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O Jornalismo na Comunicação Organizacional: uma perspectiva crítica Wilson da Costa Bueno (Org.) JORCOM Grupo de Pesquisa ECA/USP O Jornalismo na Comunicação Organizacional: uma perspectiva crítica 2020 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) _______________________________________________________________ O Jornalismo na Comunicação Organizacional: uma perspectiva crítica/ Organização de Wilson da Costa Bueno. São Paulo: JORCOM/ Comtexto Comunicação e Pesquisa, 2020. 166 p. ISBN 978-65-992314-0-7 1.Comunicação Organizacional 2. Jornalismo 3. Relacionamento com a mídia 4. Conteúdo de marca 5. Jornalismo patrocinado. I. Título CDD 658.45 _______________________________________________________________ Capa com ilustração de Peggy um Marco Lachmann-Anke por Pixabay JORCOM – O Jornalismo na Comunicação Organizacional é um grupo de pesquisa certificado pela ECA/USP e cadastrado no CNPq (http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/498577). E-mail para contato: jorcom@comtexto.com.br ou wilson.bueno@usp.br TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é permitida a reprodução, parcial ou integral, desta obra. A afronta aos direitos autorais constitui crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal) que inclui prisão e multa, além de busca e apreensão e indenizações diversas, conforme rezam os artigos 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998, denominada Lei dos Direitos Autorais. mailto:jorcom@comtexto.com.br mailto:wilson.bueno@usp.br SUMÁRIO Apresentação 1 Os autores 2 A pandemia não decretou o lockdown da Comunicação Organizacional 4 Wilson da Costa Bueno Assessor de imprensa é ou não é jornalista? 18 Ana Maria Dantas de Maio e Victor Dantas de Maio Martinez O impacto das mídias sociais no processo de relacionamento com a mídia 32 Anelisa Maradei O jornalismo nas organizações e a comunicação com os públicos internos 63 Juliana Luiza de Oliveira Canêdo Não basta pesquisar, precisa divulgar. Desafios e perspectivas para o jornalismo científico nas universidades públicas brasileiras 76 Luciane Treulieb e Arquimedes Pessoni Inovação em media training: um estudo a partir de três agências de comunicação 94 Marcia Cellos Zica e Jorge Duarte Os limites entre jornalismo e conteúdo de marcas: os casos do MediaLab e do Estúdio Folha 108 Marli dos Santos Relacionamento com a mídia em situações de crise: o governo federal e a Covid-19 121 Paulo Roberto Salles Garcia De revistas customizadas a webséries: o conteúdo de marca como narrativa das organizações 134 Rosiane Moro As múltiplas ausências da mulher no Jornalismo brasileiro 148 Wilson da Costa Bueno Informações gerais sobre o grupo de pesquisa JORCOM 164 1 APRESENTAÇÃO Este e-book representa a primeira publicação do grupo de pesquisa JORCOM – O Jornalismo na Comunicação Organizacional, criado em 2019, certificado pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) e cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. O JORCOM reúne uma dezena de pesquisadores de comunicação e tem como objetivos principais: a) realizar investigações que tenham como foco a contribuição do jornalismo para a comunicação organizacional; b) publicar livros, e-books e artigos sobre o tema; c) organizar eventos (seminários, cursos, webinars) que tenham adesão às suas linhas de pesquisa. Esta edição tem a participação da maioria dos colegas que integram este grupo de pesquisa além de convidados com pós-graduação em Comunicação e experiência profissional em Jornalismo e Comunicação Organizacional. A proposta do e-book é apresentar e debater temas atuais e relevantes que caracterizam estas duas áreas – Jornalismo e Comunicação Organizacional, a partir de uma perspectiva crítica, com atenção aos conceitos, processos e às práticas profissionais. Como é possível perceber pelo sumário desta obra, ela incorpora aspectos fundamentais da intersecção entre o Jornalismo e a Comunicação Organizacional, como o relacionamento com a mídia (assessoria de imprensa), media training, a comunicação com os públicos internos, comunicação governamental e gestão de crise, a publicação de revistas customizadas pelas organizações, a diversidade corporativa, o jornalismo patrocinado, o esforço de divulgação da pesquisa realizada nas universidades brasileiras e o impacto das mídias sociais. Inclui, ainda, um capítulo sobre a comunicação organizacional durante a pandemia do novo coronavírus. Esperamos contribuir para o incremento do debate nas áreas de Comunicação Organizacional e Jornalismo, comprometidos com uma visão plural, com a consolidação destas atividades profissionais e o fortalecimento do ensino e da pesquisa em Comunicação em nosso país. Boa leitura para todos. Wilson da Costa Bueno (Org) 2 OS AUTORES Ana Maío Doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), graduada em jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua como jornalista do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). E-mail: anamaio@uol.com.br Anelisa Maradei Doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e pela Universidade da Beira Interior, UBI, Portugal. E-mail: ane@amaradei.com.br Arquimedes Pessoni Doutor em Comunicação Social (UMESP, 2005), Mestre em Comunicação Social (UMESP, 2002), Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo (UMESP, 1987). Docente dos Mestrados Profissionais em Inovação na Comunicação de Interesse Público (USCS) e Inovação no Ensino de Saúde (USCS). E-mail: arquimedes.pessoni@online.uscs.edu.br Jorge Duarte Jornalista e relações-públicas. Doutor em Comunicação. Trabalhou em jornais e rádios. Desde 1990 está na Embrapa, onde é gerente de comunicação estratégica. É professor, autor de livros e pesquisas sobre comunicação. Entre 2004 e 2012 atuou na Secom da Presidência da República, onde foi diretor do Núcleo de Comunicação Pública e coordenou cursos de capacitação para profissionais de comunicação e dezenas de media trainings com dirigentes públicos. E-mail: j_duarte@terra.com.br Juliana Luiza de Oliveira Cañedo Graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (2005); especialista em Comunicação e Multimídia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2011); mestre em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (2019), onde atua como jornalista desde 2008. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Comunicação Organizacional (Jorcom) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. E-mail: juliana.luiza@ifgoiano.edu.br Luciane Treulieb Jornalista na Universidade Federal de Santa Maria, foi editora-chefe da Revista Arco- UFSM, de jornalismo científico e cultural entre 2013 e 2019. Mestranda em Inovação na Comunicação de Interesse Público (USCS) e cursando a Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência (Fiocruz). E-mail: lu.treulieb@gmail.com mailto:anamaio@uol.com.br mailto:ane@amaradei.com.br mailto:arquimedes.pessoni@online.uscs.edu.br mailto:lu.treulieb@gmail.com 3 Márcia Cellos Zica Jornalista, formada pela Universidade Federal de Mato Grosso, e pós-graduada pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Trabalhou como repórter e apresentadora em veículos de imprensa de Mato Grosso,e há 13 anos integra a Assessoria de Imprensa do Banco do Brasil, onde exerce, entre outras funções, a coordenação do media training para os executivos da empresa, já tendo participado da formação de mais de 400 fontes na instituição bancária. E-mail: marciacellos@gmail.com Marli dos Santos Jornalista, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero. Coordenadora do GT Estudos sobre Jornalismo da ALAIC e do GP Gêneros Jornalísticos da Intercom. Líder do GP Jornalismo contemporâneo, práticas para a emancipação social e membro do GP JORCOM, liderado pelo prof. Dr. Wilson da Costa Bueno. E-mail: msantos@casperlibero.edu.br Paulo Roberto Salles Garcia Doutor em Comunicação Social, é jornalista e pesquisador nas áreas de relacionamento com a mídia, comunicação organizacional e gestão de crise. Integra o grupo de pesquisa JORCOM – Jornalismo na Comunicação Organizacional – da Escola de Comunicação e Artes da USP. Coautor dos livros “Estratégias de comunicação nas mídias sociais”, “Comunicação Empresarial e gestão de marcas”, “Comunicação Empresarial: Planejamento e Gestão”, “Comunicação Empresarial: tendências e perspectivas” e “Educação a distância: uma trajetória colaborativa”. E-mail: paulo.garcia@belaprosa.com.br Rosiane Moro Mestre em comunicação social com graduação em jornalismo pela Umesp. É docente na pós-graduação do Senac nas disciplinas de marketing digital e planejamento integrado de comunicação. Sócia da Parágrafo Editora, tem mais de 20 anos de experiência em produção de conteúdo de marca online e offline, assessoria de imprensa e edição de publicações customizadas. E-mail: rosiane.moro@gmail.com Victor Dantas de Maio Martinez Jornalista formado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp); graduando em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da Universidade de São Paulo (USP). Bolsista auxiliar de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). E-mail: victordantas@usp.br Wilson da Costa Bueno Jornalista, professor sênior da ECA/USP, com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação, especialização em Comunicação Rural. Líder do grupo de pesquisa JORCOM – O Jornalismo na Comunicação Organizacional, certificado pela USP e cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, empresa de consultoria nas áreas de Comunicação Organizacional e Jornalismo Especializado E-mail: professor@comtexto.com.br mailto:marciacellos@gmail.com mailto:victordantas@usp.br mailto:professor@comtexto.com.br 4 A pandemia não decretou o lockdown da Comunicação Organizacional Wilson da Costa Bueno A pandemia alterou dramaticamente a vida das pessoas em todo o mundo, provocando centenas de milhões de infectados e um número também expressivo de mortes. Da mesma forma, acarretou mudanças importantes para o universo do trabalho, com a demissão em massa de trabalhadores e, no Brasil, em função de uma medida provisória do Governo, provocou a redução de jornada e salário (em alguns casos, em até 70%), bem como a suspensão de contratos por vários meses. É possível, no entanto, perceber que as mudanças não se localizaram apenas nas áreas da saúde e do emprego, mas que elas ganharam maior abrangência, atingindo também os modelos de gestão, os hábitos de consumo e, o que interessa especialmente para o objeto desta análise, o próprio ethos da comunicação organizacional. Uma análise, ainda que ligeira, indica, porém, que a ruptura radical provocada pelo novo coronavírus desencadeou uma reestruturação significativa das práticas tidas como “normais” antes da pandemia, exigindo de governantes, gestores e profissionais novas posturas que podem, se assumidas com coragem e competência, capacitá-los para o enfrentamento de desafios futuros. O primado do home office A exigência de distanciamento social, indispensável para diminuir o índice de contaminação pelo vírus, obrigou as empresas e organizações de maneira geral a buscarem alternativas para o desenvolvimento dos trabalhos e a manutenção dos negócios, de que resultou a utilização intensa da prática do home office. Depois de meses de isolamento, em que o contato presencial foi reduzido unicamente às atividades consideradas essenciais, ficou patente a necessidade de incorporar, de maneira ágil e adequada, a comunicação virtual como modalidade prioritária para o relacionamento das organizações com os seus públicos estratégicos, internos e externos. O home office foi definitivamente implantado e, para que ele obtivesse sucesso, duas condições tiveram que ser cumpridas, de maneira ampla e urgente: a adesão a plataformas digitais e a capacitação dos profissionais para o trabalho (e a comunicação) a distância. É verdade que muitas empresas já, há algum tempo, tinham incorporado esta alternativa e que os eventos virtuais (lives, webinars, webcasts) faziam parte do processo vertiginoso 5 de transformação digital pelos quais elas estavam passando. O que ocorreu, no entanto, foi a conscientização, pela quase totalidade das organizações, de que não havia outra saída: ou a comunicação on-line seria assumida em sua plenitude ou os negócios não sobreviveriam, sobretudo porque a pandemia tinha fincado raízes e não havia qualquer expectativa de que ela iria se desfazer a curto e médio prazos. Decorridos alguns meses da consolidação da pandemia em todo o mundo, o cenário havia se modificado literalmente: a comunicação a distância ganhou corpo e, mais ainda, passou a ser considerada como opção a ser fortemente considerada mesmo após a volta à “normalidade”. As organizações se deram conta de que a tecnologia disponível permite substituir, com vantagem, a comunicação tradicional, favorecendo os contatos e reduzindo substancialmente os custos. O Google, por exemplo, comunicou que deverá manter a maioria dos seus 200 mil empregados e funcionários terceirizados em home office até julho de 2021, confirmando a informação veiculada recentemente pelo Wall Street Journal. Segundo Sundar Pichal, presidente executivo da empresa, em e-mail encaminhado aos seus empregados, “a intenção é de dar mais facilidade para muitos funcionários e seus filhos se adequarem com escolas e habitações. Espero que essa decisão ajude com a flexibilidade que vocês precisam para trabalhar e também para se manter bem”. (O ESTADO DE S. PAULO, 28/07/2020, p.B10) Decisão similar, embora com algumas variações em termos da intensidade de adesão ao teletrabalho, também foi manifestada por outras companhias, como o Twitter, o Facebook e a Apple, dentre outras. Essa nova realidade tem sido comprovada, gradativamente, por inúmeras pesquisas que indicam, de forma contundente, a adesão crescente ao home office e que essa condição permanecerá no futuro. Pesquisa da ISE Business School, de maio de 2020, junto a 518 executivos brasileiros evidenciou dados relevantes a favor do home office: 1) Gestores de empresas nacionais e multinacionais concordam que a experiência com esta modalidade de trabalho tem sido positiva (respectivamente para 80% e 83%); 2) Eles admitem que o home office contribui para melhorar a eficiência e a produtividade (respectivamente 60 % e 65%) e 3) as preocupações com a família não atrapalham a concentração no trabalho ( para 70% para os gestores entrevistados).(MENEZES, 23/05/2020, p. B8) Outra pesquisa, realizada pela FIA e FEA/USP (JAKITAS, 28/06/2020, p.B7) e que analisou percepção do home office por mais de 1.500 empregados em cargos de média e 6 alta gestão, nos meses de abril a junho de 2020, concluiu que a avaliação desta experiência foi positiva e 70% deles confessaram que gostariam de continuá-la mesmo após o fim da pandemia. Esta alternativa de trabalho foi destacadamesmo nos casos em que a jornada de trabalho superou as 8 horas diárias e, apesar de não receberem, em boa parte dos casos, ajuda das empresas no que diz respeito aos equipamentos e ao custeio das despesas com energia elétrica e internet. Os responsáveis pela pesquisa entendem que a avaliação positiva pode ser explicada por vários motivos e apontam pelo menos dois deles: a) o trabalho em casa livra os empregados de um tempo significativo utilizado para o deslocamento da residência para a empresa; e b) estar trabalhando em home office significa a garantia da manutenção do emprego, o que é fundamental em situações de crise. Inúmeras empresas, após vivenciarem a prática do teletrabalho, tomaram a decisão de aderir a ele de forma permanente, convictas de que ele deve ser considerado fortemente porque implica, quase sempre, em redução significativa dos custos fixos, levando-se em conta o aluguel, condomínio, estacionamento, manutenção e alimentação dos funcionários, sobretudo, para aquelas sediadas em determinadas capitais brasileiras. Elas reconhecem que há necessidade de se estabelecer regras para o bom andamento dos trabalhos, mas destacam o fato de poderem, desta forma, reduzir a estrutura hierárquica. Principalmente, chamam a atenção para a importância estratégica da comunicação, indispensável para manter o relacionamento, incrementar a motivação e promover o alinhamento. Outras empresas admitem que deverão transformar os escritórios em ambientes de convivência e que o contato direto, olho no olho, entre os funcionários não precisa acontecer durante todo o tempo, embora possa não ser eliminado totalmente. (CAMPOS; BIGARELLI, 06 a 08/06;2020, p.B2). O debate sobre o home office, no entanto, deve continuar por algum tempo, visto que ele impõe algumas mudanças importantes, no que diz respeito ao modelo de liderança, à comunicação e pode, para determinados perfis de trabalhadores, gerar alguma incerteza. Pesquisa da consultoria Robert Half, junto a 800 profissionais brasileiros, embora conclua, como a maioria das já realizadas sobre esta temática, pela avaliação positiva do home office (em termos de produtividade, qualidade de vida), identificou, também, uma preocupação: ...há um receio para um terço daqueles que não acham ‘nada provável’ trabalhar apenas em casa de perder oportunidades. É o velho ditado do ‘quem não é visto, não é lembrado. Aquela conversa de corredor e, até 7 de certa forma, a política que o escritório pode trazer, são sentidas nesse momento.” (VALOR ECONÕMICO, 06 a 08/06/2020, p.B2.) Pesquisa da JLL, uma multinacional do setor imobiliário, tida como uma das mais conceituadas administradoras de escritórios em todo o mundo, que entrevistou mais de 3 mil pessoas, constatou uma realidade, que agora se torna mais evidente com a pandemia: “os patrões não veem mais a necessidade de presença do escritório para aferir produtividade” e “há outras prioridades para os escritórios”: O espaço de um negócio é bem mais relevante para funções como promover colaboração (segundo 50% dos entrevistados), agilidade de decisões (48%), atração de talentos e inovação (ambos com 42%). (SCHELLER; SCARAMUZZO, 19/07/2020, p. B6) Qualquer que seja a decisão, no entanto, há uma certeza: a arquitetura interna dos escritórios deverá ser alterada drasticamente, para dar atenção a questões de segurança e isso significa que haverá uma densidade “populacional” menor, incremento da higienização, redução dos contatos e que o próprio momento do cafezinho coletivo poderá perder o “seu sabor”. A capacitação nas novas tecnologias A exigência do trabalho remoto trouxe à tona a discussão, que já era travada com alguma intensidade, sobre a utilização (em particular, as vantagens e desvantagens) das novas tecnologias de comunicação e de informação, que têm protagonizado uma vertiginosa aceleração digital. Destacam-se, a esse respeito, a importância estratégica das plataformas que favorecem a interação, ampliam a audiência e a circulação de informações, responsáveis pela multiplicação de eventos, debates e conversas na web. Essas plataformas, como o Google Meet e o Zoom, dentre outras, têm se aperfeiçoado com rapidez, incorporando, gradativamente, novas funções, que potencializam a comunicação das empresas e organizações com os seus públicos internos e externos. Os comunicadores, de uma hora para outra, tiveram que se capacitar para dar conta destas novas ferramentas, muitas vezes sem a ajuda da estrutura técnica (o indispensável setor de TI) das empresas, como acontecia normalmente. quando as suas atividades eram desenvolvidas internamente nos locais de trabalho. Agora, sem o suporte técnico, eles ficaram por sua conta e risco e sentiram a necessidade de fazer um upgrade urgente nos equipamentos disponíveis em casa, de aumentar a sua velocidade de conexão e de 8 incorporar novos programas e aplicativos que lhes permitem participar de forma competente dos desafios inerentes à comunicação digital. Entregues à própria sorte, os comunicadores passaram a ter mais autonomia e mais responsabilidade na gestão de suas atividades, mesmo porque agora não podem mais ficar na dependência (acabou a zona de conforto!) das ordens e conselhos das chefias, que esperam ansiosamente que seus subordinados tomem a iniciativa. Os comunicadores passaram, também, a gerenciar o seu próprio tempo, os seus momentos de descanso, a sua agenda de trabalho que, para muitos, ficou mais sobrecarregada, porque a flexibilização dos horários, a priori uma vantagem, estendeu, em contrapartida, a jornada para os três períodos do dia (manhã, tarde e noite). Gerenciar o microfone (para evitar que ele capte conversas paralelas, opiniões e sons inconvenientes) e a câmera (que pode registrar flagrantes não esperados) constitui, de agora em diante, uma realidade para os que participam dos encontros virtuais que exigem protocolos e etiquetas adequados, a serem rigorosamente obedecidos. O uso intensivo das plataformas digitais para conversas coletivas on-line tem provocado mudanças relevantes no planejamento das gigantes da tecnologia e, já nos primeiros meses da pandemia, convictas de que essa utilização só tenderia a crescer, o Facebook, o WhatsApp e muitas outras empresas, com foco prioritariamente na comunicação digital, têm anunciado projetos para ingressar ou ampliar a sua participação neste modelo de negócios. Mídias sociais: entre o céu e o inferno As mídias sociais têm mantido, ao longo de toda esta trajetória dolorosa de contaminação global pelo novo coronavírus, sua condição de protagonista fundamental do processo de comunicação, em função de suas virtudes e de suas vulnerabilidades. Ao mesmo tempo em que elas se consolidaram, inclusive na comunicação organizacional, como ambiente essencial para o relacionamento das organizações com os seus públicos estratégicos e com a sociedade de maneira geral, firmaram sua contribuição negativa ao estabelecimento de um debate democrático. Durante esta etapa sombria da ação agressiva da covid-19, elas foram utilizadas para disseminar informações fraudulentas, para acirrar a polarização de ideias e posições e para afrontar a reputação de pessoas, grupos e instituições. As mídias sociais, reconhecidamente, contribuíram para o incremento da interação, para a troca de informações e conhecimentos, para “aproximar” as pessoas que, 9 presencialmente, estavam distantes, reféns de uma política acertada de isolamento social. Elas potencializaram o contato entre as chefias e os seus subordinados e, quando gerenciadas de forma competente, permitiram que o engajamento e a mobilização dos públicos internos se mantivessem em nível razoável, dadas as circunstâncias da pandemia. O deslocamento das conversas organizacionais para os ambientes virtuais trouxe, no entanto, riscos razoáveis para a segurançadas informações corporativas e propiciaram, de forma inimaginável, a invasão da privacidade dos cidadãos e das empresas. A ausência de um sistema de regulação adequada do processo de comunicação desenvolvido nas mídias sociais, a ineficácia do monitoramento e da punição aos desvios éticos inerentes à sua utilização de forma irresponsável, e muitas vezes até criminosa, ampliaram a circulação de narrativas de ódio, de intolerância e de desrespeito aos princípios da ética e da cidadania. As pessoas, já traumatizadas pelo impacto brutal da pandemia, que tem vitimado familiares, colegas, amigos e celebridades, tiveram que conviver também com a ação nefasta de grupos organizados que, sob a justificativa de exercerem a liberdade de expressão, têm promovido o linchamento moral e ameaças à integridade física dos que escolheram como adversários, sobretudo no campo da política e dos costumes. A manifestação abusiva de preconceitos de credo, gênero ou raça, para citar apenas alguns deles, tem provocado rupturas na democracia, exigindo a presença da Justiça, em suas esferas mais elevadas (como o Supremo Tribunal Federal), para estabelecer parâmetros mínimos de convivência. O Facebook, por exemplo, sofreu campanha violenta (“Stop Hate for Profit”) e perdeu, em poucas semanas, inúmeros patrocinadores de peso ao ser acusado de omissão ao permitir a manifestação sem controle de mensagens consideradas como lesivas à democracia e aos direitos civis. Assistimos a episódios extremamente tensos, como os protestos raciais nos Estados Unidos, em virtude da violência policial contra negros (caso George Floyd, assassinado de forma covarde no dia 25 de maio de 2020, em Minneapolis), que se estenderam para vários países e que, em consequência, desencadearam a destruição de estátuas centenárias, especialmente na Europa, erguidas em homenagem a colonizadores brancos que dizimaram populações negras na África em sua ação de conquista de novos continentes (em especial, a África e a América). 10 Em todo o mundo, inúmeras marcas tiveram que reavaliar os seus portfólios de produtos e suas campanhas de publicidade para excluir menções preconceituosas a traços identificados com as populações negras. No Brasil, a Bombril foi obrigada a retirar do mercado a esponja de aço Krispinha após manifestação intensa de pessoas pela associação do produto, que foi lançado há décadas, com o cabelo negro das mulheres negras. Nos Estados Unidos, as marcas Aunt Jemima (Tia Jemima), da PepsiCo e a Uncle Ben´s, da Mars, também foram estigmatizadas e estão se aposentando porque suas origens remontam aos tempos da escravidão e à imagem dos negros como cidadãos de categoria inferior. A reação generalizada à “circulação desenfreada de mensagens de ódio” (no Brasil, há evidências de que elas, em muitos casos, se originam de salas localizadas no Palácio do Planalto, em Brasília, conhecidas como “gabinetes do ódio”) tem culminado com a ação do Congresso Nacional, empenhado em debater e aprovar um projeto de lei sobre fake news, Este projeto , segundo pesquisa Ibope, realizada em maio de 2020, junto a aproximadamente mil pessoas acima de 16 anos, em todos os Estados e no Distrito Federal, é apoiado por 90% dos brasileiros. Ele tem gerado, no entanto, grande controvérsia, com vozes discordantes em relação à sua constitucionalidade e ao seu impacto na vida democrática. Ele prevê regras para os provedores de redes sociais, prega a identificação das contas (condenando o anonimato), mas contribui para estimular o debate sobre os limites da “liberdade de expressão” e a abertura para a invasão da privacidade e o estabelecimento de um sistema de censura prévia. A comunicação interna além dos muros A prática do home office legitimou uma realidade que já estava em transformação antes da pandemia: a consolidação do processo de comunicação com os públicos internos (empregados, servidores) como algo que se realiza, também ou até mesmo prioritariamente, fora dos muros das empresas ou organizações. O isolamento social tornou inevitável que o contato com os funcionários (e dos funcionários entre si) ocorresse sobretudo (em alguns casos, de forma exclusiva) virtualmente, pelo uso do sistema de e-mail e, principalmente, pelas mídias sociais (WhatsApp, em particular). Essa condição, mesmo em grupos privados, favorece a circulação de informações externamente e abre brechas para que as mensagens não se limitem mais aos seus destinatários, que mantêm vínculos formais com as empresas, e sejam facilmente 11 compartilhadas. Torna-se difícil, quase impossível, manter o sigilo das informações e das conversas que “ganham o mundo”, sendo utilizadas também, por funcionários, descontentes com a postura de determinadas empresas durante a pandemia, para subsidiar ações trabalhistas e documentar os abusos à legislação. É preciso lembrar que, em função da crise provocada pela covid-19, muitas organizações recorreram à redução da jornada e do salário e mesmo à suspensão de contratos de trabalho e demissão em massa. Empregados penalizados com essas medidas podem disseminar informações que, a priori, teriam permanecido nos limites das empresas, com riscos à segurança das informações e a exposição ampla de posturas e decisões empresariais. Outras práticas também têm sido incorporadas no processo de gestão de pessoas e é possível destacar as que definem a relação das empresas com os novos funcionários que, em boa parte neste período não tiveram contato presencial com seus chefes e com os colegas, e que foram submetidos a um sistema particular de integração (“onboarding”). O novo cenário exigiu dos gestores de Recursos Humanos criatividade e esforço para que a integração destes novos trabalhadores fosse realizada de forma adequada, o que significa (ainda que pareça difícil à primeira vista) promover o seu engajamento e compromisso com os valores e objetivos institucionais. O impacto no jornalismo e na comunicação organizacional A pandemia também deu uma nova chance ao jornalismo tradicional que, pela adesão crescente às mídias sociais, sobretudo das novas gerações, estava sendo submetido a um processo gradativo de desvalorização. A consciência de que os ambientes virtuais, como já mencionamos neste texto, tem incentivado a circulação de informações imprecisas ou fraudulentas (por desconhecimento ou má fé daqueles que a produzem) empoderou novamente os grandes players do jornalismo em nosso país, que passaram, em virtude da demanda por notícias atualizadas e confiáveis, a dedicar espaço e tempo significativo à sua veiculação. O jornalismo foi considerado, a exemplo de algumas outras atividades (cuidados com a saúde, comercialização de remédios e de alimentos) como essencial e os profissionais de imprensa passaram a atuar, de maneira mais intensiva, na linha de frente, sobretudo cobrindo os impactos da pandemia na saúde e na economia. Esta condição tem tido como consequência a contaminação (e mesmo a morte) de muitos colegas da mídia. Eles têm sido expostos mais facilmente à ação do vírus, em jornadas estressantes, que incluem 12 noites mal dormidas e abalos psicológicos resultantes do contato com ambientes insalubres, medo permanente e contato com situações que se mostram terríveis, especialmente para os mais sensíveis. Relatório do Centro de Pesquisa em Comunicação & Trabalho, da ECA/USP, coordenado pela profa. Roseli Fígaro que investigou o trabalho dos comunicadores durante a pandemia, trouxe dados reveladores. Para a maioria deles, a jornada de trabalho aumentou, em alguns casos, em até 40%, e o ritmo de trabalho também se acelerou com a prática do home office. Os comunicadores que participaram da pesquisa (quase 600) declararam que houve uma intensificação do trabalho e o uso generalizado de aplicativos, criando uma situação de permanência on-line por um tempoprolongado. Para os responsáveis pela pesquisa, as mensagens vindas via aplicativos demandam resposta imediata e assim faz-se um círculo virtuoso de aceleração, intensificação e produtividade. Ampliam-se também as horas à disposição para o mundo do trabalho, pois o home office é um estar em casa disponível para o trabalho todo o tempo, graças à ubiquidade das redes sociais e seus aplicativos. (FIGARO, 2020, p.56). Eles complementam, analisando criticamente esta nova condição de trabalho: A manutenção do status online desses trabalhadores em seus dispositivos e aplicativos pode ser lida como uma faceta do capital que se vale das tecnologias para vigiar trabalhadores e consumidores para deixá-los sempre em estado de alerta (24 horas por dia, sete dias na semana) para trabalhar ou consumir... (FIGARO, 2020, p. 56) A pesquisa também constatou que, principalmente os jornalistas, usam mais o WhatsApp, além de outros recursos como o e-mail, o Telegram e o Messenger, e que a infraestrutura disponível para a realização das atividades está longe da ideal, visto que, em casa, os comunicadores não podem contar com os softwares a que estavam acostumados nos locais de trabalho, com computadores mais atualizados e mesmo com uma velocidade de conexão compatível com as necessidades de acesso a informações e produção no ritmo exigido pela intensificação do trabalho. Dividir o espaço do trabalho com os familiares não tem sido uma tarefa fácil e, com isso, as rotinas habituais foram alteradas, gerando preocupação, ansiedade e estresse, de tal modo que “o resultado de tudo isso é a sensação de cansaço constante e de insegurança...” (FIGARO, 2020, p.60) Os comunicadores manifestaram, ainda, seu receio em relação ao novo coronavírus, sobretudo pelo fato de muitos deles, sobretudo os jornalistas que atuam na linha de frente e não se mantêm obrigatoriamente de forma exclusiva em home office, estarem mais 13 vulneráveis ao contágio. Com certeza, se a pesquisa tivesse sido realizado um pouco mais à frente no tempo (ela se encerrou em abril de 2020) essa preocupação seria ainda maior porque, particularmente de maio em diante, o número de infectados e de óbitos cresceu exponencialmente, vitimando, inclusive, um número significativo de comunicadores, jornalistas em especial.. É preciso lembrar também que os veículos jornalísticos e a imprensa de maneira geral sofreram ataques frequentes do Poder Executivo, em especial do presidente da República, que, repetidamente, em suas lives, postagens nas mídias sociais (Twitter, sobretudo), vídeos e declarações no “cercadinho do Palácio do Planalto, se referia à categoria de forma desrespeitosa, quando não ameaçadora. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), que monitora ataques contra o jornalista realizados pelo presidente da República, divulgou, no início de julho, que, no primeiro semestre de 2020, “foram registradas 245 ocorrências (...) sendo 211 categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a FENAJ. São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, neste ano.”(FENAJ, 02/07/2020). Segundo ela, Para além dos números, os dados mostram que as notícias sobre as ações do governo ou a postura do presidente sobre diversos assuntos transformam a imprensa em sua “inimiga”, com a construção de uma narrativa de ataques com o objetivo de promover a descredibilização do trabalho jornalístico e da credibilidade da produção de notícias. Algumas vezes o presidente coloca a imprensa e os jornalistas como “inimigos do País”, por conta de coberturas que o desagradam. (FENAJ, 02/07/2020). A agressão e a ofensa aos jornalistas e aos órgãos de imprensa, evidentemente, não se limitou ao Brasil. A ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, em parceria com uma dezena de organizações da sociedade civil, elaborou um dossiê sobre estas ameaças, intitulado “182 dias de contrastes: a situação da imprensa na América Latina”, que contabilizou, de janeiro a junho de 2020, um total de 630 ataques contra jornalistas em 11 países da América Latina. Este dossiê é fruto do projeto regional Voces del Sur, criado em 2017, com o objetivo de defender a liberdade de expressão e a imprensa na América Latina. O relatório constatou agressões físicas, inclusive mortes de jornalistas, prisões arbitrárias, fechamento de veículos jornalísticos e restrições ao acesso a informações. 14 A valorização da imprensa em tempos de pandemia é inconteste. Pesquisa do Datafolha, realizada em março, que ouviu 1.558 brasileiros, indicou que o jornalismo profissional é a fonte mais confiável para a obtenção de notícias sobre a Covid-19, em oposição às mídias sociais que são percebidas como responsáveis pelo processo crescente e perigoso de desinformação. Segundo o levantamento, programas jornalísticos da TV (61%) e jornais impressos (56%) lideram no índice de confiança sobre o tema, seguidos por programas jornalísticos de rádio (50%) e sites de notícias (38%). Em posição oposta à imprensa profissional estão os conteúdos que vêm de WhatsApp e Facebook. Nas duas plataformas, apenas 12% dizem confiar em informações sobre o coronavírus. Nelas, o índice dos que dizem não confiar nas informações atinge 58% (WhatsApp) e 50% (Facebook). (ANJ,23/03/2020) Dados recentes mostram também que a audiência dos jornais e dos programas jornalísticos em rádio e TV cresceu significativamente durante a pandemia. Segundo dados do Google Analytics, as edições digitais e os sites de alguns jornais bateram recordes no primeiro semestre de 2020: o jornal Folha de S. Paulo registrou quase 177 milhões de visitas, em abril de 2020, superando a marca anterior de outubro de 2019, às vésperas das eleições. Se considerarmos os exemplares digitais, veremos que a Folha de S. Paulo passou de 218 mil, em 2019, para uma média de 250 mil, enquanto o jornal O Globo oscilou de 202 mil exemplares para 2030, na comparação entre 2019 e este período de 2020. O Estado de S. Paulo também experimentou incremento em suas edições digitais (10 mil a mais do que em 2019) e o Valor Econômico cresceu 20 mil exemplares em 2020 (81 mil contra 61 mil em 2019). (NEGÓCIOS DA COMUNICAÇÃO, 2020). Resultado significativo também foi registrado para emissoras de TV que dedicam boa parte de sua programação para a veiculação de noticiário sobre a pandemia e o exemplo mais emblemático é a Globonews, que tem mais de 20 horas diárias para o jornalismo ao vivo. O canal conseguiu ser, nos primeiros meses da pandemia (março a junho), o canal de maior audiência na TV paga, com um total, no período, de mais de 24 milhões de telespectadores (FOLHA DE S. PAULO, 22/06/2020). Estes dados reforçam a necessidade, sentida pela sociedade e pelos cidadãos individualmente, de estarem respaldados em informações e fontes confiáveis, para se orientarem durante a pandemia, ainda que existam grupos organizados, não comprometidos com a ética, a transparência e a cidadania, interessados em alimentar a infodemia. 15 Não foi, porém, apenas o Jornalismo, dentre as atividades tradicionais da comunicação, que se valorizou diante da ameaça da Covid-19. As Relações Públicas, a Comunicação Organizacional e, mesmo o Marketing e a Propaganda, que se mantiveram em sintonia com os valores defendidos na contemporaneidade (como a ética, a transparência, a igualdade social, a sustentabilidade, os direitos humanos, a liberdade de expressão), têm se fortalecido como atividades fundamentais para garantir a “saúde dos negócios” das companhias. O discurso das empresas que prega a importância da comunicação estratégica e integrada, mas que, em muitos casos, não a implementa em sua plenitude, tem passado por importante reformulação e, agora, é mais fácil reconhecer que aqueles que produzem estas narrativas a favor da comunicaçãoestão, cada vez mais, agindo com sinceridade. As situações de crise – e esta crise sanitária é certamente a mais dramática dos tempos modernos – acabam, quase sempre, exigindo que as pessoas e as organizações reflitam sobre a conveniência e a adequação de suas posturas. A comunicação organizacional e as diversas competências em comunicação passaram a ocupar lugar de destaque não apenas no discurso, mas na prática das organizações, mesmo porque a consciência do enorme impacto da crise (em sua dimensão econômica, política, institucional, financeira, além da sanitária) evidenciou o protagonismo da comunicação (e dos comunicadores). É possível imaginar que, finalmente, a alta administração das companhias se convenceu de que não é possível superar os desafios enormes colocados pela pandemia sem um esforço e uma excelência no relacionamento com os públicos estratégicos e com a opinião pública. A realidade do trabalho remoto, com o distanciamento obrigatório dos empregados, exige que sejam implementados e processos e fluxos de comunicação capazes de manter o engajamento, a produtividade e o vínculo indispensável com os valores e os objetivos institucionais. Um novo modelo, apoiado em uma nova mentalidade, deve ser construído para fazer emergir lideranças autênticas, capazes de mobilizar os funcionários e de planejar alternativas que permitam não apenas superar a crise, mas traçar novos caminhos para as organizações no futuro. As novas rotinas do home office podem contribuir para que os comunicadores disponham de tempo (ainda que, de imediato, a pressão seja grande para a continuidade do trabalho e a manutenção do ritmo) para uma reflexão mais profunda sobre o planejamento de sua 16 carreira e, sobretudo, para a necessidade de conciliar seus interesses profissionais e pessoais. A crise provocada pela pandemia deixou claro para os comunicadores, e os trabalhadores em geral, que é necessário dispor de um plano B, porque, de uma hora para outra, por motivos alheios à sua vontade, e sem que tenham culpa, os empregos podem ir embora e que eles precisam estar em condições de retomar a sua vida profissional, perfeitamente capacitados e dispostos para trilharem novos caminhos. A pandemia aponta para a importância do desenvolvimento de ações empreendedoras, para a necessidade de cultivar a autonomia e a coragem, para o risco da acomodação a uma zona de conforto que, cada vez menos, garante estabilidade no emprego, tendo em vista a concorrência acirrada e as mudanças que ocorrem, de forma acelerada e intensa, no universo da comunicação. A comunicação organizacional, apesar dos percalços deste momento, da precarização do emprego, da degradação dos direitos trabalhistas, e das pressões de chefias que ainda estão amarradas a uma visão ultrapassada (dinossáurica!) de liderança, sairá fortalecida desta crise. Diferentemente das cidades que foram brutalmente abaladas pela ação agressiva do novo coronavírus, a comunicação organizacional não precisou e não precisará decretar o lockdown. Os comunicadores devem estar mobilizados para impedir que isso aconteça. Referências bibliográficas ANJ. Datafolha: Jornalismo é a fonte mais confiável sobre a COVID-19, enquanto redes sociais têm baixa credibilidade. 23/03/2020. Disponível em: https://www.anj.org.br/site/component/k2/73-jornal-anj-online/27131-datafolha- jornalismo-e-a-fonte-mais-confiavel-sobre-a-covid-19-enquanto-redes-sociais-tem- baixa-credibilidade.html. Acesso em 29/07/2020. CAMPOS, Stela; BIGARELLI, Barbara. Companhias já aderem ao home office permanente. Valor Econômico. 06 a 08/06/2020, p. B2. FENAJ. Presidente Bolsonaro promove 245 ataques contra o jornalismo no primeiro semestre. 02/07/2020. Disponível em: https://fenaj.org.br/presidente-bolsonaro- promove-245-ataques-contra-o-jornalismo-no-primeiro-semestre/. Acesso em 28/07/2020. FIGARO, Roseli (org). Como trabalham os comunicadores em tempos da pandemia da Covid-19? São Paulo: ECA/USP, 2020. 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Ana Maria Dantas de Maio Victor Dantas de Maio Martinez Introdução O objetivo deste capítulo é atualizar análises anteriores já feitas pela academia sobre a polêmica relação entre a assessoria de imprensa e a prática do jornalismo, mais especificamente sobre conflitos de interesse no exercício simultâneo das duas atividades. Durante a coleta de dados em campo, foi possível observar a rejeição ao termo “assessor de imprensa”, devido à evolução que a comunicação organizacional vivenciou nas últimas décadas. Hoje, o profissional que atua em ambiente corporativo entende que seu trabalho extrapola a definição clássica de “assessoria de imprensa”, que se consolidou no país entre os anos de 1970 e 1980. Mas a história dessa polêmica atividade remete ao início do século 20, quando os primeiros esforços de divulgação institucional no âmbito público foram registrados no Brasil. Na iniciativa privada, as primeiras assessorias iniciavam suas atividades na décadade 1950 (DUARTE, 2008). As controvérsias sobre a nomenclatura da atividade vão muito além das tarefas incluídas em sua rotina. No mundo todo, não há consenso sobre os profissionais que devem atuar nas assessorias. Esse estudo ouviu 253 comunicadores por meio de um questionário online para saber o que eles pensam sobre o assunto. A proposta é abordar o tema sob três perspectivas: técnica, jurídica e ética. Os resultados indicam que a grande maioria dos profissionais consultados vê algum conflito de interesses quando jornalistas atuam em redações e em assessorias simultaneamente. Comunicadores consultados utilizaram termos ligados à técnica, à ética e à formação superior para fundamentar suas respostas à pergunta “Assessor de imprensa é jornalista?”. De certa forma, a abordagem jurídica também revela o viés tecnicista e teleológico nas últimas decisões tomadas por tribunais envolvendo a questão. Uma delas, de 2019, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), tem potencial para afetar diretamente a prática profissional no país. Proposta metodológica Pesquisas bibliográfica e documental permeiam todo o estudo, que buscou na literatura das ciências da comunicação e do direito trabalhos já consolidados sobre a origem e a 19 prática da assessoria de imprensa no Brasil e em outros países. A busca por esse conhecimento prévio permitiu contextualizar o assunto antes de apresentar os resultados levantados nesta pesquisa. Decisões jurídicas sobre o exercício da assessoria de imprensa e sua relação com a função de jornalista foram consultadas, na tentativa de apresentar outro olhar para o tema. A decisão de ouvir profissionais da área antes de produzir este artigo se respalda exatamente na polêmica que envolve a questão. A própria denominação de “assessoria de imprensa” parece incomodar comunicadores que atuam ou já atuaram na área. A intenção foi trazer para o debate jornalistas e assessores como forma de enriquecer a discussão. A consulta online foi feita por meio de formulário Google na semana de 9 a 15 de novembro de 2019. O questionário, intitulado “Assessor de imprensa é jornalista?”, tinha cinco perguntas, sendo quatro fechadas e uma aberta. O link de acesso foi enviado por meio do aplicativo WhatsApp e por e-mail à rede de contatos de jornalistas que atuam em redações, em organizações, na academia, em outras áreas e que estão desempregados1, com pedido para que repassassem aos seus conhecidos. A intenção inicial era que apenas jornalistas respondessem, mas outros profissionais da comunicação acabaram contribuindo. No dia 15 de novembro, o formulário foi encerrado com 260 retornos recebidos. Na fase de processamento, foram descartadas sete respostas consideradas repetidas – o que foi possível constatar devido ao texto idêntico da resposta à pergunta aberta e ao horário aproximado do envio, capturado pelo formulário. Os dados das perguntas fechadas foram processados em planilha Excel por um especialista em estatística2. A pergunta aberta foi interpretada com a ajuda do software AntConc 3.5.8, um concordanciador utilizado em estudos de linguística. A ferramenta permite mensurar a frequência de palavras no corpus de pesquisa, bem como avaliar o contexto em que elas são mencionadas. Diferentemente da análise de conteúdo, o concordanciador é um instrumento que permite conhecer os termos ou expressões mais frequentes no texto, independente de categorias. Antes da análise é preparada e aplicada uma stoplist (listagem com palavras ou expressões 1 Como a primeira autora atua na comunicação organizacional da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), houve o cuidado de não enviar as perguntas para grupos de comunicadores da empresa, tentando evitar um viés nas respostas. Dos mais de 200 comunicadores da organização, apenas dois receberam o link da fonte original. Essa medida não garante, no entanto, que outros profissionais de comunicação da Embrapa tenham respondido à pesquisa por outras vias de acesso. 2 Agradeço ao apoio do engenheiro Vernon Richard Kohl. 20 sem relevância para o estudo) e esses vocábulos são excluídos. Sem eles, o corpus da pesquisa ficou com 3.590 termos. Os resultados são indicadores que ajudam na interpretação das respostas, mas não substituem a leitura integral do material, que ocorreu em dezembro de 2019. Essa leitura, somada à experiência profissional da primeira autora – que já atuou em redações, na academia e em assessorias –, permitiu validar o resultado. Convém sempre lembrar que, nas ciências humanas e sociais, o conhecimento não é exato. Assim, a interpretação apresentada a seguir é uma, entre tantas outras possíveis dentro do campo da comunicação – e da linguística. Peculiaridades da prática profissional no Brasil No Brasil, historicamente, a assessoria de imprensa ou de comunicação é exercida também por jornalistas, que muitas vezes integram equipes compostas por outros comunicadores – relações públicas, publicitários, designers, profissionais do marketing, entre outros. Duarte (2008) explica como os jornalistas ocuparam esse espaço e aborda a questão ética, relativizando a visão de que apenas o jornalista de redação teria uma postura isenta. Uma redação não tem monopólio da ética ou da competência. E a assessoria de imprensa pode, em muitos casos, ter uma vantagem, afinal produz informação com determinado enquadramento, assumidamente posicionada, mas, necessariamente, verdadeira, e que será submetida aos filtros jornalísticos, até mesmo de questionamento e confrontação com outras fontes. Isso nem sempre ocorre nos veículos de comunicação de massa, que se postulam como imparciais e independentes, mas veiculam, em variadas circunstâncias, informações editadas de acordo com sua linha editorial e interesses. Não há, assim, vício de origem. (DUARTE, 2008, p. 95). Mais de um terço dos profissionais consultados e boa parte da discussão científica sobre o assunto indicam preocupações com o dilema ético envolvendo a prática do jornalismo em redação e em assessoria. Para Marques, Miola e Siebra (2014), a orientação dos empregadores é fator condicionante para a atuação de jornalistas e assessores. Uma dimensão geralmente omitida no debate sobre os princípios do Jornalismo e as tensões entre profissionais e estudiosos da área quando confrontados com a atividade de AI [assessoria de imprensa] se refere ao papel das instituições quanto ao direcionamento do trabalho de quem lida com a informação. As organizações não podem ser pensadas de maneira isolada na medida em que moldam os campos de atuação e estabelecem diretrizes de trabalho. (MARQUES; MIOLA; SIEBRA, 2014, p. 161). 21 Assim como Duarte, a observação dos autores não dissocia a conduta profissional de jornalistas e assessores dos diferentes tipos de organizações que os contratam. Essa discussão embasa, inclusive, a permissão para o exercício da assessoria de imprensa em outros países. Em Portugal, o profissional que decide trabalhar com assessoria de imprensa precisa abdicar da função de jornalista. Ao se filiar à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, “o profissional tem que assinar um documento em que se compromete a devolver a carteira se for trabalhar como assessor de imprensa” (BUCCI, 2000, p. 124). O veto vale para a atuação simultânea e a carteira pode ser devolvida se o jornalista voltar a trabalhar exclusivamente em redações. A legislação e códigos de ética da União Europeia distinguem com determinação as duas atividades, como forma de resguardar o interesse público na produção e consumo de informações. O atual quadro legal, ético e de costumes da assessoria de imprensa e do jornalismo na União Europeia permite manter esperanças na independência dos jornalistas e do sistema jornalísticos, assegurando ao mesmo tempo a qualidade da informação que circula noespaço público. (MOUTINHO; SOUSA, 2008, p. 79). Nos Estados Unidos, a assessoria de imprensa é uma prática profissional de relações públicas e “relacionamento com a mídia” é uma das habilidades requeridas. De acordo com Amaral (2008, p. 67), não há obrigatoriedade “de ‘carta’, ‘registro’ e diploma para assessores de relações públicas, de imprensa, e jornalistas exercerem seus ofícios”. No Brasil, a comunicação corporativa ganhou impulso na década de 1980, quando as empresas passam a entender e valorizar os resultados da assessoria. De acordo com Bueno (2009, p. 7), foi nessa época que a comunicação empresarial “ganhou status nas organizações e passou, efetivamente, a se constituir em um campo de trabalho profícuo, atraindo profissionais de todas as áreas”, com destaque para jornalistas e relações públicas. Desde o início, houve uma predisposição no país a contemporizar impasses éticos envolvendo a prática profissional. “Submetido a exigências conflitantes, o jornalista assessor de imprensa foi capaz, no Brasil, de criar padrões de comportamento aceitáveis para um lado e para outro” (DUARTE, 2008, p. 94). Do ponto de vista histórico, não é difícil compreender como jornalistas começaram a atuar nas assessorias. Geralmente oriundos de redações, eles conheciam bem a rotina dos colegas jornalistas e mantinham relações que poderiam facilitar divulgações empresariais. 22 Além disso, a comunicação empresarial mantinha – e ainda mantém – a prática de produzir informativos internos ou externos para divulgar informações para diferentes públicos. Jornalistas, em geral, dominam as técnicas de pauta, entrevistas, redação de notícias, diagramação, fotografia, filmagem, revisão e edição de textos, áudios e imagens, além de outras atividades que fazem parte da rotina de assessores. No entanto, a comunicação empresarial evoluiu nas últimas décadas (DUARTE, 2008) e o trabalho passou a incorporar outras tarefas e exigir novas habilidades. A atuação conjunta com outros comunicadores passou a ser indispensável. Gestão de relacionamentos, comunicação interna, planejamento estratégico, produção de conteúdo, acompanhamento de métricas em redes sociais, elaboração e execução de políticas de comunicação, auditoria de imagem na mídia, uso estratégico da comunicação face a face no ambiente corporativo, gestão da imagem em redes sociais, gestão da inovação, gestão de informação e do conhecimento: apenas a comunicação integrada, resultado de uma atuação conjunta entre profissionais de diferentes formações, é capaz de atender às demandas atuais das organizações. Essas novas atribuições permitem entender por que boa parte dos comunicadores empresariais rejeita a nomenclatura “assessoria de imprensa”. E mesmo aqueles profissionais que continuam atuando “apenas” como assessores de imprensa também precisaram evoluir porque a relação com a mídia mudou. Processos como a segmentação, a digitalização e o enxugamento das redações impõem aos assessores outras atitudes e habilidades. “As exigências são significativamente maiores e, para atendê-las, o assessor de imprensa precisa, mais do que nunca, ser um estrategista, um gestor de comunicação” (BUENO, 2014, p. 177). O que pensam os comunicadores A consulta feita aos comunicadores revela que 66,4% dizem acreditar que assessor de imprensa é, sim, jornalista. Responderam que não 12,6% e outros 20,9% indicaram a alternativa “depende” (figura 1). O cruzamento estatístico permite identificar que o “sim” é menor entre os profissionais que atuam em redação, aqueles que não se enxergaram nas categorias pré-definidas3 e entre aqueles que se formaram em jornalismo, mas atuam em outras áreas. 3 No survey, 2,8% da amostra se identificaram como outros, incluindo três relações públicas, dois redatores de conteúdo e dois com outras combinações. 23 Figura 1. Assessor de imprensa é jornalista? Fonte: Elaborada pelos autores Outro dado interessante é que a percepção de que “assessor não é jornalista” diminui à medida em que aumenta o tempo de carreira do profissional. A faixa do “depende”, ou seja, daqueles que relativizam a questão, é maior entre os profissionais que estão há mais tempo no mercado de trabalho (figura 2). Figura 2. Tempo de carreira e percepção sobre a atuação Fonte: Elaborada pelos autores Quase a metade dos respondentes (49%) se identificou como assessor de imprensa. Outros 13,8% disseram ser formados em jornalismo, mas atuam em outras áreas; 13,4% dos consultados foram identificados como jornalistas de redação. Veja abaixo (figura 3) todas as qualificações: 12,6% 20,9% 66,4% Você considera que assessor de imprensa é jornalista? Não Depende Sim 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Menos de 5 anos De 5 a 10 anos De 11 a 20 anos Mais de 21 anos Tempo de carreira x assessor é jornalista? Não Depende Sim 24 Figura 3. Atuação profissional dos respondentes Fonte: Elaborada pelos autores a) Olhar jurídico A análise jurídica sobre o tema ganha relevância em função de uma decisão de 2019 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que desconsiderou a atividade de assessoria de imprensa como jornalística. Avaliar o assunto sob a perspectiva jurídica envolve estudar três dimensões nas quais a matéria se apresenta: na legislação, na doutrina e na jurisprudência. Em sua categorização das fontes do direito (que são os instrumentos pelos quais o direito se faz inteligível), Dimoulis (2011) explica que a legislação, em seu sentido amplo, abrange diversas espécies normativas (e não somente “leis”, em sentido estrito); que a doutrina é a produção intelectual e teórica do direito; e que a jurisprudência é o conjunto de decisões uniformes (ou ainda dominantes, assentadas, pacificadas) dos tribunais. a.1) Legislação Na Constituição Federal, o artigo 220 garante que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação não sofrerão qualquer restrição, observado o texto constitucional – reforçando valores de liberdade de expressão e informação, já consagrados no artigo 5º. Já o parágrafo 1º do artigo 220 estabelece que nenhuma lei pode “constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”. Desses dispositivos depreende-se que a atividade jornalística é considerada essencial para a ordem social do Estado Democrático de Direito brasileiro, de modo que a plena liberdade de imprensa – que, em termos fáticos, será concretizada pelo exercício profissional do jornalista – é protegida pelo texto constitucional. 49,0% 13,8% 13,4% 7,1% 7,1% 6,7% 2,8%Atualmente você atua principalmente como: Assessor(a) de imprensa Sou formado (a) em jornalismo, mas atuo em outra área Jornalista de redação Na academia Nas duas áreas simultaneamente Sou jornalista ou assessor(a), mas estou desempregado(a) outros 25 Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o ofício do jornalismo também recebe destaque, com seção dedicada à profissão entre os artigos 302 e 306. Destacam-se o artigo 302 e seus parágrafos, que tentam definir o empregado e a empresa do ramo: Art. 302 - Os dispositivos da presente Seção se aplicam aos que nas empresas jornalísticas prestem serviços como jornalistas, revisores, fotógrafos, ou na ilustração, com as exceções nela previstas. § 1º - Entende-se como jornalista o trabalhador intelectual cuja função se estende desde a busca de informações até a redação de notícias e artigos e a organização, orientação e direção desse trabalho. § 2º - Consideram-se empresas jornalísticas, para os fins desta Seção, aquelas que têm a seu cargo a edição de jornais, revistas, boletins e periódicos, ou a distribuição de noticiário, e, ainda, a radiodifusão em suas seções destinadas à transmissão de notícias e comentários.Por fim, em termos legislativos há também o Decreto-Lei nº 972/69, ainda vigente e que elenca atividades desempenhadas pelos jornalistas profissionais, entre elas a redação, condensação, titulação, interpretação, correção ou coordenação de matéria a ser divulgada, contenha ou não comentário; entrevista, inquérito ou reportagem, escrita ou falada; e execução da distribuição gráfica de texto, fotografia ou ilustração de caráter jornalístico, para fins de divulgação. É importante observar que tanto as definições da CLT quando do Decreto-Lei nº 972 são de caráter tecnicista, não preocupadas com a teleologia da profissão (a finalidade do fazer jornalístico), de modo ligeiramente diverso de como se entende a proteção ao jornalismo na Constituição Federal – conforme aponta a doutrina jurídica que será discutida a seguir. a.2) Doutrina Ao comentar o título “Da Ordem Social” do capítulo “Da Comunicação Social” (V) da Constituição Federal, trecho que é inaugurado pelo já referido artigo 220, Novelino (2014, p. 977) pondera que “em virtude do papel fundamental que os meios de comunicação desempenham em uma sociedade democrática, a Constituição conferiu ao exercício desta liberdade por intermédio da imprensa uma proteção especial”. Sobre a liberdade de imprensa, o autor afirma ainda que ela é uma forma institucionalizada do direito de informar, essencial para a construção de uma sociedade democrática (NOVELINO, 2014, p. 490). Dessa leitura entende-se que a Constituição Federal conferiu proteção especial ao exercício do jornalismo em decorrência da finalidade do fazer jornalístico e sua utilidade à democracia. Conforme antecipado, esse 26 compromisso com questões de teor público/político não aparece na CLT e no Decreto- Lei sobre a profissão, que assumem uma perspectiva tecnicista. Na ótica da doutrina trabalhista, o jornalista é tido como um trabalhador intelectual (afinal, apesar da descrição tecnicista, essa valoração é expressa no artigo 302 da CLT), em um conjunto com outras profissões tais quais médicos, professores, químicos, engenheiros, artistas, economistas (DELGADO, 2019). Cassar (2017, p. 306) aponta que: Trabalhadores intelectuais ou profissionais são aqueles empregados que têm especial cultura científica ou artística. Distinguem-se daqueles que exercem serviços manuais ou meramente técnicos por dois motivos: desenvolvem trabalhos intelectuais ou artísticos e porque o grau de dependência e subordinação é mais tênue, pois executam seu trabalho com mais autonomia. Sobre a necessidade de capacitação profissional, Delgado (2019) ressalta uma peculiaridade no que diz respeito à profissão do jornalista: apesar de ser um trabalho considerado intelectual (logo, científico ou artístico), houve decisão do Supremo Tribunal Federal afastando a exigência de diploma e registro para exercício da profissão – conforme será analisado na jurisprudência sobre o jornalismo. a.3) Jurisprudência Em 2009, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), fundamentada no mesmo artigo 220, afetou de maneira mais direta a prática profissional do jornalismo: o Supremo derrubou a exigência de diploma para o exercício da profissão no Brasil, no julgamento de um recurso extraordinário4. No caso, a Corte entendeu que impor a exigência do diploma à prática do jornalismo seria uma restrição que violaria a liberdade de imprensa prevista no artigo 220. No ano seguinte, 88 cursos de jornalismo deixaram de existir no país, de acordo com resultados do Censo da Educação Superior do Inep (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2018), vinculado ao Ministério da Educação5 (Figura 4). Por fim, em um julgamento mais recente e na seara trabalhista, o Tribunal Superior do Trabalho determinou que a atividade de assessoria de imprensa não poderia ser 4 Recurso Extraordinário (RE) é aquele usado na Justiça Comum para levar à Suprema Corte a discussão sobre a constitucionalidade ou não de algum fato. No caso dos diplomas, o RE foi o 511.961. 5 Esse dado considera apenas o curso específico de Jornalismo, assim identificado pelo Inep no Censo da Educação Superior. Os cursos que, em geral, se enquadram na área de Comunicação Social (publicidade e propaganda, relações públicas, marketing, radiojornalismo, cinema e vídeo, comunicação institucional, entre outros) mantiveram a oferta nos anos seguintes à decisão do Supremo. 27 enquadrada como jornalística, em recurso de revista6. Na ação, uma jornalista diplomada disse ter trabalhado de maio de 2011 a março de 2015 para a Empresa Brasileira de Comunicação Produção Ltda., de São Paulo, realizando tarefas de assessoria de imprensa, como redação de textos jornalísticos distribuídos para agências de notícias e para sites corporativos e produção de revistas institucionais e eletrônicas. Figura 4. Evolução dos Cursos de Jornalismo e Comunicação Social Fonte: Censo da Educação Superior do Inep – elaborada pelos autores A profissional pediu seu enquadramento como jornalista e o reconhecimento do direito à jornada especial de cinco horas, a fim de receber diferenças referentes a horas extras. Ela perdeu na primeira instância, mas o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) reconheceu o enquadramento no recurso ordinário, que depois foi negado pelo tribunal superior. A ministra responsável por relatar o acórdão, Maria Cristina Peduzzi, argumentou que, na assessoria de imprensa, “a essência da atividade não é a busca da verdade dos fatos, mas a construção da imagem da empresa” (ASSESSORA..., 2019). O assessor estaria mais alinhado com os interesses do cliente, enquanto o jornalista, com a verdade dos fatos – assumindo, como critério de distinção das ocupações, a perspectiva mais teleológica da Constituição, em detrimento da mais tecnicista da legislação trabalhista. a) Abordagem técnica A análise do concordanciador corrobora a interpretação das 253 respostas abertas à pergunta “Você considera que assessor de imprensa é jornalista?”. O corpus (já com a exclusão da stoplist) indicou maior frequência de termos técnicos para explicar o posicionamento dos respondentes. No total, foram 269 citações, sendo 33 literalmente 6 Recurso de revista (RR) é um termo jurídico da Justiça do Trabalho e é utilizado para se levar uma discussão ao tribunal superior. No caso, trata-se do RR 2102-13.2015.5.02.0026. 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 0 50 100 150 200 250 300 350 400 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Cursos de Jornalismo e Comunicação Social no Brasil 2009-2018 Jornalismo (escala vertical à esquerda) Comunicação Social (escala vertical à direita) 28 indicando palavras como “técnica”, “técnicas”, “tecnicamente”, “habilidades”, entre outras, e 236 vocábulos associados às práticas de jornalismo, como “releases”, “pautas”, “entrevistas”, “notícia”, “divulgação”, entre outras. Também nesta linha de interpretação aparece a preocupação dos respondentes com a formação acadêmica dos profissionais. Termos como “diploma”, “formados”, “faculdade”, “graduação”, “universidade”, “formação” e outros apareceram 100 vezes no corpus avaliado. Seguem algumas respostas, na íntegra, que ilustram as argumentações captadas pelo software. “O Assessor produz notas, notícias, reportagens, releases como um jornalista. Tecnicamente faz trabalho semelhante. Como se a empresa fosse sua editoria. A diferença é que as pautas são sempre positivas.” “Sou jornalista por formação e atuo como assessora de imprensa há 20 anos. Uso as habilidades de jornalista na minha rotina profissional.” “Um bom trabalho de assessoria exige apuração, coleta de dados, escrita excelente. Tudo isso aprendemos durante a formação de jornalista.” Observa-se, assim, forte presença de argumentos envolvendo o conjunto de técnicas jornalísticas e a formação acadêmicados profissionais para justificar as respostas sobre a interrelação das duas ocupações. Ou seja, os entrevistados recorrem ao conhecimento técnico para fundamentar que jornalistas e assessores são atuações compatíveis. b) Perspectiva ética O concordanciador também indicou a atenção dos respondentes para questões ligadas ao conflito de interesse e à ética no exercício da assessoria de imprensa. Em 96 ocasiões, surgiram palavras como “conflito”, “verdade”, “imparcialidade”, “ética”, “imoral” e, com maior destaque, “interesse” ou “interesses” (que apareceram 43 vezes). As respostas abaixo foram algumas obtidas durante a consulta e contemplam essa percepção: “O assessor de imprensa precisa defender a empresa. O jornalista de redação, embora de forma velada, também defende a sua, falando ou omitindo fatos dependendo da vontade de seus superiores.” “Na maioria das vezes, o profissional que presta assessoria se vê obrigado a abrir mão de um dos mais elementares princípios que regem o bom jornalismo; a imparcialidade. Mesmo tendo conhecimento da técnica jornalística para elaborar textos e outros 29 conteúdos, o assessor está atrelado aos interesses de determinadas organizações ou mesmo do poder público.” “Há um limite muito tênue na atuação de ambos. Assessor é jornalista por conta de sua formação acadêmica. Mas não pode ser jornalista no momento de atuar no mercado ao misturar os interesses do seu assessorado com a facilidade de acesso na divulgação das ações na imprensa.” Os argumentos acima refletem a preocupação de entrevistados com o conflito de interesses que envolve as duas carreiras – basicamente o interesse público, da sociedade, e os interesses privados, de organizações atendidas pelos assessores. Uma questão quantitativa do questionário também indicou preocupações com o conflito de interesse. O gráfico abaixo (figura 5) revela que apenas 7,9% dos 253 respondentes indicaram ver “nenhum conflito” entre profissionais que exercem o jornalismo e a assessoria ao mesmo tempo. Os itens 2, 3, 4 e 5 são crescentes e representam uma escala que vai de “algum conflito” até “conflito total”. Ou seja, do total de entrevistados, 92,1% disseram entender que existe ao menos algum conflito de interesse no exercício simultâneo das duas atividades. Figura 5. Percepção sobre conflito de interesse Fonte: Elaborada pelos autores As abordagens jurídica, técnica e ética, aqui detalhadas, buscam ampliar a visão sobre o tema e não defender posicionamentos. Há que se considerar, ainda, uma perspectiva que foi apenas mencionada anteriormente, sem ampla discussão: a cultural. O exercício simultâneo da assessoria de imprensa por jornalistas não apenas é aceito como é considerado normal no Brasil. A academia, vez ou outra, questiona. Os cursos superiores 7,9% 9,1% 34,4% 21,7% 26,9% Você considera que há conflito de interesses em profissionais que atuam em redação e em assessoria simultaneamente? 1 (nenhum conflito) 2 3 4 5 (conflito total) 30 de comunicação ensinam práticas de assessoria a jornalistas. Artigos como este buscam tão somente fomentar o debate entre estudiosos e profissionais. Considerações finais A análise sobre a prática do jornalismo na assessoria de imprensa deve, portanto, ser compreendida a partir de dimensões diversas, descartando-se uma análise simplista que responda “sim” ou “não” à pergunta título deste capítulo. Do ponto de vista técnico, a maioria dos comunicadores entrevistados entende que sim, assessores e jornalistas utilizam o mesmo conhecimento, as mesmas ferramentas e os mesmos procedimentos em suas rotinas: pautam, entrevistam, escrevem e publicam matérias. Já a dimensão da ética – a mais polêmica – divide até mesmo a própria categoria. Embora a maioria (66%) dos consultados considere que assessor de imprensa é jornalista, ao menos 92% enxergam algum conflito de interesse quando as duas atividades são exercidas simultaneamente. Essa abordagem coincide com as preocupações da União Europeia sobre o assunto, que impede jornalistas de atuarem como assessores. O dilema ético fundamenta ainda a decisão jurídica do TST, que desconsiderou a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e optou por um argumento baseado na suposta diferença de finalidade das duas funções – uma busca a verdade dos fatos e outra a construção da imagem de uma empresa. Embora ainda caiba recurso, para o Tribunal Superior do Trabalho, em março de 2019, assessor de imprensa não poderia ser considerado jornalista. Essa decisão, se confirmada, trará reflexos para o exercício da profissão de jornalista e de assessor de imprensa no Brasil. No entanto, ainda é cedo para antecipar possíveis efeitos na formação, no enquadramento e na prática profissional, bem como na legislação que regulamenta a profissão. A evolução da assessoria de imprensa no Brasil, no entanto, possui peculiaridades que a diferenciam dos modelos adotados em outros países. Culturalmente, o ambiente corporativo aceita que jornalistas atuem na assessoria e a própria academia forma profissionais para essa função. A barreira que a Justiça ameaça impor restringe vantagens financeiras, mas não limita o exercício da profissão. A ver. Referências AMARAL, Luiz. Assessoria de imprensa nos Estados Unidos. In: DUARTE, Jorge (Org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e técnica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 52-68. 31 ASSESSORA de imprensa não consegue ser enquadrada como jornalista. Notícias do TST, Brasília, 29 mar. 2019. Disponível em: http://www.tst.jus.br/noticias/- /asset_publisher/89Dk/content/assessora-de-imprensa-nao-consegue-ser-enquadrada- como-jornalista. Acesso em: 19 nov. 2019. BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: políticas e estratégias. São Paulo: Saraiva, 2009. ______. Comunicação empresarial: da rádio peão às mídias sociais. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2014. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do direito. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. DUARTE, Jorge. Assessoria de imprensa no Brasil. In: ______ (Org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e técnica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 81-102. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao- superior. Acesso em: 5 jan. 2020. MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida; MIOLA, Edna; SIEBRA, Nayana. Jornalismo, assessoria de imprensa e seus condicionantes organizacionais: uma reflexão a partir das teorias do jornalismo. Animus, Santa Maria, v. 13, n. 25, p. 145-166, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/animus/article/view/9068/pdf. Acesso em: 19 jan. 2020. MOUTINHO, Ana Viale; SOUSA, Jorge Pedro. In: DUARTE, Jorge (Org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e técnica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 69-80. NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. 9. ed. 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