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C E N T R O U N I V E R S I T Á R I O M A U R I C I O D E N A S S A U QUIMICA MEDICINAL Prof. Esp. Jardel Souza Estudo dirigido A Química medicinal é uma área da química relacionada ao planejamento, síntese e desenvolvimento de medicamentos. Esta área combina conhecimentos de química e farmacologia para identificar, sintetizar e desenvolver agentes químicos com uso terapêutico e avaliar as propriedades dos medicamentos existentes. A Química Medicinal é multidisciplinar e reúne pesquisadores de diversas áreas além dos químicos sintéticos e de produtos naturais, como os químicos teóricos, biólogos, toxicologistas, farmacologistas, microbiologistas e farmacêuticos. Ao obter uma base molecular bem definida e de ação biológica conhecida, pode-se iniciar o processo de modificação molecular para aperfeiçoar as características já iniciais da molécula de modo que possa potencializar o efeito farmacológico, aumentar seu tempo de ação, melhorar a especificidade com o receptor no caso de fármacos de caráter específico, ou desenvolver novos análogos como no caso dos anestésicos gerais que possuem caráter de ação inespecífica por não possuir grupo farmacofórico definido. Desenvolvimento e modificação molecular de fármacos Diversos são os processos que envolvem a descoberta, desenvolvimento e modificação de fármacos, tendo em vista que em caráter específico, os fármacos possuem em sua estrutura um grupo farmacofórico que irá conferir ação biológica nos receptores, e essa ação irá depender de fatores ligados à interação dentre os grupos funcionais e os receptores. Como por exemplo, ligações do tipo dipolo-dipolo são caracterizadas na presença de ésteres. Com base no aperfeiçoamento molecular, existem processos que são separados em dois grupos: Disjunção ou Associação molecular. O processo de disjunção está ligado à, principalmente, simplificação da molécula, de maneira que os derivados do protótipo tornem-se menos complexos, volumosos ou com menos grupos presentes na molécula. É o caso da simplificação gradativa do estriol ou até mesmo processos de inativação por transporte da morfina em seu análogo codeína, denominado latenciação, onde a codeína passa a ter um grupo metila para bloqueio até a metabolização em fármaco ativo morfina. O processo de retirada do metil da codeína poderia ser exemplificado também como uma disjunção ou simplificação. Os processos de associação envolvem: Adição molecular, que necessita de interações fracas como atração eletrostática ou pontes de hidrogênio; Replicação molecular, que toma por base um determinado grupo e desenvolve como se fosse um “espelhamento” de caráter igual a molécula inicial, podendo ser duplicação, triplicação, e assim sucessivamente; e a Hibridação molecular, que envolve dois grupos distindos por meio de ligação covalente para originar um novo composto como no caso do benorilato (paracetamol+aas). Além destas, existem diversas outras modificações moleculares comumente utilizadas, como o Bioisosterismo. É sempre exemplificado por Antihistaminicos H2, pelo fato de que conservam o núcleo imidazólico da histamina e outros sofreram diferentes modificações, incluindo as do núcleo sem perder a ação farmacológica. P r o f . E s p . J a r d e l S o u z a Todas as modificações moleculares são significativas no âmbito terapêutico, contudo, algumas diversas classes destacam-se por sua importância no contexto histórico e na prática clínica. Observa-se, por exemplo, a importância dos antidiabéticos. Para seleção do antidiabético oral deve-se levar em consideração: valores de glicemia de jejum e pós prandial, peso e idade do paciente e presença de complicações. As sulfonilureias (Ex: glibenclamida) são antidiabéticos orais secretagogos de insulina, já A metformina pode ser o hipoglicemiante de escolha, em monoterapia, para início do tratamento de diabetes mellitus tipo II que apresente glicemia de jejum até 150 mg/d. Tendo em vista que estes fármacos são caracterizados na Diabetes Tipo II, onde não há utilização de insulina como primeira escolha. Na figura da página, observa- se a base farmacológica das sulfonilureias, esta que pode sofrer alterações significativas para ação do fármaco. Modificações no R2, por exemplo, tem como principal fundamentação aumentar a lipofilicidade da molécula. Isso pode interferir na absorção e elliminação do fármaco. A atividade secretagogos das sulfoniuréias se deve a capacidade de bloquear canais de potássio que irá causar uma despolarização da membrana com a abertura de canais de cálcio causando assim a secreção de insulina. Deve ser levado em conta todo processo de transformação do fármaco no organismo, desde a A fase farmacêutica corresponde à desintegração da forma farmacêutica e dissolução da substância ativa, até a farmacocinética e farmacodinâmica. Vale lembrar que o processo de desenvolvimento químico não ocorre nestas fases. DESTAQUES FARMACOLÓGICOS No organismo, o principal objetivo da metabolização é deixar o fármaco mais solúvel e favorecer sua excreção. As modificações moleculares são feitas em caráter de desenvolvimento fora do organismo. Observa-se o desenvolvimento de antivirais. O aciclovir e seus derivados são fármacos específicos para impedir multiplicação viral porque sua fosforilação ocorre somente pela enzima timidina quinase viral, são fármacos específicos por serem derivados de nucleosídeos.O valaciclovir possui maior biodisponibilidade em relação ao aciclovir e ganciclovir por ter a hidroxila protegida do metabolismo sistêmico pelo aminoácido valina. O aciclovir apresenta baixa biodisponibilidade devido à rápida biotransformação. O ganciclovir foi modificado para diminuir a rápida biotransformação ocasionada no aciclovir, desta forma também foi possível aumentar o tempo de ação. Os agentes citostáticos inibem a multiplicação de células neoplásicas através do bloqueio do ciclo celular. De acordo com o mecanismo de ação os agentes citostáticos podem ser classificados como antimetabólitos, agentes alquilantes, antimitóticos, antibióticos citotóxicos e hormônios. O metotrexato Ele irá competir com o 7-8 Diidrofolato pela Diidrofolato redutase, logo, ocorrerá à inibição da enzima que irá resultar na diminuição da biossíntese de purinas necessário para a síntese de novas moléculas de DNA. Destaques Farmacológicos Anestésicos locais e gerais, antinflamatórios, quimioterápicos, dentre outras classes farmacológicas, têm estruturas químicas e formas moleculares coniventes com seu local de ação, seu sítio de ligação e sua ação biológica/terapêutica. Os anestésicos locais não devem ser administrados em locais inflamados, pois o local inflamado tem pH ácido e protona a amina do grupo farmacofórico bloqueando a ação do anestésico. Veja como exemplo também a cafeína, embora não existe evidência científica que comprove um efeito diurético intenso da cafeína, o consumo dela pode levar a um aumento significativo da eliminação de líquidos pela urina devido ao estímulo sobre as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina), contudo, este fármaco é obtido a partir da metilação da teofilina ou da teobromina, pode ser extraída também da Coffea arábica é utilizado como estimulante psíquico e muscular e das metilxantinas é o composto com maior potência estimulante. Durante a primeira guerra mundial Milton Winternitz participou do desenvolvimento do gás mostarda que se tornou uma arma química bastante letal. Durante a segunda grande guerra mundial foi observado os efeitos colaterais do gás mostarda que abriu uma possibilidade de criarfármacos menos tóxicos e mais seletivos para células tumorais. Durante o processo de desenvolvimento de novos análogos sintéticos das mostardas nitrogenadas foi observado que a adição de grupos aromáticos permite que o ataque ocorra de forma mais lenta, consequentemente, teremos uma menor toxicidade. (base nitrogenada mostarda) SOLUBILIDADE Quando se refere também à fármacos que agem a nível de SNC, deve-se levar em consideração todo o processo pelo qual o fármaco “caminha” pelo organismo, denominado farmacocinética, em que características fundamentais são evidenciadas para estas ações. Por exemplo, a lipofilicidade é a propriedade físico-química inerente à molécula de um fármaco que é necessária para que este tenha ação no sistema nervoso central. Fampyra (fampridina ou 4-aminopiridina) é indicado no tratamento de incapacidade de andar em pacientes com Esclerose Múltipla, para melhorar a capacidade de locomoção. É um fármaco básico, que dependendo do pH do meio, pode apresentar-se na forma ionizada ou não-ionizada. Levando em consideração a forma química, podemos afirmar que a forma ionizada deste fármaco possui maior dificuldade em atravessar a membrana biológica. Lipossolubilidade (Log P) é conceituada como o coeficiente de partição de uma substância entre uma fase orgânica e uma fase aquosa. Este modelo mimetiza o que ocorre no organismo, dando a informação sobre o perfil de afinidade do fármaco ao óleo (octanol) ou a água. Sobre o coeficiente de partição é definido que está relacionado com lipossolubilidade de uma molécula onde é definido como a razão entre a concentração da substância da fase orgânica (lipídica) e sua fase aquosa RISCO Durante o processo de desenvolvimento de fármacos eles passam por diversos testes para comprovar a sua eficácia e também se o fármaco é seguro para o paciente. Sendo assim, na produção de um novo medicamento nos temos os testes pré-clínicos e os clínicos. Os clínicos por sua vez podem ser divididos em três fases até a sua aprovação. Os fármacos anti-inflamatórios Coxibes mesmo depois de passar por todos esses processos acabaram sendo retirados do mercado devido a seu potencial de causar risco cardiovascular, o que resultou a pesquisa de novos fármacos desta classe que causassem menos riscos ao paciente ESTUDOS CLINICOS Segundo a Agência Europeia de Fármacos os estudos clínicos são definidos como investigações em seres humanos, objetivando descobrir ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou outros efeitos de produtos para investigar sua segura, reações adversas e eficácia. Sendo assim, podemos dividir os estudos clínicos em quatro fases. A fase I é onde serão realizados os primeiros estudos em humanos sadios para avaliar o perfil clínico do protótipo. A fase 2 determina se o composto é ativo contra a doença-alvo. O composto é administrado para tratamento ou prevenção da doença-alvo. Um objetivo adicional é a determinação de uma faixa dose-resposta adequada. A fase 3 avalia os efeitos do fármaco em populações maiores e mais heterogêneas (frequentemente centenas a milhares de pessoas), em uma população mais heterogênea, na tentativa de reproduzir o uso clínico proposto para o fármaco. A fase 4 (vigilância pós- comercialização, farmacovigilância) ocorre depois de o fámedicamento ser aprovado e comercializado e pode incluir estudos formais, juntamente com relatórios contínuos dos efeitos adversos. Prof. Esp. Jardel Souza P r o f . E s p . J a r d e l S o u z a A atividade biológica está associada a mudanças de energia livre que ocorre nos processos de absorção, distribuição e biotransformação, assim, a atividade biológica está relacionada a variação de energia livre envolvida na interação fármaco- receptor, em estudo publicado no ano de 1964, realizado por Hanch e Fujita descreve um fundamento para analise dessa interação fármaco- receptor. Os antibacterianos beta-lactâmicos precisam sofrer modificações moleculares na sua estrutura química para ter resistência à enzima beta-lactamase, atuar em bactérias gram negativas e ser administrado via oral. A estrutura química do fármaco abaixo não possui resistência à beta- lactamase e não possui ação prolongada porque a resistência à beta-lactamase ocorre devido à presença de dois ou mais grupos volumosos e não possui ação prolongada por não ser um fármaco latenciado. FÁRMACO - RECEPTOR ANTIBIÓTICOS Modificações moleculares em antibióticos são fundamentais para o desenvolvimento de terapias medicamentosas mais eficazes no combate à bactérias, bem como sua ação no organismo. Na classe dos macrolídeos, por exemplo, o grupo cetona da eritromicina foi substituído por uma amina obtendo a azitromicina. Esta modificação molecular resultou em maior tempo de ação da azitromicina pela maior interação com os tecidos e maior espectro para gram negativa. Isso se faz necessário tanto pelo fato de melhorar a ação quimioterápica, quanto para reverter as resistências já evidenciadas ao fármaco com base eritromicina. PENICILINAS As penicilinas são uma classe de antibacterianos amplamente utilizada na prática médica, elas inibem a enzima transpeptidase envolvida na ligação de peptideoglicanos integrantes da parede celular, possui estrutura beta-lactâmica condensada com anel tiazolidínico de 5 membros, o grupo carboxila livre é essencial para atividade e não deve ser latenciado, grupo R define as propriedades farmacológicas, se o grupo R for substituído por grupos químicos volumosos, o fármaco torna-se resistente a beta-lactamase. IMPORTANTE → Sempre deve-se destacar a importância da avaliação clinica para antibiótico de escolha, tendo em vista que a observância do caráter fisiopatológico de cada infecção pode-se introduzir uma antibioticoterapia adequada com base neste processo. Como embasamento explicativo, os beta-lactâmicos possuem melhor ação diante das bactérias gram positiva. Por outro lado, as quinolonas apresentam melhor efeito nas de gram negativa, devido necessidade de agir dentro da bactéria a nível de material genético e sua estrutura molecular seja compatível com os locais de acesso para o interior bacteriano. Descobriu novo potencial de ação biológico? Um novo estudo? Um novo fármaco? Importante destacar que, todo estudo voltado para o desenvolvimento de novos fármacos, ou simplesmente realizar modificações em protótipos, é de extrema importância realizar o registro de patente para que o estudo não seja comprometido diante da indústria. PATENTE As patentes são focos frequentes de estudos de empresas, para que possam explorar lacunas relacionadas à proteção patentária. Os medicamentos genéricos, por exemplo, são desenvolvidos antes mesmo que o medicamento referência perca a patente. Assim, a concorrência dos produtos genéricos faz com que o faturamento dos medicamentos de referência caia substancialmente em pouco tempo. (MONTANARI, C.A. Química Medicinal: métodos e fundamentos em planejamentos de fármacos, Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.). Diante disto, as principais estratégias das empresas farmacêuticas na tentativa de se evitar esta grande perda financeira estão a defesa de mercado, propor modificações químicas e alterações farmacocinéticas. ESTUDOS SOBRE PATENTES Nos últimos anos muitas pessoas têm falado, e escrito, sobre supostos efeitos perversos da lei de patentes sobre a indústria farmacêutica e sobre o acesso a medicamentos. Em nenhum dos casosestas opiniões são precedidas de informações e dados fundamentais para a compreensão do público leigo em geral e o de usuários de medicamentos, em particular, sobre o que é uma patente, por quanto tempo ela vale, o que, de fato – e de direito – pode ser patenteado. Sobre o processo de patente de medicamentos podemos afirmar que é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. O inventor ou o detentor da patente tem o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar a venda, vender ou importar produto objeto de sua patente e/ou processo ou produto obtido diretamente por processo por ele patenteado, em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. Prof. Esp. Jardel Souza
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