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Hebe Signorini Gonçalves Eduardo ponte Brandão ica n o B ra s En si no da Ps ic o lo gi a A Psicologia Jurídica surgiu de um chamamento ao ingresso do Psicólogo em áreas originariamente destinadas às práticas jurídicas. Essa demanda coloca exigências específicas, ditadas pelo Direito, mas é mister admitir que 0 ingresso da Psicologia no mundo jurídico precisa encontrar seu motor próprio, já que sua impulsão advém de um compromisso com o sujeito que é, por excelência, de outrá ordem. Não há conflitos insuperáveis aqui, mas há sem dúvida interseções de peso que merecem exame. ISBN 85-8S936-S5-X 788585 6556 MAU E D I T O R A A inferlocução com o Direito a luz das práticas psicológicas em Varas de Família Eduardo Ponte Brandão A prática do psicólogo em Varas de Família exige o co nhecim ento básico dos códigos jurídicos que regulam as famí lias no Brasil. As razões de tam anha obrigação não são poucas. Em prim eiro lugar, há necessidade de um código com partilhado entre o psicólogo e os demais m em bros da equipe interprofissional, incluídos os operadores de Direito. É de conhecim ento com um que os arranjos amorosos e familiares com que esses operadores se surpreendem hoje em dia levam a um a interlocução do Direito com outros saberes. Sem o respaldo da equipe interprofissional, a ação do Ju iz é insuficiente para regular as relações entre os sexos e de paren tesco. Em contrapartida, sem a com preensão exata do contex to onde se inscreve sua prática, o psicólogo não faz mais do que se esfalfar com os remos do barco na areia. D e nada adi an ta se restringir à especificidade de seu campo, se o psicólogo desconhece, por exemplo, os critérios jurídicos que norteiam a decisão de um a guarda ou os deveres e direitos parentais. As referências usadas pelo psicólogo devem com unicar-se com as do Ju iz , sejam as opiniões convergentes ou não, caso contrário, ele não poderá contribuir para o desenlace das dificuldades e dos conflitos com os quais o Judiciário se em baraça. 51 Em segundo lugar, no atendim ento à população o psicó logo se depara com argumentos cujos valores já foram revistos e substituídos em lei. Assim, não é raro escutar pais que que rem a guarda dos filhos porque o ex-cônjuge não cum priu os deveres m atrim oniais. O u que caberia à m ulher os cuidados infantis e ao hom em tão somente visitar e sustentar os filhos. C onhecer o que diz a lei torna-se imperativo, mesmo que seja p ara inform ar que tais concepções não encontram respaldo sequer em nossa legislação. Por sua vez, o conhecim ento da legislação não deve ser abstraído das condições de possibilidade de seu surgimento. Interessa ao psicólogo, sobretudo, lançar luz sobre com o a doutrina juríd ica se inscreve historicam ente e se articula aos dispositivos m odernos de poder. Com o será observado ao longo do texto, as leis e as es truturas encarregadas de aplicá-las não só norm atizam e repri m em , mas põem cm funcionam ento diversas práticas de poder cujo objetivo é m enos ju lgar e punir do que curar, corrigir e educar cada sujeito a administrar a própria vida (Foucault, 1997). Lançando m ão dessa perspectiva, o psicólogo adquire certo dom ínio sobre o lugar que lhe é reservado nas institui ções judiciárias. Não lhe to rna indiferente interrogar se, a cada vez que fala ou escreve a respeito de certa situação familiar, ele está atendendo a mecanismos sutis de poder que, com o apoio das leis jurídicas, são m ascarados pela pretensa isenção política de sua ciência. Do Código Civil de 1916 ao Estatuto da mulher Casada; a demarcação dos papéis familiares e a questão da guarda No Brasil do Im pério, a legislação sobre a família era regulada pelo Código Civil Português, que, por sua vez, era inspirado no Código das Ordenações Filipinas (1603). 52 A transposição do Direito português para a Colônia ti nha o inconveniente de não corresponder à realidade social brasileira, na m edida em que se aplicava apenas ao casam ento dos que eram católicos. T anto as O rdenações Filipinas como praticam ente toda a legislação civil portuguesa perm aneceu em vigor até 1916, ou seja, quase cem anos após a independência. D urante esse tempo, protestantes e judeus, por exemplo, não poderiam te r seus casam entos reconhecidos pelo Estado, tam pouco as uniões extramatrimoniais. A proclamação da República define um m om ento crucial de desvinculação da Igreja com o Estado. O decreto 181 de 1890 é a principal manifestação legislativa concernente ao Di reito de Família nas prim eiras décadas da República, até a publicação do Código Civil. De autoria de R uy Barbosa, tal decreto abole a jurisdição eclesiástica, julgando-se como único casam ento válido o realizado perante as autoridades civis. C om o Código Civil Brasileiro de 1916, consolida-se a definição de família como sendo a união legalmente constituí da pela via do casamento civil. O ra, a conform idade ao modelo jurídico de família é o que torna as relações entre os sexos legítimas ou não. Desse m odo, convém observar nessa definição de família a defesa do casam ento e o repúdio do legislador ao concubinato.1 No Código de 1916, o modelo jurídico de família está fundam entado num a concepção de origem romano-cristã. A família é vista como núcleo fundam ental da socieda de, legalizada através da ação do Estado, com posta por pai, m ãe e filhos (família nuclear) e, secundariam ente, por outros 1 Como veremos adiante, o concubinato vai adquirir proteção estatal, ou seja, vai ser reconhecido definitivamente como entidade familiar, na condi ção de união estável entre homem e mulher, somente na Constituição Fede ral de 1988, nã)5 sem antes ser protegido por jurisprudência c outras leis a partir da década de 60. 53 m em bros ligados por laços consangüíneos ou de dependência (família extensa). Ao mesmo tempo, ela organiza-se num m o delo hierárquico que tem o hom em como o seu chefe (família patriarcal). O hom em é o chefe da sociedade conjugal e da adm inis tração dos bens comuns do casal e particulares da m ulher, bem como detentor da autoridade sobre os filhos e representante legal da família. Por sua vez, a m ulher casada é considerada relativamente incapaz, em oposição à situação jurídica da mulher solteira m aior de idade. Essa incapacidade retira da m ulher o poder de deci dir sobre a prole e o patrim ônio, cuja com petência pertence ao hom em . A m ulher casada precisa de autorização do seu m ari do para exercer profissão, para com erciar, além de estar fixada ao domicílio decidido por ele. Os compromissos que assumir sem autorização m arital não tem eficácia jurídica. Somente na falta ou im pedim ento do pai que caberia à m ãe a função de exercer o pátrio poder (artigo 380), ao qual os filhos estariam submetidos até a m aioridade (artigo 379).. Segundo Barros (2001), o fato de o hom em ter o poder dividido, no caso de sua falta ou seu impedimento, com a es posa c lim itado à m enoridade do filho torna-se expressão de um golpe no pátrio poder, em bora discreto em face da autori dade que ele ainda detinha na família. () Por sua vez, cabe frisar que o pátrio poder, oriundo do Direito R om ano, alude a um a figura de autoridade que não representava o tipo dom inante em território nacional (Almeida, 1987). Seguindo esse raciocínio, a idéia de declínio da autori dade paterna não parece a mais adequada para a com preen são dos regimes de aliança e sexo surgidos historicamente no Brasil, quiçá no O cidente m oderno (Foucault, 1997), pois está lim itada à tradição romano-cristã. No que tange à separação do casal, o Código de 1916 prevê apenas a separação de corpos por justa causa, conhecido54 por desquite, preservando assim a indissolubilidade do m atri mônio. Em outras palavras, a separação não desfaz o vínculo m atrim onial.2 C om o desquite, delega-se ao inocente no processo de separação o direito de ter os filhos consigo. Ao cônjuge culpa do, é-lhe assegurado o direito de visita, salvo im pedim ento. Conform e podem os observar, h á um a restrição da guarda à m onoparentalidade, decidida a partir do critério de falta con jugal. Caso ambos sejam considerados culpados, a m ãe fica com as filhas m enores e com os filhos até os seis anos. Depois dessa idade, os filhos vão p ara a com panhia do pai. A lei prevê regu lar, em caso de motivos graves, de outra m aneira a situação dos pais com os filhos. Observa-se que o detentor da guarda exerce o pátrio poder em toda sua extensão (Gomes, 1981). 0 pátrio ppder implica, segundo o artigo 384 do Código Civil de 1916, quanto à pessoa dos filhos menores: 1 - dirigir-lhes a criação e educação; II - tê-los em sua companhia e guarda; III - conceder-lhes, ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêndco, se o outro dos pais lhe não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercitar o pátrio poder; V - representá-los, até aos 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pelo Decreto Legislativo n° 3.725, de 15.1.1919) VI - réclamá-Ios de quem ilegalmente os detenha; VII -exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e con dição. 2 Aos opositores desse sistema, Clóvis Beviláqua, redator do anteprojeto do Código Civil, respondia: “O argum ento que se levanta contra o desquite é que o celibato forçado produz uniões ilícitas. Mas essas uniões ilícitas não são conseqüência do desquite e sim da educação falsa dos homens. N ão é com o divórcio que as combateremos, e sim com a moral; não é o divórcio que as evita, e sim a dignidade de cada um. E é curioso que se lembrem de evitar as uniões ilícitas com o divórcio quando este é, principalmente, o resultado das uniões ilícitas dos adúlteros. Não é o celibato forçado um es tado contrário à natureza, porque, nas famílias honestas, nele se conservam, indefinidamente, as mulheres. É, contrário, apenas, à incontinência.” (Gama, 2003) 55 N a definição dos direitos e deveres do m arido e da m u lher, pode-se confirm ar a valoração diferenciada dos papéis sociais. Ao m arido, de acordo com a lei, cabe suprir a m anu tenção da família, enquanto à m ulher cabe velar pela direção m oral desta. H á um a tipificação das diferenças que justifica o código m oral assimétrico e com plem entar como regra de con vivência entre os sexos. Os perfis sociais atribuídos ao hom em , à m ulher e aos filhos já haviam sido desenhados pela política higienista que, desde 1830, se inscreveu como micropolítica no tecido social brasileiro. Com objetivo de salvar as famílias do “caos” higiê nico em que elas se encontravam , o saber médico aliou-se às políticas do Estado e fez surgir o modelo familiar pequeno- burguês, expulsando do lar doméstico os antigos hábitos colo niais (Costa, 1999). Assim, as tipificações das diferenças entre os sexos, vinculadas pela m edicina à natureza biológica, não deixaram de ser absorvidas paulatinam ente pela legislação. Se o Código Civil de 1-916 já norm atizava em capítulo especial as relações familiares, é, por sua vez, na década de 30, no m om ento de criação de um projeto político nacionalista e autoritário, que se desenhà um a proposta clara sobre a função social da família. T rata-se de um projeto familiar articulado ao nível legal, abrangendo outros aspectos da legislação além das norm as de direito civil. T al projeto caracteriza-se por um a for m a de p en sa r a fam ília com o elem ento de um a política demográfica, tendo como objetivo último a construção da uni dade política nacionalista: j N esse p e río d o fo ram p ro m u lg ad as: a legislação sob re o trab a lh o fem in ino (origem d a C L T ); sobre casam en to en tre co la tera is do 3o: g rau ; sobre os efeitos civis do casam en to religioso; sobre os incen tivos financeiros ao casam en to e à p ro c riação ; sobre o reco n h ec im en to de filhos na tu ra is e legislação p en a l, em especial no tocan te aos crim es co n tra a fam ília (C ódigo p en a l de 1940) (Alves e B arsted , 1987: 169). i \ 56 Pode-se vislumbrar nessas regulamentações a preocupa ção do legislador em reforçar os padrões de m oralidade já p re vistos implícito e explicitamente no Código Civil, tais como: a valorização do casamento legal e m onogâmico, o incentivo ao trabalho masculino e à dedicação da m ulher ao lar, o tem or higienista dos cruzam entos consangüíneos e do uso da sexuali dade feminina e, em suma, a defesa da harm onia e dos costu mes na família (Alves e Barsted, 1987). No período seguinte, de 1946 a 1964, caracterizado po liticamente como democrático, dcstacam-se a lei de reconheci m ento de filhos ilegítimos (lei 883/49) e o “Estatuto da m ulher casada” de 1962, que outorga capacidade ju ríd ica p lena à mulher. Com a vigência desse “Estatuto”, a decisão sobre a prole e o patrim ônio deixa de ser exclusividade do homem. Ele revo ga a incapacidade da m ulher casada. Para citar por exemplo um dos efeitos jurídicos da lei, se a m ulher viúva, casada em segundas núpcias; perdia o pátrio poder sobre os filhos do leito anterior, conforme redação original do Código Civil, com a vigência do “Estatuto” ela passa a exercer tais direitos sem qualquer interferência do marido. N a hipótese de desquite judicial, em que ambos os côn juges são julgados culpados, os filhos menores ficam com a mãe, diversamente do que ocorria no regime anterior, em que os filhos varões, acim a de seis anos, ficavam com o pai. Alves e Barsted (1987) afirmam que, a despeito de um a certa liberalização em relação ao casam ento e regime de bens, o “Estatuto” não rom pe algumas premissas básicas. O legisla dor m antém a assimetria entre os sexos, pendendo a balança p ara o poder patriarcal. É reafirm ado no “Estatuto” o papel do hom em como sendo o chefe da família e o da m ulher, co laboradora do m arido. Seguindo esse raciocínio, foi criado o instituto dos bens reservados da m ulher, definidos como aque les oriundos 'de sua profissão lucrativa e dos quais pode dispor 57 livremente. O ra, pressupõe-se então que sua economia própria é vista como paralela e dispensável ao sustento do lar, ao passo que, ao hom em , cabe mantê-lo. Se o modelo jurídico de família nuclear, com laços ex tensos, patriarcal, fundada na assimetria sexual e gèracional perm anece inalterado do período autoritário ao democrático, as práticas sociais se afastam cada vez mais do tipo ideal de família da doutrina juríd ica O final dos anos 60 e a década de 70 foram fecundos nesse sentido. Novos arranjos e a difusão das práticas psicológicas O m ovim ento feminista, a in trodução da m ulher no m ercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, a liberação sexual, aliados aos efeitos do cham ado “milagre econômico”, m arcado pela m obilidade social ascendente dos setores médios da população, o desenvolvimento industrial urbano e a abertu ra p ara o consumo, são alguns dos fatores que colocam em xeque o m odelo familiar preconizado pelas legislações, o que irá se refletir nas decisões jurisprudenciais e nas propostas de reform ulação do Código Civil. Em determ inados estratos da sociedade, com eçam a sur gir novos arranjos conjugais e familiares que, sobretudo, são caracterizados pelo individualismo (Figueira, 1987). Se até então a m ulher estava com prometida com a im a gem de m ãe am orosa e responsável, na família individualizada ela descola-se em parte do destino “natural” de m aternidade. “N esta nova fam ília”, escreve Russo, “cabe à dona-de-casa buscar um a certa independência do m arido, ter sua renda p ró pria, seu próprio carro, além de procurar abandonar o ar de m atrona ao qual os filhos e o casam ento a condenavam ” (Rus so, 1987: 195). 58 Por sua vez, o hom em desvincula-se, ao menos ideal m ente, do papel tradicional de “m achista”, cuja relação privi legiada com o trabalho fora de casa e com os próprios interesses sexuais deixa de ser exclusividade de seu gênero. Com a m udança dos arranjos interpessoais, dissolve-se a hierarquia que dividia as esferas pertencentes a cada sexo e geração. As individualidades passam a subordinar as relações entre os m em bros da família, seja entre m arido e m ulher, seja entre pais e filhos. As roupas, os discursos, os com portam entos, os sentimentos, etc. não são mais sinais exclusivos de cada sexo, posição e idade, de m odo que os m arcadores visíveis da dife rença passam a ser única e exclusivamente as expressões do gosto pessoal (Figueira, 1987). Os m em bros da família passam a se perceber como iguais em suas diferenças pessoais. A ênfase no indivíduo faz-se acom p anhar do ideal de igualdade de relacionam ento, apontando para um a nova m oral no cam po das relações interpessoais. A tradição e a rede familiar cedem lugar às individualidades e seus prazeres correlatos, de tal modo que se to rna necessário o exame de si mesmo para que as relações entre hom ens e m u lheres, m aridos e esposas, pais e filhos possam ser negociadas a todo e qualquer m om ento (Figueira, 1987). N ão sendo por coincidência, é nos anos 70 que se inicia um alto consum o da psicanálise (Birman, 1995; Figueira, 1987; K atz, 1979; Russo, 1987). N um m om ento em que os papéis tradicionais da m u lher, do hom em e das gerações são postos em xeque, os sabe res psi surgem como coordenadas para as relações interpessoais, m esmo através de conceitos os mais virulentos, tais como, por exemplo, o de sexualidade. D onde explode o sucesso das práticas terapêuticas, das colunas de aconselham ento psicológico em revistas femininas, do uso quotidiano do vocabulário psicanalítico, em suma, da necessidade crescente de se pedir a “palavra” de psicólogos e 59 psicanalistas sobre questões que dizem respeito à família em geral. Cabe notar que o imenso consumo da psicanálise e da psicologia não im plica pura e simplesmente a subversão de formas instituídas pela tradição, mas tam bém a m ultiplicação de m icropoderes que são mais persuasivos do que impositivos (Foucault, 1997). E evidente que todo esse panoram a de m udança nos anos 70 to rna extrem am ente frágil não apenas os deveres correlatos entre os sexos, mas tam bém o ideal de indissolubilidade do m atrim ônio. Vale acrescentar que nessa época o Brasil estava em ple no regime militar, sob a presidência do General Ernesto Geisel, cuja origem protestante luterana adm ite o divórcio. Ademais, havia um a certa insatisfação entre os militares na m edida em que se obstruía a prom oção dos desquitados, chegando ao gene- ralato e até mesmo à Presidência da República, apenas os ca sados. Desse modo, eles influenciaram - ao lado de um a gam a imensa de desquitados com famílias recompostas - o Poder Exe cutivo com objetivo de legitimar e regular o fim do casamento. Da Lei do Divórico à Constituição: o privilégio da maternidade na atribuição da guarda, a abertura para as novas formas de família e os direitos da criança Em 26 de dezem bro de 1977, é prom ulgada a Lei 6515, conhecida como Lei do Divórcio, que regulam enta a dissolu ção da sociedade conjugal e do casamento. A Lei do Divórcio abole o term o “desquite” já tão cultu ralm ente identificado no país e estabelece a possibilidade de somente um divórcio por cidadão. A restrição a um divórcio teve como intuito aplacar a oposição da Igreja Católica, ciujo receio de que o divórcio ani- 60 quilaria a família brasileira evidentemente jam ais se confirmou.3 Entre os principais aspectos da lei, convém assinalar o artigo 15 que regula a guarda dos filhos na dissolução do casal. Nele, a guarda é conferida a apenas um dos genitores, sendo que, o outro poderá visitar e ter os filhos em sua com panhia, segundo fixar o Juiz, bem com o fiscalizar sua m anutenção e educação. Observa-se que tal perspectiva pode ser equivocada- m ente in terpretada como não cabendo preocupações com o dia-a-dia do filho ao genitor que não detém a guarda, cujo ponto retornarem os adiante. N o caso da separação judicial em que se atribui a um dos cônjuges a responsabilidade pela dissolução do casam ento, a guarda dos filhos m enores fica com o cônjuge a que não houver dado causa (art. 10), ou seja, com o cônjuge “inocente” da separação. M antém -se assim o sistema vigente de definição da guarda, em que o critério de falta conjugal perm anece incó lume. N o tocante aos “ a l im e n t o s ” , a lei estipula a obrigação com um dos cônjuges (não só do pai) p a ra a m anutenção dos filhos, além de não discrim inar o sexo responsável pela pensão, inferindo-se a obrigação conforme a necessidade e a possibilidade. A u m en t o s são prestações p a ra satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si, não sendo referidas apenas à subsistência.;materiál, mas também à formação intelec tual, Cultural, etc. Compreende o que é imprescindível à vida da pésspa a alimentação, o vestuário, a habitação, 0 tratamento médico, as diversões, parçelaá despendidas com sepulta- mento e, se a pessoa alimentada for menor de idade, a sua instrução e educação (A cquaviva, 1993). Segundo Diniz (1993), há uma tendência no Estado-previdência de se impor a este o dever de sôcorrer os’necessitados através: de políticas sociais. Com objetivo de se aliviar desse encargo, o Estado* o transfere, por meio da legislação, aos parentes dos que precisam de meios materiais para sobreviver e reforça o princípio da solidariedade que deve reg e r os laços de família. 3 A lim itação a um divórcio faz surgir novos problem as, tais com o o concubinato dos que vieram a se separar após nova união constituída após o divórcio, e a situação dos que se casavam com pessoas divorciadas e, por tal motivo, estavam igualmente impedidas da obtenção do divórcio. Tais situações serão reconhecidas como união estável e protegidas pelo Estado com a Constituição de 1988. 61 Contudo, a força da definição dos papéis sexuais perm a nece e revela-se, sobretudo, no tocante aos cuidados e educa ção dos filhos. Diz a lei, no artigo 10, Io, que “se pela separação forem responsáveis ambos os cônjuges, os filhos m enores fica rão em poder da mãe, salvo se o Ju iz verificar que tal solução possa advir prejuízo de ordem m oral para eles” . Em outras palavras, o cuidado em relação aos filhos é visto naturalm ente como sendo responsabilidade da mulher, independente de qualquer outra condição, exceto a de ordem m oral. A m ulher portanto só perde a guarda dos filhos caso-se conduzir contra os padrões morais, critério bastante nebuloso, vale dizer, de constatação subjetiva e, ainda mais, deixada à aferição do juiz. Para agravar a situação, o privilégio da maternidade acaba gerando certas dificuldades para o exercício dá paternidade ou, simplesmente, afastando o hom em da esfera de influência so bre os filhos. No Brasil, há até os dias de hoje um a inclinação em nossos tribunais de atribuir a guarda à mãe, cabendo ao pai a visitação quinzenal, o que limita um relacionam ento mais estreito com os filhos. E quando o pai pleiteia visitas menos espaças, o Judiciário costum a alegar que talpedido pode au m entar as desavenças entre os ex-cônjuges (Brito, 1999). C ontudo, observa-se nos últimos anos um a tendência de crescimento das solicitações dos hom ens pela custódia dos fi lhos (Ridenti, 1998). A reivindicação no judiciário dos homens - em situação de igualdade com a m ulher - pela guarda dos filhos coloca em pauta as distinções construídas sócio-historica- m ente, que p o r sua vez, com o vimos, são naturalizadas pelo Direito de família.4 4 Segundo o IBGE, em 2002, 93,89% dos filhos ficam com as mães depois da separação e antes do divórcio, e, depois do divórcio, cai para 92,37%. C on tudo, o índice de pais que entram na justiça com pedido de guarda aum en tou de 5 para 25% em cinco anos. 62 O utros aspectos im portantes da Lei do Divórcio em que, no entanto, não convém nos deter, é a valorização da separa ção de fato, a permissão para o reconhecim ento dos filhos ile gítimos na vigência do casam ento e a consagração do direito ao hom em casado, separado de fato, de requerer autorização judicial p a ra registro de filho nascido de relação extraconjugal. Após a Lei do Divórcio, ou tra A C o nstituição é a Lei fundamental do legislação que, sem dúvida, introduz Estado, cujo corpo de regras e princípios m norteiam os poderes públicos e asseguram sig n ifica tiv as m u d a n ç a s no q u e as liberdades e os direitos individuais concerne aos direitos e deveres fami- (Acquaviva, 1993). Depois da Constitui- ção, é no Código Civil que se encontra a l ia r e s é â. C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l d e principal fonte legai sobre a família. 1988. C om a Constituição, o concubinato passa a adquirir p ro teção do Estado, na condição de união estável (art.226 §3°). C om efeito, o casam ento deixa de ser a única form a le gítim a de constituição da família, tal com o era definida no Código Civil. O conceito de família amplia-se na m edida em que passa a legitim ar a diversidade de uniões existentes no contexto brasileiro. Com o afirm am O liveira e M uniz (1990), não se pode mais falar num a form a exclusiva de família, e sim tra ta r da m atéria no plural, passando-se a considerar tam bém como entidade familiar a relação extram atrimonial estável, entre um hom em e um a m ulher, além daquela form ada por qual quer dos genitores e seus descendentes, a família m onoparental (art.226 §3° e §4°). É evidente que a admissão de novos arranjos amorosos e familiares fazem surgir novos problem as, de m odo que se to r na cada vez mais necessário o atendim ento de equipes interdis- ciplinares ju n to às V aras de Família. A C onstituição elim ina tam bém a chefia familiar, deter m inando a igualdade de direitos e deveres para am bos os cônju ges, hom ens e mulheres (art.226, §5°). No artigo 5, parágrafo I, está prescrito que hom ens e mulheres são iguais perante a lei. 63 E nela que se encontram pela prim eira vez no Brasil os direitos da criança, expostos no artigo 227, a partir do concei to de proteção integral e do entendim ento da criança como sujeito de direitos. Assim, diz a lei que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, 6 direito à vida, à saúde, à alim enta ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência fam iliar e com unitária, além de colocá-los a salvo de toda form a de ne gligência, discrim inação, éxploração, violência, crueldade e opressão” . No mesmo artigo, §6°, ficam proibidas discrim ina ções entre filhos havidos dentro e fora do casamento e na adoção. Ao entendim ento da criança e adolescente com o sujeitos de direito, deve-se relacionar a questão da guarda com o texto da Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Da convenção internacional ao estatuto da criança e do adolescente: a primazia do interesse da criança, a divisão entre parentalidade e conjugalidade, os padrões de normalidade e a inserção das equipes interdisciplinares Aprovada no Brasil pelo Congresso Nacional e prom ul gada em 1990, a Convenção Internacional é um instrum ento jurídico, pois obriga os países que a assinam a adap tar suas legislações às suas norm as e apresentar periodicam ente um relatório sobre suas aplicações. Com efeito, no mesmo ano, a legislação nacional é alterada com a publicação do Estatuto da C riança e do Adolescente que, baseado na doutrina da prote ção integral, estabelece que crianças e adolescentes devem ser considerados como sujeitos de direitos, consagrando os direitos fundamentais da pessoa na legislação referente à infância (Brito, 1996). 64 A Convenção Internacional situa no artigo 9 o direito da criança de ser educada por seus dois pais, exceto quando o seu m elhor interesse torne necessária a separação. Contudo, mesmo na situação em que a criança é separada da família, ela tem o direito de m anter o contato direto com os pais. Reafirm ando tal perspectiva, o Estatuto da C riança e do Adolescente dispõe o direito de a criança e o adolescente se rem criados e educados no seio da família (art. 19) e estabelece os deveres dos pais em relação aos filhos menores, “cabendo- lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cum prir e fazer cum prir as determ inações judiciais” (art. 22). Compreende-se que a separação matrimonial de um casal não deve conduzir à dissolução dos vínculos entre pais e filhos. Brito (1996) adverte que os direitos representados na Conven ção Internacional e no Estatuto da C riança e Adolescente con trapõem -se à idéia que o artigo 15 da Lei do Divórcio pode conduzir, como vimos acima, de que não cabem preocupações com o quotidiano infantil ao genitor que não detém a guarda. N um a pesquisa jun to às Varas de Família do T ribunal de Justiça do R io de Janeiro , a autora constata que habitual m ente a guarda atribuída a um dos pais contribui para o afas tam ento do genitor descontínuo - term o usado por Françoise Dolto — das decisões que visam à educação e ao cuidado dos filhos (Brito, 1993, 1996). Em vez do papel de pai de fim de sem ana ao qual é relegado am iúde o genitor descontínuo, Brito ressalta que a separação do casal não deve corresponder ao fim ou à dim i nuição das funções parentais: N estes casos, p resencia-se o desap arec im en to do casal c o n ju g a l, m as deve-se co n serv ar o casal p a re n ta l, g a ran tin d o - se a co n tin u id ad e das relações pessoais d a c rian ça , com seu p a i e sua m ãe (Brito, 1996: 141). O direito de a criança m anter um relacionam ento pes soal com seu pai e sua mãe não resulta da autoridade e sim da 65 responsabilidade parental em preservar o vínculo de filiação. C abe então notar, através da representação dos direitos infan tis, um nítido deslocamento do eixo da autoridade para o de responsabilidade parental (Brito, 1999). M i medida em que os códigos jurídicos passam a priorizar o me lhor interesse da criança, tal critério deve se sobrepor ao de falta conjugal em toda decisão judicial a respeito da guarda de filhos de pais separados e divorciados. As falhas no cum prim ento do contrato m atrim onial não devem ser deslocadas às funções parentais. Nem por isso deixa de existir em nossa legislação, áté a entrada em vigor da lei 10.406, conhecida por “Novo Código Civil” , como veremos mais adiante, um a superposição dos cri térios de falta conjugal, interesse e direito da criança, contribu indo p ara o apoio da autoridade judiciária nos elementos de convicção própria (Brito, 1999). Pode-se dizer que o interesse da criança é um critério usado juridicam ente sempre que a situação da m esm a requer a intervenção do magistrado, visando a lhe assegurar um desen volvimento adequado. Todavia,não deixa de ser ao mesmo tem po um opera dor relacionado a um a predição, seguindo certos padrões do que deva ser um a família ou infância saudável. Para respaldar suas avaliações, o juiz solicita subsídios da psicologia, entre outras áreas, cujos estudos correm am iúde o risco de estarem atrela dos a um a certa noção standard de norm alidade (Brito, 1999). Sem desconsiderar a im portância para a proteção da criança, o critério de interesse da criança é de avaliação subje tiva, sujeita às mais diversas interpretações, cuja aferição apóia- se freqüentem ente num a situação de fato e não de direito.5 5 Donde surge a necessidade de elencar os direitos da criança a partir, como vimos acima, da noção de direitos do homem. Com efeito, os interesses da criança universalizam-se e se transformam em direitos, ao mesmo tempo em que a criança passa de objeto a sujeito de direitos (Brito, 1999). 66 O critério de interesse da criança jun to ao Direito de Família aponta, inicialmente, para a verificação individual de necessidades infantis perante a separação dos pais, o que exige por sua vez a intervenção de um aparato interdisciplinar. Seja com a tarefa de realizar laudos ou pareceres psicossociais, seja com a de ser “porta-voz” do infante, tal aparato indica o m e lhor interesse da criança diante da exclusiva possibilidade da guarda m onoparental. Nessa perspectiva, o objetivo é, em últi m a instância, descobrir se é mais adequado atribuir a guarda ao pai ou à m ãe.6 Entretanto, tal objetivo revela-se inadequado em face das circunstâncias que envolvem a m aioria das disputas de guarda e regulam entação de visitas, m arcadas muitas vezes por acusa ções m útuas entre as partes litigantes. N ão basta definir critérios norteadores para a indicação do genitor que reúne melhores condições de guarda. A lógica adversarial, o envolvimento das crianças no conflito e os malefícios da perícia A disputa de guarda num divórcio litigioso está baseada num a lógica adversarial em que um genitor tenta não somente m ostrar que é mais apto para cuidar e educar os filhos, como tam bém expor as falhas do outro para tal função. T al lógica está em butida no conflito de interesses, deno m ina-se lide, em que duas pessoas pretendem desfrutar ao 6 Mais do que o interesse da criança, é a doutrina da proteção integral e, conseqüentemente, a efetivação dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes que está na base da exposição de motivos para a abertura do I concurso público para o cargo de psicólogo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, não deixando este de ser citado como fazendo parte de equipes interdisciplinares. 67 inesiiiu icutpu uaquuo que os processuaustas cnam am Dcin da vida” (tudo que corresponde à aspiração de um a pessoa, seja m aterial, afetiva, etc.). O ra, no litígio a prevalência dos interesses de um implica em não atendim ento aos interesses do outro. A m edida que os interesses se contrapõem , o Ju iz tem que decidir qual pretensão das partes (como são cham adas as pessoas nos processos) está mais am parada na lei (Suannes, 2000). Abre-se um leque infindável de acusações de um a parte contra a outra, cujas faltas m orais teriam sido, como ambos argum entam , responsáveis pelo conflito atual. O que antes fa zia parte do quotidiano do casal são agora práticas “bizarras” de um estranho que, por razões “desconhecidas”, foi outrora objeto de investimento amoroso (não sem um a certa dose de alienação sobre o fato de que, se o litígio persevera, é porque há ainda um vínculo entre um e outro, como veremos adiante). Em face desse panoram a, é com um o psicólogo ser re quisitado a responder à difícil dem anda de apontar o genitor mais qualificado ou analisar o im pedim ento de visitas de um ou de outro. A dem anda form ulada pelo juiz tem como fim encon tra r o genitor “certo” a quem dar a posse e guarda da criança, baseando-se repetidam ente num a linha divisória entre o bom e m au pai e m ãe ou, em último caso, o m enos ruim (Ramos e Shine, 1999). M esm o nas situações cuja complexidade im pede um a visão m aniqueísta, não restam muitas alternativas ao juiz senão sentenciar a favor de um a das partes e negar o pedido da outra. O que faz recair n a dificuldade acima, a saber, de que o psicólogo, na condição de perito, é cham ado a fornecer subsídios para a decisão judicial, apontando o genitor que atende m elhor aos interesses da criança. T al tarefa não deixa de acarretar algumas dificuldades dignas de um a análise mais cuidadosa. Em prim eiro lugar, cabe interrogar se existem instru mentos de avaliação que objetivam ente possam m edir a capa- 68 / cxuauc uc um gcm iur sei m em ur uo que outro, j\ ai uurarieua- de do entendim ento sobre o que é ser bom ou m au genitor, isolado do contexto em que o conflito se apresenta, pode resul tar em definições estereotipadas que dificilmente recobrem a pluralidade das relações intrafamiliares.7 Em segundo lugar, nem por isso menos im portante, con vém notar que a definição de um guardião tem com o efeito simbólico a demissão do outro genitor como incapaz de exer cer tal função. Em inúm eras situações, é com um o pai ou a m ãe se sentir ultrajado na condição de visitante, visto im agina riam ente com o sendo não-idôneo, m oralm ente condenável ou, na m elhor das hipóteses, tem porariam ente menos habilitado, o que muitas vezes colabora para o afastamento de suas respon sabilidades. M uitos pais term inam por acreditar que, por serem visi tantes, devem se m anter à distância dos filhos, pois consideram que a Justiça dá plenos poderes ao detentor da guarda. Sentin do-se impotentes com o papel de coadjuvantes, há pais que esbarram nas decisões unilaterais das ex-mulheres a respeito da vida dos filhos, assim como há mães que se sentem sobre carregadas física, financeira e psicologicamente com o ex-ma- rido que mal visita as crianças. Não é por menos que o laudo ou parecer psicológico acaba servindo de combustível para o fogo da desavença fami liar, reacendido a cada decisão judicial. Se o psicólogo auxilia o m agistrado a decidir o “m elhor” guardião, por um lado, por um outro, ele fornece um poderoso instrum ento - com argu mentos técnicos sobre defeitos e virtudes de um e de outro — para as famílias darem prosseguimento aos processos judiciais. 7 Sobre as tentativas de aferição psicológica para definição da guarda e as críticas que lhiSs são relacionadas, cf. Brito, 1999a. 69 O ra, nota-se freqüentem ente que a perpetuação do em bate familiar, via poder judiciário, é um modo de dar continui dade ao trabalho de luto da separação, às vezes até mesmo da perda do objeto am ado, ou é simplesmente um meio de m an ter o vínculo com o ex-companheiro. V ainer afirma que, nesse último caso, “o litígio está a serviço de um a busca de reencontro ou aproxim ação daquele ou daqueles que não se conformam em estar separados” (Vainer, 1999: 15). Em bora o casal já tenha resolvido legalmente o tér m ino da união, continua atado à relação por meio de ações pendentes no judiciário. A cada vez que se inicia um a ação judicial, a parte interpelada é autom aticam ente obrigada a se envolver com o ex-parceiro, dificultando a efetivação da rup tu ra consagrada de direito. P ara agravar a situação, os filhos são usados como ins trum ento de vingança e constrangim ento, não havendo bom- senso que faça apelo ao fim do conflito. É certam ente im próprio indagar à criança com quem ela deseja ficar, cuja decisão pode acarretar, num outro m o mento, graves sentimentos de culpa por rejeitar um dos genitores (Brito, 1996). Os direitos de opinião (art. 12) e de expressão e inform a ção (art. 13) da criança, estabelecidos na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, não implicam que ela deva depor contra ou a favor dos pais, e sim que ela tem liberdade de obter informações, em itir opiniões e de se expressar sobre os assuntos que lhe digam respeito, sobretudo o processo de sepa ração de seus pais. O ra, isso está a quilômetros de distância de lhe incum bir um a decisão judicial. Trata-se de um erro de in terpretação da lei deslocar à criança responsabilidades que são contraditórias a sua condição de sujeito em desenvolvimento (Brito, 1996). Além do mais, é com um a fantasia infantil de que os pais voltarão a conviver harm oniosam ente no mesmo espaço 70 doméstico. E m bora vivendo num lar cujos pais estão infelizes com o casam ento, as crianças não experim entam o divórcio com o solução ou alívio p ara tal situação. M uitas preferem o casam ento infeliz ao divórcio. (WaUerstein e Kelly, 1998). Des se m odo, pedir p a ra que a criança se posicione em relação ao divórcio soa inábil e, de certa forma, contrário a seus interesses. Seguindo e sse raciocínio, Brito afir- Acareação é uma forma de extra- . ção da verdade no depoimento das m a QUC a c a r e a ç õ e s e c o n s ic le ra ç o e s SO- testemunhas e das partes, quando bre O com portam ento dos pais tam bém houver divergências ou contradições, r l r v r m çp r a f a r i a « ” íT tr i tn 1 QQQo ■ 1 7Q\ e consiste em colocar uns cara a cam devem ser evitadas (Brito, ly jy a . 1/o), Com outros até se concluir pelos re- Françoise Dolto (1989) afirm a que latos verdadeiros (Acquaviva, 1993). a criança deve ser ouvida pelo juiz, o que não pressupõe lhe im por a escolha dos genitores e seguir o que ela sugere. Escu ta r a criança tem com o significado o fato de ela ser m em bro da família e ter vontade de falar sobre o que se passa com ela, assim com o tirar dúvidas sobre tal situação. Ao final, é im por tante a criança saber “que”, diz Dolto, “o divórcio dos pais foi reconhecido como válido pela justiça e que, dali p o r diante, os pais terão outros direitos, mas que (...) eles não são liberáveis de seus deveres de ‘paren ta lidade’” (Dolto, 1989: 26). Em contrapartida, segundo ainda Dolto, as crianças de vem ouvir do Ju iz algumas palavras a respeito de seus deveres filiais, a saber, a preservação das relações pessoais com as fam í lias de am bas as linhagens. T al conversa deve acontecer desde que o Ju iz saiba conversar com crianças, caso contrário por um a pessoa encarregada disso p o r ele, não havendo idade m í nim a que não se possa explicar a situação (Dolto, 1989). N ão é difícil a criança se sentir culpada pelo divórcio, cuja existência é im aginada com o um peso p ara os pais (Dolto, 1989). E de fundam ental im portância o psicólogo a ten tar para esse aspecto, sem deixar de acolher, ao m esm o tem po, o silên cio que certas crianças apresentam durante as entrevistas. T al silêncio não deve ser percebido necessariam ente com o negati vo, podendo ser afirm ado com o um meio de a criança não 71 querer com partilhar das querelas parentais e nem das exigên cias judiciais. E mesmo que a criança ou o adolescente insista verbalizar com quem deseja ficar, não se pode perder de vista que há um a tendência nas situações de litígio de os filhos fazerem ali ança com um dos genitores e perceberem o outro como “vi lão” da separação. Segundo algumas pesquisas psicológicas, a criança faz aliança com o genitor que dispõe de sua guarda e que, portan to, está mais próxim a dela, independente do sexo (Wallerstein e Kelly, 1998; Brito, 1999a). O tem po de convivência prolon gado aproxim a a percepção do filho com a do guardião. Desse m odo, n a m edida em que costum a ser dem orado o intervalo entre a separação de fato do casal e a formalização juríd ica do divórcio, o tem po transcorrido jun to ao genitor que perm ane ce com a criança ou o adolescente é o bastante p ara a conso lidação das alianças. “A valiar com quem a c rian ça q u er perm anecer, ou com qual dos genitores é mais apegada, pode ser” , conclui Brito, “interpretado como a pesquisa do óbvio” (Brito, 1999a: 176). Para com plicar o quadro, pedir à criança ou ao adoles cente para expor com qual genitor deseja ficar acaba acirran do ainda mais as posições polarizadas e visões maniqueístas a respeito do litígio. O fato de o psicólogo restringir-se à tarefa pericial de definir o “m elhor” genitor revela aí suas limitações, pois não contribui para um a melhor qualidade das relações entre as partes litigantes, tam pouco coloca em xeque a lógica adversarial p re sente nos encam inham entos jurídicos. E m função do enfrentam ento que se impõe, a lógica adversarial favorece o aum ehto de tensão entre os ex-cônjuges, sem desfazer o entendim ento habitual de que ao final do p ro cesso h á sem pre vencidos e vencedores (Brito, 1999a). 72 A sugestão do psicólogo ao juiz deve contar, o máximo possível, com a participação da família, retirando-as do papel passivo a que são freqüentem ente relegadas no processo de pe rícia. P ara tanto, deve-se privilegiar os recursos subjetivos, seja a partir da temática do sujeito, seja a partir do sistema relacional da família, para a orientação e o encam inham ento dos impasses. Tais observações fazem perceber a necessidade de o psicó logo am pliar seu raio de ação para além da perícia técnica. Vejamos então outras linhas de atuação. Possibilidades e limites da intervenção psicanalítica: a importância da fala, o laço conjugal, a questão do desejo Pereira (2001), advogado especialista em Direito de Fa mília, reconhece as contribuições que a psicanálise oferece a essa m atéria. N um a pesquisa sobre a jurisprudência na m aioria dos Estados brasileiros, o autor aponta para os elementos de um a “m oral sexual” que perm eia os julgam entos em Direito de Família, com provando o envolvimento dos valores de cada ju lgador na objetividade dos atos e fatos jurídicos: O ju lg a d o r, q u an d o sen tencia , co loca ali, p a ra a solução do conflito , não só os e lem entos d a c iênc ia ju r íd ic a e da técn ica processual, m as tam b ém to d a u m a ca rg a de v a lo res, que é variável de ju iz p a ra ju iz (Pereira , 2001: 250). Sendo o Direito de Família um a tentativa de organizar ju rid ic a m e n te as relações de afeto e suas conseqüências patrim oniais, Pereira contrapõe à m oral sexual a necessidade de repensar os paradigm as do Direito a partir da psicanálise. C om efeito, considera im portante lançar m ão dos conceitos de sujeito, sexualidade e desejo: 73 1. O sujeito do D ire ito é aquele que age consciente de seus d ireitos e deveres e segue leis estabelecidas em u m d ad o o rd e n a m e n to ju r íd ico ; p a ra a P sicanálise, o sujeito está assu jeitado às leis regidas pelo inconsciente. A final as m a n i festações e atos conscien tes que tan to in teressam ao D ire i to n ão são p red e te rm in ad as pelo inconscien te? 2. P a ra o D ire ito P enal, os crim es de n a tu re z a sexual são tipificados e investigados buscando-se sua m ateria lid ad e . P o r isso, a sexualidade p a ra o D ire ito tem sido sem pre gen ita lizada , com o expresso no C ód igo P en a l (...), que se u tiliza sem p ré d a expressão ‘con ju n ção c a rn a l’; p a ra a Psicanálise, a se x u a lid ad e é d a o rd em do desejo. P ode o D ire ito legislar so b re o desejo, ou se rá o desejo que legisla sobre o D ireito? (P ereira , 2001: 22). P ara que tais conceitos se articulem ao campo da prática analítica, é necessário que as pessoas se ponham a falar. A psi canálise é um a experiência discursiva. Seguindo esse raciocí nio, Suannes (2000) propõe que se devolva a fala à pessoa e aos processosinconscientes que subjazem ao processo judicial. P ara tanto, convém elucidar as relações entre as deter minações inconscientes e a formalização da ação judicial. Senão vejamos. N um litígio, os oponentes são incapazes de resolver o conflito por conta própria, de tal modo que re correm a um terceiro, no caso, a autoridade judicial, com ob jetivo de satisfazer as suas exigências. A formalização dessa dem anda ao juiz exige que a fala de cada sujeito envolvido no conflito seja representada pelo advogado que, por sua vez, fala de acordo com a lógica do discurso jurídico. Rem ontando o discurso de acordo com a lógica jurídica, o advogado dem onstra que os interesses de seu cliente estão am parados na lei, ao mesmo tem po em que responsabi liza o outro pela ação ou omissão geradora do conflito. H á nessa passagem, da vivência de insatisfação do sujeito à enun ciação do seu problem a num a lógica jurídica, um a m udança 74 na configuração do conflito, em que o discurso de insatisfação cede lugar ao discurso de merecimento. A re-configuração do conflito nos moldes jurídicos não deixa de gerar certos impasses, especialmente nas V aras de Família, onde a natureza do vínculo entre as pessoas é sufici ente para resistir a qualquer resolução judicial: N as ações de V a ra de F am ília , (...) o a to ju r íd ic o n ão te rá com o conseqüênc ia o ro m p im en to dos laços psicológicos das pessoas envolvidas e, no caso de h av er filhos em co m u m , n ão levará ao afas tam en to co ncre to e n ão im p ed irá a p a rtic ip ação de um n a v ida do ou tro . D ev ido à n a tu reza do v íncu lo ex is ten te en tre as ‘p a r te s ’, (...) os p ro b lem as explicitados nos au tos são, freq ü en tem en te , deslocam en to de questões que n ão e n c o n tra ra m o u tra v ia de rep re se n ta ção. A m ed id a que o ap a ren te p ro b lem a é resolvido, o conflito se coloca em ou tra questão , reacendendo o im passe. FjSte constan te deslizam ento de conflitos leva à cronificação do litígio. (S uannes, 2000: 94) Seguindo esse raciocínio, a autora sugere que o objetivo prim eiro seja “realizar um movimento de direção contrária na estruturação do problem a jurídico” (Suannes, 2000: 96), ou seja, fazer falar o sujeito e não seus porta-vozes. O simples encam inham ento das partes para o estudo psicológico por si só já tem papel im portante, à m edida que nom eia a natureza do problem a em pauta. Isto é, atribui o “estatuto de psicológico a algo que é vivido pelas famílias como um problem a jurídico, concreto e externo a cada um deles” (Suannes, 2000: 95). U m a vez encam inhado o estudo psicoló gico, a “questão não se coloca como oposição entre dois pólos, ou seja”, afirma Suannes, “não se tra ta de um conflito de inte resses no qual o vínculo com o pai exclua a m ãe de seu lugar, ou vice-versa” (Suannes, 2000: 96).R u Convém observar que o encam inhamento psicológico não é por si só sufi- 75 O rientado por um a escuta analítica, não cabe ao psicó logo avaliar qual genitor lé m erecedor da guarda ou da visita aos filhos, ou, tam pouco, detectar qual deles estaria mais apto para exercer as funções parentais, e sim com preender que “a questão' que faz aquela família sofrer e pedir ajuda no Judiciá rio não é, muitas vezes, aquela que está configurada nos autos” (Suannes, 2000: 96). Evidentem ente, a relação entre o m étodo analítico e as circunstâncias de um a ação judicial não é sem dificuldades. Barros (1999) adverte que num processo litigioso, ao contrário do que pressupõe a regra técnica fundam ental da psicanálise, o sujeito não fala o que lhe vem à m ente e sim o que pode favorecer a sua causa. Ao mesmo tem po, preocupa- se em não dizer o que pode ser usado contra ele mesmo pela outra parte e seus advogados. Com efeito, tal depoim ento tor- na-se prejudicado, “pois” , escreve Barros, “o sujeito não está ali num a posição de quem fala de si” (Barros, 1999: 37). E mesmo no caso em que o sujeito libera sua fala, o psicólogo não pode m anejar os efeitos de sua intervenção após a conclu são de seu laudo. N em por isso Barros considera incom patível a práxis analítica no âm bito jurídico. Ao contrário, é possível prom over a retificação subjetiva em que o sujeito deixa de se queixar do outro para reconhecer sua participação no conflito, tendo como efeito “separar-se desse outro, perder esse casamento, sem ficar perdido de verdade” (Barros, 1999: 39). Por sua vez, nos casos em que as pessoas não querem ou se sentem im pedidas de falar, resta somente apontar as dificul dades das partes de se reconhecerem ativam ente no conflito. ciente para reconfigurar o conflito. Como observa Brandão, se “fosse assim, a primeira reação frente ao psicólogo não seria semelhante à manifestada em face do juiz, quando testemunhas e documentos são mencionados a tor to e a direito” (Brandão, 2002: 50). 76 São limites de um a práxiâ em que o sujeito deve passar do estado de vítima para o de responsável por seus atos e pala vras, cujas determ inações inconscientes se impõem à sua reve lia. Se tais pessoas retornam ao Judiciário, envolvidas com novas querelas familiares, perm ite-se então “avançar um pouco e construir os efeitos da intervenção na história desse sujeito, obtendo mais elementos para refletir e construir esse campo de intervenção” (Barros, 1999: 40). Não h á previsibilidade sobre o desfecho da intervenção analítica, na m edida em que não cabe ao analista im por os seus próprios ideais. Q uerer simplesmente fazer o bem e desfa zer os conflitos em que as pessoas se em baraçam , supondo com isso resolver a relação do sujeito com seu desejo, é por defini ção impossível. N ão h á nada que ensine o sujeito a em pregar seu desejo, de modo que na experiência analítica se obtêm destinos particulares para cada dem anda que é formulada. Seguindo esse raciocínio, a inscrição da psicanálise no campo jurídico produz um a diversidade de efeitos, que vão desde a re-significação do conflito, a resolução dos aspectos processu ais, a dissolução de queixas com um simples gesto de oferecer os ouvidos ou, na pior das hipóteses, nada acontece e continu am-se as disputas familiares (Brandão, 2002). A orientação teórica no interior da psicanálise é que vai definir se a intervenção põe em jogo o casal o u o sujeito, o que tem como conseqüência leituras distintas a respeito do laço conjugal. Puget e Berenstein (1994) tem como objeto teórico a “estru tura vincular” que se forma no laço conjugal, cujo dom í nio é m arcado por pactos inconscientes, tipologias diferencia das, entre outros aspectos. Em vez de com preender esse espaço vincular como sendo um a relação entre desejo e objeto, os aurores definem-no como um a relação en tre eu e outro, cujo objeto não é assimilável a nenhum a interioridade e sim ao ter- * • ritório do vínculo estabelecido pelo casal. 77 O casal en tão é (...) u n ia e s tru tu ra v incu la r en tre duas p es soas de sexo d iferentes, isto é, u m a re lação in tersub je tiva estável en tre u m ego e u m o u tro ego, onde tem cab im en to o m u n d o in tra-sub je tivo de cad a u m , e onde o v ínculo , p o r su a vez, o cu p a u m a á re a d ife ren c iad a d a e s tru tu ra ob je ta i (Puget e B erenste in , 1994: 18). O bservam os autores que o casal não é somente a ori gem virtual de um a nova família, mas o desprendim ento da família de origem, donde provêm as identificações e a trans missão dos desejos parentais. A formação de um novo casal pressupõe a resolução trabalhosa, nem sempre acabada, de desenlace dos vínculos familiares. A idéia de pertencim ento contínuo à cadeia de gerações pode ser no casal fonte de p razer ou angúsda, gerando um a série de conflitos que podem resultar na separação. E dado seu caráter de contrato inconsci ente, pode ocorrer de, na separação, os sujeitos saberem o que desejam fazer, mas não de quê ou de quem se separar (Puget e Berenstein, 1994). Por sua vez, no ponto de vista lacaniano o que está em jogo na escuta analítica não é o casal, o laço conjugal aí esta belecido, e sim o sujeito (Pereira, 1999). Nessa perspectiva, o laço conjugal configura-se tal como um a form ação sintom ática na m edida em que pretende fixar o objeto causa do desejo, cuja tarefa é impossível. A prom essa de realizar o impossível insinua-se toda vez que no casal o parcei ro se faz objeto de desejo do outro (Brasil, 1999). Não há obje to capaz de satisfazer integralm ente o desejo. Desejo é por definição desejo de outra coisa, tornando-se quase inevitável que ele se alim ente do que está fora da conjugalidade (Melman, 1999). O que evidentemente não significa que o laço conjugal seja impossível, desde que se leve em conta a dimensão da falta que está na base do desejo. A dim ensão do desejo tam bém é fundam ental para a criança ter um acesso norm ativo à sua posição sexual. 78 O ra, sabe-se que o nascim ento de um a criança gera m udanças na tram a familiar. Ao mesmo tem po em que ela une o pai e a mãe, ela os separa, introduzindo um a divisão não somente entre o casal, mas no próprio cam po do desejo (Miller, 1998). C om o nascim ento da criança, o pai angustia-se em face do desejo da mãe: “Q ue quer ela então?” “Q uem sou eu, pois, p ara ela?” (Miller, 1998: 10), cujas interrogações não devem obstruir o consentim ento de que o desejo feminino é sempre enigmático. Do lado da mãe, se a criança é requerida a preencher a falta em que se apóia o desejo feminino, ela fica, como diz Lacan, num a relação dual “aberta a todas as capturas fantas- m áticas” e “torna-se ‘objeto’ da m ãe” (Lacan, 1998: 1). Ao con trário, a criança deve dividir a m ãe, de modo que deseje outras coisas além dela: “os cuidados que ela”, a m ãe, “dispensa à criança não a desviam de desejar enquanto m ulher” (Miller, 1998: 7). D ependendo de como se inscreve o desejo na relação entre a mãe e a criança, a ação do analista se to rna mais ou m enos facilitada. Tais conceitos devem nortear o psicólogo cuja prática seja inspirada na psicanálise. N ão obstante, deve o mesmo perm anecer alerta para os riscos de tal aparato conceituai estar a serviço de mecanismos disciplinares que, articulados à instituição judiciária, visam a “norm alizar o quotidiano, fixar papéis sociais e regular relaci onam entos” (Brandão, 2002: 38). M ais do que acreditar que o desejo, a sexualidade e o sujeito estão na origem dos conflitos judiciais, cabe ao psicólogo interrogar, ao lançar m ão de tais conceitos, se ele não atende às estratégias persuasivas de po der. Para tanto, basta incitar cada “sujeito” a decifrar os con flitos entre sexualidade e aliança, sem se dar conta de que está reforçando a tutela sobre as famílias (Brandão, 2001). 79 Isso é um problem a que não concerne som ente à psica nálise, mas às práticas psicológicas em geral, de m odo que retornarem os a esse ponto ao final do texto. Mediação familiar: a diversidade de práticas, a diferença em relação à arbitragem e à conciliação, o paradigma de entendimento mútuo, as experiências dos tribunais brasileiros N um outro enfoque, a prática de mediação, im plantada em diversos países e recentem ente no Brasil, é inform ada por diversas teorias e técnicas, tendo em com um o objetivo de de volver ao casal a com petência para gerar a própria solução do conflito. Alguns juristas adm item que, em certas áreas judicativas, o tradicional processo litigioso não é o m elhor meio para a reivindicação efetiva dos direitos. Entende-se então que o m o vim ento de acesso à justiça encontra razões para cam inhar em direção a formas alternativas de resolução de conflitos, entre elas, a m ediação. Preservando a relação, na m edida em que tra ta o litígio com o perturbação tem porária e não como rup tu ra definitiva, tal procedim ento é mais acessível, rápido, infor mal e m enos dispendioso (Krüger, 1998). O entendim ento sobre a resolução de conflitos em V a ras de Família com parece na exposição de motivos que o Ilus tre C orregedor-G eral de Justiça do Rio de Jane iro escreve, no D iário Oficial datado em 11 de novem bro de 1997, para a abertura do I concurso para o cargo de psicólogo no T ribunal de Justiça: P e ran te as V a ra s de Fam ília , tam b ém se faz necessária a p resen ça dos psicólogos p o rq u e existem causas onde o co n flito en tre o casal litigante, devido a sua pro fund idade, atinge os filhos. (...) A través de entrev istas com as p a rte s e com os filhos destas, o serviço de psicologia p o d e rá aux ilia r a té em u m a com posição am igável do litígio, restabelecendo a h a r m o n ia en tre as p a rte s e, talvez, p ro m o v en d o u m a m u d a n ça de m en ta lid ad e dos pais em re lação aos filhos. Nos Estados Unidos, a partir de 1974, tem-se registro dos prim eiros trabalhos de mediação como sendo um a alterna tiva para lidar com as seqüelas do divórcio e de suas disputas baseadas no antagonismo, como vimos acima, entre vencedor e vencido. No C anadá, existem serviços de m ediação desde os anos 70, cuja prática entra na legislação relativa ao divórcio em 1985. Por sua vez, a C hina aplica a m ediação desde 1949, tanto em nível patrim onial como familiar, reduzindo conside ravelmente o núm ero de casos que chegam aos tribunais como litígio. O recurso da mediação é também desenvolvido em países como França, Israel, Austrália, Japão, entre outros (Vainer, 1999; Curso, 2000). N a Am érica do Sul, a Colômbia, a Bolívia e a Argentina antecederam o Brasil no emprego das resoluções alternativas de disputa. Somente no início dos anos 90, a m ediação ingres sa no Sul do país, tendo sido fundada em 1994 a m atriz da instituição brasileira mais antiga de que se tem notícia - o Ins tituto de M ediação e Arbitragem do Brasil (IMAB) - cuja sede é em Curitiba, no Paraná. Desde então, tal recurso passou a ser em pregado em instituições privadas, chegando às públicas, em particular, a partir das Defensorias Públicas. H á hoje em dia um Conselho Nacional das Instituições de M ediação e Ar bitragem - CONIMA, fundado em 1997 (Curso, 2000). D e m odo geral, a m ediação pode envolver todos os pon tos do divórcio ou se lim itar somente às questões da guarda da criança e de sua visitação. A mediação pode ser tam bém públi ca, privada ou ambos. Alguns program as de m ediação exclu em os advogados das partes, enquanto outros estimulam essa participação. Algumas práticas são liberais e não diretivas, en quanto outras são mais restritivas e condutoras (Vainer, 1999). 81 Costuma-se apontar que m ediação não é igual à arb itra gem ou conciliação. N a arbitragem , a solução é decidida p o r um terceiro, ao qual as partes se submetem. N a conciliação, um terceiro auxi lia a m anter ou restabelecer a negociação entre os oponentes, reduzindo as animosidades, opinando e sugerindo novas alter nativas. O conciliador atua diretam ente no conflito, visando ao acordo entre as partes. Por sua vez, na m ediação o terceiro tam bém ajuda a com por a negociação, com a diferença de que as partes devam ser autoras das decisões. O m ediador atua mais como facilitador do que interventor ativo, restabelecendo o diálogo para que surjam das partes as possibilidades de en tendim ento e desfecho do conflito. Ao contrário das outras práticas, a m ediação deve incidir menos sobre o acordo do que o resgate de um canal de com unicação entre os oponentes(Curso, 2000). Q uando os acordos são espontâneos e diretos sem auxílio de um terceiro. Q uando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a m antê-la ou a restabele- cê-la, reduzindo tensões e anim osidade, opinan do e sugerindo alternativas. Q uando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a mantê-la ou a restabelecê- la, desde que as partes sejam autores das deci sões. A tuando na construção de um am biente colaborativo e na desconstruçao dos impasses, possibilita que um diálogo sobre as questões se estabeleça e decisões consensuais póssám ter lugar. Negociação x x Conciliação x ^ x * c Mediação X B X V 82 Q u an d o um terceiro, escolhido pela? partes (árbitro), decide, segundo critério de m erecim en to ou não, sobre as questões de litígio. Q uando um terceiro, não escolhido pelas partes, determ ina, segundo critério legal ou de m ereci m ento, sobre as questões das partes. Referência: Curso Mediare Evidentem ente, os propósitos da m ediação diferem de acordo com o país onde ela é praticada. Se o m étodo norte- am ericano reduz a m ediação unicam ente à resolução de con flitos, a ponto de ser colocada lado a lado com a conciliação e a arbitragem como um a das formas alternativas de ju lgam en to, a linha francesa não busca o desfecho im ediato do conflito. Ao contrário do que recom enda o pragm atism o norte-am eri cano, a perspectiva francesa supõe que o m ediador deva criar cond ições p a ra que os an tag o n is ta s se q u es tio n em e se reposicionem no conflito, visto este muitas vezes como sendo positivo e não como algo a ser extirpado (Six e Mussaud, 1998).9 9 Dos Estados Unidos da América provém um grande núm ero de estudos relativos à psicoterapia de casal e de sua necessidade no decorrer do proces so judiciário, sendo um a obrigação social o atendim ento a situações traum á ticas relacionadas à separação. Mas de um a m aneira geral o foco prende-se aos problemas adversariais ou à necessidade do entendimento m útuo sem que sejam verificadas tentativas de sistematização clínica das determinações psíquicas do problema, e desse modo, a atenção acaba se concentrando nas conseqüências e nas técnicas para remediá-las (Vainer, 1999). Arbitragem x x ■ W A Litígio com resolução judicial x x Ps 71 J 83 rode-se dizèr que a diversidade de concepções e práticas reúne-se à luz de um a m udança de paradigm a, em que o en tendim ento m útuo deve prevalecer sobre o antagonism o entre as partes. A figura do m ediador busca a resolução das contro vérsias de form a pacífica, evitando o litígio e indo ao encontro de acordos que as partes possam com por entre si. Nessa pers pectiva, o m ediador evita fazer imposições e traz à discussão apenas o que o casal quer negociar, orientando e buscando idéias que facilitem a construção de um compromisso favorá vel aos antagonistas. Ao mesmo tempo, o m ediador deve ter o cuidado de não se deter n a análise das determ inações psíquicas do conflito do casal. Se não se esquivar dessa tarefa, ele corre o risco de prolongar o atendim ento para além do tem po disponível no judiciário, além de dar um caráter terapêutico sem garantir a resolução dos acordos necessários para o fim do litígio. N a m edida em que o m ediador está atento aos proble mas de ordem afetiva, assinalando a im portância das decisões do casal e prevenindo-os sobre as conseqüências que elas acar retam , ele deixa os advogados livres p ara concretizar os acor dos em term os jurídicos. Em outras palavras, a m ediação encoraja os oponentes a se envolverem diretam ente nas nego ciações enquanto libera o advogado p ara o suporte legal: neces sário, que muitas vezes não consegue fazer com que o cliente o ouça quanto aos prejuízos de sua postura (Vainer, 1999). Sem elhante preocupação em devolver às famílias a res ponsabilidade pelo desfecho do litígio faz parte também; da rotina do Serviço Psicossocial Forense (SERPP), vinculado ao T ribu nal de Justiça do Distrito Federal. C om preendendo que o divórcio não é o fim da família e sim o início de um a organização bi-nuclear, em que os pais são co-dependentes, mesmo separados, na tarefa dé criar os filhos, a equipe interproflssional dò SERPP tem como imperativo a distinção entre parentalidade e conjugalidade. Assim, ela evita 84 que um m em bro da família avalie a com petência parental do outro pela com petência conjugal. Somente com o “divórcio psíquico”, torna-se possível “ajudar os filhos a aceitar o divór cio dos pais e estimulá-los a m anter um contínuo relaciona m ento com ambos os cônjuges” (Ribeiro, 1999: 165). N um a abordagem sistêmica, busca-se então com preen der a dinâm ica relacional que deu origem ao litígio e o papel de cada m em bro do grupo familiar na perpetuação da crise. É im portante que cada m em bro com preenda seu papel em tal dinâm ica e experim ente situações que sugiram m udanças. A equipe do SERPP realiza tam bém entrevistas com os advogados das partes, sendo considerados peças chave p ara a reorganização do sistema familiar. Ao final, faz-se um relatório que, em vez de apresentar sugestões formuladas unilateralmente pelo profissional, expõe as que foram construídas pela família (Ribeiro, 1999). O Judiciário gaúcho tem feito tam bém im portantes in vestimentos na m odernização do sistema de acesso à Justiça, através de estruturas como os Juizados de Pequenas Causas, os Projetos de Conciliação e, por fim, o Projeto de M ediação Familiar, im plantado em 1997, através do Serviço Social Ju d i ciário (SSJ) do Foro C entral de Porto Alegre. Esse último projeto trabalha com processos encam inha dos pelo Projeto Conciliação em Família, tratando-se de ações que estão ingressando no Judiciário e, portanto , ainda não inseridas totalm ente no modelo adversariaL As famílias partici pam inicialmente de um a audiência de conciliação e não ha vendo consenso são informadas pelo Ju iz sobre a possibilidade de optarem pelo processo de mediação, dividido em etapas que se iniciam com encontros multifamiliares, passam por encon tros individuais e term inam com a construção do entendim en to (Krüger, 1998). M esmo acertando-se a m ediação como um a prática de profundo interesse do Judiciário, vêem-se pouco problematizadas 85 as relações de poder entrevistas num a certa pedagogia que ela parece implicar, a saber, de que a prevalência do entendim en to m útuo e do “sentir-se bem ” cm oposição às paixões e ao sofrimento perm ite ensinar pais e filhos a controlar suas ações, aperfeiçoar suas capacidades e diminuir a capacidade de revolta. Os impactos do divórcio, os acordos em relação aos filhos, a não- burocratização das visitas, os pontos de reencontro Faz-se necessário notar que é muito com um a desorien tação do casal e da família após a separação, impondo-se a cada um a busca de parâm etros para se situar diante da nova situação. O desnorteam ento após a separação foi constatado na pesquisa do Califórnia Children o f Divorce Project, o que motivou os profissionais a prom overem encontros sistemáticos com os pais e os filhos (Wallerstein e Kelly, 1998). O divórcio é o ápice de um processo que se inicia com um a crescente perturbação do casam ento e, após sua concreti zação, dem oram -se anos até que os ex-cônjuges consigam con quistar um a estabilidade emocional. O problem a é que um período de tem po que pode parecer razoável para os adultos corresponde a um a parte significativa da experiência de vida da criança. Os filhos vêem-se com pouco controle sobre as m udan ças impostas pelo divórcio. M uitos não têm somente dificulda de para se ajustar a novos locais de residência ou à queda da situaçãoeconômica, mas tam bém ao colapso do apoio e da proteção que até então esperavam encontrar na família. Com o divórcio, há um a diminuição da capacidade parental. Os pais passam a focar mais atenção em seus próprios problemas, tor- nando-se m enos sensíveis às necessidades dos filhos. Ao mesmo 86 tem po, relutam ou revelam um a inabilidade para explicar a eles a situação que estão vivenciando. Os filhos sentem-se vulneráveis, rejeitados, culpados, so litários, sendo m uitas vezes usados, para agravar a situação, com o suporte em ocional de um ou ambos os genitores, respon sabilidade para a qual não se sentem prontos para assumir. N ão é por menos que a criança concentra am iúde seus esfor ços para reverter a decisão do divórcio e restaurar a harm onia familiar, sem contudo lograr êxito. Em face desse panoram a, os pesquisadores decidiram incluir um program a de intervenção breve destinado a p ropor cionar atendim ento psicológico e recom endações sociais e edu cacionais para as famílias com dificuldades de elaborar a situação de divórcio (Wallersteín e Kelly, 1998). H á outro projeto institucional nos EUA - Famílias em Divórcio - desenvolvido por terapeutas de família e de casal des de 1978, que visa a dar atendim ento e suporte as famílias em que o divórcio já ocorreu ou está em vias de ocorrer. Atende- se inicialmente os ex-cônjuges em separado, até o m om ento de se sentirem seguros o suficiente para a sessão conjunta. U m a vez ocorrida tal sessão, há um a avaliação em encontros nova m ente individuais, reforçando os êxitos conseguidos e estimu lando novas tentativas de diálogo. A discussão a respeito dos filhos é um ponto fundam ental para a elaboração do divórcio e a organização da família. O trabalho com os filhos é um dos pontos mais im por tantes desenvolvido no projeto, por meio dos quais se dilui a postura destrutiva dos pais, lida-se m elhor com as dificuldades da separação e são fortalecidos os vínculos fraternos, tornando no fim das contas o processo de m udança familiar m enos dolo roso. De inspiração sistêmica, os autores de tal projeto obser vam que as querelas entre as partes não provêm do processo de divórcio em si e sim dos antecedentes matrim oniais, não 87 sendo a separação mais do que a continuação dos conflitos enraizados na união do casal. De diferentes tipos de casam ento resultam diferentes tipos de divórcio (Isaacs apud V ainer, 1999). Deve-se aten tar igualmente para a regulam entação de visitas, evitando-se modelos rígidos e preconcebidos de relacio nam ento que, ao final, possam criar dificuldades para o genitor descontínuo acom panhar e participar do desenvolvimento dos filhos. A burocratização dás visitas tem o risco de criar um a rotina às vezes inteiram ente diferente do tem po subjetivo da criança. Françoise Dolto (1989) adverte que a percepção infan til do tem po cronológico é diferente da percepção do adulto. Com efeito, convém ao psicólogo prom over, ju n to aos demais profissionais, acordos de visitas que possam m anter, como é de direito, o estreito relacionam ento da criança com seus pais. Para tanto, é recom endável que o tribunal informe tam bém nas audiências sobre a necessidade de visitas do genitor, escla recendo e ajudando na definição e execução dos acordos refe rentes aos filhos (Brito, 1999a).. Alguns genitores acabam desaparecendo da vida de seus filhos p o r não suportarem os constantes desentendimentos com o ex-cônjuge e não concordarem com o papel de visitantes a que são relegados. M uitos tam bém não suportam pegar os fi lhos na casa que um dia já foi sua, o que indica a im portância de um outro local p a ra a visitação dos filhos. N a França, a preocupação em proporcionar à criança o encontro constante com os dois genitores levou à criação de estabelecimentos cham ados de “pontos de reencontro” . Lança- se m ão desse recurso somente quando não é possível a atribui ção da autoridade parental conjunta, cuja concepção veremos f adiante, ou quando um dos genitores é impedido judicialmente de perm anecer sozinho com a criança. Os “pontos de reencon tro” são então lugares onde podem ocorrer visitas supervisio nadas por especialistas, ou ainda um local “neutro”, onde a 88 c r i a n ç a c c ic ix a o a jpui u n i uuo w 4. visita (Bastard et Cárdia apud Brito, 1999a). A necessidade de garantir à criança o direito de convi vência com ambos os pais é tam bém objeto de preocupação na Suécia, onde há um projeto de “conversas cooperativas” . D e senvolvido com ex-cônjuges e profissionais qualificados, o p ro je to consiste em esclarecer e prom over a prática de custódia conjunta, obtendo êxito na maioria dos casos atendidos (Saldeen, apud Brito, 1999a). Guarda compartilhada e novo código civil: as experiências em outros países, o retorço da responsabilidade parental, o fim da falta conjugal e do pátrio poder A custódia conjunta é um dispositivo jurídico que está relacionado ao direito inalienável da criança de m anter o con vívio familiar, consagrado, como vimos acima, na Convenção Internacional. A criança tem o direito de ser educada por seus dois pais, salvo quando o interesse torna necessária a separa ção. Em outras palavras, o direito prevalece sobre a noção de interesse, mas não o exclui. Seguindo esse raciocínio, a legislação de alguns países estabelece que o exercício da autoridade parental seja conjun to após a separação conjugal, não sendo indicada nos casos em que o interesse da criança aponta para a necessidade de guar da m ono-parental (Brito, 1999). N a França, por exemplo, a legislação estabelece que o Ju iz deve p rio riza r o exercício em com um da au to ridade parental, mesmo nos casos em que a separação não é am igá vel. Por sua vez, a autoridade unilateral só deve ocorrer nos casos que atendam aos interesses da criança. Observa-se tam bém que, em 1993, o term o “guarda” , ju n to ao D ireito de 89 Família Francês, é substituído pelo de “exercício da autoridade parental conjunta”, na m edida em que aquele causava muitos conflitos. O genitor que possuía a “guarda” era considerado detentor de todos os direitos sobre a criança, de modo que, com a troca do vocábulo, é esperada um a nova 'atitude dos genitores (Brito, 1996). N a Suécia, desde 1973, o conceito de guarda conjunta abrange todas as questões relativas à pessoa da criança. Desse m odo, atribuir ao pai, que não possui a guarda oficialmente, um direito ou dever de visita é considerado como limitação ao direito de tom ar decisões no que diz respeito à criança (Brito, 1996). O dispositivo dé guarda conjunta, ou com partilhada, tem o objetivo de reforçar os sentimentos de responsabilidade dos pais separados que não habitam .com os filhos. Privilegia-se a continuidade da relação da criança com os dois genitores que, sim ultaneam ente, devem se m anter implicados nos cuidados relativos aos filhos, evitando-se, como conseqüência da separa ção conjugal, a exclusão de um dos pais do processo educativo de sua prole e a conseqüente sobrecarga do outro. Convém notar que tal dispositivo é inteiram ente distinto do de guarda alternada, em que a criança passa períodos alter nados na com panhia dos ex-cônjuges. Dolto (1989) afirma que a guarda alternada é prejudicial até os doze ou treze anos de idade, um a vez que á quebra de um continuum espacial-social-afetivo leva a criança à dissociação, à passividade e a estados de devaneio. Não por menos, a guar da alternada foi proibida na França em 1984. Por sua vez, não se trata na guarda conjunta do desloca m ento p o r parte da criança entre as casas de seus pais ou qual quer outro esquem a rígido de divisão igualitária, de tempo de convivência. Ao contrário, as decisões
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