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MMBBAA EEXXEECCUUTTIIVVOO EEMM NNEEGGÓÓCCIIOOSS FFIINNAANNCCEEIIRROOSS GESTÃO DE PESSOAS II Coordenador: Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto Autores: Profa. Celisa Gonçalves Prof. Jorge Luiz Cunha da Rocha Prof. José Roberto Gomes Profa. Patricia Amélia Tomei Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto Tutoria a Distância IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 2 ÍNDICE Cultura e Poder Na rganização – Tema 1 ................................................................9 1.1 Objetivos do Tema.............................................................................................9 1.2 Introdução..........................................................................................................9 1.3 O Significado do Poder ....................................................................................10 1.4 As Bases de Poder para os Indivíduos e para as Organizações .....................11 1.5 A Delegação de Poder (Empowerment) ..........................................................14 1.6 Relações de Poder nas Novas Configurações Organizacionais......................20 1.7 Administração da Mudança Organizacional: Mudança Reativa e Pró-Ativa ....36 1.8 Modelos do Processo de Mudança..................................................................42 1.9 A Reação Humana à Mudança: Causas de Resistência e o Grau de Resiliência .............................................................................................................44 Resumo do Tema ..................................................................................................50 1.10 Administração da Mudança Organizacional: Mudança Reativa e Pró-Ativa ..53 1.11 Modelos do Processo de Mudança................................................................54 1.12 A Reação Humana à Mudança: Causas de Resistência e o Grau de Resiliência .............................................................................................................54 Referências Bibliográficas .....................................................................................54 Desenvolvimento Gerencial – Tema 02 .................................................................59 2.1 Introdução........................................................................................................59 2.2 A Evolução dos Modelos Gerenciais ...............................................................60 2.2.1 Modelos de Gestão: Uma Perspectiva Evolutiva ......................................60 Os Quatro Modelos em um Único Arcabouço........................................................64 O Uso de Modelos Antagônicos ............................................................................66 Complexidade Comportamental e Eficácia dos Líderes Gerenciais ......................67 2.2.2 Como se Tornar um Gerente: A Necessidade de Novas Competências...67 Oito Papéis ............................................................................................................67 2.2.2.1 Modelo das Metas Racionais: Os Papéis de Diretor e Produtor .........68 2.2.2.2 Modelo dos Processos Internos: Os Papéis do Monitor e do Coordenador...................................................................................................69 2.2.2.3 Modelo das Relações Humanas: Os Papéis de Facilitador e de Mentor .......................................................................................................................69 2.2.2.4 Modelo dos Sist. Abertos: Os Papéis de Inovador e Negociador .......69 2.2.2.5 Os Oito Papéis em Diferentes Níveis Organizacionais.......................70 2.2.3 Organizando o Processo de Aprendizagem..............................................71 2.3 Empowerment: Uma Abordagem Crítica .........................................................72 2.3.1 Os Tipos de Comprometimento ................................................................73 2.3.2 Os Programas de Mudança Aumentam as Contradições Internas ...........77 2.3.3 As Resistências dos CEOs .......................................................................78 2.3.4 Os Empregados Questionam ....................................................................79 2.3.5 Os Agentes de Mudança Inibem o Empowerment ....................................81 2.3.6 Que Deve ser Feito? .................................................................................83 2.4 Considerações Finais...................................................................................85 IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 3 Por fim, cabe lembrar que EMPOWERMENT é e não é...:....................................86 Referências Bibliográficas: ....................................................................................86 Gestão do Conhecimento - Tema 3 .......................................................................90 3.1. Introdução.......................................................................................................90 3.2. A Organização Pensada Com o Auxílio de Imagens ......................................91 3.3. A Imagem da Máquina e o Esforço de Construir Previsibilidade ....................92 3.4. A Imagem do Organismo e o Esforço de Construir Adaptabilidade................98 3.5. A Imagem do Cérebro e o Esforço de Produzir uma Organização Inteligente .............................................................................................................................102 3.5.1 Olhando com Mais Atenção Para Algumas Características do Cérebro .103 3.5.2 O Conceito de “Aprender A Aprender” ....................................................105 3.5.3. O Cérebro Visto como um Sistema Holográfico.....................................107 3.5.4. Síntese dos Princípios da Organização Cérebro ...................................110 3.6. A Comparação Entre as Três Imagens.........................................................110 3.7. A Organização Inteligente e Inovadora e a Gestão do Conhecimento .........111 3.8. E Como Construir uma Gestão do Conhecimento Organizacional Voltada Para a Inovação? .........................................................................................................115 3.9. A Gestão do Conhecimento como um Processo Contínuo e Coletivo ..........118 3.10. A Gestão Do Conhecimento Na Prática......................................................122 3.11. Considerações Finais .................................................................................130 3.12. Resumo do Capítulo ...................................................................................131 Referências:.........................................................................................................132 Aprendizagem Organizacional – Tema 4.............................................................135 Aprendizagem Organizacional.............................................................................135 4.1 Introdução......................................................................................................135 4.2 A Organização que Aprende (Learning Organization) ...................................136 4.3 As Condições para o Aprendizado em Grupo................................................143 4.4 As Condições do Aprendizado Individual.......................................................146 4.4.1 Aprender não é Simplesmente se Informar sobre Algo...........................147 4.4.2 Aprender não é Simplesmente Reproduzir Comportamentos .................148 4.4.3 As Principais Abordagens sobre o Processo de Aprendizagem .............148 4.4.3.1 A Abordagem Comportamental ........................................................149 4.4.3.2 A Abordagem Cognitivista ................................................................151 4.4.3.3. A Abordagem Eperimental...............................................................155 4.4.3.4 Os Estilos deAprendizagem – A Tipologia de Kolb..........................157 4.5. Considerações Finais ...................................................................................160 Referências..........................................................................................................160 Gestão de Competência – Tema 5 .......................................................................166 5.1 Introdução......................................................................................................166 5.2 Que é Competência.......................................................................................167 5.3 Competência e Qualificação Profissional.......................................................170 5.4 Competências Organizacionais .....................................................................174 5.4.1. Identificar as Competências Essenciais .................................................177 5.4.2 Definição de uma Agenda de Aquisição de Competências Essenciais...178 5.4.3 Desenvolvimento de Novas Competências Essenciais...........................179 5.4.4 Proteção e Defesa da Liderança das Competências Essenciais ............179 5.5 Competências Funcionais..............................................................................180 5.6 Das Competências Organizacionais às Individuais .......................................182 IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 4 5.6.1 Aprender a Pensar ..................................................................................183 5.6.2 Resolução de Problemas ........................................................................183 5.6.3 Criatividade .............................................................................................183 5.6.4 Aprender a Aprender...............................................................................184 5.7 Considerações Finais ....................................................................................184 Referências Bibliográficas: ..................................................................................188 Políticas de Remuneração Variável e sua Importância Estratégica – Tema 6 .192 Introdução............................................................................................................192 6.1 Formulação e Implementação de Políticas Salariais Coerentes com a Estratégica dos Negócios ....................................................................................192 6.1.1 Política Salarial .......................................................................................192 6.1.2 Elementos da Política Salarial.................................................................193 6.1.3 O Conteúdo de uma Política Salarial ......................................................194 6.1.4 Posicionamento Salarial..........................................................................194 6.2. Aspectos Metodológicos sobre Descrição, Análise e Avaliação de Cargos..195 6.2.1 Análise de Função e Descrição de Cargo ...............................................195 6.2.2 Metodologia.............................................................................................195 6.2.3 Áreas de Análise .....................................................................................197 6.2.4 Titulação dos Cargos ..............................................................................198 6.2.5 Descrição dos Cargos .............................................................................198 6.2.6 Principais Campos do Formulário de Descrição de Cargo......................200 6.2.7 Manual de Descrição de Cargos .............................................................200 6.2.8 Avaliação de Cargos ...............................................................................203 6.2.9 Quando é Necessário Avaliar?................................................................204 6.2.10 Avaliação de Cargos .............................................................................205 6.2.11 PROGRAMA DE SALÁRIOS E BENEFÍCIOS.......................................205 6.2.12 Práticas de Mercado .............................................................................205 6.2.13 Sistema de Remuneração Estratégica ..................................................206 Principais Modelos de Remuneração Variável Praticados no Mercado...............208 6.3 O Conceito de Remuneração Global .............................................................212 6.3.1 Sistema de Remuneração Global ...........................................................212 6.4. Pesquisa de Mercado ...................................................................................214 6.4.1 Pesquisa de Cargos, Salários e Benefícios ............................................214 6.4.2 Metodologia da Pesquisa ........................................................................214 6.4.3 Escolha dos Cargos ................................................................................214 6.4.4 Cargos-Chave e Cargos Diferenciados...................................................215 6.4.5 Escolha das Empresas Participantes ......................................................216 6.4.6 Painel de Empresas ................................................................................217 6.4.7 Planejamento da Pesquisa......................................................................217 6.4.8 Convite aos Participantes........................................................................217 6.4.9 Caderno de Coleta de Dados..................................................................217 6.5. CONCLUSÃO ...............................................................................................218 6.6. Bibliografia ....................................................................................................219 Avaliação de Potenciais e Desempenhos – Tema 7...........................................222 Objetivos:.............................................................................................................222 Introdução............................................................................................................222 7.1 Diferença entre Desempenho e Potencial .....................................................224 7.1.1 Que é Avaliação de Desempenho?.........................................................224 IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 5 7.1.2 Que é Avaliação de Potencial? ...............................................................225 7.1.3 Para que Servem as Avaliações de Desempenho e Potencial? .............226 7.2 Variáveis para Identificação de Talentos .......................................................227 A - “HIGH-FLYERS”......................................................................................227 B - “MA NTENEDORES” ..............................................................................228 C - “TRAINEES” / RECÉM-PROMOVIDOS..................................................228 D - “PROBLEMA 1”.......................................................................................228 E - “PROBLEMA 2”.......................................................................................229 7.2.1 Indicadores de Alto Potencial ..................................................................229 7.3 Coleta de Informações para Avaliação de Desempenho e de Potencial .......231 7.4 Erros de Propensão.......................................................................................232 7.4.1 Razões para as Falhas nos Programas de Avaliação.............................234 7.5 Importância da Vinculação da Avaliação de Desempenho e Potencial com Planos de Carreira, Sistemas de Recompensas e Gestão da Eqüidade no Trabalho...............................................................................................................235 7.6 Disciplinando a Subjetividadedas Avaliações de Desempenho....................236 7.6.1 Credibilidade e Críticas ...........................................................................237 7.6.2 Como Fazer o Gerenciamento do Desempenho de seu Subordinado....238 7.6.3 Como o Uso da Avaliação pode se Transformar em Fonte de Melhoria da Relação Líder x Equipe....................................................................................241 7.6.4 Conduzindo a Entrevista de Avaliação....................................................244 7.7 Conclusão......................................................................................................247 7.8 Referências Bibliográficas .............................................................................249 IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 6 GESTÃO DE PESSOAS II EMENTA prendizagem nas organizações. Gestão do conhecimento. Políticas de remuneração variável e sua importância estratégica. Avaliação de poten- ciais e desempenhos. Gestão por competência. Poder e mudança organizacional. Desenvolvimento gerencial. CARGA HORÁRIA 30 horas. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Tema Tema 1: 5 Horas Cultura e Poder na Organização Tema 2: 4 Horas Desenvolvimento Gerencial Tema 3: 4 Horas Gestão do Conhecimento Tema 4: 4 Horas Aprendizagem Organizacional Tema 5: 5 Horas Gestão de Competência Tema 6: 4 Horas Políticas de Remuneração Variável e sua Importância Estratégica Tema 7: 4 Horas Avaliação de Potências e Desempenho CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO Os alunos serão avaliados com base nos seguintes critérios: 40% avaliação a distância. 60% avaliação presencial. A MMBBAA EEXXEECCUUTTIIVVOO EEMM NNEEGGÓÓCCIIOOSS FFIINNAANNCCEEIIRROOSS CCUULLTTUURRAA EE PPOODDEERR NNAA OORRGGAANNIIZZAAÇÇÃÃOO TTEEMMAA 0011 Coordenador: Profa. Sandra Regina da Rocha Pinto Autor: Profa. Patricia Tomei Tutoria a Distância IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 8 ÍNDICE Cultura e Poder na Organização – Tema 1..............................................................9 1.1 Objetivos do Tema.............................................................................................9 1.2 Introdução..........................................................................................................9 1.3 O Significado do Poder ....................................................................................10 1.4 As Bases de Poder para os Indivíduos e para as Organizações .....................11 1.5 A Delegação de Poder (Empowerment) ..........................................................14 1.6 Relações de Poder nas Novas Configurações Organizacionais......................20 1.7 Administração da Mudança Organizacional: Mudança Reativa e Pró-Ativa ....36 1.8 Modelos do Processo de Mudança..................................................................42 1.9 A Reação Humana à Mudança: Causas de Resistência e o Grau de Resiliência .............................................................................................................44 Resumo do Tema ..................................................................................................50 1.10 Administração da Mudança Organizacional: Mudança Reativa e Pró-Ativa ..53 1.11 Modelos do Processo de Mudança................................................................54 1.12 A Reação Humana à Mudança: Causas de Resistência e o Grau de Resiliência .............................................................................................................54 Referências Bibliográficas .....................................................................................54 IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 9 CULTURA E PODER NA ORGANIZAÇÃO – TEMA 1 1.1 OBJETIVOS DO TEMA ste tema retoma a questão do poder abordada em diferentes tópicos da disciplina Gestão de Pessoas I (liderança, comportamento de grupos, con- flitos, clima e cultura) com o objetivo de correlacioná-la à mudança organizacional. Para isto, apresenta-se uma discussão sobre: ! O significado do poder. ! As bases de poder para os indivíduos e para as organizações. ! A delegação de poder e a estrutura organizacional. ! Administração da mudança organizacional: mudança reativa e pró-ativa. Modelos do processo de mudança. ! A reação humana à mudança: causas de resistência e o grau de resiliên- cia. 1.2 INTRODUÇÃO Hoje as organizações estão no meio de um gigantesco furacão e por todo la- do estão sendo realizadas privatizações, fusões, aquisições, trocas de controle acio- nário, reestruturações internas, downsizings e revoluções tecnológicas que as obri- gam a desenvolver a sua capacidade de adaptação, agilidade e flexibilidade. A necessidade de mudança é uma realidade a qual a maioria dos empresá- rios está acostumada – a duras penas, diga-se de passagem. “A única constante é a mudança” é um clichê muito repetido nos locais de trabalho. Contudo, a velocidade e a freqüência das mudanças agora são muito maiores, exigindo que os profissionais que desejam se manter no mercado estejam conscientes de que as mudanças vie- ram para ficar, isto é, são estados permanentes do universo organizacional. Mesmo as empresas que, vistas de fora, parecem operar dentro de um ambiente estável, estão enfrentando mudanças. Dentro deste contexto, a organização deve oferecer ao empregado a oportu- nidade de desenvolver sua própria carreira, através do aumento do empowerment, do compartilhamento do conhecimento e informação, assim como aumentar a opor- tunidade de participação no processo decisório. Segurança no trabalho pertence ao passado e as organizações não estão mais em condições de prometê-la aos empregados. No mundo corporativo de hoje, a palavra de ordem é adaptabilidade, mais do que estabilidade. A questão da em- pregabilidade muda a noção de lealdade e representa uma mudança no contrato psicológico. Tanto a organização como os indivíduos ganham com essa mudança caso ela seja bem gerenciada. Para as organizações, as mudanças são implementadas mais facilmente e com maior flexibilidade, na medida em que os empregados efetivamen- E IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 10 te participem do processo e forneçam contribuições positivas para a organização. Para os empregados é a possibilidade de gerenciar sua própria carreira e garantir maior qualificação para lidar com as mudanças. Para que a relação indivíduo-organização cresça neste sentido é importante compreender melhor este novo paradigma organizacional. Para tanto, algumas questões precisam ser analisadas: Como as organiza- ções estão gerenciando estas mudanças? Qual é o papel do poder neste processo? Como os indivíduos estão reagindo às novas culturas impostas por esta nova reali- dade? A seguir serão abordadas estas questões da seguinte forma: inicialmente será definido poder e como ele se manifesta nas organizações. Posteriormente serão tra- tados o papel do indivíduo e a sua motivação para mudar e, dentro deste contexto, como implementar um processo de mudança. 1.3 O SIGNIFICADO DO PODER Segundo coloca Robbins (1998) baseado em Bass (1990) “poder refere-se a uma capacidade que A tem de influenciar o comportamento de B, de modo que B aja de acordo com os desejos de A”. A definição supra traz duas variáveis importantes na compreensão do poder: a potencialidade e a dependência. Poder é o potencial ou a habilidade de influenciar decisões e controlar recur- sos. O poder pode existir, mas não ser utilizado. Uma pessoa pode ter poder, mas não dispor dele. Poder é uma função de dependência. Quanto maior o meu grau de depen- dência de uma pessoa, maior poder ela tem sobre mim. Uma pessoa pode ter poder sobre você, se ela controla alguma coisa que você deseja. Conceito de poder está intimamente interligado ao conceito de liderança a- bordado na disciplina anterior. Líderes utilizam o poder como um meiopara atingir as metas do grupo, e precisam manter esta compatibilidade entre as suas metas e as metas dos liderados. Por outro lado, o poder não exige compatibilidade de metas, apenas depen- dência. Uma pessoa é poderosa, por exemplo, quando possui qualquer coisa que os outros desejam, mas que ela sozinha controla. Este controle gera dependência e é inversamente proporcional às fontes alternativas de fornecimento, isto é, quanto me- nor a oferta, maior o grau de dependência e, portanto, maior o poder de quem pos- sui o recurso escasso. Isto pode ser traduzido no ditado popular: “em terra de cego quem tem um olho é rei!”. Portanto, a dependência é fruto de: ! Importância: se ninguém quer o que você tem, não haverá dependência. ! Escassez: a relação de oferta e demanda de um produto vai aumentar ou abaixar o seu valor no mercado. ! Insubstitutibilidade: quanto mais um recurso não tem substitutos viáveis, mais poder de controle destes recursos é fornecido. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 11 Por fim, o conceito de poder, não pode ser confundido com o conceito de in- fluência, já que os dois têm significados muito próximos. A influência é também a habilidade de mudar comportamentos, mas tende a ser mais sutil e mais indireta que o poder, já que ela não afeta tão diretamente os resultados e o processo de mudan- ça. 1.4 AS BASES DE PODER PARA OS INDIVÍDUOS E PARA AS ORGANIZA- ÇÕES Se administrar e liderar exige o uso do poder, então como as pessoas nas or- ganizações adquirem poder para influenciar o comportamento das outras? De onde vem o poder? O que determina a influência de um grupo sobre os outros? Em trabalho pioneiro, visando identificar diferentes tipos de poder nas organi- zações, John French e Bertram Raven procuraram responder a estas perguntas i- dentificando as principais bases, ou fontes, do poder nas organizações. Eles propu- seram que existem cinco bases de fontes de poder, conforme reproduzido no quadro abaixo: TIPOS DE PODER FONTE DE PODER DE RECOMPENSA Controle baseado em recompensas valoriza- das como: amizade, aceitação, elogios, dinhei- ro, avaliações de desempenho favoráveis, ta- refas de trabalho interessantes, informação importante, turnos de trabalho preferidos. É também chamado de poder premiador. COERCITIVO Controle baseado em punições como: repre- ensões públicas, designação para tarefas in- desejáveis, descontos no pagamento, suspen- sões, transferências inoportunas e demissões. Dependente de medo. Alguém reage a este poder por medo dos resultados negativos que possam ocorrer se falhar na concordância. É complementar ao poder de recompensa: o primeiro permite a você dar algo a alguém de valor positivo ou tirar algo de valor negativo. Este poder permite que você tire algo de valor positivo do outro ou inflija algo de valor negati- vo sobre ele. LEGÍTIMO O direito ou autoridade de dizer aos subordi- nados o que fazer. Representa o poder que uma pessoa recebe em resultado de sua posi- ção na hierarquia. Inclui a aceitação por mem- bros de uma organização da autoridade de uma posição. DE REFERÊNCIA Posse de características pessoais atraentes para outras pessoas. Sua base é a identifica- ção com a pessoa que tem recursos desejá- veis ou traços pessoais. Desenvolve-se da admiração por alguém e de um desejo de ser IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 12 igual àquela pessoa. É também chamado de poder carismático. DE ESPECIALIZAÇÃO OU DE COMPETÊNCIA Posse de um determinado conhecimento, ex- periência, talento ou habilidade. Pessoas que são vistas como especialistas numa determi- nada área podem influenciar as outras lhes fornecendo conhecimentos para alcançar suas metas. Fonte: FRENCH Jr., J. R. P. e RAVEN, B. “The Bases of Social Power”, in: CARTWRIGHT, D. (Ed.). Studies in Social Power. Michigan: Ann Arbor – Institute for Social Research, University of Michigan, 1959, pp. 150-165. Com base no texto de Yuki e Falbe (1991), Robbins (1998) apresenta um quadro, reproduzido a seguir, que permite mensurar as bases de poder: Uma pessoa tem uma ou mais das cinco bases de poder? Respostas a- firmativas às seguintes questões podem responder a esta pergunta: ! A pessoa pode tornar as coisas difíceis para os outros e você quer evitar zangá-los (poder coercitivo). ! A pessoa é capaz de dar recompensas ou benefícios especiais para os outros e você acha que é vantajoso trocar favores com a mesma (poder de recompensa). ! A pessoa tem o direito, considerando sua posição e responsabilidades de seu cargo, de esperar que você concorde com pedidos legítimos (poder legítimo). ! A pessoa tem experiência e conhecimento para ganhar o seu respeito, e você acata suas avaliações em alguns assuntos (poder de competência). ! Você gosta da pessoa e acha agradável fazer coisas para ela (poder de referência). Fonte: YUIKI, G. e FALBE, C. M. “Importance of Different Power Sources in Downward and Lateral Relations”, in: Journal of Applied Psychology, jun. 1991, p. 417. Para aprender sobre a utilização das bases de poder, é fundamental a análise de duas questões: 1. Como traduzir estas fontes em ações específicas, isto é, qual o subcon- junto de táticas do poder que é visto como aceitável na minha organiza- ção? Segundo pesquisa de Kipnis (1984), resumida por Robbins (1998), há manei- ras padronizadas pelas quais os que detêm poder tentam conseguir o que querem. As descobertas identificaram sete dimensões reproduzidas a seguir: ! Razão: uso de fatos e dados para fazer uma apresentação lógica ou ra- cional de idéias. ! Amizade: uso de adulação, criação de boa vontade, agir de forma humilde e ser amigável antes de fazer um pedido. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 13 ! Coalizão: conseguir o apoio de outras pessoas na organização para dar respaldo ao pedido. ! Barganha: uso da negociação através da troca de benefícios ou favores. ! Asserção: uso de abordagem direta e forte, tal como a exigência de con- cordância com pedidos, a repetição de lembretes, mandar os indivíduos fazerem o que é pedido e indicar que regras exigem obediência. ! Autoridade maior: obter apoio de níveis mais altos na organização para dar respaldo aos pedidos. ! Sanções: uso de recompensas e punições derivadas da organização co- mo impedir ou prometer aumento de salário, ameaçar uma avaliação de desempenho insatisfatória ou reter uma promoção. Vários fatores influenciam na definição de quais táticas de poder serão consi- deradas adequadas para cada organização. As pesquisas demonstraram que os gerentes não utilizam as sete táticas i- gualmente, embora a estratégia mais popular foi o uso da razão, independentemente da cultura e da direção da relação da influência (gerentes para supervisores ou vice- versa). Para a seleção da tática de poder, quatro variáveis devem ser consideradas: ! O poder relativo do gerente: gerentes que controlam recursos que são valorizados por outros, ou que sejam percebidos como estando em posi- ções de domínio, usam uma variedade maior de táticas do que aqueles com menos poder. Gerentes com relativamente pouco poder têm mais probabilidade de parar de tentar influenciar os outros quando eles encon- tram resistência, porque percebem os custos associados com a asserção como inaceitáveis. ! Os objetivos do gerente para querer influenciar: quando os gerentes buscam benefícios de um superior, eles tendem a confiar em palavras amáveis e na promoção de relações agradáveis, isto é, usam a amizade. Gerentes que tentam persuadir seus superiores a aceitarem novas idéias, em geral, baseiam-se na razão. ! A expectativa do gerente quanto ao sucesso: quando a experiência passada indica alta probabilidade de sucesso, os gerentes usam pedidos simples para obter concordância. Onde o sucesso é menos previsível há maior probabilidade da tática escolhida ser a asserção e sansões. ! A cultura organizacional: algumas culturas estimulam o uso da amizade, algumasincentivam a razão, outras se baseiam em punições e medo. 2. Como os trabalhadores/subordinados reagem quando os gerentes utilizam estes diferentes tipos de poder? Segundo pesquisa de Kelman (1958), reproduzida por Wagner III e Hollem- beck (1998), é provável que ocorram três tipos bem distintos de reações de con- formidade ao poder, reproduzidas no quadro a seguir: IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 14 TIPO DE REAÇÃO DESCRIÇÃO OBEDIÊNCIA Conformidade baseada no desejo de obter re- compensas ou evitar punições. Dura enquanto as recompensas forem recebidas ou as punições a- plicadas. O poder coercitivo e de recompensa em geral propiciam este tipo de reação. IDENTIFICAÇÃO Conformidade baseada na atração do influencia- dor.Dura enquanto puder ser mantida a relação com o influenciador.O poder de referência baseia- se no mesmo tipo de atração pessoal que a identi- ficação e os dois estão estreitamente ligados. INTERNALIZAÇÃO Conformidade baseada no caráter intrinsecamen- te gratificante das atitudes ou comportamentos adotados. Dura enquanto durar a satisfação. O poder legítimo e o de especialização podem esti- mular a internalização, ambos recorrem à credibi- lidade pessoal. 1.5 A DELEGAÇÃO DE PODER (EMPOWERMENT) Conforme visto na disciplina anterior, quando foram abordados grupos e equi- pes, a busca da participação no trabalho (da formação de equipes autogerenciáveis, nas quais os seus membros prescindam a necessidade de chefias) tem se tornado uma tendência nos anos 1990, com enormes implicações nos estilos de liderança, nas relações de poder e na forma como as organizações estão sendo estruturadas. Fatores como o downsizing, habilidades maiores de empregados, compromis- so das organizações com treinamento continuado, implementação de programas de qualidade total, entre outros, criam um número crescente de situações que deman- dam que os gerentes abracem o empowerment ou a delegação de poder. Mais es- pecificamente, gerentes estão sendo advertidos de que líderes eficazes partilham poder com seus empregados. O problema com o atual movimento de delegação de poder é que ele ignora a extensão em que a liderança pode ser partilhada e as condições que facilitam o su- cesso de uma liderança compartilhada. As questões abordadas neste item têm por objetivo ajudar a entender melhor estes desafios e paradoxos. Que Significa Delegar? ! Delegar é parte essencial do trabalho de qualquer gerente. ! Delegar é dar a outra pessoa uma tarefa cuja responsabilidade, em última instância, cabe a quem delega. ! A delegação é a atribuição de autoridade para uma outra pessoa executar atividades específicas. Ela permite que um funcionário tome decisões, ou seja, é um deslocamento da autoridade de tomada de decisões de um ní- vel organizacional para outro, inferior. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 15 A Quem Delegar e Até que Ponto? ! Ao escolher a quem delegar, a pessoa que delega está supondo que a- quela pessoa é capaz de realizar uma determinada tarefa com as ferra- mentas disponíveis. ! Depois da escolha, a pessoa que delega deve garantir que o delegado te- nha autonomia suficiente para realizar a tarefa ao seu jeito, obedecendo a orientação preliminar e fornecendo regularmente relatórios sobre a evolu- ção do trabalho. O Processo da Delegação: Principais Fases Fase 1: Análise e Seleção das Tarefas que o Gerente pode – e Deve – Transferir para Outros Tarefas delegadas não fazem parte da extensão dos encargos habituais de uma pessoa. Elas são temporárias, a menos que sejam incorporadas à descrição do cargo. Perguntas a responder: 1. Quais itens pertencem, de fato, à extensão de meus encargos e a meu campo de autoridade? Eu estou realizando algum item que não faz parte de minhas atribuições? 2. Quanto da autoridade que eu gostaria de delegar meus funcionários pode- riam assumir com a autorização da empresa? 3. Quais encargos eu posso delegar? Por que eu os delegaria? Quais os en- cargos que eu não posso delegar? Por quê? Fase 2: Nomeação ou Escolha da Pessoa Apropriada para Transmitir Instruções Precisas As pessoas a quem se delega se beneficiam, no mínimo, de três maneiras: elas se tornam mais produtivas e importantes para a empresa, quanto mais impor- tantes se sentirem, mais satisfação profissional experimentarão, a auto-estima tam- bém aumentará. Quando você delega, há mais braços e mentes participando dos problemas do trabalho. Isto ajuda a agilizar as decisões. Ampliando o poder de decisão do gru- po, você e o grupo tomam decisões mais eficazes. A delegação pode ser utilizada como uma ferramenta para melhorar as habili- dades dos funcionários. Uma vez que o desenvolvimento de pessoal é um dos en- cargos do supervisor, quanto mais bem-sucedido você for nisto, mais reconhecimen- to obterá. Além de melhorar a produtividade individual, através da delegação é possível aumentar a produtividade da área/departamento, favorecendo as oportunidades de trabalho em equipe e substituição de funcionários. Há, portanto, a possibilidade de gerar o seguinte ciclo vicioso: mais pessoas produtivas, mais produtividade, melhor grupo de trabalho, melhores resultados para a área. Perguntas a responder: 1. Quem se beneficiaria se eu delegasse essas tarefas e como? 2. Como o grupo se beneficiaria se eu delegasse essas tarefas? IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 16 3. Quem tem experiência e/ou treinamento para executar este trabalho sem treinamento extra? 4. Quem pode realizar o trabalho mais rápido, com o menor tempo de trei- namento? 5. Quem tem tempo para executar e/ou aprender esta tarefa como um extra à sua carga normal de trabalho? 6. Quem sofreria o pior impacto com esta tarefa delegada no que diz respei- to à atual carga de trabalho? 7. Que pessoa, executando este trabalho, contribuiria mais para os esforços do departamento/área? 8. Se esta tarefa for delegada a alguém do grupo, quem sofreria (outras pes- soas) o pior impacto? Fase 3: Orientação e Controle – Especificação da Amplitude de Liberda- de do Funcionário Todo ato de delegação vem com restrições. A pessoa que delega está repas- sando autoridade de agir, mas não é uma autoridade sem limites, ela vem dentro de certos parâmetros. É importante, nessa fase, deixar claro para a outra pessoa o que a pessoa que delega espera dela e os padrões pelos quais ela será avaliada. Sete critérios guiam a descrição dos objetivos e padrões de uma tarefa: ! Os alvos devem dizer respeito a ações mensuráveis ou observáveis. ! As tarefas devem ter prazo para execução. ! Os objetivos devem delinear os meios e as condições pelos quais a pes- soa executará a tarefa. ! Devem ser realistas e realizáveis. ! Devem ser específicos e, ainda assim, abertos a revisão. ! Devem incluir medidas para monitoramento e revisão do trabalho. ! Devem deixar claras as conseqüências positivas de se executar bem o trabalho e as conseqüências negativas de executá-lo mal, tanto para o in- divíduo quanto para o departamento e a empresa como um todo. Fase 4: avaliação – estabelecimento de controles de feedback Delegar sem instituir controles de feedback é um convite para problemas. Controles para monitorar o progresso dos funcionários aumentam a probabilidade de identificação de problemas importantes no início, e que a tarefa seja completada no prazo e com a especificação desejada. Mesmo quando o supervisor deixa o subordinado executar sozinho a tarefa delegada, o sucesso do projeto depende em grande escala de seu controle. O supervisor sempre mantém a responsabilidade final por qualquer tarefa de- legada, e pelos padrões de qualidade e prazos de qualquer trabalho a ser feito pelo departamento/área. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 17 Perguntas a responder: 1. Como foi o desempenho do funcionário? 2. Que modificações devem ser feitas, nos dois lados da delegação para me- lhorar a eficiência? Por que delegar? Para aumentaro tempo disponível para se dedicar a funções essenciais de gerência. Para motivar a equipe. Delegar toma tempo, mas o custo de não delegar é mais caro no longo prazo. Barreiras dos supervisores no processo de delegação: ! Não confio nos meus funcionários. ! Não me sinto seguro. ! Sou mais eficiente que meus funcionários em muitas funções. ! Tenho receio de sobrecarregar a equipe. ! Não tenho uma equipe competente. ! Tenho medo de perder o controle direto sobre o trabalho. ! Tenho medo de perder o poder, “perder” parte do trabalho diminuindo meu status pessoal. ! Acredito que as tarefas, especialmente as importantes, devem ser feitas “do meu jeito”. ! Tenho uma agenda desorganizada e estou sempre ocupado demais cui- dando de assuntos que deveriam ser delegados. ! Tenho dificuldades de falar com franqueza as minhas expectativas. Barreiras criadas pelos subordinados no processo de delegação: Imposição Os subordinados a quem se delega podem acreditar que a pessoa que delega está passando o seu próprio trabalho ou tirando vantagens de sua boa índole. Para derrubar essa resistência é preciso uma argumentação franca de como os subordi- nados seriam mais produtivos e estariam mais disponíveis para outras questões, e dos benefícios que eles teriam. Ignorância Alguns subordinados erguem a barreira da ignorância porque não entendem que sempre precisam de novas experiências para conseguir o que querem. É preci- so ajudar o funcionário a encontrar, na tarefa adicional, uma contribuição para atingir uma meta ainda não alcançada. Estagnação Algumas pessoas não querem mudar. Estão em seu caminho e nele querem permanecer, se colocando em uma zona de conforto que lhe é conveniente. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 18 Essas pessoas são bons soldados que fazem o que têm de fazer desde que fiquem fora da ribalta, longe dos olhos do público, executando serviços rápida e se- guramente. Medo de Fracasso ou de Rivais Assim como o medo imobiliza muitos supervisores, muitos subordinados rejei- tam novas tarefas por causa dele. Não é apenas o encargo que os assusta. Alguns temem o fracasso e outros temem ser vistos pelos colegas como os “favoritos” do chefe se aceitarem trabalho extra. Impaciência Além de se sobrecarregarem, algumas pessoas estão dispostas a se com- prometer com tarefas para as quais elas não estão preparadas. Ansiosas por agra- dar, precisando de reconhecimento social, passam na frente de si mesmas, execu- tando mal o trabalho com muita freqüência. Jogos de Poder Algumas vezes a impaciência mascara uma barreira mais difícil de ultrapas- sar: o jogo de poder. Os adeptos dos jogos de poder só aceitam tarefas adicionais sob condições que indubitavelmente lhes são favoráveis. Em vez de se sentir pres- sionados, esses tipos aceitam uma tarefa delegada como uma oportunidade de chantagear quem delega. Para lidar com essa barreira é preciso deixar os limites bem claros – falando inclusive das conseqüências negativas de se ficar “jogando”. Para Aumentar a Eficiência da Delegação é Preciso: ! Dividir as tarefas sob a responsabilidade do supervisor em três grupos, segundo a classificação de Drucker: 1. As que não precisam ser executadas – por você ou por outros. 2. As que podem ou devem ser delegadas a alguém. 3. As que não podem ser delegadas (áreas como planejamento estratégico, gerenciamento de crises, negociações com clientes importantes, coman- dar e supervisionar um projeto, garantir canais eficientes de comunicação interna). Estabelecer prioridades e estimar prazos para realizar as tarefas e estruturar a delegação: ! Delegar e distribuir incumbências. ! Evitar atribuir a mesma tarefa a mais de uma pessoa ou desprezar outra a ponto de não ser cumprida. ! Observar quais habilidades terão que ser ensinadas ou desenvolvidas pa- ra capacitar potenciais subordinados a desempenhar suas tarefas satisfa- toriamente. ! Casar pessoas e papéis: estudar as qualidades dos membros da equipe, identificar os subordinados que têm mais iniciativas. Atribuir Responsabilidades com Precisão: ! Para evitar confusão sobre quem é responsável por algo, é preciso que- brar as tarefas delegadas em “pedaços” específicos – atividades – para que cada pessoa tenha a clareza de qual é a sua parte. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 19 ! Escolher a pessoa certa exige análise minuciosa de sua experiência e ca- pacidade. ! A parte mais importante de um processo de orientação e instrução é defi- nir o objetivo geral e traduzi-lo em resultados esperados. Levar em consideração os fatores de contingência da delegação a seguir: ! Tamanho da organização: quanto maior a organização, maior o número de decisões a tomar. Como os altos gerentes em uma organização têm tempo limitado e também um limite nas informações, nas grandes empre- sas eles se tornam cada vez mais dependentes de tomadas de decisão por gerentes de níveis inferiores. Portanto, os gerentes, nas grandes orga- nizações, recorrem a um aumento de delegação. ! Importância do dever ou da decisão: quanto mais importante for um de- ver ou uma decisão, menor a probabilidade de que seja delegado. ! Complexidade da tarefa: quanto mais complexa for uma tarefa, mais difí- cil será para a alta direção ter informações técnicas atualizadas e suficien- tes para tomar decisões eficazes. Tarefas complexas requerem maior es- pecialização e decisões relativas a elas devem ser delegadas a pessoas com o necessário conhecimento técnico. ! Cultura organizacional: se a administração confia e acredita em seus funcionários, a cultura sustentará maior grau de delegação. No entanto, se a alta direção não tiver confiança nas habilidades dos gerentes dos níveis inferiores, ela delegará autoridade somente quando absolutamente neces- sário. ! Qualidade dos funcionários: para aceitar e agir com a autoridade, a de- legação requer funcionários com aptidões, habilidades e motivação. Se essas qualidades estiverem faltando, a alta direção ficará relutante em passar a autoridade. O nível de experiência do subordinado determinará se é preciso adotar um controle mais próximo ou mais distanciado sobre o andamento do trabalho. Com base na avaliação é preciso escolher um dos sistemas de controle lista- dos a seguir: ! Participação na correspondência: a pessoa que delega retém a maior parcela de autoridade e assina circulares, requerimentos etc. ! Relatórios por escrito: o funcionário fornece um relatório por escrito so- bre suas ações, resultados e quaisquer índices que sejam atualizados re- gularmente. ! Relatório pessoal: a pessoa que delega organiza reuniões regulares com o funcionário para discutir o trabalho. ! Política de “portas abertas”: a pessoa que delega estimula o funcionário a lhe trazer os problemas do dia-a-dia, a qualquer hora, para ajuda e es- clarecimento. ! Via computador: a pessoa que delega utiliza sistema de tecnologia da in- formação para checar diretamente o que está acontecendo. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 20 ! Reuniões: a pessoa que delega discute a tarefa delegada em reunião com o subordinado e outras pessoas envolvidas no trabalho. 1.6 RELAÇÕES DE PODER NAS NOVAS CONFIGURAÇÕES ORGANIZACIO- NAIS Para contextualizar as relações de poder na perspectiva de suas estruturas é preciso resgatar as contribuições de Max Weber (1864-1920). Weber (1994) sintetiza a organização como um "sistema de atividade contí- nua e intencional empregando a autoridade e o poder". Para o autor, o poder é a ca- pacidade de uma pessoa, em qualquer relação social, realizar os seus objetivos e superar resistências. Quando o poder é legítimo, a obediência é efetiva e completa. Um poder legítimo, embora não possa ser agradável, facilita a congruência das nor- mas com os valores dos subordinados. Tal verificação levou Weber a descrever três tipos de autoridade: a autoridade tradicional, a carismática e a racional-legal ou bu- rocrática e conseqüentestipos de organização – a organização tradicional, a caris- mática e a racional-legal ou burocrática. Lembrando sempre que esses tipos de or- ganizações não são mutuamente excludentes, podendo ser encontrados numa mesma organização, dependendo do estilo individual dos administradores ou da na- tureza de suas atividades. Weber conclusivamente indica que a burocracia é clara- mente o padrão mais eficiente para a administração, porque se assenta em princí- pios bem definidos de: a. regras – permitindo a solução de problemas, a padronização e igualdade de tratamento, principalmente nas relações sociais de trabalho da organi- zação; b. esferas de competência – através da divisão sistemática de trabalho, ten- do cada indivíduo direitos e poderes claramente definidos; c. hierarquia – que é condição sine qua non para a sua existência; d. competência baseada em conhecimento – os administradores são nome- ados com base na competência, conhecimento e treinamento para ocupar seus cargos; e. não são proprietários da organização – sua participação é apenas e ex- clusivamente executiva; f. liberdade de alocar seus recursos dentro de suas esferas de influência; g. manutenção dos registros – todo ato ou fato administrativo na burocracia é motivo de registro e fácil identificação de seu(s) autor(es). Hoje as idéias e o modelo weberiano de administração ainda continuam familiares e pre- sentes em nossas organizações, em que pesem as mudanças e investi- das de outros modelos de abordagem e gestão organizacional. Weber, particularmente, teve o mérito de focalizar os problemas mais fundamen- tais dos processos de formalização e legitimação, por meio dos quais são elaborados e sancionados os sistemas de desempenho de papéis que o- correm dentro de nossas organizações. Conclusivamente, os conceitos de Weber formam a vertente do que é comumente conhecido como estrutu- ralismo. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 21 O papel da estrutura nas organizações é tornar previsível o comportamento de seus membros, mapear suas relações de subordinação e mando, e possibilitar o alcance dos objetivos organizacionais. Uma estrutura organizacional é um agrupamento formal das atividades logís- ticas e administrativas da organização. As atividades semelhantes são organizadas em subgrupos organizacionais com responsabilidades, autoridades, tarefas e rela- ções específicas. Conforme a organização vai se tornando mais complexa, elemen- tos dinâmicos são acrescidos a esse esqueleto administrativo-funcional, como o pla- nejamento de recursos humanos, de sistemas de informação e de instalações. A tipologia de Blau e Scott mostra que as organizações existem para propor- cionar benefícios e, estes, por sua vez, são o cerne para a existência da organiza- ção. De acordo com os autores citados (apud Chiavenato, 1993, p. 493), há quatro categorias de participantes que podem se beneficiar com uma organização formal, como fica explicitado no quadro a seguir: Tipologia de Blau e Scott Beneficiário Principal Tipo de Organização Exemplos Os próprios membros da organização. Associação de beneficiá- rios mútuos. Associações profissionais, coo- perativas, sindicatos, fundos mútuos, consórcios. Os proprietários ou a- cionistas da organiza- ção. Organizações de interes- ses comuns. Sociedades anônimas ou em- presas familiares. Os clientes. Organizações de servi- ços. Hospitais, universidades, orga- nizações religiosas e agências sociais, organizações filantrópi- cas. O público em geral. Organizações de Estado. Organização militar, segurança pública, correios e telégrafos, saneamento básico, organiza- ção jurídico e penal. Fonte: Chiavenato, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 4a ed. “Teo- ria Estruturalista da Administração”, Cap. 12. São Paulo: Makron Books, 1993, p. 493. Também Etzioni (apud Chiavenato, 1993, p. 491) leva a refletir sobre tipologi- as em face das observações que realiza sobre os sistemas psicossociais das orga- nizações. Apesar de dar pouca ênfase à estrutura, à tecnologia utilizada e ao ambi- ente externo, reporta a questões do tipo de controle (coercitivo, normativo e utilitário) que uma organização exerce ou pode vir a exercer sobre o indivíduo, conforme se evidencia no quadro a seguir: IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 22 Tipologia de Etzioni Tipos de Or- ganização Tipo de Po- der Controle Utilizado Ingresso e Per- manência dos Participantes Através de: Envolvimento Pessoal dos Participantes Motivação Coercitivas Coercitivo Prêmios e punições Coação, imposi- ção, força, ame- aça, medo Alienativo Negativa. Punições Normativas Normativo Moral e ético Convicção, fé, crença, ideologia Moral e motiva- cional Auto- expressão Utilitárias Remunerativo Incentivos econômicos Interesse, vanta- gem percebida Calculativo Benefícios e vanta- gens Fonte: Chiavenato, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 4a ed. “Teo- ria Estruturalista da Administração”, Cap. 12. São Paulo: Makron Books, 1993, p. 491. A estrutura pode caracterizar-se como uma pirâmide imponente na sua altura e por grandes escalas de poder muito bem definidas e tendo a legitimidade da auto- ridade baseada na sua própria hierarquia, sendo esta constituída por leis e normas. Mas é possível visualizar a estrutura de uma forma menos vertical, tendo como im- ponência sua horizontalidade – pirâmide achatada – composta por uma descentrali- zação da autoridade através da comunicação existente entre os departamentos e destes com o ambiente externo (clientes, fornecedores e concorrentes). Visualiza-se a estrutura de uma organização através da leitura de seus orga- nogramas, de seus estatutos e regimentos e demais normas internas. Os organo- gramas são úteis para mostrar a estrutura formal da organização e quem é respon- sável por determinadas tarefas. Em outros termos, a organização formal é uma es- trutura planejada, que representa a tentativa deliberada de estabelecer relações pa- dronizadas entre seus componentes, de forma que estes possam alcançar os objeti- vos organizacionais de maneira eficiente. Além disso, o simples ato de desenhar um organograma pode assinalar defeitos na organização, com a duplicação de esforços ou os conflitos potenciais. Entretanto, os organogramas tendem a esconder muitas características de estrutura organizacional. As estruturas organizacionais das empresas modernas evoluíram em respos- ta a desafios que eram basicamente de natureza operacional. Quando se compro- vou a importância do planejamento estratégico, os arranjos organizacionais para realizá-lo foram implantados nas estruturas existentes, orientadas para operações, o que acabou por provocar a denominada “resistência ao planejamento” – uma inércia organizacional que frustra os esforços para converter planos em ações. A primeira resposta encontrada a essa resistência ao planejamento foi o com- prometimento da alta administração, que é uma solução viável, mas temporária, pois o entusiasmo do presidente não é infinito e, tão logo ele se volte para outras priori- dades, o comprometimento estratégico generalizado na organização é dissipado. A esse método de introdução de mudanças, Ansoff (1990) denominou de processo co- ercitivo de mudança, que tem se mostrado caro e perturbador do bom andamento da organização, mas tem demonstrado ser muito útil quando há necessidade de uma resposta estratégica rápida. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 23 No dia-a-dia de uma organização, ela necessariamente vivencia inúmeras mudanças estratégicas descontínuas, que não chegam a ser um choque estratégico, mas que a obrigam a se adaptar, modificando (ainda que marginalmente) sua cultu- ra, estrutura de poder e de competências. A este processo gradual de mudança, An- soff (1990) denomina mudança adaptativa. Apesar da mudança adaptativa ser lenta, ela tem a vantagem de minimizar a resistência interna, distribuindo o impacto damudança ao longo do tempo. Uma crise ocorre quando uma mudança põe em perigo a sobrevivência da organização e quando há pressões de tempo. Nesses momentos, a resistência comportamental à mudança dá lugar ao apoio à alta administração que, por sua vez, estará preocupada em gerar uma resposta rápida e eficaz à crise e em impedir que o pânico se espalhe pela organização. Uma forma de reduzir a resistência à mudan- ça provocada pelo planejamento estratégico está em a alta administração convencer toda a organização que a iminência de uma crise está para ocorrer e, assim, poder contar com o suporte de todos. Um enfoque intermediário em relação ao enfoque adaptativo (lento, mas com baixa resistência) e ao enfoque coercitivo (rápido, mas caro e de alta resistência) é chamado de resistência administrada, ou “método do acordeão”. Sua vantagem está no ajuste da organização aos imperativos externos em termos de tempo, sem provo- car uma grande revolução interna na organização. O planejamento pode ocorrer concomitantemente à sua execução. O método do acordeão possibilita equilíbrio en- tre redução da resistência e uso de poder, dentro dos limites de tempo disponível. Ao se organizar para planejar, Ansoff (1990) descreveu duas estruturas resul- tantes: a funcional e a divisional. A primeira surgiu no início do século XX, em res- posta aos desafios da produção em massa e da maximização da eficiência da pro- dução. Na estrutura funcional, o presidente é o responsável pela elaboração de es- tratégias. Entretanto, ele também precisa se preocupar com o dia-a-dia da organiza- ção, que a mantém viva. Assim, as preocupações operacionais acabam prevalecen- do sobre as estratégias, tornando a estrutura funcional pouco orientada para a ativi- dade estratégica. A estrutura divisional surgiu na década de 1920, em resposta ao desafio do marketing de massa que demandava resposta rápida e eficaz à concorrência e às exigências do mercado. Tais demandas levaram à descentralização de autoridade e responsabilidade tanto no nível estratégico quanto no nível operacional. Assim, há dois níveis de atividade estratégica numa empresa com esse tipo de estrutura: o ní- vel de administração geral, responsável pela carteira estratégica global da empresa, e o nível de divisão, responsável pela postura de competição nas áreas estratégicas de negócio confiadas às respectivas divisões. Para fins de elaboração de estratégia, a estrutura divisional tem se mostrado mais eficaz do que a funcional, pois a carga de trabalho estratégico é dissolvida pela empresa, sendo compartilhada pelo presi- dente e pelos chefes das divisões. Assim como na estrutura funcional, a sua fraque- za está no viés operacional, isto é, o presidente e cada chefe de divisão podem dar maior atenção aos problemas operacionais de curto prazo do que à questões estra- tégicas e de longo prazo. Para lidar com esse conflito, ou viés operacional, algumas empresas forte- mente voltadas para a estratégia, desenvolveram uma estrutura matricial, na qual é adicionada uma suborganização de administração de projetos à forma convencional (seja ela funcional ou divisional). A organização matricial administra e executa todos os projetos estratégicos, possui orçamento próprio e pode extrair parte do seu pes- IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 24 soal das unidades operacionais, via designação especial. Uma vez concluído o pro- jeto estratégico, os novos projetos ou serviços são transferidos às unidades opera- cionais regulares da empresa. Uma extensão da estrutura matricial é a matriz multi- nacional, desenvolvida para lidar com a dispersão de atividades em vários países. Finalmente, existe uma forma organizacional aparentemente capaz de lidar com o aqui denominado “viés operacional”: a estrutura dualista, que separa a em- presa em dois grupos diferentes, cada qual com sua própria administração e recur- sos. Um dos grupos é encarregado da manutenção dos lucros correntes da empresa (foco operacional), enquanto o outro grupo se preocupa com a geração de lucros fu- turos (foco estratégico). Entretanto, essa forma dualista tem sido usada em escala muito limitada. No sistema em questão existe um orçamento operacional e um or- çamento estratégico, denominados por Ansoff (1990) de orçamentos dualistas. O sistema tem como principais vantagens a proteção ao avanço das preocupações operacionais, a reserva de recursos para o trabalho empreendedor e a fácil instala- ção (uma vez que não há interferência com a estrutura organizacional existente). Va- riante da estrutura dualista é a estrutura múltipla, na qual o grupo para potencial de lucro é subdividido em vários centros de esforço estratégico diferenciado com orça- mentos independentes. A arquitetura social estratégica busca a mudança, é flexível e pouco estrutu- rada, enquanto a arquitetura operacional é resistente a mudanças, busca a eficiência e é altamente estruturada. Mintzberg (1995) inova a visão estruturalista na medida em que, teoricamen- te, visualiza a possibilidade de uma organização assumir ao longo do tempo, e em função de diferentes circunstâncias, cinco configurações em sua estrutura orgânica, denominadas: a) estrutura simples; b) burocracia mecânica; c) burocracia profissio- nal; d) forma divisionalizada; e) adhocracia Configuração estrutural Primeiro mecanis- mo de coordenação Parte chave da organização Tipo de descentrali- zação 1 Estrutura sim- ples Supervisão direta Cúpula estratégica Centralização horizon- tal e vertical 2 Burocracia me- canizada Padronização dos processos de traba- lho Tecno-estrutura Descentralização hori- zontal limitada 3 Burocracia pro- fissional Padronização de ha- bilidades Núcleo operacional Descentralização hori- zontal e vertical 4 Forma divisiona- lizada Padronização de re- sultados Linha intermediária Descentralização ver- tical limitada 5 Adhocracia Ajustamento mútuo Assessoria de a- poio Descentralização sele- tiva Fonte: Mintzberg, H. Criando Organizações Eficazes: Estrutura em Cinco Configurações. São Paulo: Atlas, 1995, p. 154. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 25 Características da Estrutura Simples Principal Mecanismo de Coordenação: Supervisão direta. Parte Chave da Organização: Cúpula estratégica. Principais Parâmetros para Delinear: Centralização; estrutura orgânica. Fatores de Contingência: ! Pequena e jovem, sistema técnico não sofisticado; ambiente simples e dinâmico; ! possível hostilidade extrema ou necessi- dades de poder considerável do principal dirigente; ! não acompanhando a moda. A estrutura simples possui pequena ou nenhuma tecno-estrutura poucos as- sessores de apoio, reduzida divisão do trabalho, mínima diferenciação entre suas unidades e pequena hierarquia administrativa. Pouco de seu comportamento é for- malizado, existe pouco planejamento e treinamento, e os instrumentos de interliga- ção são escassos. Por essas características, ela é considerada uma estrutura orgâ- nica. Sua coordenação é feita principalmente pela supervisão direta e o poder sobre todas as decisões importantes tende a ser centralizado nas mãos do principal execu- tivo. Não é raro que todos se reportem ao principal executivo e que a coordenação entre as unidades seja feita por ele. A tomada de decisão é rápida, uma vez que o poder de decisão é concentrado na figura de quem tem visão geral e de quem cen- traliza as informações. É por isso que a cúpula estratégica se destaca como a parte central da estrutura. O logotipo usado para caracterizar essa estrutura não apresen- ta nem tecno-estrutura, nem assessoria de apoio. As condições para que ocorra a estrutura simples são um ambiente simples (que possa ser compreendido por uma só pessoa) e dinâmico (sem padrões, com elevado grau de incerteza, levando a estrutura a se organizar de forma orgânica, no lugar de uma forma burocrática e formalizada). O sistema técnico normalmente é simples e não regulador. A organizaçãonova tende a adotar essa estrutura, não im- portando qual o seu ambiente ou sistema técnico, por um simples motivo: falta de tempo para uma maior elaboração de sua estrutura administrativa. A maioria das or- ganizações passa pela estrutura simples em seus anos de formação. Em tempos de crise, quando a organização passa por uma turbulência muito forte, ela tende a centralizar as decisões no principal executivo de modo a reagir ra- pidamente às ameaças do ambiente. Nesses momentos, não importa qual a estrutu- ra usual da organização, ela corre para a estrutura simples para que as decisões crí- ticas sejam tomadas rapidamente. Outro fator que incentiva a utilização da estrutura simples é a do administra- dor proprietário que cria uma organização empreendedora capaz de ser agressiva e inovadora em um ambiente dinâmico e simples. Muitas vezes a organização empre- endedora é pequena, o que lhe permite manter-se orgânica, com controle cerrado do seu fundador. Tudo gira em torno do empreendedor: as suas metas são as metas da organização e sua estratégia é reflexo da visão do proprietário, de como a organiza- ção deve se posicionar em seu ambiente. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 26 Alguns problemas associados a esse tipo de estrutura estão justamente na centralização do poder nas mãos de poucas pessoas. Se por um lado, esse arranjo facilita decisões ágeis, por outro pode estar comprometendo a própria existência da organização, caso algo aconteça com seu fundador, proprietário ou principal execu- tivo. Outro grande problema é a confusão entre problemas operacionais e estratégi- cos quando é a mesma pessoa que cuida de ambos. Características da Burocracia Mecanizada Principal Mecanismo de Coordena- ção: Padronização dos processos de trabalho. Parte Chave da Organização: Tecno-estrutura. Principais Parâmetros para Delinear: Formalização do comportamento, especiali- zação do trabalho na dimensão vertical e ho- rizontal; agrupamento funcional (em geral); unidades grandes; centralização vertical e descentralização horizontal limitada; planejamento para a ação. Fatores de Contingência: Madura e grande, sistema técnico regulado e não automatizado; ambiente simples e está- vel; controle externo; não seguidora de modas. A burocracia mecanizada é a estrutura mais próxima da burocracia descrita por Weber, com padronização de responsabilidades, de qualificações e de canais de comunicação, assim como normas para o trabalho e uma clara hierarquia de autori- dade. Os principais parâmetros para delinear esse tipo de estrutura são: especiali- zação do trabalho vertical e horizontal; tarefas operacionais rotinizadas e, portanto, padronizáveis por meio de uma grande proliferação de normas, regulamentos e co- municações que formalizam o comportamento; o trabalho é comumente agrupado por função, contando com unidades operacionais com grande dimensão; o poder é relativamente centralizado verticalmente (para a tomada de decisão) e existe uma descentralização horizontal limitada, com nítida distinção entre linha e assessoria. As tarefas executadas pelo núcleo operacional de uma burocracia mecaniza- da são repetitivas, rotineiras, simples, com um mínimo de treinamento exigido e es- treitamente definidas e especializadas, tanto vertical, quanto horizontalmente. Existe uma ênfase na coordenação pela padronização do processo de trabalho, tornando a formalização do comportamento como um parâmetro chave para o planejamento. A padronização dos processos diminui a autonomia no núcleo operacional e reduz o poder dos gerentes de primeira linha, uma vez que a coordenação é exercida mais pela padronização do que pela supervisão direta. A linha intermediária é altamente desenvolvida e diferenciada basicamente por unidades funcionais. Uma das principais funções dos gerentes da linha interme- diária é tratar dos problemas entre os trabalhadores que não podem ser tratados pe- lo ajustamento mútuo, uma vez que a padronização inibe a comunicação entre as unidades altamente especializadas. Como a maioria desses conflitos surge entre trabalhadores que atuam um ao lado do outro (em uma linha de montagem, por e- xemplo), a tendência natural é colocar trabalhadores adjacentes sob uma mesma IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 27 supervisão. Esse é um dos motivos que justificam o agrupamento em unidades fun- cionais. Outra importante tarefa da linha intermediária que reforça o agrupamento em unidades funcionais é a atuação desses gerentes no papel de interligação com os analistas da tecno-estrutura, responsáveis pela padronização. Uma terceira tarefa comumente desempenhada pela linha intermediária é dar suporte ao fluxo vertical na estrutura: levando informações hierarquia acima e descendo com planos de ação hierarquia abaixo. Todos esses contatos: com os trabalhadores do núcleo operacio- nal, analistas da tecno-estrutura e superiores limitam a capacidade dessas linhas in- termediárias incluirem muitas pessoas a serem subordinadas. Por esse motivo, as unidades acima do grande núcleo operacional tendem a ser pequenas de tamanho e a hierarquia administrativa tende a ser mais alta, com mais níveis hierárquicos. A tecno-estrutura tende a ser grande devido à elevada padronização de pro- cessos. Como é na tecno-estrutura que são encontrados os analistas responsáveis pela padronização, essa parte da estrutura é considerada principal na configuração da burocracia mecanizada. Apesar da autoridade formal sobre as unidades opera- cionais permanecer com os gerentes da linha intermediária, os analistas da tecno- estrutura gozam de grande poder informal por sugerirem como estruturar o processo de trabalho, retirando autonomia do núcleo operacional e da linha intermediária. A- lém disso, como abundam as normas e regulamentos internos nessa estrutura, a comunicação formal é promovida em todos os níveis e a tomada de decisão tende a seguir a cadeia formal de autoridade, não deixando muito espaço para a comunica- ção informal e o ajustamento mútuo entre as unidades, o que retira poder de decisão e reforça o poder dos analistas e da cúpula estratégica. Das cinco configurações propostas por Mintzberg, é a burocracia mecanizada que mais enfatiza a divisão de trabalho, a diferenciação entre as unidades e o con- trole sobre o processo. Existe uma verdadeira obsessão pelo controle, de modo a tentar eliminar ao máximo a existência de incerteza, de modo que a máquina buro- crática possa operar suavemente e sem interrupções. Os sistemas de controle tam- bém possuem a tarefa de conter o conflito existente entre as unidades. Não existe espaço para que as pessoas conversem sobre seus problemas. Ao contrário, nor- malmente a atmosfera é fechada e fortemente controlada, priorizando o desenrolar do trabalho. Essa obsessão pelo controle justifica a existência de uma assessoria de razoável tamanho, de forma que as tarefas que poderiam ser terceirizadas sejam, na verdade, "feitas em casa". A vantagem em não terceirizar está em reduzir as incerte- zas e minimizar as interrupções no sistema de fluxos. A grande preocupação da cúpula estratégica neste tipo de estrutura é manter a máquina burocrática funcionando continuamente e para isso é necessário grande dispêndio de energia por parte dos gerentes de topo na manutenção da união da es- trutura, em face aos freqüentes conflitos que emergem das diversas unidades da bu- rocracia mecanizada. Os gerentes do topo são os únicos generalistas na estrutura e, assim, os únicos capazes de ter uma visão geral do funcionamento da organização. Assim, cabe a esses gerentes a coordenação entre as unidades via supervisão dire- ta. Poder-se-ia supor que tal coordenação fosse efetuada via ajustamento mútuo en- tre as unidades altamente diferenciadas no nível intermediário. Entretanto, a elevada padronização, a inibição da comunicação informal, o elevado senso de unidade de comando e a alta centralização vertical da estrutura favorecem a supervisãodireta em detrimento do ajustamento mútuo. Na burocracia mecanizada, o poder formal es- tá concentrado na cúpula estratégica, mas existe um poder informal nas mãos dos analistas da tecno-estrutura. A elaboração da estratégia é feita de cima para baixo, com grande ênfase no planejamento para a ação. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 28 As condições para a burocracia mecanizada ocorrer incluem uma organização já madura e grande, com um sistema técnico regulado e não automatizado (pois a automatização aboliria o trabalho operacional rotineiro), que atue num ambiente sim- ples e estável, com elevado grau de controle externo (daí a obsessão pelo controle). A condição que a organização seja grande e madura se justifica pela necessidade de se possuir um volume de trabalho operacional mínimo que possibilite a repetição e a padronização, e pelo fato da organização ter idade suficiente para já ter se deci- dido sobre os padrões que deseja adotar. O sistema técnico regulador aumenta a rotina do trabalho, permitindo sua formalização. O ambiente precisa ser simples e estável porque a padronização existente numa burocracia mecanizada só pode ocor- rer quando as tarefas são simples, facilmente previsíveis e repetitivas, o que é im- possível em um ambiente complexo e dinâmico. Por ter se criado em um ambiente estável, a burocracia mecanizada busca ampliar seu controle para fora da sua orga- nização, tentando regulá-lo de modo a manter o status quo ao máximo, sem que su- as operações rotinizadas e padronizadas sofram perturbações. Outra condição que é comum na burocracia mecanizada é o controle externo. Quanto mais controlada externamente é uma organização, mais sua estrutura é centralizada e formalizada. Órgãos públicos são demasiadamente e com freqüência burocratizados justamente para que haja maior controle de suas ações perante o público. Entretanto, tem se demonstrado que a burocracia demasiadamente rígida permite nichos para manipu- lação e que muitas vezes é melhor adotar estrutura mais dinâmica, clara e transpa- rente, sem necessariamente a rigidez e o controle existentes na burocracia mecani- zada. Quando um conjunto integrado de tarefas simples e repetitivas deve ser reali- zado de forma precisa, a burocracia mecanizada é a estrutura mais eficiente. Entre- tanto, ela apresenta alguns problemas, tais como: o tratamento das pessoas como instrumentos e como classes de posições e funções, ao invés de indivíduos, o que destrói o significado do trabalho em si; a baixa comunicação e a alta especificidade das funções, impedindo a coordenação e incentivando a existência de "feudos"; o fluxo de informações hierárquicas acima faz com que a cúpula estratégica receba informações filtradas, atrasadas e muitas vezes irrelevantes e abstratas, o que atra- palha a qualidade das decisões tomadas e torna a burocracia mecanizada mal ta- lhada para mudar de estratégia, pois é uma organização voltada para desempenho, e não para resolução de problemas, dado que seu forte é a eficiência, ao invés da inovação. Características da Burocracia Profissional Principal Mecanismo de Coordena- ção: Padronização das habilidades. Componente-chave da Organização: Núcleo operacional. Principais Parâmetros para Delinear: Formação; especialização horizontal do trabalho; des- centralização horizontal e vertical. Fatores de Contingência: Ambiente complexo e estável; sistema técnico não sofisticado; acompanha a moda. A burocracia profissional se apóia na padronização das habilidades dos peri- tos e especialistas, aqui denominados profissionais. A padronização das habilidades permite que os profissionais consigam se coordenar por saber exatamente o que IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 29 esperar de seus colegas de trabalho. O treinamento inicial é obtido pela educação em universidades, escolas técnicas ou instituições que programam formalmente as habilidades e conhecimentos que compõem o perfil daquele profissional. O treina- mento no serviço – onde é aplicado, na prática, o conhecimento adquirido – é acom- panhado por outros profissionais mais experientes e completa o processo de doutri- nação. A associação profissional examina o candidato para determinar se tem co- nhecimentos, habilidades e normas para ser admitido na profissão. Enquanto a bu- rocracia mecanizada gera seus próprios padrões, via tecno-estrutura, a burocracia profissional tem seus padrões originados fora de sua estrutura, nas associações pro- fissionais. Enquanto a primeira se apóia na autoridade de natureza hierárquica (po- der e status do cargo), a última enfatiza a autoridade de natureza profissional, pelo poder da perícia. Os profissionais atuam no núcleo operacional da estrutura com grande auto- nomia, uma vez que o trabalho é altamente especializado na dimensão horizontal. O controle sobre seu próprio trabalho significa que o profissional atua relativamente in- dependente de seus colegas, mas de perto com os clientes aos quais serve. O pro- fissional no núcleo operacional possui duas tarefas básicas: diagnosticar, isto é, classificar as necessidades dos clientes em termos de uma contingência, julgando qual o programa padrão é o mais adequado para ser utilizado e aplicar ou executar o programa. Como os clientes são classificados pelo profissional, ou se auto-rotulam, a estrutura da burocracia profissional apóia-se simultaneamente na base funcional e na unidade por mercado. O grande poder existente no núcleo operacional faz com que essa seja a par- te-chave da organização. A única outra parte também completamente elaborada é a assessoria de apoio, apesar do seu foco ser o servir bem ao núcleo operacional. A tecno-estrutura não é altamente elaborada porque há baixa necessidade de plane- jamento e formalização do trabalho dos profissionais. A linha intermediária é estrei- tada porque existe pequena necessidade de supervisão direta dos operadores e o ajustamento mútuo entre eles favorece a existência de unidades operacionais muito grandes, com poucos gerentes na primeira linha de supervisão e, por esse motivo, também acima deles. Assim, a figura abaixo mostra a burocracia profissional como uma estrutura achatada (descentralizada vertical e horizontalmente), com uma fina linha intermediária, uma fraca tecno-estrutura e uma bem desenvolvida assessoria de apoio para dar o devido suporte aos profissionais do núcleo operacional. A burocracia profissional é uma estrutura grandemente democrática para os profissionais do núcleo operacional, pois eles não apenas controlam seu próprio tra- balho, como também buscam o controle coletivo sobre as decisões administrativas que lhes afetam, garantindo que a linha intermediária seja devidamente assessorada pelos seus próprios pares. Os instrumentos de interligação são importantes na linha intermediária, onde existem muitas forças-tarefa e comissões permanentes, cujo ob- jetivo é bem servir os profissionais e, indiretamente, os clientes. A democracia em geral é só para a oligarquia de profissionais. Na assessoria, existem unidades de suporte administradas pelo topo da hierarquia, aparentando ser constelações buro- craticamente mecanizadas, nas quais prevalece a supervisão direta como principal mecanismo de coordenação. Portanto, existe uma democracia de baixo para cima para os profissionais e uma hierarquia burocraticamente mecanizada de cima para baixo para a assessoria de apoio. IAG – A Escola de Negócios da PUC-Rio 30 Apesar do administrador profissional não poder controlar os profissionais dire- tamente, ele desempenha papéis que, na estrutura, lhe proporcionam considerável poder indireto, tais como: resolver perturbações entre os próprios profissionais, e en- tre os profissionais e a assessoria, por intermédio de negociação com as partes em conflito e representar a organização para o ambiente externo, servindo de figura de proa, mantendo contatos de ligação e negociando com órgãos externos. Entretanto, o administrador
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