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1 Propedêutica Cirúrgica II POPEDÊUTICA CIRÚRGICA II Cistos Definição: Um cisto é uma cavidade patológica (muitas vezes preenchida por líquido ou material semissólido) que é revestida por epitélio. Há uma variedade de cistos do desenvolvimento de cabeça e pescoço. Classificação: 1. Cistos não odontogênicos: - Cisto nasolabial; - Cisto do ducto nasopalatino; - Cisto palatino mediano; - Cisto dermoide; - Cisto do ductotireoglosso 2. Cistos odontogênicos a. Cistos de origem inflamatória b. Cistos de desenvolvimento Cistos não odontogênicos Alguns foram historicamente considerados cistos “fissurais”, porque se acreditava que eles se originavam do epitélio aprisionado ao longo das linhas de fusão dos processos embrionários. Porém, o conceito de uma origem fissural para muitos desses cistos tem sido questionado nos últimos anos. Em vários casos, a patogênese exata dessas lesões é ainda incerta. Independentemente da sua origem, os cistos se desenvolvem na região oral e maxilofacial, tendem a aumentar aos poucos de tamanho, possivelmente em resposta a um discreto aumento da pressão hidrostática luminal. 1. CISTO NASOLABIAL (CISTO NASOALVEOLAR, CISTO DE KLESTADT) O cisto nasolabial é um cisto do desenvolvimento raro que ocorre no lábio superior, lateral à linha média. A sua patogênese é desconhecida. Uma teoria considera o cisto nasolabial um cisto “fissural” originado de remanescentes epiteliais aprisionados ao longo da linha de fusão do processo maxilar, processo nasal mediano e processo nasal lateral. Características Clínicas e Radiográficas: O cisto nasolabial em geral se apresenta como um aumento de volume do lábio superior lateralmente à linha média, resultando na elevação da asa do nariz. Muitas vezes, o aumento eleva a mucosa do vestíbulo nasal e causa apagamento do fundo de vestíbulo. Em alguns casos, essa expansão pode resultar em obstrução nasal ou interferir na utilização de uma prótese. A dor é rara, exceto quando a lesão está secundariamente infectada. O cisto pode se romper de forma espontânea e drenar para a cavidade oral ou nasal. Os cistos nasolabiais são observados com maior frequência em adultos, com pico de prevalência na quarta e quinta décadas de vida. Existe uma predileção significante pelo gênero feminino. Como o cisto nasolabial origina-se nos tecidos moles, na maioria dos casos não há alterações radiográficas. Em 2 Propedêutica Cirúrgica II alguns casos, pode ocorrer reabsorção do osso subjacente pela pressão exercida pelo cisto. Tratamento: O tratamento de eleição consiste na remoção cirúrgica total por acesso intraoral. Como a lesão geralmente está próxima ao assoalho nasal, muitas vezes é necessário retirar uma parte da mucosa nasal para garantir a remoção completa da lesão. No entanto, desenvolveu-se uma abordagem alternativa via cavidade nasal que permite a marsupialização endoscópica da lesão, convertendo o cisto em uma cavidade contendo ar com a sua abertura para o assoalho nasal. A recidiva é rara. 2. CISTO DO DUCTO NASOPALATINO (CISTO DO CANAL INCISIVO) O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais comum da cavidade oral. Acredita- se que ele se origine de remanescentes do ducto nasopalatino, uma estrutura embrionária que liga a cavidade nasal e oral na região do canal incisivo. Características Clínicas e Radiográficas: O cisto do ducto nasopalatino pode se desenvolver praticamente em qualquer idade, porém é mais comum entre a quarta e a sexta década de vida. Apesar de ser um cisto do “desenvolvimento”, o cisto do ducto nasopalatino é raramente observado durante a primeira década de vida. Tem predileção pelo gênero masculino. Os sintomas mais comuns incluem tumefação da região anterior do palato, drenagem e dor. Às vezes, os pacientes relatam uma história longa desses sintomas, provavelmente devido à sua natureza intermitente. Em raros casos, um cisto grande pode produzir uma expansão “completamente” flutuante, envolvendo a região anterior do palato e a mucosa alveolar. As radiografias geralmente exibem uma lesão radiolúcida bem circunscrita próxima ou na linha média da região anterior de maxila, entre os ápices dos incisivos centrais. A reabsorção radicular é raramente notada. A lesão em geral é redonda ou oval, com uma borda esclerótica. Alguns cistos podem ter um formato de pêra invertida, possivelmente devido à resistência das raízes dos dentes adjacentes. Outros casos podem exibir o formato clássico de coração, como resultado da sobreposição da espinha nasal ou pela chanfradura causada pelo septo nasal. 3 Propedêutica Cirúrgica II 3. CISTO PALATINO (PALATAL) MEDIANO Cisto fissural raro, teoricamente se desenvolve do epitélio retido ao longo da linha de fusão embrionária das cristas palatinas laterais da maxila. Características Clínicas e Radiográficas: O cisto palatino mediano se apresenta como uma tumefação firme ou flutuante na linha média do palato duro, posterior à papila incisiva. A lesão é observada mais frequentemente em adultos jovens. Muitas vezes, a lesão é assintomática, porém alguns pacientes relatam dor ou expansão. O tamanho médio desse cisto é de 2 x 2 cm, porém algumas vezes ele pode se tornar maior. As radiografias oclusais revelam uma lesão radiolúcida na linha média do palato duro. Tratamento e Prognóstico: O cisto palatino mediano é tratado pela remoção cirúrgica. A recidiva não é esperada. 4. CISTO DERMÓIDE O cisto dermoide ou também chamado de epidermoide, consiste em uma malformação cística do desenvolvimento incomum. Tal cisto é revestido por epitélio semelhante à epiderme, e na parede, contém estruturas anexas da derme. Geralmente é considerado uma forma cística benigna do teratoma. Características Clínicas e Radiográficas: Os cistos dermoides ocorrem com mais frequência na linha média do assoalho da boca, ainda que às vezes estejam deslocados lateralmente no assoalho bucal ou em outras localizações. Pode desenvolver em diversas áreas do corpo, porém, é na boca a localização mais frequente. Quando o cisto se desenvolve abaixo do músculo gêniohióideo, uma tumefação sublingual pode deslocar a língua superiormente e causar dificuldades na deglutição, na fonação ou até na respiração. Os cistos que surgem acima do músculo gênio-hioideo produzem, muitas vezes, uma tumefação 4 Propedêutica Cirúrgica II submentoniana, com aparência de “queixo duplo”. Os cistos dermóides da cavidade oral podem variar de alguns poucos milímetros até 12 cm de diâmetro. São mais frequentes em crianças e adultos jovens; 15% dos casos relatados são de origem congênita. Geralmente, a lesão cresce aos poucos sem provocar dor, se apresentando como uma massa borrachoide ou pastosa, que em geral retém a marca dos dedos após pressão digital. Pode haver infecção secundária, e a lesão pode drenar para o interior da cavidade oral ou para a pele. Tratamento e Prognóstico: Os cistos dermoides são tratados por remoção cirúrgica. Aqueles localizados abaixo do músculo gênio-hioideo podem ser removidos por incisão intraoral, e os situados abaixo do músculo gênio-hióideo podem necessitar de um acesso extraoral. A recidiva é incomum. São raros os relatos de transformação maligna em carcinoma epidermoide. 5. CISTO DO DUCTO TIREOGLOSSO Este cisto é originário da proliferação de remanescentes epiteliais do trato tireoglosso embrionário (do forame cego da língua e a glândula tireoide). Em 60% a 80% dos casos, o cisto se desenvolve abaixo do osso hioide. Características clínicas: Os cistos do ducto tireoglosso podem se desenvolver em qualquer idade,porém eles são mais diagnosticados nas duas primeiras décadas de vida. Não há predileção por gênero. Geralmente, o cisto apresenta-se como uma tumefação móvel, flutuante e indolor, a menos que se complique por uma infecção secundária. O seu desenvolvimento é lento, assintomático, podendo variar de tamanho e posição ao longo do trajeto entre o forame cego na língua e a região da glândula tireoide. Tratamento e Prognóstico: Os cistos do ducto tireoglosso são mais bem tratados pela técnica cirúrgica de Sistrunk. Nessa cirurgia, o cisto é removido junto com o segmento medial do osso hioide e uma ampla porção do tecido muscular ao longo de todo o trato tireoglosso. A taxa de recidiva associada a esse procedimento é baixa. O carcinoma que se origina do cisto do ducto tireoglosso é uma complicação rara que ocorre em aproximadamente 1% a 2% dos casos. Na maioria deles, são adenocarcinomas papilares da 5 Propedêutica Cirúrgica II tireoide. Felizmente, as metástases do carcinoma do ducto tireoglosso são raras, e o prognóstico para os pacientes com esses tumores é bom. Cistos odontogênicos Em raras exceções, cistos com revestimento epitelial nos ossos do corpo são vistos somente nos ossos gnáticos. Com exceção de alguns cistos que devem ser oriundos da inclusão do epitélio ao longo das linhas de fusão dos processos embrionários, a maioria dos cistos são revestidos por epitélio, que se derivam do epitélio odontogênico. Eles são denominados cistos odontogênicos. Os cistos odontogênicos são subclassificados de acordo com a sua origem como de desenvolvimento ou inflamatório. Os fatores precipitantes que iniciam a formação dos cistos de desenvolvimento são desconhecidos, porém essas lesões não sugerem ser resultantes de uma reação inflamatória. Os cistos inflamatórios são resultado de uma inflamação. a. Cistos de Desenvolvimento 1.Cisto dentígero; 2.Cisto de erupção; 3.Queratocisto; 4.Cisto odontogênico ortoqueratinizado; 5.Cisto gengival (alveolar) do recém- nascido; 6.Cisto gengival do adulto e Cisto periodontal lateral; 7.Cisto odontogênico calcificante; 8.Cisto odontogênico glandular; 9. Cisto odontogênico botrioide. b. Cistos de origem Inflamatória Cisto radicular; Cisto residual (radicular); Cisto da bifurcação vestibular. Cistos odontogênicos de desenvolvimento 1. CISTO DENTÍGERO (FOLICULAR) O cisto dentígero é definido como um cisto que tem origem pela separação do folículo que circunda a coroa de um dente não erupcionado. Este é o tipo mais comum de cisto odontogênico de desenvolvimento, totalizando cerca de 20% de todos os cistos com revestimento epitelial nos ossos gnáticos. O cisto dentígero envolve a coroa de um dente incluso e está aderido ao dente em sua junção amelocementária. A patogênese desse cisto é incerta; entretanto, aparentemente se desenvolve a partir do acúmulo de fluido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa do dente. Características Clínicas e Radiográficas: Embora o cisto dentígero possa ocorrer em associação a qualquer dente incluso, é mais frequente o acometimento dos terceiros molares inferiores, sendo responsável por cerca de 65% de todos os casos. Outros sítios envolvidos relativamente frequentes incluem os caninos superiores, terceiros molares superiores e segundos pré-molares inferiores. É raro os cistos dentígeros acometerem os dentes decíduos não erupcionados. Apesar de os cistos dentígeros poderem ser 6 Propedêutica Cirúrgica II encontrados em uma ampla faixa etária, eles são descobertos mais comumente nos pacientes entre os 10 e 30 anos de idade. Têm leve predileção pelo gênero masculino. Pequenos cistos dentígeros são assintomáticos e descobertos apenas em exames radiográficos de rotina, ou quando são realizadas imagens radiográficas para determinar a falta de erupção de um dente. Cistos dentígeros podem crescer até um tamanho considerável, e amplos cistos podem estar associados à expansão óssea dolorosa na região acometida. Lesões extensas podem resultar em assimetria facial. Grandes cistos dentígeros são incomuns, e a maioria das lesões que são consideradas cistos dentígeros extensos nos exames radiográficos podem, na realidade, tratar-se de queratocisto ou ameloblastoma. Os cistos dentígeros podem estar infectados e associados a aumento de volume e dor. Tais infecções podem aparecer em cistos dentígeros associados a dentes parcialmente erupcionados ou por extensão de lesão periapical ou periodontal que acomete os dentes adjacentes. Radiograficamente, os cistos dentígeros demonstram uma área radiolúcida unilocular associada à coroa de um dente incluso. É comum que a lesão radiolúcida possua margens bem definidas e em geral com margens radiopacas, porém um cisto infectado pode apresentar margens pouco definidas. Um cisto dentígero de grandes proporções pode dar a impressão de aspecto multilocular por apresentar persistência de trabeculado ósseo dentro da imagem radiolúcida. A relação cisto- coroa demonstra diversas variações radiográficas. Na variante central, que é a mais comum, o cisto circunda a coroa de um dente e a coroa se projeta para dentro do cisto. A variante lateral é em geral associada a um terceiro molar inferior impactado com inclinação mesioangular parcialmente erupcionado. O cisto cresce lateralmente ao longo da superfície radicular e circunda de forma parcial a coroa do dente. 7 Propedêutica Cirúrgica II Na variante circunferencial, o cisto envolve a coroa e estende- se por uma determinada distância ao longo da raiz; com isso, uma parte da raiz aparente se encontra dentro do cisto. Os cistos dentígeros podem deslocar o dente acometido alcançando distâncias consideráveis. Pode acontecer reabsorção radicular de um dente adjacente erupcionado. Tratamento e Prognóstico: O tratamento mais comum para o cisto dentígero é a enucleação cuidadosa do cisto junto com a remoção do dente não erupcionado. Se a erupção do dente acometido é considerada possível, então se opta por deixar o dente na posição após a remoção parcial da parede cística. Alguns pacientes podem necessitar de tratamento ortodôntico para auxiliar no processo de erupção do dente. Extensos cistos dentígeros podem também ser tratados pela marsupialização. Esta técnica permite a descompressão do cisto, que tem como resultado a redução do tamanho do defeito ósseo. O cisto pode ser removido em momento posterior, em um procedimento cirúrgico menos extenso. O prognóstico para a maior parte dos cistos dentígeros é excelente, e a recidiva é rara após a remoção completa do cisto. 2. CISTO DE ERUPÇÃO (HEMATOMA DE ERUPÇÃO) O cisto de erupção é um análogo, do tecido mole, do cisto dentígero. O cisto se desenvolve a partir do resultado da separação do folículo dentário que envolve a coroa de um dente em erupção que está recoberto pelos tecidos moles do osso alveolar sobrejacente. Características Clínicas: O cisto de erupção aparece como um pequeno aumento de volume, muitas vezes translúcido na mucosa gengival que se sobrepõe à coroa de um dente decíduo ou um dente permanente em estágio de erupção. A maioria dos exemplos é observada em crianças com menos de 10 anos de idade. Embora o cisto possa ocorrer em qualquer dente em erupção, a lesão é mais comumente associada aos incisivos centrais inferiores decíduos, aos primeiros molares permanentes e aos incisivos superiores decíduos. Trauma na região pode resultar em uma considerável quantidade de sangue na cavidade cística, que confere uma coloração de aspecto azulado a marrom-arroxeada. Tais lesões são, por vezes, referidascomo hematomas de erupção. 8 Propedêutica Cirúrgica II Aspectos histológicos: O revestimento epitelial do cisto, originário do epitélio reduzido do esmalte, é constituído por 2 a 3 camadas celulares de epitélio estratificado e, pela presença constante de células inflamatórias agudas. Tratamento e Prognóstico: Pode não ser necessário tratamento, pois o cisto em geral se rompe de forma espontânea, permitindo a erupção do dente. Se isto não acontecer, uma simples incisão no teto do cisto (ulotomia) geralmente permite a aceleração no processo de erupção do dente. 3. QUERATOCISTO (CISTO PRIMORDIAL) Características clínicas e patogenia: O cisto primordial é pouco frequente, assintomático a menos que se torne secundariamente infectado e, raramente apresenta manifestações clínicas evidentes. Quando alcança um grande tamanho, geralmente envolvendo o ramo ascendente da mandíbula, pode apresentar tumefação e relato de dor. A mandíbula é mais envolvida em relação à maxila, ocorrendo a maior frequência na região de 3º molar inferior (76%), podendo, entretanto, desenvolver em qualquer parte dos maxilares, inclusive na linha média da mandíbula e maxila. A lesão é mais comum em homens e é diagnosticada usualmente entre a 2ª e 3ª décadas. Características radiográficas: A imagem radiográfica apresenta áreas de lise óssea radiolúcidas arredondadas ou ovoides, uni ou multiloculares, com contornos nítidos (margem esclerosada radiopaca), podendo, em determinadas partes, apresentar limites não precisos (difusos). A presença de margem recortada sugere uma atividade desigual de crescimento em diferentes partes do revestimento cístico. Também pode ser observado expansão de cortical óssea, normalmente discreta, voltada tanto para o lado lingual como vestibular. Nos cistos que envolvem extensas áreas de mandíbula, pode ocorrer o deslocamento do canal alveolar inferior, reabsorção de cortical, bem como a perfuração óssea. Aspectos Histológicos: Este cisto, geralmente apresenta parede fina, tendo na superfície interna uma camada de poucas células (de 5 a 8 camadas celulares) de epitélio pavimentoso estratificado, com presença de paraqueratina (80% dos casos), mas às vezes de ortoqueratina, regularidade de camada basal e ausência de projeções. 9 Propedêutica Cirúrgica II Tratamento: O sucesso no tratamento deste cisto tem suscitado muita discussão entre os cirurgiões bucomaxilofaciais. Têm sido relatado sucessos e fracassos com procedimentos de enucleação e de marsupialização. Isto porque o êxito no tratamento não depende exclusivamente do procedimento terapêutico escolhido, mas também de outros fatores que são fundamentais para o sucesso do tratamento. Por exemplo, nos cistos grandes ou naqueles de difícil acesso, a enucleação deve ser cuidadosa e realizada de forma a remover todos os fragmentos do revestimento cístico, caso contrário, a possibilidade de recidivarem após o tratamento é grande. Outro dado importante que deve ser observado, tanto nos cistos multilobulares como uniloculares, é a presença de margens recortadas. Parede com limites difusos, observada na radiografia, propicia maior dificuldade ao cirurgião na sua remoção, podendo determinar futura recidiva do cisto. 4. CISTO ODONTOGÊNICO ORTOQUERATINIZADO Características clínicas e radiográficas: Ocorrem com predominância em adultos jovens e acomete mais os homens. A lesão acomete mais frequentemente a mandíbula, com uma tendência maior de envolver as regiões posteriores dos ossos gnáticos. Eles não possuem características clínicas e radiográficas que os diferenciem de outros cistos de desenvolvimento ou inflamatórios. A lesão em geral surge como uma radiolucidez unilocular, porém às vezes podem se apresentar multilocular. Eles acometem com mais frequência o terceiro molar inferior incluso. O tamanho pode ser variável. Histologicamente é revestido por epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado. Tratamento e Prognóstico: A enucleação seguida de curetagem é o tratamento usual para os cistos odontogênicos ortoqueratinizados. As recidivas raramente têm sido observadas. 5. CISTO GENGIVAL (ALVEOLAR) DO RECÉM-NASCIDO – LÂMINA DENTÁRIA Cistos gengivais do recém-nascido são pequenos, superficiais, preenchidos de queratina, sendo encontrados na mucosa alveolar de crianças. Esses cistos se originam dos remanescentes da lâmina dentária. São lesões comuns, tendo sido descritas em até a metade de todos os recém- nascidos. Todavia, como eles desaparecem de maneira espontânea através de sua ruptura dentro da cavidade oral, as lesões raramente são notadas ou submetidas à biópsia. Cistos de inclusão similares (p.ex., pérolas de Epstein ou os nódulos de Bohn) são encontrados na linha média 10 Propedêutica Cirúrgica II palatina ou lateralmente nos palatos duro e mole. Características Clínicas: Os cistos gengivais do recém-nascido geralmente surgem como múltiplas pequenas pápulas esbranquiçadas, na mucosa que recobre o processo alveolar dos neonatos. Os cistos individualmente, em geral, medem não mais do que 2 a 3 mm de diâmetro. O rebordo alveolar superior é acometido de forma mais comum do que o inferior. Características Histopatológicas: O exame de um cisto gengival do recém-nascido exibe um revestimento epitelial delgado e achatado, com uma superfície luminal de paraqueratina. O lúmen contém restos de queratina. Tratamento e Prognóstico: Nenhum tratamento é indicado para os cistos gengivais do recém-nascido, pois as lesões tendem a regredir espontaneamente como consequência da ruptura dos cistos e resultante contato com a superfície da mucosa oral. As lesões raramente são observadas após os três meses de idade. 6. CISTO PERIODONTAL LATERAL E CISTO GENGIVAL DO ADULTO Características clínicas e Patogenia: Estas lesões têm a mesma histogênese representam as manifestações intra-ósseas (Cisto Periodontal Lateral) e extra- ósseas (Cisto Gengival do Adulto). E elas têm a mesma origem epitelial. A ocorrência mais frequente dos cistos gengival do adulto e cisto periodontal lateral, é por volta da quarta década, e, localizados, preferencialmente, nas áreas de pré-molares e caninos inferiores, seguido pela região anterior da maxila. Características Radiográficas: No caso da lesão extra-óssea (Cisto Gengival do Adulto), pode não ocorrer alteração radiográfica 11 Propedêutica Cirúrgica II alguma, ou existir apenas uma leve sombra arredondada indicativa de erosão óssea superficial. Quando a lesão está localizada no interior do osso (Cisto Periodontal Lateral), as radiografias mostram uma área radiolúcida arredondada ou ovoide, bem definida por uma margem esclerosada. Geralmente não ultrapassam 1cm de diâmetro, e estão localizados entre o ápice e margem cervical do dente. Acomete mais o IL, caninos e pré-molares inferiores. Aspectos Histológicos: De uma forma geral, elas apresentam um revestimento epitelial com poucas camadas de células, sem projeções e com focos de espessamento (placas) para o interior do lúmen. Este espessamento ou placa epitelial presente nas duas lesões, é que levam alguns autores a concluírem que os dois cistos se originam do mesmo epitélio. As células da placa às vezes são fusiformes, grandes e claras, ricas em glicogênio, com um aspecto de edema intracelular, além de apresentarem o núcleo pequeno e picnótico. A cápsula do cisto pode exibir uma zona de hialinização, focos de calcificação e restos de lâmina dentária. Tratamento: Na forma extra-óssea a remoção é realizada através de excisão cirúrgica. Quando está localizada no interior ósseoé tratado por enucleação cirúrgica, procurando evitar, sempre que possível, danos ao dente próximo a lesão. 7. CISTO ODONTOGÊNICO CALCIFICANTE Características clínicas e Patogenia: A área mais afetada por este cisto é a região anterior. Este cisto tem manifestação clínica caracterizada pelo aumento de volume, usualmente sem sintomatologia. A maioria das lesões (1/3), desenvolvem-se em regiões extra ósseas e, distribuídas igualmente pela maxila e mandíbula (região anterior). Com relação à idade, parece haver uma distribuição bimodal com picos na segunda e sexta décadas. Características Radiográficas As lesões intra-ósseas podem apresentar diversas imagens radiográficas. Usualmente aparecem como uma área radiolúcida, de contorno regular e bem demarcado. Em outros casos, podem apresentar margens irregulares e pouco definidas. Em geral, quantidades de corpúsculos calcificados, de tamanho e opacidade variável, são observados no interior da área radiolúcida, podendo, algumas vezes, ocupar a maior parte da lesão. 12 Propedêutica Cirúrgica II Aspectos Histológicos: A lesão mostra um revestimento epitelial com a camada basal constituída de células cúbicas ou colunares, e camada de células semelhantes às do retículo estrelado, do órgão do esmalte. O aspecto mais notável deste cisto é a presença de células fantasmas. Estas células são queratinizadas, com aspecto eosinófilo, apresentando perda de detalhes e da manifestação de contornos nucleares e citoplasmáticos. No interior das células fantasmas inicia-se a deposição de sais de cálcio, sob a forma de poeira, a qual vai se agregando e formando massas maiores. É comum encontrarmos na cápsula cística, a presença de calcificação distrófica, dentinoide, ilhotas de epitélio, cristais de colesterol e por vezes de pigmento melânico. Tratamento: Enucleação cirúrgica, sendo raras as recidivas. 8. CISTO ODONTOGÊNICO GLANDULAR É um tipo raro de cisto odontogênico de desenvolvimento que pode apresentar um comportamento agressivo. Embora seja aceito como sendo de origem odontogênica, ele também exibe características glandulares ou salivares que, presumidamente, são uma indicação da pluripotencialidade do epitélio odontogênico. Características Clínicas e Radiográficas: O cisto odontogênico glandular ocorre, mais comumente, em adultos de meia-idade, com uma média de idade de 46 a 51 anos no momento do diagnóstico; é raro acontecer antes dos 20 anos. Cerca de 75% dos casos relatados ocorreram na mandíbula. Este cisto possui uma forte predileção pela região anterior dos ossos gnáticos, e muitas lesões mandibulares atravessam a linha média. O tamanho do cisto pode variar desde uma pequena lesão, com menos de 1 cm de diâmetro, até grandes lesões destrutivas que podem envolver a maior parte da maxila ou da mandíbula. Pequenos cistos podem ser assintomáticos; entretanto, grandes cistos geralmente produzem expansão clínica que, às vezes, pode estar associada à dor e parestesia. 13 Propedêutica Cirúrgica II Radiograficamente, a lesão se apresenta como uma imagem radiolúcida unilocular ou multilocular. As margens da lesão radiolúcida normalmente são bem definidas, apresentando margem cortical. Características Histopatológicas: O cisto odontogênico glandular é revestido por epitélio pavimentoso de espessura variada. A interface entre o epitélio e a cápsula de tecido conjuntivo fibroso geralmente é achatada. A cápsula fibrosa do cisto costuma ser desprovida de qualquer infiltrado inflamatório. As células epiteliais superficiais que revestem a cavidade cística tendem a ser cúbicas a colunares, resultando em uma superfície irregular e, às vezes, papilar. Normalmente a camada superficial inclui a produção de mucina de células caliciformes, e por vezes com a presença de cílios. Outra característica encontrada são espaços glandulares, semelhantes a ductos no interior do revestimento epitelial. Esses espaços são organizados por células cuboidais e frequentemente contém fluido mucicarmina-positivos. Em áreas focais, as células do revestimento epitelial podem formar nódulos esféricos, similares aos encontrados nos cistos periodontais laterais. Tratamento e Prognóstico: A maioria dos casos de cisto odontogênico glandular tem sido tratada mediante enucleação e curetagem. Contudo, esse cisto mostra uma propensão para recidiva, o que se observa em cerca de 30% dos casos. As recidivas parecem ser mais comuns dentre as lesões que possuem aspecto multilocular. Devido a sua natureza potencialmente agressiva e tendência a recidivas, alguns autores preconizam o uso de ressecção em bloco, particularmente para lesões multiloculares. Marsupialização e descompressão podem ser realizadas em lesões extensas para promover a redução do tamanho da lesão antes da cirurgia de remoção. 9. CISTO ODONTOGÊNICO BOTRIÓIDE O cisto odontogênico botrioide é uma lesão rara caracterizada pelo aspecto multilocular típico semelhante a um cacho de uvas, com cavidades císticas de diferentes tamanhos, limitadas por finos septos de tecido conjuntivo contíguos à cápsula. A possibilidade de essa lesão representar uma variante clínica do cisto periodontal lateral é fonte de discussão, ocorre em pacientes mais velhos e apresenta proporções maiores que o CPL. A tendência de recorrência apresentada pela variante botrioide pode ser controlada por abordagens cirúrgicas complementares, como a osteotomia periférica e aplicação de Solução de Carnoy. O uso da solução de Carnoy (álcool absoluto, clorofórmio, ácido acético glacial e cloreto férrico) subsequente à enucleação cística é defendido para destruir os remanescentes epiteliais e da lâmina dentária com margem 14 Propedêutica Cirúrgica II óssea e, assim, prevenir recorrências.
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