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Fonética e Fonologia

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DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
FONÉTICA E FONOLOGIA 
 
 
 
1 
 
Copyright © Portal Educação 
2012 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
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Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842f Fonética e fonologia / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 
2012. 
 125p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-8241-515-3 
 1. Língua portuguesa. 2. Gramática. 3. Fonética. 4. Fonologia. I. Portal 
Educação. II. Título. 
 CDD 414 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 O OBJETO DE ESTUDO DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA .................................................. 4 
2 FONÉTICA ................................................................................................................................ 10 
2.1 A PRODUÇÃO DOS SONS DA FALA ....................................................................................... 12 
2.2 O APARELHO FONADOR E OS MECANISMOS DE PRODUÇÃO DOS SONS ...................... 13 
3 O SISTEMA ARTICULATÓRIO ................................................................................................ 16 
4 O SISTEMA FONATÓRIO ........................................................................................................ 29 
5 O SISTEMA RESPIRATÓRIO ................................................................................................... 31 
5.1 FONAÇÃO ................................................................................................................................. 32 
5.2 NASALIZAÇÃO ......................................................................................................................... 35 
6 SEGMENTOS FONÉTICOS ...................................................................................................... 37 
6.1 SEGMENTOS VOCÁLICOS ...................................................................................................... 38 
6.1.1 Descrição dos segmentos vocálicos .......................................................................................... 38 
6.1.2 Encontros vocálicos ................................................................................................................... 49 
6.1.3 Propriedades articulatórias secundárias .................................................................................... 54 
6.1.4 Ordem para classificação de vogais .......................................................................................... 55 
7 SEGMENTOS CONSONANTAIS .............................................................................................. 59 
7.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SONS CONSONANTAIS ..................................................................... 62 
7.1.1 Quadro fonético ......................................................................................................................... 66 
7.1.2 O alfabeto fonético .................................................................................................................... 68 
 
 
3 
 
7.2 AS CONSOANTES DO PORTUGUÊS DO BRASIL .................................................................. 69 
7.3 ARTICULAÇÕES SECUNDÁRIAS ............................................................................................ 72 
8 FONOLOGIA ............................................................................................................................. 77 
8.1 MODELOS TEÓRICOS ............................................................................................................. 78 
8.2 TEORIAS FONOLÓGICAS ........................................................................................................ 80 
8.2.1 Teoria fonêmica ......................................................................................................................... 80 
8.2.2 Fonologia linear ou fonologia gerativa ou fonologia gerativa natural ......................................... 81 
8.2.3 Fonologia autossegmental ......................................................................................................... 83 
8.2.4 Fonologia métrica ...................................................................................................................... 87 
9 O FONEMA ............................................................................................................................... 90 
9.1 OS ALOFONES ......................................................................................................................... 93 
9.2 VARIANTES DO SISTEMA CONSONANTAL ........................................................................... 95 
9.2.1 Pares mínimos ........................................................................................................................... 96 
9.2.2 Pares análogos .......................................................................................................................... 98 
9.2.3 Os traços fonológicos ou traços distintivos ................................................................................ 98 
9.3 PROCESSOS FONOLÓGICOS ............................................................................................... 104 
9.4 REGRAS FONOLÓGICAS ....................................................................................................... 106 
9.5 TRANSCRIÇÃO FONÊMICA E FONÉTICA ............................................................................. 111 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 115 
GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................... 119 
ANEXOS ............................................................................................................................................. 120 
 
 
 
4 
 
1 O OBJETO DE ESTUDO DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA 
 
 
Os fenômenos relacionados a linguagem, suas variações, seus princípios e as 
características que regulam as estruturas das línguas são estudados pela linguística. O linguista 
procura explicar os mecanismos adjacentes aos sistemas linguísticos, a compreensão dos 
sistemas sonoros das línguas, a relação existente entre os componentes da gramática – 
morfologia, sintaxe, semântica (SILVA, 1999). 
 
FIGURA 1 
 
FONTE: www.laboratoriotrintaedois.blogspot.com. Acesso em 20 nov 2011. 
 
 
A fonética e a fonologia são ramos da linguística que estudam os sons da fala humana 
e como eles são produzidos, ou seja, “tanto a fonética quanto a fonologia investigam como os 
seres humanos produzem e ouvem os sons da fala” (SEARA, 2008, p. 11). Enquanto a fonética 
está voltada para o estudo propriamente de como são produzidos os sons, a fonologia estuda a 
função desses sons dentro de uma determinada língua. Por exemplo, a fonética estuda como o 
[] é produzido, já a fonologia estuda que função o [] tem. 
 
 
5 
 
Os primeiros fonólogos foram os criadores da escrita silábica, como o sânscrito e os 
hiragana e katakana do japonês, e também os criadores da escrita alfabética, o alfabeto latino e 
do cirílico (língua eslava), porém, como muitos desses sistemas de escrita se perderam na 
história, os estudos maiores foram a partir do trabalhodos hindus, cerca de 400 anos antes de 
Cristo. Os sábios deixaram verdadeiros tratados de fonética e fonologia. O primeiro foneticista e 
fonólogo de que se tem conhecimento é Pãnini (séc. XIX). Seus estudos e conceitos são 
retomados até os dias de hoje (COUTO, 1997). 
Até 1846, não se fazia distinção entre fonética e fonologia quando se designava o 
conjunto dos sons de uma língua, portanto, para nomear a ciência dos sons da linguagem, era 
utilizado o termo “fonética”. Em 1871, começou-se a estabelecer esta distinção, como se 
conhece atualmente. Nessa época, definiu-se fonologia como a ciência da fonética. Trubetzkoy 
ampliou os conceitos, 
 
[...] destinando à fonologia o estudo dos sinais fônicos aplicados com 
objetivos de intercompreensão no seio de uma comunidade linguística. 
Assim, enquanto a fonética estudaria o aspecto material dos sons da 
linguagem, a fonologia estudaria os fatos fônicos em relação ao seu 
significado linguístico (SOUZA E CAGLIARI, 1939). 
 
A fonologia, como é conhecida atualmente, teve início em meados do século XIX, com 
o conceito de fonema. Seu significado {fonema} existe desde que o homem começou a tentar 
representar a fala, porém o significante [fo’nema] tem uma história mais recente. Veio com o 
“filólogo francês Dufriche-Desguenettes em 1873 a fim de traduzir a expressão alemã 
‘Sprachlaut’ que, à época, era traduzida em francês por ‘son du langage’. [...] criou o neologismo 
‘phonème’, com base no grego ‘phoné”. 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 phoné 
 
 
 logia 
 
 
 
tica 
 
 
Em 1895, Baudouin de Courtenay fez a associação da palavra “fonema” com o 
conceito {fonema}, sendo que o definiu como “o equivalente psíquico do som”, ou seja, tinha uma 
concepção mentalista, psicológica de fonema, o que foi muito criticado posteriormente, tanto na 
Europa como nos Estados Unidos (COUTO, 1997). 
Os estudos de natureza histórico-comparativa com o fim de classificar as línguas indo-
europeias foi o foco de muitos estudos no século XIX, sendo que a Inglaterra foi o berço da 
fonética moderna. Em 1889, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional, simbolizando 
claramente o esforço de se distinguir letra de som e de representar por símbolos distintos sons 
diferentes. A fonética articulatória progrediu muito no último século, devido aos estudos 
experimentais na área da fisiologia e da acústica do som. Tornando-se visível à observação os 
mecanismos de produção dos sons, seus estudos foram facilitados (COUTO, 1997). Os 
sintetizados de fala, o palato artificial, o quimógrafo e atualmente os computadores auxiliaram os 
estudiosos a reproduzir os sons da fala e, com isso, aperfeiçoar seus estudos e classificações. 
Vem do 
grego, 
significa 
som, voz. 
Estudo, 
doutrina. 
Designa uma 
determinada 
disciplina. 
 
 
7 
 
Os princípios de uma nova disciplina diferenciada da fonética devem-se ao Círculo 
Linguístico de Praga, constituído por vários estudiosos que se reuniram junto ao príncipe Nikolai 
Trubetzkoy, em Viena, entre 1923 e 1939. Os estudos desse grupo estavam centrados a 
estender para 
 
[...] a parte sonora da linguagem as ideias de Ferdinand de Saussure, 
mantendo constante a dicotomia língua-fala e estabelecendo uma 
unidade operacional mínima e discreta, o fonema, que pertenceria a 
langue, suas variações fonéticas, as variantes posicionais, 
combinatórias e estilísticas, pertencendo a parole. [...] o fonema é 
conhecido como um feixe de traços distintivos, cada traço que compõe 
o feixe é operado em oposição a outro traço componente de outro 
fonema. A noção de sistema leva a classificar as oposições dos vários 
domínios de dimensão fonológica de uma língua, tanto no eixo 
sintagmático (estrutura silábica, elementos demarcativos etc.) quanto 
no eixo paradigmático (oposições que acarretam mudança de sentido) 
(CALLOU E LEITE, 2003, p. 54). 
 
A dicotomia “língua e fala” de Ferdinand de Saussure é um bom ponto de partida para 
a conceituação de fonética e fonologia. Vejamos o que cita Couto (1997, p. 20): 
 
Como sabemos, língua é o sistema, é o código que permite a 
formulação de enunciados que um emissor envia a um receptor da 
mesma comunidade e que, portanto, será entendido pelo receptor. [...] 
Quanto a fala, refere-se ao uso concreto que determinado falante faz 
desse sistema, estrutura ou código em determinado momento e lugar. 
Com isso, já podemos dar uma primeira conceituação de fonética e 
fonologia. 
 
De acordo com a distinção de língua e fala que Saussure faz, a fonética é o estudo do 
som da perspectiva da fala, dos sons linguísticos tais quais foram produzidos pelo falante; a 
fonologia, estudo do som como elemento distintivo dentro de determinada estrutura. 
 
 
8 
 
Vejamos o exemplo que Couto cita (1999, p. 21): 
 
cama -  - do ponto de vista da fonética, só interessa reproduzir exatamente o que o 
falante produziu, ou seja, uma sequência de sons [k], [ã], [m] e [ ], sendo que a primeira sílaba é 
tônica, fato que está indicado pelo símbolo [] que antecede o [k], e que a vogal final é bastante 
fraca, átona, bastante reduzida, o que está indicado pelo símbolo fonético [ ]. Já do ponto de 
vista fonológico, interessa o fato de o [k] distinguir palavras quando trocado por outro som na 
mesma posição. Por exemplo, se trocar o [k] por [g], teremos [ (gama), que tem outro 
significado. Se trocarmos o [m] por [n] teremos  (cana), que não significa o mesmo que 
cama. 
 
O autor salienta, então, que: 
 
[...] a fonética trata dos sons em sua materialidade, como eles são 
efetivamente pronunciados, independentemente de sua função na 
gramática fonológica da língua. A fonologia, por seu turno, interessa-se 
justamente pela função que o som exerce dentro da estrutura da 
língua, no caso uma função distintiva (COUTO, 1997, p. 21-22). 
 
Já para Souza e Cagliari: 
 
A fonética, assim como é praticada atualmente, constitui uma ciência 
altamente desenvolvida, incluindo partes da Fisiologia e da Física, mas 
com suas próprias condições, seus métodos de investigação e de 
experimentação, e seu vocabulário técnico. A fonologia tem o fonema 
como seu conceito básico e é a parte da linguística que trata dos sons 
da fala em referências às funções que eles exercem numa língua 
dada. 
 
 
 
9 
 
Cagliari (1999) afirma que tanto a fonética como a fonologia são áreas da linguística 
que estudam os sons da fala, ambas tratam do mesmo objeto sonoro, porém têm métodos e 
técnicas diferentes, procurando resultados também diferentes. Enquanto a fonética descreve os 
sons da fala, analisando quais mecanismos e processos de produção da fala estão envolvidos 
em um determinado segmento da cadeia sonora da fala, ou seja, preocupa-se com a descrição 
dos fatos físicos que descrevem linguisticamente esses sons, a fonologia interpreta os resultados 
apresentados pela fonética, em função dos sistemas de sons das línguas e dos modelos teóricos 
que existem para descrevê-los. 
Callou e Leite (2003, p. 11) afirmam que “a unidade da fonética é o som da fala ou o 
fone, enquanto a unidade da fonologia é o fonema”. Atualmente, a fonética e a fonologia têm 
sido entendidas como duas disciplinas interdependentes, pois, para os estudos fonológicos, é 
indispensável partir dos estudos fonéticos para determinar quais são as unidades distintivas de 
cada língua. 
 
 
10 
 
2 FONÉTICA 
 
FIGURA 2 
 
 
 
A produção dos sons da fala pode ser estudada a partir dos seus aspectos fisiológicos 
– os órgãos que produzem os sons: língua, que é responsável pela articulação de quase todos 
os sons, e a laringe, responsável pela produção da voz. Também se pode estudar a fala a partir 
dos sons que estes órgãos geram (acústica), bem como analisá-la pela percepção do ouvinte. 
Esta parte do estudo é realizada pelos foneticistas, então se poderia dizer que a fonéticaé a 
ciência que estuda os sons como entidades físico-articulatórias isoladas, estudando os sons do 
ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema linguístico determinado, 
descrevendo os sons da linguagem, analisando suas particularidades articulatórias, acústicas e 
perceptivas, apresentando métodos para descrição, classificação e transcrição dos sons da fala. 
 Distingue-se da fonologia por considerar os sons independentemente de suas 
oposições paradigmáticas – aquelas cuja presença ou ausência importa em mudança de 
significação – pala: bala: mala: fala: vala: sala: cala: gala etc; e de suas combinações 
sintagmáticas, ou seja, os seus arranjos e disposições lineares no contínuo sonoro – Roma, 
amor, mora, ramo etc (SILVA, 1999; CALLOU E LEITE, 2003, p. 11; SEARA, 2008, p. 12). É 
subdividida em: 
Fonética articulatória: estuda como os sons são produzidos, isto é, a posição e a 
função de cada um dos órgãos do aparelho fonador (língua, lábios etc.); analisa os aspectos 
 
 
11 
 
fisiológicos e articulatórios da produção da fala, encarrega-se da observação, descrição, 
classificação e transcrição dos sons produzidos. Couto (1997) salienta que às vezes é chamada 
de fonética fisiológica, pois estuda o modo como os sons são produzidos na fisiologia humana, 
ou seja, pelo aparelho fonador. 
 
Fonética acústica: estuda o som no momento de sua propagação pelo ar, enquanto 
fenômeno acústico. Com isso, analisa as características físicas dos sons da fala, ou seja, as 
ondas mecânicas produzidas. As propriedades físicas investigadas pela fonética acústica 
referem-se a amplitude, duração, frequência fundamental e conteúdo espectral da onda sonora. 
É realizada por meio de espectrogramas, gráficos da forma de onda, trajetórias de formantes e 
da frequência fundamental etc. O estudo da fonética acústica sofreu um grande avanço 
principalmente no final do século XIX, quando ocorreu a invenção do fonógrafo, por Thomas 
Edison. Esse dispositivo permitiu que o sinal da fala fosse gravado para depois ser processado e 
analisado. Logo em seguida surgiram estudos a respeito do espectrograma e dos formantes. 
 
Por intermédio de estudos acústicos, pode-se realizar: 
 
 Síntese de voz (conversão de texto para fala). 
 Reconhecimento de voz (conversão de fala para texto). 
 Compreensão da fala (determinação do significado da elocução). 
 Reconhecimento/identificação de locutor. 
 Codificação de voz a baixas taxas (compressão). 
 Análise de disfonias (patologias da laringe). 
 
Fonética auditiva: tem como objetivo o estudo de que maneira é percebida a fala (como 
a audição distingue os sons), ou seja, estuda o som no momento de sua recepção pelo ouvinte. 
Trabalha basicamente com testes de percepção. 
 
 
A fala é um processo tão complexo que, com a análise acústica, articulatória e 
perceptual de seus componentes pode-se identificar não somente o conteúdo da elocução, mas 
 
 
12 
 
também pistas sobre a identidade do locutor (sexo, porte físico, idade, origem sociocultural etc.), 
além de condições/problemas de saúde ou estado emocional do locutor. 
Dentro da fonética iremos estudar a produção da fala do ponto de vista fisiológico e 
articulatório. 
 
 
2.1 A PRODUÇÃO DOS SONS DA FALA 
 
 
Falar é tão natural para o ser humano, que não paramos para examinar de que 
maneira a fala é produzida, mas o fonoaudiólogo, que atua diretamente com a sua produção, 
necessita entender e rever todo o mecanismo de produção, desde o som até a articulação. 
Para Callou e Leite (2003), a produção dos sons é estudada sob três perspectivas: 
 
 partindo-se do falante (da fonte) e examinando-se o que se passa no aparelho 
fonador (fonética articulatória); 
 focalizando-se os efeitos acústicos da onda sonora produzida pela corrente de ar 
em sua passagem pelo aparelho fonador (fonética acústica); 
 examinando-se a percepção da onda sonora pelo ouvinte, as impressões acústicas 
e suas interpretações no processo de decodificação (fonética auditiva). 
 
 
 
13 
 
2.2 O APARELHO FONADOR E OS MECANISMOS DE PRODUÇÃO DOS SONS 
 
 
Quando falamos, produzimos uma corrente de ar que sai dos pulmões e vai até a 
cavidade oral, passando por diversos órgãos e estruturas. Os sons da fala são produzidos 
quando alguns desses órgãos e estruturas agem sobre essa corrente, ou seja, quando há 
mudança dessa corrente de ar. O conjunto de órgãos e estruturas que produzem os sons de 
nossa fala é chamado de aparelho fonador. O aparelho fonador, também chamado de trato 
vocal, para Palmer (2003, p. 53) 
 
[...] é uma série de cavidades variadas e interligadas associada com o 
ato da fala, começa com a cavidade oral. Suas funções vitais são 
diversas, porém a principal é a ingestão de alimentos. Pode atuar 
também como uma passagem para o ar até o trato respiratório. [...] Na 
fala, a cavidade oral atua como um volume continuamente variável 
para modificar o tom produzido na laringe na produção da vogal e 
como uma câmara de obstrução através da qual o ar exalado é 
direcionado pra criar algumas consoantes. 
 
Zemlin (2000) afirma que o trato vocal pode ser subdividido, em bases anatômicas, em 
cinco cavidades: bucal ou vestibular, oral, faríngea e cavidades nasais (par). 
Podemos dizer que o aparelho fonador se divide em três partes – articulatório, 
fonatório e respiratório, que são fisiologicamente responsáveis pela produção dos sons da fala 
(SILVA, 1999): 
 
 Articulatório: é constituído por língua, faringe, nariz, lábios e dentes; são 
estruturas que se encontram na parte superior da glote. O sistema articulatório é 
responsável por várias funções primárias, principalmente ao ato de comer – morder, 
mastigar, sentir o paladar, cheirar, sugar e engolir. 
 
 
 
14 
 
 Fonatório: constituído pela laringe. Na laringe encontram-se músculos estriados 
que podem obstruir a passagem da corrente de ar – as pregas vocais. A glote é o 
espaço decorrente da não obstrução dos músculos laríngeos. A função primária da 
laringe é atuar como válvula que obstrui a entrada de alimentos nos pulmões por 
meio do abaixamento da epiglote. 
 Respiratório: constituído por traqueia, pulmões, brônquios e diafragma. Encontra-
se na parte inferior à glote – cavidade infraglotal. Sua função principal é a 
respiração. 
 
O quadro e a figura mostram as divisões do aparelho fonador. 
 
Aparelho fonador 
Pulmões, brônquios, 
traqueia e diafragma. 
Órgãos respiratórios que produzem a corrente de ar 
necessária à fonação – RESPIRATÓRIO. 
Laringe e pregas vocais. 
Produzem a vibração utilizada na fala – 
FONATÓRIO. 
Língua, faringe, lábios, 
dentes e nariz. 
A cavidade bucal possui vários obstáculos à passagem do 
ar, que são responsáveis pelos diversos sons da linguagem 
– ARTICULATÓRIOS. 
FONTE: Disponível em <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u42.jhtm>. 
Acesso em: 20 nov 2011. 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
FIGURA 3 
 
 
Estudaremos, detalhadamente, cada segmento do aparelho fonador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
3 O SISTEMA ARTICULATÓRIO 
 
 
 
O segmento articulatório é constituído pela cavidade oral e a cavidade nasal. A boca é 
constituída de dois espaços – o externo e o interno. A parte externa é o vestíbulo da boca e o 
interno é a cavidade própria da boca. A boca comunica-se com o exterior e com a faringe e é 
dividida pelos processos alveolares e arcos dentais em cavidade bucal ou vestíbulo da boca e 
cavidade oral ou cavidade própria da boca. Os limites da cavidade da boca são os lábios, 
bochechas, palato mole e duro, soalho e istmo da garganta (MADEIRA, 1998; ZEMLIN, 2000; 
PALMER, 2003). 
 
Cavidade bucal ou vestíbulo oral: (do latim bucca – bochecha) – para Zemlin (2000, p. 
244), 
 
[...] é o pequeno espaço limitado por lábios, bochechas e gengivas e 
dentes internamente. Comunica-se com a boca ou cavidade oral, comas maxilas fechadas, através dos pequenos espaços entre os dentes, 
e pelo espaço em cada lado, atrás dos últimos molares ou ‘dentes do 
siso’. 
 
Palmer (2003) afirma que o limite lateral ou externo do vestíbulo é a bochecha, que é a 
cobertura externa e móvel do vestíbulo. 
 
Cavidade oral ou cavidade própria da boca: anterior e lateralmente é limitada pelos 
dentes e pelos processos alveolares, posteriormente pelo arco palatoglosso, superiormente, pelo 
palato mole e duro e inferiormente pelo soalho muscular. 
 
 
 
17 
 
FIGURA 4 
 
 
 
 
Língua: é a estrutura principal dentro da cavidade oral. Além da 
função biológica primária – paladar, mastigação e a deglutição –, a 
língua é o articulador mais importante e mais ativo. Tanto a 
língua como o vestíbulo realizam manobras importantes e 
precisas durante a articulação dos sons. Seu funcionamento, 
quando se eleva ou abaixa, permite modificar a forma da cavidade oral 
alterando as características de ressonância. Funciona também como uma válvula que controla o 
fluxo de ar, direcionando ou controlando este fluxo e juntamente com dentes, processos 
alveolares e palato, pode atuar como gerador de ruído. 
Durante a articulação dos sons, a língua realiza os movimentos de elevar, abaixar, 
retrair e anteriorizar, participando assim, ativamente, de todos os sons vocálicos e vários sons 
consonantais. É um órgão de alta inervação e complexas fibras musculares, o que permite a 
realização de sequências rápidas e sutis de movimentos tão importantes na articulação. Está 
fixada no soalho da boca e é fixada por músculos extrínsecos à mandíbula (músculo 
genioglosso), fixada ao osso hioide pelo músculo hioglosso, ao processo estiloide pelo músculo 
estiloglosso e ao palato pelo músculo palatoglosso. A massa muscular da língua é formada pelos 
músculos intrínsecos (MADEIRA, 1998; ZEMLIN, 2000; PALMER, 2003). 
 
 
 
 
18 
 
Músculos intrínsecos da língua: A língua é formada por quatro músculos intrínsecos: 
longitudinal superior, longitudinal inferior, transverso e o vertical. São responsáveis por encurtar, 
estreitar e achatar a língua. 
 Longitudinal superior: descrito como uma fina camada de fibras musculares 
oblíquas e longitudinais situadas bem abaixo da mucosa do dorso da língua. 
Quando contraído, tende a encurtar a língua, virando o ápice para cima. 
 Longitudinal inferior: estende-se da raiz ao ápice da língua e, ao se contrair, encurta 
a língua ou empurra o ápice para baixo. 
 Transverso: distribui-se em forma de leque, originando-se no septo da língua e 
fazendo trajeto diretamente para a lateral. Sua contração faz com que a língua se 
estreite e alongue. 
 Vertical: suas fibras originam-se na mucosa do dorso da língua. Quando contraído, 
achata a língua. 
 
Músculos extrínsecos da língua: São quatro os músculos extrínsecos da língua: 
genioglosso, estiloglosso, palatoglosso e hioglosso. 
 Genioglosso: compõe a massa do tecido lingual, é o mais forte e o maior dos 
músculos extrínsecos. Sua forma é chata e triangular, originando-se na espinha 
mentoniana superior indo até o osso hioide. É responsável por várias posições da 
língua. Quando as fibras posteriores se contraem, anteriorizam a língu; já a 
contração das fibras anteriores é responsável pela contração de todo o músculo, 
levando a língua para baixo, deixando o dorso como uma canaleta. 
 Estiloglosso: emerge nos processos estiloides. Sua contração leva a língua para 
cima e para trás, sendo considerado antagonista do genioglosso. Também pode 
auxiliar os músculos intrínsecos a tornar o dorso côncavo ou em forma de canaleta, 
quando eleva os lados da língua. 
 Palatoglosso: pode ser considerado um músculo da língua ou do palato. Sua origem 
é na face anterior do palato mole, onde tem continuidade com seu par do lado 
oposto. Suas fibras vão para baixo e um pouco para lateral, inserindo-se nos lados 
da língua, mesclando-se e tornando-se contínuas com as dos músculos transverso 
da língua e com as fibras superficiais dos músculos estiloglosso e hioglosso. Sua 
 
 
19 
 
contração pode abaixar o palato mole ou levantar a parte posterior da língua, 
sulcando o dorso. 
 Hioglosso: origina-se na borda superior do corno maior e do corpo do osso hioide. 
Quando contraído, age para retrair e deprimir a língua e elevar o osso hioideo. 
 
As figuras mostram com detalhes a musculatura intrínseca e extrínseca da língua. 
 
FIGURA 5 
 
 
 
20 
 
FIGURA 6 
 
 
 
A língua como articulador: A língua, além de executar várias funções durante a 
mastigação e a deglutição, é o articulador mais importante. Durante a produção dos sons, a 
língua eleva-se, retrai-se, alonga-se, encurta-se, participando ativamente de quase todos os 
sons. Zemlin (2000, p. 275) afirma: 
 
As várias posições e configurações da língua são mediadas pela 
musculatura lingual e, em menor extensão, pelo movimento da 
mandíbula. [...] É preciso compreender que qualquer posição ou 
configuração da língua é quase sempre resultado da contração de um 
conjunto complementar de músculos. 
 
Veja na figura a seguir a funcionalidade da musculatura da língua. 
 
 
 
 
21 
 
FIGURA 7 
 
 
 
MacNeilage e Sholes (1064) apud Zemlin (2000, p. 275) relatam uma pesquisa em que 
se utilizaram eletrodos de superfície para fazer registros eletromiográficos da atividade muscular 
da língua em 13 localizações da língua de um único indivíduo, durante a emissão de 17 
diferentes monossílabos /p/-vogal-/p/. Observou-se “que a porção posterior do genioglosso 
contrai-se para mover a língua anteriormente, aumentando, assim, a profundidade da orofaringe, 
em particular para as vogais que exigem posição alta da língua”. 
 Verificaram que o movimento da língua parece ser um padrão complexo de alterações 
de delicada graduação na atividade em que um ou dois músculos produzem a maior parte do 
movimento, e outros cooperam com esse movimento, estabilizam estruturas adjacentes ou se 
opõem ativamente ao movimento. Estes movimentos são diferentes dos movimentos balísticos 
observados em outros músculos. 
 
Parâmetros articulatórios: Os parâmetros articulatórios ocorrem devido a grande 
variedade de posições e configurações da língua durante a fala. Hardcastle (1976) apud Zemlin 
(2000, p. 275) relaciona sete desses parâmetros, mostrando que as vogais são menos 
 
 
22 
 
complexas, fazendo uso principalmente dos dois primeiros parâmetros, e as consoantes 
oclusivas utilizam os parâmetros 1, 2, 3, 4 e 7. Na produção do /s/ é exigida a participação 
máxima de todos os parâmetros articulatórios. 
1. “Movimento horizontal para frente e para trás do corpo da língua, mediado 
principalmente pela parte posterior do genioglosso. Movimento que ocorre durante e 
produção das vogais posteriores.” 
2. “Movimento vertical para cima e para baixo do corpo da língua, mediado pelo 
estiloglosso e pelo palatoglosso, com o músculo longitudinal inferior atuando como 
sinérgico. Provavelmente utilizado para as vogais médias e para as consoantes 
palatais.” 
3. “Movimento horizontal para frente e para trás do ápice-corpo da língua, mediado 
pelo transverso e gênio hioide posterior. Importante nas articulações retroflexoras.” 
4. “Movimento vertical para cima e para abaixo do ápice-corpo da língua, mediado 
pelo longitudinal superior [...] usado na produção de /i/, /t/ e /n/ e em /s/.” 
5. “Configuração perpendicular transversal do corpo da língua, convexo-côncava com 
relação ao palato [...] o estiloglosso, palatoglosso e o transverso são protagonistas 
dessas configurações, que ocorrem para /t/.” 
6. “Configuração perpendicular transversal estendendo-se por todo o comprimento da 
língua, em especial no ápice e no corpo – grau de sulcamento central, como ocorre 
em /s/. Os músculos responsáveis pelo sulcamento são o transverso e o vertical. O 
estiloglosso e o palatoglosso podem atuar em sinergia.” 
7. “Planosuperficial do dorso da língua – aberta ou cônica, para articulação de /t/, /s/, 
/l/ e /i/, /e/, mediado pelo transverso e pelo hioglosso.” 
 
Inervação: Os músculos da língua são inervados pelo hioglosso. Sua lesão pode 
provocar paralisia do lado afetado, dificultando com isso, alguns movimentos que podem 
interferir na articulação dos sons. 
 
 
 
 
 
23 
 
OBSERVAÇÃO: Qualquer intercorrência nos músculos intrínsecos ou extrínsecos da língua pode 
causar alterações na fala. Eles podem ficar limitados devido a paralisias ou lesões e funcionar de 
modo falho devido a interferências congênitas ou hereditárias. Se a inervação para os músculos 
intrínsecos da língua for interrompida, causando uma paralisia, seria difícil a língua assumir o 
contorno necessário para produzir certos sons. A produção do /s/, por exemplo, requer um 
controle muito preciso da língua para produzir um sulco estreito por meio do qual o fluxo de ar 
turbulento passa para atingir os dentes incisivos centrais. Quando afetados os músculos 
extrínsecos, também se poderiam observar alterações na produção da fala que poderiam 
interferir na ressonância, pois a língua tem função importante na mudança no tamanho e no 
formato das cavidades de ressonância (PALMER, 2003, p. 78). 
 
 
 
Lábios: formados pela rima da boca e parte do limite externo da 
cavidade oral, os lábios são revestidos externamente por pele e 
internamente por mucosa. O lábio inferior é o mais móvel e rápido dos 
dois, pois depende um pouco dos movimentos mandibulares. Uma 
característica que contribui para que os lábios tenham um grande 
repertório de movimentos é que a maioria dos músculos da 
expressão facial se insere nos lábios. 
Os lábios também são importantes articuladores, 
ambos podem ser comprimidos para produzir os sons bilabiais /p/, /b/ e 
/m/. Na produção das consoantes labiodentais /f/ e /v/, há a constrição dos dentes 
incisivos superiores e do lábio inferior. Na produção das vogais, os lábios, por exemplo, podem 
retrair-se contra os dentes, como na produção do /i/, ou ficar arredondados e protruídos, para 
produzir o /u/ (Zemlin, 2000). Palmer (2003, p. 58) afirma que “Quando os lábios não podem ser 
movidos, o distúrbio da fala é obvio e perturbador”. 
 
 
FIGURA 8 
 
 
24 
 
O orbicular da boca é o principal músculo que atua sobre os lábios, considerado o 
centro do complexo mio-cutâneo organizado à volta da boca. É um músculo complexo, um anel 
oval de fibras musculares. 
 
FIGURA 9 
 
 
 
 
Quando contraído, mantém a boca fechada e enruga os lábios, tem a capacidade de 
fechar os lábios. Nas figuras ao lado, observamos o músculo orbicular lateralmente e, no zoom, 
frontalmente. 
Observa-se na figura ao lado que, lateralmente, suas fibras comissurais se confundem 
com a extremidade anterior do músculo bucinador. O músculo orbicular é um esfíncter da 
cavidade bucal, sendo antagonista de todos os músculos que tendem a afastar os lábios 
(bucinadores, zigomáticos, risórios etc). 
 
 
25 
 
Palato: Zemlin (2000, p. 282) afirma que “a contribuição do palato na produção da fala 
pode ser definida de modo simples. Ele modifica o grau de comunicação entre a nasofaringe e o 
restante do trato vocal”. Sendo ao mesmo tempo teto da cavidade da boca e soalho da cavidade 
nasal, é dividido em duas porções: palato duro, cujo esqueleto é o palato ósseo, e o palato mole 
ou véu palatino, composto de tecido fibroso e músculos (MADEIRA, 1998, p. 103). Apesar de ser 
formado por uma lâmina óssea fixa na frente e uma válvula muscular atrás, é descrito como 
formado por três partes: arco alveolar, palato duro e palato mole. O palato duro contribui com 
cerca de três quartos do teto ósseo da boca e do soalho do nariz (ZEMLIN, 2000). 
O palato mole separa a boca da faringe durante a respiração nasal. Na respiração oral, 
na fonação, na deglutição e na emissão dos sons orais, ele se levanta numa posição horizontal 
para separar a porção bucal da faringe da nasofaringe. É ligado anteriormente à borda livre 
posterior dos ossos palatinos (ZEMLIN, 2000; PALMER, 2003). Suas fibras musculares são de 
tal maneira organizadas que o palato mole pode ser levantado, abaixado ou tensionado, sendo 
que cinco músculos são responsáveis por estes movimentos. 
 Dois são relaxadores depressores – palatoglosso e palatofaríngeo; 
 Dois são levantadores do palato mole – levantador do véu palatino e músculo da 
úvula; 
 Um é depressor-tensor – tensor do véu palatino. 
 
Para Palmer (2003, p. 54), 
 
O palato mole e as paredes da faringe fecham o nariz e a parte nasal 
da faringe; assim permitem que seja mantido um controle preciso 
sobre a cavidade oral e criam uma turbulência de ar que pode ser 
parte da produção do som da voz. A mandíbula se move para cima e 
para baixo para fornecer suporte à língua e para permitir a abertura e 
fechamento da boca durante a produção dos sons da fala. 
 
Faringe: está situada no trato vocal, e são três espaços emparedados contíguos, 
suspensos da base do crânio. Estão fixados nas vértebras superiores, nos ossos do nariz e no 
 
 
26 
 
palato e nas estruturas da boca e da laringe. As partes da faringe que estão revestidas de túnica 
mucosa geralmente contêm ar. Tem função na respiração, deglutição e na fonação, em que as 
mudanças nas paredes limítrofes da faringe criam mudanças no tamanho, formato e textura das 
cavidades de ressonância. O tônus laríngeo que é introduzido na faringe é modificado por essas 
câmaras, sendo um fator importante da voz e contribui para a articulação de alguns sons da fala 
em algumas línguas (PALMER, 2003). A faringe está dividida em três partes: orofaringe, 
nasofaringe e laringofaringe. 
 
FIGURA 10 
 
 
 
Zemlin (2000) afirma que a faringe não é uma estrutura dinâmica na fala e que suas 
contribuições para a produção da fala não são totalmente conhecidas. O que se sabe é sua 
função na ressonância, tendo uma contribuição significativa com as propriedades acústicas do 
trato vocal e com modificações da distribuição de energia do som gerado na laringe. Na figura 
acima, podemos observar as divisões da faringe: orofaringe, nasofaringe e laringofaringe. 
A cavidade orofaríngea forma uma câmara de ressonância em que o fluxo de ar é 
modificado pela ação dos chamados articuladores (CALLOU E LEITE, 2003). 
 
 
 
27 
 
Mecanismo velofaríngeo: tem o papel de variar o grau de acoplamento acústico entre 
a cavidade nasal e oral. Para Zemlin (2000, p. 296), 
 
[...] a oclusão velofaríngea é uma postura articulatória muito 
importante, uma vez que o fechamento inadequado pode resultar em 
fala anasalada ou em incapacidade de manter a pressão de ar no 
interior da cavidade oral para a produção de consoantes. As 
consoantes surdas podem ficar sonoras, as plosivas passam a ser 
fricativas e as vogais apresentam nasalização ou rinofonia 
inconfundível. O fechamento velofaríngeo impróprio ou excessivo pode 
resultar na qualidade vocal ‘fanhosa’. 
 
Na figura, podemos observar o funcionamento do mecanismo velofaringeano: a parte 
em verde seria o véu faríngeo abaixado, com espaço para o ar passar para a cavidade nasal; na 
parte rosa, o véu faríngeo está elevado, impedindo a passagem de ar e de alimentos, no caso da 
alimentação. 
 
FIGURA 11 
 
 
 
 
 
28 
 
Cavidades nasais: são compostas por duas câmaras estreitas e mais ou menos 
simétricas, separados pelo septo nasal. Comunicam-se com o exterior por meio das narinas e 
com a nasofaringe, por meio das coanas. As paredes laterais das cavidades nasais são 
compostas pelas conchas nasais superior, média e inferior e por suas passagens nasais 
correspondentes. Durante a fala, o nariz participa da produção dos sons nasais (/m/, /n/, //, /ã/ 
e outras vogais nasais) quando o mecanismo velofaringeano está aberto e o ar vai para o nariz. 
A figura abaixo mostra a cavidade nasal e suas divisões. 
FIGURA 1229 
 
4 O SISTEMA FONATÓRIO 
 
 
Na fala, os sons utilizados são vibrações com frequências, intensidades e durações 
características, produzidas por uma coluna de ar em movimento, que vem dos pulmões e 
percorre o aparelho fonador. 
Douglas (2002, p. 488) mostra que, para haver emissão de som laríngeo, é necessário 
que ocorra o princípio de Bernoulli. Este princípio é referente à interferência de uma zona 
estreitada num tubo onde circula fluido. No local em que este tubo se estreita, há um aumento da 
velocidade do fluxo e nas paredes ocorre diminuição da pressão perpendicular, além do efeito de 
alisamento do fluxo marginal, ou seja, com variação de resistência haveria variações da 
velocidade do fluxo e da pressão no nível do ponto ou zona onde é incorporada essa variação. 
Transferindo para a laringe – quando ocorre constrição local do sistema tubular (pregas vocais 
na laringe) produz-se diminuição da pressão perpendicular ao fluxo de ar, porém se incrementa a 
velocidade do fluxo aéreo. 
 
 
 
FIGURA 13 
 
 
 
 
 
 
30 
 
Observe a figura acima: na parte azulada, a traqueia, o ar que veio dos pulmões tem 
uma pressão positiva, alta (está num espaço mais largo), ao entrar na laringe, um tubo mais fino, 
a pressão diminui e a velocidade aumenta. Na parte alaranjada, região supraglótica, o espaço é 
maior, a velocidade diminui e a pressão aumenta. 
Na laringe, anel cartilaginoso situado na parte superior da traqueia, o ar encontra um 
obstáculo, que são as pregas vocais. A pressão do ar faz com que as pregas vocais vibrem. 
 
FIGURA 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
5 O SISTEMA RESPIRATÓRIO 
 
 
 
O sistema respiratório é formado por pulmões, brônquios, traqueia e diafragma, que são 
considerados órgãos respiratórios que produzem a corrente de ar necessário à fonação. Na 
produção dos sons da fala, é utilizada a corrente de ar egressiva1 (CALLOU E LEITE, 2003). Os 
pulmões apoiam-se no diafragma, que é um músculo muito importante no processo de 
respiração. O diafragma contrai-se durante a inspiração e ao distender-se aumenta a capacidade 
torácica, com isso o ar entra nos pulmões. Quando o músculo entra em relaxamento, o ar 
começa o caminho inverso, da expiração. Na figura da direita podemos observar a posição do 
diafragma no aparelho respiratório e, na figura à esquerda, o diafragma durante a inspiração e a 
expiração. 
 
 
1 Não se conhecem línguas que utilizem para a produção de sons a corrente pulmonar ingressiva, embora 
alguns registros tenham esse mecanismo em um uso paralinguístico (CALLOU E LEITE, 2003). 
 
 
32 
 
 FIGURA 15 FIGURA 16 
 
 
 
5.1 FONAÇÃO 
 
 
Como vimos, a voz é produzida na laringe, pela vibração das pregas vocais; isto ocorre 
devido ao ar que vem dos pulmões. Nos sons surdos ou desvozeados, e na respiração em 
repouso, as pregas vocais estão separadas e a glote está aberta. Quando ocorre o movimento 
contrário, ou seja, as pregas vocais encontram-se unidas e a glote está fechada, o ar tem de 
forçar sua passagem, fazendo-as vibrar. Com isso temos os sons sonoros ou vozeados. 
As pregas vocais podem ficar em outras posições, que não são usuais na nossa 
língua, formando outros sons (CALLOU E LEITE, 2003, p. 20-21): 
 
 
 
33 
 
FIGURA 17 
 
 
 
 Quando as pregas vocais estão juntas em toda a sua extensão, a glote está fechada, 
porém observa-se um afastamento das aritenoides; com isso forma uma pequena 
abertura na glote, resultante num som sussurrado. 
 Se a corrente de ar é interrompida bruscamente na glote pelo fechamento por um 
período mais longo das pregas vocais, temos um som denominado oclusão glotal. 
 Quando as pregas vocais continuam abertas e não há vibração por um período mais 
prolongado após a soltura da articulação da consoante, quando os órgãos já estão 
posicionados para a produção do segmento seguinte, formando sons aspirados. 
 Quando ocorre a vibração das pregas vocais, porém as aritenoides permanecem 
afastadas, pode ocorrer um escape extra de ar, formando o som murmurado. 
 Quando ocorre a vibração lenta dos ligamentos das pregas vocais, fazendo com que o 
som produzido seja tremulado. 
 
 
 
34 
 
Callou e Leite (2003, p. 20) resumem o processo fonatório por diversos estados da glote 
e consequente excitação acústica da corrente de ar ao passar pelas pregas vocais. Afirmam 
também que o tamanho e a espessura das pregas vocais, juntamente com o tamanho da língua, 
forma e altura do palato, comprimento da distância entre a laringe e os lábios, são responsáveis 
pela caracterização individual da voz, com isso distingue o tipo de voz – infantil, masculina e 
feminina. Veja a figura a seguir: quando a produção da voz é comparada a um instrumento 
musical (no caso um violão), podemos observar a fonte do som (pregas vocais na laringe), a 
modificação e amplificação do som, nas caixas de ressonância e a propagação deste som, por 
meio dos movimentos dos articuladores. 
 
FIGURA 18 
 
 
 
35 
 
5.2 NASALIZAÇÃO 
 
 
A nasalização vai ocorrer quando o véu palatino está abaixado e a passagem 
nasofaríngea está aberta. Com isso, parte do fluxo de ar desvia-se para a cavidade nasal, dando 
origem aos sons nasais. Quando o véu palatino está elevado, a passagem nasofaríngea fica 
fechada, o ar escoa pela boca, dando origem aos sons orais (CALLOU E LEITE, 2003). Na figura 
a seguir, observa-se o esquema do mecanismo velofaringeano. 
 
FIGURA 19 
 
 
 
Callou e Leite (2003, p. 22) afirmam que se devem distinguir os sons nasais dos sons 
nasalizados, pois “nos nasais há, além do abaixamento do véu palatino, uma obstrução na 
cavidade bucal, causada pela aproximação dos dois articuladores.” Exemplos de sons nasais 
são as consoantes m [m], sendo que os articuladores são os lábios; n [n], articuladores língua e 
alvéolo e nh [ñ], articuladores língua e palato (mama, mana e manha). As vogais, os sons 
 
 
36 
 
fricativos, as laterais, os flepes e tepes podem ser nasalizados, uma vez que, para sua produção, 
não há a obstrução na cavidade bucal. 
Neste primeiro módulo, vimos como a voz é produzida, um sistema complexo que é 
utilizado na produção da voz. No próximo módulo, estudaremos sobre os segmentos 
consonantais e vocálicos da língua portuguesa. 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
6 SEGMENTOS FONÉTICOS 
 
 
 
FIGURA 20 
 
 
 
A unidade básica de estudo para a Fonética é o fone ou segmento. A fala humana é 
capaz de produzir inúmeros fones. O som é produzido através da corrente de ar vinda dos 
pulmões que faz vibrar as pregas vocais, sendo modificado nas caixas de ressonância. O fluxo 
de ar é modificado de diferentes modos, permitindo o estabelecimento de sons divididos em três 
grupos: 
 
 Consoantes; 
 Vogais; 
 Semivogais ou glides. 
 
Vamos estudar neste primeiro tópico os segmentos vocálicos do português brasileiro 
(PB). 
 
 
 
 
 
38 
 
6.1 SEGMENTOS VOCÁLICOS 
 
 
As vogais são sons produzidos com o ar expelido pelos 
pulmões pressionando as pregas vocais semiabertas, 
fazendo-as vibrar. As vogais são sonoras por natureza. 
Na produção dos sons vocálicos, ocorre um 
estreitamento da cavidade oral devido à 
aproximação da língua e do palato, não ocorrendo 
obstrução ou fricção do ar: eis uma diferença 
entre os sons vocálicos e consonantais (COUTO, 1997; 
SILVA, 1999; CALLOU E LEITE, 2003; SEARA, 2008). As vogais 
opõem-se às consoantes pelos seguintes aspectos: 
 
1. Serem acusticamente sons periódicos complexos; 
2. Constituírem núcleo de sílaba e sobre elas poder incidir acento de tom e/ou 
intensidade. 
 
 
6.1.1 Descrição dos segmentos vocálicos 
 
 
Os segmentos vocálicos2 são descritos levando-se em consideraçãoo avanço ou recuo 
e altura do corpo da língua e a presença ou ausência de protrusão labial, ou seja, posição da 
língua em termos de altura; posição da língua anteriormente ou posteriormente e 
arredondamento ou não dos lábios. Callou e Leite (2003, p. 79) salientam que a análise mais 
 
2 Para visualizar os movimentos de língua para a produção das vogais, entre no site 
www.gregio.com.br/mestrado/imgs/a.gif. 
 
 
39 
 
completa que temos das vogais portuguesas é a de Mattoso Câmara Jr. O autor toma por base a 
localização articulatória, a elevação gradual da língua e o arrendamento dos lábios, 
apresentando a seguinte classificação: 
 
 VOGAIS 
 anteriores central posteriores 
altas i u 
médias e 
  
 o 
ɔ 
baixas a 
 não arredondadas arredondadas 
FONTE: Callou e Leite, 2003, p.79 
 
 
Num contexto de sílaba tônica, as vogais criam oposições do tipo: , , 
, , ɔ,  e . Porém, quando a sílaba tônica for imediatamente 
seguida por uma consoante nasal, desaparece a oposição entre as vogais médias altas e baixas, 
ocorrendo apenas as médias baixas, como em , , não ocorrendo em  
e ɔ (BATTISTI E VIEIRA, 1999). 
 
Altura da língua: refere-se à altura (dimensão vertical) ocupada pelo corpo da língua 
durante a articulação da vogal, representando a dimensão vertical ocupada pela língua dentro da 
boca. Com isso a vogal pode ser: alta, média-alta, média-baixa e baixa. 
 
 
 
40 
 
 Alta – o dorso da língua eleva-se ao máximo estreitando o trato vocal, mas sem 
produzir fricção - /i/, /u/; 
 Médias altas – o dorso da língua encontra-se em uma posição intermediária entre a 
posição mais alta e mais baixa, ficando mais centralizada mais para o alto - /e/, /o/; 
 Médias baixas – o dorso da língua fica centralizado mais para baixo - //, /ɔ; 
 Baixas – a língua fica na posição mais baixa no trato vocal, no assoalho da boca - /a/ e 
ɔ3. 
Anterioridade da língua: refere-se à posição do corpo da língua em relação à abóbada 
palatina, ou seja, na dimensão horizontal, classificando-se em: anteriores, centrais e posteriores. 
 Anteriores – são as vogais que são produzidas com a língua na parte da frente da 
cavidade oral, mais especificamente em direção aos alvéolos, sem nenhum tipo de 
bloqueio no trato vocal. Para a produção dessas vogais, a língua eleva-se para 
frente - /i/, /e/, //; 
 Centrais – quando a língua fica centralizada na boca. Na emissão do [a], a língua fica 
abaixada e um pouco mais avançada do que na emissão da vogal ɔ - /a/ e ɔ 
 Posteriores – a língua está posteriorizada, em direção ao palato mole, sem apresentar 
bloqueio à passagem do ar - /u/, /o/, /ɔ/. 
 
Arredondamento dos lábios: de acordo com a posição dos lábios, as vogais podem ser 
classificadas em arredondadas e não arredondadas. 
 Arredondadas – lábios protruídos, em forma de bico. Também podem ser chamadas de 
labializadas - /u/, /o/, /ɔ/; 
 Não arredondadas ou distendidas – lábios estirados - /i/, /e/, //, /a/. 
 
3
 ɔ - esta vogal é encontrada em posições átonas, principalmente em final de palavra (SEARA, 2008, p. 27). 
 
 
41 
 
FIGURA 21 
 
 
Callou e Leite (2003, p. 27 e 79) salientam: 
 
Costuma-se visualizar as áreas de articulação das vogais 
representando esquematicamente a cavidade oral como um trapézio, o 
lado esquerdo simbolizando a parte anterior do tubo bucal com maior 
amplitude (devido ao movimento das mandíbulas) do que a parte 
posterior, o que permite um maior número de variações de articulação 
nas vogais anteriores. Os vértices superiores indicam as vogais altas e 
os inferiores as vogais baixas. Nas áreas intermediárias, na dimensão 
horizontal, situam-se as vogais centrais e na dimensão vertical as 
vogais médias. 
 
 
42 
 
Esta organização é pelo fato de a vogal a não constituir uma dualidade opositiva, 
ocupando a parte mais baixa de um triângulo de base para cima, conforme podemos observar na 
figura abaixo: 
 
FIGURA 23 
 
 
 
 
Na tabela abaixo, temos um exemplo das principais vogais do PB: 
 
Símbolo Exemplo 
[i] vi [vi] 
[e] ipê [ipe] 
 
 
43 
[] pé [p] 
[a] pá [pa] 
[ɔ] avó [avɔ] 
[o] avô [avo] 
[u] jacu [aku] 
FONTE: Silva,1999, p. 70. 
 
 
Produção detalhada dos sons vocálicos: segue abaixo descrição de como cada vogal é 
produzida: 
 
VOGAL A 
 Os lábios estão separados, seguem passivamente o movimento dos maxilares, estão 
abertos mais do que em qualquer vogal, a língua mantém-se estendida no assoalho da 
boca, com sua ponta colocada logo atrás dos incisivos inferiores e suas bordas tocando 
os molares inferiores (BAIXA/CENTRAL). 
 Zona de articulação: central (posição da mandíbula e da língua horizontal). 
 Ponto de articulação: aberta. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /a/ - para. 
 
VOGAL I 
 Os lábios estão separados e esticados, os dentes estão próximos sem se tocarem, a 
língua aproxima-se bastante da região palatal e suas bordas apoiam-se nos primeiros 
molares superiores (ALTA/ANTERIOR). 
 Zona de articulação: anterior. 
 Ponto de articulação: fechada. 
 
 
44 
 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /i/ - bica. 
 
 
VOGAL E 
 Os lábios estão mais afastados do que na emissão do /i/, permitindo ver a língua e os 
dentes, o ápice da língua apoia-se mais nos incisivos inferiores e seu dorso eleva-se, 
arqueando-se e tocando o palato amplamente de lado a lado (MÉDIA 
ALTA/ANTERIOR). 
 Zona de articulação: anterior. 
 Ponto de articulação: fechada. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /e/ - me. 
 
VOGAL É 
 Os lábios estão mais afastados do que na emissão do /e/ e a língua apoia-se nos 
incisivos inferiores e seu dorso eleva-se tocando com as bordas os últimos molares, 
deixando no centro um canal (MÉDIA BAIXA/ANTERIOR). 
 Zona de articulação: anterior. 
 Ponto de articulação: aberta. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): // - fé. 
 
 
 
 
 
45 
 
FIGURA 24 
 
 
 
VOGAL O 
 Os lábios ficam protrusos e arredondados, a língua retrai-se e seu dorso ergue-se para o 
velo faríngeo, sem tocá-lo e nem os dentes superiores (MÉDIA ALTA/POSTERIOR). 
 Zona de articulação: posterior. 
 Ponto de articulação: fechada. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /o/ - gota. 
 
 
 
 
46 
 
VOGAL Ó 
 Os lábios afastam-se mais do que para a produção do /o/, mantendo sua postura 
protusa e arredondada, a parte posterior da língua eleva-se menos do que no /o/ 
(MÉDIA BAIXA/POSTERIOR). 
 Zona de articulação: posterior. 
 Ponto de articulação: aberta. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /ɔ/ - poro. 
 
VOGAL U 
 Os lábios ficam protruídos, mais próximos do que em /o/, formando uma abertura oval 
pequena, a língua é mais retraída do que em /o/, com sua ponta afastando-se mais dos 
incisivos inferiores e seu dorso elevando-se mais em direção do velo faríngeo 
(ALTA/POSTERIOR). 
 Zona de articulação: posterior. 
 Ponto de articulação: fechada. 
 Papel da cavidade: oral. 
 Vibração das pregas vocais (ppvv): sonora. 
 Alfabeto Fonético Internacional (AFI): /u/ - uva. 
 
Vogais nasais 
 
As vogais podem ser classificadas como orais e nasais. Esta classificação depende do 
posicionamento do véu do palato/velo faríngeo: quando este estiver abaixado, permitindoa 
passagem do ar para a cavidade nasal, chamamos de vogal nasal; quando o véu estiver 
elevado, impedindo a passagem para a cavidade nasal, chamamos de vogal oral. Esse tipo de 
articulação traz modificações mais acentuadas para umas vogais do que para outras. Na figura a 
 
 
47 
 
seguir, podemos observar o posicionamento do véu do palato na produção de vogais orais (a) e 
nasais (b). 
 
FIGURA 25 
 
 
 
As vogais altas [ i ] e [ u ] são articuladas com a língua em posição elevada e 
apresentam um pequeno abaixamento do véu palatino, tendo, assim, uma configuração muito 
próxima de vogais nasais e orais (SEARA, 2008, p. 37). Veja na figura abaixo que o véu do 
palato está quase encostado na faringe tanto na produção do   - vogal alta anterior (a) como 
do  - vogal alta posterior (b). 
 
 
48 
 
FIGURA 26 
 
 
 
As vogais que são produzidas com a língua numa posição mais abaixada necessitam 
que o véu do palato esteja mais abaixado, com isto a diferença da produção da vogal nasal e 
oral é grande. Com esta diferença articulatória e acústica, a representação dessas vogais não é 
só com o símbolo [~] de nasalização, mas sim o ‘a’ invertido ɔ. Na figura abaixo, pode-se 
visualizar o posicionamento da língua e do véu do palato na produção da vogal ɔ. 
 
FIGURA 27 
 
 
 
49 
 
As vogais médias são realizadas com um gradual abaixamento da língua. Com isso, na 
produção de suas vogais nasais correspondentes, ocorre um abaixamento também gradual do 
véu do palato. Na PB, encontramos apenas as vogais médias altas nasais   (a) e   (b). 
Veja na figura abaixo a configuração do trato vocal na produção dessas vogais. 
 
FIGURA 28 
 
 
 
6.1.2 Encontros vocálicos 
 
 
Quando há encontros de duas ou três vogais, temos os ditongos e tritongos. São 
geralmente formados pela vogal alta anterior [i] e a vogal alta posterior [u]. Em algumas palavras, 
estas vogais não são vogais, pois aparecem apoiadas em uma vogal, formando com ela uma só 
emissão de voz (uma sílaba); quando isso ocorre, são chamados de semivogais (FARACO E 
MOURA, 1995). Callou e Leite (2003, p. 93) chamam essas vogais de assilábicas, salientando 
que “as vogais mais altas das séries anterior e posterior podem ocupar posição de núcleo ou de 
margem de sílaba. Teríamos, assim, um [ i ] e [ u ] silábicos ou assilábicos [ y ] e [w].” Nas vogais 
 
 
 
50 
 
assilábicas, têm-se os ditongos ou tritongos que contrastam com vogais simples, conforme o 
quadro: 
 
pá  pai  pau  
lê  lei  leu  
cá  cai  cal  
má  mais 
 
mau  
só ɔ sói ɔ sol ɔ 
 
 
Silva (1999) chama as semivogais de glides, sendo que o glide é sempre ligado a uma 
vogal que constitui o pico da sílaba no ditongo. O segmento interpretado como vogal no ditongo 
é aquele que tem mais proeminência acentual e o glide não tem. No ditongo, a vogal e o glide 
são pronunciados na mesma sílaba. A transcrição dos ditongos é realizada por uma sequência 
de símbolos correspondentes às vogais, sendo que o símbolo   deve ser colocado abaixo da 
vogal assilábica ou glide: , . Seara (2008, p. 41) propõe o uso dos símbolos [  ] para 
i e [w] para u. As semivogais ocupam as posições periféricas da sílaba e apresentam menor 
proeminência acentual se comparadas às vogais que acompanham. 
 
Ditongos – constituem-se de duas vogais, sendo que pode ser vogal + semivogal e semivogal + 
vogal. As sequências vogal + semivogal são sempre inseparáveis e são chamadas de ditongos 
decrescentes, pois terminam pela vogal com menor intensidade acentual. Também são 
chamados de ditongos verdadeiros. A outra sequência é chamada de ditongo crescente, pois a 
última vogal tem maior intensidade acentual, nesse caso existe a possibilidade de os dois 
segmentos constituírem sílabas separadas. 
 
 
51 
 
- vogal + semivogal – seu, pai 
 
s e u 
 vogal semivogal 
p a i 
 vogal semivogal 
 
 
- semivogal + vogal – história série 
 
histó r i a 
 semivogal vogal 
sé r i e 
 semivogal vogal 
 
 
Tritongo – grupo formado por semivogal + vogal + semivogal, numa só sílaba. Seara (2008) 
citando Cavalieri (2005) e Silva (2002) salienta que alguns estudiosos consideram os tritongos 
como a fusão de um ditongo crescente e um decrescente; já outros consideram que tritongos, 
precedidos de oclusivas velares, seriam certamente consoantes complexas seguidas de ditongo. 
Assim, em palavras como o exemplo abaixo, Uruguai, o dígrafo gu representaria uma consoante 
velar arredondada ou labializada . 
 
ig u a i s 
 semivogal vogal semivogal 
 
 
52 
Urug u a i 
 semivogal vogal semivogal 
   ] 
 
No quadro abaixo, temos a lista de ditongos crescentes e decrescentes, nasais e orais 
do PB, com exemplos, retirados de Seara (2008, p. 42): 
 
Decrescentes Crescentes 
Orais Nasais Orais Nasais 
 gaita ɔ mão  farmácia  quando 
 leite ɔ mãe  série  pinguim 
 ideia  tem ɔ biópsia 
 oito  põe  biologia 
ɔ joia  muito  armário 
 circuito  quase 
 aula  tênue 
 deu 
 papel 
 abriu 
 roubo 
 sul 
ɔ lençol 
FONTE: Seara, 2008, p. 42. 
 
 
53 
 
Monotongação – processo pelo qual o ditongo passa a ser produzido como uma única vogal, 
ocorrendo um apagamento da semivogal. Os ditongos que geralmente sofrem monotongação 
são ,  e . 
 ,  - quando em palavras na frente de  e , como em palavras 
como peixe , queijo  e freira ɔ. 
  - sofre o processo em qualquer ambiente (SEARA, 2008, p. 42). 
 
No quadro abaixo, podem ser observados os ambientes que favorecem o apagamento 
da semivogal, também aparecem os ambientes em que isso não ocorre. 
 
baixa ɔ ɔ 
encaixe  
sai  
peixe  
roteiro  
pensei  
solto  
gol  
manteiga ɔɔ ɔɔ 
leiga ɔ 
vou   
ouviu  
ouro   
traição ɔ 
queijo   
freira ɔ  
 
 
54 
depois   
meiga ɔ 
FONTE: Seara, 2008, p. 42-43. 
 
Hiatos – ao encontro de duas vogais, cada uma constituindo o pico de uma sílaba, dá-se o nome 
de hiato. Pode ser intravocabular – quando ocorre dentro de uma palavra, ou intervocabular – 
como consequência do encontro entre uma vogal final de uma palavra e a vogal inicial de outra. 
Temos hiatos nas seguintes sequências (CAVALIERI, 2005 apud SEARA, 2008): 
 
a) Entre vogais iguais átonas: caatinga, coordenação 
b) Entre vogais iguais, sendo a primeira tônica: voo, veem. 
c) Entre vogais iguais, em que a segunda é tônica: alcoólico, xiita. 
d) Entre vogais diferentes átonas: doação, estereotipado. 
e) Entre vogais diferentes, sendo a primeira tônica: Maria, pavio. 
f) Entre vogais diferentes, sendo a segunda tônica: hiato, freada. 
 
 
6.1.3 Propriedades articulatórias secundárias 
 
 
Seara (2008) salienta que as vogais podem ser caracterizadas a partir de outras 
propriedades, que são chamadas de propriedades articulatórias secundárias, que são: duração, 
desvozeamento, nasalização e tensão. 
 
 Duração: é analisado se na produção a vogal é longa, média ou breve. Qualquer 
vogal pode apresentar essa propriedade. Para representação são utilizados os 
símbolos ,  e [], assim vogais longas são representadas como , vogais 
com duração média, como  e as vogais breves, como . Essa 
 
 
55 
 
classificação, bem como os símbolos, somente deverá ser utilizada se de fato for 
relevante para a língua. 
 
 Desvozeamento: as vogais são segmentos normalmente vozeados (sonoros),ou 
seja, com vibração das pregas vocais. Porém, alguns segmentos podem ser 
articulados sem essa vibração, ocorrendo assim o desvozeamento. O diacrítico 
utilizado na representação da não vibração das pregas vocais, quando estas 
deveriam vibrar, é . O desvozeamento de vogais, no PB, acontece quando em 
posição átona final de palavras. Exemplo: papo, que deve ser transcrito como 
. 
 
 Nasalização: além das vogais nasais que ocorrem quando o véu do palato abaixa e com 
isso o fluxo de ar sai pela cavidade oral e nasal, temos vogais que são nasalizadas em 
função dos contextos vizinhos. Como exemplo, pode-se citar cama, ninho, tenho, 
palavras nas quais “o abaixamento do véu do palato para a articulação da consoante 
nasal adjacente é realizado antes da completa articulação da vogal que antecede esse 
segmento nasal” (SEARA, 2008, p. 40). Esse fenômeno faz com que as vogais sejam 
percebidas como nasalizadas. O diacrítico que é utilizado na nasalização é o  ; as 
palavras acima são transcritas, como ɔ. 
 
 Tensão: vogais tensas são aquelas realizadas com maior esforço muscular e 
opõem-se às vogais frouxas. As vogais átonas finais das palavras safári e pato são 
vogais frouxas em relação às tônicas finais de jacu e saci. 
 
 
6.1.4 Ordem para classificação de vogais 
 
 
 
 
56 
 
Na classificação dos segmentos vocálicos, é necessário levar em consideração, 
primeiramente, a altura da língua, em seguida em função de movimentação horizontal – 
anterioridade ou posterioridade da língua, e por fim seu arredondamento ou não. Vejamos como 
fica a classificação das vogais no quadro de fonemas vocálicos do PB em posição pré-tônica, 
tônica e pós-tônica apresentado por Seara (2008, p. 45). 
 
 Altura da 
língua 
Anterior Central Posterior 
 
 
 
pré- 
tô 
ni 
ca 
 Arredondada Não 
arredondada 
 Arredondada Não 
arredondada 
Alta   
Média alta   
Média baixa  ɔ 
Baixa  
t 
ô 
n 
i 
c 
a 
Alta   
Média alta   
Média baixa * ɔ* 
Baixa  
pós- 
tô 
Alta   
Média alta ** ** 
 
 
57 
ni 
ca 
Média baixa 
Baixa ɔ 
FONTE: Seara, 2008, p. 45. 
 
Obs.: 
* esses segmentos só vão aparecer em palavras derivadas como cafezinho, bolinha, nas quais 
as sílabas tônicas são, respectivamente, “zi” e “li”, mas cujas sílabas pré-tônicas “fe” e “bo” 
possuem um acento secundário herdado de suas correspondentes palavras de origem. 
** esses segmentos aparecerão de forma minoritária em algumas regiões do Brasil, como, por 
exemplo, em Curitiba. 
Finalizando esta parte da classificação, apresentamos a seguir um quadro com a 
classificação das vogais do PB com exemplos e transcrições (SEARA, 2008, p. 45): 
 
Vogal Classificação Exemplos Transcrições* 
 vogal alta anterior 
não arredondada 
picado 
digo 
 
 
 vogal alta anterior 
não arredondada (átona final de palavra) 
tapete  
 vogal média baixa anterior 
não arredondada 
terei 
tapete 
leite 
 
 
 
 vogal média baixa anterior 
não arredondada 
pezinho 
pé 
 
 
 vogal baixa anterior acaba 
pacata 
ɔ 
ɔ 
ɔ vogal baixa central (átona final de palavra) pacata ɔ 
 
 
58 
ɔ vogal média baixa 
arredondada 
pozinho 
pó 
ɔ 
ɔ 
 vogal média alta 
arredondada 
colado 
todo 
 
 
 vogal alta posterior 
arredondada 
tabulado 
tudo 
 
 
 vogal alta posterior 
arredondada (átona final de palavras) 
tudo  
“*As transcrições feitas com os colchetes ([ ]) referem-se à produção das palavras 
exemplificadas, e o símbolo (  ) sinaliza que a sílaba que o segue é atônica da palavra 
(ou seja, nas transcrições fonéticas, esse símbolo deve ser colocado antes da sílaba 
tônica).” (Nota do autor) 
 
No quadro a seguir, podemos observar um diagrama vocálico com a localização das 
vogais mais comuns do PB com exemplos dados por Cagliari (1981). 
 
 
FIGURA 29 
 
 
PROGRAMA DE 
 
 
59 
 
7 SEGMENTOS CONSONANTAIS 
 
 
Os sons consonantais são aqueles produzidos pela obstrução total ou parcial da 
corrente de ar, quando dois articuladores se tocam. A obstrução da corrente de ar é uma 
redução da energia total do espectro acústico. Também podem ser conceituados como vibrações 
aperiódicas ou ruídos que ocorrem quando a corrente de ar sofre uma obstrução total ou parcial 
(CALLOU E LEITE, 2003). As consoantes dividem-se em dois grandes grupos: os segmentos 
sonoros ou vozeados, que são produzidos com as pregas vocais em vibração, e os surdos ou 
desvozeados, quando o som é produzido sem a vibração das pregas vocais. Ao classificar as 
consoantes, também se deve levar em consideração o modo de articular (maneira como o ar 
passa pelas cavidades supraglóticas) e o lugar ou ponto de articulação, que está em relação à 
posição dos articuladores ativos e passivos. 
Os articuladores são os lábios, a língua, os dentes, os alvéolos, o palato duro e o mole 
e o véu faríngeo, ou seja, “um articulador é qualquer parte, na área orofaríngea, que participa na 
modificação da qualidade do som, por acarretar, em conjunção com outra parte, o aumento ou 
diminuição dessa cavidade” (CALLOU E LEITE, 2003, p. 23-24). Dentre estes, alguns são 
considerados ativos e outros passivos. Os articuladores ativos são assim denominados devido à 
propriedade de movimentar-se em direção ao articulador passivo, com isto, modificando a 
configuração do trato vocal. São articuladores ativos: 
 
 Lábio inferior – que modifica a cavidade oral. 
 Língua – que modifica a cavidade oral. 
 Véu faríngeo – modifica a cavidade nasal. 
 Pregas vocais – modificam a cavidade faringal. 
 
Os articuladores passivos não se movimentam, porém são o ponto de referência para 
onde se move o articulador ativo. Estão situados na maxila, exceto o véu faríngeo, que se situa 
na parte posterior do palato. Os articuladores passivos são o lábio superior, os dentes superiores 
 
 
60 
 
e a parte superior da boca, que se divide em alvéolos, palato duro, véu faríngeo e úvula. O véu 
faríngeo pode atuar tanto como articulador ativo, na produção de segmentos nasais, como 
passivo, na articulação de segmentos velares (SILVA, 1999; CALLOU E LEITE, 2003). 
 
FIGURA 30 
 
 
 
No português brasileiro, há 19 sons consonantais, que são subdivididos em posição 
pré-vocálica, pós-vocálica e intervocálica (MONARETTO, QUEDNAU E DA HORA, 1999). 
 
 Posição intervocálica – é o contexto mais favorável ao aparecimento de consoantes, 
podendo ser divididas em labiais, anteriores e posteriores. 
 
Labiais /p/ /b/ /f/ /v/ /m/ 
Anteriores /t/ /d/ /s/ /z/ /n/ /l/ // 
Posteriores /k/ /g/ // // // // /r/ 
FONTE: Monaretto, Quednau e Da Hora, 1999. 
 
 
61 
 
 Posição pré-vocálica – como segunda consoante, só aparecem laterais e vibrantes 
anteriores, criando-se contrastes como em fluir:fruir. Como primeira consoante, 
aparecem em quase todos os sons consonantais. 
 
Em CV /p/ /b/ /f/ /v/ /m/ /t/ /d/ /s/ /z/ 
/n/ /l/ /k/ /g/ // // /r/ 
Como 2ª 
consoante em 
CCV 
Somente /l/ e // 
FONTE: Monaretto, Quednau e Da Hora, 1999. 
 
 
 Posição pós-vocálica – é um número menor de consoantes, permanece a líquida não 
palatizada /l/. As quatro fricativas não labiais, sibilantes ou chiantes, surdas e sonoras, 
reduzem-se a um arquifonema /S/. A nasal pós-vocálica realiza-se conforme a 
consoante seguinte, quando essa for oclusiva (bomba), dental (lenda), palatal (dente) ou 
velar (pingo). Também pode ser interpretada como um arquifonema, marcado pela 
ressonância nasal. É transcrito pela letra maiúscula do fonema não marcado /N/. 
 
/S/ /N/ /l/ /r/ 
FONTE: Monaretto, Quednau e Da Hora, 1999 
 
 
Obs.: /S/ e /N/ são arquifonemas – termo criado por Nikolai Trubetzkoy, fonólogo daEscola de 
Praga, representado por um símbolo, geralmente uma letra maiúscula, que indica a perda do 
contraste entre dois fonemas, causada por uma neutralização (MONARETTO, QUEDNAU E DA 
HORA, 1999). No módulo de fonologia, estudaremos mais sobre os arquifonemas e 
neutralização. 
 
 
62 
 
7.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SONS CONSONANTAIS 
 
 
Na produção das consoantes, são relevantes os seguintes parâmetros: o mecanismo e 
a direção da corrente de ar; se há ou não vibração das pregas vocais; se o som é nasal ou oral; 
quais os articuladores envolvidos na produção dos sons e qual a maneira utilizada na obstrução 
da corrente de ar (SILVA, 1999). Pode-se dizer que os sons consonantais são classificados de 
acordo com o ponto de articulação, o modo de articulação, a cavidade de ressonância e a 
vibração das pregas vocais. 
 
Ponto de articulação: pode-se chamar de ponto de articulação o local onde dois 
articuladores (um ativo e um passivo) se tocam na produção do som, ou seja, a partir da posição 
em que o articulador ativo está em relação ao passivo, pode-se definir o ponto de articulação. 
Dividem-se em bilabial, labiodental, alveolar, alveopalatal, palatal e velar. 
 
Ponto de 
articulação 
Articulador ativo Articulador 
passivo 
Exemplo 
bilabial lábio inferior lábio superior /p/ - pá, /b/ - boa, /m/ - má 
labiodental lábio inferior dentes incisivos 
superiores 
/f/ - faca, /v/ - vaca 
alveolar ápice ou lâmina da 
língua 
alvéolos /t/ - tatu, /d/ dedo, /z/ - 
zapata, /s/ - sapato, /n/ - 
nada, /l/ - lata 
alveopalatal parte anterior da 
língua 
parte medial do 
palato duro 
// - chá, // - já 
palatal parte média da 
língua 
parte final do palato 
duro 
// - banha, // - palha 
velar parte posterior da véu faríngeo /k/ - casa, /g/ - gata, /R/ - 
 
 
63 
língua rata 
FONTE: Silva, 1999; Callou e Leite, 2003. 
 
Obs.: a pronúncia do r tem muitas variações no português brasileiro, sendo classificado de 
acordo com a pronúncia do lugar. 
 
Na figura a seguir, vemos esquematicamente os pontos de articulação no aparelho 
fonador. 
 
FIGURA 31 
 
 
Modo de articulação: está relacionado ao tipo de obstrução da corrente de ar causada 
pelos articuladores durante a produção de um segmento. A obstrução pode ser total ou parcial. 
 
 
64 
 
Tipo Corrente de ar Exemplo 
oclusiva Os articuladores realizam uma obstrução total da corrente 
de ar. O véu faríngeo está elevado e o ar que vem dos 
pulmões vai para a cavidade oral. 
/p/ - pá, /b/ - bar, 
/t/ - tá, /d/ - dá, /k/ 
- cá, /g/ - gol 
fricativa Os articuladores aproximam-se produzindo uma fricção na 
passagem central da corrente de ar, com isso ocorre um 
impedimento parcial do ar. 
/f/ - faca, /v/ - 
vaca, /z/ - zapata, 
/s/ - sapo, // - 
chá, // - já 
africada Na fase inicial da produção de um som africado, os 
articuladores produzem uma obstrução total do ar; na fase 
final, quando se dá a soltura da oclusão, ocorre uma 
fricção decorrente da passagem central da corrente de ar 
como nas fricativas. A oclusiva e a fricativa que formam a 
consoante africada devem ter o mesmo lugar de 
articulação, ou seja, são homorgânicas. 
/t/ - tia 
/d/ - dia 
vibrante O articulador móvel (ponta da língua ou úvula) bate 
repetidas vezes num articulador fixo (alvéolos, dorso da 
língua), causando vibração. 
/R/ - rato 
/r/ - caro 
lateral O articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente 
de ar é obstruída na linha central do trato vocal, sendo que 
o fluxo de ar escapa pelos lados da cavidade oral. 
/l/ - lata 
// - malha 
nasal Os articuladores produzem uma obstrução completa da 
passagem da corrente de ar pela boca, porém, como o véu 
faríngeo está abaixado, a corrente de ar dirige-se à 
cavidade nasal e oral. 
/m/ - mala, /n/ - 
nada, // - banho 
FONTE: Silva, 1999; Callou e Leite, 2003. 
 
Obs.1 – no português brasileiro, o “r” em palavras como “caro” e “prato” é produzido geralmente 
como tepes. Flepes e tepes são sons produzidos por apenas uma batida de um articulador no 
outro. No flepe, a ponta da língua encurva-se para trás e a curvatura desfaz-se, tocando a região 
alveolar. No tepe, a ponta ou lâmina da língua levanta-se horizontalmente e bate na área 
alveolar. São conhecidos também como vibrantes simples, quando produzidos com apenas uma 
batida em um articulador, e vibrantes múltiplos, quando produzidos por várias batidas. 
 
 
65 
 
Obs. 2 – encontramos também as articulações secundárias – labialização, palatalização, 
velarização e a faringalização (CALLOU E LEITE, 2003, p. 25). 
Cavidade de ressonância: de acordo com o posicionamento do véu faríngeo, temos um 
som oral ou um som nasal. Se o mecanismo velofaringeano estiver elevado, o fluxo de ar fica 
impedido de passar para o nariz (conforme a figura A); já se estiver abaixado, o fluxo de ar, além 
de ir para a cavidade oral, irá para a cavidade nasal (observe a figura B abaixo). 
 
FIGURA 32 
 
 
Vibração das pregas vocais: como vimos, as pregas vocais encontram-se na laringe, e 
o espaço existente entre elas é definido como glote. A glote é um espaço entre músculos 
estriados que podem ou não impedir a passagem do fluxo de ar que vem dos pulmões. Esse 
grupo de músculos são as pregas vocais. Quando as pregas vocais se aproximam e, devido à 
passagem do ar e da ação dos músculos, ocorre uma vibração, temos os sons sonoros ou 
vozeados. Em oposição, quando as pregas vocais estiverem afastadas, não ocorrendo vibração, 
temos a produção dos sons surdos ou desvozeados. 
 
 
66 
 
FIGURA 33 
 
 
 
7.1.1 Quadro fonético 
 
 
Baseado nesta classificação, pode-se montar o quadro fonético abaixo, no qual estão 
todas as características apresentadas pelo segmento consonantal – modo e ponto de 
articulação, o estado da glote (vozeado ou desvozeado) e se o véu faríngeo está abaixado ou 
elevado (nasal ou oral). 
 
 
67 
 
MODO DE 
ARTICULAÇÃ
O 
PREGAS 
VOCAIS 
PONTO DE ARTICULAÇÃO 
Bilabia
l 
Lábio 
denta
l 
Dental 
ou 
Alveola
r 
Alveo 
palata
l 
Palata
l 
Vela
r 
Uvula
r 
 
Oclusiva 
Desvozead
a 
 
Vozeada 
p t k 
b d g 
Africada Desvozead
a 
 
Vozeada 
 t 
 d 
 
Fricativa 
Desvozead
a 
 
Vozeada 
 f s  X  
 v z   
Nasal Vozeada m n  () 
Tepe Vozeada  
Vibrante Vozeada  
Retroflexa Vozeada 
Lateral Vozeada l ()  () 
FONTE: Silva, 1999, p. 37. 
 
O quadro abaixo apresenta alguns símbolos fonéticos concorrentes aos do alfabeto da 
Associação Internacional de Fonética que poderão ser utilizados quando houver necessidade. 
 
 
68 
 
Símbolo proposto pela 
Associação Fonética Internacional 
Símbolos concorrentes 
  
  
t  ou  
d  ou  
  
FONTE: Silva, 1999, p. 40. 
 
 
7.1.2 O alfabeto fonético 
 
 
Para Callou e Leite (2003, p. 34), o alfabeto fonético “é uma convenção para se 
escreverem os sons das línguas independentemente da convenção que cada uma utiliza para 
sua escrita em cotidiano.” Este alfabeto é utilizado na transcrição fonética, “que é uma tentativa 
de se registrar de modo inequívoco o que se passa na fala.” Para transcrever a fala, é utilizado 
um símbolo fonético, que possibilita e facilita a transcrição e a leitura de qualquer som em 
qualquer língua. Por exemplo, a palavra fonética seria transcrita como ɔ, e 
fonologia tem sua transcrição como ɔ, sendo assim, qualquer leitor de outra 
língua conseguiria “ler”. O alfabeto fonético internacional é utilizado para a transcrição 
exatamente de como se fala: se falamos “mininu”, quando escrevemos “menino”, então a 
transcrição é . 
 
 
 
69 
 
7.2 AS CONSOANTES DO PORTUGUÊS DO BRASIL 
 
 
A língua portuguesa brasileira tem suas características próprias. Os dialetos das 
diversas regiões do Brasil têm maneiras de falar determinados sons, ocorrendo variações na sua

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