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Distúrbios do movimento – prof Elisson Antônio 1 Distúrbios do movimento Os distúrbios do movimento podem ser classificados em hipocinéticos ou hipercinéticos, quando se tem, respectivamente, diminuição e aumento do movimento. Além disso, outros fenômenos não podem ser fidedignamente classificados, como os movimentos de atetose, acatisia e balismo. 1) Transtornos hipocinéticos Doença de Parkinson: é a forma mais comum de parkinsonismo (bradicinesia e rigidez associada ou não a tremor de repouso), correspondendo a 80% dos casos, com prevalência de 160/100.000 e incidência de 20 casos/100.000 por ano – índices que aumentam com o passar da idade. A média de idade de surgimentos dos sintomas é de 56 anos em ambos os sexos, mais prevalente em homens com relação de 2:1. Algumas mutações genéticas podem ser associadas à manifestação da doença de Parkinson, como do gene Parkina-2 (início precoce e autossômica recessiva) e Parkina-8 (autossômica dominante no gene LRRKE da proteína-quinase). Em sua fisiopatologia existe uma degeneração dos neurônios dopaminérgicos na substância negra do mesencéfalo, apesar de também ter perda neuronal em outros locais. Desse modo, considerando que basicamente esses neurônios são os únicos fornecedores de dopamina para a via nigroestriatal, tem-se perda de funcionalidade dessa via. Além disso, tem-se inclusões citoplasmáticas eosinofílicas de α-sinucleína alterada – corpos de Lewy – principalmente no tronco encefálico, mas com distribuição heterogênea pelo encéfalo. A produção normal de dopamina envolve o circuito córtico-estriado-tálamo-cortical, envolvendo núcleos da base, núcleos subtalâmico, substância negra, tálamo e córtex cerebral. Assim, os neurônios dopaminérgicos podem ser acometidos de forma sistêmica, até mesmo do plexo mioentérico. Como achados clínicos tem-se tremor de repouso (‘contar dinheiro’), bradicinesia (precisa estar presente), rigidez plástica (‘em roda denteada’ que acompanha todo o movimento), perda dos reflexos posturais e bloqueios motores – freezing ou congelamento da marcha e festinação ou dificuldade em iniciar o movimento). Em alguns casos pode-se ter tremor postural ou de ação. Além disso, podem apresentar depressão, ansiedade, agressividade, anosmia (que pode aparecer antes dos sintomas motores), demência, alterações no sono, hipofonia (voz mais baixa), constipação, distúrbios autonômicos, síndrome das pernas inquietas, entre outros. Os sintomas motores são tardios, geralmente ocorrendo quando o paciente já perdeu cerca de 80% dos neurônios dopaminérgicos. O diagnóstico é primariamente clínico com bradicinesia associada a outro fator da tétrade parkinsoniana, podendo associar exames como a ressonância com a técnica que estuda o metabolismo dopaminérgico, para verificar alterações precoces. Como diagnóstico diferencial tem-se síndromes parkinsonianas atípicas (pouca resposta a levodopa e de evolução mais rápida), parkinsonismo secundário (como o medicamentoso), demências (depleção neuronal nos estágios finais) e doenças degenerativas hereditárias. O tratamento pode ser realizado por agentes dopaminérgicos, como a levodopa que é um precursor da dopamina. Como opções tem-se a apresentação BD (100mg levodopa + 25mg de benzerazida), em que a benzerazida impede a ação das enzimas que transformam a levodopa em dopamina no sistema periférico, direcionando toda a dosagem para o sistema nervoso central – utilizada para pacientes com diagnóstico recente da doença e que requerem uma baixa dose. Também se tem comprimidos dispersíveis de liberação rápida (usado em complicações relacionadas ao uso de levodopa) e a forma HBS com liberação lenta e errática do medicamento, com efeito prolongado. Distúrbios do movimento – prof Elisson Antônio 2 Após 3 a 5 anos do uso da levodopa pode-se ter o desenvolvimento de discinesias, que são movimentos involuntários, sem propósito e associados ao uso da medicação – não se sabe se também pode ser uma complicação da doença. Em quadros graves entram na indicação para estimulação cerebral profunda (DBS), assim como a flutuação motora em que a medicação teme feito muito rápido e sem muita relevância. Os agonistas da dopamina, como pramipexol (causa muitos efeitos adversos gastrointestinais) e rotigotina (adesivo transdérmico com menos efeitos colaterais), podem ser usados nas fases iniciais e com sintomas leves para poupar o uso da levodopa, quando ainda se tem produção de dopamina. Ainda podem promover transtornos de impulsividade, delirium, alucinações, compulsões (jogos de azar, sexo, compras), entre outros. Os inibidores da COMT, como a entacapona, essa que deve ser associada com a levodopa e impede o metabolismo rápido desse fármaco no sangue periférico. Os inibidores da MAO-B, como selegilina e rasagilina, não promovem impacto na progressão da doença, mas pode ser usada nos estágios iniciais. Alguns agentes não dopaminérgicos podem ser usados no tratamento da doença de Parkinson, como biperideno que é um anticolinérgico – sua função está quase proscrita, apesar de ser uma boa droga de combate ao tremor, já que pode causar demência em seus usuários. Alguns antiglutamatérgicos como a amantadina, possuem função na redução do tremor e controle das discinesias, sendo que os benzodiazepínicos também podem entrar como coadjuvantes no tratamento. Os antagonistas da serotonina e dopamina, como quetiapina e clozapina, são usados para sintomas avançados da doença com alterações de comportamento associados a disfunção executiva. Outras opções de tratamento tangem as práticas neurocirúrgicas, como a estimulação cerebral profunda (DBS), em que por um sistema de cabeamento faz-se a implantação de um eletrodo no núcleo subtalâmico, fato que promove o controle do estimulo elétrico da região, otimizando o tratamento e melhorando o quadro motor, incluindo as discinesias. Como candidatos incluem-se os pacientes que respondem a levodopa, mas tem muita flutuação motora ou discinesia, assim como naqueles com mais de 5 anos de evolução da doença. A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa, mas que o tratamento equilibrado melhora a capacidade funcional e a qualidade de vida do paciente – mortalidade diminuiu em 50% após o uso da levodopa. Paralisia supranuclear progressiva: é uma síndrome parkinsoniana atípica com prevalência de 1,39/100.000 pessoas, sendo mais frequente em homens com média de idade de início por volta dos 65 anos. Sua patogênese se caracteriza por deposição da proteína tau nos neurônios dopaminérgicos, tendo degeneração neuronal, emaranhados neurofibrilares e astrócitos tau positivos nos gânglios basais e estruturas do tronco cerebral. Clinicamente tem-se parkinsonismo progressivo com bradicinesia e rigidez axial (retrocólis distônico e distonia facial), freezing, paralisia ocular supranuclear vertical ou sacadas verticais lentas, início precoce de tendência a quedas, bradifrenia (pensamento lento), entre outros. Distúrbios do movimento – prof Elisson Antônio 3 A tomografia e ressonância magnética podem demonstrar atrofia do tronco cerebral, especialmente do mesencéfalo, além de alguns casos ter aumento dos ventrículos, atrofia do corpo caloso, ponte robusta, mesencéfalo atrofiado e ‘sinal do bico do colibri’ (círculo na imagem). Nesse caso, a resposta ao tratamento com levodopa é limitada, dando apenas suporte para o paciente. Degeneração corticobasal: é uma degeneração por acúmulo anormal de proteína tau em neurônios do córtex cerebral, essa que causa um parkinsonismo unilateral, com rigidez e distonia unilateral do braço, apraxia orobucolingual, mioclonias, tremores grosseiros de intenção e de repouso, hiperreflexia, sinal de Babinski positivo e ‘membro alienígena’ (movimento involuntário do membro). Com a evolução ambos os lados do corpo são afetados, tendo alteração da mobilidade ocular e demência pelo acometimento cortical.Na ressonância magnética pode apresentar atrofia frontoparietal assimétrica e dilatação ventricular. A levodopa e outras medicações são pouco efetivas. Atrofia de múltiplos sistemas: é uma síndrome parkinsoniana atípica com deposição de proteína -sinucleína nos neurônios dopaminérgicos com parkinsonismo, hipotensão ortostática sintomática e ataxia cerebelar – tem atrofia da ponte e ‘sinal radiológico da cruz’. Acomete cerca de 10% dos pacientes com parkinsonismo, tendo idade média de início de 53 anos e prevalência anual de 3/100.000 pessoas. É uma doença que apresenta fraca resposta terapêutica à levodopa, em que muitos pacientes ficam em cadeiras de rodas ou muito incapacitados, tendo sobrevida média de 6 a 7 anos após início dos sintomas. 2) Transtornos hipercinéticos Distonias: é um movimento atípico de contração muscular padronizada e torção, que se sustenta por um bom tempo e pode trazer até uma postura bizarra com retrocólis (extensão da cabeça no plano sagital) ou anterocólis (flexão da cabeça no plano sagital) – não há repetição de movimento, mas sustentação. O tratamento pode ser feito por estimulação cerebral profunda. Coreias: movimentos irregulares, rápidos e involuntários, sem propósito e imprevisíveis, com movimentos dos membros sem seguir um padrão e fluindo aleatoriamente de uma parte do corpo para outra. Acredita- se ser causada por danos nos núcleos da base do cérebro, principalmente na via indireta, que inibe contrações musculares indesejadas e previne a iniciação dos movimentos. Geralmente tem-se um padrão autolimitado, melhorando de algumas semanas em até dois anos, podendo utilizar tratamento com haloperidol, quetiapina, risperidona, entre outros. Como exemplos tem-se coreia de Sydenham e de Huntington. A doença de Huntington (DH), causa mais frequente de coreia genética, é um distúrbio neurodegenerativo de herança autossômica dominante, caracterizado pela tríade: coreia, declínio cognitivo e alterações comportamentais. Surge habitualmente na idade adulta, entre a terceira e quarta década de vida, sendo implacavelmente progressiva, culminando em deficiência motora completa e demência, seguidos de morte entre 15-20 anos após o início dos sintomas. A coreia de Sydenham (CS) é a forma mais comum de coreia autoimune em todo o mundo e conta com a quase totalidade de casos agudos de coreia em crianças. A coreia é uma das principais características e um critério diagnóstico da Febre Reumática (FR) aguda, uma complicação não supurativa de infecção faringoamigdalítica pelo Streptococcus Beta-hemolítico do grupo A. A FR é uma doença inflamatória sistêmica aguda, febril e autolimitada que acomete articulações, coração, cérebro e pele (eritema marginato). A CS surge usualmente aos 8 anos de idade, de 4 a 8 semanas depois da faringite estreptocócica com maior prevalência entre as mulheres. A coreia rapidamente se torna generalizada, mas em 20% dos pacientes persiste a hemicoreia. Tiques: são movimentos rápidos, involuntários, sem propósito, estereotipados, incontroláveis, repetitivos e não rítmicos, podendo ser motor ou vocal. Os tiques permanentes duram mais de um ano e cursam com vocalização, enquanto que os transitórios duram menos que um ano, sem vocalização. Os tiques são classificados em simples ou complexos: Distúrbios do movimento – prof Elisson Antônio 4 → Tiques vocais simples: sons e barulhos sem significado semântico. Exemplos: estalar a língua, fungar, limpar a garganta, grunhir, etc. → Tiques motores complexos: quando os movimentos são sequenciais, com padrões coordenados envolvendo vários grupos musculares. Exemplos: dar rodopios, torcer o próprio corpo, saltitar, fazer posturas aberrantes, jogar coisas, tocar em si próprio ou em outra pessoa, etc. → Tiques vocais complexos: quando há a produção de palavras, frases ou sentenças completas plenas de significado. Exemplos: ecolalia, palilalia, coprolalia. → Tiques motores simples: quando ocorre contração de um grupo muscular simples, isolado, com padrão repetitivo e afetando diferentes localizações. Exemplos: piscar os olhos, encolher os ombros, repuxar a boca, franzir a testa, torcer o nariz, etc. Os tiques motores simples geralmente são abruptos e rápidos (tique clônico), mas podem ser lentos e causar posturas anormais (tiques distônicos) ou uma contração isométrica (tiques tônicos). Na síndrome de Gilles de la Tourette tem-se tiques motores e vocais associados a alterações comportamentais. Os sintomas surgem na primeira ou segunda décadas de vida, sendo que a maioria dos pacientes apresentam os primeiros sintomas em torno dos 6 anos de idade. O tique vocal tipicamente surge anos após o tique motor. Aos 10 anos estes se tornam mais intensos e, aos 18 anos, 50% dos pacientes ficam livres dos sintomas. A prevalência é no sexo masculino em taxa de 3,4: 1. O distúrbio afeta 0,1 a 1,0% dos indivíduos na população em geral. Apesar dos tiques poderem persistir no adulto, a intensidade dos mesmos diminui gradualmente com o tempo. Tremores: é a forma mais comum de movimento involuntário com movimentos repetidos de um determinado membro ou eixo, também considerado como o distúrbio do movimento oscilatório de uma determinada parte do corpo com caráter rítmico. Pode ser em repouso (como na doença de Parkinson), de ação, postural, cinético, posição específico, isométrico, entre outros. Mioclonias: são movimentos rápidos, fugazes, desprovidos de propósito e, geralmente, relacionadas com quadros de epilepsia mioclônica. A mioclonia positiva é causada por contração de um músculo ou grupo muscular, enquanto que a mioclonia negativa é causada por inibição muscular na qual há breve perda do tônus muscular de músculos agonistas seguida de contrações compensatórias dos grupos musculares antagonistas. 3) Outros distúrbios do movimento Atetose: movimentos lentos, desprovidos de propósito, involuntários geralmente serpiginosos. Pode ser causada por AVC em núcleo subtalâmico, drogas, antipsicóticos, entre outros. Balismo: movimentos rápidos desprovidos de propósito, geralmente acometendo um hemicorpo. É comum em AVC de núcleos da base, ocorrendo movimento brusco, unilateral e rápido de um membro só. Dura cerca de oito semanas e cessa espontaneamente, podendo ser tratado com benzodiazepínicos e antipsicóticos. Acatisia: movimentos relacionados com sensação de inquietude por depleção dopaminérgica aguda causada por algumas drogas, como plasil, bromoprida, antipsicóticos e antidepressivos.
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