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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 HISTÓRIA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 2 PRINCÍPIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 2.1 INDICAÇÕES DA VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) 2.2 COMPLICAÇÕES DA VM 2.3 LESÃO INDUZIDA PELA VM 3 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA 3.1 ACESSO A VIA AÉREA E TIPOS DE PRÓTESES MÓDULO II 4 PRINCIPIOS DE MECÃNICA RESPIRATÓRIA 4.1 DEFIÇÃO 4.2 RESPIRAÇÃO FISIOLÓGICA 4.3 NOÇÕES DE MECÂNICA RESPIRATÓRIA 4.3.1 Classificação da Mecânica Pulmonar 5 PRINCÍPIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 5.1 O CICLO VENTILATÓRIO 5.1.1 Fase Inspiratória 5.1.2 Mudança da Fase Inspiratória para a Fase Expiratória (Ciclagem) 5.1.3 Fase Expiratória 5.1.4 Mudança da Fase Expiratória para a Fase Inspiratória (Trigger Ou Disparo) 5.2 MODOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA 5.2.1 Ventilação Controlada 5.2.2 Ventilação Assistida 5.2.3 Ventilação Assisto-Controlada 5.2.4 Ventilação Mandatória Intermitente 5.3 CICLAGEM DO VENTILADOR 5.3.1 Ciclagem a Tempo AN02FREV001/REV 4.0 4 5.3.2 Ciclagem a Volume 5.3.3 Ciclagem a Pressão 5.3.4 Ciclagem a Fluxo 5.4 OUTROS MODOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA MÓDULO III 6 MODOS ALTERNATIVOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA 6.1 NOMENCLATURA 6.1.1 Variável Controlada 6.1.2 Sequências Respiratórias 6.1.3 Esquemas de Alvo 7 PRESSÃO CONTROLADA ADAPTATIVA 7.1 FUNCIONAMENTOS DO MODO PRESSÃO ADAPTATIVA (PA) 7.2 PARÂMETROS AJUSTADOS NA PA 7.3 APLICAÇÕES CLÍNICAS DA PA 7.3.1 Benefícios Evidentes da PA 8 VENTILAÇÃO COM SUPORTE ADAPTATIVO (ASV) 8.1 FUNCIONAMENTO DO MODO ASV 8.2 PARÂMETROS DO ASV 8.3 APLICAÇÕES CLÍNICAS E EVIDÊNCIAS 9 VENTILAÇÃO PROPORCIONAL ASSISTIDA (PAV) 9.1 FUNCIONAMENTOS DA PAV 9.2 APLICAÇÕES CLÍNICAS DA PAV 9.3 BENEFÍCIOS DA PAV 9.3.1 Evidências Científicas 10 VENTILAÇÕES COM LIBERAÇÃO DE PRESSÃO NAS VIAS AÉREAS (APRV) 10.1 PARÂMETROS APRV E VENTILAÇÃO BIFÁSICA 10.2 APLICAÇÕES CLÍNICAS 10.3 BENEFÍCIOS APRV E MODO BIFÁSICO 11 VENTILAÇÃO DE ALTA FREQUÊNCIA OSCILATÓRIA (VAFO) 11.1 O QUE A VAFO FAZ? 11.2 TEORIA DO TRANSPORTE DE GASES 11.3 PARÂMETROS DA VAFO AN02FREV001/REV 4.0 5 11.4 APLICAÇÕES CLÍNICAS DA VAFO 12 VENTILAÇÂO NÃO INVASIVA (VNI) 12.1 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) 12.1.1 Exacerbação Aguda da DPOC 12.2 CRITÉRIOS PARA HOSPITALIZAÇÃO DO PACIENTE DPOC 12.2.1 Ventilação Mecânica na DPOC 12.3 VENTILAÇÃO MECÂNICA NA ASMA 12.3.1 Hiperinsuflação e Aprisionamento De Ar 12.3.2 Ventilação Mecânica Invasiva na Asma 12.3.3 VNI 12.3.4 Como Medir o “Air Trapping” ou Aprisionamento de Ar 12.3.5 Estratégia Ventilatória 12.4 VM DOMICILIAR 13 VENTILAÇÃO MECÂNICA NA SINDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO (SARA) 13.1 VENTILAÇÃO MECÂNICA 13.2 MONITORIZAÇÃO RESPIRATÓRIA 13.2.1 Oximetria de Pulso 13.2.2 Capnometria e Capnografia 14 UMIDIFICAÇÃO E AQUECIMENTO DOS GASES DURANTE A VM MÓDULO IV 15 TERAPIAS RESPIRATÓRIAS NÃO CONVENCIONAIS ADJUVANTES A VM 15.1 ÓXIDO NÍTRICO INALATÓRIO 15.2 HELIOX 15.3 INSUFLAÇÕES DE GÁS TRAQUEAL (TGI) 15.4 POSIÇÃO PRONA 15.5 VENTILAÇÃO PULMONAR INDEPENDENTE 15.6 VENTILAÇÃO MECÂNICA EM PACIENTES COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO GRAVE 16 INOVAÇÃO NA VM 16.1 NAVA (VENTILAÇÃO ASSISTIDA NEUROLOGICAMENTE AJUSTADA) AN02FREV001/REV 4.0 6 17 DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 17.1 CRITÉRIOS DE DESMAME: COMO ELES SÃO ÚTEIS? 17.2 COMO SABER SE O PACIENTE ESTÁ APTO A RESPIRAR ESPONTANEAMENTE? 17.3 PAPEL DA VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO-INVASIVA EM O PROCESSO DE DESMAME 17.4 CONCLUSÃO 18 VENTILAÇÃO MECÂNICA EM PACIENTE COM FALÊNCIA CARDÍACA 18.1 PEEP E DÉBITO CARDÍACO 18.2 DETERMINANTES DO RETORNO VENOSO 18.3 EFEITOS DA PEEP SOBRE O RETORNO VENOSO 18.4 DÉBITOS DO VENTRÍCULO ESQUERDO (CONTRATILIDADE E PÓS- CARGA) 18.5 ESTRATÈGIAS DE MANEJO VENTILATÒRIO NO DOENTE CRÍTICO 18.6 VENTILAÇÕES ESPONTÂNEAS É EXERCÍCIO 18.7 TÔNUS AUTONÔMICOS 18.8 FATORES HUMORAIS8 18.9 A VENTILAÇÃO ALTERA A PIT REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 7 MÓDULO I 1 HISTÓRIA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Objetivo Ilustrar o desenvolvimento da ventilação mecânica e seus princípios por meio de sua história. As primeiras experiências com ventilação artificial foram: • Galeno – ao soprar pela boca observou a insuflação dos pulmões. • Vesalius – com um fole de lareira, insuflava os pulmões de cadáveres. • Hooke – ventilação artificial manteve cachorro vivo por 1h. Técnicas de ressuscitação holandesas em 1767 preconizavam: • Manter o paciente aquecido; • Respiração artificial boca-a-boca; • Fumigação de tabaco pelo reto; • Estimulantes via oral ou retal; • Sangrias. AN02FREV001/REV 4.0 8 FIGURA 1 FONTE: Tabaco via retal, técnica de ressuscitação (Tobin;1194) • 1776 primeiros relatos de intubação traqueal; • 1806 primeiros laringoscópios, máscara e balão (AMBU); • 1827 primeiros relatos de pneumotórax documentado em animais; • Ventilação por pressão positiva é abandonada. FIGURA 2 AN02FREV001/REV 4.0 9 FONTE: Primeiros Laringoscópios Tobin. FIGURA 3 FONTE: Primeiro modelo de balão-máscara. (Tobin, 1994). Ventiladores com pressão negativa • 1876 Primeiras experiências com Woillez; • Egon Braun ressuscitação de crianças. FIGURA 4 FONTE: Pulmão de Aço. Fonte Tobin; 1994. AN02FREV001/REV 4.0 10 FIGURA 5 FONTE: Pulmão de aço em Bebê. Tobin;1994. FIGURA 6 FONTE: Ventilação com couraça: Tobin; 1994. Pressão positiva • Período de latência desde 1827 até que em 1868 Hering e Breuer; • 1878 Bert – ventilação de animais curarizados; • 1879 Ventiladores ciclados a volume em Harvard. AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 7 FONTE: Fole adaptado: Tobin; 1994. FIGURA 8 FONTE: Primeiro modelo de ventilador por pressão positiva: Tobin: 1994. Evolução da Anestesia • 1846: William Morton (MGH) anestesia com éter sulfúrico; • 1869: Frederic Trendelenburg anestesia endotraqueal em humanos e cânula com cuff; • 1893: Fell & O’ Dwyer intubação endotraqueal; • Resistência ao ventilador mecânicos: preferência pela ventilação manual com bolsa anestésica (Ambu); AN02FREV001/REV 4.0 12 • Ventilação com pressão positiva restrita ao Centro Cirúrgico. FIGURA 9 FONTE: Primeiro modelo de cânula de traqueostomia: Tobin; 1994. Intubação translaríngea • Mais prática; • Mais barata; • Laringoscópio atual surge em 1912; • Ventiladores simples (Bird Mark 7); • Sondas com cuff; • Acúmulo de secreções; • Atelectasias; • 1940: intubações prolongadas para higiene brônquica. A epidemia de poliomielite • Primeiro surto: 1894; • 1916: 6 mil mortos, 27 mil com sequelas; • 1952: 57 mil pessoas mortas/com sequelas. AN02FREV001/REV 4.0 13 FIGURA 10 FONTE: Unidade respiratória de Los Angeles County Hospital durante a epidemia de poliomielite no verãode 1950: Tobin; 1994. A polio em Kopenhagen • Final de agosto/ 1952: 27 / 31 pacientes morreram; • Ventilação manual pela cânula de traqueostomia com cuff; • Escolas médicas fechadas: estudantes = plantões de 8h para ventilação manual; • Mortalidade 50%. Estudantes foram substituídos por ventiladores mecânicos AN02FREV001/REV 4.0 14 FIGURA 11 FONTE: Ventilação manual. Tobin;1994. 2 PRINCÍPIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Ventilação mecânica é uma forma de suporte de vida. Normalmente se utiliza equipamentos que fornecem pressão positiva, mas há possibilidade de se utilizar equipamentos que geram pressão negativa ao redor da caixa torácica. A ventilação mecânica pode salvar vidas, porém se faz necessário um profundo conhecimento de como utilizá-la corretamente e a contínua avaliação do paciente é imprescindível para não haver iatrogenias e assim piorar a condição clínica do paciente. 2.1 INDICAÇÕES DA VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) A VM é indicada em muitas situações. Estas situações são úteis para determinar quando a VM é necessária, porém o julgamento clínico deve ser soberano. AN02FREV001/REV 4.0 15 Uma indicação indiscutível é a iminência de uma insuficiência respiratória aguda e grandes cirurgias como cardíaca, abdominal e torácica. INDICAÇÕES VM 1- Apneia; 2- Insuficiência respiratória aguda (aumento da PaCO2, acidose, falência muscular respiratória, aumento do drive respiratório, alteração central da respiração); 3- Hipoxia grave; 4- Fadiga muscular respiratória. 2.2 COMPLICAÇÕES DA VM A VM não é uma terapêutica totalmente benigna, ela pode provocar efeitos diretos na homeostase ver na tabela abaixo: Complicações de vias aéreas Edema laríngeo Trauma de traqueia Contaminação das vias aéreas inferiores Perda da umidificação e aquecimento das vias aéreas superiores Complicações mecânicas Desconexão acidental Vazamentos no circuito do ventilador Perda de eletricidade Perda de pressão na rede de gás Complicações pulmonares Lesão induzida pela VM Barotrauma AN02FREV001/REV 4.0 16 Toxicidade ao oxigênio Atelectasias Pneumonia nosocomial Inflamação Complicações cardiovasculares Redução do retorno venoso Redução do débito cardíaco Hipotensão Complicações gastrointestinais Redução do esvaziamento gástrico Desnutrição Complicações renais Redução do débito urinário Aumento do hormônio antidiurético Redução do peptídeo natriurético atrial Complicações neurológicas Aumento da pressão intracraniana Complicações no equilíbrio acidobásico Alcalose respiratória O barotrauma pode ser resultante de uma hiperdistensão alveolar decorrente de pressão ou volume excessivo no pulmão, pacientes intubados por períodos de tempo prolongados (> de 72 horas) pode evoluir com complicações decorrentes do tubo orotraqueal. A pressão positiva aumenta a pressão intratorácica e consequentemente pode reduzir o retorno venoso e assim reduzir o débito cardíaco e reduzir a pressão arterial e a administração de volume e drogas vasoativas, muitas vezes, faz-se necessária para manter as variáveis hemodinâmicas e o débito urinário. A pneumonia associada à VM e a aspiração de conteúdo da orofaringe pode ser minimizada com o posicionamento elevado da cabeceira do paciente e higiene frequente da região supra-cuff e verificação também frequente da pressão de cuff. 2.3 LESÃO INDUZIDA PELA VM AN02FREV001/REV 4.0 17 A hiperdistensão alveolar causada pelo autopico de pressão de insuflação é a principal causa de lesão pulmonar aguda induzida pela VM. PARÂMETROS A SEREM CONSIDERADOS NA INDICAÇÃO DA VM: TABELA 1 - PARÂMETROS QUE PODEM INDICAR A NECESSIDADE DE SUPORTE VENTILATÓRIO. III CONSENSO DE VM 2007. VENTILAÇÃO MECÂNICA LESÃO BIOFÍSICA LESÃO BIOQUÍMICA Cisalhamento Hiperdistenção Abertura e fechamento cíclico Aumento da pressão intratorácica permeabilidade alvéolo capilar Redução DC Redução da perfusão dos órgãos Citocinas Complemento Leucotrienos Proteases Neutrófilos Órgãos distantes - Inflamação tecidual secundária a lib. Mediadores inflamatórios - Redução da distribuição O2 para tecidos - Bacteremia Disfunção Múltipla de órgãos AN02FREV001/REV 4.0 18 Parâmetros Normal Considerar VM Frequência respiratória (f) Adultos 12 a 20 rpm >35 rpm VT (ml/kg) 5 a 8 < 5 Capacidade vital (ml/kg) 65 a 75 < 50 Volume Minuto (L/min) 5 a 6 > 10 PiMáx (cmH2O) 80 a 120 > - 25 PeMáx (cmH2O) 80 a 100 < + 25 Espaço morto (%) 25 a 40 > 60 PaCO2 (mmHg) 35 a 45 > 50 PaO2 (mmHg) com FiO2= 0,21 > 75 < 50 PaO2/ FiO2 > 300 < 200 P (A-a)O2 com FiO2 = 1,0 25 a 80 > 350 3 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA A ventilação artificial é realizada com a aplicação de pressão positiva nas vias aéreas por uma prótese na via aérea como um tubo orotraqueal ou traqueostomia. 3.1 ACESSO A VIA AÉREA E TIPOS DE PRÓTESES O acesso a via aérea (intubação) é um procedimento médico que faz parte do suporte avançado de vida e normalmente é realizado em ambiente de UTI de forma eletiva, que é ideal e mais segura, ou emergencial que predispõe o paciente a AN02FREV001/REV 4.0 19 um maior risco. A Figura abaixo mostra o procedimento de intubação em um boneco. FIGURA 12 - INTUBAÇÃO COM LARINGOSCÓPIO FONTE: Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Intuba%C3%A7%C3%A3o_endotraqueal >Acesso em: 13 maio 2013. FIGURA 13 - IOT VISTA LATERAL E FRONTAL FONTE: Disponível em: <http://www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=8&materia_id=517&materiaver=1&imprimir=1>. Acesso em: 13 maio 2013. AN02FREV001/REV 4.0 20 FIGURA 14 - LARINGOSCÓPIO FONTE: Disponível em: < webdematerial.iespana.es> Acesso em : 13 maio 2013. FIGURA 15 - TRAQUEOSTOMIA VISTA LATERAL FONTE: Disponível em: <fisioterapiahumberto.blogspot.com>. Acesso em: 13 maio 2013. http://fisioterapiahumberto.blogspot.com/2009/03/traqueostomia-em-criancas.html AN02FREV001/REV 4.0 21 A razão primária em realizar uma traqueostomia é manter a via aérea segura de pacientes sob VM prolongada, porém ainda há controvérsias de quando deve ser realizada. Quando comparada ao tubo orotraqueal ela apresenta algumas vantagens como a redução da resistência, maior conforto para o paciente além de uma menor movimentação da prótese no interior da traqueia. A traqueostomia permite um menor nível de sedação, de tal modo permite que o paciente se comunique movendo os lábios e até mesmo com o uso de cânulas adequadas e válvulas de fonação que sons sejam emitidos por ele. A traqueostomia tem riscos por ser um procedimento cirúrgico que visa estabelecer uma passagem entre a traqueia cervical e o meio externo de forma a criar uma entrada de ar artificial na altura do pescoço e por isso tem maior morbimortalidade do que a intubação orotraqueal. Os maiores riscos incluem enfisema subcutâneo, sangramentos, pneumotórax e pneumomediastino. RESUMO INDICAÇÕES DA TRAQUEOSTOMIA 1- Ventilação mecânica prolongada; 2- Cirurgias de cabeça e pescoço; 3- Obstrução alta das vias aéreas; 4- Proteção de vias aéreas. VANTAGENS 1- Menor nível de sedação; 2- Permite a fala; 3- Reduz a resistência imposta ao fluxo aéreo; 4- Facilita higiene pulmonar. DESVANTAGENS 1- Risco cirúrgico; 2- Sangramento; 3- Pneumotórax; AN02FREV001/REV 4.0 22 4- Pneumomediastino. FIGURA 16 - TRAQUEOSTOMIA COM CUFF FONTE: Disponível em: <https://cirurgicasaopaulo.websiteseguro.com>. Acesso em: 13 maio 2013. FIM DO MÓDULO I https://cirurgicasaopaulo.websiteseguro.com/index.php?cPath=55&osCsid=vgdvp1nqvjtr5g020aeo2ulgr5AN02FREV001/REV 4.0 25 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 26 CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 27 MÓDULO II 4 PRINCÍPIOS DE MECÂNICA RESPIRATÓRIA 4.1 DEFINIÇÃO É o estudo das propriedades mecânicas do pulmão e da caixa torácica em que esta interação determina os volumes pulmonares e a função das trocas gasosas. 4.2 RESPIRAÇÃO FISIOLÓGICA São elementos mecânicos do sistema respiratório: Vias aéreas; Parênquima pulmonar; Caixa torácica; Músculos respiratórios. Função muscular Na respiração espontânea, a inspiração é ativa e a expiração resultado do relaxamento dos músculos. O principal músculo da respiração é o diafragma, ele é inervado pelo nervo frênico e quando se contrai realiza a tração das superfícies inferiores dos pulmões para baixo; na expiração, o diafragma simplesmente se AN02FREV001/REV 4.0 28 relaxa, e é a retração elástica dos pulmões, da parede torácica e das estruturas abdominais que comprime os pulmões. Durante o desconforto respiratório ou em situações de aumento de demanda muscular respiratória, as forças elásticas por si não são tão poderosas para causar a expiração rápida necessária, a força adicional é obtida principalmente pela contração dos músculos abdominais, que força o conteúdo abdominal para cima, contra a parte inferior do diafragma tornando a expiração um processo ativo com um proposital aumento da fase expiratória. Os intercostais externos são músculos inspiratórios que se orientam de cima para baixo e de trás para frente entre as costelas adjacentes. Quando os intercostais externos se contraem, puxam as costelas superiores para frente em relação às costelas inferiores, provocando um efeito de alavanca sobre as costelas, o que determina sua elevação, causando a inspiração e um movimento conhecido como alça de balde. Além dos músculos principais existem ainda os músculos acessórios da inspiração, que são assim chamados, pois contribuem pouco para a ventilação normal, mas são recrutados e até modificam seu ponto de fixação para aumentarem a ventilação nos casos de aumento de demanda ou exercícios físicos extenuantes. Esses músculos são os escalenos, que elevam as duas primeiras costelas; os esternocleidomastoides, que elevam o esterno e os serráteis anteriores, que elevam muitas das costelas, os elevadores da asa do nariz, que dilatam as narinas, e os músculos curtos da cabeça e pescoço que fixam a cabeça para facilitar o deslocamento apical do tórax. Os músculos intercostais internos também participam da expiração ativa, eles têm ação oposta à dos intercostais externos, quando eles encurtam e puxam as costelas para baixo, para trás e para frente, diminuindo o diâmetro torácico anteroposterior. AN02FREV001/REV 4.0 29 4.3 NOÇÕES DE MECÂNICA RESPIRATÓRIA 4.3.1 Classificação da Mecânica Pulmonar A mecânica pulmonar é dividida por duas classificações: Mecânica pulmonar estática; Propriedades mecânicas sem modificação de volume – fluxo zero. Mecânica pulmonar dinâmica; Propriedades mecânicas com modificação de volume – fluxo variável. Mecânica pulmonar estática A mecânica estática é caracterizada por: Volumes e capacidades pulmonares. FIGURA 17 FONTE: Volumes e capacidades. Arquivo pessoal autor. AN02FREV001/REV 4.0 30 São determinantes do volume pulmonar; – Complacência pulmonar total / regional; – Interação pulmão x caixa torácica; – Curva pressão x volume dos pulmões. Distensibilidade pulmonar; – Pressão transpulmonar. Estabilidade das unidades pulmonares. Pressão pleural: é a pressão existente entre as pleuras essa é sempre negativa durante a respiração espontânea devido à drenagem constante do líquido pleural pelos ductos linfáticos, sendo no repouso –5 cm H2O. o Durante a contração muscular a pressão pleural fica mais negativa, cerca de –7 cm H2O na fase inspiratória com a consequente entrada do ar devido o gradiente de pressão formado dentro do sistema e pela pressão atmosférica. o Durante a expiração a pressão pleural aumenta para – 3 cm H2O e com a redução do gradiente associada às forças elásticas anteriormente citadas o ar sai de forma passiva. FIGURA 18 FONTE: Disponível em : < www.fisiologia.kit.net> Acesso em: 21 e Maio 2013. AN02FREV001/REV 4.0 31 Pressão alveolar: é a pressão interna do pulmão no repouso é igual a Patm o Na fase inspiratória o tórax se expande pela contração muscular, o que expande também o pulmão, de acordo com as leis da física quando o volume de um gás sofre um aumento súbito de volume, sua pressão diminui assim durante a inspiração a pressão alveolar reduz cerca de –1 cm H2O. o Na fase expiratória ocorre o oposto e a pressão aumenta cerca de 1 cm H2O Pressão transpulmonar: é o gradiente de pressão pleural e alveolar. É a resultante mais importante dos efeitos hemodinâmicos durante a ventilação mecânica. o Ela é diretamente proporcional a insuflação pulmonar. FIGURA 19 FONTE: Disponível em: < www.fisiologia.kit.net> Acesso em: 13 maio 2013. Histerese: É um fenômeno físico determinado pela resistência do tecido pulmonar que provoca uma diferença entre a curva de insuflação e desinsuflação pulmonar, ela é determinada pela força elástica pulmonar que pode ser descrita em dois grupos: 1. Força elástica muscular; http://www.fisiologia.kit.net/ AN02FREV001/REV 4.0 32 2. Força elástica causada pela tensão superficial. Princípio da tensão superficial: o Quando se forma uma interface entre H2O e ar as moléculas de H2O situadas na superfície tem uma atração especialmente forte umas pelas outras, como consequência a superfície da água está sempre tentando se contrair. o Os alvéolos possuem água em suas paredes internas, água esta que faz com que o alvéolo colapse, forçando o ar para fora em direção aos bronquíolos e brônquios. o Surfactante: O surfactante é produzido pelos pneumócitos do tipo II e não deixa ocorrer o colapso alveolar. Complacência pulmonar: é uma propriedade mecânica pulmonar em que uma quantidade de pressão gera um determinado volume. Por isso a unidade é (ml/cmH2O). o A complacência pulmonar de um indivíduo sadio adulto é de cerca de 200 ml/cm H2O. FIGURA 20 AN02FREV001/REV 4.0 33 FONTE: Figura extraída medicina perioperatória, cap. 102, pág. 919. Mecânica pulmonar dinâmica Esquemas de fluxo nas vias aéreas: – Fluxo laminar; – Fluxo turbulento. Resistência ao fluxo de ar: – Relação pressão x fluxo nas vias aéreas; – Dissipação de energia com o fluxo aéreo; – Distribuição da resistência pulmonar; – Relação com o volume pulmonar; – Mecanismo de limitação ao fluxo aéreo. FIGURA 21 FONTE: Tipos de fluxo. Arquivo pessoa9l. N° de Reynolds = 2 X Raio X Velocidade X Densidade / Viscosidade Laminar < 2000 Turbulento > 2000 AN02FREV001/REV 4.0 34 Fluxo: Deslocamento de uma determinada quantidade de ar em uma unidade de tempo. Fluxo= Volume/ tempo (l/min) Esquema da resistência do sistema respiratório5 PRINCÍPIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA A ventilação mecânica basicamente é feita pelo uso de pressão positiva nas vias aéreas, ao contrário do que se utilizava no início do seu uso clínico que era a pressão negativa (Módulo I). Dessa forma, pode-se dividir a ventilação da pressão positiva em quatro fases: Resistência do sistema Respiratório Resistência pulmonar Resistência caixa torácica Tecidual Vias aéreas Geometria da árvore traqueobrônquica Volume pulmonar Complacência das vias aéreas Densidade viscosidade Musculatura lisa brônquica AN02FREV001/REV 4.0 35 5.1 O CICLO VENTILATÓRIO O ciclo ventilatório durante a ventilação mecânica com pressão positiva pode ser dividido em: FONTE: Própria do autor. 1) Fase inspiratória: Corresponde à fase do ciclo em que o ventilador realiza a insuflação pulmonar, conforme as propriedades elásticas e resistivas do sistema respiratório. Onde é fornecido fluxo para vencer a resistência do sistema e as propriedades elásticas determinam o volume. 2) Mudança de fase (ciclagem): Transição entre a fase inspiratória e a fase expiratória; 3) Fase expiratória: Momento seguinte ao fechamento da válvula inspiratória e abertura da válvula expiratória, permitindo que a pressão do sistema respiratório equilibre-se com a pressão expiratória final (PEEP) ; e AN02FREV001/REV 4.0 36 4) Mudança da fase expiratória para a fase inspiratória (trigger ou disparo): Fase em que termina a expiração e ocorre o disparo (abertura da válvula inspiratória) do ventilador, iniciando nova fase inspiratória. 5.1.1 Fase Inspiratória O ventilador deverá insuflar os pulmões do paciente, vencendo as propriedades elásticas e resistivas do sistema respiratório fornecendo fluxo e volume ou pressão. A maneira de como tem início a fase inspiratória (trigger) depende do modo de ventilação mecânica escolhido, que será discutido no próximo módulo. 5.1.2 Mudança da Fase Inspiratória para a Fase Expiratória (Ciclagem) Esta fase também é chamada de ciclagem do ventilador, pois o aparelho interrompe a fase inspiratória, e permite o início da fase expiratória. A forma como o aparelho cicla também depende de ajustes específicos que serão abordados mais adiante. 5.1.3 Fase Expiratória Nessa fase, assim como na respiração espontânea, o ventilador permite o esvaziamento dos pulmões. O ventilador pode permitir apenas o esvaziamento parcial dos pulmões mantendo uma pressão positiva residual no final da fase expiratória e aumentando a capacidade residual funcional (CRF). A PEEP é utilizada a fim de se manter os alvéolos abertos mesmo durante a expiração e com isso, aumentar a PaO2 arterial e diminuir a fração inspirada de oxigênio (FiO2). 5.1.4 Mudança da Fase Expiratória para a Fase Inspiratória (Trigger Ou Disparo) O ventilador interrompe a fase expiratória e permite o início da fase inspiratória do novo ciclo. Esta fase de mudança pode ser determinada pelo próprio AN02FREV001/REV 4.0 37 aparelho, de acordo com a frequência respiratória predeterminada ou pelo paciente. Para que o paciente consiga desencadear novo ciclo ele deve conseguir abrir a válvula do ventilador ao fazer uma pressão negativa ou um fluxo inspiratório, como na respiração espontânea. A abertura da válvula que permite a entrada de ar para o paciente depende da pressão negativa ou do fluxo inspiratório que o paciente faz e isso é regulado no aparelho com um recurso denominado sensibilidade. Quanto maior a sensibilidade do ventilador, menor o esforço que o paciente precisa fazer para abrir a válvula inspiratória e iniciar novo ciclo. A sensibilidade é um recurso que só está presente nos modos de ventilação assistidos e deve-se lembrar que ela deve ser ajustada em seu mínimo possível, porém evitando-se que ventilador fique excessivamente sensível e deflagre ciclos inspiratórios com qualquer turbulência no circuito como água no caso de condensação por umidificação e aquecimento ativo. 5.2 MODOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Há quatro modos básicos de ventilação, e estes se baseiam em como se inicia a fase inspiratória: 1. Controlado; 2. Assistido; 3. Assisto-controlado; 4. Mandatório intermitente. 5.2.1 Ventilação Controlada Nesse modo de ventilação não há participação do paciente, o aparelho determina todas as fases da ventilação. O início da inspiração é determinado de acordo com um critério de tempo, ou seja, de acordo com a frequência respiratória regulada. O volume corrente é determinado de acordo com o tipo de ciclagem AN02FREV001/REV 4.0 38 escolhida. Esse modo permite o cálculo de mecânica pulmonar quando a ventilação for a volume com onda de fluxo quadrada. Estes valores são importantes principalmente na avaliação de pacientes com doença pulmonar, tanto na determinação dos parâmetros ventilatórios quanto no acompanhamento da evolução destes pacientes durante a internação na unidade de terapia intensiva e durante o processo de desmame do ventilador, todas estas fases serão abordadas nos módulos seguintes. 5.2.2 Ventilação Assistida Neste modo de ventilação, o aparelho determina o início da inspiração por um critério de pressão ou fluxo, mas o ciclo só é iniciado com o esforço do paciente. Nas duas situações, o disparo é feito pelo esforço inspiratório do paciente que aciona o aparelho de acordo com a sensibilidade predeterminada. Se o critério é de pressão, o aparelho detecta uma queda na pressão dentro do circuito e se o critério é de fluxo, o aparelho detecta uma pequena movimentação de ar em direção ao paciente dentro do circuito, permitindo o início de novo ciclo. Na ventilação totalmente assistida, a frequência respiratória, é determinada pelo drive respiratório do paciente. O volume corrente é determinado de acordo com a ciclagem escolhida e pelas variáveis de mecânica pulmonar. 5.2.3 Ventilação Assisto-Controlada O modo assisto-controlado permite um mecanismo duplo de disparo, pois o ciclo controlado entra sempre que o paciente não disparar o ciclo assistido. Assim, há um mecanismo deflagrado a tempo que é o do aparelho e um mecanismo deflagrado a pressão que depende do esforço inspiratório do paciente. Assim, neste modo de ventilação preconiza-se utilizar frequências respiratórias ligeiramente abaixo da frequência espontânea do paciente para que os ciclos controlados sejam a exceção. AN02FREV001/REV 4.0 39 5.2.4 Ventilação Mandatória Intermitente Nesse tipo de ventilação há uma combinação de ventilação controlada e/ou assistida intercalada com ventilações espontâneas do paciente dentro do próprio circuito do aparelho, por meio de válvulas de demanda. Os ciclos controlados ou assistidos garantem certo volume corrente para o paciente e o intervalo de tempo entre um ciclo e outro é constante independente do paciente estar inspirando ou expirando. Esse modo de ventilação é denominado ventilação mandatória intermitente (IMV). Os ciclos volumétricos também podem ser sincronizados e desencadeados por um mecanismo misto de pressão/tempo em que o aparelho não entra durante um período em que o paciente esteja expirando. Ele é sincronizado e recebe o nome de ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV). A respiração espontânea do paciente é feita dentro do circuito do aparelho e pode ser auxiliada por alguns recursos como CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) e pressão de suporte. O CPAP mantém uma pressão positiva durante todo o ciclo respiratório espontâneo do paciente. A pressão de suporte é um auxílio pressórico na fase inspiratória do ciclo com objetivo de reduzir o trabalho respiratório. A pressão de suporte é ciclada a fluxo, ou seja, quando o fluxo inspiratório reduz 25% do fluxo máximo alcançado durante a fase inspiratória ou 6L/min ou ainda 10L/min de acordo com cada aparelho.5.3 CICLAGEM DO VENTILADOR A ciclagem do ventilador determina a mudança da fase inspiratória para a expiratória. Ela pode ocorrer de acordo com tempo, volume, pressão ou fluxo. 5.3.1 Ciclagem a Tempo A transição inspiração/expiração ocorre de acordo com um tempo inspiratório predeterminado, não importando as características elástico-resistivas do sistema respiratório do paciente. AN02FREV001/REV 4.0 40 Normalmente, os aparelhos ciclados a tempo são limitados à pressão, ou seja, existe uma válvula de escape impedindo altos níveis de pressão inspiratória. Os ventiladores infantis e aqueles com ventilação com pressão controlada possuem este tipo de ciclagem. Deve-se ressaltar que este tipo de ciclagem não garante o volume corrente, sendo este uma resultante da pressão de escape aplicada, da complacência e do tempo inspiratório programado. 5.3.2 Ciclagem a Volume Nesse modo de ciclagem o final da fase inspiratória é determinado pelo valor de volume corrente ajustado. Há um sensor no aparelho que detecta a passagem do volume determinado e desliga o fluxo inspiratório. A pressão inspiratória não pode ser controlada e depende da resistência e da complacência do sistema respiratório do paciente, de modo que este tipo de ventilação pode provocar barotrauma. 5.3.3 Ciclagem a Pressão A fase inspiratória é determinada pela pressão alcançada nas vias aéreas. Quando o valor predeterminado é alcançado interrompe-se o fluxo inspiratório, independente do tempo inspiratório ou do volume. Dessa forma, este tipo de ventilação não garante um volume corrente adequado e pode ser ineficaz caso haja grandes vazamentos de ar como nos casos de fístulas bronco-pleurais. Os ventiladores ciclados a pressão são representados pela série Bird-Mark 7, 8 e 14, possuindo como vantagens o fato de não dependerem da eletricidade e serem pequenos e leves facilitando seu uso nos transportes de pacientes. 5.3.4 Ciclagem a Fluxo AN02FREV001/REV 4.0 41 Nesse tipo de ciclagem, o tempo inspiratório é interrompido quando o fluxo inspiratório cai abaixo de um valor pré-ajustado como foi descrito na ventilação com pressão de suporte. Neste tipo de ciclagem, o paciente exerce total controle sobre o tempo e fluxo inspiratórios e sobre o volume corrente. 5.4 OUTROS MODOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Há outros modos mais avançados de ventilação mecânica que serão abordadas nos outros módulos: 1. Ventilação de alta frequência oscilatória (VAFO); 2. PRVC- Pressão controlada com volume garantido; 3. Ventilação com suporte adaptativo; 4. NAVA- Ventilação com suporte neurologicamente ajustado; 5. Ventilação proporcional assistida; 6. Ventilação com óxido nítrico; 7. Ventilação mecânica não invasiva; 8-. Ventilação Prona; 9. Ventilação independente. AN02FREV001/REV 4.0 42 FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 47 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 48 CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 49 MÓDULO III 6 MODOS ALTERNATIVOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA Os modos alternativos de VM surgiram para prevenir a lesão pulmonar e assincronia, promover melhor oxigenação, facilitar o desmame e serem fáceis de utilizar. Porém evidências sobre esses modos ventilatórios são escassos. Independente do modo ventilatório selecionado, os objetivos principais são: evitar lesão pulmonar, manter o paciente confortável e desmamar o mais breve possível. Esses modos serão chamados de modos alternativos para diferenciá-los dos modos, volume controlado e pressão controlada. Esses modos, muitas vezes, são pouco utilizados principalmente pela confusão existente quanto à nomenclatura adotada por alguns equipamentos, dificultando para quem manuseia estes equipamentos o perfeito entendimento de que modalidade se trata e o que ela é realmente capaz de fazer. Por isso, este módulo tem dois grandes objetivos: 1- Explicar o que estes modos fazem e quais os seus objetivos; 2- Revisar de modo breve os seus benefícios e mostrar a atual evidência a cerca de cada modo alternativo citado. 6.1 NOMENCLATURA Desde a sua invenção a VM tem sido chamada por diversos nomes que acabam descrevendo a mesma coisa. Por exemplo, volume controlado é também chamado de ventilação ciclada a volume, ventilação assisto-controlada, ventilação com volume limitado e ventilação controlada a volume. Similarmente, inúmeras abreviações são utilizadas. Esta miscelânea de nomes e abreviações pode confundir o especialista que manuseia estes aparelhos e há um esforço para que haja uma nomenclatura comum. AN02FREV001/REV 4.0 50 QUAL É O MODO? A ventilação mecânica tem três componentes essenciais: 1- A variável controlada; 2- Sequências respiratórias; 3- Esquemas de alvo. 6.1.1 Variável Controlada Em geral a inspiração é um processo ativo decorrente do esforço do paciente, do ventilador ou de ambos, enquanto a expiração é um processo passivo. A máquina pode controlar o volume, fluxo ou pressão ofertada. As respirações podem ser descritas pela variável de disparo (trigger), pela variável que a limita (valor máximo da variável controlada) e pelo que termina o ciclo. Por exemplo, na ventilação volume controlado a respiração é disparada pelo paciente ou pela máquina, limitada pelo fluxo e ciclada pelo volume, e a ventilação com pressa controlada é disparada pelo paciente ou pela máquina, limitada pela pressão e ciclada por tempo ou fluxo. 6.1.2 Sequências Respiratórias Há três possibilidades de sequências respiratórias: 1- Ventilação mandatória contínua, na qual todas as respirações são controladas pela máquina, mas podem ser disparadas pelo paciente. 2- Ventilação mandatória intermitente, na qual o paciente pode respirar espontaneamente entre as respirações mandatórias. 3- Respiração espontânea, na qual todas as respirações são controladas pelo paciente. AN02FREV001/REV 4.0 51 6.1.3 Esquemas de Alvo O esquema de alvo ou feedback se refere a ajustes e programações do ventilador que respondem a variáveis de mecânica pulmonar como a complacência pulmonar do paciente, resistência e esforço respiratório. O ajuste pode ser simples como ajustar a pressão no modo pressão controlada, ou pode ser baseado em um algoritmo complexo. São tipos de esquema de alvo: 1- Set point - O ventilador entrega e mantém o valor estabelecido como alvo e este valor é constante (ex. na pressão controlada o set point é pressão e essa será constante durante o ciclo respiratório) em algum grau todos os modos apresentam algum esquema de set point. 2- Servo - O ventilador se ajusta a uma variável dada pelo paciente (ex. na ventilação proporcional assistida o fluxo inspiratório segue e é amplificado pelo esforço do paciente). 3- Adaptativo – o ventilador ajusta o set point para manter a diferença do set point ajustado pelo operador (ex. na ventilação com pressão regulada com volume controlado, a pressão inspiratória é ajustada a cada respiração para atingir o volume corrente alvo). 4- Otimizado- o ventilador se utiliza de um modelo matemáticopara calcular os set points para atingir o alvo (ex. na ventilação com suporte adaptativo, a pressão, a frequência respiratória e o volume corrente são ajustados para atingir o volume minuto alvo). 7 PRESSÃO CONTROLADA ADAPTATIVA AN02FREV001/REV 4.0 52 Um dos problemas em relação à ventilação com pressão controlada é não garantir um volume minuto mínimo frente às alterações de mecânica e esforço ventilatório do paciente ou ambos. Outros nomes desta modalidade são: Pressão regulada com volume controlado (PRVC), autoflow, ventilação com pressão adaptativa, volume controlado +, volume alvo com pressão controlada e pressão controlada com volume garantido. a. FUNCIONAMENTO DO MODO PRESSÃO ADAPTATIVA (PA) Esse modo “entrega” respirações mandatórias com um esquema de volume corrente alvo. Na pressão controlada pura o volume corrente é resultante da mecânica pulmonar (complacência e resistência) e do esforço do paciente. Para evitar grandes variações do volume corrente, o ventilador quando no modo pressão adaptativa ajusta a pressão inspiratória de modo que o volume alvo preestabelecido seja alcançado. Se o volume corrente for maior do que o alvo o aparelho reduz a pressão inspiratória e vice-versa. A pressão adaptativa não é um modo de volume controlado porque no modo VC o volume nunca se altera e na PA o volume pode aumentar ou diminuir o ventilador controla a pressão inspiratória para que o volume corrente fique próximo do volume alvo, por isso este modo garante uma média mínima de volume corrente, mas não o máximo. O segundo ponto é que na pressão controlada é que o fluxo de gás varia para manter constante a pressão de vias aéreas. Essa característica permite que o paciente ao gerar um esforço inspiratório receba um fluxo de demanda por ser mais confortável, enquanto no modo volume controlado o fluxo é fixo, o que em caso de um aumento de esforço inspiratório pode gerar uma assincronia de fluxo. b. PARÂMETROS AJUSTADOS NA PA 1-Volume corrente; 2-Tempo inspiratório; AN02FREV001/REV 4.0 53 3-Frequência respiratória; 4-Fração inspirada de oxigênio; 5-PEEP; 6-Em alguns ventiladores inspiratory rise time (que é o tempo para que atinja a pressão inspiratória). c. APLICAÇÕES CLÍNICAS DA PA Este modo foi idealizado para manter o volume corrente mais constante durante o modo pressão controlada e também promover um fluxo sincrônico, isso significa reduzir automaticamente o suporte ventilatório (desmame), especialmente quando o esforço inspiratório se torna mais evidente como quando um paciente acorda de uma anestesia. A PA pode não ser adequada à pacientes com aumento do drive respiratório como em casos de acidose metabólica grave, pois a pressão inspiratória irá reduzir para manter o volume corrente alvo e não irá reduzir o desconforto respiratório do paciente. 7.3.1 Benefícios Evidentes da Pa Este modo permite picos inspiratórios baixos do que na ventilação com volume controlado. O pico inspiratório é a manifestação da resistência e da complacência, mas não traduz fidedignamente a pressão de distensão pulmonar. A pressão de platô é a variável que representa a complacência e a responsável pela injúria pulmonar. A PA pode aumentar o trabalho respiratório quando utilizados volumes correntes baixos ou em situações de aumento do drive respiratório. É um modo fácil de usar, mas deve ser bem indicado e deve-se ter atenção triplicada aos limites de alarme. AN02FREV001/REV 4.0 54 8 VENTILAÇÃO COM SUPORTE ADAPTATIVO (ASV) O modo ASV é uma forma de ventilação minuto mandatória implementada com uma pressão adaptativa. O operador determina um volume minuto alvo e o ventilador suplementa com respirações mandatórias, volume ou pressão controlada quando a respiração espontânea do paciente gera um volume minuto abaixo do determinado. O ASV seleciona automaticamente volume corrente apropriado, frequência para as respirações mandatórias e volume corrente apropriado para as respirações espontâneas com base na mecânica do sistema respiratório e na ventilação minuto alveolar alvo. a. FUNCIONAMENTO DO MODO ASV O ASV fornece respirações controladas a pressão, utilizando um esquema de otimização adaptativa. Otimização significa minimizar o trabalho mecânico da respiração: a máquina seleciona o volume corrente e frequência respiratória que supostamente o cérebro do paciente assumiria se o paciente não estivesse conectado ao ventilador, isso é feito para estimular o paciente a respirar espontaneamente. O ventilador calcula o volume minuto normal requerido baseado no peso ideal do paciente e o volume estimado do espaço morto. Este cálculo representa 100% da ventilação minuto. O especialista deve determinar a porcentagem do volume minuto que o ventilador deverá auxiliar maior de 100%, se o paciente tiver com aumento da demanda ventilatória como em casos de sepse, ou menor de 100% em situações de desmame da VM. Inicialmente o ventilador fornece respirações teste para mensuração da constante de tempo expiratória para calcular o espaço morto estimado e a ventilação minuto normal e a frequência respiratória ideal ao trabalho mecânico. AN02FREV001/REV 4.0 55 O volume corrente alvo é calculado a partir do volume minuto normal dividido pela frequência. O volume corrente alvo é atingido por um mecanismo de PA, o que significa que a pressão é limitada automaticamente e ajustada para atingir uma média do volume alvo. O ventilador monitora continuamente a mecânica do sistema respiratório e ajusta os parâmetros de acordo. O ventilador ajusta a frequência para evitar aprisionamento de ar devido ao encurtamento do tempo expiratório, evita a hipoventilação por meio de um volume corrente maior do que o espaço morto e evita volutrauma evitando volumes exagerados. b. PARÂMETROS DO ASV 1-Peso do paciente; 2-Sexo; 3-Porcentagem do volume minuto; 4-FiO2; 5-PEEP. c. APLICAÇÕES CLÍNICAS E EVIDÊNCIAS O ASV foi idealizado para ser um modo único do início ao desmame. Na teoria o ASV oferece seleção automática dos parâmetros, adaptação às mudanças de mecânica respiratória com o mínimo de manipulação humana da máquina melhorando a assincronia e o desmame automático. Um estudo que comparou ASV com PC mandatória intermitente mostrou que o ASV reduz trabalho inspiratório e melhora a interação, paciente-ventilador. Outros dois estudos sugerem que o ASV reduza o tempo de VM, porém ainda precisam de evidências quanto ao conforto, sincronia e mortalidade. AN02FREV001/REV 4.0 56 9 VENTILAÇÃO PROPORCIONAL ASSISTIDA (PAV) Pacientes com drive respiratório íntegro, porém com dificuldades de sustentar adequada ventilação espontânea são eleitos para ventilação com pressão de suporte (PSV), na qual o ventilador gera uma pressão constante independente do esforço do paciente. Em 1992, Younes e colaboradores desenvolveram a ventilação proporcional assistida (PAV) na qual o ventilador gera uma pressão em proporção ao esforço do paciente e pode ser utilizada como modalidade de ventilação não invasiva (VNI). a. FUNCIONAMENTO DA PAV Este modo fornece respirações controladas em um sistema servo controlado. Para entender melhor este modo nós podemos comparar com PSV. Na PSV o ventilador fornece uma pressão constante preestabelecida (sistema de set point) até o critério de ciclagem seja atingido como, por exemplo, a porcentagem do pico de fluxo inspiratório. Tanto o fluxo inspiratório quanto o volume corrente são resultantes de esforço inspiratório do paciente, do nível de pressão preestabelecido e das propriedades mecânicas do sistema respiratório. Em contrapartida na PAV a pressão aplicada é função do esforço do paciente, quanto maior for o esforço, maior seráa pressão inspiratória aplicada. O operador determina a porcentagem de suporte a ser oferecido pela máquina. O ventilador mensura de forma intermitente a complacência e a resistência do sistema respiratório do paciente e instantaneamente gera fluxo e volume baseados nestas variáveis mecânicas e em proporção ao esforço. Assim como PSV na PAV as respirações são espontâneas, o paciente controla a velocidade e o tempo da duração do ciclo respiratório. Não existe volume, pressão ou fluxo alvo, apenas limites de pressão e volume que podem ser fornecidos. AN02FREV001/REV 4.0 57 9.2 APLICAÇÕES CLÍNICAS DA PAV O PAV está indicado para maximizar a sincronia entre o paciente e o ventilador na assistência de ventilações espontâneas. O PAV está contraindicado em pacientes com de pressão respiratória (bradipneia) ou situações em que haja perda de volume pulmonar como fístulas broncopleural. Deve ser utilizado com cautela em pacientes com hiperinsuflação grave, pois o fluxo expiratório limitado destes pacientes pode não ser reconhecido pelo ventilador. Outro grupo que deve se ter cuidado ao utilizar o PAV são os pacientes com drive aumentado, nos quais o ventilador pode superestimar a mecânica respiratória e neste caso ocorrer uma “superassistência” também chamada de fenômeno “runaway” no qual o ventilador continua fornecendo suporte mesmo ao término da fase inspiratória. 9.3 BENEFÍCIOS DA PAV Na teoria a PAV reduz o trabalho respiratório, melhora sincronia, adapta-se automaticamente as mudanças de mecânica respiratória, reduzindo manipulações no ventilador e reduz a necessidade de sedação. 9.3.1 Evidências Científicas PAV reduz o trabalho respiratório quando comparado ao PSV em face às mudanças de mecânica respiratória e aumento de demanda com hipercapnia. Em comparação ao PSV é mais confortável e reduz assincronia. AN02FREV001/REV 4.0 58 10 VENTILAÇÃO COM LIBERAÇÃO DE PRESSÃO NAS VIAS AÉREAS (APRV) APRV foi descrito em 1987 por Stock e colaboradores como um modo ventilatório para lesão pulmonar aguda, evitando altas pressões nas vias aéreas. APRV combina uma pressão positiva alta vias aéreas (melhorando oxigenação e promovendo recrutamento alveolar) com liberação de alta pressão intermitente ( promovendo maior exalação). Em 1989, Baun e colaboradores descreveram a ventilação com pressão positiva bifásica como um modo de ventilação espontânea que pode ser desencadeada em qualquer ponto do ciclo respiratório – inspiração ou expiração. O objetivo é não restringir a ventilação espontânea para se reduzir a sedação e acelerar o desmame. Conceitualmente estes modos são iguais com tempo de liberação de pressão diferentes (< 1,5 segundos APRV). Esses modos fornecem pressão controlada ciclada e trigada a tempo utilizando um esquema de set point. Isso significa que o ventilador mantém a pressão constante mesmo em respirações espontâneas. No APRV a pressão alta é constantemente aliviada e reaplicada gerando um volume corrente que auxilia a ventilação. Em outras palavras essa é uma respiração controlada com um tempo inspiratório bastante prolongado com um tempo expiratório curto em que as respirações espontâneas podem acontecer em qualquer ponto. Como estes modos são ajustados pode gerar confusão. Para descrever o tempo gasto na pressão alta é utilizado o termo T alto e T baixo para a pressão baixa. Como convenção a diferença entre APRV e ventilação bifásica é a duração do T baixo (< 1,5 segundos no APRV). Similarmente os termos Palta e Pbaixa são utilizados para descrever as pressões altas e baixas. Para melhor entender podemos comparar com o modo pressão controlada convencional pensando no T alto como o tempo inspiratório e Tbaixo como tempo expiratório, a Palta como pressão inspiratória e Pbaixa como PEEP. AN02FREV001/REV 4.0 59 10.1 PARÂMETROS APRV E VENTILAÇÃO BIFÁSICA Nestes modos é necessário ajustar dois níveis de pressão (Palta e Pbaixa) e dois tempos de duração (Talto e T baixo). Pode ser adicionada pressão de suporte para assistir as respirações espontâneas. A diferença está na duração do tempo baixo da APRV que é curto promovendo uma relação I:E de 4:1, enquanto a ventilação bifásica tem uma relação I:E convencional de 1:1 até 1:4. 10.2 APLICAÇÕES CLÍNICAS O APRV é utilizado na lesão pulmonar aguda e na ARDS. Este modo deve ser utilizado com cuidado ou não deve ser utilizado em pacientes com doenças obstrutivas ou aumento exagerado do drive respiratório. O modo bifásico foi idealizado tanto para ventilação como para o desmame. Para pacientes muito sedados ou com drive muito reduzido este modo funciona de forma idêntica a pressão controlada mandatória contínua. 10.3 BENEFÍCIOS APRV E MODO BIFÁSICO Múltiplos benefícios têm sido atribuídos a estes modos ventilatórios. O APRV maximiza e mantém o recrutamento alveolar, melhora a oxigenação com pressões de insuflação mais baixas e reduz a hiperdistensão dos alvéolos. Ambos os modos (APRV e ventilação bifásica) preservam a respiração espontânea, melhora a relação V/Q, trocas gasosas e tem menor repercussão hemodinâmica (menor necessidade de drogas vasoativas, maior débito cardíaco, reduz trabalho ventricular e melhora perfusão dos órgãos) e melhor sincronia (reduz trabalho respiratório e reduz a necessidade de sedação). AN02FREV001/REV 4.0 60 11 VENTILAÇÃO DE ALTA FREQUÊNCIA OSCILATÓRIA (VAFO) A VAFO foi descrita e patenteada em 1952 por Emerson e foi desenvolvida e aplicada clinicamente no início da década de 70 por Lunkenheimer. O objetivo é minimizar lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica, às características desse modo fazem dele um modo indicado em ARDS grave. A VAFO é considerada um modo não convencional de VM e é definida como uma ventilação com pressão positiva com uma frequência respiratória maior do que 150 rpm e volumes correntes baixos equivalente ao espaço morto anatômico. A grande vantagem desta técnica em relação à VM convencional é entregar um volume minuto adequado com uma menor pressão na via aérea e é normalmente utilizada quando há falha da VM convencional. 11.1 O QUE A VAFO FAZ? A VAFO é um modo de pressão controlada mandatória intermitente com set point de controle. Esse modo só pode ser feito com um equipamento específico. Esse ventilador fornece um fluxo constante (bias flow), enquanto a válvula cria uma resistência para manter uma pressão média constante alta enquanto um pistão oscila em frequências de 3 a 15 hertz (Hz) que equivale a 160 a 900 respirações por minuto. Para manejar a ventilação e “lavar CO2” podem ser realizadas diversas manobras como: reduzir a frequência de oscilação, aumentar a amplitude das oscilações, aumentar o tempo inspiratório ou aumentar o bias flow, sempre manter o cuff desinsuflado da cânula endotraqueal do paciente. A oxigenação pode ser melhorada pelo aumento da pressão média (MAP) ou da FiO2. AN02FREV001/REV 4.0 61 FIGURA 22 FONTE: Difusão helicoidal durante a VAFO. Dean Hess 2002. 11.2 TEORIA DO TRANSPORTE DE GASES A VAFO é produzida por pistões ou diafragmas (como uma caixa de som) que produz frequências de 400 a 2400 rpm. Durante a VAFO a inspiração e a expiração são ativas. Um fluxo de gás fresco (bias flow) provê gás para ser inspirado e para “lavar” o CO2 do sistema. Um pequeno volume corrente é gerado em proporção a amplitude de oscilação com uma pressão média constante na via aérea. Várias teorias são propostas para explicar o transporte de gás na VAFO 1- Formação de um fluxo em forma de espícula: Uma onda com alta energia de impulso é formada no centro da via aérea que promove uma mistura maior na região distal dos pulmões. Esta espícula é menos efetivaem vias aéreas mais complacentes como de bebês prematuros. 2- Difusão helicoidal: É uma variante do fluxo espicular que gera um fluxo coaxial (na periferia da via aérea) em forma de espiral que auxilia na remoção de gás carbônico. 3- Dispersão de Taylor: a superfície de contato entre dois gases, que pode ser mais plana e convexa em baixas velocidades, passa a apresentar um AN02FREV001/REV 4.0 62 formato de espícula conforme aumenta esta velocidade, com um deslocamento linear maior da área mais central da coluna de gás, permitindo um transporte mais efetivo que pela difusão apenas. Ao mesmo tempo, em locais de bifurcações da árvore brônquica, movimentos de turbilhonamento irão ocasionar um aumento da mistura desses gases, facilitando a difusão destes. 4- Ventilação Pendelluft: É o resultado da mistura de gases de duas regiões do pulmão com constantes de tempo diferentes. Este mecanismo é também chamado como ventilação fora de fase. Quando unidades pulmonares em paralelo têm diferentes constantes de tempo e resistência. Assim, enquanto algumas regiões estão insuflando-se, outras já poderão estar exalando o ar trocado, podendo este ar dirigir-se às áreas ainda em fase de insuflação. Este movimento de ar entre unidades alveolares vizinhas é chamado de pendelluft. 5- Difusão molecular: é o mecanismo responsável pela troca gasosa em nível da membrana alvéolo capilar e especula-se que durante a VAFO se esse mecanismo pode estar alterado com a alteração da velocidade das moléculas dos gases. FIGURA 23 FONTE: Dispersão de Taylor- Turbilhonamento de ar na dicotomização da árvore brônquica. Dean Hess 2002. AN02FREV001/REV 4.0 63 FIGURA 24 FONTE: Mecanismo Pendelluft. Dean Hess, 2002. 11.3 PARÂMETROS DA VAFO Amplitude de oscilação (delta p ou Power); MAP; Porcentagem da inspiração; Bias flow; FiO2. São três os parâmetros a serem considerados na ventilação oscilatória de alta frequência: frequência, amplitude e pressão média de vias aéreas. - Frequência: como já sugere o nome, as altas frequências utilizadas são quantificadas em hertz (Hz). Cada Hz corresponde a 60 ciclos/minuto. Como em frequências elevadas a constante de tempo passa a ser limitante para as trocas gasosas, podendo dificultar o equilíbrio entre pressões (ou volumes) proximais e distais, quanto maior a frequência utilizada, menor a possibilidade de se respeitar as constantes de tempo e, consequentemente, menor o volume corrente gerado. Como a "lavagem" de CO2 (DCO2) está ligada ao volume minuto alveolar, quanto menor o volume corrente gerado, menor a retirada de CO2 (Obs.: na VAFO, a importância do volume corrente é amplificada em relação à ventilação convencional, sendo a DCO2= Vt2 x FR). Portanto, quanto mais elevadas forem as frequências utilizadas, menores os volumes correntes e maior a PCO2. AN02FREV001/REV 4.0 64 - Amplitude: a amplitude da oscilação se refere ao grau de movimentação que a membrana exalatória irá realizar, sendo diretamente proporcional à porcentagem de amplitude prevista. Quanto maior a oscilação gerada, maior o movimento de gás e maior o Vt, aumentando a eliminação de CO2. Isoladamente, é menos eficaz que a diminuição dos Hz como determinante de aumento de Vt. - Pressão média de vias aéreas: como na ventilação convencional, relaciona-se diretamente com o grau de recrutamento alveolar e com a oxigenação. Conforme se varia a amplitude de oscilação (vide acima), alteram-se as pressões proximais ins/expiratórias, mas a pressão média se mantém constante. Isso se deve às características da VAFO, em que a pressão proximal gerada é atenuada ao longo das vias aéreas. FIGURA 25 FONTE: Equipamento de VAFO- Sensormedics 3100A. Arquivo pessoal. AN02FREV001/REV 4.0 65 11.4 APLICAÇÕES CLÍNICAS DA VAFO Este modo é normalmente utilizado para pacientes com ARDS que falham na ventilação convencional. Sugere-se utilizar a VAFO quando há falha da oxigenação (fiO2> ou = 0,7, e PEEP > ou = 14 cmH2O) ou da ventilação ( pH< 7,25 com VC > 6ml/Kg ou PPlatô > 30 cmH2O). Está contraindicado quando há obstrução grave ou hipertensão intracraniana. A VAFO pode fornecer uma pressão média de via aérea maior com volumes correntes baixíssimos e menores do que em qualquer outro modo. Estas características fazem deste modo ventilatório a estratégia protetora ideal. A VAFO deve ser considerada nas seguintes situações: 1- RN pré-termo com membrana hialina grave com necessidade de pressão inspiratória maior do que 30 cmH2O; 2- Lactentes com síndrome de aspiração de mecônio e hipertensão pulmonar persistente sem resposta a suporte ventilatório máximo e pressão inspiratória máxima maior de 35 cmH2O; 3- Casos em que há síndrome de escape de ar incluindo enfisema intersticial e pulmonar, pneumotórax e pneumopericárdio; 4- Crianças com hérnia diafragmática congênita ou hipoplasia pulmonar que tenha falhado na VM convencional; 5- Crianças com doença parenquimatosa pulmonar grave como pneumonia streptocóccica que necessite de altos níveis de suporte ventilatório; 6- Qualquer estado em que a ventilação mecânica convencional tenha falhado pode se tentar a VAFO como recurso de resgate. 12 VENTILAÇÂO NÃO INVASIVA (VNI) É a Ventilação assistida realizada por meio de máscara ou prong nasal não necessitando de uma prótese invasiva para ventilação como traqueostomia ou tubo orotraqueal. Com certeza foi um dos maiores avanços da ventilação mecânica nas últimas duas décadas. As principais indicações são: AN02FREV001/REV 4.0 66 Pós-extubação difícil; Edema agudo pulmonar; Doença pulmonar obstrutiva crônica agudizada; Asma; Apneia obstrutiva do sono; Fadiga muscular respiratória; Doenças neuromusculares; Disfunção diafragmática; Pacientes pediátricos; Traqueostomia (não é necessário ter uma traqueostomia, mas pode ser feita); Colapsos pulmonares (atelectasias). São contraindicações: Insuficiência respiratória hipoxêmica; Sonolência; Não aceitação/adaptação do paciente; Rebaixamento do nível de consciência; Dificuldade de manter permeabilidade de vias aéreas/ tosse ineficaz; Náuseas/vômitos; Sangramento digestivo alto; Pós-operatório recente de cirurgia de face, via aérea superior ou esôfago; Sinusites/otites agudas; Sangramento nasal (epistaxe); Instabilidade hemodinâmica com necessidade de droga vasotensora, choque, arritmias complexas, infarto agudo do miocárdio; Pneumotórax não drenado (única contraindicação absoluta); Uso controverso em pós-operatório de cirurgia gástrica e gravidez. AN02FREV001/REV 4.0 67 A ventilação com dois níveis pressóricos pode ser realizada por ventiladores microprocessados que também são utilizados para ventilar invasivamente e, portanto, são utilizados apenas em UTI por dependerem da rede de gás (ar comprimido e Oxigênio) para funcionarem e pode ser realizada por equipamentos próprios para VNI, como o BIPAP, que funcionam apenas com rede elétrica. FIGURA 26 FONTE: Ventilador microprocessado que pode ser utilizado como VNI ou como ventilação invasiva. (arquivo pessoal). AN02FREV001/REV 4.0 68 FIGURA 27 FONTE: Equipamento compacto para uso exclusivo de VNI que só depende da rede elétrica para o funcionamento. (arquivo pessoal). A ventilação não invasiva é assim chamada por utilizar como interface uma máscara e não uma prótese ventilatória como tubo orotraqueal ou traqueostomia. Há diversos tipos de interfaces para VNI, a escolha por uma delas depende da tolerância do paciente e do grau de pressão que precisa ser atingido para melhora do quadro clínico. A máscara nasal é bem tolerada por lactentes,assim como os prongs nasais, pois, até os seis meses de idade apresentam uma respiração predominante nasal e por adultos que utilizam VNI rotineiramente por apneia do sono ou processo de desmame. A máscara oronasal é mais bem indicada para insuficiência respiratória de média intensidade, em adultos, que acabam por assumir uma respiração mais oral e por permitir maiores níveis de pressão. Existe ainda a máscara facial total ou total face, que está indicada para adultos com necessidade de um uso mais contínuo, com intervalos curtos quando muito necessário. O uso prolongado da máscara de VNI, sem os cuidados necessários e quando muito apertada contra a face do paciente, pode provocar lesões na pele (escaras). AN02FREV001/REV 4.0 69 FIGURA 28 FONTE: Lactente com máscara nasal e prong. Arquivo pessoal. FIGURA 29 FONTE: Máscara total face. Vista anterior e lateral. Arquivo pessoal. AN02FREV001/REV 4.0 70 FIGURA 30 FONTE: BIPAP com máscara oronasal. Arquivo pessoal. FIGURA 31 FONTE: Lactente com escara pós VNI. Arquivo pessoal. AN02FREV001/REV 4.0 71 a. VENTILAÇÃO MECÂNICA APLICADA 12.1 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) O termo DPOC se refere a um grupo de doenças caracterizadas por limitação progressiva ao fluxo expiratório que é parcialmente reversível com broncodilatadores ou terapia anti-inflamatória. Fazem parte deste grupo o enfisema pulmonar e a bronquite crônica. 1- Enfisema pulmonar- É uma doença em que há lesão do parênquima pulmonar caracterizada histopatologicamente por destruição da parede alveolar sem fibrose e com redução do recolhimento elástico. Os espaços aéreos distais ficam progressivamente e permanentemente alargados e quando atingem por volta de 1 cm passam a comprimir o tecido adjacente prejudicando a função pulmonar. O paciente enfisematoso apresenta uma limitação irreversível ao fluxo aéreo. Ocorre a redução do recolhimento elástico com consequente aumento da resistência expiratória decorrente da compressão dinâmica das vias aéreas resultando em aprisionamento de ar e hiperinsuflação. A hiperinsuflação pode ser facilmente identificada por radiografia de tórax e tomografia computadorizada. Anormalidades estruturais da barreira alveolocapilar provocam alterações nas trocas gasosas como hipoxemia e hipercapnia. 2- Bronquite Crônica - É definida como tosse e secreção pulmonar por três ou mais meses por dois anos consecutivos em pacientes sem outra causa conhecida para ter tosse. Essa definição não é ideal, uma vez que fala de presença de secreção em vias proximais, porém a região acometida pelo aumento da resistência na DPOC é periférica, nas pequenas vias aéreas em que a inflamação resulta em fibrose e distorção destas vias aéreas. Pacientes com bronquite crônica e limitação ao fluxo expiratório são considerados como DPOC, já os pacientes com tosse crônica sem limitação de fluxo expiratório apresentam um melhor prognóstico. A bronquite crônica ao contrário do enfisema não apresenta destruição do parênquima pulmonar, as alterações fisiopatológicas estão restritas as vias aéreas como hiperplasia das glândulas AN02FREV001/REV 4.0 72 mucosas, discinesia ciliar, desnudamento do tecido ciliado, dilatação das vias aéreas periféricas, aumento da produção de muco e presença de células inflamatórias. FIGURA 32 - ENFISEMA PULMONAR FONTE: Disponível em: < http://saudeecorpo.com/enfisema-pulmonar.html> Acesso em: 13 maio 2013. 12.1.1 Exacerbação Aguda da DPOC http://saudeecorpo.com/enfisema-pulmonar.html AN02FREV001/REV 4.0 73 Exacerbação aguda é definida como uma piora súbita dos sintomas respiratórios acompanhada por deterioração da função pulmonar. Frequentemente os pacientes apresentam dispneia, tosse e alteração na quantidade e na reologia do muco. Cada exacerbação apresenta um potencial para evoluir com uma maior gravidade e com necessidade de hospitalização para prevenir e tratar uma falência respiratória com uma eventual necessidade de suporte ventilatório mecânico. Múltiplas condições clínicas podem precipitar uma exacerbação aguda: Infecção brônquica (normalmente viral); Pneumonia; Embolia pulmonar; Infarto agudo, arritmias, insuficiência cardíaca congestiva; Pneumotórax; Broncoaspiração; Fadiga muscular e fraqueza muscular no estágio final da DPOC; Fraturas vertebrais e de costelas; Pós-cirurgia de tórax e abdômen; Acidose metabólica e distúrbio hidroeletrolítico; Derrame pleural; Sedação e betabloqueadores; Irritantes respiratórios do meio ambiente (poluição); Oxigenoterapia inapropriada; Disfunção de órgãos (não pulmonar e nem cardíaca). Na vigência de uma exacerbação aguda o paciente deve ser encorajado a manter uma boa ingesta de líquido para evitar uma desidratação e se a tosse for insuficiente para remover secreções, a fisioterapia respiratória deve ser iniciada precocemente até mesmo antes de uma hospitalização. AN02FREV001/REV 4.0 74 12.2 CRITÉRIOS PARA HOSPITALIZAÇÃO DO PACIENTE DPOC O paciente deve ser hospitalizado se apresentar piora dos sintomas respiratórios seguidos de qualquer uma das situações abaixo citadas: Falha no manejo domiciliar do paciente; Inabilidade de locomoção do paciente que se locomovia previamente; Inabilidade para dormir ou se alimentar em decorrência da dispneia; Impossibilidade de manter adequado cuidado domiciliar; Piora dos sintomas respiratórios a mais de 24 horas sem melhora; Alteração do nível de consciência; Piora da hipoxemia; Aparecimento ou piora da hipercapnia; Hospitalização ou agudização há menos de uma semana; Aparecimento ou piora do Cor pulmonale; Comorbidade associada (fratura vertebral ou de costelas). 12.2.1 Ventilação Mecânica na DPOC Vários ensaios clínicos publicados foram realizados no manejo da falência respiratória da DPOC com VNI e muitos deles mostraram benefícios deste modo de suporte ventilatório na sobrevivência hospitalar, na sobrevivência após seis meses e para evitar intubação e VM invasiva. Uma metanálise concluiu que pacientes DPOC tratados com VNI apresentam menor taxa de mortalidade e menor risco de evoluir para VMI. São alguns critérios para iniciar a VNI no DPOC: Fr >30 rpm; Ph< 7,35. São critérios para IOT e VMI: AN02FREV001/REV 4.0 75 Hipoxemia grave refratária com FiO2> 0,6; Hipercapnia; Instabilidade hemodinâmica; Alteração do nível de consciência; Aumento do trabalho respiratório com períodos de apneia. São os principais objetivos da VM na DPOC: Evitar Auto-PEEP ou PEEP intrínseco; Prevenir hiperdistensão alveolar; Prevenir alcalose respiratória; Prevenir assincronia paciente-ventilador; Reavaliar continuamente a necessidade da VM e sempre desmamar e extubar o paciente assim que a causa principal da IOT tenha sido resolvida. (Obs.: O desmame da VM será abordado no módulo IV) Pacientes com DPOC em decorrência do aumento da complacência e da resistência apresentam risco de air trapping (aprisionamento de ar) o que contribui para a assincronia e desconforto do paciente em VM. Modalidades a pressão em contraste com as de volume parece prevenir assincronia além de provocar menor pico de pressão nas vias aéreas e menor hiperdistensão alveolar. Esses benefícios são resultados da variação do fluxo inspiratório entregue pelo ventilador são proporcionais ao esforço do paciente (fluxo de demanda). Deve-se ter maior atenção na ventilação com pressão de suporte em pacientes com obstrução grave porque o fluxo aéreo requerido pelo paciente pode ser maior do que o utilizado pelo ventiladorpara a ciclagem da fase inspiratória para fase expiratória, ou seja, o ventilador pode não perceber que o paciente ainda está exalando devido ao baixíssimo fluxo expiratório que ele possui e assim deflagra uma nova inspiração. Esse problema pode ser corrigido, no modo pressão controlada com tempo inspiratório mais curto em torno de 0,8 segundos até no máximo 1,2 segundos e com uma frequência mandatória baixa. O importante da estratégia adotada é que esta reduza o trabalho respiratório, evite o auto-PEEP, porém AN02FREV001/REV 4.0 76 mantenha certa ativação dos músculos respiratórios para evitar a atrofia por desuso que nestes pacientes prejudica muito o processo de desmame. O aprisionamento de ar que será mais bem abordado no próximo tópico a ser discutido (VM na asma) deve ser prevenido com a utilização de baixos volumes corrente e pressões transpulmonares inferiores a 30 cmH2O. Baixas frequências respiratórias também são necessárias. Este tipo de estratégia ventilatória promove uma hipercapnia permissiva que deve ser bem acompanhada pelo terapeuta. Quanto à fração inspirada de oxigênio esta deve ser administrada para se atingir uma PaO2>55mmHg com SpO2> 90%. A administração de PEEP externo pode beneficiar estes pacientes na medida em que for administrado um valor em torno de 80 a 85 % da PEEP intrínseca e deve ser continuamente monitorado para que a PEEP externa não se some a PEEPi. São considerados fatores que prejudicam o desmame da VM na DPOC: Distúrbios hidroeletrolíticos; Falência de órgãos; Redução do nível de consciência; Infecção, febre ou sepse; Broncoespasmo; Hipersecreção pulmonar; Auto PEEP; Fadiga muscular respiratória; Fraqueza muscular respiratória decorrente do uso de corticoides e paralisantes neuromusculares; Desnutrição ou nutrição inadequada; Falência de ventrículo esquerdo ou isquemia miocárdica durante o desmame. AN02FREV001/REV 4.0 77 FIGURA 33 FONTE: Paciente DPOC deambulando intubado. JAMA 2008 12.3 VENTILAÇÃO MECÂNICA NA ASMA A asma é uma doença com significante morbimortalidade em todas as partes do mundo. Mesmo com a evolução terapêutica e com o grande entendimento da doença sua prevalência vem aumentando. Por volta de 10% dos pacientes admitidos em um hospital com diagnóstico de asma evoluem com internação na UTI e 2% necessitaram de VM. A necessidade de VM está associada à maior mortalidade. Quando evolui com óbito normalmente ele é resultante de um “aprisionamento” de ar grave. Estas complicações incluem barotrauma, hipotensão e acidose respiratória. AN02FREV001/REV 4.0 78 12.3.1 Hiperinsuflação e Aprisionamento De Ar Em geral, a limitação de ar grave está associada a uma exacerbação da asma, resultante do broncoespasmo, edema de via aérea e aumento da secreção pulmonar. Em consequência o trabalho respiratório aumenta em decorrência da ativação da musculatura expiratória para executar a expiração que é fisiologicamente passiva e decorrente do relaxamento dos músculos inspiratórios. O trabalho muscular inspiratório também aumenta devido à alta resistência das vias aéreas e a hiperinsuflação. A hiperinsuflação faz com que a caixa torácica e os pulmões trabalhem em desvantagem mecânica da curva pressão volume (o volume pulmonar aumentado na CRF faz com que os músculos tenham que gerar maior força com um comprimento de fibra menor). O aprisionamento de ar ocorre porque o baixo fluxo expiratório que é gerado aumenta o tempo expiratório para conseguir exalar todo volume de ar que entrou nos pulmões na fase inspiratória. Na inspiração subsequente a expiração é interrompida e mais ar fica aprisionado. É assim que se forma o auto-PEEP que é uma pressão positiva expiratória final gerada pela respiração espontânea em condições de hiperinsuflação. FIGURA 34 FONTE: Mecanismo de hiperinsuflação. Crit Care 2005; 9:581-587 AN02FREV001/REV 4.0 79 12.3.2 Ventilação Mecânica Invasiva na Asma Quando o paciente asmático evolui com falência respiratória há necessidade de suporte ventilatório que pode ser invasivo ou não invasivo. O grande desafio em ventilar estes pacientes é tentar reduzir o que provocou o aprisionamento de ar e AUTO-PEEP e para isso é necessário utilizar estratégias ventilatórias específicas. 12.3.3 VNI É possível que alguns pacientes graves necessitem de intubação e ventilação invasiva. Alguns estudos, mais especificamente dois, sugerem que a VNI na asma melhora a função pulmonar e reduz a necessidade de internação. Em outras condições como DPOC que também está associada à limitação ao fluxo expiratório a VNI tem grande evidência na literatura que reduz a necessidade de intubação, permanência hospitalar, mortalidade e aumenta a sobrevida. Até que ponto estes dados podem ser associados a pacientes asmáticos é discutível e necessita de bom senso. A VNI na asma grave deve ser mais investigada e frequentemente é utilizada como alternativa inicial de tratamento antes da intubação em alguns centros. O sucesso da VNI nestes pacientes depende de uma série de fatores como a experiência da equipe, seleção das interfaces e não postergar a intubação quando esta se faz necessário. As contraindicações incluem parada cardiorrespiratória, encefalopatia grave, instabilidade hemodinâmica, cirurgia e ou deformidade de face, sangramento de trato gastrointestinal alto. Alto risco de broncoaspiração, falência de órgãos, arritmia grave e obstrução de vias aéreas superiores. A decisão de intubar deve ser baseada principalmente no julgamento clínico. Os marcadores de deterioração clínica são: CO2 arterial, exaustão, rebaixamento do nível de consciência, instabilidade hemodinâmica e hipoxemia refratária à avaliação clínica sempre deve ser soberana. AN02FREV001/REV 4.0 80 12.3.4 Como Medir o “Air Trapping” ou Aprisionamento de Ar O air trapping pode ser medido de várias formas com volume, pressão ou fluxo. Estimar este aprisionamento aéreo utilizando volume pode ser feito monitorando o volume exalado por 20 a 60 segundos em apneia (pausa expiratória) com o paciente curarizado. Este volume pode ser chamado de volume expiratório final (além da CRF), se este volume final for maior do que 20ml/kg ele é preditivo de complicações como hipotensão arterial e barotrauma em pacientes asmáticos grave ventilados mecanicamente. Outra forma é medir a auto-PEEP pela oclusão da válvula expiratória para que haja um equilíbrio de pressões ao final da expiração e a pressão lida nas vias aéreas proximais traduza a pressão final alveolar. Não há indícios de complicações por este meio de medida. O paciente também deve estar curarizado. FIGURA 35 FONTE: Medida do volume expiratório final. Crit Care 2005; 9:581-587 AN02FREV001/REV 4.0 81 FIGURA 36 FONTE: Medida da PEEP intrínseca pela oclusão da válvula expiratória Crit Care 2005; 9:581-587. Outra forma de avaliar o air trapping é por meio de análise da curva fluxo- tempo na monitorização gráfica do ventilador. Se o fluxo inspiratório inicia antes do fluxo expiratório terminar é porque há ar aprisionado nos pulmões. Todos os métodos de mensuração descritos acima necessitam que haja comunicação entre as vias aéreas proximais e distais para que a leitura do ar aprisionado, porém na asma grave isso não ocorre em 100% das vezes e, muitas vezes, pode aparecer uma PEEP oculta. Uma condição clínica que auxilia a detecção da PEEP oculta é o aumento da pressão de platô inexplicado pela redução da complacência durante a ventilação ciclada a volume. A pressão de platô pode ser detectada pela pausa expiratória após o término da inspiração (0,4 segundos). Durante essa pausa o pico de pressão de abertura da
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