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AULA_03._SISTEMA_DE_TUTELAS_DE_URG_NCIA


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Sistema de Tutelas de Urgência 
(Tutela Antecipada de Emergência e Tutela Cautelar)
Thyago Luis Barrêto Braga
Procurador Público Efetivo do Município de João Pessoa, Ex-Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, Ex-Assessor Jurídico de Gabinete do TJPB, Professor de Direito Processual Civil da Faculdade Maurício de Nassau de João Pessoa e Professor em nível de Pós-Graduação da Faculdade Maurício de Nassau – JP / Escola Superior da Advocacia – ESA/PB
1. Introdução 
Visando resguardar a efetividade da tutela jurídica pretendida contra os malefícios da demora processual, o legislador construiu um sistema de tutelas de urgência, integrado por medidas cautelares e por tutelas antecipadas de urgência. Em regra, a tutela antecipada é disciplinada no art. 273 do CPC�, ao tempo em que as tutelas cautelares recebem tratamento jurídico no âmbito do Livro III do CPC�.
Assim sendo, as partes podem requerer medidas cautelares ou tutelas antecipadas de urgência como forma de resguardarem a efetividade da tutela jurídica principal a ser concedida pelo magistrado. A tutela antecipada possui natureza satisfativa, pois, nesse caso, o juiz concede aquilo que somente poderia conceder ao final do processo, por ocasião da prolação da sentença. Por outro lado, a tutela cautelar possui natureza assecuratória, haja vista preservar o direito do autor contra os riscos decorrentes da demora do processo, sem antecipar, todavia, a tutela jurídica principal efetivamente requerida.
Exemplo 1: João foi negativado por dívida de telefonia celular. Considerando que a sua inclusão em cadastro de inadimplentes foi indevida, pois João havia pago o débito tempestivamente, este decide propor ação judicial de obrigação de fazer com pedido de indenização por danos morais, visando obter: a) a retirada do seu nome do cadastro de inadimplentes; b) indenização por danos morais. Entretanto, considerando que a demora processual no julgamento da demanda poderá agravar o dano sofrido por João, o que comprometeria a efetividade da tutela jurídica pretendida, este decide requerer a concessão de uma tutela antecipada de urgência e, assim, obter – mediante decisão interlocutória – decisão hábil a retirar o seu nome do cadastro de inadimplentes. Evidente que essa decisão antecipada qualifica-se provisória, devendo ser ratificada pela futura sentença de mérito para que possa restar protegida pela coisa julgada material. Todavia, João já está recebendo, antecipadamente, o que efetivamente requereu ao juiz: a retirada do seu nome do cadastro de inadimplentes.
Exemplo 2: Leco promove ação de execução contra Mário. Ao ser citado, Mário começa a transferir todo o seu patrimônio para o nome de terceiros, com a finalidade de ficar sem bens e, assim, não pagar o que deve a Leco. Ao descobrir a manobra ardilosa de Mário, Leco postula medida cautelar de arresto, visando bloquear bens de Mário em montante correspondente ao valor da dívida executada. Essa medida – que não antecipa ao autor o valor da dívida executada – possui a finalidade de resguardar a efetividade da tutela jurídica principal que foi postulada ao juiz.
Em suma: enquanto a tutela antecipada de urgência afasta o perigo, concedendo, em todo ou em parte, aquilo que foi postulado pelo autor, a medida cautelar adota providência que não satisfaz a pretensão em si, mas que assegura a efetividade da tutela jurídica pretendida pelo promovente.
Para fins de compreensão da essência do conceito de tutela antecipada, transcreve-se oportuna lição de Marcus Vinícius Rios Gonçalves:
“A antecipação da tutela consiste na possibilidade de o juiz antecipar os efeitos da sentença, para uma fase do processo anterior àquela em que normalmente tais efeitos seriam produzidos.
(...)
Como a tutela antecipada é dada em cognição sumária, as suas consequências são sempre provisórias. Somente com a sentença de procedência, ou do acórdão, havendo recurso, os efeitos tornar-se-ão definitivos.
Em síntese: com a antecipação, o autor poderá obter uma consequência jurídica do processo, que só obteria normalmente muito mais tarde.
(...).
O que há demais característico é que o juiz, antecipadamente, satisfaz, no todo ou em parte, a pretensão formulada pelo autor, concedendo-lhe os efeitos ou consequências jurídicas que ele visou obter, com o ajuizamento da ação. Se postulou a condenação, o juiz, antecipando a tutela, permitirá ao credor obter aquilo que da condenação lhe resultaria. Por isso, o juiz não pode concedê-la com efeitos que ultrapassem a extensão do provimento final, ou que tenham natureza diferente da deste. Por exemplo: não pode o juiz em ação declaratória conceder tutela antecipada condenatória.
Se a tutela antecipada fosse total, e tivesse caráter definitivo, e não provisório, o autor ficaria plenamente satisfeito. A sua pretensão teria sido atingida. Isso não ocorre, porque ela é sempre provisória, e precisa ser substituída por um provimento definitivo.” (grifo nosso)
(Direito Processual Civil Esquematizado, 3ª edição, Editora Saraiva, 2013, págs. 690/691)
Tanto a tutela antecipada quanto a tutela cautelar são recorríveis, via de regra, através de agravo de instrumento, pois, normalmente, são deferidas mediante decisões interlocutórias. Entretanto, estas tutelas de urgência também podem ser deferidas no bojo de sentenças. Com efeito, pode ser que determinada medida cautelar apenas seja deferida ao final do processo cautelar, quando o juiz vier a proferir sentença de mérito naqueles autos. Nesse caso, o recurso cabível será a apelação cível.
Exemplo: Leco requereu o pedido de arresto contra Mário. O juiz, todavia, não concedeu referida medida através de decisão interlocutória, pois, num primeiro momento, não estava convencido acerca do direito de Leco. Entretanto, ao julgar a demanda cautelar, o juiz obteve a convicção da necessidade de conceder a citada medida assecuratória, razão por que a deferiu na sentença que prolatou nos autos do processo cautelar. O recurso cabível será apelação cível. 
Por outro lado, pode ser que o juiz conceda tutela antecipada de urgência apenas na sentença que julgar o processo de conhecimento, isto com a finalidade de impedir o efeito suspensivo da apelação, conforme previsão do art. 520, inciso VII, do CPC. Esta decisão possibilitará que o apelo seja recebido apenas no efeito devolutivo, fazendo com que a sentença produza efeitos imediatos.
Exemplo: Maria precisa realizar uma cirurgia às custas do Estado da Paraíba. O juiz, contudo, somente reconhece o direito de Maria por ocasião da prolação da sentença de mérito. Nesse caso, o juiz – ao julgar o pedido procedente – poderá deferir tutela antecipada de urgência em prol da requerente na própria sentença, conforme pedido por seu advogado. Embora a medida não tenha sido deferida antes da sentença, eventual apelação do Estado da Paraíba não possuirá efeito suspensivo, mas apenas devolutivo, o que possibilitará que Maria possa ser operada imediatamente, sem que haja a necessidade de esperar o julgamento do recurso do Estado, no caso, de eventual apelação cível. 
 
2. As Tutelas Antecipadas� podem ser de Urgência ou de Evidência:
A tutela antecipada será de urgência sempre que concedida em face do critério de perigo de dano irreversível ou de difícil reparação. Ou seja, a tutela jurídica principal encontra-se sob o risco decorrente da demora do processo, fato este que autoriza a concessão de uma tutela antecipada. A tutela antecipada de urgência está prevista no art. 273, § 1º, do CPC.
Por outro lado, a tutela antecipada será de evidência quando, para a sua concessão, não for necessário a presença do requisito do perigo de dano. Nessa senda, a tutela será concedida em face de outros requisitos especiais: existência de pedido incontroverso, abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu. As tutelas antecipadas de evidência estão previstas no art. 273, inciso II e § 6º, do CPC.
2.1. Requisitos genéricos paraa concessão de qualquer tutela antecipada, seja de urgência, seja de evidência:
a) Requerimento do autor 
De acordo com o entendimento deste autor, este requisito revela-se indispensável apenas quando se tratar de pedido de tutela antecipada de evidência, pois, conforme restará demonstrado, revela-se possível, em situações excepcionais, a concessão de tutela de urgência “ex officio” pelo juiz.
b) Prova inequívoca
A expressão “prova inequívoca” foi erroneamente utilizada pelo legislador. Com efeito, não é necessário a existência de prova inequívoca para o deferimento da tutela antecipada, sendo importante a existência de uma prova plausível, hábil a convencer o juiz, de forma provisória, acerca da verossimilhança do direito alegado pelo promovente.
Exemplo: João visa retirar o seu nome do cadastro de inadimplentes, ao argumento de que não se revela devedor. Ao propor a ação judicial, apresenta o comprovante de pagamento da dívida. Essa prova é plausível para fins de concessão do pedido de antecipação de tutela, caso presentes os demais requisitos, porém não se revela uma prova inequívoca naquele momento processual. Para esta conclusão, basta imaginar a possibilidade de que – após a concessão da tutela antecipada – o comprovante de pagamento venha a ser declarado falso pelo juiz, o qual, por esse motivo, julga a demanda improcedente. Observa-se, assim, que – quando do deferimento da tutela antecipada – a prova apresentada pelo autor era apenas plausível e não inequívoca, o que efetivamente foi verificado por ocasião do julgamento do mérito da demanda.
c) Verossimilhança da alegação (do direito afirmado em juízo)
Este critério assemelha-se ao critério do fumus boni iuris das medidas cautelares. Com efeito, o importante é que o juiz se convença de que as alegações apresentadas pelo autor, que postula uma tutela antecipada, são plausíveis, verossímeis, prováveis, não se exigindo, nesse momento, um juízo de certeza acerca do direito do promovente.
Observação: Os critérios acima são exigidos para todas as tutelas antecipadas, sejam elas de urgência ou de evidência. Por sua vez, os critérios declinados abaixo variam, a depender se se trata de uma tutela antecipada de urgência ou de uma tutela antecipada de evidência.
2.2. Requisitos específicos para a concessão das tutelas antecipada de urgência e de evidência:
a) “Perigo de dano irreparável ou de difícil reparação”. Art. 273, inciso I, do Código de Processo Civil (p/ Tutela Antecipada de Urgência)
Trata-se de requisito que se assemelha ao critério do periculum in mora das medidas cautelares.
b) “Abuso de direito de defesa do réu ou manifesto propósito protelatório do réu”. Art. 273, inciso II, do Código de Processo Civil (p/ Tutela Antecipada de Evidência)
Acerca desse critério, leciona Marcus Vinícius Rios Gonçalves: 
“O juiz a concede quando, no curso do processo, a conduta do réu é tal que permite inferir que está protelando o julgamento, ou buscando auferir vantagens indevidas, pelo decurso de tempo. Nesse caso, a tutela tem menos caráter preventivo, como na situação anterior e mais repressivo: visa sancionar a atitude abusiva, de má-fé, de abuso por parte do réu (...). Afinal, concedida a medida, passará a ser do interesse do réu que o processo tenha rápida solução.” (grifo nosso)
(Direito Processual Civil Esquematizado, 3ª edição, Editora Saraiva, 2013, pág. 694)
c) Pedido incontroverso. Art. 273, § 6º, do Código de Processo Civil (p/ Tutela Antecipada de Evidência)
Exige-se que o pedido não tenha sido impugnado pelo réu, ou seja, não seja controvertido, presumindo-se verdadeiro.
2.3. Quadro esquematizado acerca dos critérios para a concessão de Tutelas Antecipadas:
a) Tutela Antecipada de Urgência (art. 273, inciso I, do CPC): Prova + Verossimilhança do Alegado + Perigo de Dano.
b) Tutela Antecipada de Evidência (art. 273, inciso II, do CPC): Prova + Verossimilhança do Alegado + Abuso de direito de defesa do réu ou manifesto propósito protelatório do réu.
c) Tutela Antecipada de Evidência (art. 273, § 6º, do CPC): Prova + Verossimilhança do Alegado + Pedido Incontroverso
2.4. E quanto ao requisito da reversibilidade previsto no art. 273, § 2º, do CPC, a impor que a tutela antecipada não será deferida quando “houver perigo de irreversibilidade”?
Revela-se necessário distinguir as situações: 
a) Tutela Antecipada de Urgência (art. 273, inciso I, do CPC): O requisito PODE ser imposto nos casos de tutela antecipada de urgência. Com efeito, a regra, nesse caso é de que a antecipação de tutela não deve ser irreversível. Entretanto, admite-se a utilização do Princípio da Proporcionalidade para afastar esta exigência, quando desproporcional. Nessa hipótese, o juiz deverá analisar os valores (bens) jurídicos que estão em jogo, devendo proteger os mais importantes.
Exemplo 1: Maria propõe ação judicial contra o Estado da Paraíba, ocasião em que postula a realização de uma cirurgia cerebral de emergência a título de tutela antecipada. Caso não seja operada nas próximas 24 horas, poderá falecer. Nesse caso, mesmo se tratando de medida irreversível, o juiz poderá concedê-la em face da importância do valor jurídico em questão: a vida humana. 
Exemplo 2: Alberto propõe ação judicial contra o Estado da Paraíba, ocasião em que postula a realização de cirurgia a título de tutela antecipada. Deseja obter uma cirurgia capaz de corrigir a baixa capacidade auditiva do seu ouvido esquerdo. Nesse caso, ainda que aparente possuir direito àquela cirurgia, a tutela antecipada poderá ser indeferida, pois se trata de medida irreversível e Alberto não está correndo qualquer risco mais grave, podendo esperar o ato cirúrgico até que seja proferida sentença a seu favor.
b) Tutela Antecipada de Evidência (art. 273, inciso II, do CPC): o requisito DEVE ser exigido nos casos de tutela antecipada decorrente de abuso do direito de defesa ou manifesto intuito protelatório do réu, pois: (i) não há qualquer urgência capaz de ofender o autor de forma definitiva; (ii) a medida antecipatória revela-se irreversível, podendo prejudicar o réu definitivamente.
c) Tutela Antecipada de Evidência (art. 273, § 6º, do CPC): O requisito NÃO DEVE ser exigido em casos de tutela antecipada decorrente de pedido incontroverso, afinal, nessa hipótese, o réu já “admite” o pedido deduzido em seu desfavor, anuindo que a tutela seja concedida de forma irreversível;
3. Princípio da Fungibilidade de Mão-Dupla:
Considerando que os requisitos para a concessão da ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA são semelhantes aos critérios para a concessão da MEDIDA CAUTELAR, afinal a verossimilhança do direito alegado equivale ao fumus boni iuris, ao tempo em que o perigo de dano (irreparável ou de difícil reparação) equivale ao critério do periculum in mora, o legislador editou o art. 273, § 7º, do CPC:
“Art. 273. (omissis)
(...).
§ 7º. Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.”
De acordo com esta norma processual, o magistrado poderá conceder tutela cautelar quando lhe for requerida antecipação de tutela de urgência, e vice-versa, nos autos do processo de conhecimento, caso entenda mais adequado para a defesa do direito do promovente (defesa da tutela jurídica principal). Assim sendo, pouco importa se a medida a ser concedida possuirá natureza antecipatória (tutela antecipada de urgência) ou assecuratória (medida cautelar). Em verdade, o que importa é que a medida a ser concedida pelo magistrado revela-se uma tutela de urgência.
Acerca da abrangência do art. 273, § 7º, do CPC, apresenta-se escólio de Marcus Vinícius Rios Gonçalves:
“A redação [da norma legal] provocou grande celeuma. Interpretação literal levaria à conclusão de que, se pedida a tutela antecipada, poderia ser concedida a cautelar, mas não o contrário (...).No entanto, esse entendimento não se sustenta. O legislador, no art. 273, § 7º, do CPC disse menos do que pretendeu dizer. Não existe a aludida relação de mais e menos entre a tutela antecipada de urgência e a tutela cautelar. Ambas são mecanismos que têm a mesma finalidade: afastar uma situação de perigo de prejuízo irreparável ou de difícil reparação, quando as alegações do autor foram plausíveis. Apesar das diferenças que se podem apontar entre elas, é preciso considerar que têm muito em comum, pois são proferida em cognição sumária, com base em verossimilhança e com o fito de afastar o perigo. (...). O que se quer é que o perigo, a urgência, seja afastado da melhor forma possível. 
A lei pretendeu dar ao juiz certa margem de liberdade, para apreciar qual a tutela de urgência mais conveniente, mais adequada para assegurar à parte, a preservação de seus direitos diante da demora, não importado qual a medida postulada pelo autor, nem qual o nome que ele lhe deu.”
(...). 
As tutelas de urgência não são um fim em si mesmas. Elas visam afastar a situação de perigo, o risco de prejuízo. Se o autor formula um pedido de tutela de urgência, o juiz poderá conceder outro, em decisão fundamentada, se verificar que este se afigura mais adequado para alcançar o fim perseguido. E sua decisão não poderá ser considerada extra ou ultra petita, por não corresponder ao que foi pedido, exatamente por força da fungibilidade.” (grifo nosso).
(Direito Processual Civil Esquematizado, 3ª edição, Editora Saraiva, 2013, págs. 702/703)
Observação: A fungibilidade de mão-dupla apenas existe entre as tutelas antecipadas de urgência e medida cautelares. Com efeito, as tutelas antecipadas de evidência possuem requisitos próprios que as diferenciam, completamente, das medidas cautelares, não havendo falar, portanto, em fungibilidade nesse caso.
4. Que outra consequência, no ordenamento jurídico pátrio, decorre da fungibilidade de mão-dupla entre as Tutelas Antecipadas de Emergência e as Tutelas Cautelares?
Com o advento do artigo 273, §7º, do CPC, parte da doutrina passou a defender a desnecessidade de instauração do processo cautelar incidental, ao fundamento de que, quando houver um processo principal, dentro do qual poderá ser requerida e obtida medida cautelar / tutela antecipada de emergência, o processo cautelar será desnecessário.
Destarte, para essa corrente doutrinária, o processo cautelar incidental eventualmente proposto deverá ser extinto, sem resolução de mérito, por carência do direito de ação, haja vista a ausência de interesse processual na instauração daquela demanda (inexistência de necessidade). Corroborando o exposto, afirmam Daniel Amorim Neves e Rodrigo da Cunha Lima:
“Existe corrente doutrinária que entende não existir mais processo cautelar incidental, bastando ao interessado o ingresso de uma mera petição no processo principal. O entendimento fundamenta-se em interpretação do art. 273, 7º, do CPC, que ao prever a possibilidade de concessão de medida cautelar incidental em aplicação ao princípio da fungibilidade, permite à parte o pedido incidental de medida cautelar.” (grifo nosso)
(Código de Processo Civil para Concursos, Editora Jus Podium, 2010, pág. 890)
A conclusão acima ganha relevo, quando se percebe ser possível deferir medidas acautelatórias, inclusive, dentro do processo de execução, consoante previsto pelo art. 615, inciso III, do Código de Processo Civil.
De qualquer forma, a jurisprudência ainda noticia a existência válida e regular dos processos cautelares incidentais, principalmente quando se verifica a necessidade de que as provas da fumaça do bom direito / verossimilhança do alegado sejam colhidas o mais rápido possível. Nessas hipóteses, revela-se importante instaurar um processo cautelar incidental (acessório ao processo principal), onde a audiência possa ser realizada rapidamente, sem a necessidade de se esperar o momento adequado para a realização de uma audiência dentro do processo principal.
Exemplo: Pedro propôs ação de modificação de guarda contra a sua ex-mulher, ao tomar conhecimento de maus tratos praticados contra a sua filha de 05 (cinco) anos. Caso Pedro já instrua este processo com fotos e documentos que demonstrem os maus tratos praticados pela mãe, poderá requerer medida cautelar liminar de busca e apreensão dentro daquele mesmo processo, pois já conseguirá demonstrar a existência dos requisitos da fumaça do bom direito e do perigo na demora a seu favor. Entretanto, caso Pedro não possua provas documentais, mas apenas testemunhais, a exemplo dos depoimentos da babá e de uma vizinha, que assistiram aos maus tratos praticados contra a menor, este deverá propor uma processo cautelar incidental de busca e apreensão, local onde poderá obter a rápida realização da audiência necessária à demonstração das agressões praticadas contra a menor, podendo, desse modo, obter a medida cautelar o mais rapidamente possível. Caso contrário, Pedro terá que esperar o momento processual adequado para a realização da audiência nos autos do processo principal para, somente então, poder demonstrar os requisitos indispensáveis à obtenção da medida cautelar almejada.
Acerca da audiência de justificação – própria do rito cautelar – dissertaremos em capítulo específico, oportunidade em que restará ressaltada a importância ainda existente dos processos cautelares incidentais.
5. Medidas Cautelares e Tutelas Antecipadas de Urgência podem ser deferidas ex officio?
Quando apresentamos as medidas cautelares, explicamos que estas somente podem ser deferidas de ofício, ou seja, sem que haja pedido da parte autora, em casos excepcionais, conforme determinado, aliás, pelo art. 797 do CPC: Só em casos excepcionais, expressamente autorizados por lei, determinará o juiz medidas cautelares sem a audiência das partes.
Contudo, entendo que a tutela antecipada de urgência – por se qualificar medida fungível à medida cautelar – também pode ser concedida de ofício, afinal ambas são tutelas de emergência, fungíveis entre si. Nessa senda, há juristas que defendem a possibilidade de que ambas as medidas sejam deferidas de ofício, mas isto excepcionalmente.
Corroborando esta posição, cita-se julgado da 2ª Turma do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL. (...). TUTELA ANTECIPADA DE OFÍCIO CONCEDIDA NO ACÓRDÃO. ADMISSIBILIDADE EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS.
(...). 
2. As tutelas de urgência são identificadas como reação ao sistema clássico pelo qual primeiro se julga e depois se implementa o comando, diante da demora do processo e da implementação de todos os atos processuais inerentes ao cumprimento da garantia do devido processo legal. Elas regulam situação que demanda exegese que estabeleça um equilíbrio de garantias e princípios (v.g., contraditório, devido processo legal, duplo grau de jurisdição, direito à vida, resolução do processo em prazo razoável).
(...)
5. A doutrina admite, em hipóteses extremas, a concessão da tutela antecipada de ofício, nas "situações excepcionais em que o juiz verifique a necessidade de antecipação, diante do risco iminente de perecimento do direito cuja tutela é pleiteada e do qual existam provas suficientes de verossimilhança" (José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência, 4ª ed., São Paulo, Malheiros, 2006, pp. 384-385).
(...).” (grifo nosso).
(REsp 1309137/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 22/05/2012)
Todavia, revela-se importante frisar que o mesmo Superior Tribunal de Justiça possui decisão em sentido oposto, ao afirmar que as tutelas antecipadas sempre dependem de pedido expresso da parte, consoante julgamento da 3ª Turma daquela Corte: 
“PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA ANTECIPADA. NECESSIDADE DE REQUERIMENTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSENTE.
1. Ambas as espécies de tutela - cautelar e antecipada - estão inseridas no gênero das tutelas de urgência, ou seja, no gênero dos provimentosdestinados a tutelar situações em que há risco de comprometimento da efetividade da tutela jurisdicional a ser outorgada ao final do processo.
(...)
4. A possibilidade de o juiz poder determinar, de ofício, (...) astreintes (art. 84, §4º, do CDC), não se confunde com a concessão da própria tutela, que depende de pedido da parte, como qualquer outra tutela, de acordo com o princípio da demanda, previsto nos art. 2º e 128 e 262 do CPC.
5. Além de não ter requerido a concessão de liminar, o MP ainda deixou expressamente consignado a sua pretensão no sentido de que a obrigação de fazer somente fosse efetivada após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
6. Impossibilidade de concessão de ofício da antecipação de tutela.
7. Recebimento da apelação no efeito suspensivo também em relação à condenação à obrigação de fazer.
8. Recurso especial parcialmente provido.”
(REsp 1178500/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 18/12/2012)
Entendo que a Ministra Nancy Andrighi não aplicou o melhor direito em sua decisão, pois se vinculou a um formalismo injustificável, máxime quando se percebe que o sistema de tutelas de urgências elaborado pelo legislador impôs a fungibilidade entre as medidas cautelares e as tutelas antecipadas de urgência. 
Caso se entenda que as tutelas antecipadas de urgência podem ser deferidas de ofício em hipóteses excepcionais – posição compartilhada por este autor - impõe-se reiterar quais são os requisitos que ensejam o reconhecimento de uma “situação excepcional”, consoante a melhor doutrina:
a) verossimilhança do direito ou fumus boni iuris;
b) perigo de dano (irreparável ou de difícil reparação) ou periculum in mora;
c) extrema urgência da medida (na qual não há tempo para ouvir as partes) 
d) urgência verificável prima facie (sem necessidade de dilação probatória), sob pena de risco da efetividade da tutela do direito;
e) a situação de extrema urgência não pode ser conhecida pela parte interessada (se for de seu conhecimento, o autor dever requerer a tutela de urgência, sob pena de que esta não possa ser deferida).
6. Apontamentos sobre a correta compreensão acerca da acepção “LIMINAR”
A LIMINAR é a FORMA como o pedido de antecipação de tutela ou a medida cautelar estão sendo requeridas ao magistrado. Assim sendo, existe pedido de antecipação de tutela liminar e pedido cautelar liminar, sempre que estes forem pretendidos no início da relação processual, ou seja, a parte deseja o seu deferimento o mais rapidamente possível, no limiar do processo, visando obtê-los antes da prolação da sentença de mérito.
Pelo exposto, revela-se equivocado afirmar existir pedido de liminar. Em verdade, o pedido é de tutela antecipada ou de medida cautelar, a serem deferidas de forma liminar.
E quanto à expressão LIMINAR “INAUDITA ALTERA PARTE”? Segue o mesmo raciocínio do exposto acima. Todavia, a parte requer ainda mais rapidez no deferimento da tutela antecipada ou da medida cautelar, pois deseja que estas sejam deferidas antes mesmo da prévia manifestação da parte adversa. Nesses casos, em que as medidas estão sendo deferidas sem prévio contraditório, a parte deverá justificar a existência da “urgência urgentíssima”, sob pena do juiz se reservar a analisar o pleito liminar somente após a oferta de defesa pelo réu.
Bons estudos!
Prof. Thyago Barreto Braga
Canais de Contato:
Facebook: Thyago Braga
E-mail: thyagobraga@hotmail.com
� Também existem disposições acerca da antecipação de tutela nos art. 461, §3, e no art. 461-A, §3º, do CPC, aplicáveis nos casos de tutelas de obrigação de fazer, não-fazer e de entrega de coisa certa.
� Não há esquecer que as tutelas cautelares ainda são previstas no Livro II do CPC, concernente ao Processo de Execução, precisamente no art. 615, inciso III, que reza: “Cumpre ainda ao credor (...) pleitear medidas acautelatórias urgentes”. Esta previsão legal autoriza a adoção de medidas cautelares urgentes dentro do processo de execução.
� Breve histórico acerca das Tutelas Antecipadas:
a) Antes da introdução do art. 273 do CPC no CPC (pela Lei nº 8.952/1994), a antecipação de tutela já existia, porém era prevista apenas para algumas ações de rito especial, como ações de alimentos e ações possessórias, desde que preenchidos os requisitos específicos exigidos por cada espécie de demanda;
b) Após a introdução do art. 273 do CPC, no ano de 1994, generalizou-se a possibilidade de antecipação de tutela em todos os processos de conhecimento, seja de procedimento comum ou especial, resguardando-se, com maior amplitude, a garantia constitucional do devido processo legal (que impõe que o processo seja célere, justo, efetivo e adequado);
c) Com a introdução do § 7º ao art. 273 do CPC, no ano de 2002, possibilitou-se ao juiz deferir medida antecipatória, quando lhe for postulada uma medida acautelatória, e vice-versa, desde que isto se afigure mais adequado para a proteção da tutela jurídica principal. Introduziu-se, assim, no ordenamento jurídico pátrio, o princípio da fungibilidade de mão-dupla entre as tutelas antecipadas de urgência e as medidas cautelares.