Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 DA FENOMENOLOGIA À PSICOLOGIA .................................................... 3 2.1 DAS FASES PERTENCENTES À PSICOLOGIA POR CARL ROGERS 6 3 A PSICOTERAPIA NA ACP ........................................................................ 9 3.1 MODALIDADE DE RESPOSTA ......................................................... 11 3.2 DA ATITUDE DO ENTREVISTADOR ................................................ 13 3.3 TÉCNICA DE BASE – REFORMULAÇÃO ......................................... 14 3.4 RESPOSTA REFLEXO ...................................................................... 15 4 GRUPOS NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA .......................... 18 5 ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS PRESENTES NA ACP .................... 21 6 IMPORTÂNCIA DOS VALORES NA CLÍNICA DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA ......................................................................................... 25 6.1 A VALORAÇÃO NA ACP ................................................................... 26 6.2 O SELF A PARTIR DO PROCESSO DE VALORAÇÃO .................... 28 6.3 TÉCNICAS E VALORES .................................................................... 29 6.4 AUTENTICIDADE .............................................................................. 30 6.5 CONSIDERAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL ............................... 31 6.6 EMPATIA ............................................................................................ 31 6.7 PSICÓLOGO ROGERIANO E SUA ATUAÇÃO NA CLÍNICA ............ 32 7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 34 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 DA FENOMENOLOGIA À PSICOLOGIA A fenomenologia foi fundada por Edmund Husserl (1859-1938) e trouxe contribuições para os estudos na psicologia. Ela surge como uma crítica à legitimidade naturalista de “voltar-se para a mesma coisa” para perceber a essência do fenômeno por meio da redução do pensamento / transcendental. Divergindo em alguns pontos do pensamento, Martin Heidegger, discípulo de Edmund traz a proposta da fenomenologia existencial, começando com o pressuposto que homem e mundo existem simultaneamente, e a busca pela compreensão do ser ocorre por meio de um entendimento ontológico, evidenciando o fluxo por entre a angústia e a insegurança do ser, e não pela definição e representação próprias da metafísica. Fonte: pensamentoliquido.com.br A fenomenologia pode ser entendida não apenas como uma escola filosófica, mas também como uma metodologia de conhecimento. Para a fenomenologia, existe uma coincidência entre existência (existência contínua) e aparência, ao invés de uma coincidência entre existência e ideia, ou seja, a existência buscada está corporificada no modo de existência no mundo, ao invés de uma coisa qualquer desvinculada do mundo. Sendo esta a diferenciação principal entre a metafísica e fenomenologia. 4 Foi da Filosofia que partiram as fontes primordiais que influenciaram para o surgimento da Psicologia. Porém, foi somente no século XIX com a separação da filosofia e a introdução dos modelos das ciências naturais que foi possível consolidar a psicologia. A história da ciência psicológica continua, composta pelo campo real da difusão do conhecimento e por uma variedade de métodos teóricos. De acordo com Goto (2008), pela própria história da Psicologia científica, vemos que esta possui várias escolas e abordagens, muitas delas com o mesmo objeto, mas com resultados e propostas diferentes. Assim, a Psicologia ao mesmo tempo em que alcançou o lugar de ciência, tem seu lugar problematizado pelo fato de não ter chegado epistemologicamente a uma conclusão metodológica que garantisse a sua comprovação científica. A psicologia humanista surgiu do movimento humanista nas décadas de 1930 e 1940 e influenciou alguns psicólogos que estavam insatisfeitos com os métodos teóricos da época (psicanálise e behaviorismo). A partir de 1950 a psicologia humanista obteve seu destaque, sua aprovação, por seus pioneiros, Gardner Murphy, Gordon Williard Allpot, Abraham Maslow, Carl Ranson Rogers. Por razão do direcionamento que a psicologia moderna tomava à época, afastando o homem do centro de suas discussões, esses estudiosos iniciaram um movimento chamado “terceira força”. Carl Rogers se destacou em suas pesquisas, trazendo a Abordagem Centrada na Pessoa ou centrada no cliente, que teve grande contribuição para a Psicologia Humanista. Sua maneira de entender as pessoas atravessa o entendimento de que o indivíduo é orientado para seu crescimento tendenciando o desenvolvimento de seus potenciais diante de três contextos favoráveis, sendo eles, fidedignidade e concordância, aceitação positiva incondicional, empatia. A Abordagem Centrada na Pessoa propõe um ser ativo buscando a atualização de suas competências inerentes. A ideia central dessa abordagem para Rogers (1942,2005) pode ser resumidamente formulada da seguinte maneira: a consulta psicológica eficaz consiste numa relação permissiva, estruturada de uma forma definida, que permite ao paciente alcançar uma compreensão de si mesmo num grau que o capacita a progredir à luz da sua nova orientação. Esta hipótese tem um corolário natural: todas as técnicas usadas devem ter como objetivo desenvolver essa relação permissiva e livre, essa 5 compreensão de si na consulta psicológica e nas outras relações, essa tendência para uma ação positiva e de livre iniciativa. Rogers (1983) os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima passível de definição, de atitudes facilitadoras [...] A abordagem centrada no cliente baseia-se na confiança em todos os seres humanos e em todos os organismos. As ideias de Carl Rogers se desenvolveram ao longo de sua carreira, tanto que o nome de sua proposta teórica também mudou. Nascendo em 1940 uma nova proposta teórica, denominada Psicoterapia Não-Diretiva ou Aconselhamento Não- Diretivo, que passou por alterações até chegar na Abordagem Centrada na Pessoa. www.psicologiaexplica.com.br Rogers, no processo de desenvolvimento de seu pensamento, sempre expressou preocupação com os fundamentos filosóficos da psicologia, e a Abordagem Centrada na Pessoa é derivada de sua experiência clínica e pesquisa científica. A perspectiva filosófica constitui-se em um modo de pensar a realidade, de questioná- la e de nortear a práxis do ser humano (Holanda, 1998). Rogers com base na experiência prática e na vida como ponto de partida para formular suas teorias e métodos de psicoterapia, incluindo a subjetividadede terapeutas, cientistas, se interessa em compreender o significado dado pela própria pessoa à sua http://www.psicologiaexplica.com.br/ 6 experiência e forma de vivência, assumindo uma prática de humanismo e atitude fenomenológica em sua forma de trabalhar. Os trabalhos de Rogers tiveram como ponto inicial, sua atuação clínica com crianças, onde identificou nelas o potencial positivo de desenvolvimento, propiciando uma investigação a cerca de uma tendência inerente existente em todas as pessoas que busca evoluir numa direção positiva, se tornando a idéia central de seu trabalho. Os estudos de Rogers eram amplos, sua inquietação pelos processos sociais e questões como a paz mundial, o fez buscar estender sua teoria a esses vários campos. Inicialmente sua abordagem tinham como foco a evolução de um sistema de alteração na personalidade, voltando-se paa o subjetivo da pessoa, posteriormente seus estudos concentraram-se nas interrelações sociais do indivíduo. Uma questão que marcou esse período foi a busca de expressões teóricas que ajudassem a organizar e dar sentido explicativo para o conhecimento acumulado até agora, sobre a prática e pesquisa de novos métodos de psicoterapia, Nessa experiência, Rogers foi além da teoria terapêutica e tentou organizar de forma rigorosa proposições e hipóteses. Testável por experiência, suas opiniões sobre a natureza da personalidade, o desenvolvimento humano, mudança e relações gerais. E devido ao empenho teórico da época, seu resultado mais detalhado e completo de uma Teoria de Terapia, Personalidade e Relacionamento Interpessoal. 2.1 DAS FASES PERTENCENTES À PSICOLOGIA POR CARL ROGERS Com a evolução da proposta teórica e metodológica no decorrer de sua trajetória, houve algumas divisões de seu pensamento por parte de outros estudiosos, a fim de delimitarem as fases do mesmo. Sendo que a divisão mais amplamente utilizada é a concebida por Hart & Tomlinson (1970), que descreve três fases pertencentes à psicoterapia, sendo, Fase Não-Diretiva; Fase Reflexiva; Fase Experiencial; e outra fase, esta, referente à Abordagem Centrada na Pessoa, Fase Coletiva ou Inter-Humana. Na Fase Não-Diretiva a psicoterapia pressupõe a busca pessoal de crescimento e saúde, devendo propiciar um espaço, que favorecesse ao cliente o desenvolvimento de seu potencial, assumindo a responsabilidade pelo seu próprio processo. Realça os sentimentos do que o intelecto, o “aqui e agora” no lugar do 7 passado, seu objeto de trabalho é o indivíduo, não o problema, e tem o relacionamento em si como uma experiência de crescimento. Segundo Holanda (1998) nessa fase, as atitudes do terapeuta privilegiam a técnica da permissividade, através de uma postura de neutralidade em que o profissional deveria intervir o mínimo possível. Wood (1994) acrescenta o psicoterapeuta (ou “conselheiro”, termo mais utilizado nessa etapa) renuncia ao papel de especialista, tornando mais pessoais as relações com o cliente e conduzindo a sessão a partir da orientação ditada por este último (denominado “paciente” em Psicoterapia e consulta psicológica, quer dizer, o processo terapêutico é dirigido pelo cliente, sendo que o psicoterapeuta tem pouca intervenção. A Fase Reflexiva é caracterizada por práticas que refletem emoções e correspondem a terapias centradas no cliente, o papel do terapeuta é promover o desenvolvimento do cliente, realizado em um ambiente não ameaçador (ou seja, em condições ambientalmente facilitadora). Neste momento a ideia de não-diretividade é trocada pela ideia centralizada no cliente, propondo uma atividade maior na atuação do terapeuta, sendo cliente seu objeto de maior atenção. Com a proposta de desenvolvimento de atitudes facilitadoras (sendo estas necessárias para a mudança construtiva de personalidade do cliente), o terapeuta dispõe três pontos para a obtenção da evolução do cliente. Sendo empatia, aceitação positiva incondicional e congruência. A empatia permite ao terapeuta a compreensão do outro em seu mundo de acordo com sua ótica, a aceitação positiva incondicional quer dizer do respeito à singularidade do cliente de maneira absoluta. A congruência pode ser compreendida como o nível de equivalência entre a experiência do terapeuta e as informações que ele comunica com o cliente (sendo ele mesmo no relacionamento terapeuta-cliente). Rogers (1994) descreve as atitudes facilitadoras: 1) Que duas pessoas estejam em contato psicológico; 2) Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de incongruência, estando vulnerável ou ansiosa; 3) Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja congruente ou integrada na relação; 4) Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo cliente; 5) Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do esquema de referência interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente; 6) Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e da consideração positiva incondicional seja efetivada, pelo menos num grau mínimo (p.157). 8 A Fase Experiencial é marcada pela mudança do olhar de Rogers que volta-se mais à experiência, centralizando sua atenção na experiência vivenciada pelo cliente, terapeuta e a relação de ambos. Tendo nesse momento uma relevância, a intervenção terapêutica, que ocupa um espaço na relação intersubjetiva terapeuta-cliente. O objetivo da psicoterapia aqui é ajudar os clientes a tirar o máximo proveito de sua própria experiência, promovendo uma maior consistência no desenvolvimento pessoal e de relacionamento. Sendo o terapeuta facilitador do processo. As experiências do terapeuta são também parte da relação. Nesse sentido, essa relação não é mais entendida como centrada no cliente, mas como bicêntrica,pois inclui o esforço de explorar dois mundos fenomenais e fazê-los interagir em prol do cliente, criando nova significação após o que é vivenciado por ambos. Um dos colaboradores de Rogers, Gendlin, teve contribuição importante para a Abordagem Centrada na Pessoa, com orientação terapêutica embasada na teoria empírica, focalizava a vivência da relação do terapeuta com o cliente, ao invés do conteúdo oral em si. Segundo Moreira (2001, 2007) essa experiência é considerada responsável pelo processo de mudança do cliente. Descrito por Rogers (1976) descobriu-se que a transformação pessoal era facilitada quando o psicoterapeuta é aquilo que é, quando as suas relações com o paciente são autênticas e sem máscara nem fachada, exprimindo abertamente os sentimentos e as atitudes que nesse momento lhe ocorrem. Escolhemos o termo “congruência” para tentar descrever esta condição. Com este termo procura-se significar que os sentimentos experimentados pelo terapeuta lhe são disponíveis, disponíveis à sua consciência, e que ele é capaz de vivê-los, de ser esses sentimentos e estas atitudes, que é capaz de comunicá-los se surgir uma oportunidade disso (p.63). A Fase Coletiva ou Inter-Humana foi proposta por Moreira (2001,2007) devido o interesse de Rogers ter se direcionado a questões mais amplas, relacionadas à coletividade e atividades de grupo. Holanda (1998) justifica a denominação “inter- - humana”, argumentando que esta é uma fase de transcendência de valores e de ideias, em que Rogers trabalha com conceitos que coexistem em outras áreas da ciência, tais como a física, a química ou a biologia, expressando sua preocupação com o futuro do homem e do mundo. Mesmo depois de Rogers, a teoria Centrada na Pessoa continua a ser desenvolvida em vertentes diversificadas e em vários lugares do mundo. Estas são 9 influenciadas pelas diferentes fases do pensamento de Rogers. Pode-se destacar a versão clássica, a linha experiencial, a linha experiencial processual, a linha existencial-fenomenológica, a linha transcendental, a linha expressiva, a linhaanalítica, a linha comportamental-operacional, a linha do curriculum centrado na pessoa. A linha existencial-fenomenológica é principalmente desenvolvida por brasileiros e se embasa na fenomenologia existencial, e destaca suas características fenomenológicas por meio das contribuições da psicopatologia fenomenológica e das tradições de análise existencial. 3 A PSICOTERAPIA NA ACP A psicoterapia é uma relação, sua característica básica é ser entendida como uma interação, e essa interação tem a particularidade da existência. Esta é uma das premissas e herança intelectual de um método de psicoterapia humanista e existencial. Rogers ressaltou ao longo de seu trabalho que o objetivo do terapeuta é participar da experiência imediata do cliente. Para isso, o terapeuta precisa saber ouvir e observar, estar atento às mudanças nas relações e nas interações com o cliente. O principal fator que determina quase todos os processos envolvidos tanto na clínica, como no dia a dia de seus clientes é o que Rogers chamou de "tendência atualizante". Como descrito por Rogers & Kinget, (1977a) todo organismo é movido por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades e a desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento. Observemos que a tendência atualizante não visa somente (...) a manutenção das condições elementares de subsistência como as necessidades de ar, de alimentação, etc. Ela preside, igualmente, atividades mais complexas e mais evoluídas tais como a diferenciação crescente dos órgãos e funções; a revalorização do ser por meio de aprendizagens de ordem intelectual, social, prática'. É desse conceito que inicia a motivação de Rogers para propor a clínica psicoterapêutica, o processo de grupos, a aprendizagem e a educação, bem como qualquer possível aplicação de sua teoria, ainda que possa ser criticado e controverso. Esse conceito define a profunda confiança das pessoas no potencial humano - quase "fé" - para considerar as pessoas como seus próprios artesãos e como "seus próprios arquitetos. Uma das consequências do objetivo desse conceito 10 é sua funcionalidade e dinâmica, ou seja, o cliente é visto como o “sujeito” de sua própria vida ativa e consciente, presume-se uma mudança no papel do terapeuta no processo. Se o alvo da clínica é autônomo, consciente e tem potencial de desenvolvimento suficiente, então o papel do terapeuta não será mais o detentor do conhecimento desconhecido pelo cliente. O terapeuta é desapropriado de sua representação de detentor do saber, passando a responsabilidade do processo ser do cliente, o que esclarece o termo utilizado como facilitador no lugar de terapeuta. Pois este visa facilitar esse desenvolvimento de potencialidades no cliente. https://psicologiaacessivel.net/ A proposta do terapeuta “centrado na pessoa” visa a compreensão do sujeito, do que ele traz ao longo do processo e o que ocorre no aqui e agora da relação. A resposta reflexo é uma forma de empatia, que se baseia em um princípio semelhante, ou seja, somente os sujeitos que vivem nessa situação podem expressar a realidade para si e para os outro. 11 3.1 MODALIDADE DE RESPOSTA Após estudo desenvolvindo por Rogers através de entrevistas gravadas, Rogers destacou cinco modelos de respostas do terapeuta e quatro as do cliente para o terapeuta ((Rogers & Kinget, 1977a, p.237): 1. Resposta avaliativa, o que pode expressar desde uma interpretação, até um acordo/desacordo, passando pela sugestão ou informação; 2. Resposta que tende a "estruturar" a relação, que consiste numa explicação da situação terapêutica em questão; 3. Resposta visando obter esclarecimentos, o que indica uma não-apreensão exata do que o cliente questiona; 4. Resposta-reflexo do conteúdo, com referência ao contexto e não à pergunta propriamente dita; 5. Resposta-reflexo do objeto, o que indica que o terapeuta compreende a questão ou seu significado. As respostas do cliente às perguntas do terapeuta são: 1. Reiteração: ou repetição da pergunta (ampliando ou não seu conteúdo, ou mesmo apresentando uma nova pergunta); 2. Não-reação: sendo uma “renúncia aparente” ao assunto que pode desembocar noutro assunto mais superficial; 3. Envolvimento: o cliente explora suas atitudes relativas ao objeto da pergunta; 4. Percepção: uma resposta indicativa de que o cliente compreendeu ou tomou consciência de aspectos até então desconhecidos para si. Concluindo, Rogers & Kinget, (1977a, p.239) ficou evidenciado pelo estudo de Bergman que as atividades de exploração do eu e de tomada de consciência, duas dimensões importantes do processo terapêutico, parecem ser favorecidas por respostas que “refletem” o pensamento do cliente. Ao contrário, as respostas que procuram explicar ou interpretar são de natureza a provocar reações contrárias ao progresso terapêutico. Conforme o autor Mucchielli, outros tipos de respostas podem ser identificados na entrevista clínica, tais como, respostas de avaliação ou de julgamento moral; interpretativa; de suporte afetivo; investigadora e resposta solução de problema. A resposta da avaliação inclui referências a normas, regras e valores. A resposta da avaliação inclui referências a normas, regras e valores. Essa resposta 12 pode abarcar conselho, advertência, aprovação ou desaprovação. Para Mucchielli (1978), tal resposta “induz no entrevistado uma sensação de desigualdade moral, na qual ele se sente inferiorizado”. Nas respostas interpretativas, o foco está especialmente em uma ou outra particularidade, de acordo com o entendimento do entrevistador. Pode ser compreendida como um resgate parcial, um resgate deformante de sentido ou ainda uma exposição do que foi dito. Em todos os casos prevê uma elevação da subjetividade do terapeuta, possibilitando uma sensação de incompreensão por parte do entrevistado, originando um reparo até mesmo posturas como desinteresse, irritação ou bloqueio. ares.unasus.gov.br Respostas de suporte envolvem atitudes de conforto ou compensação. Indica que a semelhança de experiência entre o entrevistador e o entrevistado pode gerar uma sensação de boas-vindas podendo eventualmente levar à dependência, ou mesmo à recusa em ser objeto de tal conforto, ou mais em certo sentido, costuma ser uma resignação em esperar que tudo comece com a figura do entrevistador A resposta investigadora ou de pesquisa compreende consultar o cliente no propósito de obter informações complementares apontadas como necessárias pelo entrevistador. Não envolve apenas um apontamento do terapeuta, mas também revela algumas questões que o cliente precisa analisar. Quando o entrevistado não deseja explorar este ou aquele aspecto da proposta, isso pode levar à desistência (defesa). 13 A resposta à "solução de problemas" envolve uma “visão instruída" que libertará os clientes da situação em que se encontram. Por ser colocado de fora, este método indutivo pode trazer grande comodidade aos clientes, eliminando assim a responsabilização do seu próprio processo. A prática constante dessa forma de procedimento pode esconder uma dúvida no potencial do cliente ou excesso de confiança na habilidade do terapeuta. Essas modalidades utilizadas nas entrevistas dirigidas, porém não deve ser aplicadas como de forma exclusiva pois deixam o cliente na espera pela condução do terapeuta, causando certo prejuízo na proposta de desenvolvimento da autonomia deste. 3.2 DA ATITUDE DO ENTREVISTADOR O autor Mucchielli (1978) descreve cinco atribuições do terapeuta na prática da abordagem centrada no cliente, sendo elas: a) Acolhida e não iniciativa – o terapeuta se conduz de modo cordial, proporcionando ao cliente ficar descontraído, ao contrário de uma conduta diretiva que faz com que o cliente responda à situação imposta. Em todo caso é necessário se atentarpara a cultura em que se está inserido, bem como nas expectativas que o cliente apresenta, para não se criar um pré-julgamento. É importante ser cauteloso, aguardado o momento propício para as intervenções; b) Estar centrado no que é vivido pelo sujeito e não nos fatos que ele conta – priorizando o que é vivenciado pelo cliente que é singular a este. Devendo o terapeuta, ter a habilidade de compreensão do sentido desta vivência da forma com ela é para esse sujeito. Isso significa que os fatos objetivos são auxiliares, em vez de fatores decisivos. No entanto, deve- se notar que isso não significa que devemos simplesmente "deixar de lado" os fatos ou objetividade. Os fatos são parte integrante da cultura e da realidade pessoal e devendo ser entendidos desta maneira. c) Interessar-se pela pessoa do sujeito, não pelo problema em si mesmo – neste ponto o autor ressalta que não se deve visar o problema em si, mas o que este causa ao sujeito, a forma com que ele se manifesta, sem descartá-lo, pois, problemas são situações de toda realidade, a maneira 14 como é vivenciado é que se difere. Buscar ver o problema de fato, sob o olhar do sujeito que o vivencia, configura a entrevista centrada no cliente. d) Respeitar o sujeito e manifestar-lhe uma consideração real, em lugar de tentar mostrar-lhe a perspicácia do entrevistador ou sua dominação - Significa confiar nos clientes de que é possível livrar-se da própria situação e restaurar a vitalidade perdida, ou seja, o "estado de equilíbrio". Isso significa respeitar esse potencial e respeitar a própria existência do indivíduo, que é única e verdadeira. Esta é a sua integridade, respeito pela realidade, emoções e vida. Ocorre a troca e a interação, sem a imposição de qualquer coisa. Uma tendência atualizante. e) Facilitar a comunicação e não fazer revelações – esta é uma forma da outra parte esclarecer para si própria a sua própria experiência, o que lhe permitirá seguir a solução, de acordo com Mucchielli (1978) trata-se de fazer esforços para manter e melhorar sua capacidade de comunicar e de formular o seu problema. A diferença é que no modo de reformulação de uma interpretação clássica a interpretação ocorre pela apreensão do universo particular do sujeito como ponto de partida. 3.3 TÉCNICA DE BASE – REFORMULAÇÃO Começa com uma ideia interveniente, que permite ao cliente expressar as suas ideias de forma mais completa, promove a comunicação e gera cada vez mais espontaneidade. Segundo Mucchielli (1978), se define ‘reformulação’ uma intervenção do entrevistador que consiste em tornar a dizer com outros termos e do modo mais conciso, ou explícito o que o cliente acaba de expressar e isto de tal forma que obtenha a concordância do sujeito. Não significa fazer interpretações, mas favorecer a comunicação, permitindo que o cliente avance na comunicação, vendo novas possibilidades, neste sentido há a confirmação do que foi formulado. Existem cinco fundamentos essenciais da reformulação: a compreensão da significação expressa na formulação, exprimir de maneira aprimorada e evoluída o ponto de vista do cliente, acolhimento do material subjetivo trazido pelo cliente, o entendimento do ponto de vista do cliente da forma como o cliente o expõe, o “erro” 15 só permite ao cliente refazer sua expressão e encaminhar a situação para uma nova tentativa de entendimento, Significa uma "verificação" contínua da comunicação como forma de orientar a comunicação. Compreender e permitir a manutenção de canais de comunicação abertos. www.vanessasardisco.com.br O terapeuta como agente facilitador, no comprometimento com o cliente, confiando no seu potencial, sugerindo um raciocínio comportamental, pois o conteúdo emocional está vinculado ao entendimento do que é vivenciado individualmente. Sobre esse entendimento Mucchielli (1978) destaca se organizam em sistema no universo privado de cada um de nós. Assim, compreender um comportamento é compreender as significações que ele implica no próprio nível da percepção das coisas, dos seres, e dos eventos, é reconstituir tais significações no conjunto da vivência do sujeito. 3.4 RESPOSTA REFLEXO O objetivo de um terapeuta centrado no ser humano é interagir na experiência do cliente em tempo real, quer dizer, não julgar, avaliar, analisar e interrogar, e sim perpassar o trajeto natural particular do sujeito, a partir de seu pensamento, 16 procurando abranger seus significados. Rogers (1977b) complementa, “ao ponto de retomá-lo e lhe dar uma forma equivalente ou, pelo menos, suscetível de ser reconhecida como sua. Por isto a resposta característica da abordagem rogeriana é conhecida pelo nome de ‘reflexo’”. Tal conceito tem como proposta criar uma via de comunicação entre terapeuta e cliente, de modo a tornar os sentidos normais. Também busca fazer com que esses sentidos fiquem claros para o sujeito. Rogers (1977b) descreve esse tipo de resposta em três moldes, sendo eles: A reiteração o reflexo-simples, busca sintetizar o que é comunicado pelo cliente de maneira implícita ou manifesta, refletindo a ideia por ele expressa. Visa elucidar pontos relevantes da comunicação, favorecendo a continuação da comunicação, promovendo a evolução da narrativa do cliente. Tal modelo de resposta é favorável a segurança, reduz as defesas e expande o escopo de conscientização do cliente. Para Rogers & Kinget (1977b), o reflexo simples se emprega principalmente quando a atividade do cliente é descritiva, isto é, quando carece de substância emocional ou quando o sentimento está a tal ponto inerente ao conteúdo material que o terapeuta demonstre uma atitude investigadora, analítica, que seja contrária às suas intenções, se procurasse deduzir daí alguma significação implícita. O reflexo simples, são marcas de pontuação usadas para organizar o conteúdo da comunicação com o cliente. Isso lhe dará um melhor entendimento de si mesmo e o encorajará a continuar se manifestando. Nesse modelo a afetividade é mais evidenciada, não se voltando para o cognitivo do sujeito, em que se buscou fundamentação na Gestalt, que traz a ideia que não se modifica o campo de percepção do sujeito. Esse modelo não busca modificação excessiva, mas um novo entendimento a partir da clarificação do ponto obscuro anteriormente expressado. Proporcionando bem-estar por não estar sendo julgado e concomitantemente compreender ainda que sutilmente a comunicação. Uma forma mais elaborada da apresentação de modelo de reiteração é a reformulação-resumo, onde o terapeuta faz novamente a comunicação com o objetivo de certificar da compreensão de seu cliente. Visa sintetizar a narrativa para identificação do ponto crucial. Para Lerner (1974) o reflexo-simples tem a vantagem de que se articula pura e exclusivamente sobre o material provido pelo cliente, que desta maneira é acompanhado e não observado; tal experiência o motiva de forma natural a penetrar progressivamente e por iniciativa própria, em sua problemática. 17 Outro tipo de resposta descrito por Rogers é o reflexo dos sentimentos, utilizado por ele também o termo “reversão figura-fundo”, onde esclarece (Rogers & Kinget 1977b), enquanto que a reiteração facilita o processo ao dar ao indivíduo a sensação de se sentir perfeitamente compreendido e respeitado, o reflexo propriamente dito tem por objetivo descobrir a intenção, a atitude ou sentimento inerentes às suas palavras, propondo-os ao cliente, sem os impor. Em termos gestaltistas, consiste em tornar claro o “fundo” da comunicação de modo a permitir que o indivíduo perceba se ele encontra nela elementos suscetíveis de se integrar à “figura”, de modificá-la ou de revalorizá- la. Envolve a compreensão por trás do discurso claro do sujeito, tendo um caráter mais dinamizado, facilita a evolução dessa figura que no modelo de reiteração tendenciavaa estabilização. http://www.iarabravo.com.br/ Tal percepção solicita mais uma vez atenção detalhada do terapeuta, especialmente a empatia, de modo que se exclua qual for o sentimento de invasão ou de sofrimento, respeitando o momento do cliente, que significa o tempo em que o cliente leva para a compreensão do que está sendo trabalhado no processo. Importante frisar sobre essa atenção detalhada, pois na falta dela o terapeuta intervém de modo vago, podendo o cliente retroceder no processo. Geralmente esta percepção se consolida com a experiência, e não se descarta a intuição para identificar o momento do cliente, que abarca a atenção detalhada, o empenho e respeito do terapeuta para com o processo do cliente. Como cita Lerner (1974), esta liberdade, 18 esta ausência de pressões, que emanam do reflexo do sentimento, permite que o cliente progrida até uma crítica cada vez mais objetiva de suas ‘experiências’ e valorações conexas. Já a elucidação ou reformulação-clarificação, age em outro campo da comunicação, ou seja, o campo dos elementos não expressos. Sua finalidade é fazer com que as pessoas tenham sentimentos e atitudes evidentes. Esses sentimentos e atitudes não são derivados diretamente da fala do sujeito, mas podem ser inferidos da comunicação ou de seu contexto. Essa resposta exige cuidado por parte do terapeuta, pois embora seja mais atraente tanto para o terapeuta quanto para o cliente, e obtenha resultados satisfatórios, quando utilizada de maneira exclusiva ou constante, propicia à dependência do cliente. Como ressalta Rogers & Kinget (1977b) esta é uma das principais razões pelas quais o terapeuta rogeriano experiente evita responder desta maneira. Neste sentido, a clarificação é o aspecto ao mesmo tempo mais difícil e mais eficaz da reformulação: consiste em trazer à luz e reenviar ao sujeito o sentido mesmo daquilo que ele disse (Mucchielli, 1978). No tipo de resposta elucidação, existe uma semelhança grande com a interpretação, sendo mais fácil abarcar elementos fora do domínio da percepção do cliente, portanto, está mais focada na percepção do terapeuta. Atenção vigilante é necessária na compreensão desse significado que o sujeito dá às suas vivências no momento vivido. Rogers & Kinget, (1977b) ressalta que pelo fato de que a elucidação se afasta sensivelmente do centro da percepção e de que seu conteúdo corre o risco de não ser reconhecido pelo indivíduo como pertencente ao campo de sua percepção, seria útil formular o conteúdo desta resposta de modo não categórico (...) Já que a elucidação se aproxima da interpretação, é raro que apareça no diálogo rogeriano. Contudo entende-se que das formas de resposta apresentadas, a elucidação é menos efetiva, demonstrando um bloqueio e perda da iniciativa para o auto exame por parte do cliente. 4 GRUPOS NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA Pode-se destacar que as atividades grupais apresentam relevância após a primeira e segunda guerra mundial, quando nasce como ferramenta para auxiliar a interação dos participantes, que por vezes não a tinham nem mesmo com seus 19 familiares. Para os participantes, as atividades grupais eram vistas como uma válvula de escape, diante a tanta desumanização, era um recurso que proporcionava nova possibilidade. Nos dias de hoje, de forma contextualizada e ampliada as terapias grupais representam uma miniatura do mundo, onde questões de relacionamentos bem como as predisposições da sociedade podem ser analisadas, avaliadas e entendidas. A abordagem centrada na pessoa, descrita por Carl Rogers e colaboradores tem uma base filosófica nos pressupostos do humanismo e do existencialismo. Por exemplo, é diferente de outras tendências da psicologia moderna, como o behaviorismo e a psicanálise, porque se encontra em outro paradigma de compreensão do ser humano na relação entre o homem e o mundo: o paradigma fenomenológico enfatiza o surgimento da experiência subjetiva e consciente, portanto, como forma de lidar com problemas no processo de tratamento. Compreende-se que a função do psicoterapeuta centrado na pessoa é promover o crescimento das pessoas, ou seja, criar condições necessárias e suficientes para o crescimento das pessoas em tratamento. Com seus estudos voltados à área educacional, Rogers fez contribuições importantes para trabalhar com o grupo. De início, ele pensou que as mesmas práticas usadas por terapeutas e professores em clínicas e salas de aula individuais poderiam ser adaptadas para trabalhar com grupos. Nessa perspectiva os integrantes eram idealizados de modo singular e fragmentado, despido de ponderação pela sua participação coletiva bem como pelo grupo em si. De acordo com Fonseca (2005) porque a principal preocupação dos facilitadores de grupos, naquele momento, era com o estímulo à expressividade dos membros dos grupos. Contudo, foram realizadas reestruturações nessa perspectiva, por meio do embasamento fenomenológico-existencial, colaborando para os grupos de encontro da seguinte forma como cita Rogers (1970/2002): a) confiar no grupo, na capacidade deste e de seus membros de desenvolverem suas potencialidades, é um pré-requisito à criação do ambiente de confiança; - aceitar a vontade do grupo, mesmo que a princípio pareça que a discussão permanecerá apenas num nível superficial cognitivo: "descobri que é compensador viver com o grupo exatamente onde ele está" ; b) dar espaço para que os indivíduos do grupo se posicionem como sentirem-se mais à vontade, ou seja, com maior ou menor comprometimento psicológico com o grupo. 20 Segundo Rogers, poder recusar-se à participação pessoal e não se sentir coagido a isso, é uma condição facilitadora para o estabelecimento da confiança (dos membros com o grupo e com o facilitador). Os membros percebem seu potencial autônomo a partir disso; c) atacar as defesas da pessoa, como uma forma de confrontá-la com suas incongruências, não parece a Rogers uma maneira facilitadora, pelo contrário, é condenável. Isto pode bloquear a pessoa e criar resistência ao processo; e d) evitar comentários interpretativos. Rogers (1970/2002) explica: "Tenho tendência para não sondar ou comentar o que pode estar por detrás do comportamento de uma pessoa. Interpretar a causa do comportamento individual só pode ser altamente hipotético". https://www.timetoast.com/ Na concepção da atuação humanista-fenomenológica, Rogers (1961/2009) enfatiza a importância das premissas facilitadoras, aceitação incondicional, compreensão empática e autenticidade para a mudança no processo psicoterapêutico, porém, Moreira (2009) aponta: “na minha experiência estas condições são sempre necessárias. Contudo, nem sempre são sufi- cientes”. Para além das questões inerentes ao ser humano e da relevância da relação que se desenvolve entre o psicoterapeuta e o cliente, deve-se ponderar também sua 21 interconexão com o mundo, bem como todos os aspectos culturais, históricos, políticos e biológicos a ele relacionadas, reconhecendo a constituição mútua do homem e do mundo. Nas palavras de Merleau-Ponty (1945/2006), a vivência no mundo acontece como “uma totalidade aberta cuja síntese não pode ser acabada”, uma realidade indeterminada que acolherá a experiência única de cada membro, de cada psicoterapeuta e de todo o grupo, trazendo um significado único a esta conferência. A experiência obtida no mundo, “é justamente não uma soma de coisas que sempre se poderia colocar em dúvida, mas um reservatório inesgotável de onde as coisas são tiradas”. 5 ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS PRESENTES NA ACP A abordagem centrada na pessoa, no Brasil, é o resultado da influência dos métodos fenomenológicos pragmáticos e empiristas, existencial da América do Norte e da Europa. Essa abordagem foi inicialmente aceita de uma forma não crítica e não pessoal e gradualmente desenvolvidacomo método peculiar e concepção única desde os anos 1980. A fenomenologia origina das palavras gregas – phainomenon e logos – sendo que phainomenon quer dizer sobre aquilo que aparece, se expressa, pode ser observado, compreendido pela percepção ou mente, logos se entende por uma narrativa esclarecedora. Portanto, na etimologia, a fenomenologia refere-se ao discurso esclarecido que se expressa por si mesmo. Normalmente, é entendido como o estudo ou ciência do fenômeno. Conforme cita Zilles (2002), a fenomenologia husserliana, (de Edmund Husserl), "é, em primeiro lugar, uma atitude ou postura filosófica e, em segundo lugar, um movimento de ideias com método próprio, visando sempre o rigor radical do conhecimento". Entre os principais conceitos apresentados por Husserl, chamam a atenção os seguintes pontos: essência, redução e intencionalidade. A essência ou eido é entendida como uma estrutura imutável, e sua existência permanente define o que é o objeto, ou seja, a essência é a forma característica de surgimento do fenômeno. A redução ou epoque teve formas distintas para o estudioso. Inicialmente, quando se pensou que a existência e o significado das coisas são separáveis, entendeu a redução como colocá-los entre colchetes e colocar a existência real das 22 coisas de lado para revelar a essência. Outra apresentação da redução reflete-se na ideia "voltar à mesma coisa", uma vez que aparecem antes de qualquer preocupação, trata-se de um retorno aos elementos puros como base do conhecimento. De acordo com Martins & Dichtchekenian (1984), com o tempo, esta visão de consciência enquanto representação se tornará superada a partir da noção de intencionalidade. Zilles (2002) esclarece que a intencionalidade fenomenológica é "visada de consciência e produção de um sentido que permite perceber os fenômenos em seu teor vivido". https://psicologiaacessivel.net/ Heidegger, discípulo de Husserl, propõe que cada ser tem em si a possibilidade de questionar, usando o termo alemão “dasein” que quer dizer “ser-aí”. Pelas suas características dinâmicas, o Dasein sempre se associa ao ser de diferentes maneiras em constante movimento, e está em constante mudança de acordo com a possibilidade de existência. Belém (2004) explica que o dasein "se identifica com o homem, mas não é o homem. É dizer o mais originário do homem, que, ontologicamente é a sua existência" (...) “o dasein se entrega à responsabilidade de assumir o seu próprio ser e, sendo se relaciona com ele e se comporta com o seu ser como possibilidade mais própria". O ingresso do ser à realidade se baseia no mundo, condição essencial exclusiva ao dasein, onde há o acesso dos seres distintos. O termo "ser-no-mundo" se relaciona a um acontecimento unificado que abrange os seguintes estágios estruturais: a) ser-em, diz sobre um ser meramente 23 aberto, no meio do mundo, mas remete à constituição existencial, a um morar em, estar habituado com; b) ser junto ao mundo, no sentido de se comprometer com o mundo ao invés de juntar ao que acontece; c) ser-com, a coexistência de outras pessoas constitui essencialmente o ser-no-mundo; d) ser-próprio cotidiano e o impessoal entende-se que o ser-no-mundo é continuamente a encargo de si próprio, porém o particular do cotidiano, sendo que, o que é habitual é impróprio, impessoal por não remeter à singularidade. O dasein quando acontece, permite ao ser se abrir para si mesmo, para o mundo, e esse abrir-se significa, como descrito por Heidegger (2005), a eliminação das obstruções, encobrimentos, obscurecimentos, como um romper das deturpações em que a pre-sença se tranca contra si mesma. O referido autor apresenta outra questão relevante, ao qual chamou de decaída, descrita como decadência, a decaída quer dizer da fuga da própria existência que advém da angústia, representa o desvio de si. A angústia para ele não é entendida como a dor, uma experiência disfuncional, estado ou tendência, mas como uma característica básica da existência, pois é também nela que o dasein acontece. Por sua diversidade de se constituir, o dasein alterna entre a abertura e o fechamento para si. A angústia com caráter típico, proporcionará a abertura para si, saindo do cotidiano, sendo como um elo que pode caracterizar a abertura ou fechamento, tendenciando para o “sair do cotidiano”. Como “ser-no-mundo”, há a propensão de se voltar para questões do mundo, questões essas que nos escapolem, gerando um espaço vazio, este vazio configura na angústia. Heidegger (2005) descreve que a angústia não é somente angústia com... mas, enquanto disposição, é também angústia por... O por quê a angústia se angustia não é um modo determinado de ser e uma possibilidade da pre-sença [...] Na angústia o que se encontra à mão no mundo circundante, ou seja, o ente intramundano em geral, se perde [...] na angústia se está “estranho” [...] Mas, estranheza significa igualmente “não se sentir em casa”. Segundo Heidegger (2005) na angústia perdura a probabilidade de uma abertura favorecida à proporção que ela “retira a pre-sença de sua de-cadência e lhe revela a propriedade e impropriedade como possibilidades de ser”. Por meio da dor, abre-se uma visão de possibilidade, na qual as pessoas podem começar a viver no mundo a partir de si mesmas. Heidegger (2005) descreve é no preceder a si mesma, enquanto ser para o poder-ser mais próprio, que subsiste a condição ontológico- 24 existencial de possibilidades de ser livre para as possibilidades propriamente existenciárias. O poder-ser é aquilo em função de que a pre-sença é sempre tal como ela é de fato. gazetainformativa.com.br A psicologia se apropria de alguns desses conceitos, como citado por Bruns (2001) A fenomenologia possibilitou à psicologia uma nova postura para inquirir os fenômenos psicológicos: a de não se ater somente ao estudo de comportamentos observáveis e controláveis, mas procurar interrogar as experiências vividas e os significados que o sujeito lhes atribui, ou seja, o de não priorizar o objeto e/ou sujeito, mas centrar-se na relação sujeito objeto-mundo. Vale ressaltar que o propósito do uso de técnicas fenomenológicas no ambiente da psicologia é alcançar o significado de suas experiências do indivíduo em situações demarcadas por meio das experiências das pessoas em situações cotidianas. Então o ato de compreender o indivíduo se dá pela interpretação de suas perspectivas de ser-no-mundo, para além das palavras, abrangendo sua esfera psicológica, social e histórica. Viabilizando uma observação profunda dos fenômenos psicológicos, seja das relações interpessoais, como a forma de ser e estar no mundo deste indivíduo. Essa compreensão do ser como fenômeno, é apreendida de forma indireta, pela sua maneira própria de expressar, a assimilação do fenômeno ocorre por meio 25 das perspectivas, ao passo que se evidencia. Para Feijoo (2000), cabe ao psicoterapeuta a tarefa de trazer à tona a expressão inautêntica e autêntica do cliente, mobilizando-o de forma a possibilitar o reconhecer-se – bem como, uma vez lançado em sua liberdade e sua responsabilidade, escolher suas possibilidades”. De acordo com esses princípios, pode-se fazer observações contemporâneas sobre a abordagem centrada na pessoa e analisar algumas sugestões para reestruturar concepções da matriz epistemológica dessa abordagem. Aqui a “reestruturação” não quer dizer que anulação ou exclusão da teoria, mas, o que é mais importante, um chamado à reciclagem, renovação, dar um novo formato. 6 IMPORTÂNCIA DOS VALORES NA CLÍNICA DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA Explicar a abordagem centrada na pessoa, significa embasar e evidenciar no campo da teoria, valores por esta demonstrados. E diante da necessidade de que a prática clínica se desenvolvesse a partir de fundamentos de valores, Rogers (1967/1991) indaga: (...)o cliente apenas adota o sistema de valores do terapeuta? será a terapia apenas uma recurso através do qual os valores não reconhecidos e não examinados do terapeuta se transmitem, sem que o saiba, a um cliente desprevenido? Este deve tornar-se o padre moderno, defendendo e revelando um sistema de valores ajustado aos dias atuais? E que sistema de valores seria esse? Paulatinamente, Rogers começou a pontuar sobre um processo de valoração, com base na experiência natural, em que considera o valor como “a tendência de todos em mostrar certa preferência, diante sua conduta, por um objeto ou propósito, no lugar de outro, a que ele descreve como valor operativo. Para promover o desenvolvimento e integração dos clientes, os psicólogos rogerianos devem criar um ambiente de acolhida, compreensão e afetividade. Para tanto o psicológo deve usar das atitudes facilitadoras, já descritas anteriormente, a autenticidade, a consideração positiva e a empatia. 26 6.1 A VALORAÇÃO NA ACP Após as observações de Rogers (1967/1991), o processo de avaliação, ou seja, a forma como as pessoas avaliam a experiência em detrimento dos outros, está intimamente relacionado à função do corpo e ao desenvolvimento da personalidade. Pois nosso corpo é um sistema em constante mudança, ele é o centro de cada experiência que o indivíduo vivencia. Conforme descreve Rogers (1951/1974b), este organismo é locus de simbolizações, pensamentos, emoções, sensações e percepções. Sua interação com o mundo ocorre conforme aquilo que é percebido em seu campo experiencial conforme sua tendência de base de realizar-se, manter-se e aperfeiçoar-se. Roger pesquisou o desenvolvimento infantil e tentou delinear formato saudável para tal processo de valores, identificou que uma criança tem compreensão clara de seus valores e entende que tais valores ocorrem devido o funcionamento do organismo e não simbólica. Como descreve Rogers (1967/1991), a criança prefere experiências que mantém, aumentam ou efetivam o seu organismo, e rejeita as que não servem para essa finalidade. Exemplificando pode-se pontuar que a criança valoriza beber água quando tem sede, o acolhimento familiar, uma nova vivência em si mesma, como desvaloriza barulho excessivo e súbito, sabores amargos, sentir dor, ter fome, entre outros. É um processo que está intimamente relacionado à experiência atual, do momento, podendo ser flexível e variável. Rogers ainda acrescenta (...) “processo organísmico de valorização, em que cada elemento, a cada momento em que a criança sente, é de algum modo pesado, e selecionado ou rejeitado, e isso depende do fato de, nesse momento, permitir ou não a realização do organismo. ” 27 https://www.institutolemosesilva.com.br/ Um movimento similar de mudança e realização dentre demais seres vivos foi identificaco pelo estudioso. Ele conceitua a tendência atualizante como movimento semelhante à vida, sendo um não pode se frustrar sem haja resultados danosos a outro. Diante esta concepção, ressalta-se os valores objetivos, que se relacionam a todo organismo vivo, frequentes entre os povos, ocorrendo com ou sem o desejo deste. Como cita Rogers (1951/1974b), nos seres humanos o desenvolvimento do organismo ocorre na direção de uma maior realização e autonomia, mas também no sentido de comportamentos mais socialmente aceitáveis. Os valores operativos dizem respeito às necessidades do organismo e sua forma de funcionar, faz alusão ao que o indivíduo entende como eficiente para a satisfação de suas demandas, ao setnir fome, por exemplo, o alimento poderá ser seu valor, que está relacionado com sua sobrevivência. Os valores concebidos estão relacionados a pressupostos de uma atividade de simbolização, que se evidencia à experiência concreta do indivíduo, no processo de interiorização. Para Castelo Branco (2010), nessas interiorizações, a pessoa passa a acreditar que os elementos valorativos são seus e não admite certas emoções, sentimentos e sensações da consciência. Então, o organismo, pela função da consciência, fica impedido de examinar e avaliar as próprias experiências, distorcendo-as e se dissociando delas. 28 6.2 O SELF A PARTIR DO PROCESSO DE VALORAÇÃO O self desponta dentro do campo de percepção e se diferencia à medida que acontecem as vivências valorativas entre si e o mundo, e seus elementos é o que o self controla. Para explicar sua teoria genética da personalidade, Rogers (1951/1974b) descreve que a partir da interação com o ambiente e de modo particular como resultado da interação valorativa com os outros, forma-se a estrutura do ego – um modelo conceptual, organizado, fluido mas consistente de percepções, de características e relações do ‘eu’ ou de ‘mim’, juntamente com os valores ligados a esse conceito (p.481). Para Castela Branco (2010), o eu (self) não é sinônimo de organismo (...), e que ele é formado da interação do organismo com o ambiente. Destarte, enquanto o organismo é um sistema total que funciona por leis próprias, o eu (self) é um autoconceito organizado de si que, (sic) pode restringir ou não o funcionamento organísmico. Ao reconhecer que o self é produzido pela diferenciação dos organismos, Rogers também reconheceu que existe a mesma tendência de ajuste, realização e atualização no autodesenvolvimento. Portanto, quando a experiência de si e do organismo são as mesmas, a tendência de realização acontece de forma unificada. No entanto, quando ocorre divergência, as tendências biológicas podem ser opostas às tendências do self. Tal ocorrência das divergências se apresenta como o principal motivo das psicopatologias na perspectiva da abordagem centrada na pessoa. Essa desarmonia ocorre devido a autorregulação de uma significação deturpada das vivências. Para Castelo Branco (2010) essas simbolizações distorcidas negam à consciência certas experiências sentidas diretamente pelo organismo, e ensejam desajustes psicológicos, impedindo uma abertura para a experiência em foco e inibindo uma abertura para novas experimentações. Na maioria dos casos, na possibilidade de comportamento, o indivíduo escolherá um comportamento que não exija nenhuma desvirtuação, interceptação ou negação no símbolo da experiência organísmica, no entanto, se a demanda do organismo passar por situação de ser intensamente negada, tende a favorecer comportamentos que excedam tal restrição posta pelo entendimento do eu. Consequentemente haverá distorção, interceptação, negação da demanda ou do comportamento. Circunstâncias como essas exemplificam quando o indivíduo percebe que nada aconteceu como esperava ou que alguma coisa fugiu ao seu 29 controle. A harmonia sugere ao organismo estado de autorregulação real. Sobre essa tópica Castelo Branco (2010) acrescenta, apesar de haver conceitos, valores e percepções introjetados cultural e socialmente, o organismo, com base na consciência, consegue simbolizar essas experiências conforme efetivamente as experimenta em suas emoções, sentimentos, sensações e afetividades. Essa simbolização ocorre no organismo de uma forma congruente e coerente no eu (self). Ainda nessa perspectiva, Rogers vem dizer que a valoração adquire novo direcionamento no momento em que se tem consciência e do que é significado por esta. Segundo Rogers (1977/2001) as crenças ou construtos introjetados são rígidos e estáticos porque foram absorvidos de fora. Eles não estão sujeitos ao processo normal da criança de avaliar sua experiência de maneira fluida, dinâmica. (...) Se as condições de valor impostas à criança são numerosas e significativas, então a dissociação pode tornar-se muito grande e as consequências psicológicas, como vimos, realmente muito sérias. Nesse sentido, a criança desponta como vítima das circunstâncias e da educação dos pais. 6.3 TÉCNICAS E VALORES Na abordagem centrada na pessoa não há técnicas,sim atitudes promotoras do valor no indivíduo como único, em sua singularidade, uma relação de “pessoa para pessoa”. Portanto toda prática do terapeuta necessita relacionar-se com seu sistema de valores, para que não se coloque na condição de alcançar respostas parciais. Agora, é importante a capacitação de terapeutas (ao menos os que são adeptos da teoria rogeriana) não apenas em técnicas ou conceitos, como também no desenvolvimento de valores centrados no ser humano, uma vez que nos cursos e workshops realizados da abordagem centrada na pessoa, é possível identificar dificuldades por parte dos profissionais na utilização dessas atitudes (facilitadoras, promotoras do valor). Tal dificuldade se refere à pouca experiência com a linha de trabalho escolha por estes. 30 https://pisicosophia.webnode.com/ Portanto, o trabalho do psicólogo é proporcionar um ambiente favorável para o desenvolvimento pessoal dos pacientes em ambientes passíveis de compreender as próprias potencialidades e limitações. Os profissionais devem proporcionar um relacionamento interpessoal caloroso, para que as duas pessoas possam estar completas na terapia, o que é determinado pelas atitudes facilitadoras. Contudo precisa ter o cuidado de estar inteiro na relação não somente como profissional da psicologia, mas como ser humano, com seus valores, sentimentos, percepções, que se relaciona com o outro. 6.4 AUTENTICIDADE Para Gobbi, Missel, Justo & Holanda (2005), a atitude de autenticidade é uma disposição que, também, tem como valores a relação e a consideração da singularidade dos seres que estão envolvidos nela. Seja do terapeuta ou cliente, tal princípio não se refere somente a si, mas ao outro também, a autenticidade como resguarda Amatuzzi (2010), está embasada no valor da harmonia das partes no todo pessoal. Segundo ele, essa atitude remete à honestidade e, nessa atitude, nenhuma informação sobre o relacionamento deve ser ocultada. 31 Vieira & Freire (2006), sobre a autenticidade vem dizer que, no que se refere à autenticidade, esta não nos parece uma atitude cognitiva, onde o cliente e o terapeuta totalizariam suas respectivas experiências sensíveis. De fato, tratar-se-ia de uma vulnerabilidade ao excesso que ultrapassa a palavra pronunciada por qualquer um destes, afetação pelo que não pode nem deve ser explicado. A psicoterapia, como local de promoção da existência real, também deve ser uma experiência pouco familiar, pois este é um momento de reconhecimento, uma vez que a existência está em constante mudança. 6.5 CONSIDERAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL Essa prática se embasa na valoração que o indivíduo tem, como ser merecedor se respeito e confiança, estando fixada no valor do amor, favorecendo a unidade, na busca pela associação ao outro. Vieira & Pinheiro (2006) entendem a consideração positiva incondicional como uma responsabilidade para como outro, a quem não poderemos nunca determinar, totalizar ou diagnosticar. Portanto, não quer dizer de uma circunstância de busca de unidade, e sim de aprovação da diversidade que nos constitui e no entanto nos supera. 6.6 EMPATIA Levar em conta a diversidade, é, pois, se permitir a ela. Senti-la com profundidade, recebe-la abertamente. A consideração positiva deve levar os profissionais a tentarem ouvir o cliente na melhor condição: o valor do cliente exige que o psicoterapeuta proporcione uma escuta qualificada, buscando compreender suas significações e entendê-lo sem desvios. Além de estar relacionada à consideração positiva incondicional, a empatia também se une à autenticidade para que o psicólogo busque ouvir e compreender sob qual olhar vê o cliente, para que possa colocá-lo de lado, no intuito de entender melhor qual percepção o cliente tem de si. Se não o fizer, se sujeita a não ouvir o cliente, mas apenas o que se limita a ouvir, por interferência de teorias e conceitos pré- estabelecidos, ainda que inconscientes. 32 comunicacaoprodutiva.com.br Rogers (1983) aponta que essa atitude pode ser muito sutil, e é surpreendente perceber quanto posso ser habilidoso nisso. Basta que eu torça suas palavras um pouquinho, que eu distorça ligeiramente seu significado, e parecerá não somente que ele está dizendo o que quero ouvir, mas também que é a pessoa que eu quero que ele seja. E Amatuzzi (2010) vem dizer que, tal atitude aponta para o valor da sabedoria organísmica, em detrimento da ciência; para ele, a compreensão empática promove um conhecimento que está para além da cognição, criando a possibilidade de uma relação com o “conhecido” que não seja o da totalização ou do fechamento na racionalidade. 6.7 PSICÓLOGO ROGERIANO E SUA ATUAÇÃO NA CLÍNICA A atuação do psicólogo rogeriano é uma prática de valores, que proporciona uma aprendizagem de valores, e devido ao fato de serem valores organísmicos, dessa maneira experienciais, não podem se relacionar apenas às experiências do psicólogo, mas se adequarem e modificarem conforme a experiência vivenciada pelo cliente, seja na relação terapêutica ou não. Entendemos que a prática rogeriana trata de um exercício de valores e que, além disso, propicia uma aprendizagem de valores, mas que por se tratarem de valores organísmicos e, portanto, experienciais, não devem se referir somente à experiência do profissional rogeriano, mas encaixarem-se e transformarem-se de acordo com a experiência também vivida pelo cliente, quer na relação com o psicólogo 33 ou não. Então embora exista diversidade entre os valores, em uma relação terapêutica, deve-se selecionar valores que proporcione uma relação verdadeira, neste caso, tanto o psicoterapeuta quanto o cliente devem ser considerados como a relação de pessoa para pessoa. Por outro lado, quando se fala do ensino e aprendizagem de valores, não os mencionamos como a maioria das escolas concebe, porque nessas escolas os professores são detentores de conhecimentos e devem continuar a transmitir conhecimentos aos alunos, que demonstram pouco interesse neles. 34 7 BIBLIOGRAFIA BELÉM, D. M. (2004). Abordagem centrada na pessoa: um olhar contemporâneo. 2004. 135 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Departamento de Psicologia, Universidade Católica de Pernambuco, Recife CASTELO BRANCO, P. C. (2010). A noção de organismo no fieri teórico de Carl Rogers: uma investigação epistemológica. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. FEIJOO, A. M. (2000). A escuta e a fala em psicoterapia: uma proposta fenomenológica existencial. São Paulo: Vetor FONSECA, A.H.L. O modelo de trabalho com grupos na abordagem centrada na pessoa. In: GOBBI, S.L. et al. Vocabulário e noções básicas da abordagem centrada na pessoa. 2. ed. São Paulo: Vetor, 2005 GOBBI, S. L.; Missel, S. T.; Justo, H. & Holanda, A. (2005). Vocabulário e Noções Básicas da Abordagem Centrada na Pessoa. São Paulo: Vetor Editora GOTO, T. A. Introdução à psicologia fenomenológica: a nova psicologia de Edmund Husserl. São Paulo: Paulus, 2008 HART, J. T., & Tomlinson, T. M. (1970). New directions in clientcentered therapy. Boston: Houghton Miffin HEIDEGGER, M. (2005). Ser e tempo. Petrópolis: Vozes/Universidade São Francisco HOLANDA, A. (1998). Diálogo e psicoterapia: correlações entre Carl Rogers e Martin Buber. São Paulo: Lemos LERNER, M. Introducción a la Psicoterapia de Rogers, Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1974. MARTINS, J. & Dichtchekenian, M.F. (1984). Temas fundamentais de fenomenologia. São Paulo: Editora. MOREIRA, V. (2001). Más allá de la persona: hacia uma psicoterapia fenomenológica mundana. Santiago: Editorial Universitario Universidad de Santiago de Chile 35 MOREIRA, V. (2007). De Carl Rogers a Merleau-Ponty: a pessoa mundana em psicoterapia.São Paulo: Annablume. MUCCHIELLI, R. A Entrevista Não-Diretiva, São Paulo: Martins Fontes, 1978 ROGERS, C. (1976). Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes. ROGERS, C. (1994). As condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica da personalidade. In J. Wood et al. (Orgs.), Abordagem centrada na pessoa (pp.155-177). Vitória: Editora Fundação Ceciliano Abel de Almeida. ROGERS, C. (2009b). Tornar-se pessoa. São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1961). ROGERS, C. R. (1974b). Terapia centrada no paciente. 2ª. ed. Lisboa: Moraes Editores. (Originalmente publicado em 1951). ROGERS, C. R. (1987). Tornar-se pessoa (2a ed.). (M. J. C. Ferreira, Trad.). São Paulo: Martins Fontes ROGERS, C. R. (1991) (Org.) De pessoa para pessoa: o problema de ser humano. 4ª. ed. São Paulo: Pioneira (Originalmente publicado em 1967). ROGERS, C. R. (2001). Sobre o poder pessoal. 4ª. ed. São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1977) ROGERS, C. R.; KINGET, G. M. Psicoterapia e Relações Humanas, v. 1, Belo Horizonte: Interlivros, 1977a ROGERS, C. R.; KINGET, G. M. Psicoterapia e Relações Humanas, v. 1, Belo Horizonte: Interlivros, 1977b ROGERS, C. Um jeito de ser. Tradução de Maria Cristina Machado Kupfer. São Paulo: EPU, 1983. ROGERS, C.R. 2005 [1942]. Psicoterapia e consulta psicológica. São Paulo, Martins Fontes, 443 p. VIEIRA, E. M. & Freire, J. C. (2006). Alteridade e Psicologia Humanista: uma leitura ética da Abordagem Centrada na Pessoa. Estudos de Psicologia (Campinas), 23(4), 425-432. 36 ZILLES, U. (2002). A fenomenologia husserliana como método radical. Em: Husserl, E. A Crise da humanidade européia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS.
Compartilhar