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Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes Tutoria 3: Câncer de boca ENTENDER o câncer de boca O câncer de boca, ou câncer de lábio e cavidade oral, é um tumor maligno que afeta lábios e estruturas da cavidade oral, como gengiva, mucosa, assoalho da boca, palato duro, trígono retromolar e língua (principalmente as bordas). → Epidemiologia: No ano de 2018, as mortes por câncer de lábio e cavidade oral representaram 50% dos óbitos por câncer de cabeça e pescoço, excetuando-se a tireoide. Homens, entre 60 e 79 anos, foram os mais acometidos por tumores malignos de boca. Além disso, verificou-se que a Região Sudeste teve, em 2018, a maior taxa de mortalidade, seguida das regiões Centro-Oeste e Sul. Em 2019, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), foram registrados, no Brasil, 6.605 óbitos por câncer de boca, sendo 5.120 homens e 1.485 mulheres. → Etiopatologia: • Tabagismo: o mecanismo carcinogênico do tabaco se baseia, principalmente, na formação de ligações covalentes com o DNA, originando mutações permanentes. O tabagismo pode levar a alterações mecânicas, provenientes do atrito do cigarro contra o epitélio-labial. Além disso, a exposição contínua ao calor desprendido pela combustão do tabaco potencializa as agressões sobre a mucosa da cavidade bucal, provocando uma inflamação crônica que favorece o aparecimento de lesões predisponentes. As úlceras bucais, ainda que transitórias, facilitam o contato mais direto das substâncias cancerígenas do tabaco, favorecendo agressões mais profundas e extensas sobre a mucosa. A nicotina, por exemplo, ativa a Akt, inibindo a apoptose celular e favorecendo a angiogênese. O fumo pode, ainda, atuar na ativação do Fator de Crescimento Epidérmico (EGFR), que, consequentemente, estimularia a enzima ciclo- oxigenase tipo II (COX-2), promovendo a inibição da apoptose, a angiogênese e a Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes modulação da inflamação e da resposta imune, além de acentuar o padrão infiltrativo tumoral; • Alcoolismo: o etanol é oxidado, no fígado, pela enzima álcool- desidrogenase (ADH), formando o acetaldeído (AD), que, posteriormente, é convertido em acetato pela ALDH2. O AD possui uma alta capacidade de induzir mutações no DNA, logo, a inativação da ALDH2 provoca o acúmulo de AD secundário ao consumo de álcool. O AD pode, por exemplo, causar mutações no gene HPRT, que codifica a enzima hipoxantina-fosforribosiltransferase, e induzir alterações cromossômicas. O etanol pode também induzir o estresse oxidativo, através da produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ERO). Além disso, o álcool pode funcionar como solvente, facilitando a penetração celular de agentes carcinogênicos dietéticos ou ambientais, capazes de interferir nos mecanismos de reparo do DNA; • Dietas carentes de nutrientes essenciais: a carência de folato torna os tecidos-alvo mais suscetíveis à carcinogenicidade do álcool; • Excesso de gordura corporal: as alterações metabólicas e endócrinas (hiperinsulinemia e ↑ estrogênio) associadas ao excesso de gordura corporal estimulam a proliferação celular e inibem a apoptose. Além disso, a obesidade favorece a carcinogênese ao estimular respostas inflamatórias. → Quadro clínico: Os principais sinais incluem: • Lesões precoces de alto risco (leucoplasia e eritroplasia). A leucoplasia caracteriza-se por ser uma mancha branca/cinza na mucosa oral, com tendência de evoluir para uma neoplasia maligna em 30% dos casos. Já a eritroplasia é uma alteração vermelha hiperceratótica na mucosa, com uma taxa de 60% de progressão para um câncer de boca; • Lesões na cavidade oral ou nos lábios há mais de 15 dias, que podem apresentar sangramentos; • Nódulo indolor no pescoço; • Rouquidão persistente. O álcool ajuda a dissolver as substâncias presentes no cigarro, deixando-as em alta concentração. Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes Em casos mais avançados, observa- se: • Dificuldade de mastigação e de engolir; • Implicações na fala (restrição da mobilidade da língua ou disfunção do nervo hipoglosso). Outros sintomas possíveis são: • Massa/Úlcera dolorosa; • Espessamento da mucosa; • Dor referida na mandíbula, nas gengivas e na orelha; • Amolecimento dos dentes. → Fatores de risco: • Tabagismo (tempo de exposição e carga tabágica); • Etilismo; • Mascar betel (semente de areca + folhas de piper betle + tabaco); • Infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) tipo 16; • Exposição à radiação solar (câncer de lábio); • Excesso de gordura corporal; • Gênero e idade (homens brancos acima de 40 anos); • Imunossupressão. RELACIONAR os fatores psiconeuroimunológicos com o câncer de boca → A psiconeuroimunologia (PNI) correlaciona o cérebro e o sistema imunológico, com influência das manifestações psicológicas individuais e/ou sociais; → A comunicação entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico dá- se da seguinte forma: • Neurotransmissores e hormônios modulam o sistema imune; • Citocinas regulam o SNC. → O estresse continuado mina o sistema imunológico. Através de mecanismos de retroalimentação, o estresse propicia o descontrole de neurotransmissores cerebrais (serotonina e noradrenalina), causando depressão. Com a defesa do organismo comprometida - especialmente carente de células Natural Killers (NK), que combatem células tumorais -, as chances de permitir o aparecimento e o desenvolvimento de tumores aumentam; Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes → O estresse também está associado à reparação deficiente do DNA e a alterações na apoptose; → A ativação do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal (HPA), que promove o aumento dos níveis periféricos de cortisol, é a principal via de regulação neuroimunoendócrina associada ao estresse. O cortisol se liga a receptores citoplasmáticos nos leucócitos e provoca imunossupressão; → A capacidade mitótica dos linfócitos diminuída está associada à redução na produção de IL-2, citocina que induz a proliferação celular; → Os glicocorticoides inibem a síntese de outras citocinas, como IL-1, IL-6, IL-8, TNF e IFN-γ, responsáveis pela regulação da imunidade celular; → Os glicocorticoides também podem induzir a síntese de citocinas, como IL- 4, IL-10, IL-13, TGF-β e lipocortina-1, com propriedades anti-inflamatórias. COMPREENDER a relação do HPV com o câncer de boca → Segundo pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública da USP com 1.475 pacientes, 72% dos casos de câncer de cabeça e pescoço apresentou o vírus HPV do tipo 16, o mais relacionado ao desenvolvimento desses cânceres; → Inicialmente, o HPV infecta queratinócitos basais, penetrando via mucosa lesada, e se replica às custas das células do hospedeiro; → O HPV parece infectar persistente ou frequentemente a boca, sendo os principais tipos encontrados o HPV-16 e o HPV-18; → Nas verrugas benignas e lesões pré- neoplásicas, o genoma do HPV é mantido numa forma epissômica, ao passo que nos cânceres, o DNA viral é geralmente integrado ao genoma da célula hospedeira; → Acredita-se que os HPV atuem como iniciadores da proliferação epitelial ou desempenhem um papel nos estágios iniciais da carcinogênese, mas não sejam essenciais para a progressão e manutenção do estado de malignidade; → Os primeiros genes do HPV a se expressarem são E1 e E2. O produto do gene E1, uma fosfoproteína nuclear com atividade ATPase e DNA helicase, liga-se na origem de replicação do DNA viral, sendo essencial para a Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentesreplicação do vírus. A proteína codificada pelo gene E2 regula, por sua vez, a transcrição dos oncogenes E6 e E7; → A proteína E6 se liga à proteína supressora de tumor p53 e estimula sua degradação, fazendo com que as células destes tumores falhem na parada do ciclo celular em G1, seguindo- se o dano no DNA celular. Se outra proteína supressora de tumor não compensar a atividade da p53, a transformação celular pode ocorrer; → A E6 também atua inibindo a apoptose através de uma interação e até degradação da proteína pró-apoptótica Bak. Além disso, a E6 regula positivamente a atividade da telomerase, contribuindo para a imortalização dos queratinócitos; → A principal função do gene E7 dos HPV de alto risco é desregular a maquinaria do ciclo celular, principalmente pela indução da transcrição da fase G1/S. A proteína E7 liga-se às proteínas da família pRb e, como resultado, ativa os fatores de transcrição E2F, que são liberados da pRb. Esses fatores induzem a transcrição de genes importantes no controle da divisão celular por promover a progressão do ciclo celular, atuando nas fases G1 e S; → O gene E5 do HPV aumenta, possivelmente, a transdução de sinal intracelular mediado por fatores de crescimento. Essa proteína se liga à membrana plasmática e age sinergicamente com o fator de crescimento epidérmico (EGF) na estimulação da proliferação celular.
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