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AULA 2 ENSINO DA FLORA BRASILEIRA Profª Letícia Estela Cavichiolo 2 CONVERSA INICIAL Na aula anterior, estudamos alguns dos principais sistemas de classificação adotados para classificar a flora brasileira ao longo dos anos, com destaque para a classificação segundo Andrade-Lima e Veloso. Pudemos perceber que ao longo de diferentes contextos históricos, numerosas propostas de classificações foram empregadas para delimitar a biodiversidade do território brasileiro, revelando a dificuldade de compartimentá- la (Coutinho; Lopes, 2017, p. 1). Destacamos que ainda há equívocos no uso dos termos utilizados nos artigos e demais publicações, conforme salientado por Maciel & Duarte (2014, p. 1), Coutinho (2006, p. 14) e Batalha (2011, p. 22), razão pela qual a presente aula encontra importância. Isto se deve tanto pelo excesso de rigor semântico e sintático presentes em algumas classificações (Oliveira-Filho, 2009, p. 239), quanto pela alta complexidade da flora brasileira em si. Neste sentido, o “Manual Técnico da Vegetação Brasileira” publicado em 1992 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consiste em uma publicação que merece maior atenção, principalmente ao fato que esta classificação subsidia as leis, decretos e resoluções para a aplicação da legislação brasileira, razão pela qual possui destaque até a atualidade. Portanto, os principais termos e conceitos associados à esta classificação, cuja sistematização encontra-se na tabela 1, serão detalhados a partir deste momento. Mendes (2014, p. 17) destaca que, como houve um acúmulo de novos conhecimentos desde a publicação da primeira versão do “Manual Técnico da Vegetação Brasileira”, foi necessária uma segunda edição deste manual. Publicado em 2012, esta edição do manual conta com uma ampliação de conceitos, passando a “conter um novo subgrupo de formação, a Floresta Estacional Sempre-Verde, com três formações e duas fácies; um novo subgrupo de formação na Campinarana, com duas fácies; duas novas fácies da Savana Estépica; mais um tipo de contato nas áreas de tensão ecológica e novos tipos de áreas antrópicas”, segundo a mesma autora. Portanto, tais termos também serão aprofundados no presente texto. 3 Tabela 1 – Esquema da classificação da vegetação brasileira (IBGE, 1991) Império florístico De escala regional (1: 10.000.000 até 1:2.500.000) até escala exploratória (1: 1.000.000 até 1:250.000) Tipos de vegetação Formações Zona Região Classes de formações Subclasses de formações Grupos de formações Subgrupos de formações Formações (propriamente ditas) Subforma-ções N e o tr o p ic a l- P ri n c ip a is f a m íl ia s e n d ê m ic a s b ra s ile ir a s : B ix a c e a e , C a c ta c e a e , C a n n a c e a e , C a ry o c a ra c e a e , C y c la th a c e a e , c y ri lla c e a e , L a c is te m a c e a e , N a rc g ra v ia c e a e , Q u iin a c e a e , S a rr a c e n ia c e a e e o u tr a s . C o m n o v e r e g iõ e s f lo rí s ti c a s c o m u m o u m a is g ê n e ro s e n d ê m ic o s e m c a d a t ip o d e v e g e ta ç ã o . Estrutura e formas de vida Clima/déficit hídrico Fisiologia/trans piração e fertilidade Fisionomia (hábitos) Ambiente/relevo Fisionomia específica (fácies) Floresta (macrofanerófitos, mesofanerófitos, lianas e epífitos) Ombrófila (0 a 4 meses secos) Higrofita (distróficos e eutróficos) Densa Aluvial Terras baixas Submontana Montana Altomontana Dossel uniforme Dossel emergente Aberta Terras baixas Submontana Montana Com palmeiras Com cipó Com bambu Com sororoca Mista Aluvial Submontana Montana Altomontana Dossel uniforme Dossel emergente Floresta (macrofanerófitos, mesofanerófitos, lianas e epífitos) Estacional (4 a 6 meses secos ou com 3 meses abaixo de 15°C) Higrófita/xerófit a (alicos e distróficos) Semidecidual Aluvial Terras baixas Submontana Montana Dossel uniforme Dossel emergente Higrófita/xerófit a (eutróficos) Decidual Aluvial Terras baixas Submontana Montana Dossel uniforme Dossel emergente Campinarana (Campinas) (Xeromorfitos, nanofanerófitos, caméfitos, geófitos, lianas, epífitos) Ombrófila (0 a 2 meses secos) Higrófita (alicos e distróficos) Floresta arborizada gramíneo- lenhosa Relevo tabular e/ou depressão fechada Com palmeiras Sem palmeiras Savana (Cerrado) (Xeromorfitos, microfanerófitos, nanofanerófitos, caméfitos, geófitos, hemicriptófitos, lianas, epífitos) Estacional (0 a 6 meses secos) Higrófita (alicos e distróficos) Floresta arborizada Parque- gramíneo- lenhosa Planaltos tabulares e/ou planícies Com floresta- de-galeria Sem floresta- de-galeria Savana-estepica (Caatinga, Chaco, Campos de Roraima e parque de Espinilho de Quaraí) (microfanerófitos, nanofanerófitos, caméfitos, geófitos, hemicriptófitos, terófitos, lianas, epífitos) Estacional (com mais de 6 meses secos ou com frio rigoroso) Xerófita/higrófit a (eutróficos) Floresta arborizada Parque- gramíneo- lenhosa Depressão interplanaltica arrasada nordestina e/ou depressão com acumulações recentes Com floresta- de-galeria Sem floresta- de-galeria Estepe (Campanha gaúcha e campos meridionais) (nanofanerófitos, caméfitos, geófitos, hemicriptófitos, terófitos, lianas, epífitos) Estacional (com 3 meses frios e 1 mês seco) Higrófita/ Xerófita (eutróficos) Arborizada Parque- gramíneo- lenhosa Planícies e/ou pediplanos Com floresta- de-galeria Sem floresta- de-galeria 4 Fonte: IBGE, 1991, p. 13. TEMA 1 – CONCEITOS BÁSICOS, VEGETAÇÃO E AMBIENTE Muito são os conceitos que permeiam os estudos da flora brasileira. Na proposta de Veloso et al (1991) apresentada na tabela 1, podemos perceber a presença de termos específicos para a forma de vida dos vegetais, tais como macrofanerófitos, xeromorfitos e lianas, dentre outros. Esta obra propõe uma chave para a classificação das formas biológicas para, posteriormente, associá- las às mais frequentes para cada tipo de classe de formação vegetacional. Baseada em classificações nomeadas por Raunkiaer, Ellemberg e Mueller- Dombois, Veloso et al. (1991) adaptando as formas dos vegetais à seguinte chave: Chave para classificação das formas Biológicas 1. Plantas autotróficas (com um só tipo de proteção do órgão de crescimento)...........................................................................................................2 Plantas autotróficas (com dois tipos de proteção dos órgãos de crescimento)...........................................................................................................7 2.Plantas perenes..................................................................................................3 Plantas anuais reproduzidas por meio de sementes...................................Terófitos 3. Plantas lenhosas com órgãos de crescimento protegidos por catafilos..................................................................................................................4 Plantas soblenhosas e/ou herbáceas com gemas periódicas protegidas por catafilos, situadas até 1m do solo............................................................Caméfitos Plantas herbáceas com outros tipos de proteção dos órgãos de crescimento............................................................................................................5 4. Plantas lenhosas eretas.....................................................................................6 Plantas lenhosas e/ou herbáceas reptantes (cipós)......................................Lianas5. Plantas com gemas situadas ao nível do solo, protegidas pela folhagem morta durante o período desfavorável........................................................Hemicriptófitos Plantas com órgãos de crescimento localizados no subsolo.....................Geófitos 6. Plantas cuja altura varia entre 30 e 50m..................................Macrofanerófitos Plantas cuja altura varia entre 20 a 30m........................................Mesofanerófitos Plantas cuja altura varia entre 5 e 20m..........................................Microfanerófitos Plantas cuja altura varia entre 0,25 a 5m ......................................Mesofanerófitos 5 7. Plantas lenhosas e/ou herbáceas com gemas periódicas protegidas por catafilos na parte aérea e com órgãos vegetativos subterrâneos.......Xeromórfitos Usualmente, as plantas podem ser diferenciadas de acordo com sua adaptação a água disponível no ambiente. Da menor para a maior disponibilidade de água no ambiente, temos os vegetais xerófitos, mesófitos e hidrófitos. Estes termos, detalhados por Warming (1909) e Fahn (1990), serão detalhados a seguir. O sufixo fito (que significa planta) é substituído por morfo (do grego morphe, que significa forma) quando nos referimos às características adaptativas que esses vegetais possuem. São consideradas xerófitas (do grego xero, que significa seco) as plantas que estão adaptadas às condições secas, tais quais climas semiáridos. No extremo oposto, encontramos as plantas hidrófitas, isto é, as plantas que se desenvolvem total ou parcialmente submersas. Entre estas duas condições, temos as plantas consideradas mesófitas, que ao se desenvolverem em ambientes com disponibilidade de água podem otimizar a fotossíntese à custa da evapotranspiração. Esses conceitos (plantas xerófitas, mesófitas e hidrófitas) serão relacionados aos tipos de biomas brasileiros e às formações vegetacionais propostas no “Manual Técnico da Vegetação Brasileira” (IBGE, 2012). As xerófitas, quando em condições de deficiência de água buscam reduzir a transpiração ao mínimo. Para tanto, esses vegetais apresentam caracteres ditos xeromorfos, tais como a presença de folhas pequenas, pilosas e com cutícula espessa, com lâminas foliares espessas e células reduzidas em tamanho, cujos estômatos encontram-se confinados em criptas ou protegidos por apêndices epidérmicos, além de células epidérmicas lignificadas, parênquima paliçádico bem desenvolvido e pouco espaço inter celular (Boeger, 2000, p. 7). As plantas mesófitas, geralmente apresentam folhas dorsiventrais, isto é com o parênquima clorofiliano paliçádico sob a epiderme superior (adaxial) e o parênquima lacunoso, restrito à face inferior da folha, sob a epiderme da face abaxial. Comumente possuem folhas anfiestomáticas, ou seja, em que os estômatos estão presentes nas duas faces da epiderme. São plantas que, em geral, não apresentam características de estresse hídrico. Nas plantas hidrófitas temos a presença de folhas submersas ou flutuantes, sendo comuns tecidos com câmaras de ar (aerênquimas) em diversos órgãos vegetais. Nessas plantas, a epiderme participa da absorção de água e nutrientes, 6 frequentemente apresentando paredes celulares e cutícula delgadas. São plantas que podem sofrer anoxia. Plantas do gênero Nymphaea são hidrófitas. A relação entre a evapotranspiração, temperatura e umidade do ar cria condições favoráveis às plantas de fisionomias semelhantes, dentro um tipo climático comum. Esta relação levou Leslie R. Holdridge a desenvolver um “Diagrama das zonas de vida do mundo” (Figura 1) por meio de um diagrama triangular das características supracitadas (Figueiró, 2012, p. 62). Figura 1 – Diagrama de Holdridge: distribuição das formações vegetais no planeta em função do controle climático Fonte: Figueiró, 2012, p. 62 Coutinho (2006, p. 13) destaca a relação entre parâmetros como fotossíntese, evapotranspiração e distribuição das raízes com mudanças na distribuição dos tipos morfofuncionais de plantas devido às mudanças climáticas e avanços nas fronteiras agrícolas. Tais mudanças alteram o balanço competitivo entre gramíneas e arbóreas, ou entre plantas C3 e C4, por exemplo, agravando a crise de extinção de espécies e de biomas. Neste contexto, faz-se necessário compreender nos temas estudados a seguir, os principais tipos vegetacionais e biomas brasileiros, no sentido de servirem como referência tanto para o estabelecimento de políticas públicas 7 diferenciadas quanto para o acompanhamento das ações implementadas (IBGE, 2004). TEMA 2 – FORMAÇÕES FLORESTAIS A classificação de Andrade-Lima e Veloso (1991) propõe o termo formações florestais, englobando as Florestas Estacional Tropical, Caducifólia Tropical e Subtropical. Estas são revisitadas e aprofundadas no “Manual Técnico da Vegetação Brasileira” (IBGE, 2012), conforme os itens a seguir. Lembre-se de recorrer à chave para classificação das formas biológicas apresentada no início deste texto para melhor compreensão de termos utilizados para descrever a vegetação, como macrofanerófitos, por exemplo. 2.1 Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial Tropical) Segundo o IBGE (2012), o termo Floresta Pluvial Tropical, segundo Veloso et al (1991, p. 63), foi criado por Chimper em 1903 e é utilizado como sinônimo de Floresta Ombrófila Densa, criado por Ellemherg & Mueller Domhois dos anos de 1965 e 1966. O autor destaca que tanto a palavra “pluvial”, de origem latina, quanto “ombrófila”, de origem grega significam “amigo das chuvas”. Esta formação se diferencia floristicamente das demais pela presença de macro e mesofanerófitos, lianas lenhosas e epífitas em abundância, e climaticamente pela presença durante todo o ano de temperaturas altas (médias de 25° C) acompanhadas por alta precipitação, o que favorece uma situação bioecológica de ausência de período seco. É subdividida em densa, aberta e mista (IBGE, 2012). 2.2 Floresta Estacional Sempre-Verde (Floresta Estacional Perenifólia) Após uma série de estudos, a Floresta Estacional Sempre-Verde passou a fazer parte do Sistema de Classificação da Vegetação Brasileira adotado pelo IBGE (2012). Como o próprio nome sugere, sua vegetação é constituída por espécies de baixa decidualidade e até ausência de decidualidade durante o período de estiagem. Estima-se que estas plantas essencialmente amazônicas possuam capacidade de absorver água durante o período seco por meio de um sistema de raízes profundas. 8 Segundo o IBGE (2012), esta região fitoecológica encontra-se subdividida em Formações Aluviais, das Terras Baixas e Submontana. 2.3 Floresta Estacional Semi-decidual (Floresta Tropical Subcaducifólia) A Floresta Estacional Semi-decidual, também conhecida por Floresta Tropical Subcaducifólia, remonta à semideciduidade da folhagem das plantas que habitam esta região de clima estacional. O repouso fisiológico e queda parcial da folhagem ocorre como consequência de invernos com temperaturas inferiores à 15°C, aos quais as suas espécies da zona subtropical estão expostas. Os gêneros amazônicos como Parapiptadenia, Peltophorum, Cariniana, Lecythis, Handroanthus e Astronium são dominantes nesta floresta, que pode ser subdividia em Aluvial, Terras Baixas, Submontana e Montana (IBGE, 2012). 2.4 Floresta Estacional Decidual (Floresta Tropical Caducifólia) Esta floresta encontra-se sujeita à um período desfavorável, no qual mais de metade dos seus indivíduos (macro e mesofanerófítos de gêneros tipicamente amazônicos) perdem a folhagem. Na porção tropical deste tipo de floresta há uma estação chuvosa seguida de período seco, enquanto em sua zona subtropical se dá a ocorrência de “inverno frio (temperaturas médias mensais menores ou iguais a 15° C, que determina repouso fisiológico e queda parcial da folhagem” (IBGE, 2012). É subdividida em Aluvial,Terras Baixas, Submontana e Montana. TEMA 3 – FORMAÇÕES NÃO FLORESTAIS A classificação de Andrade-Lima e Veloso propõe o termo formações não florestais para englobar a Caatinga, o Cerrado e o Campo. Tais termos são revisitados e ampliados no “Manual Técnico da Vegetação Brasileira” (2012) para os Campiranana, Savana, Savana-Estepica e Estepe, conforme os itens a seguir. 3.1 Campirana (Caatinga da Amazônia, Caatinga-Gapó e Campina da Amazônia) Segundo o IBGE (2012), Campirana é uma denominação regional amazônica que quer dizer “falso campo”. Consiste em um tipo de vegetação adaptadas a solos quase sempre encharcados e o clima quente superúmido, com temperaturas médias em torno de 25°C e precipitações superiores a 3000mm 9 anuais. Esta formação encontra-se dividida nos seguintes subgrupos: Arbórea Densa ou Florestada; Arbórea Aberta ou Arborizada; e Arbustiva Gramíneo- Lenhosa. Campinarana Florestada: ocorre nos pediplanos tabulares, é dominada por nanofanerófitos situados ao longo dos rios de água preta, locais ricos em material turfoso. Como exemplos de plantas típicas deste subgrupo temos: Astrocaryum jauari Mart. (jauari), Leopoldinia pulchra Mart.; e Euterpe caatinga Wallace (açaí-chumbinho); Campinarana Arborizada: dominado por plantas raquíticas e anãs em decorrência ao tipo de solo em que se encontram. Sobre as espécies xeromorfas ocorrem grupos do líquen Cladonia; Campinarana Gramíneo-lenhosa: presente nas planícies encharcadas, são recobertas de geófitos e hemicriptófitos das famílias Poaceae (gramíneas) e Cyperaceae. 3.2 Savana (Cerrado) O termo Savana tem preferência ao termo regionalista Cerrado, frequentemente usado para designar o mesmo tipo de formação. É constituída por uma vegetação xeromórfica que se desenvolve em solos lixiviados aluminizados e clima estacional com 6 meses secos. Segundo o IBGE (2012), possui os seguintes subgrupos: Savana Florestada, que é restrita às áreas areníticas lixiviadas com solos profundos, apresenta espécies como Caryocar brasiliense Cambess. (Caryocaraceae – pequi); Salvertia convallariodora A. St. Hil. (Vochysiaceae – pau-de-colher); Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae Papilionoideae – sucupira-preta) e Dimorphandra mollis Benth. (Fabaceae Mimosoideae – faveiro); Savana Arborizada apresenta uma fisionomia hemicriptofítica graminoide que está sujeita ao fogo natural. Nos estados de São Paulo e Paraná, apresenta Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Fabaceae Mimosoideae – barbatimão) como espécie de destaque; Savana Parque, possui um estrato graminoide, e outro com espécies de hemicriptófitos e geófitos que parecem ser plantados (daí a conotação parque); 10 Savana Gramíneo-Lenhosa, de composição florística é bastante; diversificada, apresenta espécies lenhosas Andira humilis Mart. ex Benth. (Fabaceae Papilionoideae – angelim-do-cerrado) e Bauhinia spp. (Fabaceae Caesalpinioideae – unha-de-vaca) e graminioides como: Axonopus spp. (grama-do-cerrado), Andropogon spp. (capim-do-cerrado) e Aristida pallens Cav. (capim-barba-de-bode). 3.3 Savana-Estépica Segundo o IBGE (2012), a Caatinga do Sertão Árido Nordestino corresponde a porção mais representativa da Savana-Estépica brasileira, por apresentar dois períodos secos: um longo e um curto. As chuvas entre os períodos são intermitentes, mas podem se tornar torrenciais após os períodos curtos de seca. Esta vegetação encontra-se dividida em quatro subgrupos (IBGE, 2012): Savana-Estepica Florestada, que possui um estrato com prededomínio de nanofanerófitas e outro gramíneo-lenhoso. Os gêneros mais representativos desta flora são gêneros Cavanillesia e Ceiba; Savana-Estepica Arborizada, que apresenta as seguintes espécies de destaque: Spondias tuberosa Arruda (Anacardiaceae), Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett (Burseraceae), Cnidoscolus quercifolius Pohl (Euphorbiaceae); Savana-Estepica Parque, apresenta de forma curiosa, pequenas árvores e arbustos espalhados (como que intencionalmente plantados) sobre um tapete de plantas herbáceas e gramíneas. Merecem destaque as seguintes espécies Mimosa acutistipula (Mart.) Benth. (Fabaceae Mim), Auxemma oncocalyx (Allemão) Baill. (Borraginaceae - pau-branco); Combretum leprosum Mart. (Combretaceae - mofumbo) associados ao capim-panasco, do gênero Aristida; Savana-estepica gramíneo-lenhosa, também é conhecida por campo espinhoso por apresentar plantas lenhosas anãs espinhosas (principalmente o pinhão-brabo, Jatropha sp.) entre gramíneas como capim-panasco (Aristida sp.). 11 3.4 Estepe (Campo) Segundo o IBGE (2012), utiliza-se o termo Estepe “para os campos brasileiros distribuídos desde o contato com a região da Savana (Cerrado) nas imediações da cidade de Ponta Grossa (PR), a cerca de 25º Sul, até o extremo sul do País, onde se integram aos extensos Pampas sul-americanos”. São divididas em: Estepe arborizada; Estepe parque (Campo sujo ou Parkland); Estepe gramíneo-lenhosa (Campo limpo). A formação conhecida por Estepe arborizada, apresenta dois estratos distintos. O estrato superior é esparso e perenifoliado, no qual destacam-se espécies como o branquilho, Sebastiania commersoniana (Baill.) L. B. Sm. e Downs, o pau-ferro Myracrodruon balansae (Engl.) Santin, além de cactáceas dos gêneros Cereus e Opuntia. Já no segundo estrato várias espécies de gramíneas se fazem presentes, como Erianthus sp. (macega), Andropogon lateralis Ness (capim-caninha), Paspalum notatum Flüggé (grama-forquilha) e Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. (grama-tapete). Nesta formação há densos agrupamentos de plantas do gênero Eupatorium sp. (chirca), sinalizando que possivelmente sejam endêmicas do Uruguai e/ou do sudeste do Estado do Rio Grande do Sul (IBEGE, 2012). Segundo o (IBEGE, 2012), no Estepe parque (Campo sujo ou Parkland) Distinguem-se dois nítidos estratos: a) um superior arbóreo baixo, com indivíduos esparsos de várias famílias, sendo as mais representativas Lythraceae e Anacardiaceae, quais sejam, Schinus molle L. (aroeira- salsa), Lythrea brasiliensis Marchand (bugreiro) e Myracrodruon balansae (Engl.) Santin (pau-ferro); e b) um inferior com predomínio das gramíneas Paspalum notatum Flüggé (grama-forquilha) e Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. (grama-tapete ou grama-jesuíta), Andropogon lateralis Ness (capim-caninha) e Stipa spp. (capim-flechinha); além de plantas anuais (terófitas) que imprimem ao Estepe Parque variações de tonalidade. A Estepe gramíneo-lenhosa (Campo limpo), que possui a maior extensão e representatividade dos campos do sul do Brasil, possui um único estrato composto sinúsias de hemicriptófitos e a dos geófitos, cuja pilosidade das folhas se constitui como adaptação aos ventos frios e escassez de água em solos secos, como arenitos e pedregosos (IBEGE, 2012). Para maior compreensão dos termos 12 hemicriptófitos e geófitos, sugerimos que revisite no início deste texto, a chave para classificação das formas Biológicas proposta por Veloso et. al (1991). Este tipo de Estepe, há muito tempo mal manejada pelo uso do fogo, atualmente é palco de um processo de desertificação crescente. Espécies dos gêneros Stipa, Andropogon, Aristida e Erianthus, podem ser encontradas em seu território (IBGE, 2012). TEMA 4 – FORMAÇÕES EDÁFICAS (FORMAÇÕES PIONEIRAS) As formações consideradas pertencentes ao “complexo vegetacional edáfico de primeira ocupação”, também conhecidas por Formações Pioneiras apresentam “...uma vegetação de primeira ocupação de caráter edáfico, que ocupa terrenos rejuvenescidos pelas seguidas deposições de areias marinhas nas praias e restingas, as aluviões fluviomarinhas nas embocaduras dos rios e os solos ribeirinhos aluviais e lacustres”. (IBGE, 2012) 4.1 Vegetação com influência marinha (Restingas) Esta é a vegetação típica depraias. Recebendo influencia marinha direta, essa vegetação pode ser representada pelos gêneros Remirea, Salicornia, Paspalum e Hidrocotyle, além de Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br e Canavalia rosea (Sw) DC. Nas dunas podem ser encontrados tipos nanofanerófitos, o Schinus terebinthifolius Raddi e a Lythrea brasiliensis Mar- chand. Nos Estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul também se destacam “Cactaceae dos gêneros Cereus e Opuntia, além das muitas Bromeliaceae, dos gêneros Vriesea, Bromelia, Canistrum, Aechmea” (IBGE, 2012). 4.2 Vegetação com influência fluviomarinha (Manguezal e Campos Salinos) Esta vegetação, popularmente conhecida como manguezal, se situa na desembocadura de rios e regatos no mar de ambiente salobro. Sobre seus solos limosos (manguitos), desenvolvem-se espécies microfanerófitica, além de espécies adaptada à salinidade das águas, como Rhizophora mangle L., Avicennia sp. e Laguncularia racemosa (L.) C. F. Gaertn. 13 4.3 Vegetação com influência fluvial (comunidades aluviais) Esta é uma vegetação de terrenos alagadiços em decorrência das cheias dos rios nas épocas chuvosas ou das depressões alagáveis. Segundo IBGE (2012) as seguintes comunidades vegetais podem ser encontradas: A pantanosa criptofítica (hidrófitos) até os terraços alagáveis; Terófitos, geófitos e caméfitos, com destaque para açaizal e o buritizal da Região Norte do Brasil, devido aos gêneros Euterpe e Mauritia; Gêneros Cyperus e Juncus (exclusivos das áreas pantanosas dos trópicos) nas depressões brejosas; Comunidades campestres e os gêneros Panicum e Paspalum planícies alagáveis mais bem-drenadas; Nanofanerófitos dos gêneros Acacia e Mimosa em terraços mais enxutos. TEMA 5 – BIOMAS BRASILEIROS Procurando fornecer definições diretas e mais objetivas possíveis, o IBGE publica em 2004 “Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente”, obra que contempla um amplo espectro dos termos próprios das ciências naturais e ambientais. Segundo essa publicação, bioma consiste em um “conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria” (IBGE, 2004), sendo que se reconhecem os seguintes biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampa. Nas próximas aulas faremos o aprofundamento da flora de cada um destes biomas, estudando algumas espécies, características climáticas, semelhanças e diferenças. Coutinho (2006, p. 18) salienta que o conceito domínio fitogeográfico, por não necessariamente apresentar um ambiente uniforme, não deve ser utilizado como sinônimo de bioma. Vejamos o conceito de bioma proposto por este autor: Bioma é uma área do espaço geográfico, com dimensões de até mais de um milhão de quilômetros quadrados, que tem por características a uniformidade de um macroclima definido, de uma determinada fitofisionomia ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos vivos associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o solo, alagamentos, o fogo, a salinidade. Estas características lhe 14 conferem uma estrutura e uma funcionalidade peculiares, ou seja, uma ecologia própria. (Coutinho, 2006, p. 18) Nas próximas aulas faremos o aprofundamento dos biomas brasileiros Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampa, bem como sua relação com características climáticas e a flora presente em cada um destes. 15 REFERÊNCIAS BATALHA, M. A. O cerrado não é um bioma. Biota Neotropica, v. 11, n. 1, 2011, pp. 21-24. BOEGER, M. R. T. Morfologia foliar e aspectos nutricionais de espécies arbóreas em três estádios sucessionais de Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, Paranaguá, PR. 188 f. Tese (Pós-Graduação em Engenharia Florestal) – Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2000. COUTINHO, L. M. O conceito de bioma. Acta bot. bras., v. 20, n. 1, 2006, pp. 13- 23. COUTINHO, V. S.; LOPES, G. P. A. Mapeamentos Fitogeográficos do Brasil: Uma perspectiva Histórica da Classificação Florística Brasileira. In: Anais do XXVII Congresso Brasileiro de Cartografia XXVI Exposicarta, Rio de Janeiro, 2017, pp. 292-296. FAHN, A. Plant anatomy. 4. ed. Oxford: Pergamon Press Ltd., 1990. FIGUEIRÓ, A. S. Diversidade geo-bio-sociocultural: a biogeografia em busca dos seus conceitos. Revista Geonorte, Manaus, v. 4, n. 4, 2012, pp. 57-77. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 2004. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual Técnico da Vegetação Brasileira, Rio de Janeiro, RJ – Brasil, 2012. MACIEL, E. A. DUARTE, M. C. Uma abordagem ao estudo da flora. Anais do XVII. Congresso de Iniciação Científica da Universidade de Mogi das Cruzes, 2014. MENDES, L. S. Classificação fitofisionômica e sua aplicação na análise ambiental e valoração cênica da paisagem. 66 f. Monografia (Curso de Engenharia Florestal) – Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio Janeiro, Seropédica, 2014. OLIVEIRA-FILHO, A. T. Classificação das fitofisionomias da américa do sul cisandina tropical e subtropical: proposta de um novo sistema – prático e flexível – ou uma injeção a mais de caos? Rodriguésia, v. 60, n. 2, 2009, pp. 237-258. 16 VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, Rio de Janeiro, 1991. WARMING, E. The Oecology of Plants, an Introduction to the Study of Plant Communities. Oxford: Clarendon Press. 1909. Disponível em: <https://nph.onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/j.1469- 8137.1909.tb05526.x>. Acesso em: 26 mar. 2020.
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