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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Bioquímica Básica e Metabolismo Liberação de Energia pelos Macronutrientes Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Jefferson Comin Jonco Aquino Júnior Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Metabolismo, Calor e Energia; • Liberação de Energia pelos Carboidratos; • Liberação de Energia pelas Gorduras; • Liberação de Energia pelas Proteínas. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Conceituar metabolismo, calor, temperatura, caloria, energia (ATP) e macronutriente; • Entender as diferenças energéticas de cada macronutriente; • Identificar a importância de cada um dos macronutrientes; • Compreender como se dá a liberação de energia pelas proteínas, gordura e carboidratos. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Liberação de Energia pelos Macronutrientes UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Contextualização O que é energia e por que precisamos dela? Todos os seres vivos precisam de energia para sobreviver sejam eles animais ou plan- tas. No entanto, a forma de obtenção de energia pode variar entre essas duas classes. Por muito tempo, acreditou-se que a energia das plantas era obtida a partir dos nu- trientes do solo, mas hoje se sabe que a luz solar, o gás carbônicos (CO2) e a água (H2O) são essenciais para a produção de celulose e do amido, fontes de energia das plantas. Já nos animais, a maioria do estoque de energia se dá na forma de gordura, localizada principalmente no tecido adiposo, e há uma razão muito óbvia para isso que será discu- tida com detalhes no decorrer da unidade, mas já adiantamos que a gordura é a fonte de energia (também chamada de substrato energético) que mais gera energia por grama comparada a outros macronutrientes, e, afinal, nós (animais) precisamos nos locomover, o que tem um custo energético muito alto. Os macronutrientes são componentes fundamentais para a alimentação dos orga- nismos, sejam animais ou plantas. Trataremos aqui dos carboidratos, das proteínas e dos lipídios, que são os macronutrientes ingeridos pelos animais. Cada macronutriente possui funções específicas, no entanto todos podem ser fontes de energia. Veremos que a energia liberada de cada molécula de um macronutriente varia em relação a outro ma- cronutriente, assim como as formas de obtenção dessa energia e o processo pelo qual ela é gerada. Saber qual a melhor fonte de energia e como se dá sua liberação pode fazer toda a diferença no contexto de prescrição de exercício, dieta ou simplesmente numa compre- ensão mais aprofundada a respeito do nosso metabolismo energético. 6 7 Metabolismo, Calor e Energia Para compreender como se dá a liberação de energia pelos macronutrientes, é ne- cessário relembrar alguns conceitos importantes, como, por exemplo, o metabolismo. Trata-se, então, de todas as transformações/reações químicas que ocorrem em organis- mos vivos, podendo ser anabólicas ou catabólicas (Figura 1) e são sequenciais, ou seja, o produto de uma reação é utilizado como reagente na reação seguinte. Anabolismo · Construção e moléculas mais complexas a partir de moléculas simples · Consome energia/ATP Catabolismo · Divisão/quebra de moléculas mais complexas em simples · Libera energia/ATP Figura 1 – Divisões de Metabolismo Todas as reações químicas necessitam de enzimas, pois são elas que aceleram (catali- sam) essas reações. No caso do metabolismo, as coenzimas (enzimas que requerem um fator adicional, sendo este cofator necessário para ação enzimática, porém, não ligados a ela permanentemente) compartilham elétrons e ajudam a criar um fluxo de elétrons que vamos ver que é extremamente importante para gerar energia para o organismo. Outro fato importante é que as coenzimas não se tornam partes integrantes da reação enzimática, ou seja, ao final da reação, e a coenzima retorna à livre circulação dentro da célula até que seja usada novamente (VOET, 2000). Uma característica comum entre os macronutrientes está na presença do carbono (C), uma molécula versátil capaz de compartilhar ligações químicas. Ligações entre carbonos e hidrogênios (H) podem formar as gorduras e os carboidratos, já as proteínas, formadas por vários aminoácidos, levam em sua estrutura uma molécula de nitrogênio (N) (Figura 2). A união desses elementos se dá por uma ligação química, que, por sua vez, envolve o compartilhamento de elétrons entre os átomos. Existe então uma força de atração en- tre as cargas negativas e positivas que é comparada a um “cimento químico”, capaz de manter a união entre átomos e moléculas. Uma vez que haja qualquer alteração dessas forças, seja pela remoção, transferência, ou troca de elétrons, ocorre liberação de ener- gia, parte da qual alimenta as funções celulares. Todo e qualquer processo metabólico gera calor, sendo a caloria a unidade básica da mensuração do calor, e a calorimetria o termo que conceitua a medida da transfe- rência de calor. É muito comum nos preocuparmos com a quantidade de calorias que ingerimos, olhando os rótulos e contando as calorias totais diárias. Mas o que seria uma caloria em termos de energia proveniente do alimento? H3N C R H COO– + Fi gura 2 – Estrutura básica de uma proteína 7 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Por definição, a caloria expressa a quantidade de calor necessária para elevar em 1ºC a temperatura de 1Kg (ou 1litro) de água, e por esse motivo leva o nome de quilocaloria (Kcal). Porém, os conceitos de calor e de temperatura são diferentes, sendo a temperatura uma unidade que se refere à quentura ou frieza, e é medida em graus Celsius, por exemplo, enquanto calor se trata de troca de energia entre dois corpos ou sistema (lembre-se de que todo processo metabólico gera calor). Com ajuda de um calorímetro, é possível avaliar o calor liberado durante a oxidação de um alimento, ou seja, o seu valor energético. Cada macronutriente tem um calor de combustão diferente, o que faz com que cada um contenha uma quantidade diferente de quilocalorias por grama. Agora que sabemos qual a origem da energia para o funcionamento dos órgãos e sistemas, assim como para a realização do movimento no caso dos animais, é importante estabelecer em que consiste essa energia. Como o organismo extrai a energia dos alimentos? Primeiramente, ocorre a digestão e absorção de alimentos, em seguida uma oxidação biológica dos nutrientes, e, por fim, a obtenção de ATP por óxido-redução, ou seja, por troca de elétrons. A oxidação ocorre quando o elemento perde elétrons, já a redução ocorre quando o elemento ganha elétrons. Fig ura 3 – Estrutura da adenosina trifosfato Reações endergônicas (anabolismo) = que absorvem energia para manter o funcionamento celular, produzindo novos componentes Reações exergônicas (catabolismo) = liberam energia para o trabalho celular utilizando nutrientes Fig ura 4 8 9 Independente da fonte (macronutriente), existe apenas uma ÚNICAforma pela qual os animais podem armazenar/liberar a energia química produzida, e a ela damos o nome de ATP (A=adenosina T=tri P=phosphato). ATP é uma molécula composta de uma adenosina, ligada a três moléculas de fosfato em cadeia, e a energia está entre as ligações dos fosfatos, uma vez que sua hidrólise é altamente exergônica (Figura 3). Isso quer dizer que, ao sofrer o processo de hidrólise (quebra por ação da água), essa molécula libera grande quantidade de energia livre. A energia do ATP é gasta nos diversos processos endergônicos, ou de gasto energético, necessários para a manutenção do sistema biológico e homeostase metabólica. A energia obtida é utilizada e precisa ser reposta incessantemente, o que obriga o organismo humano a rebalancear as suas reservas, com o consumo de mais alimento. Liberação de Energia pelos Carboidratos Ao ingerir um carboidrato durante uma refeição, é preciso que ele seja quebrado a uma molécula simples (glicose C6H12O6) para que possa ser usado como substrato e, então, gerar ATP. No entanto, o carboidrato que ingerimos é composto por moléculas muito maiores do que a glicose sendo necessário reduzi-lo em partes menores. Existe uma classificação para os carboidratos de acordo com o número de moléculas de glicose. A nomenclatura pode ser encontrada na Tabela 1. Tab ela 1 – Tipos de Carboidratos Tipo de carboidrato Componentes Fontes Alimentares Monossacarídicos Glicose “açúcar” do corpor, hidrólise da sacarose, lactose e maltose Frutose Frutas, sucos e mel Galactose Leite e derivados Dissacarídios Sacarose Açúcar refinado, açúcar mascavo, mel Lactose Leite e derivados Maltose Beterraba, cereais e sementes Oligossacarídios Maltodextrina Derivados do milho e da mandioca Fruto-oligossacarídios, rafinose e estaqiose Feijão, grão de bico, ervilha, lentilha Polissacarídios Amido Milho, cereais, pães, massas, batata, feijão, ervilha e razes Não-amido (fibras) Verduras, frutas, legumes, cereais integrais A digestão dos carboidratos se inicia na mastigação, pois a nossa saliva contém enzimas que são capazes de realizar a quebra de ligações entre as moléculas de glicose do amido e as hidrolisa até maltose e oligossacarídeos (Tabela 1). Uma vez no intestino delgado, a en- zimas maltase, sacarase, lactase e isomaltase atuam até obtermos os seguintes monossa- carídeos: glicose, frutose e galactose, que são absorvidos pelo enterócito (células do intes- tino delgado e grosso responsáveis pela absorção de nutrientes provenientes da digestão). Após a absorção, as moléculas de glicose são transportadas pela corrente sanguínea para os órgãos para ser utilizada ou armazenada. Apenas dois órgãos são capazes de armazenar glicose, no entanto, para ser armazenada, é necessário que a glicose esteja 9 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes na forma de polissacarídeo, ou seja, várias moléculas de glicose formando apenas um composto, o qual se dá o nome de glicogênio. O fígado e o tecido muscular são os responsáveis por estocar glicogênio nos animais. Mas a pergunta que fica é: quando a glicose é estocada, quando é utilizada, e quem regula tudo isso? Você deve estar se perguntando se a glicose e o açúcar que coloca no seu café são o mes- mo. Então aqui vai uma explicação: o açúcar nada mais é do que carboidratos cristalizados comestíveis, em especial, sacarose, lactose e frutose (monossacarídeos e oligossacaríde- os pequenos) que passaram por um processo industrial, e, por sua característica de sa- bor adocicado, são muito utilizados no preparo de doces em geral (quem não gosta de um brigadeiro?). Mas, se você quiser aprender um pouco mais sobre a história e os malefícios do consumo exagerado dos açúcares, aqui vai uma dica legal: https://goo.gl/mWsCFT Existem alguns fatores que regulam a taxa e a quantidade de degradação do glicogê- nio e também da sua síntese (ou criação de novas moléculas). O glicogênio muscular é principal fonte de energia proveniente de carboidratos para os músculos durante uma atividade física, já o glicogênio hepático é convertido (quebrado) novamente em glicose (por uma enzima) para ser transportada para o sangue até os músculos em atividade, caso haja necessidade de mais glicose para os músculos. A esse processo de quebra do glicogênio para glicose dá-se o nome de glicogenólise – glicogênio + lise (quebra) – sen- do uma maneira de fornecimento rápido de glicose para o músculo. Os valores basais recomendados de glicemia em jejum estão entre 80- 99mg/dL, po- rém, após uma refeição, esses valores podem chegar, em média, a 140mg/dL. Uma vez que os níveis de glicose no sangue estão muito elevados, o pâncreas secreta um hormônio chamado insulina, responsável por fazer com que o músculo esquelético (sempre na forma de glicogênio) e o tecido adiposo captem essa glicose e armazenem. É importante lembrar que, no tecido adiposo, a única forma de estoque de energia é na forma de triacilglicerol, ou seja, a insulina aumenta tanto o transporte quanto o metabolismo da glicose nos adi- pócitos, fornecendo o substrato glicerol-3-fosfato para a síntese de triacilglirecol. Vamos abordar o tecido adiposo com mais detalhes no tópico de gorduras e lipídios. De forma contrária, o glucagon é o hormônio responsável pela quebra do glico- gênio e liberação de glicose, quando os níveis de glicose estão baixos na circulação sanguínea (hipoglicemia). Leitura complementar sobre ação da insulina: Vias de Sinalização da Insulina disponí- vel em: https://goo.gl/X7BtMf e Transportadores de glicose, disponível em: https://goo.gl/NKmoER Nomenclatura das conversões de carboidratos • Glicogênese: síntese de glicogênio a partir da glicose (glicose → glicogênio); • Gliconeogênese: síntese de glicose a partir de componentes estruturais de nutrien- tes não carboidratos (exemplo: proteína → glicose); • Glicogenólise: formação de glicose a partir do glicogênio (glicogênio → glicose). 10 11 O nosso corpo armazena pouco glicogênio (quando comparado aos estoques de gordura que vamos ver em breve), de modo que a dieta afeta intensamente a quantida- de disponível. Sendo assim, se ficarmos em jejum por aproximadamente 16 horas, as nossas reservas de glicogênio serão reduzidas consideravelmente, ou, se nos alimen- tarmos com uma dieta rica em carboidratos, as reservas podem chegar até quase duas vezes mais do que uma dieta balanceada. Os carboidratos ainda são imprescindíveis para o funcionamento do nosso sistema nervoso central, pois o principal combustível para o cérebro é a glicose. Enquanto você lia este parágrafo, o seus neurônios consu- miram em média 84mg de glicose. E se, por ventura, faltar glicose, eles vão ativar o modo alerta (irritabilidade, ansiedade, suor, tontura, sonolência, confusão, fraqueza), e se, mesmo assim, você não se alimentar, podem ocorrer convulsões, desmaios/coma, ou até mesmo morte neuronal. Mas, calma, a segunda opção no cardápio do cérebro são os corpos cetônicos. As vias metabólicas pelas quais os carboidratos podem gerar ATP são: glicólise anae- róbia e aeróbia – ou oxidativas, pois depende da presença de oxigênio (O2). A primeira tem um saldo positivo de apenas 2 ATPs, enquanto a segunda tem saldo médio de 30 ATPs. Vamos focar na via oxidativa, pois ela é composta por três fases, e a primeira delas é a glicólise anaeróbia, então ficará mais fácil para entender. De modo geral, as fases da glicólise aeróbia são: 1) glicólise anaeróbia; 2) ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico e 3) respiração celular. P P P P P P Glicose Ácido Pirúvico 2 ATP 2 ADP 2 ATP2 ADP 2 ATP2 ADP P P NAD+ NADH NAD+ NADH Figura 5 – Glicólise anaeróbia • Fase 1: Glicólise anaeróbia Ocorre no citosol e consiste em 2 etapas, na primeira, há um gasto de dois ATPs, no entanto, a segunda fase gera 4 ATPs e 2 NADH (NAD+ + H+) – aquela coenzima que transporta elétrons, lembra? – resultando num saldo positivo de 2 ATPs, 2 NADH e 2 pi- ruvatos ou ácido pirúvico (C3H4O3) que farão parte dapróxima fase, o ciclo de Krebs. Não podemos deixar de comentar que nem sempre o piruvato vai para o ciclo de Krebs. Existem outros destinos catabólicos para ele no caso de ausência de oxigênio, como, por exemplo, a formação do lactato pela fermentação. Agora vamos voltar ao ciclo de Krebs e à presença de oxigênio. 11 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes • Fase 2: Ciclo de Krebs Ocorre na mitocôndria, dessa forma, os piruvatos gerados na glicólise anaeróbia precisam primeiramente adentrar a mitocôndria para dar início ao ciclo. Inicialmente, os piruvatos vão sofrer uma descarboxilação (perda de CO2) e, posteriormente, por ação da Coenzima A, irão se formar 2 AcetilCoA e 2 NADH (Figura 6). Agora sim, tudo pronto para o início do ciclo! No interior da matriz mitocondrial, é preciso que a acetilCoA se ligue a um composto chamado de ácido oxalacético – exatamente por isso que se trata de um ciclo, pois o próximo ácido oxalacético formado será usado na próxima reação, com o próximo acetilCoA –, formando o ácido cítrico (que também explica o nome ciclo do ácido cítri- co) (Figura 7). Sabemos que são muitos nomes, muitas reações, muitas enzimas, mas não se preocupe, pois o que realmente nos importa saber sobre o ciclo de Krebs neste momento é o seu saldo de ATPs e coenzimas carreadoras de elétrons (NELSON, 2011). CH3 COO – C O Piruvato Acetil-CoA CoA NAD+ NADH CO2 CoA Figura 6 – Piruvato é descarboxilado e forma o acetilCoA Figura 7 – O ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico Em um ciclo de Krebs, existem oito reações das quais quatro ocorrem oxidações e consequentemente a liberação de energia (Figura 6). O saldo de cada ciclo é 1 ATP + 1 FADH + 3 NADH por acetilCoA, ou seja, uma moléula de glicose gera 2 piruva- tos, consequentemente 2 acetilCoA e, portanto, 2 ciclos. E agora você deve estar se 12 13 perguntando se tudo isso é realmente uma perda de tempo (e de substrato) para gerar apenas 2 ATPs por molécula de glicose. Você teria toda razão se não fosse a terceira e última fase (cadeia respiratória), na qual todos estes elétrons H+ que estão sendo carrea- dos por coenzimas (NAD e FAD) também vão se tornar ATPs. Outro destino (talvez até mais feliz) do piruvato é a fermentação alcoólica por leveduras, o fa- moso processo de fabricação das cervejas. Após a cevada sofrer o processo de maltagem (que significa que agora, ao invés de polissacarídeos, temos açúcares simples) as leveduras vão metabolizar esses açúcares aerobicamente e produzir CO2 e H2O, e, a partir do momento em que o oxigênio for totalmente consumido, elas passam então a fermentar e produzir o etanol. • 3 Fase: Cadeia transportadora de elétrons ou cadeira respiratória Você já parou para se perguntar por que motivo a mitocôndria tem uma membrana interna com cristas? Pois bem, é justamente na membrana interna que está localizada a cadeia transportadora de elétrons, e as cristas fazem com que a superfície dessa mem- brana seja ainda mais extensa. A membrana mitocondrial externa é facilmente perme- ável, pois contém porinas. Já a membrana interna é impermeável à maioria das molé- culas pequenas e íons, incluindo elétrons (H+), então são necessários transportadores de elétrons para que haja essa troca para o espaço intermembranas. A membrana interna contém os componentes da cadeia respiratória e a ATP sintase. Fazem parte desses componentes os complexos proteicos denominados: Complexo I - NADH Desidrogenase; Complexo II - Succinato Desidrogenase; Complexo III - Cito- cromo bc1; Complexo IV - Citocromo Oxidase ou NADH Desidrogenases; Complexo V - ATP sintase e a Proteína Desacopladora de Elétrons (UCP) e as proteínas móveis Ubiquinona (UQ) e Citocromo c (Cit. c) (link a seguir). Para que se dê início à cadeia respiratória, as moléculas de NADH, FADH2 mito- condriais (provenientes do ciclo de Krebs), e NADH (proveniente da glicólise na fase 1) e NAD(P)H (proveniente da via das pentoses) citoplasmáticos são oxidados (doam seus elétrons). O transporte de elétrons através dos complexos acumulam prótons no espaço intermembrana e, com a diferença criada no gradiente de concentração entre as mem- branas, ocorre a síntese do ATP por meio da ATPsintase. A ATP sintase funciona como um motor rotativo, que se movimenta a partir da diferença na concentração de elétrons H+. À medida que a ATPsintase gira os seus compartimentos, ou subunidades se abrem e permitem a entrada de um ADP e assim transfere a energia mecânica da rotação em energia química com a formação de moléculas de ATP. Cadeia Respiratória, dispopnível em: https://youtu.be/GoCW6UopwtY O último estágio do metabolismo produtor de energia nos organismos aeróbicos é a cadeira respiratória. A degradação dos carboidratos, gorduras e aminoácidos convergem para esse estágio final da respiração celular na qual a energia proveniente da oxidação é responsável pela síntese de ATP. A fosforilação oxidativa envolve a redução do O2 a H2O com elétrons doados pelo NADH e FADH2. 13 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Figura 8 – Cadeira respiratória Dessa forma, quando pensamos em um saldo final (considerando as 3 fases) de ATPs gerados a partir de uma molécula de glicose, nós temos: • 2 NADH da glicólise; • 2 NADH da descarboxilação oxidativa do piruvato; • 6 NADH do ciclo do ácido cítrico; • 2 FADH2 do ciclo do ácido cítrico. 10 NADH x 2,5 = 25 ATP (cadeia respiratória) + 2 FADH2 x 1,5 = 3 ATP (cadeia respiratória) + 2 ATP da glicólise + 2 ATP do ciclo do ácido cítrico TOTAL: 32 ATPs (Figura 8) Saldo de ATPs a partir de uma molécula de glicose, disponível em: https://goo.gl/Aoppfc Gliconeogênese Nem sempre moléculas de glicose estarão disponíveis de maneira suficiente para obtenção de energia, por isso talvez seja necessário sintetizar precursores para esse fim que não sejam carboidratos. Em mamíferos, esse fenômeno ocorre principalmente no fígado, mas também pode acontecer em outros órgãos como no córtex renal. 14 15 Podemos citar aqui como exemplo o lactato gerado a partir da glicólise anaeróbia no tecido muscular em decorrência do exercício físico de alta intensidade. Nesse caso, o lac- tato muscular será transportado até o fígado, onde será convertido à glicose novamente, e retorna ao tecido muscular onde será armazenado (sempre na forma de glicogênio). Apesar de muito parecidas, as vias da glicólise e da gliconeogênese têm a capacidade de se autorregularem, o que é essencial para que não haja desperdício de energia. A gliconeogênese é muito mais dispendiosa para o organismo comparada à glicólise, e por esse motivo ela só é utilizada na falta de glicose como substrato. Lembre-se de que o sistema nervoso central utiliza predominantemente a glicose como substrato, pois essa via pode salvar o nosso cérebro em momentos de jejum (ou de ressaca). Mamíferos não são capazes de converter ácidos graxos (gorduras) em glicose, pois não há como utilizar o acetil-CoA (produto da quebra de ácidos graxos) como precursor de glicose (as plantas conseguem). Porém, nós somos capazes de utilizar o glicerol (ve- remos em breve que ele é originado na hidrólise do triacilglicerol) como substrato para a gliconeogênese. Ufa! Alimento para o cérebro! Via das Pentoses Outra via alternativa que pode ocorrer durante a glicólise é a via das pentoses, que dá um destino diferente à glicose-6-fosfato (G6P). No caso dessa via, o aceptor de elétrons não é o NAD+ e sim o NADP+. A diferença entre eles está na capacidade de manter o ambiente redutor e evitar/recuperar o dano oxidativo, no qual alguns tecidos estão mais expostos do que outros à formação de radicais livres (córnea, cristalino, eritrócitos, entre outros). Dessa forma, o fator que controla o uso da G6P na via glicolítica ou na via das pentoses é a concentração de NADP+ naquele tecido. Essa via também colabora para a formação de ácidos nucleicos que compõem coenzimas como NADH, FADH e coenzima A. Liberação de Energia pelasGorduras As gorduras são a principal fonte de energia celular, pois cada molécula carrega uma quantidade grande de energia por unidade de peso. As gorduras também são transportadas e armazenadas facilmente e estão disponíveis de forma imediata para a produção de ATP. Em indivíduos com uma dieta balanceada e em situação de repouso, a gordura fornece entre 80 e 90% das necessidades energéticas, especialmente para tecidos como o coração. Um grama de gordura contém cerca de 9 kcal (38 kJ) de energia, mais do que duas vezes a energia disponível em uma quantidade igual de carboidratos ou proteínas (4Kcal em média cada). Mas por que essa diferença? Os ácidos graxos podem ter de quatro até 36 carbonos (mais detalhes na Unidade de Bioquímica estrutural), ou seja, a oxidação de ácidos graxos de cadeia longa (mais de carbonos) pode ser uma boa pedida na geração de energia, uma vez que, além dos elétrons obtidos durante a oxidação serem destinados a cadeia respiratória, o produto final (acetilCoA) também participa do ciclo de Krebs. 15 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes A forma como o nosso corpo armazena os ácidos graxos é o triacilglicerol, formado por três ácidos graxos e um glicerol, podendo ser saturados ou insaturados (contendo dupla ligação entre os carbonos) (Figura 9). Um fato interessante é que, para a síntese de uma molécula de triacilglicerol, são formadas três moléculas de água que não são armazenadas juntamente com o triacilglicerol, mas sim liberadas. Ao contrário, cerca de 2,7 g de água são necessárias para produzir um grama de glicogênio. Ou seja, enquanto a gordura existe como fonte energética relativamente livre de água, o glicogênio se torna hidratado e, portanto, é “pesado” (devido à quantidade de água) em relação a seu teor energético (MAUGHAN e GLEESON, 2000.). Colesterol Diagrama (simpli�cado) O H CH3 CH3 CH3 CH 3 CH 3 Glicerol CH3 CH CH3 OH OH OH Ácido Graxo Saturado O HO Insaturado O HO ligação dupla Triglicerídeos Saturado CH3 CH CH3 O O O O O O Glicerol + 3 ácidos graxos Monoinsaturado CH3 CH CH3 O O O O O O PoliinsaturadoCH3 CH CH3 O O O O O O Diagrama (simpli�cado) Figura 9 – Moléculas de colesterol, glicerol, ácido graxo e triacilglicerol Em média, aproximadamente 15% da massa corporal de homens e 25% da massa corporal de mulheres são compostas por gordura. Se transformarmos essa quantidade em ener- gia potencial armazenada (tecido adiposo, triacilglicerol intramuscular e uma pequena quantidade plasmática de ácidos graxos livres) de um adulto jovem do sexo masculino de 80 kg, ela será de cerca de 110.700 kcal (12.300 g de gordura corporal × 9 kcal/g). Se considerarmos, por exemplo, que, para correr 1,6 km, utiliza-se 100 Kcal, esse indivíduo teria energia suficiente para correr aproximadamente 1.528 km. Ainda, se fizermos um comparativo com a reserva energética em glicogênio, seria possível correr apenas 32 km. Além disso, assim como a ingestão e utilização de carboidratos, a gordura também é uma forma de evitar a proteólise (melhor explicada adiante), evitando qualquer prejuízo na síntese, ou reparo tecidual, função das proteínas e aminoácidos. Oxidação dos ácidos graxos Primeiramente, os ácidos graxos que serão utilizados como fonte de energia podem ter três origens diferentes: dieta, armazenados nos adipócitos (células do tecido adiposo), ou sintetizados em algum órgão. O número de carbonos pode variar bastante, então, inicialmente, vamos falar dos ácidos graxos com números pares de carbono. 16 17 Aqueles com menos de 12 carbonos têm a capacidade de entrar livremente pela mi- tocôndria (onde irá ocorrer a oxidação), já aqueles com 14 ou mais carbonos precisam de um transporte específico e passam por algumas reações. A primeira dela é a esterifi- cação do ácido graxo em acilCoA graxo. AG + CoA + ATP ↔ acil CoA graxo + AMP + PPi A segunda consiste na transesterificação com a carnitina para o transporte pelas membranas externa e interna, e, por último, outra transesterificação de volta ao acilCoA graxo (link a seguir). Transporte de ácidos graxos pela membrana da mitocôndria, disponpivel: https://goo.gl/WmH6Fo A primeira etapa da oxidação dos ácidos graxos é a β-oxidação (que leva esse nome por ter início no carbono três ou carbono beta). Neste estágio, ocorre a remoção oxi- dativa de duas unidades de carbono sucessivamente, por exemplo, o ácido palmítico, que contém 16 carbonos gera oito acetilCoA (a mesma da glicólise). Na segunda eta- pa, a acetilCoA é oxidada no ciclo de Krebs, e, por fim (e mais uma vez), a cadeia de transporte de elétrons na membrana interna da matriz mitocondrial (Figura 10). Existem também ácidos graxos que possuem insaturações (duplas ligações) e eles requerem uma etapa adicional que conta com a ajuda de uma enzima iso- merase para reposicionar a dupla ligação e prosseguir para a β-oxidação. Outra adaptação precisa ser feita na oxidação dos ácidos graxos com número ímpar de carbonos. Embora a maioria deles contenha números pares de carbonos, naqueles com número ímpar, o substra- to da última passagem pela β-oxidação são dois acetilCoA e um propionilCoA que entra em uma via diferente para a formação do succinilCoA e que por sua vez, pode entrar no ciclo de Krebs. A β-oxidação também pode ocorrer, em casos especiais, nos peroxissomos – organelas presentes no citoplasma que contêm enzimas oxidases que oxidam (claro!) ácidos graxos por exemplo. Isso se dá em situações onde o ácido graxo possui uma cadeia muito longa de carbo- nos (MARZZOCO, 1999). Figura 10 – O xidação de ácidos graxos 17 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Corpos Cetônicos O acetil-CoA pode seguir uma via diferente da via do ciclo de Krebs, ele também pode dar origem a corpos cetônicos (acetona, acetoacetato e o β-hidroxibutirato). A pro- dução dos corpos cetônicos se dá no fígado, sendo a acetona produzida em menor quan- tidade e muito volátil, então é perdida/exalada muito rapidamente e o acetoacetato e o β-hidroxibutirato são transportados pelo sangue até tecidos extra-hepáticos onde podem ser utilizados como energia. O mau hálito do jejum vem da acetona Na verdade, aquele cheirinho ruim que exala da boca quando estamos de estômago vazio não vem do estômago, e sim do metabolismo de gordura. Assim que os níveis de glicose se reduzem e não há mais glicogênio para ser quebrado, é hora de o corpo começar a queimar lipídios no processo chamado cetose, gerando, assim, os corpos cetônicos (dentre eles a acetona, aquela com um cheiro bem característico. Eca!). Pois bem, apesar de uma parte dela ser liberada pela urina, sua volatilidade permite que ela seja excretada também pela respiração. Resultado: aquele hálito azedo de quem acaba de acordar com muita fome. Fonte: https://goo.gl/9aKqF6 Liberação de Energia pelas Proteínas Estruturalmente, as proteínas são similares aos carboidratos e aos lipídios porque elas também contêm átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, todavia, as moléculas de proteína também contêm nitrogênio, entre outros elementos. As proteínas são formadas por conjuntos de aminoácidos unidos por li- gações peptídicas (Figura 11). No nosso cor- po, existem em média 50.000 compostos proteicos diferentes e suas funções variam de acordo com a sequência de aminoácidos presentes nela. As proteínas desempenham quatro fun- ções importantes, tais como função estrutu- ral, hormonal, anticorpos (imunidade) e en- zimática, ou seja, proporcionar energia não está dentre as principais funções das proteí- nas, porém, ela também pode ser cataboliza- da e utilizada para esse fim. Dinâmica do metabolismo das proteínas Em situações de homeostase energética e repouso, apenas 2 a 5% da energia gasta é originada da degradação de proteínas. Todavia, se houver necessidade, a proteína pri- meiramente é degradada em seus componentes aminoácidos para, então, o aminoácido perder o seu nitrogênio no fígado peloprocesso de desaminação. Situações em que os aminoácidos são oxidados: NH2 HCR1 COOH + NH2 HCR2 COOH 1 2 H2O H2O NH2 CR1 H C O N H C HR2 COOHLigação peptídica H H O R2 O C H H C O H N C C N H R1 Ligação peptídica Figura 11 – Li gações peptídicas 18 19 • Renovação de proteínas presente nos tecidos: Todos os dias, proteínas são de- gradadas e novas proteínas precisam ser sintetizadas. No entanto, muitos aminoáci- dos que não são disponibilizados para a síntese também podem sofrer degradação. • Excesso de ingestão de proteínas: Os aminoácidos não podem ser armazenados para quando houver necessidade. Se o aminoácido não for direcionado para síntese de proteínas, apenas o produto da sua degradação será utilizado como fonte de energia. • Jejum prolongado ou diabetes descontrolado: Ocorre quando o organismo não tem material energético suficiente para fonte de energia, então utiliza aminoácidos para esse fim. A primeira reação na oxidação dos aminoácidos se trata da separação da cadeia car- bonada (α-cetoácidos) e do agrupamento amino (NH3) (dá origem a amônia pelo ciclo da ureia). É importante lembrar que todos os tecidos fazem esse tipo de oxidação, porém, somente no fígado a cadeia carbonada será degradada para fonte energética (glicose e/ ou corpos cetônicos) e amônia em ureia. Similarmente aos carboidratos e às gorduras, as vias de degradação dos aminoáci- dos convergem com o ciclo de Krebs e a respiração celular. Porém, uma característica muito importante desse grupo de macronutrientes é a separação do grupo amino que será disponibilizado para vias mais específicas. Existem três grupos de aminoácidos que pode ser degradados: 1) aqueles que têm a glicose como produto final, ou aminoácidos glicogênicos, foram intermediários do ciclo de Krebs → oxalacetato → glicose; 2) os que formam corpos cetônicos por meio do acetilCoA – ou aminoácidos cetogênicos e 3) os aminoácidos que podem formar ambos glicose ou corpos cetônicos, são eles: alanina, cisteína, triptofano, glicina, serina e treonina → piruvato (Figura 12). Ciclo do ácido cítrico Isocitrato Citrato Oxaloacetato -Cetoglutarato Succinil-CoA Fumarato MalatoMalato SuccinatoSuccinato Corpos cetônicos Glucose CO2 Leucina Lisina Fenilalanina Triptofano Tirosina Acetoacetil-CoA Acetil-CoA Isoleucina Leucina Treonina Triptofano Piruvato Asparagina Aspartato Alanina Cisteína Glicina Serina Treonina Triptofano Glutamato Arginina Glutamina Histidina Prolina Isoleucina Metionina Treonina Valina Fenilalanina Tirosina Glicogênicos Cetogênicos Figura 12 – Agr upamento de aminoácidos de acordo com o seu produto fi nal de degradação Fonte: Lehninger, 2012 19 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Seja qual for a situação acima, o aminoácido irá perder o seu grupo amino para formar α-cetoácidos, também conhecidos como esqueletos de carbono. Esse processo origina também a ureia (H2NCONH2), que é posteriormente secretada pelos rins e pode seguir uma de três rotas: a) síntese de um novo aminoácido; b) conversão em carboidrato ou gordura, ou c) catabolismo direto para a formação de energia. A ureia formada na desaminação (inclusive alguma amônia) é excretada na urina. O catabolismo proteico excessivo promove perda de líquidos, porque a ureia deve ser dissolvida em água para ser excretada. Além de ureia, a amônia também pode ser convertida em ácido úrico. Independentemente se proveniente da dieta ou da biossíntese pelo próprio organis- mo, os destinos da amônia e dos esqueletos de carbono podem acabar se interconectan- do em alguns pontos específicos. E, apesar de o ciclo da ureia ocorrer no interior da mi- tocôndria hepática, o fumarato (um dos intermediários) sai da mitocôndria, é convertido a malato, retorna à mitocôndria para ser utilizado no ciclo de Krebs. E qual a vantagem disso tudo? Uma vez que o malato retorna à mitocôndria, um NADH é gerado pela ação da malato desidrogenase, o que acaba reduzindo o custo energético do ciclo da ureia (Figura 13). Não é demais?! Proteínas intracelulares NH+4 Amino- ácidos Proteínas da dieta Carbamoil- -fosfato Biossíntese de aminoácidos, nucleotídeos e aminas biolígicas Esqueletos de carbono -Cetoácidos Glicose (sintetizada na gliconeogênese) OxaloacetatoUreia (produto de excreção do nitrogênio) CO2 + H2O + ATP Ciclo de ureia Circuito do as- partato-argini- no-succinato do ciclo do ácido cítrico Ciclo do ácido cítrico Figura 13 – Dest inos dos aminoácidos no metabolismo Fonte: Lehninger, 2012 20 21 Voltando à parte de metabolismo, alguns aminoácidos são considerados centrais para o metabolismo no nitrogênio, pois eles são mais facilmente convertidos em intermediários do ciclo de Krebs. São eles: glutamina e glutamato, que atuam na síntese do α-cetoglutarato; a alanina que atua na síntese do piruvato e o aspartato atuante na síntese do oxalacetato. Alguns deles (glutamina e alanina) ainda atuam como transportadores de amônia, pois ela é tóxica e não pode estar em altas concentrações na corrente sanguínea. Uma das maneiras de transporte é pelo glutamato que se une à amônia e forma a glutamina. A glutamina que excede às necessidades biossintéticas é transportada às mitocôndrias do intestino, fígado e rins, onde é degradado novamente à amônia e glu- tamato pela enzima glutaminase. A alanina é outro aminoácido que transporta o gluta- mato (originado da degradação proteica no tecido muscular) juntamente com a amônia para o fígado, onde, por transferência de seu α-amino ao piruvato, é capaz de gerar α-cetoglutarato (intermediário do ciclo de Krebs). Como o fígado é uma fonte de glicose, a partir da glicogenólise, damos o nome desse ciclo de glicose-alanina (link a seguir). Ciclo glicose-alanina, disponível em: https://goo.gl/W1VxPs Após a desaminação, os esqueletos de carbono restantes dos α-cetoácidos seguem uma das três seguintes rotas bioquímicas: a) Gliconeogênese – aminoácidos agem como fonte de síntese de glicose; b) Fonte de energia – os esqueletos de carbono são oxidados para a geração de energia porque eles formam intermediários do metabolismo do ciclo de Krebs, ou c) Síntese de gordura – todos os aminoácidos fornecem uma fonte poten- cial de acetil-CoA, que serve como substrato para a síntese de ácidos graxos. Balanço nitrogenado O balanço nitrogenado se refere ao equilíbrio na ingestão de nitrogênio a partir das proteínas e à sua excreção. Um balanço nitrogenado positivo indica que a ingestão de nitrogênio está acima de sua excreção, com o principal objetivo de síntese proteica. Ocorre, por exemplo, em crianças em fase de crescimento, durante a gestação, durante a recuperação de algumas doenças e durante o treinamento com exercícios de resistên- cia, em que as células musculares sobrecarregadas promovem a síntese de proteínas. O nosso corpo não é capaz de promover uma reserva de proteínas como faz com os depósitos de carboidratos na forma de glicogênio (hepático e muscular) ou de gordura no tecido adiposo (isso significa que você não precisa gastar muito com Whey Protein®). Por outro lado, quando a excreção de nitrogênio excede a ingestão (balanço nitroge- nado negativo), isso é indicativo de que a proteína está sendo utilizada para gerar energia e que possivelmente as reservas de aminoácido estão baixas, sendo o músculo esque- lético o principal tecido afetado por este excesso de degradação proteica. Os lipídios e os carboidratos provenientes da dieta são extremamente importantes no sentido de poupar o uso de proteínas como fonte energética. O jejum prolongado, dietas restritivas, ou dietas com baixa ingestão de carboidratos e/ou lipídios produz os maiores balanços nitrogenados negativos, depletam as reservas de glicogênio, o que pode provocar uma deficiência proteica com uma perda concomitante de massa magra e também de água. 21 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Por que dietas low-carb (baixo consumo de carboidrato) são eficientespara perda de peso rápido? Como já foi explicado aqui na unidade, os carboidratos são armazenados no nosso corpo (no músculo e no fígado) na forma de glicogênio, e reduzir a ingestão de carboidratos resulta em um menor acúmulo de glicogênio. Cada grama de glicogênio é capaz de intera- gir com 2-4 gramas de água, portanto, se um indivíduo consumir menos carboidrato, ele acumulará menos glicogênio e menos água, então seu peso corporal também será redu- zido. Um estudo recente verificou que homens obesos, submetidos a uma dieta low-carb reduziram 2kg de peso corporal, no entanto, apenas 0.3kg foram gordura; os outros 1.7kg foram resultados de perda de água. Além disso, nos primeiros 11 dias de dieta, houve um aumento significativo na utilização de proteína para produção de energia (proteólise) sem grandes alterações no metabolismo de lipídios. Ou seja, dietas low-carb parecem eficien- tes para perda de peso de maneira rápida (peso, e não gordura), então é melhor pensar bem qual o objetivo da dieta antes de arriscar deixar seu cérebro passando fome (já que ele prefere glicose) e perder massa magra só para ter um resultado fake na balança. Apesar de funções fundamentais bem distintas, todos os macronutrientes podem ser de- gradados com o objetivo de gerar energia. Alguns têm capacidade de gerar mais energia, como as gorduras (9 Kcal por grama), outros menos. Porém, mais do que esse objetivo, as vias utilizadas para esse fim tem início distinto, no entanto, convergem para pontos comuns no metabolismo. É o caso do ciclo de Krebs e da cadeia respiratória iniciados pela AcetilCoA. Mais ainda, o que faz de cada via estudada neste capítulo importante é o fato de que, além de gerar energia, elas são minuciosamente decididas de acordo com a necessi- dade metabólica daquele momento, para que seus intermediários e substratos sejam utili- zados ou reaproveitados e o mais incrível de tudo: poupando o máximo possível o gasto de ATP. Vias c atabólicas dos macronutrientes, disponível em: https://goo.gl/XANX4v). 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Cadeia Respiratória https://youtu.be/GoCW6UopwtY Leitura O livro negro do açúcar Aprender um pouco mais sobre a história e os malefícios do consumo exagerado dos açucares. https://goo.gl/mWsCFT Vias de Sinalização da Insulina CARVALHEIRA, José B.C.; ZECCHIN, Henrique G.; SAAD, Mário J. A. (2002). Vias de Sinalização da Insulina. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 46(4), 419-425. https://goo.gl/X7BtMf Transportadores de glicose MACHADO, Ubiratan F. (1998). Transportadores de glicose. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 42(6), 413-421. https://goo.gl/NKmoER Coisas que nosso corpo faz https://goo.gl/9aKqF6 23 UNIDADE Liberação de Energia pelos Macronutrientes Referências DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 7. ed. São Paulo, 2007 Blucher, 2011. MARZZOCO, A. Bioquímica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREENHAFF, P.L. Bioquímica do exercício e trei- namento. São Paulo Manole, 2000. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5. ed.:SãoPaulo. Artmed. 2011. PEREIRA, B.; SOUZA JUNIOR, T. P. Metabolismo celular e exercício físico: aspec- tos bioquímicos e nutricionais. 2. ed.: Phorte, 2007. VOET, D.; VOET, J.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica. Editora: Artes Mé- dicas, 2000. 24