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REORIENTAÇÃO CURRICULAR PORTUGUÊS Ensino Médio - Volume I Materiais Didáticos REORIENTAÇÃO CURRICULAR - EQUIPE UFRJ Direção Geral Profª. Ângela Rocha Doutora em Matemática – Instituto de Matemática da UFRJ Coordenação Geral Profª. Maria Cristina Rigoni Costa Doutora em Língua Portuguesa – Faculdade de Letras da UFRJ Coordenação de Língua Portuguesa Profª. Maria Cristina Rigoni Costa Doutora em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Professores Orientadores Profª Cilene da Cunha Pereira Doutora em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Maria da Aparecida Meireles de Pinilla Mestre em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Maria Christina de Motta Maia Mestre em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Maria Emília Barcellos da Silva Doutora em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Maria Teresa Tedesco Vilardo Abreu Doutora em Língua Portuguesa – Profª Instituto de Letras da UERJ Profª Maria Thereza Indiani de Oliveira Doutora em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Mariângela Rios de Oliveira Doutora em Língua Portuguesa – Profª Instituto de Letras da UFF Profª Regina Célia Angelim Doutora em Língua Portuguesa – Profª Faculdade de Letras da UFRJ Profª Sigrid Castro Gavazzi Doutora em Língua Portuguesa – Profª Instituto de Letras da UFF Professores Autores Abel Adonato da Fonseca CIEP 286 – Murilo Portugal, Barra do Piraí. Adriana Lima Valladao C.E. Luiz Reid Adriana Maria Rabha Lima C.E. Conde Pereira Carneiro, Angra dos Reis Adriana Oliveira Nascimento CIEP 336 – Jornalista Octávio Malta, Campo Grande Adriana Ramos da Cunha CIEP 355 – Roquete Pinto, Queimados Adriana S. Miranda CIEP 031 Lírio do Laguna Adriane R. Almeida C.E. Rio Grande do Sul, Volta Redonda Ailton José Maria C.E. Antônio Dias Lima, Angra dos Reis Ainda dos Santos C.E. José Veríssimo Alciene Ferreira Avelino E.E. Dr. Newton Alves Alda Regina de Azevedo Nova Iguaçu / Mesquita Alessandra Avila de Oliveira C.E. Jose Fonseca Alessandra Serrado Neves C.E. Canadá, Nova Friburgo Alexandra da Silva Caldas C.E. Frei Tomas Alexandre Carvalho da Hora E.E. de Ensino Supletivo Roberto Burle-Marx, R.J. Aline Barcellos Lopes Placido C.E. Euclydes da Cunha Aline Crespo Aline Simão da Costa Almir José da Silva C.E. Iracema Leite Nader, Barra Mansa Ambrosina Gomes da Conceicao C.E. Antonio Houaiss Ana Alice Maciel C.E. Des. José Augusto Coelho da Rocha Júnior, Rio Bonito Ana Cristina B. Brasil Soares C.E. Republica Italiana Ana Cristina de Matos Marinho CIEP 308 Pascoal Carlos Magno, Itaborai Ana Cristina J de Almeida CIEP 119 Austin Ana Ligia Marinho da Silva C.E. Americo Pimenta Ana Lúcia da Silva Pereira C.E. André Maurois, Leblon Ana Maria da Silva M. Baptista Nova Iguaçu / Mesquita Ana Maria Lavinas Pereira C.E. Barao do Rio Bonito Ana Maria Rocha Silveira C.E. Baltazar Carneiro Ana Nery Nascimento Santos C.E. Presidente Costa e Silva Ana Patrícia de Paula Matos CIEP 295 – Professora Glória Roussin Guedes Pinto, Ana Paula da Silva Araujo E.E. São Paulo Ana Paula da Silva C.E. Fagundes Varela Ana Paula dos Santos CIEP 128 Magepe Mirim, Magé Andre de Oliveira Nogueira CIEP 451 Elisa Antonia Rainho Dias, Itaborai Andre Luis Soeiro Pinto Nova Iguaçu / Mesquita Andréa Cristina Costa de Freitas CIEP 388 – Lasar Segall, Belford Roxo Andreza Ferreira Porto Rodrigues Angela Maria de Morais C.E. André Maurois, Leblon Angelica Ornellas Do Nascimento C.E. Dr. Luciano Pestre, Niterói Antonio Lopes de Oliveira Filho C.E. Prof. Aurélio Duarte, Carmo Aparecida Moreira de Melo Nova Iguaçu / Mesquita Aquiles Afonso da Silveira C.E. Célio Barbosa Anchite, Pinheiral Arcilene Aguiar dos Santos C.E. 20 de Julho, Arraial do Cabo Arithana Cardoso Ribeiro de Assis C.E. 20 de Julho e CIEP 147, Arraial do Cabo Arlene Deise Cruz Freitas C.E. Jose Matoso Maia Forte, Rio Bonito Arquimedes de Oliveira Nova Iguaçu / Mesquita Augusta Soares Fontes C.E. Profª Dalila de Oliveira Costa Augusta Soares Fontes C.E. Profª Dalila de Oliveira Costa, São Gonçalo Aurea Regina dos Santos CIEP 117 – Carlos Drumond de Andrade, Nova Iguaçu Beatriz Regina de Castro Melo CIEP 308 Pascoal Carlos Magno, Itaborai Bianca Cardoso Soares C.E. Elisiário Matta, Maricá Carla Andrea de Souza Pereira C.E. Celio Barbosa Anchite Carla Botelho de Souza C.E. Augusto Cezário Diaz Andre Carla Botelho de Souza C.E. Augusto Cezario Diaz Andre, São Gonçalo Carla Matias Fraga Duarte C.E. Lions Clube Carlos Cezar do Nascimento E.E. Francisco José do Nascimento Carmem Valéria de Souza S. Dutra C.E. 20 de Julho, Arraial do Cabo Carmen Carrera Jardineiro Filha C.E. Walter Orlandine, São Gonçalo Carmen Lucia de Paula E.E. Vila Guarani, São Gonçalo Cecilia de Azevedo da Silva E.E. Mal Floriano Peixoto Celia Regina da Mota C.E. Sargento Wolff Celma Regina de Souza Oliveira C.E. Profº Dyrceu Rodrigues da Costa, Rio Bonito César Augusto Gomes de Morais Coutinho CIEP 089 – Graciliano Ramos Charles de Oliveira Soares CIEP 258 Astrogildo Pereira, Saquarema Christianny Matos Garibaldi Pires C.E. Lions Clube Cileymar Pimentel Borges C.E. Romualdo Monteiro Barros Cinthia Molerinho Silva Cintia Cecília Barreto C.E. André Maurois Cíntia Diel Souza Santos Ciria da Silva Lima Reis C.E. Antonio Figueira Almeida Claudia Bastos Areas C.E. Edmundo Peralta Bernardes Claudia Marcia Elias Natividade C.E. Temistocles de Almeida Claudia Marcia Soares da Silva E.E. Des. Alvaro Ferreira Pinto Claudia Maria T Ferreira Teixeira E.E. Sebastiao Pimentel Marques Claudia Regli Porto EEES Alfredo de Paula Freitas Claudia Valeria Goncalves Loroza C.E. Joao Kopke Cláudio Antonio Portilho C.E. Prof. Aurélio Duarte, Carmo Cláudio Henrique da Costa Pereira CIEP 258 – Astrogildo Pereira, Saquarema Claudio Jose Bernardo C.E. Elisiario Matta, Maricá Cremilda Goncalves Santiago I.E. Eber Teixeira de Figueiredo Creuza Ribeiro da Silva C.E. Adlai Stevenson Cristiane Valéria Martins Cabral C.E. Mal. Alcides Etchegoyen Cristiane Vieira da Silva E.E. Liddy Mignone Cristina dos Santos Brandao Sym CIEP 287 Angelina Teixeira Netto Cristina Maria Sodré C.E. Quinze de Novembro Cristina Varandas Rubim C.E. Baltazar Bernardino, Niterói Daisy Furtado Marcial G De Azevedo C.E. Servulo Mello, Silva Jardim Dalva Helena Rangel Lima C.E. Elvídio Costa Darisa Leonora de Matos Gravina C.E. Dorval Ferreira da Cunha, São Gonçalo Darla Cristian dos Santos Sambonha Nova Iguaçu / Mesquita Deise Vivas da Silva Magalhaes C.E. Alcindo Guanabara, Guapimirim Denise Gonçalves Rodrigues C.E Círculo Operário Denise Palmeira Muniz Pereira C.E. Dom Walmor Deonilsa Ribeiro S Mesquita Pereira E.E. Rotary Ii Deyse Cristina de Moura CIEP 344 – Adoniran Barbosa, Queimados Dilma P. Jorge E.E. José Patrocínio Dilma Seixas Menezes C.E. Barão de Macaúbas Dolores de Oliveira Passos Nova Iguaçu / Mesquita Dorcas da Rocha Oliveira C.E. Guanabara, Volta Redonda Dulcinea Vieira Gama Durlan Andrade Gonçalves C.E. Barão do Rio Branco – Rio Bonito Dylza Gonçalves de Freitas C.E. Antônio Quirino Edilaine Aguiar Lemos C.E. Etelvina Alves da Silva, Itaperuna Edina Barbara Costa I.E. Rangel Pestana Edméa Campista Machado E.E. Alcinda Lopes Pereira Pinto Edna Lucia F. de Andrade C.E. Jardim Meriti Eduardo Jose Paz F Barreto C.E. Santa Amelia Elaine Cardoso da Silva C.E. Santo Antonio de Padua Elaine de Abreu De Lorenzo E.E. Domicio da Gama, Maricá Elaine de Abreu de Lourenzo CIEP 259 Prof. Mª do Amparo Rangel Souza, Maricá Elane de Azevedo C Silva C.E. Joao Guimaraes Eliana Barbosa de Freitas Soraggi C.E. José de Lannes Dantas Brandão Eliana dos Santos C.E. Dr. Joao Gomes de Mattos Sobrinho, Maricá Eliana Goncalves Coimbra Flexa C.E. Republica do Peru Eliane Campos da Silva C.E. Nilo Peçanha, São Gonçalo Eliane Cristina da Cunha Oliveira C.E. Prof. Antônio Maria Teixeira Filho, Rio de Janeiro Eliane Decotthgnies Machado C.E. Ary Parreiras Eliane Diniz Soares Peixoto C.E. Romualdo Monteiro Barros Eliane Freitas de Azevedo C.E. 20 de Julho, Arraial do Cabo ElianeMarques da Silva Souza C.E. Senador Sá Tinoco Eliane Nogueira dos Santos Oliveira CIEP 199 Elisabete Barbosa da Silva Nova Iguaçu / Mesquita Elisabeth Emmerick Rangel C.E. Pref. Luiz Guimaraes Eliséa Constantino Elizabeth de O. Soares Machado Nova Iguaçu / Mesquita Elizabeth de Oliveira Torres Lima C.E. Des. José Augusto Coelho da Rocha Jr., Rio Bonito Elizabeth Maria da Silva Carvalho CIEP 148 Profº Carlos Elio Vogas da Silva, Araruama Elizabeth Orofino Lucio E.E. Dr. João Maia Elizângela Narcizo Silva de Araújo, CIEP 390 Chão de Estrelas Eloísa de Oliveira Braga Elza Gimenes Pereira C.E. Ministro Jose de Moura E Silva, São Gonçalo Erica do Vale Gomes Da Silva E.E. Dr. João Maia Erika Alvarenga Braga Serra C.E. Eunice Weaver Nunes Ermany Salles Aguiar dos Santos E.E. Severino Pereira da Silva Ernani Iodalgiro da Costa Lima C.E. Lia Márcia Gonçalves Panaro, Duque de Caxias Eveline Soledade Silva E.E. Dr. Humberto Soeiro de Carvalho, São Gonçalo Ezilma Salles Aguiar dos Santos CIEP 464 Brizolão Fábia do Nascimento Melo CIEP 277 João Nicolao Filho - Janjão Fabiana Fagundes CIEP 259 Prof. Mª do Amparo Rangel Souza, Maricá Fábio Alexandre Santos da Silva E.E. Presidente Costa e Silva Fabio Goulart Coelho C.E. Santos Dias, São Gonçalo Fatima Cristina Ayrola de Carvalho C.E. Prof.ª Zélia dos Santos Côrtes, Nova Friburgo Fatima Lucia Candida Moreira C.E. Irene Meirelles Fátima Regina Machado Salles C.E. Cristóvão Colombo Fernanda Barbosa Da Silva C.E. Vila Peçanha Fernanda Lopes Tenreiro C.E. Cizinio Soares Pinto, Niterói Fernando Rocha Fernando Tenório de Araújo CIEP 24062852 Flavia Diniz dos Santos CIEP 246 Profª Adalgisa Cabral de Faria, São Gonçalo Flávia Lima de Souza C.E. Barão do Rio Bonito, Barra do Piraí e CIEP Brizolão 298 Flavia Maria Ferreira de Oliveira Nova Iguaçu / Mesquita Flavia Tebaldi H. de Queiroz E.E. Visconde de Sepetiba, Magé Flavia Valeria F de Magalhaes C.E. Profº Dyrceu Rodrigues da Costa, Rio Bonito Francisca Maria C Coelho C.E. Temistocles de Almeida Francisca Therezinha P Marcato C.E. Rio Grande do Sul Geny de Paula Pinheiro E.E.Professora Norma Toop Uruguay Geovania Viana Neris CIEP 336 – Jornalista Otávio Malta, Campo Grande Geridiana Alves da Silva E.E. Nobu Yamagata, São Pedro da Aldeia Gerusa Elena Fort Pinheiro C.E.Barão do Rio Bonito, Barra do Piraí Giselle Maria Sarti Leal E.E. Profª. Norma Toop Ururay Guiomar Rodrigues Camargo EEES Golda Meier Helena Cristina Santos Lopes Nova Iguaçu / Mesquita Helena de Luna Araujo Filha C.E. Profª Diuma Madeira S. de Souza Helena Espínola de Guzzi Zaú C.E Cel. Antônio Peçanha e C.E. Prof. Kopke, Três Rios Hellem Toledo Barcelos E.E. Nobu Yamagata, São Pedro da Aldeia Henrique Cláudio dos Reis Hilda Braga da Costa CIEP 336 – Jornalista Otávio Malta, Campo Grande Hissako Hiroce Satoh E.E. Dr. Galdino do Valle Filho Iara da Silva de Oliveira E Souza CIEP 390 Chao de Estrelas Ieda Andrade Trajano CIEP 147 Cecilio Barros Pessoa, Arraial Do Cabo Inez de Lemos Carvalho Nova Iguaçu / Mesquita Irineu Vieira do Nascimento E.E. Hilton Gama Ivanir dos Santos Colégio Santo Antonio Ivete Moraes de Souza E.E. Vital Brasil Ivone Gravina Fialho C.E. Cuba e CIEP 241 Nação Mangueirense Ivone Souza Mathias C.E. Profª Alvina Valerio da Silva, Guapimirim Ivonea Limeira de Souza C.E. Elisiario Matta, Maricá Izabel Cristina Tavares Coelho CIEP Lírio do Laguna Izaeth Fragoso C.E. Prof. Aurélio Duarte Janete da Silva Reis CIEP 390 Chao de Estrelas Janete Pereira Bastos Cardoso C.E. Profª Alvina Valerio da Silva, Guapimirim Jani Torres Janice da Costa Rocha Paixao CIEP 289 Cecilio Barbosa Janice Marçal da Conceição Janilce Guimarães da Silva Alvarenga CIEP 117 - Carlos Drumond de Andrade, Nova Iguaçu Jefferson Deivis Jorge Nova Iguaçu / Mesquita Jefferson Santoro I.E. Rangel Pestana, Nova Iguaçu João Alvez Bastos C.E. Theodorico Fonseca Joao Ildefonso C.E. Profº Horacio Macedo Jocenilce Manhães de Oliveira C.E. Quinze de Novembro Jocilene Aparecida Machareth Reguine C.E. Prof. Aurélio Duarte, Carmo Joelson Conceição da Silva C.E. Januário de Toledo Pizza, São Sebastião do Alto Jorge Claudio Ribeiro Martins C.E. Presidente Castelo Branco, Mesquita Jorge José da Silveira C.E. Sem Francisco Gallotti, Rio de Janeiro Jorge Luiz Lourenço Nova Iguaçu / Mesquita Jorgineth Maria de Oliveira CIEP Frei Agostinho Fíncias Josiane Oliveira de Souza E.E. Alfredo Pujol Juberte Andrade C.E. Santos Dumont, Volta Redonda Julia Maria Rozario de Oliveira C.E. Rui Guimaraes de Almeida Jupiciara dos Santos Mattos Nova Iguaçu / Mesquita Karla da Silva Dunham Gava C.E. Alcindo Guanabara, Guapimirim Katia Regina M dos Santos C.E. Sao Francisco de Paula Katiuscia Rangel de Paula CIEP 495 – Guignard, Angra dos Reis Kedma Silva de Melo CIEP 390 Chao de Estrelas Kenia Costa Gregório C.E. Lions Clube, Itaperuna Ladejane Regina de S. Ramalho Ribeiro Laudiméia de S. Possidonio C.E. Sargento Wolff Laura V. de Alcântara C.E. Prof. Alda B. dos Santos Tavares Lea Maria Vieira de Souza E.E. Quintino Bocaiuva, Cachoeiras de Macacu Leandro Mendonça do Nascimento CIEP 320 – Ercília Antônia da Silva, Duque de Caxias Leila Pires Muniz C.E. Barão do Rio Branco, Rio Bonito Leir Pires Muniz C.E. Barão do Rio Branco, Rio Bonito Lenilson Duarte C.E. Professor José Medeiros de Camargo, Resende Lilia Rute Costa Cardoso C.E. Visconde de Cairu Lilian Gasparini C.E.André Maurois Lílian Rodrigues CIEP 318 Liliane Souza da Silva Tavares I.E. Thiago Costa Linete Guimaraes dos Santos Almeida CIEP 275 Lenine Cortes Falante Livia Ramos Pimenta E.E. Aspino Rocha, Cabo Frio Lúcia Helena Ferreira da Silva C.E. Profº Aragão Gomes, Mendes Lúcia Maria dos Santos C.E.Paulino Batista Lucia Maria dos Santos C.E. Paulino P Baptista, São Gonçalo Lúcia Maria Gomes Rosa CIEP Brizolão Lucia Maria Nunes da Silva Nova Iguaçu / Mesquita Lucia Regina Barbosa dos Reis E.E. Lions Club Lucia Regina Junior Goncalves CIEP 394 Cândido Augusto Ribeiro Neto Luciana Gondim Pinheiro C.E. Mullulo da Veiga, Niterói Luciana Nunes Viter I.E. Profª Ismar Gomes de Azevedo, Cabo Frio Luciane Semedo Henrique Nova Iguaçu / Mesquita Luciane Souza de Jesus C.E. Ivan Villon Luciene Gomes Martins Nova Iguaçu / Mesquita Luciene Monteiro Rosa E.E. Alcinda Lopes Pereira Pinto Luciete Pinheiro Rodrigues Eugenio C.E. Romualdo Monteiro Barros Lucimar Neves C.E. Prof. Aragão Gomes, Mendes Lucineia do Nascimento Quintino E.E. Roberto Silveira Lucineia Ramos do Vale E.E. Alfredo Pujol Lucineide de Lima de Paulo E.E. Vital Brasil Ludmar de M. Lameirinhas Longo C.E. Maria Zulmira Torres Ludmila Galindo Heidenfelder Scharts C.E. Almirante Protógenes Luis da Silva Conceicao CIEP 048 Djalma Maranhao Luiza Helena de Almeida CIEP 336 - Jornalista Otávio Malta, Campo Grande Luzia Almeida Goulart CIEP 021 General Osorio Luzia de Cássia Espindola Machado C.E. Presidente Roosevelt, Volta Redonda Luzia Ribeiro S. Longobuco CIEP 099 Dr. Boulevard Gomes de Assumpção, Nova Iguaçu Luzilaine Aguiar Lemos CIEP 467 Henriett Amado, Itaperuna-RJ Lydia Maria Tavares CEE Ubaldo de Oliveira Maelí Vieira Rosa de Souza C.E. Capitão Oswaldo Ornellas, São Gonçalo Magali Alves Martins CES - Casa do Marinheiro, Rio de Janeiro Magda de Oliveira Bittencourt Azeredo C.E. José Carlos Boaretto, Macuco Magna Almeida de Souza C.E. Rio Grande do Norte, Volta Redonda Márcia Cristina Garin Borges E.E. Prof. Alfredo Balthazar da Silveira Marcia Guimaraes da Silva Rocha C.E. Profª. Maria Terezinha de C. Machado Marcia Milena Soares de Souza Niterói Marcia Nunes Duarte C.E. Irmã Zélia Marcia Regina Pacheco C.E. Aurelino Leal, Niterói Marcia Regina R Belieny de Padua CIEP 150 Profª Amelia Ferreira S. Gabina, Cabo Frio Marcia Silva dos Santos Nova Iguaçu / Mesquita Marcilio Parreira dos Reis C.E. Almte. Barao de Teffe Márcio da Silva de Lima CIEP - 418 Antônio Carlos Bernardes - Mussum Marco Antonio Paulini Lopes E.E. Stella Matutina Marcos Tomazine Ribeiro CIEP 391 Profº Robson Mendonça Lôu, Maricá Margareth Goncalves Mataruna C.E. Elisiario Matta, Maricá Maria Amelia Silva de A SerrazineC.E. Johenir Henriques Viegas Maria Angelica F M de Oliveira C.E. Prudente de Moraes Maria Angelica Vieira Lannes CIEP 122 Prof. Ermezinda Dionizio Necco, São Gonçalo Maria Aparecida dos Reis Oliveira C.E. Rio Grande do Sul Maria Aparecida M. dos Santos Nova Iguaçu / Mesquita Maria Armanda P. da Costa C.E. Visconde de Cairu Maria Conceição Barroso C.E. Barão do Rio Branco, Rio Bonito Maria Cristina Sanches da Silva C.E. Prof. Alda B. dos Santos Tavares Maria Cristina Sartori C.E. Jose Matoso Maia Forte, Rio Bonito Maria da Conceição Alves Maria da Conceição C.de Oliveira C.E. Freire Allemão Maria da Conceição de Lima Maria da Conceição Machado de Carvalho C.E. Chile, Rio de Janeiro Maria da Gloria De Castro Netto C.E. Brigadeiro Castrioto, Niterói Maria da Gloria de Castro Netto Niterói Maria das Graças João Ferreira C.E. Prof. Alda B. dos Santos Tavares Maria da Penha Silva Ornellas E.E.Corregio de Castro Maria de Fatima Alves Ferreira Nova Iguaçu / Mesquita Maria de Fátima dos Santos Guedes CIEP Brizolão 286 – Murilo Portugal, Barra do Piraí Maria de Fátima Portella E.E. Maurício de Abreu, Sapucaia Maria de Fátima Riguete CIEP 087 Maria de Lourdes Souza Teixeira C.E. Mullulo da Veiga, Niterói Maria de Lourdes Souza Teixeira Niterói Maria de Lourdes Vaz S Dias Eees Edgard Werneck Maria Fernanda R.M.da Luz Maria Goreti Scott Pimenta C.E. Rui Guimaraes de Almeida Maria Goreth de Oliveira Barros CIEP 274 Maria Amélia Daflon Ferro Maria Helena dos S Costa I.E. Clelia Nanci, São Gonçalo Maria Helena Marques Henriques EEES Conde Afonso Celso Maria Inês C. de Barros C.E. Rubens Farrulla Maria Ines Mexias Rodrigues I.E. Thiago Costa Maria Ines Rezende de Oliveira C.E. Guilherme Briggs, Niterói Maria Jeanne da Silva CIEP 328 Marie Curie Maria José de Souza Santos Cândido Maria Jose de Souza Santos Candido C.E. Capitao Oswaldo Ornellas, São Gonçalo Maria Lucia Martins Nunes Camargo C.E. Profº Jose Medeiros Maria Madalena Esteves Bastos C.E. Capitão Oswaldo Ornellas Maria Madalena Esteves Bastos C.E. Capitao Oswaldo Ornellas, São Gonçalo Maria Rosangela Da Silva C.E. Servulo Mello, Silva Jardim Maria Salete Lopes Paulo EEES Dr Cocio Barcellos Mariléa A.Lucu C.E. Pedro Jacintho Teixeira Marilene Neves Braga Novis Niterói Marilia Silveira de Oliveira C.E. Antonio Lopes de Campos Filho, Rio Bonito Marilin Martins Ramada EEES Alcide de Gasperi Marilza Eduardo da Silva CIEP 336 - Jornalista Octávio Malta, Campo Grande Marinez Sant Anna Luccesi C.E. Santa Rita Marinezia Fingolo Turques CIEP 500 Antonio Botelho Marisa Albuquerque Mahon E.E. Pinto Lima, Niterói Marise Rosalino do Couto E.E. Dep. Jose Sally Marisi Azevedo Ferreira C.E. Prof. Aurélio Duarte Maristela Silva da Paz Vieira Gomes C.E. Paulino P Baptista, São Gonçalo Mariza Rosa de Araujo Nova Iguaçu / Mesquita Marize Castilho Portal C.E. Aurelino Leal, Niterói Marli Jane S. Araújo CIEP 390 Chao de Estrelas (Biblioteca) Marli Teresinha do Patrocinio Silva C.E. Cap de Fragata Didier B Vianna Marluci Nunes Pinheiro C.E. Santos Dumont Marta de Freitas C.E. Celio Barbosa Anchite Marta Janete Firmino A da Cruz C.E. Sargento Wolff Marta Regina L. Ribeiro Nova Iguaçu / Mesquita Mary Helen R L da Rosa CIEP 458 Hermes Barcelos, Cabo Frio Mauricio Rodrigues Leal C.E. Frederico Azevedo, São Gonçalo Miriã Rezende do Amaral CIEP 275 Lenine Cortes Falante Mírian de Mendonça Costa Pereira Mônica Luzia da Cunha Araújo CIEP 988 São José de Sumidouro Nadia Amara de Souza Santos C.E. Presidente Bernardes Nadirlei Ferreira Santos E.E. Maria Rosa Teixeira Nazare de Lourdes M Abreu C.E. Jose Matoso Maia Forte, Rio Bonito Neide da Conceição Evangelista Nova Iguaçu / Mesquita Neide da Costa Anchieta C.E. Walter Orlandine, São Gonçalo Neiva Ribeiro Pereira Fraga E.E. Des. Alvaro Ferreira Pinto Neli da Silva Santos EEES Ubaldo de Oliveira Nelma Rosa de Souza C.E. Lions Clube Nelson Santa Rosa de Carvalho Jr C.E. Madre Teresa de Calcutá Nely Guimaraes da Cruz C.E. Jose Fonseca Neusa Mosqueira Pinheiro C.E. Irene Meirelles Neuza Maria de Freitas Nova Iguaçu / Mesquita Nilce Vânia da Silva Lopes CIEP 409 Alaíde de Figueiredo Santos Nilce Vania da Silva Lopes CIEP 409 Alaide de Figueredo Santos, São Gonçalo Nilzeth M da S de M R De Mendonca C.E. Josué de Castro Patricia Luísa N. Rangel Nova Iguaçu / Mesquita Patrícia Souza E.E. Chile Patrícia Faustino da Silva C.E. Prof. Aurélio Duarte Priscila Freitas de Souza C.E. Profº Jose de Souza Marques Raquel Elisa de Latone Lopes I.E. Inocêncio de Andrade Raquel Martins de Souza Universitária estagiária Regina Simões Alves Rejane Siqueira Paiva Nova Iguaçu / Mesquita Renata da Silva De Barcellos C.E. Tenente Otavio Pinheiro Renata Sanches Gil CIEP 275 Lenine Cortes Falante Renato Jose da Mata C.E. Gov Roberto Silveira Ricardo Gomes C.E. Carmem de Luca Andreiolo Rita de Fatima Pinto Vinhosa C.E. Temistocles de Almeida Rita Maria da Silva C. De Sena Nova Iguaçu / Mesquita Roberta Enir Faria Neves Camoes E.E. Profº Oswaldo da Rocha Rosa Maria Ferreira Correa C.E. Prof. Aurélio Duarte Rosa Maria Magalhaes C.E. Temistocles de Almeida Rosa Maria Moreira Califfa E.E. Quintino Bocaiuva Rosa Maria Ribeiro de Oliveira E.E. Praça da Bandeira Rosane C. de Albuquerque CIEP 127 Frei Acursio A Gonzaga Bolwer, Magé Rosangela Barbosa C.E. Pref. Luiz Guimaraes Rosangela Coelho Barbosa C.E. Miguel Couto, Cabo Frio Rosangela de Moraes Da Silva C.E. Sargento Antonio Ernesto Rosângela Novaes de Farias C.E. Nobu Yamagata Rosangela Pereira Rocha Valeriano C.E. Temistocles de Almeida Rosângela Vaterlor Monteiro CIEP 390 Chão de Estrelas Rosani Santos Rosa Moreira C.E. Antonio Houaiss Rosânia Carvalho Piedade Santana E.E. Baltazar Carneiro Roseane Torres da Silva Carvalho Torres C.E. Pref. Francisco Fontes Roselane da Rocha E.E. Oliveira Botelho Roseli Leite da Silva C.E. Montese Rosicleia E.E. Dr. Christovam Berberéia-SJMT Sandra Cristina Rodrigues Leite Nova Iguaçu / Mesquita Sandra Regina Brito Curvelo C.E. Dr. Luciano Pestre, Niterói Sandra Regina Corrêa G. Delgado Silva C.E. Barão de Mauá Scheila Brasil Rodrigues S. Bullus C.E. Gov. Roberto Silveira Selma do Carmo Ribeiro Nova Iguaçu / Mesquita Selma Mouta Vasconcelos Nova Iguaçu / Mesquita Sergio Luis Machado Nacif C.E. Johenir Henriques Viegas Sergio Luiz Ferreira E.E. Etelvina Alves da Silva Sheila de Souza Pereira Araujo E.E. Quinze de Novembro Sheila Santos Viana CIEP 412 Dr Zerbini, São Gonçalo Shirlei Duarte da Silva C.E. Pandia Calogeras, São Gonçalo Silani Rangel de Azeredo Nova Iguaçu / Mesquita Silma Clea Salles de Sousa E.E. Quinze de Novembro Silvana Aparecida Ramos Assed C.E. Romualdo Monteiro Barros Silvana Cantarino F da Silva E.E. Quintino Bocaiuva, Cachoeiras de Macacu Silvana Guimaraes Correa C.E. Pandia Calogeras, São Gonçalo Silvania da Silva Guimarães Nova Iguaçu / Mesquita Silvia de Fátima Martins Ramos CIEP 467 Henriett Amado Silvia Nascimento dos Santos CIEP 031 Lírio do Laguna Silvia Rosane Neves Wanderley Fuly C.E. Celio Barbosa Anchite Simone Cristina Azeredo Amaral CIEP 259 Prof. Mª do Amparo Rangel Souza, Maricá Simone de Souza Raposo Carneiro C.E. Frei Tomas Simone e Silva Medeiros Nova Iguaçu / Mesquita Simone Pralon de Oliveira CIEP Oswaldo Aranha Simone Regina Nogueira de Oliveira Nova Iguaçu / Mesquita Simone Soares Solange dos Santos Nova Iguaçu / Mesquita Sonia Alves Cunha dos Santos C.E. Jaime Queiroz de Souza Sonia Baptista CIEP 458 Hermes Barcelos, Cabo Frio Sonia Mara Ferreira Dos Santos CIEP 165 Brig Sergio Carvalho Sonia Mara Ferreira dos Santos EEES Prof. Clementino Fraga Sonia Maria Passos Ferreira C.E. André Maurois, Leblon Sonia Maria Pereira Rosa E.E. Pracinha João da Silva Sonia Regina Paulucci Simoes C.E. Centenario Sonia Regina Sota Quintan C.E. Elvidio Costa Sonja Heine Pereira da Silva (não inscrita) Stela Luiza Gomes Ferreira CIEP 365 Asa Branca Sueli Gardenia de Souza Ribeiro C.E. Antonina Ramos Freire Sueli Carvalho de Souza CIEP 988 São Jose de Sumidouro Suely Magalhães Stosch Tania Cristina Silva Pacheco C.E. Montebello Bondim Tania MaraF. de Mendonça C.E.Casemiro Meirelles Tania Mara Monteiro de Queiroz E.E. Quintino Bocaiuva, Cachoeiras de Macacu Tânia Maria Fonseca de Freitas C.E. Profº Jamil El Jaick Tania Regina da Costa Araujo Nova Iguaçu / Mesquita Teresa Cristina Meire L. Neves Nova Iguaçu / Mesquita Terezinha de Castro Valeria Conceicao Souza Tardivor E.E. Coronel Jose Antonio Teixeira Valéria Marques Valéria Rolão Ribeiro C.E. Ubaldo de Oliveira Velma Leila de Freitas Simen C.E. Deodato Linhares Vera Alice V de Carvalho E.E. Profª Alda Bernardo dos S. Tavares, Magé Vera Alice Vieira Carvalho C.E. Prof. Alda B. dos Santos Tavares Vera Lucia Andrade Abreu E.E. Rachel Reid Pereira de Souza Vera Lucia da Silva C.E. Joao de Oliveira Botas, Armação De Búzios Vera Lucia Gomes da Silva Nova Iguaçu / Mesquita Vera Lucia da Silva C.E. João de Oliveira Botas Vera Lúcia Oliveira de Siqueira CIEP 336 - Jornalista Octávio Malta, Campo Grande Virginia Viceconte de A Teixeira E.E. Alcinda Lopes Pereira Pinto Wania Alves Nova Iguaçu / Mesquita Wilma Pacheco dos Santos C.E. Santa Rita Zuleida Soliva dos Santos C.E. de Mage, Magé Capa Duplo Design www.duplodesign.com.br Diagramação Aline Santiago Ferreira Duplo Design - www.duplodesign.com.br Marcelo Mazzini Coelho Teixeira Duplo Design - www.duplodesign.com.br Thomás Baptista Oliveira Cavalcanti tipostudio - www.tipostudio.com.br Prezados (as) Professores (as) Visando promover a melhoria da qualidade do ensino, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro realizou, ao longo de 2005, em parceria com a UFRJ, curso para os professores docentes de diferentes disciplinas onde foram apropriados os conceitos e diretrizes propostos na Reorientação Curricular. A partir de subsídios teóricos, os professores produziram materiais de práticas pedagógicas para utilização em sala de aula que integram este fascículo. O produto elaborado pelos próprios professores da Rede consiste em materiais orientadores para que cada disciplina possa trabalhar a nova proposta curricular, no dia a dia da sala de aula. Pode ser considerado um roteiro com sugestões para que os professores regentes, de todas as escolas, possam trabalhar a sua disciplina com os diferentes recursos disponibilizados na escola. O material produzido representa a consolidação da proposta de Reorientação Curricular, amadurecida durante dois anos (2004-2005), na perspectiva da relação teoria-prática. Cabe ressaltar que a Reorientação Curricular é uma proposta que ganha contornos diferentes face à contextualização de cada escola. Assim apresentamos, nestes volumes, sugestões que serão redimensionadas de acordo com os valores e práticas de cada docente. Esta ação objetiva propiciar a implementação de um currículo que, em sintonia com as novas demandas sociais, busque o enfrentamento da complexidade que caracteriza este novo século. Nesta perspectiva, é necessário envolver toda escola no importante trabalho de construção de práticas pedagógicas voltadas para a formação de alunos cidadãos, compromissados com a ordem democrática. Certos de que cada um imprimirá a sua marca pessoal, esperamos estar contribuindo para que os docentes busquem novos horizontes e consolidem novos saberes e expressamos os agradecimentos da SEE/RJ aos professores da rede pública estadual de ensino do Rio de Janeiro e a todo corpo docente da UFRJ envolvidos neste projeto. Claudio Mendonça Secretário de Estado de Educação SUMÁRIO 25 Apresentação 29 Todo dia eles fazem tudo sempre igual... Reportagem, crônica, charge, conto Ivone Gravina Fialho, Eliséa Constantino, João Ildefonso, Marli Terezinha do Patrocínio Silva 57 Diferentes concepções na procura de um amor Crônica, soneto, canção, artigo de opinião Eliana Gonçalves Coimbra Flexa, Lilia Rute Costa Cardosos, Marilin martins Ramada, Priscila Freitas de Souza, Tânia Mara Ferreira de Mendonça 73 Construindo um mundo mais solidário Poema, carta de leitor, história em quadrinhos Helena Cristina Santos Lopes, Inez de Lemos Carvalho, Lucia Maria Nunes da Silva, Luciene Gomes Martins, Maria de Fátima Alves Ferreira, Neuza Maria Freitas Ferreira 85 Responsabilidade penal: em que idade? Texto de opinião e canção Elaine de Abreu de Lourenzo, Vera Lúcia da Silva, Rosângela Novaes de Farias 101 Por uma (nova) idéia de país Artigo de opinião, poema, pintura em tela, propaganda Maria Angélica Vieira Lannes, Sheila Santos Viana 114 Sociedade e comportamento Canção, poema, conto, peça teatral Cláudia Valéria Gonçalves Loroza 130 Anexo Proposta de seriação da disciplina Língua Portuguesa 148 Bibliografia Apresentação 25 Português - Volume I APRESENTAÇÃO É com satisfação que apresentamos aos professores da Rede de Ensino do Estado do Rio de Janeiro estes quatro volumes, com sugestões de atividades didáticas para subsidiarem o trabalho da sala de aula de Língua Portuguesa, frutos da parceria entre professores das universidades federais e professores da rede pública de ensino básico do Rio de Janeiro. Os trabalhos aqui reunidos – produzidos durante o curso de formação continuada, promovido pela UFRJ e pela SEE/RJ no segundo semestre de 2005, que reuniu cerca de 350 professores em pólos próximos às suas localidades de trabalho (Cabo Frio, Campos, Caxias, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Volta Redonda) – são o resultado de uma profunda refl exão sobre questões relacionadas ao ensino da língua materna, da troca de experiências entre os professores e do debate sobre as diretrizes do documento de reorientação curricular elaborado no fi nal do ano de 2004, no âmbito dessa parceria. Em todos os volumes, evidencia-se a preocupação em priorizar as atividades de leitura e produção textual, com base na concepção de que a escola deve incorporar em suas atividades os diferentes textos que circulam na sociedade, adequados aos diferentes contextos de produção. Assim, cada grupo escolheu um tema e selecionou textos de gêneros variados, para criar atividades didáticas que permitam ao aluno ampliar sua capacidade de leitura de mundo e interferência nas inúmeras situações sociais que exigem um cidadão consciente e atuante. Cada unidade apresenta, inicialmente, informações gerais sobre o tema e os textos escolhidos (gênero textual, objetivo comunicativo predominante, contexto de produção, modo de organização discursiva predominante, recursos lingüísticos utilizados), compondo uma “fi cha técnica” da proposta didática, para facilitar ao professor a inserção no seu planejamento pedagógico. A seguir, apresentam-se as “atividades didáticas”, que podem ser xerografadas para utilização em sala de aula. Por último, uma “conversa com o professor”, que tem como objetivo comentar alguns aspectos relevantes para a aplicação das atividades. Para apoiar o professor na utilização destes volumes, sugere-se a (re)leitura do documento de Reorientação Curricular de Língua Portuguesa, disponível nas escolas da rede estadual. Como instrumento de apoio para consulta cotidiana, incorporamos, ao fi nal de cada volume, a matriz curricular das séries correspondentes, relembrando que a refl exão sobre as questões gramaticais esteja sempre vinculada aos objetivos de leitura e produção de textos orais e escritos, e não se confi gure como um momento à parte na dinâmica da sala de aula, desvinculada dos reais objetivos do ensino da língua materna. 26 Ensino Médio Agradecemos a dedicação dos professores cursistas e informamos que todos os trabalhos (selecionados ou não para impressão) serão disponibilizados no site da SEE/RJ e da UFRJ. Esperamos que os professores de Língua Portuguesa da rede estadual, que participaram ou não do processo de elaboração deste material didático, possam utilizar as sugestões propostas por seus colegas, enriquecendo-as com sua própria prática. Somente com esse pensar (e essa prática coletiva) poderemos verifi car a real extensão de nosso Projeto, que sabemos ter sido amplo em sua estrutura eousado em sua proposta – e visualizaremos nossos acertos e a necessidade de eventuais ajustes e desdobramentos. Afi nal, nosso objetivo é único: o fortalecimento do ensino de língua materna, sempre em prol de nossos alunos, vetores de nossos passos e de nossas preocupações como docentes. Todas as sugestões serão evidentemente muito bem-vindas. Maria Cristina Rigoni Costa Cilene da Cunha Pereira Maria da Aparecida Meireles de Pinilla Maria Christina de Motta Maia Maria Emília Barcellos da Silva Maria Thereza Indiani de Oliveira Mariângela Rios de Oliveira Regina Célia Angelim Sigrid Castro Gavazzi Maria Teresa Tedesco Vilardo Abreu PORTUGUÊS Janeiro de 2006 PORTUGUÊS Ensino Médio - Volume I Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 29 Português - Volume I TODO DIA ELES FAZEM TUDO SEMPRE IGUAL . . . APRESENTAÇÃO A vida habitual, a sucessão infl exível dos dias e das noites, o presente partilhado entre vazios, bons e maus momentos é o que existe de mais familiar para todos nós, que, na companhia de um número impressionante de outros seres, habitamos o planeta. O cotidiano é, por assim dizer, o nosso ponto de encontro. Mais do que um lugar de lazer, trabalho, confl itos, ou de simples acomodação, ele é o espaço onde tentamos reencontrar nossas origens, compreender as contradições que nos revelam, e reconstruir o que perdemos da nossa humanidade. Afi nal, o que há mais próximo de nós do que nós mesmos?1 Por isso, o ensinamento do fi lósofo: “Descer, principalmente quando o homem se perdeu nas alturas da subjetividade, é mais difícil e perigoso do que se alçar. A descida leva à pobreza da ec-sistência2 do homo humanus” (Heidegger, M. Carta sobre o Humanismo. Rio, 1967, p. 82). Aceitemos o desafi o! Descer, voltar a terra, olhar de perto as chagas que se nutrem da vida e da esperança lá no chão, pode, paradoxalmente, transformar-se numa forma de subir bem alto na compreensão da nossa e de outras realidades. Objetivos principais • Ampliar a competência discursiva dos alunos por meio de atividades de leitura e produção de textos orais e escritos, adequando-se às diferentes situações de interlocução. • Desenvolver o domínio de aspectos discursivos e gramaticais da língua em uso como suporte para o desenvolvimento das habilidades de leitura e produção. Gêneros textuais trabalhados Reportagem, crônica, charge, conto. 1 BUZZI, Ângelo R. Filosofi a para Principiantes. Petrópolis, Vozes, 1996, p. 44-6. 2 ec-sistência Do lat. Ec = ex + siste = ser, existir. 30 Ensino Médio Detalhamento das características dos textos trabalhados Os textos que compõem esta proposta de material didático apresentam as seguintes características, de acordo com seus objetivos discursivos: Texto 1 - “Com dragão tatuado no braço” (Reportagem - Luciana Calaza - Jornal “O Globo” - Caderno Boa Chance de 01/05/2005). Texto 2 - “No Mundo Corporativo” (Reportagem - Toni Marques - Jornal “O Globo” - Caderno Boa Chance de 01/05/2005). Gênero Reportagem Objetivo comunicativo predominante Informar e persuadir Contexto de Produção Publicados em caderno utilitário de jornal de grande circulação, os dois textos oferecem informações e sugestões para que o leitor se prepare para adquirir um emprego correspondente às suas metas. Modo de organização discursiva predominante Exposição, argumentação e narração, com o objetivo de apresentar diversas informações sobre o uso da tatuagem no mundo corporativista de forma isenta. Recursos lingüísticos utilizados O uso de verbos no modo indicativo e subjuntivo, conectores, conjunção, advérbio, numeral e recursos de coesão. Texto 3 - “Veneno antimonotonia” (Martha Medeiros, Revista O Globo, 02/10/2005) Gênero Crônica [deriva de chronos (grego), signifi ca tempo] Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 31 Português - Volume I Objetivo comunicativo predominante Entreter e refl etir criticamente sobre a vida. Relatar os fatos e incluir diversas informações pertinentes ao tema. Contexto de produção O texto desta Unidade faz uma refl exão sobre a vida nas grandes cidades, tendo como foco São Paulo. Fala da rotina que aprisiona o homem na rede de ‘pequenos nadas’ que compõem o cotidiano. A partir daí aponta uma possível saída: a poesia. Para quebrar o tédio do dia-a-dia, para despertar o sentido adormecido, para exercitar a imaginação criadora, para viver a realidade. Modo de organização discursiva predominante Narração, exposição e argumentação. Recursos lingüísticos utilizados Os tempos verbais, pronomes, conectores temporais, conjunções coordenadas e subordinadas, pontuação. Pode-se discutir a coerência na escolha da linguagem (formal), que é adequada a esse tipo de texto. Texto 4 - Charge (San Salvador, Revista JB Ecológica, 05/06/2003) Gênero Charge Objetivo comunicativo predominante Reconhecer no material gráfi co fatos e situações cotidianas, a partir de estereótipos e clichês. Relacionar o problema da urbanização com a destruição do meio ambiente. Modo de organização discursiva predominante Base textual em forma de desenho, fazendo uma exposição sintética do cotidiano de uma grande cidade, pelo processo de composição de imagens. Contexto de produção Publicado em uma revista de caráter ecológico, em plena era de extrema urbanização e decorrente poluição, essa charge transmite uma crítica/alerta sobre as atitudes do homem contemporâneo, que parece não refl etir sobre as conseqüências de seus atos, e esquece que “somos hóspedes e não senhores da natureza”. 32 Ensino Médio Recursos lingüísticos utilizados Elementos da comunicação, linguagem subjetiva, uso de formas, cores, reprodução de situações recheadas de signifi cados da atualidade, com o objetivo de traduzir a mensagem do autor. Texto 5 - “O homem que resolveu contar apenas mentiras” (Ignácio de Loyola Brandão. In: O homem do furo na mão e outras histórias. São Paulo: Ática, 2002, p. 22-24) Gênero Conto Objetivo comunicativo predominante Contar, criticamente, fatos e acontecimentos que denunciam o mal-estar existencial do homem urbano, tendo em vista a hipocrisia presente nos contatos sociais a que está obrigado. Modo de organização discursiva predominante Narração Recursos lingüísticos usados pelo autor • Uso do pretérito perfeito do indicativo, tempo próprio das narrativas. • Uso do discurso direto, como forma de incorporar a fala dos personagens ao texto, sem a interferência do narrador. Para registrá-la, o narrador faz uso de verbos de elocução. • “... um oportunista, que não conservava o prédio, fazia fofocas entre empregadas, pedia gorjetas, ganhava porcentagem na compra de materiais de limpeza.” Nesta seqüência textual (argumentativa), a função do enunciado é atribuir qualidade. • “E quando se decide uma coisa, o melhor é levá-la até o fi m.” Esta seqüência é injuntiva, e traduz o desejo do narrador de aconselhar, indicar um comportamento que ele julga apropriado à circunstância focalizada. • “Bonita nos carros que andavam em fi la, ruidosamente, um atrás do outro, sempre para a frente, sempre para a frente.” Tem-se aqui um tipo de fi gura de pensamento conhecido como ironia. Em palavras simples, ela se constrói porque a seqüência textual, no contexto, perde o seu sentido literal (denotação), e adquire uma conotação crítica, depreciativa, ou satírica. Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 33 Português - Volume I ATIVIDADES DIDÁTICAS A vida habitual, a sucessão infl exível dos dias e das noites, o presente partilhado entre vazios, bons e maus momentos é o que existe de mais familiar para todos nós, que, na companhia de um número impressionante de outros seres, habitamos o planeta. O cotidiano é, por assim dizer, o nosso ponto de encontro. Mais do que um lugar de lazer, trabalho, confl itos, ou de simples acomodação, ele é o espaço onde tentamos reencontrar nossas origens, compreender as contradições que nos revelam, e reconstruir o que perdemos da nossa humanidade. Afi nal, o que há maispróximo de nós do que nós mesmos? Caro aluno, convidamos você a ler vários textos e refl etir sobre a questão do cotidiano. Texto 1 Com dragão tatuado no braço Aumento do número de pessoas com tatuagem e piercing gera polêmica no mercado de trabalho Uma flor na nuca, um dragão colorido no braço, uma bola de metal na ponta da língua. Discretos ou chamativos, tatuagem e piercing, que um dia foram símbolos de rebeldia, ganham, a cada dia, mais adeptos – inclusive no mundo corporativo. E provocam, entre chefes, as mais diferentes reações. Por isso, segundo especialistas da área de Recursos Humanos, antes de decidir usar uma tatuagem ou um piercing, o profissional deve fazer uma avaliação do grau de conservadorismo de sua área de atuação. Em áreas mais novas, como internet, telecomunicações e publicidade, o visual pode ser comum. Mas instituições com um perfil mais sóbrio, como bancos, escritórios de advocacia, hotéis e hospitais estão atentos à formalidade na apresentação do funcionário. (...) Luciana Calaza é jornalista, carioca e tem 28 anos. Iniciou sua via profissional no jornal ‘O Globo’ como estagiária. Atualmente é repórter do suplemento “Boa Chance”. Reportagem É a principal atividade jornalística e pode ser de dois tipos: a) Abordagem exaustiva de um tema que não tem propriamente ligação com o cotidiano. b) Acontecimentos relatados por jornalistas, seja no local em que o fato ocorreu ou através de informações. Em ambos prevalece a função esclarecedora e pode conter a opinião de especialistas. O objetivo da reportagem é informar e, ao mesmo tempo, levar o leitor a formar opinião. Os elementos que compõem uma reportagem são: - a manchete – desperta a curiosidade, a atenção do leitor; - o lide ou a introdução – resume o conteúdo da notícia que motivou a reportagem. - o desenvolvimento – desenvolve o fato. - a conclusão – apresenta um final, despertando ou não reflexões sobre o assunto. 34 Ensino Médio Leitura 1. A autora diz que o uso da tatuagem e piercing ‘discreto ou chamativo’, ganha, a cada dia, mais adeptos. a) O que você entende por uma tatuagem ‘discreta’? b) Como você defi ne uma tatuagem chamativa? Descreva-a. 2. O lide resume o conteúdo da notícia que motivou a reportagem. Releia o lide do texto 1 e responda: a) Que polêmica é essa? b) Qual é a posição das empresas com um perfi l mais conservador sobre esse tema? 3. Segundo o texto 1 a tatuagem e o piercing, já foram símbolos de rebeldia ...”. a) Que tipos de pessoas eram os rebeldes dessa época? b) E por que essas pessoas eram consideradas rebeldes? Texto 2 Empresas tendem a acompanhar o resto da sociedade “Houve tempo e lugar em que mulher de orelha furada não era digna das pessoas de bem” À medida que a cultura pop divulga bem-sucedidos personagens que são tatuados – atletas, cantores, modelos e atores – maior é a chance de as sociedades ocidentais passarem a aceitar a tatuagem como um adorno tão corriqueiro quanto brincos em orelhas furadas. Com elas, as orelhas, aconteceu o mesmo. Houve tempo e lugar em que mulher de orelha furada não era digna da atenção das pessoas de bem, dada a relação que tais pessoas estabeleciam entre a mulher e indígenas diversos. Foi assim na Grã-Bretanha, onde tatuagem, desde o século XIX, é símbolo de orgulho imperial, patriótico e religioso. Até a década de 50, lá ainda se discutia se mulher podia ou não furar a orelha, muito embora o povo soubesse que o rei Eduardo VII foi tatuado, assim como seus dois filhos, um deles também monarca. A aceitação da tatuagem nas classes médias do Ocidente se deu a partir do movimento hippie. Os hippies não eram tatuados em massa, mas ícones de sua cultura são ou foram: Peter Fonda, Joan Baez, Janis Joplin. Antes, na mentalidade da própria classe média, era segredo de elite ou costume de gentinha. O mundo corporativo tende a acompanhar o resto da sociedade nessa matéria. Afinal, a estrelinha que Gisele Bündchen tem no pulso não a impediu de se tornar a maior modelo do mundo. Do mesmo modo, o jogador de futebol Beckham tem mais ou menos tantas tatuagens quanto tem zeros no seu salário do Real Madrid. Gisele e Beckham sabem negociar seus respectivos talentos. Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 35 Português - Volume I A questão corporativa não é ter ou não ter tatuagem: é saber quando tal informação íntima pode ser compartilhada. Em geral, no ambiente de trabalho, não deveria ser compartilhada nunca, para que o tatuado não dê margem a qualquer olhar de reprovação que eventualmente degenere em ato de discriminação. Deixe a tatuagem para o churrasco da firma. É a mesma lógica da apresentação de um repórter. Um repórter não calçará havaianas para entrevistar um ministro de terno. É possível que a nova tatuagem seja o piercing, isto é, que o piercing esteja tomando para si a estranheza que, um dia, a tatuagem causou em geral. E que o mundo corporativo tenha de aceitá-lo, porque o resto do mundo já o terá feito. TONI MARQUES é jornalista e nasceu em 1964 no Rio de Janeiro, onde mora. Escreve reportagens para o jornal ‘O Globo’ desde 1997, e é autor de dois livros “O Brasil tatuado e outros mundos” e “Vós - Uma auto-ajuda da maldade”. 4. Ícone é uma pessoa emblemática do seu tempo, do seu grupo, de um modo de agir ou pensar (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). De acordo com o texto 2, cite um ícone contemporâneo e justifi que? 5. O emprego do diminutivo pode expressar diversas idéias. Leia a frase a seguir: “Antes, mentalidade da própria classe média, era segredo de elite ou costume de gentinha.” Gentinha dá idéia de ________________________ . 6. No penúltimo parágrafo, o autor diz: “Deixe a tatuagem para o churrasco da fi rma. É a mesma lógica da apresentação de um repórter. Um repórter não calçará havaianas para entrevistar um ministro de terno.” O autor está claramente referindo-se a um padrão de comportamento. Justifi que essa afi rmação. 7. O autor menciona “sociedades ocidentais” (1º par.) e “classe média do ocidente” (3º par.). Em que continentes vivem essas sociedades ou classes médias ocidentais? 8. No mundo corporativo não há espaços para modismos nem a supervalorização ao corpo. Na sua opinião, qual é o padrão de comportamento mais adequado para: a) Aquele que quer uma tatuagem e pretende trabalhar? b) Aquele que tem tatuagem e já está inserido no mercado de trabalho? 9. O autor menciona que “A aceitação da tatuagem nas classes médias do Ocidente se deu a partir do movimento hippie.” Atualmente, na sociedade brasileira, quais grupos de profi ssionais se tatuam? 36 Ensino Médio Língua em Uso “Às vezes, quando expomos algo, precisamos enumerar suas características, de modo a apresentá-las para o leitor. A enumeração envolve a identifi cação e apresentação seqüencial de informações referentes àquilo sobre o que se está escrevendo.” (Língua. Literatura. Produção de Texto - Volume Único de Maria Luiza Abaurre, Marcela Nogueira Pontara e Tatiana Fadel pág. 344, Ed. Moderna - 2004, 2ª edição.) Observe os exemplos abaixo “Discretos ou chamativos, tatuagem e piercing, que um dia foram símbolos de rebeldia,...” “Em áreas mais novas, como internet, telecomunicações e publicidade, o visual pode ser comum.” “Mas instituições com um perfil mais sóbrio, como bancos, escritórios de advocacia, hotéis e hospitais estão atentos à formalidade ...” Muitas vezes, em textos, enumeram-se os itens da seqüência com o objetivo de facilitar o entendimento do mesmo. 1. Complete as frases enumerando itens relacionados às expressões em negrito: a) _______________________________, jogadores de futebol do Real Madrid, estão se preparando fi sicamente para a próxima temporada. b) Os tipos de desenhos como __________________________ são os mais utilizados nas tatuagens dos chamados ‘pit boys’. c) ______________________________ são adornos usados pelos indígenas e que posteriormente foram adotados pelas mulheres de diversas gerações. Observe os exemplosabaixo “Com elas, as orelhas, aconteceu o mesmo.” “ Gisele Bündchen e David Beckham sabem negociar seus respectivos talentos.” Nas orações acima o pronome elas retoma a palavra orelhas e o adjetivo respectivos retoma os nomes Gisele Bündchen e David Beckman. 2. Identifi que o que é referência para as palavras em negrito: a) “... o rei Eduardo VII foi tatuado, assim como seus dois fi lhos, um deles também monarca.” (2º par.) b) “Foi assim na Grã-Bretanha, onde tatuagem, desde o século XIX, é símbolo de orgulho imperial, patriótico e religioso. Até a década de 50, lá ainda se discutia se mulher...” (2º par.) c) “A questão corporativa não é ter ou não ter tatuagem: é saber quando tal informação íntima pode ser compartilhada.” (5º par.) Laboratório de textos Em grupos de no máximo quatro participantes, elabore um questionário e entreviste pessoas de sua comunidade abordando os seguintes aspectos sobre a tatuagem: Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 37 Português - Volume I • O que ela representa? É moda, é tribal? • DST (Doenças sexualmente transmissível) e a tatuagem. • A vaidade e a tatuagem. • Uso da tatuagem como forma de intimidação e/ou agressão ao outro. Após as entrevistas, redija um texto em prosa sobre os resultados obtidos. Não se esqueça de mencionar o nome e a ocupação dos entrevistados. Texto 3 Veneno antimonotonia Martha Medeiros FALCATRUAS, ALAGAMENTOS, VIOLÊNCIA URBANA... Eu colocaria mais uma coisa nesta lista de pequenas tragédias com que somos brindados diariamente: o tédio. A cada manhã, abrimos os jornais e é a mesma indecência política. Nas ruas, perdemos tempo com os mesmos engarrafamentos. E escutamos as mesmas queixas no local de trabalho. É sempre o mesmo, o mesmo. Como é bom quando algo nos surpreende. Para quem vive na opressiva e cinzenta São Paulo, a novidade atende pelo nome de Cow Parade, a exposição ao ar livre de 150 esculturas em formas de vacas, em tamanho natural, feitas de fibra de vidro e decoradas com muita cor e insanidade por artistas plásticos, diretores de arte, designers e cartunistas. Um nonsense mais que bem vindo, uma intervenção no nosso olhar acostumado. Espalhadas por ruas, praças, nos lugares mais inesperados, lá estão elas, vacas enormes, vacas profanas, vacas insólitas. Para quê? Para nada de especial, apenas para espantar o tédio, inspirar loucuras, lembrar que as coisas não precisam ser sempre iguais. Havia uma vaca no meio do caminho, no meio do caminho havia uma vaca. É poesia também. Falando em poesia, há sempre uma nova coletânea sendo lançada no mercado editorial, heróica, tentando atrair aqueles leitores que ainda resistem a qualquer coisa que rime. Desta vez, não é coletânea de mulheres poetas ou poetas do terceiro mundo, essas cortesias que nos fazem... Finalmente, o humor e a leveza baixou no reino dos versos. O livro chama-se “Veneno antimonotonia” e traz o subtítulo “Os melhores poetas e canções contra o tédio”. Organizado por Eucanaã Ferraz, a antologia pretende combater o vazio, o medo, a falta de imaginação. É um convite para a vida, e um convite feito através das palavras de Drummond, Chico Buarque, Antonio Cícero, Ferreira Gullar, Adriana Calcanhoto, Armando Freitas Filho, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, João Cabral de Melo Neto e 38 Ensino Médio outros ilustres, sem faltar Cazuza, claro, cuja canção “Todo amor que houver nesta vida” - uma das minhas letras preferidas - inspirou o título da obra. Até hoje pergunta-se: para que serve a arte, para que serve a poesia? Intelectuais se aprumam, pigarreiam, começam a responder dizendo “Veja bem...” e daí em diante é um blábláblá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento. (Revista O GLOBO 02.10.2005) Martha Medeiros é uma escritora gaúcha, com 11 títulos publicados e vendeu, até hoje, mais de 50 mil livros. Consagrada no sul do país, Martha é cronista e poeta do cotidiano. Atualmente escreve no Caderno “Revista” do jornal O Globo. Escreveu seu primeiro livro sobre ficção “Divã” que, de tanto sucesso, se tornou peça de teatro, sendo encenada no Rio de Janeiro. Vocabulário Cow Parade – Um dos maiores e mais bem sucedidos eventos contemporâneos de arte de rua do mundo. Com mais de cinco anos de existência, esse projeto já percorreu mais de 28 cidades ao redor do mundo, incluindo Nova Iorque, Londres, Las Vegas, Bruxelas e Praga. O evento em São Paulo se deu entre 04 de setembro e 06 de novembro de 2005. cow – vaca na língua inglesa parade – desfi le na língua inglesa falcatrua: artifício para enganar nonsense: (palavra de origem francesa) sem sentido profana: não-pertencente à religião, não-sagrado insólita: contrário ao uso, aos costumes editorial: artigo que exprime a opinião do jornal, em geral escrito pelo redator-chefe coletânea: conjunto de trechos seletos de vários autores antologia: coleção de trechos em prosa e/ou em versos Leitura 1) A crônica de Martha Medeiros pertence a um gênero textual conhecido e costuma ser veiculada em jornal ou revista onde os assuntos abordados são os fatos corriqueiros do dia- a-dia, registrados com sensibilidade, crítica, humor e poesia. Qual é o assunto desenvolvido no texto? 2) A crônica é um texto curto, escrito para divertir o leitor ou levá-lo a refl etir sobre a vida e os comportamentos humanos. Uma parte do texto fala da rotina, da crítica aos costumes e a outra parte apresenta um fato novo para observar a realidade. Baseando-se nessas informações, podemos dividir o texto em duas partes que vão fundamentar a idéia da autoria. Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 39 Português - Volume I a) Localize essas partes e dê os parágrafos. b) Qual é o fato novo? Crônica. [Do lat. Chronica] S. f. 1. Narração histórica, feita por ordem cronológica. 2. genealogia de família nobre. 3. Revista científica ou literária, que constitui, periodicamente, uma seção de jornal. 4. Pequeno conto, de enredo indeterminado. 5. Seção ou coluna de revista ou de jornal consagrada a um assunto especializado: crônica política, crônica teatral. 6. Biografia, em geral escandalosa, de uma pessoa: Sua crônica é bem conhecida. A palavra Crônica deriva do radical grego “crono”, que significa “tempo”. Aí está o seu caráter contemporâneo: relato de acontecimentos do tempo de hoje, ou seja, relato de fatos do cotidiano. 3) Como a maioria dos gêneros narrativos, a crônica tem um narrador que constrói o seu texto baseado no seu ponto de vista, relata os fatos a partir de sua visão de mundo, de suas opiniões e seus condicionamentos. Ele pode ser observador ou personagem. Que tipo de narrador aparece na crônica lida? Dê exemplos com passagens do texto. 4) A cronista inicia o texto falando de “Falcatruas, alagamentos, violência urbana...” e “...é a mesma indecência política.” Ela se refere a “... opressiva e cinzenta São Paulo...”. Faça um paralelo dos fatos apresentados com os que acontecem na sua cidade. 5) Leia os trechos: “Eu colocaria mais uma coisa nessa lista de pequenas tragédias com que somos brindados diariamente...” “...é um blábláblá teórico que tenta explicar o inexplicável.” As palavras em negrito apresentam uma “aparente contradição”. Explique com que objetivo foi utilizada esta construção? 6) O poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema “No meio do caminho”: “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho”. Esses versos nos falam sobre a condição do homem que se sente acuado pelos obstáculos que a ‘pedra’ (ou seja, a sociedade) oferece. Qual a relação do poema com a citação do texto: “Havia uma vaca no meio do caminho, no meio do caminho havia uma vaca.”?7) No terceiro parágrafo, a autora fala de uma nova coletânea, o livro “Veneno antimonotonia” que dá título à crônica. Sabendo-se que o prefi xo “anti” quer dizer idéia contrária, oposição, explique por que “Veneno aintimonotonia”. 8) No último parágrafo há duas correntes de opinião para a mesma questão: “Para que serve a arte, para que serve a poesia?”. De todas as idéias expostas, qual o que melhor traduz uma fi nalidade para você? Por quê? 9) Agora, invista na sua imaginação e construa um título criativo para a crônica lida. 40 Ensino Médio Crônica • Gênero textual que pode apresentar o texto que expõe argumentos que fundamentam o ponto de vista do autor. • Faz a apresentação do assunto no início do texto. • O cronista se posiciona sobre o assunto. • Pode apresentar narrador-observador ou narrador-personagem. • Tratamento subjetivo do tema, deixando passar a sensibilidade e emoções do cronista. • Linguagem criativa, geralmente de acordo com o padrão culto e também informal da língua, estando mais próxima de textos literários. • Apresenta conclusão criativa. • Geralmente é publicada em jornal ou revista, admite tanto a narração como o comentário. Língua em uso Uma outra forma de escrever Os textos se constroem a partir de outros textos. A originalidade do autor fi cará na forma como vai ser construída a sua obra. Quando queremos escrever um texto, sempre haverá a infl uência das muitas leituras realizadas, das conversas que tivemos, dos fi lmes e novelas que vimos, das canções que escutamos. A esta altura você também já deve ter a sua maneira de ver o mundo, deve ter suas próprias opiniões depois de tanta infl uência. Vamos ver duas maneiras possíveis de “recriar” um texto: 1. Paráfrase: Palavra de origem grega para-phrasis (repetição de uma sentença), a paráfrase imita o original, não só contribuindo para melhorar o vocabulário, mas também proporciona inúmeras oportunidades de estruturação de frases, sobretudo se ela não se limitar a simples substituições de palavras de um texto por outras, sinônimas, num outro texto. Veja um autor de texto original (A) e a construção da paráfrase sobre o mesmo assunto (B): Autor A – “Encontrei uma noite destas, quando vinha da cidade para o Engenho Novo no trem da Central, um rapaz que é aqui do bairro e que eu conheço de vista e de chapéu.” Autor B – “Eu conheço um rapaz aqui do bairro, de vista e de chapéu, que encontrei uma noite destas no trem da central, quando vinha da cidade para o Engenho Novo.” Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 41 Português - Volume I No texto vimos a colocação do poema de Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho”: No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. (...) Reescrito, mas conservando basicamente a idéia do texto original, pela cronista Martha Medeiros: “Havia uma vaca no meio do caminho No meio do caminho havia uma vaca.” 2. Paródia: É a recriação de um texto – e isto também é criar – mas feito, quase sempre, de forma irônica. É uma nova e diferente maneira de ler o original. Segundo Afonso Romano de Sant’Anna: “a paródia é como a lente, exagera nos detalhes de tal modo que pode converter uma parte do elemento focado num elemento dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na charge e na caricatura.” Leia alguns versos de um dos poemas mais conhecidos da nossa literatura “Canção do exílio”, escrito por Gonçalves Dias. Vivendo uma situação de exílio voluntário, ele fala do desejo de regresso à Pátria: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Vários autores, parodiando a poesia de Gonçalves Dias, também escreveram composições que falam de exílio. Podemos citar, entre outros, o poeta Vinícius de Moraes, a composição de José Paulo Paes, Chico Buarque de Holanda, em parceria com Antonio Carlos Jobim (a canção “Sabiá”, vencedora do Festival da Canção de 1968). Vamos ver alguns versos de alguns poetas: • De Casimiro de Abreu, “Meu lar”: Se eu tenho de morrer na fl or dos anos, Meu Deus não seja lá; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! 42 Ensino Médio • De Oswald de Andrade, “Canto de regresso à Pátria”: Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá. • De Murilo Mendes, “Canção de exílio”: Minha terra tem macieiras da Califórnia Onde cantam gaturamos de Veneza. • De Carlos Drummond de Andrade, “Nova Canção do exílio”: Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam Um outro canto. (...) • Ou estes versos de uma canção do compositor Moraes Moreira: Minha terra tem pauleiras Desencanta e faz chorar. Percebemos que há uma oposição entre Paráfrase e Paródia, enquanto uma reafi rma com palavras diferentes o que foi dito, a outra funciona com idéias do texto original sendo questionadas. O importante é reconhecer que existe uma troca entre os textos e eles se completam. Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 43 Português - Volume I Laboratório de textos Leia o texto abaixo, que é a letra de uma canção conhecida: Todo amor que houver nessa vida Cazuza e Roberto Frejat Eu quero a sorte de um amor tranqüilo Com sabor de fruta mordida Nós na batida, no embalo da rede Matando a sede na saliva Ser teu pão, ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum trocado pra dar garantia E ser artista no nosso convívio Pelo inferno e céu de todo dia Pra poesia que a gente não vive Transformar o tédio em melodia Ser teu pão, ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum veneno anti-monotonia 1. Escreva um texto cujo tema relacione-se com o conteúdo dos dois textos que você acabou de ler. Atenção! • Refl ita bastante sobre este tema • Use o foco narrativo em 1ª pessoa • Não se perca falando de temas paralelos • Utilize passagens dos textos lidos para reforçar sua opinião • Não se esqueça do título! E se eu achar a sua fonte escondida Te alcance em cheio o mel e a ferida E o corpo inteiro feito um furacão Boca, nuca, mão, e a tua mente, não Ser teu pão , ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum remédio que me dê alegria 44 Ensino Médio Texto 4 Esta charge, sobre meio ambiente, de autoria de Son Salvador. Foi publicada na revista JB Ecológico, de 05 de junho de 2003. Charge: s.f. desenho humorístico, com o sem legenda ou balão, geralmente veiculado pela imprensa e tendo por tema algum acontecimento atual, que comporta crítica e focaliza, por meio de caricatura, uma ou mais personagens envolvidas; caricatura, cartum. ETIM fr. charge (sXIII) ‘carga’, (1680)) p.ext., ‘o que exagera o caráter de alguém ou de algo para torná-lo ridículo, representando exagerada e burlesca, caricatura’, regr. De charger ‘carregar’ <b.-lat. caricãre, ver carr- (Dicionário Houaiss). Leitura O desenho acima, a que chamamos charge, é largamente utilizado pela imprensa escrita. Ultimamente, a mídia faz largo uso desse gênero textual. Observe-o atentamente, converse com seu colega, e vamos entendê-lo. 1. Que comentários você faria sobre o desenho? 2. Que fato do cotidiano é criticado pela charge? Justifi que. 3. O que você pensa que o desenho está representando? Por quê? 4. O que motivou o autor a utilizar o desenho de um barco sobre os edifícios 5. Você acredita que essa imagem é apropriada para o nosso cotidiano? Justifi que. 6. Que mensagem o autor quis transmitir? Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 45 Português - Volume I 7. Pesquise no dicionário o signifi cado da palavra charge? 8. Com que objetivo ela é usada nos jornais e revistas? 9. A charge utiliza uma linguagem não-verbal. Que outro tipo de texto de linguagem não- verbal você conhece? Laboratório de textos 1. Trabalhando em dupla, observe a charge de Son Salvador e, após conversar com o colega sobre o conceito de texto não-verbal, escreva um pequeno texto emprosa que sintetize a idéia principal, e também dê um título para a charge. 2. Agora, ainda trabalhando em dupla, digamos que você e seu colega são leitores assíduos da revista que publicou esta charge, e que fi caram emocionados com a mensagem do autor. Por isso, escrevam uma carta à redação da revista e expressem sua opinião e sentimentos em relação à charge. 3. Esta atividade poderá ser trabalhada individualmente ou em grupo de até três alunos. Você poderá exercitar suas habilidades artísticas, ao fazer uma charge ou usar uma cartolina e a prática da colagem, para criar sua mensagem sobre um tema do nosso cotidiano. 4. Aproveitando que você adquiriu alguns conhecimentos sobre texto verbal (reportagem sobre tatuagem e a crônica) e texto não-verbal (charge), forme um grupo de no mínimo três alunos, e crie uma reportagem sobre sua escola e, também, crie uma charge para representar seu trabalho. Procure, dentro do tema proposto, um que seja de grande interesse de seus colegas. Texto 5 O homem que resolveu contar apenas mentiras Ignácio de Loyola Brandão Naquela manhã, acordou disposto a contar só mentiras. A não dizer uma única verdade. A ninguém. Nem à própria mulher. E assim, quando afirmou: “vou para o trabalho”, empregou a primeira mentira. Não ia. Tinha resolvido faltar, esquecer o escritório, a mesa, os papéis. Parar, ficar na rua. E quando disse bom-dia para o zelador do prédio, também mentia, porque odiava o zelador, um oportunista, que não conservava o prédio, fazia fofocas entre empregadas, pedia gorjetas, ganhava porcentagem na compra de materiais de limpeza. E quando disse o endereço ao motorista do táxi, também mentia, não pretendia ir para aquele lugar. Mas o chofer exigira o destino porque as pessoas vivem exigindo coisas. E nem sempre temos vontade ou possibilidade de satisfazer. E as exigências crescem e se tornam parte de nossa vida diária. Nos acostumamos com elas, nos acomodamos, sem perceber que cada concessão é um pedaço da gente mesmo, envenenado, que a gente engole. E quando o homem entrou no bar e pediu café, mentia, porque não queria café. Estava apenas fazendo um teste, enquanto observava o gesto maquinal daquele empregado que destacava uma ficha e a entregava. Será que 46 Ensino Médio aquele funcionário, alguma vez, imaginou que alguém pudesse não querer café? Pedir, por pedir, mas não querer? Nem sequer desejar ver a xícara fumegante? Com a ficha na mão, saiu pela rua. Outra mentira. Não queria ficar na rua. Mas se entrasse no escritório, seria mentira maior. Odiava o escritório, o emprego, os colegas. De duas mentiras, preferiu a menor, ainda que, ponderando, descobrisse que ficar com a mentira menor era igualmente fuga, mentira, porque nesse dia tinha decidido mentir. E quando se decide uma coisa, o melhor é levá-la até o fim. Andou. Pensando como a cidade era bonita com seus prédios batidos de sol e os vidros dando mil reflexos. Bonita com a gente que andava apressada para trabalhar e construir alguma coisa. Bonita na tranqüilidade da vida, no sossego das casas, na calma que se estampava nos rostos das gentes. Bonita no que oferecia de futuro e de perspectivas. Bonita nos carros que andavam em fila, ruidosamente, um atrás do outro, sempre para a frente, sempre para a frente. Bonita na fumaça negra que escapava dos veículos e subia em espirais, milhares de fumaças reunidas, formando uma bela nuvem negra, como um negro véu, que surgia sobre a terra, empanando o céu. Andou, sem querer andar. Viu, sem querer ver. Sentiu, sem querer sentir. Cansou, sem querer cansar. Tudo uma grande mentira neste dia. Como mentira era a vida que ele vivia, cotidianamente, falsificada, pré-fabricada, exaurida, imposta. Suada. Que repousante era viver este dia de mentira. Negar tudo. Reviver. Andou até a hora de voltar para casa. Outra mentira, não queria voltar para casa, o lar, o aconchego, o refúgio, a fuga. A verdade de sua vida encerrada entre aquelas quatro paredes, a família, o amor, o carinho, o aconchego, o lar, o refúgio, a fuga, a realidade. Não voltar, e andar. Percorrendo as ruas, entrando nos prédios, conversando com as pessoas. No entanto, não tinha vontade de conversar. Sabia que precisava, mas não tinha vontade de falar. Falava pouco, sua língua andava entorpecida, sem prática. O medo é que um dia desacostumasse e perdesse a capacidade de se comunicar. Ficou parado numa esquina, esperando a noite passar. E quando o dia chegou, tinha acabado o período da mentira, podia enfrentar de novo a verdade. E disse bom-dia ao porteiro, deu o endereço ao táxi, ligou para a mulher e o patrão. Disse no emprego que estava doente. E, na verdade, estava. Ignácio de Loyola Lopes Brandão, nasceu em Araraquara – SP, no dia 31/07/1936. Jornalista e escritor renomado, tem presença marcante no meio intelectual brasileiro. Tem, também, prestígio internacional. Leitura 1. Considerando-se que uma frase, via de regra, contém um assunto e uma informação, que palavras, no título “O homem que resolveu contar apenas mentiras”, representam esses dois elementos? 2. Qual a seqüência de frases do primeiro parágrafo, que deixa claro o propósito extravagante do personagem principal dessa história? 3. Por defi nição, discurso é uma palavra que defi ne o modo como o narrador apresenta a fala das personagens. Se, em “E quando disse bom-dia para o zelador do prédio”, o narrador Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 47 Português - Volume I reconstrói com suas próprias palavras o que o personagem teria dito (discurso indireto), com que forma fi caria a seqüência narrativa se apresentada em discurso direto? 4. Considerando-se que entre os papéis da narrativa está o de preservar os costumes, transmitir a cultura, e permitir refl exões sobre o comportamento do homem, qual, dentre eles, o conto lido destaca? 5. A leitura do conto confi rma o título que lhe foi atribuído pelo autor? Justifi que. 6. Que aspectos básicos (sexo, altura, peso, local de nascimento, sinais físicos, profi ssão, manias etc.) caracterizam o personagem principal do conto? 7. Considerando que o texto é extremamente crítico no que se refere aos valores da sociedade de consumo, repita a cadeia de frases de que o narrador se vale para questionar um hábito que a propaganda institucional transformou em privilégio de quem vive no Brasil? 8. Ao descrever as cenas que caracterizam a cidade onde reside o personagem, o narrador pretende desmistifi car a imagem de paraíso atribuída às grandes cidades. Retire do texto uma seqüência argumentativa da qual ele se vale para atingir esse objetivo. 9. Do seu ponto de vista, que tipo de insatisfação pode ter levado o personagem a comportar- se do jeito que se comporta nessa história? 10. Do ponto de vista do narrador, qual o estado de saúde apresentado pelo personagem durante as vinte e quatro horas em que “resolveu contar apenas mentiras”? E depois que terminou o período da mentira? 11. Circulam na sociedade textos fi ccionais e não fi ccionais. Analisando por esse ângulo, como deve ser classifi cado o texto lido? 12. Que características encontradas no texto justifi cam sua resposta à pergunta imediatamente anterior? Língua em uso Nos contos, em que os fatos e acontecimentos formam o núcleo do interesse de quem se propõe comunicar algo que considera relevante, há uma tendência natural de ampliar-se o universo daquelas perguntas básicas que orientam os textos propriamente informativos. Assim, ao questionar os fatos através das perguntas clássicas do jornalismo ― “O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?” ― o contista precisa acrescentar outras ― “Qual a conseqüência disso? “O que isso representa? Qual o lado bom dessa história? Qual o prejuízo que isso traz? Por que isso teve tanta repercussão?” ― que lhe permitam ampliar o espectro comunicativo da sua produção. É claro que, dependendo do assunto e dos objetivos do autor, há muito mais perguntas que podem auxiliar na defi nição da amplitude das idéiasque ele pretende disseminar (“Naquela manhã, acordou disposto a contar só mentiras. A não dizer uma única verdade. A ninguém. Nem à própria mulher.”). Laboratório de textos Tendo como referência as noções de produção de texto narrativo apresentadas, organize uma lista de perguntas que identifi quem adequadamente a personagem do conto. 48 Ensino Médio CONCLUSÃO Viver o dia-a-dia quer dizer estar na luta por mais vida. A história das espécies confi rma esse fato. Não importa se planta ou animal, cada ser vivo é engenho e arte na luta para sobreviver. Entre nós, ocidentais, esse fato tem suas raízes culturais no princípio bíblico que gera muitas controvérsias, em especial no nosso tempo: “Crescei e multiplicai-vos”. Como decodifi car e aplicar este mandamento, se há milênios integramos sociedades cujas regras de funcionamento têm por meta limitar a uns poucos o acesso aos bens socialmente produzidos, e promover a desvalorização ilimitada do humano? Por isso, conscientes do número alarmante de ameaças que pairam sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos, aprendemos a criar e usar os mitos. Eles dão esperança a nossos desejos de realização, levantando as cortinas que escondem as verdades ocasionais de que precisamos para continuar. Isto é: vencer o medo que nos assalta sempre que olhamos o nosso cotidiano individual e coletivo com olhos críticos. Vamos comparar os quatro textos que analisamos? 1. No texto 1, a jornalista Luciana Calaza retransmite o ponto de vista de especialistas da área de Recursos Humanos quanto ao uso de uma tatuagem ou um “piercing”. a) Qual personagem do conto da Unidade IV tem um comportamento que se pode classifi car como autoritário? Por quê? b) Qual explicação, dentre as que são apresentadas pelo narrador para discordar da imposição da personagem autoritária, tem relação direta com o estado de saúde apresentado pelo protagonista do conto? 2. O segundo parágrafo do texto 3 tem o seguinte início: “Para quem vive na opressiva e cinzenta São Paulo, a novidade atende pelo nome de Cow Parade...” a) A cidade descrita, no terceiro parágrafo do texto 5, como São Paulo pode ser classifi cada como “opressiva e cinzenta ”? Justifi que. b) Considerando a seqüência “(...) Como mentira era a vida que ele vivia, cotidianamente, falsifi cada, pré-fabricada, exaurida, imposta. Suada. Que repousante era viver este dia de mentira. Negar tudo. Reviver.”, indique qual palavra ou frase que se equivale ao signifi cado de “novidade” no texto de Martha Medeiros. 3. O texto 4 pretende servir de alerta, entre outros, para o problema da destruição perversa do patrimônio natural da humanidade, em troca de dinheiro. Os grandes conglomerados urbanos provam isso. Na exigüidade dos espaços escolhidos, o que era vida harmonizada foi trocado por enormes estruturas de concreto e de asfalto, numa escala que só tem respeitado os limites egoístas do lucro sem divisor. O que fazer diante do poder desse tipo de agressão? A saída oferecida pelo texto vem do mito bíblico de Noé e sua arca salvadora. Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 49 Português - Volume I a) Que outros seres focalizados nos textos estudados são mitos ou fábulas presentes na literatura universal? Identifi que a provável cultura de origem e o signifi cado de cada um deles. b) Os elementos descritivos presentes nos textos 3, 4 e 5 são sufi cientes para que o leitor conclua que se referem a um mesmo tipo de cidade? Justifi que. 4 Tomando-se por base a acepção de cotidiano como algo que sucede ou se pratica habitualmente, responda: a) Por que os fatos e acontecimentos registrados nos textos apresentados fazem parte do cotidiano? b) Tendo como referência o cotidiano e as contradições registradas nos quatro textos analisados, elabore uma lista de propósitos pessoais que, se cumpridos pelas pessoas a quem você vai oferecê-la, servirá para ajudá-las a compreender melhor a vida e os caminhos de que dispõem para que vivam com mais felicidade. (BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem do furo na mão e outras histórias. São Paulo, Ática, 2002. p. 22-4) 50 Ensino Médio ANEXO I Plano de Aula (Professor) Objetivos - Ao fi nal deste estudo, os alunos deverão ser capazes de: a) distinguir texto fi ccional e não-fi ccional; b) reconhecer e usar a paragrafação adequadamente; c) produzir individualmente, a partir do tema proposto, conto que tenha ligação com um fato real repercutido pela imprensa. Material de apoio 1) exemplares variados de jornais e revistas que circulem na região; 2) cópias do conto a ser estudado com os alunos; 3) folhas padronizadas para a redação a ser produzida depois da aula; 4) livro-texto adotado na escola; e, 5) caderno, lápis, borracha e caneta azul ou preta. Parte A - Leitura (Habilidades) 1. Procedimentos • Distribuir o material jornalístico disponível, e solicitar que um dos alunos registre no quadro- de-giz as manchetes que seus colegas considerem ser matéria do cotidiano. • Selecionar, pela opinião do grupo, que matérias publicadas fazem parte do tema em discussão, e destacá-las grafi camente no quadro-de-giz. • Incentivar a turma para que, coletivamente, construa um conceito para o vocábulo “cotidiano”. (Encimar as anotações no quadro-de-giz com essa defi nição). • Distribuir as folhas com o texto “O homem que resolveu contar apenas mentiras”, e solicitar que todos o leiam. 2. Em voz alta, e no melhor modelo de contador de histórias, fazer nova leitura do texto, atentando para as mudanças de ritmo imprimidas pelo narrador ao longo da narrativa. 3. Discutir com a turma os traços distintivos do texto fi ccional e do não fi ccional, identifi cando o foco narrativo, enredo, espaço, tempo, personagens, confl ito, e desfecho. 4. Confi gurar no quadro-de-giz os elementos narração, mostrando, sucintamente, o papel desempenhado por cada um deles no processo narrativo. 5. Explicar, com exemplos próximos, a diferença entre “realidade” e “fi cção” (atriz / personagem, biografi a / romance, relato / conto, entre outros). Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 51 Português - Volume I 6. Identifi car no conto marcas lingüísticas que possibilitam o discurso narrativo. Parte B - Produção Textual (Habilidade) 1. Procedimentos a) Fazer a distribuição das folhas padronizadas para a produção textual, a ser realizada como trabalho de casa. (ver folha anexa) b) Tendo em vista o propósito explicitado nos objetivos desse estudo, e apoiado nos dados da leitura do material jornalístico utilizado (personagens, seus traços característicos, qual a complicação em que se envolveram etc.), o aluno deverá escrever um texto narrativo com o seguinte título: “Um fato que vale um relato”. O trabalho deverá ter entre vinte (20) e trinta (30) linhas, e será avaliado de acordo com os critérios listados na fi cha de auto-avaliação impressa na folha de redação oferecida. 52 Ensino Médio Folha de Redação Aluno(a) __________________________________ Turma: ________ Nº ______ Data: ____ / ____ / _____ Avaliação: __________% Professor(a): ___________ ASPECTOS (AVALIADOS EM %) ESTÉTICO ESTRUTURAL ESTILÍSTICO GRAMATICAL 0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25 FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO Aspecto formal - 1. Letra legível. 2. Margens regulares. 3. Paragrafação. 4. Ausência de rasuras. Aspecto estrutural - 1. Unidade: presença de uma idéia central. 2. Coerência: relação lógica entre as partes do texto. 3. Coesão: ligação entre frases e parágrafos. 4. Fidelidade ao tema. Aspecto estilístico - 1. Clareza. 2. Concisão. 3. Semântica (adequação vocabular). 4. Originalidade. Aspecto gramatical - 1. Ortografi a. 2. Acentuação gráfi ca. 3. Pontuação. 4. Morfossintaxe. 5 10 15 20 Todo dia eles fazem tudo sempre igual... 53 Português - Volume I CONVERSA COM O PROFESSOR Textos 1 e 2 - Tatuagem no mundo corporativo Professor • O jovem é sempre um veículo de novidades na sociedade moderna. É ele quem aprova ou rejeita qualquer modismo
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