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Aula 10- Sociologia do desvio

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SOCIOLOGIA
RICHARD T. SCHAEFER
6a EDIÇÃO
6a 
EDIÇÃO
As aulas de Sociologia, consideradas pelo autor deste livro “o laboratório ideal onde pode-
mos estudar nossa própria sociedade e as dos nossos vizinhos globais”, permitem ao aluno 
desenvolver o pensamento crítico, tornando-o capaz de aplicar as teorias e os conceitos 
sociológicos para avaliar as interações e as instituições humanas e, assim, encontrar expli-
cações sociológicas para os diversos fenômenos que permeiam as relações sociais. 
O aluno inicia estudando o que é Sociologia e o seu objeto de pesquisa para depois entrar em 
contato com temas de interesse imediato e, em sua maior parte, com temas mais abrangentes, que 
lhe permitirão desenvolver o pensamento crítico e a imaginação sociológica. As seções “Use a 
Sua Imaginação Sociológica” e “Pense Nisto”, por exemplo, dão suporte à proposta do autor.
Sociologia aborda temas que vão da educação bilíngüe à existência da escravidão em pleno 
século XXI, incluindo o estudo da imigração, da situação dos moradores de rua, da superpo-
pulação, do processo do envelhecimento das pessoas nas diferentes culturas, até problemas 
mais recentes como os ataques de 11 de setembro de 2001 e suas conseqüências sociais 
– como as pessoas passaram a lidar com a situação depois desse acontecimento e, em espe-
cial, como elas reagem diante das minorias.
Aplicações
Livro-texto para a disciplina Introdução à Sociologia dos cursos de graduação em Socio-
logia, Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Administração de Empresas, Economia, História, 
Engenharia, entre outros, bem como dos cursos de pós-graduação (MBA e lato sensu) destas 
mesmas áreas, especialmente de Administração de Empresas.
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Sociologia
www.grupoa.com.br
Sociologia Schaefer.indd 1 24/10/13 09:53
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
S294s Schaefer, Richard T.
 Sociologia [recurso eletrônico] / Richard T. Schaefer ;
 tradução: Eliane Kanner, Maria Helena Ramos Bononi ;
 revisão técnica: Noêmia Lazzareschi, Sérgio José Schirato. –
 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.
 Publicado também como livro impresso em 2006.
 ISBN 978-85-8055-316-1
 1. Sociologia. I. Título. 
CDU 316
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
Índice para catálogo sistemático:
1. Sociologia 301
Iniciais_eletronica.indd 2 23/10/13 15:15
184 Capítulo 8
dam programas de compartilhamento de arquivo do seu 
quarto. A indústria fonográfica está reagindo ao exigir 
que as autoridades localizem os piratas e os processem 
(ver Figura 8-2).
Embora a maioria dessas atividades do mercado ne-
gro seja claramente ilegal, muitos consumidores e peque-
nos piratas estão orgulhosos do seu comportamento. Eles 
podem mesmo se considerar inteligentes por imaginar 
uma maneira de evitar os preços “injustos” cobrados pelas 
“grandes companhias”. Poucas pessoas vêem a pirataria de 
um novo programa de software ou da estréia de um filme 
como uma ameaça ao bem público, como seria uma ativi-
dade de fraude bancária. Do mesmo modo, em sua maio-
ria, os homens de negócio que “emprestam” software de 
outros departamentos, mesmo sem licença para o seu site, 
acham que não estão fazendo nada de errado. Nenhum 
estigma social é atribuído ao seu comportamento ilegal.
O desvio, então, é um conceito complexo. Pode ser 
tanto trivial como profundamente danoso. Às vezes é 
aceito pela sociedade e, em outras, claramente rejeitado. 
O que causa um comportamento desviante e a reação das 
pessoas a ele? Na próxima seção, vamos examinar quatro 
explicações teóricas do desvio.
Explicando o Desvio
Por que as pessoas infringem as normas sociais? Já vimos 
que os atos desviantes estão sujeitos ao controle social 
tanto formal quanto informal. A pessoa que não age em 
conformidade ou é desobediente enfrenta desaprovação, 
perde amigos, leva multas, ou até vai para a prisão. Então, 
por que acontece o desvio?
As primeiras explicações de desvio identificavam 
causas sobrenaturais ou fatores genéticos (como “sangue 
ruim” ou regressões evolutivas a ancestrais primitivos). 
No início do século XIX, foram feitos significativos esfor-
ços de pesquisa para identificar fatores biológicos que le-
vassem ao desvio, e especificamente à atividade criminal. 
Enquanto tais pesquisas eram desacreditadas no século 
XX, estudos contemporâneos, basicamente de bioquími-
cos, buscavam isolar fatores genéticos que sugerissem a 
possibilidade de certos traços de personalidade. Embora 
a criminalidade (muito menos o desvio) seja uma carac-
terística da personalidade, os pesquisadores estavam fo-
cados nos traços de personalidade que pudessem levar ao 
crime, como a agressão. Evidentemente, a agressão tam-
bém pode levar ao sucesso no mundo corporativo, nos 
esportes profissionais, ou em outros caminhos da vida.
O estudo contemporâneo de possíveis raízes bioló-
gicas da criminalidade é um aspecto de um 
debate mais amplo sobre a sociobiologia. De maneira 
geral, os sociólogos rejeitam qualquer ênfase nas raízes 
genéticas do crime e do desvio. As limitações dos conhe-
cimentos atuais, a possibilidade de reforçar pressuposi-
ções de preconceito racial e de gênero e as implicações 
perturbadoras da reabilitação de criminosos levam os 
sociólogos a se basear em outras abordagens para explicar 
o desvio (Sagarin e Sanchez, 1988).
perspectiva Funcionalista
De acordo com os funcionalistas, o desvio é uma parte 
comum da existência humana, com conseqüências po-
sitivas e negativas para a estabilidade social. O desvio 
ajuda a definir os limites do comportamento adequado. 
As crianças que vêem a mãe dar uma “bronca” no pai 
por arrotar à mesa aprendem sobre conduta aprovada. O 
mesmo acontece com o motorista que leva uma multa por 
excesso de velocidade, com o caixa do departamento que 
é despedido por gritar com o cliente, ou com o universi-
tário que é penalizado por entregar seus trabalhos depois 
de várias semanas de atraso.
O Legado de Durkheim Émile Durkheim ([1895] 1964) 
focalizou suas investigações sociológicas especialmente 
nos atos criminosos, embora suas conclusões tenham im-
plicações em todos os tipos de comportamento desviante. 
Na opinião de Durkheim, as punições estabelecidas em 
uma cultura (inclusive mecanismos formais e informais 
de controle social) ajudam a definir os comportamentos 
aceitáveis e, assim, contribuem para a estabilidade. Se os 
atos impróprios não fossem sancionados, as pessoas po-
deriam estender seus padrões para além do que constitui 
condutas apropriadas.
Kai Erikson (1966) ilustrou a função da manutenção 
dos limites do desvio em seu estudo dos puritanos do 
século XVII da Nova Inglaterra. Pelos padrões de hoje, os 
puritanos colocavam uma ênfase tremenda nos costumes 
convencionais. A perseguição e a execução de mulheres 
como bruxas representavam uma tentativa contínua de 
definir e redefinir os limites da sua comunidade. Com 
efeito, as suas normas sociais em mutação criaram “ondas 
de crimes” na medida em que pessoas cujo comporta-
mento era anteriormente aceitável de repente enfrenta-
vam punição por serem desviantes (Abrahamson, 1978; 
N. Davis, 1975).
Durkheim ([1897] 1951) introduziu o termo anomia 
na literatura sociológica para descrever a perda de dire-
ção sentida em uma sociedade quando o controle social 
do comportamento individual se torna ineficiente. A ano-
mia é um estado de falta de normas que ocorre durante 
um período de profunda mudança social e desordem, 
como um momento de colapso econômico. As pessoas 
se mostram mais agressivas ou deprimidas, o que resulta 
em taxas mais altas de crimes violentos e suicídios. Uma 
vez que existe muito menos concordância sobre o que é 
um comportamento adequado em tempos de revolução, 
prosperidade súbita ou depressão econômica, a confor-
midade e a obediência passam a ser menos importantes 
como forças sociais. Também fica muito mais difícil dizer 
exatamente o queé desvio.
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Desvio e Controle Social 185
viando-se delas. A teoria do desvio 
e da anomia de Merton postula 
cinco formas básicas de adaptação 
(ver Tabela 8-1).
A conformidade com as nor-
mas sociais, a adaptação mais co-
mum na tipologia de Merton, é o 
oposto do desvio. Envolve a acei-
tação tanto da meta social geral 
(“subir na vida”) quanto dos meios 
aprovados para atingi-la (“trabalhar 
duro”). Do ponto de vista de Mer-
ton, precisa haver algum consenso a 
respeito das metas culturais aceitas e 
dos meios legítimos para atingi-las. 
Sem tal consenso, as sociedades só 
poderiam existir como coletividades 
de pessoas, em vez de culturas unifi-
cadas, e poderiam experimentar um 
caos contínuo.
Todos os outros quatro tipos 
de comportamento representados na 
Tabela 8-1 envolvem algum aban-
dono da conformidade. O “inovador” 
aceita as metas da sociedade, mas as 
persegue com meios que são considerados inadequados. 
Por exemplo, o arrombador de cofres pode roubar dinheiro 
para comprar mercadorias de consumo e férias caras.
Na tipologia de Merton, o “ritualista” abandona a 
meta do sucesso material e se torna compulsivamente 
comprometido com os meios institucionais. O trabalho se 
torna apenas um meio de vida, em vez de um meio para 
atingir a meta do sucesso. Podemos citar como exemplo 
um burocrata que aplica regras e regulamentos cega-
mente, sem levar em conta metas maiores da organização. 
Isso também aconteceria se um assistente social se recu-
sasse a ajudar uma família sem-teto porque sua última 
residência estava localizada em outro bairro.
Protegidos pela escuridão, motoristas que disputam corridas nas ruas 
esperam pelo sinal de partida em uma via deserta de Los Angeles. Os 
conceitos de Sutherland de associação diferencial e transmissão cultural 
aplicaria-se à prática de corridas nas ruas da cidade.
A Teoria do Desvio de Merton O que um assaltante e 
um professor têm em comum? Cada um deles está “traba-
lhando” para obter dinheiro que possa então ser trocado 
pelas mercadorias que deseja. Como ilustra esse exemplo, 
o comportamento que infringe as normas aceitas (como 
assaltar pessoas) pode acontecer com os mesmos objeti-
vos básicos em mente que aqueles que buscam estilos de 
vida mais convencionais.
Com base nesse tipo de análise, o sociólogo Robert 
Merton (1968) adaptou a noção de Durkheim de anomia 
para explicar por que as pessoas aceitam ou rejeitam as 
metas de uma sociedade, os meios aprovados socialmente 
para atingir suas aspirações, ou ambos. Merton diz que 
uma importante meta cultural nos 
Estados Unidos é o sucesso, geral-
mente medido em termos de di-
nheiro. Além de passar essa meta 
para as pessoas, a sociedade oferece 
instruções específicas de como ser 
bem-sucedido – ir à escola, trabalhar 
duro, não desistir, tirar vantagem das 
oportunidades e assim por diante.
O que acontece com indiví-
duos em uma sociedade com uma 
grande ênfase em riqueza como um 
símbolo básico de sucesso? Mer-
ton argumentou que as pessoas se 
adaptam de determinadas maneiras, 
ou agindo em conformidade com 
as expectativas culturais, ou des-
Não-desviante 
 Conformidade Aceita Aceita
Desviante
 Inovação Rejeita Aceita
 Ritualismo Aceita Rejeita
 Retraimento Rejeita Rejeita
 Rebelião Substitui com novos meios Substitui com novas metas
tabela 8-1 Modos de adaptação individual
 Meios Meta Social
 Institucionalizados (aquisição
Modos (Trabalho Duro) de riqueza)
Fonte: adaptado de Merton, 1968, p. 194.
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186 Capítulo 8
O “retraído”, como descrito por Merton, basicamente 
abandonou tanto as metas quanto os meios aprovados 
pela sociedade. Nos Estados Unidos, viciados em drogas 
e desocupados são mostrados como retraídos. Existe uma 
crescente preocupação de que viciados em álcool se tor-
nem retraídos bem cedo.
A adaptação final identificada por Merton reflete 
as tentativas das pessoas de criar uma estrutura social 
nova. O “rebelde” se sente alienado dos meios e metas 
dominantes, e poderá buscar uma ordem social bastante 
diferente. Os membros de uma organização política 
revolucionária, como os grupos de milícia, podem ser in-
cluídos na categoria de rebeldes de acordo com o modelo 
de Merton.
A teoria de Merton, embora popular, tem relativa-
mente poucas aplicações. Não houve grandes esforços 
no sentido de determinar até que ponto todos os atos de 
desvio podem ser incluídos nos cinco modos. Além disso, 
essa teoria é útil para examinar certos tipos de compor-
tamento, como jogo ilegal praticado por “inovadores” 
desprivilegiados, mas a sua formulação não explica as di-
ferenças-chave nas taxas de criminalidade. Por exemplo, 
por que alguns grupos de pessoas desprivilegiadas têm 
uma taxa de criminalidade relatada mais baixa do que 
outros? Por que muitas pessoas em circunstâncias adver-
sas rejeitam a atividade criminal como uma alternativa 
viável? A teoria do desvio de Merton não responde essas 
perguntas facilmente (Clinard e Miller, 1998).
Ainda assim, Merton deu uma contribuição im-
portante para o entendimento sociológico do desvio, 
apontando que os desvios dos inovadores e ritualistas, 
por exemplo, têm muito em comum com as pessoas que 
agem em conformidade com os valores sociais. Um preso 
poderá ter as mesmas aspirações das pessoas sem um 
passado de crimes. A teoria nos ajuda a entender o des-
vio como um comportamento criado socialmente, e não 
como o resultado de impulsos patológicos momentâneos.
perspectiva Interacionista
A abordagem do desvio dos funcionalistas explica por 
que a violação das regras continua a acontecer apesar 
da pressão para exigir conformidade e obediência. 
Entretanto, os funcionalistas não indicam como uma 
determinada pessoa comete um ato desviante, ou por 
que em algumas ocasiões crimes acontecem ou deixam 
de acontecer. A ênfase no comportamento diário, que 
é o foco da perspectiva interacionista, oferece duas 
explicações para o crime – transmissão cultural e teoria 
das atividades de rotina.
Transmissão Cultural Os grafiteiros descritos por Susan 
Phillips na abertura do capítulo aprendem uns com os 
outros. De fato, Phillips (1999) surpreendeu-se ao ver 
como era estável o foco deles com o passar do tempo. Ela 
também notou como outros grupos étnicos se baseiam 
em modelos das gangues afro-americanas e chicanas, so-
brepondo símbolos do Camboja, da China ou do Vietnã.
Os seres humanos aprendem como se comportar nas 
situações sociais, adequada ou inadequadamente. Não 
existe uma maneira natural, inata, pela qual as pessoas 
interagem umas com as outras. Essas idéias simples já não 
são discutidas hoje em dia, mas esse não era o caso quando 
o sociólogo Edwin Sutherland (1883–1950) expressou 
pela primeira vez a idéia de que um indivíduo passa pelo 
mesmo processo de socialização básica no aprendizado 
dos atos de conformidade e dos atos desviantes.
As idéias de Sutherland são a força dominante na 
criminologia. Ele se baseou na escola da transmissão 
cultural, que enfatiza que uma pessoa aprende um 
comportamento criminoso interagindo com as demais. 
Tal aprendizado inclui não apenas técnicas de infringir 
a lei (por exemplo, como furtar um carro rápida e si-
lenciosamente), mas também os motivos, estimulantes 
e racionalizações do criminoso. A abordagem da trans-
missão cultural também pode ser usada para explicar o 
comportamento daqueles que habitualmente abusam do 
álcool e das drogas.
Sutherland afirmava que, pelas interações com um 
grupo primário e outras pessoas importantes, os indi-
víduos adquirem as definições de comportamento ade-
quado e inadequado. Ele usou a expressão associação 
diferencial para descrever o processo por meio do qual 
a exposição a atitudes favoráveis a atos criminosos leva 
à violação das regras. Pesquisas sugerem que essa visão 
de associação diferencial também se aplica a desvio não-
criminoso como fumar, matar aulas e comportamento 
sexual precoce (E. Jackson et al., 1986).
Até queponto uma determinada pessoa participará 
de atividades que sejam consideradas adequadas ou ina-
dequadas? Para cada indivíduo, dependerá da freqüência, 
duração e importância de dois tipos de interação social – 
as experiências que apóiam um comportamento desviante 
e aquelas que promovem têm a aceitação das normas 
sociais. As pessoas provavelmente um comportamento de 
desafio se fizerem parte de um grupo ou subcultura que 
enfatiza valores desviantes, como as gangues de rua.
Sutherland dá o exemplo de um garoto que é sociável, 
comunicativo e atlético e vive em uma área com uma alta 
taxa de delinqüência. O jovem tem mais probabilidade de 
entrar em contato com pares que cometem atos de vanda-
lismo, faltam à escola e assim por diante, e poderá, então, 
adotar tal comportamento. Entretanto, um garoto intro-
vertido que vive no mesmo bairro poderá ficar longe dos 
seus pares e evitar a delinqüência. Em outra comunidade, 
um garoto extrovertido e atlético poderá entrar para a liga 
infantil do time de basquete, ou os escoteiros por causa 
de suas interações com os pares. Assim, Sutherland vê 
o comportamento impróprio como resultado dos tipos 
de grupos aos quais uma pessoa pertence e dos tipos de 
amizades que ela tem (Sutherland et al., 1992).
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Desvio e Controle Social 187
De acordo com os críticos, no entanto, a abordagem 
da transmissão cultural pode explicar o comportamento 
desviante de delinqüentes juvenis ou grafiteiros, mas não a 
conduta de um ladrão de loja iniciante, ou a de uma pessoa 
empobrecida que furta por necessidade. Embora não seja 
uma explicação precisa do processo pelo qual uma pessoa 
se torna um criminoso, a teoria da associação diferencial 
direciona a nossa atenção para o papel fundamental da 
interação social no aumento da motivação de uma pessoa 
para ter um comportamento desviante (Cressey, 1960; E. 
Jackson et al., 1986; Sutherland et al., 1992).
Teoria das Atividades de Rotina (Routine Activities 
Theory). Outra explicação interacionista mais recente 
considera as condições necessárias para que um crime 
ou um ato desviante ocorram: deverá existir, ao mesmo 
tempo e no mesmo local, um criminoso, uma vítima e/ou 
uma propriedade. A teoria das atividades de rotina diz 
que a vitimação criminosa aumenta quando os criminosos 
motivados e alvos adequados convergem. Nem é preciso 
dizer que não pode haver um furto de carro sem carros, 
mas a maior disponibilidade de automóveis mais valiosos 
aos ladrões potenciais aumenta a possibilidade de ocorrer 
tal crime. Estacionamentos de universidades e aeroportos, 
onde os veículos são deixados em locais isolados por pe-
ríodos longos, representam um novo alvo para crimes que 
não se conhecia na geração anterior. Esse tipo de atividade 
rotineira pode ocorrer mesmo em uma casa. Se o pai ou 
a mãe mantêm uma variedade de garrafas de bebida em 
um lugar facilmente acessível, os jovens podem retirar os 
conteúdos sem atrair a atenção para o seu “crime”. O nome 
dessa teoria deriva do fato de os elementos de um ato 
criminoso ou desviante acompanham atividades normais, 
permitidas e rotineiras. Ela é considerada interacionista 
porque enfatiza o comportamento diário e as interações 
sociais em âmbito micro.
Os defensores dessa teoria vêem-na como uma 
explicação poderosa para o aumento dos crimes nos 
últimos cinqüenta anos, ou seja, as atividades de ro-
tina mudaram, possibilitando mais crimes. As casas 
ficam vazias durante o dia, ou durante longos perío-
dos de férias, tornando-se mais acessíveis como alvos 
do crime. A presença maior de mercadorias de con-
sumo portáveis, como equipamentos de vídeo e com-
putadores, é outra variável que aumenta a possibilidade 
de crimes (L. Cohen e Felson, 1979; Felson, 2002).
Algumas pesquisas importantes sustentam a teoria 
das atividades de rotina. Por exemplo, estudos feitos 
depois que o furacão Andrew passou na Flórida (1992) 
mostram que certos crimes aumentaram conforme os ci-
dadãos e suas propriedades se tornaram mais vulneráveis. 
Estudos de crimes urbanos documentam a existência de 
“bocas quentes”, como destinos de turistas e caixas auto-
máticos, onde as pessoas têm maior probabilidade de ser 
vítimas de roubos por causa das suas idas e vindas rotinei-
ras (Cromwell et al., 1995; Sherman et al., 1989).
Teoria do Rótulo
Os Saints e os Roughnecks eram dois grupos de meninos 
do ensino fundamental que estavam sempre envolvidos em 
grandes bebedeiras, dirigiam de forma agressiva, faltavam 
às aulas, cometiam pequenos furtos e vandalismo. Aqui 
terminavam as semelhanças. Nenhum dos Saints jamais foi 
preso, mas todos os garotos do grupo Roughnecks estavam 
freqüentemente envolvidos em problemas com a polícia 
e com as pessoas da cidade. Por que essa disparidade de 
tratamento? Com base em pesquisa de observação na sua 
escola, o sociólogo William Chambliss (1973) concluiu que 
a classe social desempenhava papel importante no destino 
diferente dos dois grupos.
Os Saints se escondiam atrás de uma fachada de res-
peitabilidade. Vinham de “boas famílias”, eram ativos nas 
organizações da escola, pretendiam ir para a faculdade e ti-
ravam boas notas. As pessoas geralmente viam os seus atos 
delinqüentes como casos isolados de excesso de energia. 
Na década de 1930, o Federal Bureau of Narcotics 
(Agência Federal de Narcóticos) lançou uma 
campanha para mostrar a maconha como uma 
droga perigosa, e não uma substância que induz 
ao prazer. Da perspectiva do conflito, os poderosos 
usam freqüentemente táticas para forçar os outros 
a adotarem um ponto de vista diferente.
Capitulo 08.indd 187 23/10/13 15:01
188 Capítulo 8
Os Roughnecks não tinham essa aura de respeitabilidade. 
Eles dirigiam carros arrebentados pela cidade, não iam 
bem na escola de uma maneira geral e levantavam suspei-
tas independentemente do que fizessem.
É possível entender essas discrepâncias usando uma 
abordagem do desvio conhecida como teoria do rótulo. 
Diferentemente do trabalho de Sutherland, a teoria do 
rótulo não foca por que alguns indivíduos cometem atos 
desviantes. Ao contrário, tenta explicar por que certas 
pessoas (como os Roughnecks) são vistas como desviantes, 
delinqüentes, jovens maus, perdedores e criminosos, ao 
passo que outros cujo comportamento é semelhante (como 
os Saints) não são vistos de forma tão dura. Refletindo a 
contribuição dos teóricos do interacionismo, a teoria da 
rotulagem enfatiza como uma pessoa vem a ser tachada 
de desviante, ou a aceitar tal rótulo. O sociólogo Howard 
Becker (1963, p. 9; 1964), que popularizou essa abordagem, 
resumiu-a com a frase: “Comportamento desviante é o 
comportamento que as pessoas rotulam de desviante”.
A teoria da rótulo também é chamada de abordagem 
da reação social, que nos lembra ser a resposta a um ato, 
e não um comportamento em si, que determina o des-
vio. Por exemplo, estudos mostram que funcionários de 
escolas e terapeutas expandem programas educacionais 
criados para estudantes com problemas de aprendizado 
de forma a incluírem alunos com problemas de compor-
tamento. Portanto, um “encrenqueiro” pode ser rotulado 
de forma inadequada como um aluno com problemas de 
aprendizado, e vice-versa.
Tradicionalmente, pesquisas sobre desvio focalizam 
pessoas que violam as normas sociais. Ao contrário, 
a teoria do rótulo foca a polícia, os guardas de sursis, 
funcionários da administração das escolas, psiquiatras, 
juízes, professores e outros reguladores do controle so-
cial. Diz-se que esses agentes desempenham um papel 
importante na criação de identidades desviantes apon-
tando certas pessoas (e não outras) como desviantes. 
Um importante aspecto da teoria do rótulo é o reconhe-
cimento que alguns indivíduos ou grupos têm o poder 
de definir rótulos e aplicá-los aos outros. Essa visão está 
ligada à ênfase da perspectiva do conflito na importân-
cia social do poder.
Nos últimos anos, a prática do perfil racial, em que 
as pessoas são identificadas como suspeitos crimino-sos apenas com base na sua raça, está sob o escrutínio 
público. Estudos confirmam as suspeitas do público de 
que em algumas jurisdições os policiais tendem a parar 
mais homens afro-americanos do que homens brancos 
em transgressões de tráfego de rotina, na expectativa de 
encontrar drogas ou armas no carro. Os ativistas dos di-
reitos civis se referem a esses casos sarcasticamente como 
transgressões DWB* (Driving While Black). A partir de 
2001, a atividade de fazer perfil mudou quando pessoas 
que pareciam ser árabes ou muçulmanas começaram a 
despertar atenção especial.
A abordagem do rótulo não explica totalmente por 
que certas pessoas aceitam um rótulo, e outras dão um 
jeito de rejeitá-lo. Essa perspectiva pode exagerar a fa-
cilidade com que os julgamentos sociais são capazes de 
alterar a nossa auto-imagem. Os teóricos do rótulo de 
fato sugerem que o poder que uma pessoa tem sobre as 
outras é importante na determinação da capacidade de 
resistir a um rótulo indesejável. Abordagens diferentes 
não explicam (inclusive a de Sutherland) por que alguns 
desviantes continuam a ser vistos como conformistas 
em vez de como infratores das regras. De acordo com 
Howard Becker (1973), a teoria do rótulo não foi criada 
como uma explicação única do desvio, seus proponentes 
esperavam focalizar com maior atenção a importância 
inegável das ações das pessoas que possuem oficialmente 
a responsabilidade de definir o desvio (N. Davis, 1975; 
comparar com Cullen e Cullen, 1978).
A popularidade da teoria do rótulo se reflete na 
emergência de uma perspectiva relacionada, chamada 
construtivismo social. Segundo a perspectiva do cons-
trutivismo social, o desvio é o produto da cultura em 
que vivemos. Os construtivistas sociais focalizam espe-
cificamente o processo de tomada de decisões que cria 
uma identidade desviante. Eles apontam que “raptores 
de crianças”, “pais preguiçosos”, “assassinos periódicos” e 
“estupradores em encontros” sempre estiveram entre nós, 
mas às vezes se tornam um grande problema social dos 
elaboradores de políticas por causa da cobertura intensa 
dos meios de comunicação (Liska e Messner, 1999; E. R. 
Wright et al., 2000).
Imagine que você seja um professor. Que rótulos usados 
livremente em círculos educacionais você daria a seus 
estudantes?
Teoria do conflito
Os teóricos do conflito apontam que as pessoas com 
poder protegem seus próprios interesses e definem o 
desvio de forma a atender suas próprias necessidades. 
O sociólogo Richard Quinney (1974, 1979, 1980) é o 
expoente máximo da visão de que o sistema penal serve 
aos interesses dos poderosos. O crime, segundo Quinney 
(1970), é uma definição de conduta criada pelos agentes 
autorizados do controle social – como legisladores e po-
liciais – em uma sociedade politicamente organizada. Ele 
e outros teóricos do conflito afirmam que fazer as leis é 
freqüentemente uma tentativa dos poderosos de impor 
aos outros a sua própria moralidade (ver também Spitzer, 
1975).
*NT: A expressão nos Estados Unidos para dirigir alcoolizado 
é “Driving While Intoxicated” – DWI. Aqui há uma ironia com 
esse termo, e a tradução seria “Dirigindo enquanto (se é) Negro”.
Use a Sua Imaginação Sociológica
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Desvio e Controle Social 189
189
A raça importa no sistema penal. Os te-óricos do conflito nos lembram que, apesar de o objetivo básico da lei 
ser manter a estabilidade e a ordem, ela 
na verdade perpetua a desigualdade. Em 
muitos casos, os policiais usam seus po-
deres discricionários – decisões tomadas 
a seu próprio critério quanto a se devem 
ou não apresentar uma queixa, se devem 
estabelecer fiança e de quanto, oferecer 
liberdade condicional ou negá-la – de 
forma preconceituosa. Os pesquisadores 
descobriram que as diferenças discricio-
nárias na forma como o controle social 
é exercido colocam os afro-americanos 
e os latinos, tanto jovens quanto adultos, 
em desvantagem no sistema judiciário 
norte-americano. Dessa forma, Richard 
Quinney e outros teóricos do conflito ar-
gumentam que o sistema penal mantém 
pobres e oprimidos em sua posição de 
desfavorecidos.
for branca e não-hispânica do que se for 
não-branca ou hispânica.
Vamos Discutir
1. Você conhece alguém que foi tra-
tado com clemência pelo sistema 
judiciário? Se sim, essa pessoa era 
branca? Por que você acha que a 
polícia ou outros policiais usaram 
seus poderes discricionários para 
desculpar a ofensa da pessoa ou 
reduzir as penalidades?
2. Além da raça, que outros fatores 
podem contribuir para as sentenças 
desproporcionalmente severas de 
réus negros e pobres? Explique.
no direito penal por não terem acesso 
financeiro a bons advogados de defesa 
quando envolvidos em atos supostamente 
criminosos, o que implica aumento de suas 
penas e/ou condenações indevidas.
A raça desempenha um papel essencial 
nos casos de pena de morte, como mostra 
a figura. Os não-hispânicos brancos repre-
sentam até 71% da população dos Estados 
Unidos, mas constituem apenas 45% dos 
criminosos condenados à morte. Os teóri-
cos do conflito indicam que uma maioria 
devastadora de promotores em casos de 
pena de morte são brancos e não-hispâ-
nicos. A raça da vítima importa muito em 
tais casos também. Estudos mostram que 
um criminoso preso tem mais probabili-
dade de ser condenado à morte se a vítima 
Em média, os infratores brancos 
recebem sentenças menores em 
comparação com os infratores 
latinos e afro-americanos.
Como os sociólogos determinam se 
os suspeitos ou infratores são tratados de 
forma diferente com base em sua raça, 
etnia e classe social? Uma maneira é obser-
var os criminosos condenados e comparar 
as sentenças que receberam por crimes 
equivalentes. A tarefa pode ser complicada, 
porque os pesquisadores devem levar em 
consideração diversos fatores que afetam a 
sentença. Por exemplo, no seu estudo dos 
dados do tribunal federal, os sociólogos 
Darrell Steffensmeier e Stephen Demuth 
examinaram a gravidade do crime e o 
registro de prisões anteriores dos conde-
nados. Mesmo depois de levarem em conta 
esse e outros fatores, eles descobriram que, 
em média, os infratores brancos recebem 
sentenças menores em comparação com os 
infratores latinos e afro-americanos.
A grande maioria da população brasi-
leira é, como se sabe, constituída de afro-
descendentes que continuam a sofrer dis-
criminação em todas as dimensões da vida 
social, sobretudo no mercado de trabalho. 
Discriminados e quase sempre pobres, os 
negros no Brasil são muito desfavorecidos 
Todos
os outros
29%
Brancos,
não-hispânicos
45%
Brancos,
não-hispânicos
71% Todos
os outros
3%
Brancos,
não-hispânicos
97%
Todos
os outros
55% 
Brancos,
não-hispânicos
81%
Todos
os outros
19%
População dos
Estados Unidos
Promotores em
casos de pena de morte
Condenados no
corredor da morte
Raça da vítima em
caso de pena de morte
Fontes: Baseado no Bureau of the Census, 2003a; Death Penalty Information Center, 2004.
Raça e Pena de Morte
Nota: os dados sobre a população são de 2000; dados sobre promotores, de 1998; dados sobre 
presos, de 1o de dezembro de 2003; e dados sobre vítimas, de 1977 a 1o de dezembro de 2003.
Fontes: Bushway e Piehl, 2001; Dighton, 2003; Hawkins et al., 2002; Liptak, 2004b; Quinney, 1974; Steffensmeier e Demuth, 2000.
Desigualdade Social
8-2 jUstiça discricionária
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190 Capítulo 8
Essa teoria ajuda a explicar por que a nossa sociedade 
tem leis contra o jogo, o uso de drogas e a prostituição, 
muitas das quais são transgredidas em grande escala 
(vamos examinar “crimes sem vítimas” adiante, neste 
capítulo). Segundo os teóricos do conflito, o direito penal 
não representa uma aplicação coerente dos valores sociais, 
ao contrário, reflete valores e interesses concorrentes. As-
sim, a maconha é proibida nos Estados Unidos e no Brasil 
porque se diz que faz mal aos usuários, embora os cigarros 
e o álcool sejam vendidos legalmente em quase todos os 
lugares. Da mesmaforma, os teóricos do conflito discutem 
que todo o sistema penal dos Estados Unidos trata os sus-
peitos de forma diferenciada com base em sua raça, etnia 
ou classe social (ver Quadro 8-2).
A perspectiva defendida pelos teóricos do conflito 
e do rótulo cria um grande contraste com a abordagem 
funcionalista do desvio. Os funcionalistas vêem os padrões 
do comportamento desviante como meramente um reflexo 
das normas culturais; os teóricos do conflito e do rótulo 
apontam que os grupos mais poderosos de uma sociedade 
podem moldar leis e padrões para determinar quem será 
(ou não) processado como criminoso. Esses grupos dificil-
mente aplicariam o rótulo de “desviante” ao executivo de 
uma companhia cujas decisões levassem a uma poluição 
ambiental em larga escala. Na opinião dos teóricos do 
conflito, os agentes do controle social e outros grupos po-
derosos podem impor, ao público em geral, definições de 
desvio que atendem a seus objetivos.
perspectiva Feminista
Criminologistas feministas, como Freda Adler e Meda 
Chesney-Lind, sugeriram que muitas das abordagens exis-
tentes do desvio e do crime foram desenvolvidas apenas 
com os homens em mente. Por exemplo, nos Estados Uni-
dos, durante muitos anos, qualquer marido que forçasse 
sua mulher a ter relações sexuais com ele – sem o consen-
timento dela e contra a sua vontade – não seria acusado de 
ter cometido estupro. A lei definia estupro apenas como 
ato forçado em relações sexuais entre pessoas que não 
eram casadas entre si, o que refletia a composição avassa-
ladora de homens da legislatura estadual da época.
Foram necessários muitos protestos das organizações 
feministas para conseguir mudanças no direito penal da 
definição de estupro. A partir de 1996, os maridos em 
todos os cinqüenta estados norte-americanos podem ser 
processados na maioria das circunstâncias por estupro de 
suas esposas. Ainda permanecem exceções alarmantes: 
por exemplo, no Tennessee, um marido poderá usar legal-
mente força ou coerção para manter relações com sua mu-
lher se não utilizar qualquer arma, e não causar “ferimento 
corporal grave”. Apesar de tais exceções, o movimento das 
mulheres levou a mudanças importantes na noção de cri-
minalidade da sociedade. Por exemplo, juízes, legisladores 
e policiais agora consideram o fato de o homem bater em 
sua esposa e outras formas de violência doméstica como 
crimes sérios (National Center on Women and Family 
Law, 1996). No Brasil foram criadas Delegacias Especiais 
de Atendimento às Mulheres (Deam) para registrar e punir 
os responsáveis por atos de violência contra elas, e para 
protegê-las após as denúncias de estupro, agressão física e 
espancamento, muito comuns em todas as classes sociais. 
Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo realizada 
em 2002, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no 
Brasil, estimando-se que mais de dois milhões de mulheres 
sejam espancadas a cada ano por maridos, namorados, ou 
“ex”. Mas a legislação brasileira para combater o espanca-
mento de mulheres “endureceu” em meados de 2006. A 
pena máxima aumentou de 1 ano para 3 anos e não há 
mais a possibilidade de cumprir pena alternativa, como 
pagar cestas básicas.
Quando se trata de crime e desvio em geral, a sociedade 
tende a tratar as mulheres de maneira estereotipada. Por 
exemplo, as mulheres que têm vários e freqüentes parceiros 
sexuais têm mais probabilidade de ser vistas com mais des-
prezo do que homens que são promíscuos. As visões cultu-
rais e as atitudes em relação às mulheres influenciam como 
elas são percebidas e rotuladas. A perspectiva feminista 
também enfatiza que o desvio, incluindo o crime, tende a 
fluir das relações econômicas. Tradicionalmente, os homens 
possuem mais poder do que suas esposas. Como resultado, 
as mulheres podem relutar em informar atos de abuso às 
autoridades e, assim, perderem o que pode ser sua fonte 
primária ou talvez única de renda. No local de trabalho, os 
homens exercem muito mais poder do que as mulheres na 
determinação dos preços, na contabilidade e no controle dos 
produtos, o que lhe dá mais oportunidades de cometer cri-
mes como desfalques e fraudes. Mas conforme as mulheres 
ganham um papel mais ativo e mais poder tanto em casa 
quanto nos negócios, as diferenças entre os sexos em relação 
ao desvio e ao crime com certeza diminuirão (F. Adler, 1975; 
F. Adler et al., 2004; Chesney-Lind, 1989).
No futuro, o número de estudiosas feministas deverá 
crescer bastante. Particularmente em áreas como crimes 
do colarinho branco, comportamento em relação à bebida, 
abuso de drogas e taxas de condenação diferentes entre os 
sexos, bem como na questão fundamental de como definir 
desvio, as estudiosas feministas terão muito a dizer.
Já vimos que, durante o último século, os sociólogos fi-
zeram diversas abordagens diferentes do estudo do desvio, 
levantando algumas controvérsias no processo. A Tabela 
8-2 resume as várias abordagens teóricas desse tópico.
criMe
Um crime é uma transgressão do direto penal à qual al-
gumas autoridades governamentais aplicam penalidades 
formais. Representa o desvio das normas sociais formais 
administradas pelo Estado. As leis dividem os crimes em 
diversas categorias, dependendo da gravidade da ofensa, 
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	Sociologia
	Explicando o desvio

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