional, como no interno, havendo uma 
abstração da compartimentalização tradicional entre os 
ordenamentos jurídicos internacionais e internos, o que 
promoveu uma constante interação em benefício de 
47
todos os seres humanos, por força das disposições dos 
tratados de direitos humanos.
Após dezoito anos da Declaração Universal, em 
19 de dezembro de 1966, a Assembleia Geral da ONU 
aprovou o “Pacto Internacional dos Direitos Econômi-
cos, Sociais e Culturais”, que regulamentou os direitos 
sociais-trabalhistas constantes da Declaração de 1948.2
1.2.3 CONCEITO E OBJETO
O Direito Internacional do Trabalho tem se con-
figurado como um ramo do Direito Internacional, dis-
ciplinador das relações de trabalho, tanto individuais 
como coletivas, as quais têm evoluido ao longo dos 
tempos graças a uma crescente conscientização sobre 
os benefícios que devem ser conferidos ao trabalhador, 
como força produtiva, sem comprometimento do seu 
nível econômico.
O Direito Internacional do Trabalho, como todo 
ramo do Direito, nasce com o objetivo de estabelecer o 
que, por justiça, corresponde a cada um. Como afirma 
Martins Filho (2009, p. 4), justamente por decorrer di-
retamente do esforço humano, ao trabalho deve corres-
ponder a primazia entre os fatores da produção.
2 Esse Pacto foi ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992, pelo De-
creto de Promulgação n. 591, de 6 de julho de 1992.
48
O Direito Internacional do Trabalho, em termos 
científicos, é um dos mais importantes segmentos do 
Direito Internacional Público, e não do Direito do Tra-
balho propriamente, o que, vale frisar, não o afasta dos 
preceitos básicos deste ramo jurídico, pelo contrário, os 
incorpora, para melhor compreensão das regras inter-
nacionais que regem o trabalho, principalmente as ema-
nadas pela OIT.
Süssekind (2000, 17) explica que a expressão “Direi-
to Internacional do Trabalho” é empregada para identifi-
car o capítulo do Direito internacional Público que trata 
da proteção do trabalhador, seja como parte de um con-
trato de trabalho, seja como ser humano, com a finalida-
de de: universalizar os princípios de justiça social, unifor-
mizando as correspondentes normais jurídicas quando 
possível; estudar as questões conexas, das quais depende 
a consecução desses ideais; incrementar a cooperação 
internacional, visando à melhoria das condições de vida 
do trabalhador e à harmonia entre o desenvolvimento 
técnico-econômico e o progresso social.
Quando de seus primórdios, o objetivo do Direito 
Internacional do Trabalho, como ressalta Delgado (2009, 
p. 78), não era apenas servir ao sistema econômico de-
flagrado com a Revolução Industrial, mas fixar controles 
para esse sistema, conferindo-lhe certa medida de civili-
dade, buscando, inclusive, eliminar as formas mais per-
versas de utilização da força de trabalho pela economia.
No que diz respeito ao seu objeto, não difere do 
próprio objeto do Direito do Trabalho: oferecer a maior 
49
proteção possível ao trabalhador. Em verdade, o Direi-
to Internacional do Trabalho foi instituído como uma 
tentativa de universalização das principais normas traba-
lhistas existentes, fundamentando-se, basicamente, em 
postulados econômicos, sociais e técnicos, como analisa 
Martins Filho (2009, p. 478-479).
O Direito Internacional do Trabalho, como bem re-
sume Süssekind (2003, p. 1499), tem por fim, por meio 
de convenções internacionais: a) universalizar as normas 
de proteção ao trabalho, esteadas nos princípios da justi-
ça social e da dignificação do trabalho humano; b) esta-
belecer o bem-estar social geral como condição precípua 
à felicidade humana e à paz mundial; c) evitar que razões 
de natureza econômica, decorrentes do ônus da prote-
ção ao trabalho, impeçam que todas as nações adotem e 
apliquem as normas tutelares consubstanciadas nos di-
plomas internacionais.
1.2.4 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS
O Direito Internacional do Trabalho se funda-
menta em alguns princípios de alcance universal que 
estão expressos na Declaração Universal dos Direitos 
do Homem (1948), cuja finalidade, como analisamos, 
é servir de base para a elaboração e interpretação uni-
versal das leis trabalhistas de todos os ordenamentos 
jurídicos existentes.
50
O primeiro desses princípios é o da liberdade de 
trabalho, segundo o qual o trabalho deve ser prestado 
por deliberação do trabalhador, proibindo-se, juridica-
mente, qualquer forma coativa destinada a provocar o 
seu constrangimento. O trabalho forçado e o trabalho 
escravo devem ser mundialmente repudiados, pois aten-
tam contra a própria dignidade do ser humano.
O segundo princípio é o da organização sindical, 
previsto no artigo XXIII, inciso IV. A organização sin-
dical deve ser admitida, independentemente do regime 
político ou econômico vigorante no país. Afinal, o sin-
dicalismo é parte da história de formação e consolida-
ção do próprio Direito do Trabalho, e seu objetivo pri-
mordial deve ser sempre a melhoria das condições de 
vida da classe operária.
O terceiro princípio é o das garantias mínimas do 
trabalhador, respeitado universalmente, uma vez que em 
todos os países existem direitos trabalhistas mínimos 
que são impostos de modo heterônomo e que são im-
postergáveis como vantagens fundamentais, tornando-
-se preceitos de ordem pública ou de caráter imperativo.
O quarto princípio é o da multinormatividade do 
direito do trabalho, segundo o qual os centros de po-
sitivação das normas protetivas do trabalhador não se 
reduzem a uma unidade, haja vista que a norma jurídica 
trabalhista não emana apenas do Estado, mas também 
de outras fontes, dentre as quais podemos citar os sin-
dicatos em sua atividade negocial.
51
O quinto princípio é o da norma mais favorável ao 
trabalhador. Esse princípio é norteador da própria ela-
boração da norma trabalhista, dedicando-se a resolver 
eventuais conflitos de hierarquia, bem como servindo 
de critério de interpretação em caso de dúvidas sobre o 
sentido na norma jurídica que venha a ser mais benéfico 
ao trabalhador. 
De forma simplificada, em um caso concreto, ha-
vendo mais de uma norma regulando a mesma matéria, 
deve prevalecer aquela que for mais favorável ao tra-
balhador, independentemente de suas posições dentro 
da estrutura hierárquica tradicional. Assim, se uma con-
venção coletiva prevê horas-extras com acréscimo de 
65%, mas o regulamento da empresa prevê 75%, preva-
lece este, porque é o mais benéfico ao trabalhador.
O sexto princípio é o da igualdade salarial, também 
previsto no artigo XXIII da Declaração Universal, inci-
so II: “Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito 
a igual remuneração por igual trabalho”.
Correlacionado ao princípio anterior, o sétimo 
princípio é o da justa remuneração, visando à adequa-
ção entre o serviço prestado e a sua remuneração. Este 
princípio também foi proclamado pela Declaração 
Universal no já citado artigo XXIII, no seu inciso III: 
“Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remunera-
ção justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a 
sua família, uma existência compatível com a dignidade 
humana (...)”.
52
O oitavo princípio é o do direito ao descanso, que 
fundamenta a obrigatoriedade de descansos diários, se-
manais e anuais aos trabalhadores no exercício de suas 
atividades profissionais. Consoante o artigo 24: “Toda 
a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especial-
mente, a uma limitação razoável da duração do trabalho 
e às férias periódicas pagas”.
O nono princípio trata do direito ao emprego, tam-
bém enunciado como direito ao trabalho, em razão do 
qual o Estado tem o dever de promover medidas eco-
nômicasdestinadas à abertura de frentes de trabalho em 
dimensão suficiente para absorver a mão de obra que 
ingresse na ordem trabalhista e impedir o desemprego.
O décimo princípio é o da previdência social. O 
Estado tem o dever de assegurar ao trabalhador, me-
diante contribuições previdenciárias, a sua subsistência, 
em caso de perda de sua capacidade laborativa.
Por fim, o décimo-primeiro princípio universal é o 
da condição mais benéfica ao trabalhador, que assegu-
ra ao empregado a manutenção, durante o contrato de 
trabalho, de direitos mais vantajosos. Assim, as vanta-
gens adquiridas não podem ser suprimidas e, portanto, 
a condição mais vantajosa estipulada em contrato de 
trabalho ou constantes em regulamentos de empresa 
deve prevalecer independentemente da edição de nor-
mas supervenientes.
53
1.2.5 FUNDAMENTOS
Os fundamentos do Direito internacional do Tra-
balho concernem a razões de ordem econômica, de ín-
dole social e de caráter técnico, como assinala Süssekind 
(2003, v.2, p. 1498).
Os motivos de ordem econômica impuseram, de 
forma inquestionável, a necessidade de ser nivelado, 
tanto quanto possível, no campo internacional, o cus-
to das medidas sociais da proteção ao trabalho, a fim 
de que os Estados que as tivessem adotado, através de 
sistemas completos e tutelares, não sofressem, por essa 
razão, no comércio mundial, a indesejável concorrên-
cia dos países que tinham obtido produção mais barata 
pelo fato de não serem onerados com os encargos de 
caráter social.
Do ponto de vista social, busca-se a universalização 
dos princípios da justiça social e a dignificação do traba-
lhador, ressaltando-se que razões de ordem econômica 
constituíam sério obstáculo à consecução desses ideais; 
mas não exatamente esses ideais que configuram a fina-
lidade preponderante do direito uiniversal do trabalho. 
Nesse sentido, tanto o Tratado de Versalhes, com 
o qual foi instituída a Organização Internacional do 
Trabalho (OIT), quanto as Cartas do Atlântico, da Fila-
délfia, nas Nações Unidas e dos Direitos Universais do 
Homem sublinham a prevalêcia dos objetivos sociais da 
universalização desses princípios.
54
Por fim, razões de caráter técnico também funda-
mental, embora em plano secundário, o Direito Interna-
cional do Trabalho. As Convenções e Recomendações 
elaboradas pelas sessões da Conferência Internacional 
do Trabalho, bem como os estudos e investigações em-
preendidas pela OIT, constituem subsídios importantes 
para a elaboração das normas e sistemas legislativos nos 
diversos países sobre a matéria.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2009) O 
processo de industrialização iniciado na Grã-Bretanha, 
na segunda metade do século XVIII, acelerou a substi-
tuição de antigas formas de produção pelo capitalismo, 
que se consolidava como sistema econômico dominan-
te, com a atividade fabril suplantando o trabalho domés-
tico e a crescente prevalência do trabalho assalariado.
(a) Certo 
(b) Errado
2- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2009) 
Entre as transformações irreversíveis mencionadas no 
texto, produzidas pelo avanço da industrialização, o ce-
nário existente em fins do século XIX assinalava a proi-
bição do trabalho infantil e feminino, a regulamentação 
da jornada de trabalho e o surgimento dos serviços 
55
previdenciários, em meio a uma sociedade que lenta-
mente se urbanizava. 
(a) Certo 
(b) Errado 
3- (PUCCAMP) “O produto da atividade humana é se-
parado de seu produtor e açambarcado por uma mino-
ria: a substância humana é absorvida pelas coisas produ-
zidas, em lugar de pertencer ao homem.”
A partir do texto, pode-se afirmar que a Revolução In-
dustrial:
(a) produziu a hegemonia do capitalista na produção social;
(b) tornou a manufatura uma alternativa para o artesanato;
(c) introduziu métodos manuais de trabalho na produção;
(d) tornou o homem mais importante que a máquina;
(e) valorizou o produtor autônomo.
4- (PELOTAS - RS) Os autores registram de forma 
oungente os dramas das populações proletárias que se 
aglomeravam nas cidades, na época da Revolução In-
dustrial, vivendo em condições sub-humanas, entregues 
ao vício, incapazes de se enquadrar nos preceitos mo-
rais da classe burguesa. A vivência desses indivíduos em 
uma mesma vida miserável proporciona o nascimento 
de uma série de movimentos sociais, muitos dos quais 
denunciam os males do capitalismo. Nessa época, um 
patrão filantropo e sensível ao problema proletário toma 
iniciativas que virão dar nascimento ao movimento coo-
perativista. Foi ele:
56
(a) Robert Owen 
(b) Karl Marx
(c) Mikhail Bakunin
(d) Georges Sorel
(e) Friedrich Engels
5- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2006) 
No quadro mais amplo da contemporaneidade, o texto 
aproxima e distingue tendências do século XIX e do sé-
culo XX. Nesse contexto, julgue (C ou E) o item a seguir.
A Revolução Industrial consolida novas relações de pro-
dução e, ao promover a expansão imperialista, contem-
plando novas formas de dominação colonial, estende a 
atuação do moderno capitalismo às mais distantes regi-
ões do planeta. 
(a) Certo 
(b) Errado
6- (Unicamp) “De pé ficaremos todos
 E com firmeza juramos
 Quebrar tesouras e válvulas
 E pôr fogo às fábricas daninhas”
(“Canção dos quebradores de máquinas do século 
XIX”, cotada por Leo Huberman, História da riqueza 
do homem, 1979).
57
(a) A partir do texto, caracterize o tipo de ação dos que-
bradores de máquinas.
(b) Explique os motivos desse movimento.
7- (ESAF - MTE - Auditor Fiscal do Trabalho – 2010) 
Na acepção de Marx e Engels em A Ideologia Alemã, 
datada de 1845-6, o processo de divisão técnica do tra-
balho na manufatura, incluindo-se a divisão entre traba-
lho manual e intelectual é, essencialmente, divisão entre 
classes sociais, burguesia e proletariado, isto é, relação 
entre capital e trabalho, a base da exploração e da domi-
nação social. (Rubini Liedke, Elida, “Trabalho”. In: Cat-
tani, Antonio David, Trabalho e Tecnologia, Dicionário 
Crítico, Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: Ed. Universida-
de, 1997, p. 268).
A partir desse pressuposto teórico, assinale a opção 
correta. 
(a) Segundo Karl Marx, no processo de compra e venda 
de força de trabalho ocorre uma troca de equivalentes. 
(b) Marx afirma que na sociedade capitalista o trabalha-
dor se torna uma mercadoria. 
(c) A expressão “trabalho livre” significa separação en-
tre a força de trabalho e a propriedade dos meios de 
produção. 
(d) A crítica de Marx à economia política consistiu em 
apontar que as relações de produção capitalista consti-
tuem relações de produção de valores de uso. 
58
(e) Para Marx, a venda da força de trabalho constitui 
uma das alternativas que o trabalhador possui para ga-
rantir, por meio do salário, sua sobrevivência. 
8- (FUNDEC - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Juiz - 2003) 
Sobre a formação histórica do Direito do Trabalho, assi-
nale a alternativa incorreta:
(a) O Liberalismo, inspirado nos princípios consagrados 
pela Revolução Francesa e pela Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão, de 1789, significou uma rea-
ção contra o absolutismo monárquico e a origem divina 
e sobrenatural do poder, mas não favoreceu os direitos 
dos trabalhadores. 
(b) A Constituição de Weimar, de 1919, embora texto 
avançado para a sua época, não representou grande con-
quista no campo dos direitos sociais. 
(c) A Carta Del Lavoro (Itália, 1927) representou for-
te inspiração para a Consolidação das Leis do Trabalho 
brasileira de 1943.
(d) A Igreja Católica, especialmente através das Encí-
clicas Rerum Novarum (Leão XIII, 1891), Quadragési-
mo Anno (Pio XI, 1931), Mater et Magistra e Pacem 
in Terris (João XXIII, 1961 e 1963, respectivamente) e 
Laborem Exercens (João Paulo II, 1981), por seu forte 
sentido humanista e de valoração da dignidade do tra-
balho, também contribuiu para avanços no campo do 
desenvolvimento social. 
(e) O Manifesto Comunista (Marx, 1848), documento 
máximo do socialismo, ainda que contenha conceitos 
59hoje superados, contribuiu para a formação do atual Di-
reito do Trabalho. 
9- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2006) 
Compreender o processo histórico protagonizado pelo 
século XIX e seus desdobramentos no século seguinte 
requer, em meio a tantos outros aspectos essenciais, o 
exame da trajetória seguida pelo capitalismo. A propósito 
desse cenário histórico, julgue (C ou E) o item a seguir. 
Instituição poderosa, com larga ascendência sobre 
governos e sociedades, a Igreja Católica adota, com 
o Papa Leão XIII, a corajosa atitude de expor sua 
doutrina social em um contexto de grave crise social 
- a depressão econômica dos anos 1870. O conte-
údo da encíclica Rerum Novarum representava um 
convite aos católicos a combater o “capitalismo ma-
terialista” e, em decorrência, a apoiar pontos cen-
trais do marxismo, em remota preparação ao adven-
to da Teologia da Libertação, cem anos mais tarde. 
(a) Certo
(b) Errado 
(MPT- Procurador do Trabalho - 2007). Comple-
te com a opção correta. A Constituição do México, de 
________, tratou de regras de Direito do Trabalho no 
seu artigo 123. 
(a) 1915; 
(b) 1917; 
60
(c) 1919; 
(d) 1921; 
(e) não respondida. 
(Cespe - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz – 2011) A Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos: 
(a) não trata de direitos econômicos. 
(b) trata dos direitos de liberdade e igualdade. 
(c) trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado 
como direito de todos. 
(d) não faz referência a direitos políticos. 
(e) não faz referência a direitos culturais e à bioética. 
(Instituto Cidades DPE - AM - Defensor Público 
– 2011) A Declaração Universal de Direitos Humanos, 
proclamada em Paris, em 10 de dezembro de 1948, tem 
como fundamento:
(a) a dignidade da pessoa humana; 
(b) o relativismo e historicismo dos direitos humanos; 
(c) o fundamentalismo cultural, religioso ou econômico; 
(d) a necessária distinção entre gêneros e classe social para 
se compreender o real sentido dos direitos humanos; 
(e) a proteção aos seres humanos que compõem os povos 
apenas dos países signatários da Carta das Nações Unidas.
 (FMZ – SEAD - AP - Agente Penitenciário – 2010) 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 
1948, estabelece uma série de direitos a toda pessoa. 
Dentre eles, é possível citar os seguintes, EXCETO:
61
(a) toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma 
audiência justa e pública por parte de um tribunal inde-
pendente e imparcial, para decidir de seus direitos e de-
veres ou do fundamento de qualquer acusação criminal 
contra ele. 
(b) toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e 
residência dentro das fronteiras de cada Estado. 
(c) toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo 
de seu país, diretamente ou por intermédio de represen-
tantes livremente escolhidos. 
(d) toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de 
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à 
proteção contra o desemprego. 
(e) toda pessoa, que puder por ela pagar, tem direito à 
instrução nos diferentes níveis. A instrução técnico-pro-
fissional será acessível a todos, bem como a instrução 
superior, esta baseada no mérito.
63
2 
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO 
TRABALHO (OIT)
65
2.1. O SURGIMENTO DA OIT COMO 
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL
As organizações de trabalho institucionalizaram-se 
no plano internacional com basicamente duas finalida-
des. A primeira delas é jurídica, ou seja, de regulamentar 
e normatizar as regras atinentes à proteção do traba-
lhador, fixando princípios programáticos ou regras im-
perativas de âmbito internacional. A segunda de suas 
finalidades é científica, pois essas organizações buscam 
promover estudos os mais diversificados sobre as con-
dições dos trabalhadores no mundo. 
Didaticamente, Nascimento (2008, p. 94-95) classi-
fica essas organizações em: gerais ou regionais, genéricas 
ou específicas e, ainda, em consultivas ou jurisdicionais. 
As organizações são especializadas quando se dedicam 
exclusivamente a temas concernentes às relações de tra-
balho, como é o caso da Organização Internacional do 
Trabalho (OIT); e são genéricas quando apenas parte da 
sua atividade é voltada para o trabalho, sendo esse o caso 
da Organização das Nações Unidas (ONU).
As organizações classificam-se ainda em regionais, 
quando têm uma esfera de atuação em um determinado 
território, incluindo alguns países nele situados, e que re-
solveram, como expressão da sua soberania, unir-se, for-
mando uma Comunidade, uma União ou, simplesmente, 
pactuando normas comuns aduaneiras, migratórias ou 
66
econômicas destinadas a agilizar o processo produtivo e 
a facilitar a circulação de mercadorias entre as fronteiras 
dos respectivos países. É o caso da União Europeia e do 
Mercado Comum do Sul, o MERCOSUL.
Há organizações que não têm finalidade normativa 
ou regulamentar, mas uma função do tipo arbitral ou ju-
risdicional, para conhecer e decidir conflitos que surjam 
envolvendo aquelas organizações ou pessoas, físicas ou 
jurídicas, que estabeleçam relações jurídicas internacionais. 
É o caso do Tribunal de Justiça da Comunidade Europeia.
As instituições meramente consultivas existem 
para debater as diretrizes maiores que devem ser ob-
servadas como o Foro Consultivo Econômico-Social, 
previsto nos arts. 28 a 30 do Protocolo de Ouro Preto 
para o MERCOSUL, que é um organismo internacio-
nal de representação dos setores econômicos e sociais, 
de composição paritária, com a participação de repre-
sentações de trabalhadores e empregadores, com igual 
número de integrantes de cada Estado Parte, e cuja fun-
ção, como o nome indica, é consultiva e não executi-
va ou decisória, podendo fazer recomendações para o 
MERCOSUL e seus integrantes.
A mais importante das organizações que se dedi-
cam ao direito do trabalho é sem dúvida a Organização 
Internacional do Trabalho (OIT). Como já pudemos 
analisar historicamente, as suas raízes se encontram 
no início do século XIX, quando os líderes indus-
triais Robert Owen e Daniel Le Grand apoiaram o 
67
desenvolvimento e harmonização de legislação traba-
lhista e melhorias nas relações de trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
foi criada na Conferência das Nações, com a assinatura 
do Tratado de Versalhes, em 1919, visando à criação de 
instrumentos disciplinadores das relações de trabalho 
em todo o mundo. Na parte XII desse tratado está a 
constituição jurídica da OIT, a qual foi complementa-
da pela Declaração de Filadélfia (1944). Observe-se que 
sua constituição experimentou sucessivas reformas em 
1953, 1962, 1972 e 1986.
Segundo Oliveira, com a criação da OIT, os países 
signatários do Tratado de Versalhes objetivavam auxi-
liar na busca da paz social, incentivar o estabelecimento 
de condições humanitárias de trabalho para todos e lu-
tar pela dignidade e elevação do homem que trabalha, 
“sempre com vistas a uma internacionalização das nor-
mas sociais de proteção e à adoção dessas normas pelo 
governo interno dos Estados-membros”. (1994, p. 73)
Realmente, percebe-se que desde sua instituição, 
a OIT vem desempenhando relevante papel na inter-
nacionalização do Direito do Trabalho, fomentando a 
uniformização de preceitos trabalhistas fundamentais e 
a harmonização destes preceitos com a ordem interna 
dos países celebrantes de seus tratados e convenções.
No que tange a sua vinculação com a ONU, o art. 
57 da Carta das Nações Unidas, adotada em 1945, es-
tatuiu que os organismos especializados estabelecidos 
68
por acordos intergovernamentais que tenham amplas 
atribuições internacionais definidas em seus estatutos 
e relativas a matérias de caráter econômico, social, cul-
tural e educativo, sanitário e outras conexas estariam 
vinculados a ela.
Na 27ª Sessão da Conferência Internacional do 
Trabalho, realizada em Paris, em novembro de 1945, 
foram aprovadas duas importantes resoluções visando 
à realização desse objetivo: a) nomeação de uma delega-
ção especial para o exame de todas as questões relativas 
à Constituição

Continue navegando