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Brasília-DF. Toxicologia Forense: Drogas De abuso Elaboração Camila Linhares Taxini Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO ................................................................................ 9 CAPítulo 1 DROGAS DE ABUSO ................................................................................................................. 9 CAPítulo 2 LEGISLAçãO APLICADA àS DROGAS ...................................................................................... 14 CAPítulo 3 DADOS InTERnACIOnAIS RELATIvOS A COnSUmO, PRODUçãO E TRáfICO DAS PRInCIPAIS DROGAS DE ABUSO ............................................................................................................... 20 unidAdE ii PRInCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A COnTROLE ESPECIAL ......................................... 25 CAPítulo 1 DROGAS ILEGAIS ................................................................................................................... 25 unidAdE iii nARCOTRáfICO ................................................................................................................................. 55 CAPítulo 1 SITUAçãO GLOBAL, UmA BREvE vISãO SOBRE O nARCOTRáfICO .......................................... 55 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 59 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução Na disciplina de “Toxicologia Forense: Drogas de Abuso”, estudaremos os aspectos sócio-legais das principais drogas de abuso, assim como veremos com mais detalhe as drogas ilícitas ou sujeitas a controle especial. Entre essas substâncias, teremos a cocaína, a maconha, a heroína, os alucinógenos, os estimulantes anfetamínicos e inalantes. Finalmente será apresentada uma visão geral do Narcotráfico no Brasil. objetivos » Promover uma visão holística sobre as principais drogas de abuso. » Analisar os aspectos histórico, sociocultural e legal da produção, do consumo e da oferta das drogas de abuso. » Proporcionar ao aluno subsídios para transpor o conhecimento científico para a sociedade. » Apresentar os assuntos de forma mais crítica e embasados na literatura. 8 9 unidAdE i ASPECtoS SoCiolEgAiS dAS drogAS dE ABuSo CAPítulo 1 drogas de abuso Histórico figura 1: Caravela durante as Grandes navegações. fonte: <http://revivendo-fatos-historicos.blogspot.ca/2010/06/as-grandes-navegacoes.html>. figura 2: Revolução Científica. fonte: <http://www.ghtc.usp.br/server/Sites-Hf/felipe-Lourenco/inicial.htm>. 10 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO figura 3: Revolução Industrial. fonte: <http://www.grupoescolar.com/pesquisa/revolucao-industrial.html>. O contato das civilizações com substâncias psicoativas ocorre há séculos. Durante as Grandes Navegações, no século XVI, os europeus introduziram essas substâncias com finalidades médicas e recreativas para a sociedade, mas foi durante a Revolução Científica (século XVI-XVIII) que os princípios ativos isolados foram obtidos mais facilmente, o que aumentou os relatos de complicações entre os usuários e acidentes, fazendo com que essas substâncias fossem responsáveis pela degradação moral e pelo vício do usuário, denominado mais tarde como dependência. As substâncias psicoativas passaram a ser tratadas como produtos comerciais apenas no período da Expansão Europeia e da Revolução Industrial – século XVIII (PASSETTI, 1991, ESCOHOTATO, 1995), e século XIX tanto a Europa quanto os Estados Unidos tinham contato com uma grande variedade de novas drogas, como, por exemplo, compostos à base de cocaína e ópio que eram vendidos sem restrições (MUSTO, 1987; ESCOHOTATO, 1995). Entre 1839-1841, época conhecida como Guerras do Ópio, os britânicos possuíam o monopólio internacional sob o Extremo Oriente e o comércio em larga escala de substâncias psicoativas (PASSETTI, 1991). A proibição de substâncias psicoativas ganhou força em meadosdo século XX com o objetivo de diminuir os prejuízos clínicos, psicológicos e sociais. Por muitos anos, o uso e o tráfico de drogas foram regidos por uma política rigorosa a qual tinha por objetivo a redução da oferta e a repressão do uso de drogas. O trânsito de drogas como mercadoria ilegal era considerado como financiamento de outros crimes transnacionais (FORTE, 2007), como, por exemplo, a compra ilegal de armas utilizadas para tráficos de seres humanos e órgãos, extorsão e corrupção de autoridades e políticos pagos com cocaína ou heroína (RIBEIRO; RIBEIRO, s/d). 11 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I relatório da unodC sobre o crime organizado transnacional O escritório das Nações Unidas sobre drogas e crime (UNODC) lançou, em 17 de Junho de 2010, em Nova Iorque, um relatório sobre “A Globalização do Crime: uma avaliação sobre a ameaça do crime organizado transnacional”. O Relatório, que avalia a ameaça do crime organizado transnacional, foca os principais fluxos do mercado de drogas (cocaína e heroína), de armas de fogo, tráfico de pessoas (para exploração sexual ou trabalho forçado), contrabando de recursos naturais e de produtos falsificados, bem como a pirataria marítima e o cibercrime. Mostra como, por meio do recurso à violência e de subornos, os mercados do crime internacional tornaram-se grandes centros de poder e apresenta uma série de mapas e de gráficos, de alto impacto, sobre os fluxos ilícitos globais e seus mercados. Produzir este Relatório foi um desafio, dado que as provas obtidas, até agora, têm sido muito limitadas e irregulares. “Não obstante a dificuldade intrínseca à investigação criminal, a UNODC conseguiu documentar o enorme poder e o alcance global das máfias internacionais”, disse Mr. Costa. (Fonte: <http://www.dgpj.mj.pt/sections/relacoes-internacionais/eventos/tratados- convencoes-e/relatorio-da-unodc-a/>.) Em um cenário mais recente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a discutir o contexto como uma questão de saúde, acreditando que o controle é feito com prevenção de uso, tratamento e reinserção social (RITTER, 2010). Nesse contexto, os Estados Unidos (1906) passou a exigir detalhadamente a composição dos medicamentos, o que foi chamado de Pure Food and Drug Act. Em 1914, a cocaína e o ópio passaram a ser utilizados apenas com prescrição médica (MUSTO, 1987). Em 1909 foi criada a Comissão de Xangai para lidar com o comércio do ópio na China, porém nem todos os países estavam envolvidos nas discussões, então, apenas em 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), foi possível unir interesses e esforços mundiais para discutir e elaborar Protocolos para combater o tráfico e o consumo de drogas (BEWLEY-TAYLOR, 2003; BEWLEY-TAYLOR, 2005). A partir da Comissão de Xangai, os controles passaram a ficar mais estritos, notadamente após a Primeira Guerra Mundial, sob coordenação da Liga das Nações. O resultado foi a redução de 70% da produção de ópio em 100 anos, enquanto a população global no mesmo período quadruplicou. Não fosse esse esforço de controle, e se o aumento do consumo do ópio apenas acompanhasse o crescimento natural da população, hoje o consumo poderia estar treze vezes maior do que o verificado nos índices atuais. (Fonte: <http://www.unodc.org/ lpo-brazil/pt/drogas/marco-legal.html>.) 12 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO Em 1946, a ONU estabeleceu a Commission on Narcotic Drugs (CND) para tratar das políticas relacionadas às drogas, possibilitando os Estados envolvidos analisarem a situação das drogas no mundo, dar continuidade às decisões da 22a Sessão Especial da Assembleia Geral e tomarem medidas em seu âmbito de ação. Como estratégia para controle e acompanhamento da diversificação das drogas, sintetização de narcóticos e de substâncias psicotrópicas, os países signatários aprovaram as três convenções sobre drogas as quais são complementares e, até hoje, são referências legal para todos os países participantes das Nações Unidas. A primeira convenção aconteceu em 1961, denominada Convenção Única sobre Entorpecentes que teve por objetivo o combate, por meio da cooperação internacional, às substâncias narcóticas tanto possuindo controle sobre as drogas exclusivas para o uso científico e médico, quanto no tráfico das drogas. Em 1968, foi estabelecida a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE, International Narcotics Control Board – INCB em inglês), a qual é responsável pela fiscalização da implementação das Convenções Internacionais das Nações Unidas. A segunda, Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971, teve como objetivo abranger uma maior variedade de drogas, incluindo drogas sintéticas, medidas sobre tráfico e abuso de drogas. A terceira convenção foi contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, em 1988, cujo controle estava direcionado ao tráfico de drogas, à lavagem de dinheiro e aos recursos químicos. (BEWLEY-TAYLOR, 2003; BEWLEY-TAYLOR, 2005, UNODC). A implementação das três convenções internacionais de controle a drogas é monitorada pela CND, a qual atua em todas as áreas relacionadas ao assunto (UNODC). Em 1998, na XX Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU (UNGASS) foi estabelecida uma estratégica integrada com a elaboração de três principais documentos pelo seguinte idealismo “Um mundo livre de drogas – podemos consegui-lo!”, por meio da: declaração política cujo objetivo era a redução significativa, até 2008, da oferta e da procura de drogas; declaração dos princípios orientadores da redução da demanda e oferta de drogas por meio da organização de esforços dos países; e uma resolução para reforçar a cooperação internacional (UNODC). Após dez anos, em 2009, a CND fez a análise dos resultados obtidos pelos Estados-Membros, os quais, em grande maioria, obtiveram progressos significativos. Mesmo que em algumas regiões os resultados não foram como o esperado houve uma tendência geral de estabilização tanto na produção quanto no tráfico e no consumo de drogas. Assim, foi firmado um documento com o objetivo de, até 2019, diminuir ou acabar com a disponibilidade e com uso de drogas ilícitas (UNODC). 13 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I Vários países aderiram as Drug Courts, chamada no Brasil de Justiça Terapêutica, esta trata-se de um processo penal que ajuda diretamente ao não sobrecarregamento do sistema penitenciário. O Drug Court Moviment teve origem no estado de Flórida nos anos 1980. Os casos de menor gravidade como porte ou furtos com a finalidade de aquisição de drogas são encaminhados para reabilitação judicial supervisionada, o condenado recebe tratamento, diminuição das sanções penais, incentivos processuais e passam por testes de drogas periódicos. O programa Drugs Courts é aplicado em muitas cidades norte-americanas (US Department of Justice, 2004). Já nos estados europeus há uma diversidade na política de drogas, embora a tendência seja flexível à liberação, formalmente as políticas ditam a redução da oferta, da demanda e dos danos (RIBEIRO; RIBEIRO, s/d). Segundo Jean-Luc Lemahieu, diretor de Análise de políticas e Relações públicas do UNODC, “há uma expansão global sem precedentes do mercado de drogas sintéticas, tanto em extensão quanto em variedade […] As novas substâncias são rapidamente criadas e vendidas, desafiando os esforços da lei para prender os traficantes e conter os riscos de saúde pública.” (ONU, 2014). Vejamos o crescente número de substâncias psicoativas no mundo entre 1961 e 2013. figura 4: número de novas substâncias psicoativas, psicoativos que não estão sob controle internacional, e narcóticos sem controle internacional de acordo com as convenções internacionais sobre drogas, 1961-2013. fonte: <http://www.unodc.org/documents/scientific/2014_Global_Synthetic_Drugs_Assessment_web.pdf>. Veremos, no próximo capítulo, como funciona a legislaçãono Brasil. 14 CAPítulo 2 legislação aplicada às drogas As leis relacionadas aos usuários de drogas no Brasil evoluíram de totalmente proibicionistas para menos repressoras. A legislação sobre drogas ilícitas na maioria dos países do mundo tem por base as mesmas legislações das Convenções das Nações Unidas (ONU), vistas no capítulo anterior. O Brasil assinou e ratificou os tratados internacionais como estes. » Convenção Única sobre Entorpecente. » Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas. » Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas. » Declaração dos Princípios Orientadores da Redução da Demanda. O Decreto no 847 de 1890 determinou a punição com multa do crime de expor à venda ou ministrar substâncias classificadas como venenosas pelo art. 159 (VENTURA et al., 2009) revogado pelo Decreto no 4.294 em 1921. Esse Decreto foi regulamentado no mesmo ano (1921) pelo Decreto no 14.969 o qual determinava a criação dos sanatórios para toxicônamos (PEDRINHA, 2009; BARATTA, 1992). Art. 159. Expor à venda, ou ministrar, substâncias venenosas, sem legítima autorização e sem as formalidades prescritas nos regulamentos sanitários: Pena – de multa de 200$ a 500$000 (CUNHA, 2007). Decreto no 4.294, que estabelece penalidade para os contraventores na venda de cocaína, ópio, morfina e seus derivados; cria um estabelecimento especial para internação dos intoxicados pelo álcool ou substâncias venenosas; estabelece as formas do processo o julgamento e, manda abrir os créditos necessários. Fonte: <http://www.arquivopublico.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/leidrogas.pdf>. DECRETO NO 14.969, DE 3 DE SETEMBRO DE 1921 Aprova o regulamento para a entrada no País das substâncias tóxicas, penalidades impostas aos contraventores e sanatório para toxicômanos. Fonte: Câmara dos Deputados <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/ decreto-14969-3-setembro-1921-498564-norma-pe.html>. 15 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I Em 1932, o Decreto no 20.930 fiscaliza a entrada e o comércio de substâncias tóxicas no País, e estabelece pena. Ele foi promulgado e, dois anos depois (1934), foi alterado pelo Decreto no 24.505, e, em 1938, foi revogado pelo Decreto-Lei no 891 que conduziu ao art. 281 do Código Penal de 1940 (PEDRINHA, 2009; BARATTA, 1992). O Código Penal de 1940 tinha como base não tratar o consumo de drogas como crime, porém, em 1964, com o golpe militar, essa ideia começou a ser mudada já que os investimentos nacionais e internacionais estavam direcionados ao combate às drogas, as quais eram vistas no mundo como elemento de desordem e revolução. Na década de 1970 as substâncias psicotrópicas, além de representar perigo aos usuários, passaram a ameaçar a sociedade, então, as leis tornaram-se opressoras. DECRETO NO 20.930, DE 11 DE JANEIRO DE 1932 Fiscaliza o emprego e o comércio das substâncias tóxicas entorpecentes, regula a sua entrada no País de acordo com a solicitação do Comitê Central Permanente do Ópio da Liga das Nações, e estabelece penas. Fonte: Câmara dos deputados <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/ decreto-20930-11-janeiro-1932-498374-publicacaooriginal-81616-pe.html>. Art. 281. Importar ou exportar, vender ou expor à venda, fornecer, ainda que a título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em depósito, guardar, ministrar ou, de qualquer maneira, entregar a consumo substância entorpecente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de dois a dez contos de réis. Fonte: <http://jus.com.br/artigos/14470/a-evolucao-da-legislacao-brasileira-sobre-drogas>. Assim, em 1971, a Lei no 5.726 passou a penalizar usuários e traficantes da mesma forma, até seis anos de reclusão privada de liberdade, essa política incriminadora elaborou e promulgou vários textos legais, como, em 1976, com a Legislação Antitóxicos, a Lei do Crime Organizado, a Lei de Crimes Hediondos, e a Lei no 6.368 a qual fortificou a relação entre dependentes e criminosos (BARATTA, 1992). No art. 36 da referida Lei, foi determinado que todas as substâncias que causassem dependência física ou psíquica, de acordo com o Ministério da Saúde, seriam consideradas “Substâncias entorpecentes” (Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas). LEI NO 5.726, DE 29 DE OUTUBRO DE 1971 Dispõe sobre medidas preventivas e repressivas ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica e dá outras providências. Fonte: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5726-29-outubro-1971-358075- norma-pl.html>. 16 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO LEI NO 6.368, DE 21 DE OUTUBRO DE 1976 Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica e dá outras providências. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Art. 36. Para os fins desta Lei serão consideradas substâncias entorpecentes ou capazes de determinar dependência física ou psíquica aquelas que assim forem especificadas em lei ou relacionadas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde. Em 1980, o Decreto no 85.110 institui o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes o qual tem a responsabilidade de prevenir, assim como fiscalizar e repreender o uso e o tráfico de drogas, e também é responsável pelas atividades de recuperação dos dependentes. DECRETO no 85.110, DE 2 DE SETEMBRO DE 1980 Institui o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes e dá outras providências. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Devido ao desemprego e à marginalização da população, o empobrecimento reforçou a ideia da relação de usuários de drogas com a criminalidade, então, em 1988, foi determinado que o tráfico de drogas seria um “crime insuscetível de anistia e de graça determinando sua inafiançabilidade” (VENTURA 2011). Na década de 1990, foi criado o Programa de Ação Nacional Antidrogas (PANAD) e a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) um reflexo da aprovação, pelo Congresso Brasileiro, da Convenção de Viena em 1991. Há nesse contexto duas situações distintas (PEDRINHA, 2009; BARATTA, 1992): » os consumidores da classe social mais alta que recebem suporte médico; » por outro lado os vendedores da classe social mais baixa que são tratados como criminosos, esse é o cenário das drogas no Brasil. Por anos, o modelo adotado não teve sucesso na diminuição do uso e do abuso das drogas ilícitas, então, em 2002, a Lei no 10.409 foi promulgada afim de aproximar a legislação brasileira das convenções internacionais, as quais diferenciavam o tratamento do usuário vítima com medidas profiláticas e educativas, tratando e reabilitando aos portadores 17 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I de substâncias tóxica para o uso próprio (FORTE, 2007). Contudo nesse momento a legislação antitóxicos tinha em vigor a lei de 2002 apenas na parte processual, na parte penal, a lei em vigor ainda era a de 1976. LEI NO 10.409, DE 11 DE JANEIRO DE 2002 Dispõe sobre a prevenção, o tratamento, a fiscalização, o controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícitos de produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica, assim elencados pelo Ministério da Saúde, e dá outras providências. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: < http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Em 2006, foi promulgada a Lei no 11.343,a qual criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), o art. 28 da referida Lei diferencia o usuário do dependente de drogas, permitindo que cada caso seja tratado de forma específica e com intervenção penal. O art. 75 revogou os documentos de 1976 e 2002 acima citados (PEDRINHA, 2009; BARATTA, 1992). Outra mudança na mesma lei foi nomear de “droga” as substâncias entorpecentes que causam dependência física ou psíquica. LEI NO 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006 Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: < http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I – advertência sobre os efeitos das drogas; II – prestação de serviços à comunidade; III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. 18 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Até 2010 as Leis estavam focadas no consumo e na venda de bebidas alcoólicas. Em maio de 2010, o Decreto no 7.179 instituiu o Plano Integrado de enfrentamento ao Crack e outras Drogas o qual era responsável desde a prevenção, passando pelo tratamento e reinserção na sociedade chegando ao combate do tráfico. DECRETO NO 7.179, DE 20 DE MAIO DE 2010 Institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e a outras Drogas, cria o seu Comitê Gestor, e dá outras providências. Fonte: Portal Ministério da Justiça, Política sobre Drogas, disponível em: <http://portal.mj.gov. br/main.asp?View={EED8C7AA-2894-4544-BE3F-00DFE6A20A4B}>. Como vimos, de modo geral, as leis têm por objetivo diminuir a oferta e a procura nas tentativas de sanar os direitos humanos dos usuários de drogas e tráfico, abrangendo as políticas de saúde pública e segurança. Em suma, em 1890 substâncias venenosas passaram a ser denominadas de “substâncias entorpecentes”. Em 1932 começaram a consolidar Leis Penais relacionadas com produção, distribuição e consumo de substâncias entorpecentes. Em 1938, a proibição teve maior vigor, onde os toxicômanos eram internados, produtores, comerciantes e consumidores eram condenados a pena imponível. O proibicionismo, das drogas classificadas como ilícitas, dificultou o acesso à informação, ao controle da qualidade dessas substâncias para consumo, a assistência para usuários, o uso para fins medicinais e incentivou o consumo oculto e anti-higiênico propagando outras doenças como a hepatite e a AIDS. Em 1971, usuários e traficantes passaram a sofrer a mesma pena. Em 2001, houve uma implementação da interação entre o governo e a sociedade na intenção de descentralizar as discussões a fim de torná-la democrática, antes feita apenas com a participação do governo e da comunidade científica. Em 2006, houve a separação na forma de 19 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I tratamento e pena entre usuários, dependentes e traficantes, e houve a autorização para a quebra de sigilo pessoal como dados bancários, telefônico, de imagens, como busca de prova contra si mesmo dos próprios atos criminosos, nesse mesmo ano as substâncias entorpecentes passaram a ser chamadas drogas (KARAN, 2010). 20 CAPítulo 3 dados internacionais relativos a consumo, produção e tráfico das principais drogas de abuso O abuso de drogas e o tráfico de ilícitos continuam tendo um impacto profundamente negativo para o desenvolvimento e a estabilidade em todo o mundo. Os bilhões de dólares gerados pelas drogas ilícitas alimentam atividades terroristas e estimulam outros crimes como o tráfico de seres humanos e o contrabando de armas e pessoas. As drogas ilícitas e as redes criminosas relacionadas enfraquecem o Estado de Direito. A impunidade com a qual esse negócio se sustenta provoca grande temor e semeia a decepção com a governança em todos os níveis diz Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU (ONU, 2010). figura 5: Desenho ilustrativo do uso da Cocaína. fonte: <http://tecciencia.ufba.br/a-liga-de-candeias/midiateca/videos/olha-o-cerebro-de-quem-usa-cocaina>. Em Portugal, o uso de cocaína duplicou e as apreensões aumentaram sete vezes entre 2001 e 2006, colocando-o em sexto lugar no ranking mundial. Em 2005, as mortes por overdose em Portugal, Austrália, Grécia e Finlândia apresentaram um aumento superior a 30% e, na mesma época, 2005 a 2007, o consumo de cocaína tendeu a aumentar em outros países Europeus como na França, Irlanda, Espanha, Reino Unido, Itália, Dinamarca (WORLD DRUG REPORT, 2009). 21 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I Entre 2006 e 2010, foi observada uma redução na produção global da cocaína, principalmente devido ao declínio da sua produção na Colômbia (Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência, 2008). Contudo o uso da cocaína continuou alto na América do Norte e continua a crescer na América do Sul, enquanto na África o uso da cocaína tem aumentado devido ao fato de ser uma rota de tráfico, e na Ásia o poder de compra da cocaína tornou alguns países desse continente vulnerável. figura 6: Cigarro de maconha. fonte: <http://russasnews.com.br/destaque/russas-policia-militar-prende-professor-com-10gr-de-maconha/>. A Convenção Internacional das Nações Unidas de 1961, revista em 1972, incluiu a maconha no grupo dos narcóticos como a cocaína e a heroína. Foi na Convenção de Viena, em 1987, assinada por 168 países, que o uso da droga para fins que não médico ou científico passou a ser proibido. Quando se trata da maconha, França, Espanha, Irlanda, Grécia, Itália, Países Baixos e Portugal apresentaram um aumento de 20% no consumo entre 2004 e 2007, e, em 2006, a Itália passou a não distinguir mais drogas “leves” de drogas “duras”. Alguns países como Inglaterra, Austrália, Holanda e Suíça estão tentando resgatar suas políticas liberalizadoras, o índice do uso de maconha é de 11% na Inglaterra, 15% na Holanda e 12% na Bélgica contra 20% na Espanha em que as políticas em relação ao uso de drogas são mais liberais (Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência, 2008). Em geral, o uso de maconha parece estar diminuindo embora em alguns estados dos EUA e no Uruguai, em determinadas condições, a planta é liberada para fins terapêuticos o que tem aumentado o consumo na América do Norte devido a essa percepção de causar pouco risco à saúde. 22 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO figura 7: Drogas injetáveis e HIv. fonte: <http://www.abead.com.br/noticias/exibnoticia/?cod=173>. Segundo o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas, em 2006, Luxemburgo foiclassificado como o país europeu com maior taxa de consumidores de drogas por via injetável, seguido por Portugal. Nesse mesmo ano, Portugal atingiu o topo da lista dos países europeus com um maior número de usuários de drogas injetáveis infectados com HIV, o número de novos casos de infecção por Hepatite C e HIV em toxicodependentes é oito vezes superior à média registrada em todos os outros países membros da União Europeia (Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência, 2007). As drogas como cocaína, heroína, entre outras, matam 200 mil pessoas por ano, além de ajudar na disseminação do HIV e Hepatite, estão relacionadas a insegurança, crime e instabilidade, prejudicando o desenvolvimento econômico e social. Por exemplo, seria necessário 0,3% do PIB mundial, cerca de R$ 413 bilhões, para cobrir os custos relacionados ao tratamento de drogas, também há a perda de produtividade da sociedade equivalente a 0,9% do PIB, em alguns países como Irlanda do Norte e Reino Unido gasta equivalente a 1,6% do PIB com custos associados a crimes relacionados a drogas como assaltos, roubos e fraudes (PORTAL R7, 2012). A UNODC publicou que aproximadamente 5% da população mundial entre 15 e 64 anos, 230 milhões de pessoas, consumiram algum tipo de droga ilícita pelo menos uma vez em 2010, e 27 milhões delas são consideradas usuários com dependência ou apresentam distúrbios relacionados ao uso (ONU 2010). Entre as drogas mais consumidas estão as seguintes (ONU, 2010). » Cannabis, da qual pode se obter a maconha, o haxixe e o skank, abrangendo aproximadamente 5% da população mundial. » Cocaína é consumida por 0,4% da população mundial tendo como maiores consumidores a América do Norte, Europa e Oceania. » Opiáceos por 0,5% da população adulta mundial. 23 ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE I Na Europa, aproximadamente um quarto da população adulta (85 milhões) consumiram algum tipo de droga ilícita em algum momento da sua vida. Setenta e sete milhões delas afirmam ter consumido maconha, 14,5 milhões consumido cocaína, 11,4 milhões ecstasy (OBSERVATÓRIO EUROPEU DAS DROGAS E DA TOXICODEPENDÊNCIA, 2014). figura 8. Esquema da prevalência de drogas estimulantes na Europa. fonte: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/web/noticia/ler_noticia.php?id_noticia=107729>. O Relatório Mundial Sobre Drogas, em 2012, 2013 e 2014, mostrou que o uso de drogas em geral manteve-se estável. Embora drogas como heroína e cocaína parecem estar em declínio, o Afeganistão, maior produtor do mundo de papoula de ópio (80%), aumentou sua área de cultivo em 36% em apenas um ano (2012-2013). Curiosamente nos EUA usuários dependentes de opioides estão trocando opioides sintéticos por heroína, enquanto, nos países europeus, usuários de heroína têm trocado-a por opioides sintéticos, essa alternância deve-se provavelmente pelos baixos preços e acessibilidade. Segundo o chefe da UNODC, Fedotov, o sucesso no controle das drogas é fazer uma abordagem direcionada na oferta e na demanda baseando em evidências e focando na prevenção, tratamento, reabilitação e integração social, “Isso é particularmente importante na medida em que estamos nos aproximando da Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre o problema das drogas em 2016”. Para complementar a Unidade I, seguem sugestões de sites para leitura e estudos complementares: – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL: <http://www.onu.org.br/index.php?s=drogas&x=0&y=0> 24 UNIDADE I │ ASPECTOS SOCIOLEGAIS DAS DROGAS DE ABUSO – ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIMES: <http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/drogas/index.html> – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/agencia> – OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/index.php> – MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: POLÍTICAS SOBRE DROGAS: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B941FFFEB-2CB3-443C-A432- D715EF46D17C%7D> – LAW ENFORCEMENT AGAINST PHOHIBITION: <http://www.leapbrasil.com.br/noticias/informes> – COMISSÃO EUROPEIA: <http://ec.europa.eu/health/drugs/portal/index_pt.htm> – EUROPEAN COALITION FOR JUST AND EFFECTIVE DRUG POLICIES: <http://www.encod.org/info/spip.php?rubrique21> 25 unidAdE ii PrinCiPAiS drogAS dE ABuSo, ilíCitAS ou SuJEitAS A ControlE ESPECiAl CAPítulo 1 drogas ilegais Classificação das drogas A palavra “droga” teve origem na palavra holandesa “drogg” que significa folha seca. Atualmente, a palavra “droga” abrange mais do que os vegetais utilizados para medicamentos, segundo a OMS, droga é qualquer substância exógena capaz de atuar no sistema alterando seu funcionamento (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS, 2008). Assim, droga é qualquer substância capaz de modificar as funções fisiológicas e/ou comportamentais de um organismo vivo. Também são conhecidas como substâncias psicoativas por serem substâncias exógenas que modificam o funcionamento do sistema nervoso central, causando alterações no estado psíquico. A ação de cada droga é característica e depende da quantidade utilizada. As drogas de abuso são substâncias que alteram o funcionamento do sistema nervoso central, modificando o nível de percepção e/ou o humor do usuário, elas são classificadas em lícitas e ilícitas (CARLINI et al., 2001; GIL et al., 2008). A dependência gera várias consequências relacionadas à saúde do usuário, à sociedade e à economia. A saúde do usuário muitas vezes fica comprometida, mas não é apenas isso. O relatório de Administração de Serviços para Abuso de Substâncias e de Saúde Mental (SAMHSA) apresentou um estudo nos Estados Unidos apontando que adultos que usam drogas ilícitas são mais propensos a pensar em suicídio. O pensamento suicida varia com o tipo da droga ilícita utilizada. Em 2013, foi relatado que 9,6% dos usuários adultos de maconha tiveram pensamentos séricos sobre suicídio 26 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL enquanto 20,9% dos usuários de sedativos para fins não medicinais tiveram o mesmo pensamento. (OBID, 2014). O Instituto Nacional de Drogas de Abuso (Nida/NIH), nos Estados Unidos, conta com a colaboração do Brasileiro Fábio Cardoso Cruz o qual define o comportamento de dependência como: [...] a dependência é um comportamento de aprendizado associativo. Quando um indivíduo começa a usar uma determinada substância, seu encéfalo associa o efeito da droga com o local em que ela está sendo consumida, as pessoas em volta e a parafernália envolvida, como seringas, por exemplo. Com o uso repetido, essa associação fica cada vez mais forte, até que a simples exposição ao ambiente, às pessoas ou aos objetos já desperta no dependente a fissura pela droga e acrescenta que: Quando o dependente depara com algo que o faz lembrar da droga, esses pequenos grupos neuronais são ativados simultaneamente e, dessa forma, a memória do efeito da droga no organismo vem à tona, fazendo com que o indivíduo sinta um desejo compulsivo pela droga que é capaz de controlar o comportamento e fazer com que o dependente em abstinência tenha uma recaída mesmo estando ciente de possíveis consequências negativas, como perda do emprego, da família ou problemas de saúde (OBID, 2013). Confiar o link: <http://learn.genetics.utah.edu/content/addiction/mouse/> As drogas estão divididas em três grupos (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). » DEPRESSORAS: fazem o cérebro funcionar mais lentamente diminuindo a atividade motora, concentração, atenção, capacidade intelectual, entre outras (inalantes, opiáceos etc.). » ESTIMULANTES: aumentam a atividade alguns sistemas, como, por exemplo, acelerando processos psíquicos e provocando um estado de alerta exagerado (cocaína, anfetaminas etc.). » PERTURBADORAS: também conhecidas como alucinógenos por causarem distorções qualitativas nofuncionamento cerebral, como alteração na senso-percepção, delírios e alucinações (maconha, ecstasy, alucinógenos, LSD etc.). 27 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II figura 9: maconha, Ecstasy Cocaína, Heroína, Tabaco e Crack. fonte: <http://www.paralelo.g12.br/default.asp?cod=34>. A Anvisa separa as substâncias em três listas: Amarela, onde estão listados os entorpecentes de controle internacional; Verde com os psicotrópicos de controle internacional; Vermelha que possui os precursores e insumos químicos de controle internacional. Todas segundo as Convenções da Organização das Nações Unidas. Como exemplo, temos as anfetaminas inseridas na Lista-A3 das substâncias psicotrópicas; A Cannabis sativa na Lista-E das plantas proscritas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas; a cocaína e a heroína nas Lista-F1 das substâncias de uso proscrito no Brasil, substâncias entorpecentes. Segue o link com as listas completas: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/329716.pdf> Estudaremos, nos próximos tópicos, algumas substâncias importantes para nosso curso. Cocaína A cocaína é o principal alcaloide do arbusto Erythroxylon coca encontrado no leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica, é cultivada em clima tropical em altitudes variando entre 450 m e 1.800 m acima do nível do mar (LEITE, 1999; FERREIRA; MARTINI, 2001). A cocaína apresenta 80% dos alcaloides presentes na folha da coca, entre eles também são encontrados morfina, nicotina, cafeína, tiamina, riboflavina e ácido ascórbico (FERREIRA; MARTINI, 2001). A palavra “coca” tem origem Inca e significa planta ou árvore em aymara, sua utilização data mais de 2.500 anos em que as folhas eram utilizadas em rituais religiosos. A prática de mascar as folhas tira a fadiga e a fome devido à sua ação psicoativa, os nativos da fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela mascavam a folha da coca torrada e misturada com elementos alcalinos, conhecida como epadu, mas apenas na metade do século XX começou a extração da cocaína (GOLD, 1993; WEISS et al., 1994). 28 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL No Brasil, no século XX, a cocaína era comercializada legalmente tanto em sua forma pura quanto na fórmula de remédio (CARLINI et al., 1996), em apenas 30 anos a visão social sobre a cocaína passou de uma substância sem efeitos colaterais para uma droga com restrições severas (LEITE, 1999). O consumo de cocaína na população brasileira aumentou no final da década de 1980 e início da de 1990. Em 1987, o consumo de cocaína era de 0,5% e, em 1997, esse número quadruplicou passando para 2,0%. Entre 1988 a 1999, as internações pelo uso de cocaína passaram de 0,8% para 4,6% (NAPPO, 1996; GALDURÓZ et al., 1997; LEITE 1999). Segundo o Relatório Brasileiro sobre Drogas (2009) e o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, em 2005, o uso de cocaína no mês foi de 0,4%, e, em 2007, as internações associadas a transtornos mentais e comportamentais pelo uso da cocaína foi de 5% (6.912) do total das internações por drogas, enquanto o número de óbito passou de 22 para 37 de 2001 para 2007. Perdendo apenas para o álcool (56,7%), o número de afastamento do trabalho por causa da cocaína, entre 2001 e 2006, foi de 20,1% (8.691) do total de afastamentos por uso de drogas em geral. Os dados acima mostram uma pequena parte do grande impacto social da cocaína causado pelos conflitos profissionais e familiares, envolvimento com atividades ilícitas, velocidade com que o uso torna compulsivo, negligência com as obrigações, enfim, pela desorganização de um modo geral na vida dos usuários (OBID, 2014). Há duas espécies de coca mais comuns no mercado, a huanuco que é a coca boliviana de folhas ovais e cor marrom-esverdeada, e a coca peruana, que tem muito mais alcaloide, possui folhas menores de cor verde-clara. Em 1960, Albert Niemann isolou o principal alcaloide da folha de coca, observou também seu sabor amargo e o efeito de entorpecer a língua, surgindo, assim, o primeiro anestésico tópico da medicina (DROGAS CAMINHO SEM VOLTA, s/d). figura 10. folha de coca na Bolívia. fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0510200607.htm>. 29 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II figura 11. folha de coca no Peru. fonte: <http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/2013/09/peru-e-o-maior-produtor-mundial-de-folhas-de-coca.shtml>. refino Primeiramente, ocorre a germinação e o desenvolvimento da planta de coca nas sementeiras. Após alguns meses, a planta é transferida para a plantação direta. A produção começa um ano e meio após o plantio, sua colheita ocorre várias vezes ao ano e foi economicamente viável por quase trinta anos. As folhas são guardadas em barracões fechados e com piso de terra batida para que a umidade seja conservada, evitando, assim, que o calor decomponha os seus alcaloides (FERREIRA, 2009). As folhas são transportadas para terreiros cimentados e colocadas em camadas de 15 cm a 20 cm para secarem aos poucos no sol, assim o calor elevado não decompõe os alcaloides e a cocaína não é perdida. As folhas secas são acondicionadas em fardos ou em tambores de 25 kg a 150 kg (MUAKAD, 2009). Há duas formas diferentes para o refino da cocaína (MUAKAD, 2009). Vejamos primeiro o empregado em laboratórios autorizados. 1. Moer as folhas de coca. 2. Lavar o pó das folhas de coca com álcool em um tanque. 3. Retirar a substância formada no fundo do tanque através de tubo que levará até o alambique para o álcool passar por destilação. Dessa forma as impurezas são perdidas e passa por novas lavagens. 4. Passar a substância restante por uma serpentina refrigerada a qual se acumulará num tanque contendo cera. 5. Misturar a cera com água, aquecer com vapor da serpentina até 60ºC e resfriar em seguida. 30 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL 6. Preencher o tanque com agua fria através das serpentinas e essa mistura ficará por horas cozendo. 7. Passar a água, que contem a maioria dos alcaloides, por um filtro que bombeia essa água para fora; a cera solidifica-se na parte superior das serpentinas. 8. Aquecer novamente a cera endurecida e passar pelo processo de destilação com ácido sulfúrico juntamente com carbonato de sódio para que os alcaloides da coca precipitem. 9. Dissolver os alcaloides em querosene e resfriar a mistura. Na superfície do tanque formará uma camada pastosa em forma de cristais de cocaína natural. 10. Retirar a camada pastosa e lavar com gasolina, os cristais retirados serão dissolvidos em ácido sulfúrico. 11. Tratar a mistura com carbonato de sódio, os alcaloides precipitarão e depois de secos tratar com outras substâncias até formarem os cristais de cocaína. São estas as Técnicas empregadas em laboratórios clandestinos (MUAKAD, 2009). 1. Colocar 150 kg de folhas secas de coca em um buraco aberto no solo. 2. Macerar com querosene. 3. Colocar o produto em tanques com ácido sulfúrico, assim os alcaloides serão acidificados e formarão os sais, obtendo os sulfatos de cocaína, hygrina e outros solúveis em água. 4. Tratar o líquido com substância alcalina, resultando assim na cocaína- base que é solúvel em solventes orgânicos e insolúvel em água. 5. Acrescentar solventes orgânicos voláteis para que depois de algum tempo evaporem ficando apenas a cocaína, sem odor. Caso haja enchido, é um indicativo de que é necessário um tempo maior de evaporação. Em Chapare, cidade Boliviana, durante a extração da cocaína 500 kg de folhas de coca são transformados em 2,5 kg de pasta de coca de onde é extraído 1 kg de sulfato de base da cocaína. Destilando 1 kg de sulfato de base da cocaína é extraído 1 kg de hidroclorido de cocaína que é misturada com talco e outros produtos para multiplicar a quantidade por8 até 12 vezes (MUAKAD, 2009). 31 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II diferentes formas de apresentação da cocaína: crack, pasta base, sal, merla, misturas A cocaína pode ser consumida de diversas formas. » Crack: Mistura de cocaína refinada com substâncias alcalina, bicarbonato de sódio ou amônia, e um solvente como éter ou acetona. Apresenta em forma de pedras. A mistura é aquecida e precipita os cristais de cocaína. São fumados (UNIAD). A enzima butirilcolinesterase (BCHE) é sintetizada principalmente no fígado e é responsável por degradar a cocaína no sangue. A alteração no gene que codifica a BCHE pode influenciar na preferência dos dependentes de cocaína pela forma de crack, quanto mais enzimas ativas o usuário apresenta, menor a dose de cocaína que chega ao sistema nervoso central, diminuindo assim o efeito da droga (OBID, 2013). figura 12: Pedras de Crack. fonte: <http://alcoholism.about.com/od/coke/ig/cocaine/cocaine08.htm>. » Pasta base: É um produto formado durante a fabricação da cocaína refinada, contém 40-90% de sulfato de cocaína e tem propriedade alcalina por isso pode ser fumada. Tem processamento mais simples e apresenta muitas impurezas, assim é mais barato. Geralmente é misturada com tabaco ou maconha (UNIAD). figura 13. Pasta Base. fonte: <http://www.24horasnews.com.br/noticias/ver/policia-civilapreende-cerca-de-125kg-de-pasta-base-autua-dois-e-apreende-um- adolescente-em-querencia.html>. 32 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL » Sal: O produto final do refino da cocaína em forma de cristal, ou pó branco, é amargo e sem cheiro. É a forma mais comum do cloridrato de cocaína. Pode ser inalado ou endovenoso quando diluído em água (UNIAD). figura 14. Cocaína em pó. fonte: <http://vivabem.band.uol.com.br/comportamento/noticia/?Id=100000530450>. » Merla: De consistência pastosa e cores que variam de amarelo escuro à marrom. É a pasta base de coca, ácido sulfúrico, querosene, gasolina, cal virgem, éter e pó de giz. É fumada e mais nociva do que o crack, altamente tóxica aos pulmões (MUAKAD, 2009). figura 15. merla. fonte: <http://quimicadapaz.blogspot.ca/2011/07/merla-uma-droga-brasileira.html>. » Misturas: Pode ser mascada, às vezes as folhas de coca são misturadas com cal ou cinzas para reduzir o sabor amargo. Pode também ser enjerida como chá de coca (MUAKAD, 2009). 33 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II figura 16. folhas de coca. fonte: <http://www.campinas.sp.gov.br/governo/seguranca-publica/prevencao-as-drogas/tipos-de-drogas.php>. A meia-vida da cocaína é de aproximadamente 50 minutos, no entanto, quando ela é administrada via nasal o efeito é imediato, embora a concentração plasmática demore 60 minutos para ser atingida. Quando fumada, o efeito aparece em questão de segundos, os efeitos produzidos pela via pulmonar são mais intensos e rápidos, os usuários procuram por mais doses após apenas 10-30 minutos. Quando a cocaína é aspirada, leva em torno de três minutos e, quando administrada via intravenosa ou em forma de base livre fumada, o efeito é um pouco mais curto do que a meia- vida, com duração de 40-45 minutos. O efeito mais demorado é quando a cocaína é administrada via oral, a cocaína demora em torno de 20 minutos para começar a fazer efeito e seu efeito finaliza em 90 minutos. A diminuição dos níveis de cocaína plasmáticos faz com que os usuários tenham desejo pela droga novamente. (RANG et al., 2001; BAUMKARTEN, 2002; GOLÇALVES, 2007; OGA, 2008; MOREAU, 2008). A cocaína é um vasoconstritor o que faz com que a velocidade de absorção seja limitada, a velocidade de absorção pode ultrapassar a velocidade da eliminação (desintoxicação e excreção) tornando a cocaína extremamente tóxica (CARLINI et al., 2001; CUNHA, 2006). Os sintomas de envenenamento são mudanças no comportamento do indivíduo como inquietude, perturbação, ansiedade, reflexos aguçados, e os sintomas fisiológicos como frequência cardíaca aumentada, respiração irregular, dores abdominais, náuseas e vômitos. A intoxicação pode ser letal e os sintomas observados são aumento da frequência cardíaca e da temperatura corporal, diminuição das respostas dos estímulos verbais, delírios, convulsões, fibrilação ventricular até chegar ao coma (GONÇALVES, 2007). Uma pesquisa realizada na Suíça discute o comportamento de usuários de cocaína. Segundo o estudo usuários de cocaína, quando comparado com indivíduos que não 34 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL usuários de cocaína, têm dificuldade em sentir apatia por outras pessoas e também têm uma tendência menor de interagir socialmente. O estudo descobriu que os usuários em questão apresentam: dificuldade em entender a perspectiva mental de outras pessoas, demonstraram menos empatia emocional, acharam difícil identificar emoções nas vozes de outras pessoas, relatam menos interações sociais, demonstram menos engajamento durante interações sociais, as interações sociais são “menos recompensadoras para usuários de cocaína”. Assim, há a ideia de utilizar o “ensino de como interagir melhor com os indivíduos” no tratamento para a dependência, utilizando esse comportamento a favor do sucesso da recuperação (OBID, 2014). diluentes, adulterantes e contaminantes frequentemente encontrados As alterações no processo da fabricação da cocaína podem ocorrer de duas maneiras principais: Modificar a forma de apresentação utilizando produtos químicos, chamados contaminantes solventes, ácidos inorgânicos, substâncias alcalinizantes, agentes oxidantes) durante diferentes fases do processo, porém durante a purificação da droga parte das substâncias adicionadas são eliminadas; ou adicionar substâncias para aumentar o volume do produto, como adulterantes e diluentes. Os adulterantes são substâncias químicas que apresentam aspecto e propriedades farmacológicas similares à da droga (anfetaminas, lidocaína, cafeína), enquanto os diluentes são similares apenas no aspecto sem características farmacológicas semelhantes bicarbonato de sódio, sulfato de magnésio, amido, açúcar) (PASSAGLI, 2007). A importância em detectar o tipo de contaminante é obter informações sobre os produtos químicos utilizados na produção da droga. Se o contaminante for constante nas amostras, pode-se controlar a elaboração do entorpecente. Da mesma forma, a identificação dos adulterantes e diluentes tem grande importância, pois sabendo a substância adicionada à droga pode-se obter informação em relação às atividades relacionadas ao tráfico, consultando os fornecedores dessas substâncias adicionadas, bem como é possível relacionar a região geográfica onde a droga foi elaborada, pois a associação entre cocaína e diluente ou cocaína e adulterantes pode ser característica de determinadas regiões (PASSAGLI, 2007; VARGAS, 2001). Nos laboratórios de Toxicologia ou especializados em Química Forense, os procedimentos analíticos de rotina são a cromatografia de camada delgada (CCD) para a identificação da droga e, quando necessária, a cromatografia de gás (CG) para a confirmação ou quantificação da droga. Outra técnica utilizada para análise forenses de cocaína é a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), relatada na literatura, porém não muito 35 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II usual. Os exames permitem detectar, identificar a substância, assim como inferir a forma de apresentação da substância. Para processo criminal, o ordenamento jurídico brasileiro não exige o conhecimento do grau de pureza da droga e nem a identificação e a quantificação de substâncias adulterantes e diluentes, salvo em casos especiais, as análises ajudam na comparação precisa entre amostras apreendidas em situações distintas e a fazer relação entre suas produções,importante para os procedimentos investigativos (ASDEP, 2010). figura 17. Cromatografia de camada delgada. fonte: <http://www.bio-rad.com/pt-br/applicationstechnologies/chromatography>. figura 18. Cromatografia de gás. fonte: <http://www.biomedicinabrasil.com/2012/10/metodos-cromatograficos.html>. Maconha Maconha, Cânhamo, Haxixe, Erva, Baseado, Marijuana, THC (9-tetraidrocanabinol), são os nomes dado a planta Cannabis sativa, ela se adapta com facilidade a diferentes tipos de solo, clima e altitude. Dependendo da região onde foi produzida e a forma em que foi ingerida, a maconha terá determinadas propriedades químicas (BERGERET; LEBLANC, 1991; COSTA; GONTIÈS,1997; NAHAS, 1986). Além da Cannabis sativa que é a mais comum, há outras duas espécies de Cannabis, a Cannabis indica com baixo teor de THC e a Cannabis ruderalis que não possui substâncias psicoativas (INABA; COHEN, 1991; PATRÍCIO,1997). 36 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL figura 19. folha da Cannabis sativa. fonte: <http://bioweb.uwlax.edu/bio203/s2009/beisker_shau/cannabis_sativa%201.jpg>. Geralmente, folhas e flores da maconha são secadas e trituradas para o fumo, seu efeito é imediato ou até 10 minutos após o consumo com o pico 30 minutos depois. Ela também pode ser consumida por meio de uma pasta semissólida em forma de bastões ou placas (até 28% de THC). Se enjerido, o THC é 90% absorvido, seu efeito aparece após 30 minutos e o ápice acontece 3 horas após a administração. As flores das plantas femininas possuem óleo com THC mais concentrado, quando extraído, o óleo pode ser aspirado ou injetado via venosa. O THC é metabolizado no fígado e gera um metabólito mais potente, o THC é lipossolúvel, portanto por essa propriedade ele fica armazenado no tecido adiposo o que aumenta o tempo do seu efeito no organismo. O THC é eliminado pela urina e fezes após alguns dias devido à sua liberação do tecido adipose também ser lenta (BERGERET; LEBLANC, 1991; COSTA; GONTIÈS, 1997; GRAEFF,1989; ENCICLOPÉDIA BARSA, 1997). figura 20. fórmula molecular da 9-tetraidrocanabinol. fonte: <http://www.mundoeducacao.com/quimica/thcprincipal-componente-ativo-maconha.htm>. A Cannabis sativa possui 61 substâncias canabinoides as quais são únicas dessa planta. Os principais canabinoides são o THC o qual é o principal componente alucinógeno (4.5%), e o canabidiol (CBD) com propriedades terapêuticas (SPINELLA, 2001). 37 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II O THC causa comprometimento da atividade motora, comprometimento da memória, perda de interesse, sonolência, desatenção entre outros efeitos. Usuário ocasional também apresenta distúrbios emocionais graves, episódios agudos de pânico, reações paranoides, catalepsia, vasodilatação nos vasos da esclerótica, conjuntiva (“olhos injetados de sangue”), diminuição na produção de saliva (boca seca), efeito orexígeno no apetite, elevado níveis de cortisol, redução nos níveis de hormônios luteinizantes, são outros sintomas observados em usuários de maconha (SPINELLA, 2001; CARLINI, 2004). Pregnenoloma é a precursora inativa dos hormônios esteroides importantes para modular atividades do cérebro e reações comportamentais. Experimentos em roedores mostraram que o THC aumenta a pregnenolona, a qual ativa é responsável por sintetizar os neuroesteroides, através do receptor de canabinoide. A pregnenolona atua como inibidora específica de sinal do receptor e reduz a euforia causados pelo THC, protegendo o cérebro da ativação excessiva desse receptor (OBID, 2014) Assim como em pessoas esquizofrênicas, usuários regulares de cannabis apresentam alterações em estruturas cerebrais relacionadas à memória. O encolhimento do tálamo pode refletir na diminuição de neurônios dessa região a qual é importante para a comunicação, aprendizagem, memória e está diretamente relacionada com outras regiões do Sistema Nervoso Central tão importante quanto ela, e as anormalidades cerebrais podem durar por anos, mesmo após a interrupção do uso. O estudo desenvolvido pela Escola de Medicina da Universidade de Northwestern Feinberg aponta que 90% de 15 consumidores esquizofrênicos consumiram intensivamente a droga antes de desenvolver a esquizofrenia, e usuários que têm predisposição genética para desenvolver esquizofrenia aumenta ainda mais o risco de desenvolver doença mental (OBID, 2013). Homens que fumam por semana dez cigarros ou mais apresentam níveis de testosterona 50% menor (impotência sexual) e contagem de espermatozoides reduzida (esterilidade). Por outro lado, existem diferentes estudos mostrando os efeitos neuroprotetores dos canabinoides, é a duração de exposição ao psicoativo e a idade do consumidor durante a exposição vai determinar a sua neurotoxicidade (SPINELLA, 2001; CARLINI, 2004). Segundo o Ministério das Relações Exteriores (1959), a maconha e as sementes foram introduzidas no Brasil pelos escravos em 1540. Desde 1988, a maconha era utilizada para fins medicinais e apenas na década de 1930 começou a repreensão da maconha. Devido à generalização da imprensa brasileira, a maconha passa a ser 38 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL considerada uma “droga fraca” e de “baixo risco”, seus efeitos terapêuticos dá a falsa ideia de ser uma droga inocente fazendo com que seja a droga ilícita mais utilizada pelos adolescentes. Em outros países, como, por exemplo, alguns estados americanos, a comercialização da maconha é legal. No estado da Califórnia, a maconha é utilizada para fins medicinais há mais de 15 anos, sendo prescrita para até 190 doenças diferentes, alguns pacientes têm autorização médica para plantar e consumir a maconha. No estado de Washington e Colorado, em 2012, a maconha foi legalizada para fins recreativos, seu consumo é permitido para maiores de 21 anos, e, em 2013, a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou o projeto de lei que legaliza a produção e o consumo da maconha. Estudos mostram o porquê há interesse da maconha para fins terapêuticos, ela pode ser utilizada para (SPINELLA, 2001; CARLINI, 2004; ABANADES, 2005): » tratamento da perda de apetite em pacientes aidéticos e com câncer; » tratamento de náuseas e vômitos em pacientes com câncer por causa da quimioterapia; » tratamentos de glaucoma diminuindo a pressão intraocular; » antivomitivos e antinauseantes para pacientes sob tratamento quimioterápico; » alívio para dores de origem neural; » efeito analgésico no pós-operatório ou espasmos muscular; » efeito anticonvulsivante; » efeitos antiespasmóticos para esclerose múltipla como relaxante muscular; » auxiliando em enfermidades como Alzheimer, Parkinson e Coreia de Huntington ; » melhorar o enfraquecimento de doentes portadores de HIV (caquexia). Contudo, ainda é necessária a verificação dos efeitos em longo prazo associados à saúde, como problemas neurológicos, por exemplo, e se os deficit podem ou não ser reversíveis. Sabe-se que o uso crônico da maconha está relacionado com problemas respiratórios porque a fumaça é irritante, adicionalmente, há o alerta por conter benzopireno, uma substância cancerígena. Portanto, sua eficácia ainda é insuficiente para sua aplicação clínica (ALMEIDA et al., 2008). 39 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II Heroína A heroína é um opiáceo semissintético, pois é obtida a partir da modificação química de um opiáceo, a morfina. Os opiáceos são substâncias extraídas da planta conhecida como papoula, cujo nome científico é Papaver somniferum, quando cortada libera um líquido branco leitoso que após o processo de secagem passa a ser denominado ópio (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS). figura 21. Papola. fonte: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=25>. Opioide é o nome de substânciasque se ligam aos receptores opioides endógenos como as endorfinas, dinorfinas e encefalinas. Outras substâncias sintéticas não derivadas do ópio também são chamadas de opioides por serem semelhantes aos opiáceos, como a meperidina, o propoxifeno e a metadona. Os opioides têm efeitos analgésicos e hipnóticos, por esse motivo essas drogas também são conhecidas de narcóticos (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). Estudos revelam que, nos Estados Unidos e no Canadá, a morte por abuso de opioides são maiores do que mortes por heroína e cocaína combinadas. figura 22: fórmula molecular da morfina e heroína. fonte: <http://www.ff.up.pt/monografias_toxicologia/monografias/ano0708/g15_morfina/heroina.htm>. As drogas opiáceas provocam efeitos depressores diminuindo a atividade cerebral. Os efeitos são praticamente os mesmos, o que varia de uma droga para outra é a quantidade que precisa ser consumida para causar o mesmo efeito, o efeito é dose-dependente. 40 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL Nós Damos essas drogas para muitas pessoas, em doses generosas e muito altas, e precisamos refrear essa distribuição excessiva de prescrição de opioides”, disse Benedikt Fischer, do Instituto Canadense de Pesquisa em Saúde, que se especializa em abuso de substâncias. “Se fizermos isso de forma eficaz, vamos reduzir muito os danos, inclusive mortes.” Os opioides são uma família de drogas que são normalmente usadas para tratar a dor, mas também são conhecidas por dar aos usuários uma sensação de euforia, tornando-os substâncias de dependência. Fonte: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/web/noticia/ler_noticia. php?id_noticia=107749>. No caso da heroína, a dose necessária para produzir o efeito é pequena, por ser uma droga potente leva facilmente à dependência, por isso é considerada uma droga perigosa (UNIFESP). O início da sua ação ocorre 10 mim a 15 min após o uso via nasal, e o pico sérico é em 36 horas a 72 horas podendo chegar de 7 a 10 dias, ela também pode ser aspirada ou fumada (efeito aparece depois de 10 min a 15 min também), porém a via de administração mais utilizada é endovenosa (IMESC). Quando injetada intravenosamente, o início da resposta é rápido, entre 7 segundos a 8 segundos, e quando injetada intramuscular o efeito demora de 5 min a 8 min para aparecer (SCRIBD). As primeiras doses podem causar náuseas e vômitos, e entre os efeitos podemos citar torpor e tonturas, misturados com um sentimento de euforia e leveza. A tolerância é baixa o que faz com que a dependência demande um consumo cada vez maior com o intuito de aliviar os sintomas de abstinência como angústia, dores no corpo, cólicas, letargia, apatia e medo (IMESC). Segundo o doutor Dráuzio Varella, a heroína causa uma forte dependência, ela vicia mais do que maconha, cocaína e anfetaminas. Apenas a nicotina tem um poder de dependência maior. O uso crônico da heroína pode causar colapso dos vasos sanguíneos, infecção por bactérias nas válvulas do coração, abcessos, doenças do fígado e rins, pneumonias e tuberculose (SCRIBD). A heroína é conhecida como “rainha das drogas” devido aos seus efeitos. Ela foi sintetizada pela primeira vez, em Berlim, no ano de 1874. Seu nome tem origem alemã, “heroich” que significa potente. Antigamente foi utilizada para substituir a morfina e fez até parte de medicamentos analgésicos, hipnóticos e antitussígenos, em 1924, a fabricação e a posse tornou-se legal. A heroína pura é um pó branco e amargo. Quando vendida, sua cor varia entre o branco e o marrom escuro, dependendo das impurezas presentes na droga, seja deixada pelo processo de obtenção seja pelas substâncias adicionadas para aumentar o volume. Atualmente o comércio da heroína é ilegal e é um dos mais rentáveis, a produção e a distribuição estão sempre relacionadas com grandes organizações clandestinas (IMESC). 41 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II figura 23: Evolução da produção de ópio de 1990-2004. fonte: <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories/publicacoes/ensino/aulas/Opiaceos.pdf>. figura 24: Abuso de opiáceo entre 2002 e 2004. fonte: <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories/publicacoes/ensino/aulas/Opiaceos.pdf>. No Brasil, não é comum o uso de heroína, o custo mais elevado faz com que os dependentes optem por outros tipos de drogas de menor custo. Desde a metade da década de 1960 os americanos envolvidos com a Guerra do Vietnã voltaram do sudeste asiático dependentes de 42 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL heroína. Vários países criaram o programa “manutenção pela metadona” para ajudar no tratamento de dependentes de heroína, a metadona também é um opioide sintético, porém não desenvolve tolerância e tem efeito de até quatro vezes mais do que os demais opiáceos (IMESC). Decorrente desta avaliação, o Comitê de Avaliação do Risco em Farmacovigilância (PRAC) recomendou a suspensão da comercialização das soluções orais de metadona que contêm povidona de elevado peso molecular. Conforme referido na Circular Informativa No 96/ CD/8.1.7.de 11/4/2014, os medicamentos contendo metadona são utilizados para prevenir ou reduzir os sintomas de abstinência em doentes dependentes de opioides, tais como a heroína, para prevenir a ocorrência de recaídas […] Algumas formulações orais de metadona contêm como excipiente a povidona de elevado peso molecular. Apesar de esta substância não ter riscos quando utilizada por via oral, quando é injetada, não é facilmente eliminada pelo organismo, acumulando-se em órgãos vitais, como o rim, o que pode causar danos graves. O PRAC verificou a existência de risco associado à má utilização destes medicamentos por parte da população-alvo e os danos potenciais decorrentes da injeção destas soluções orais. O PRAC concluiu que a má utilização por injeção de tais soluções não poderia ser adequadamente evitada com medidas de minimização do risco, pelo que recomendou que a comercialização destes medicamentos seja suspensa até à reformulação da sua composição. Apesar de esta substância não ter riscos quando utilizada por via oral, quando é injetada, não é facilmente eliminada pelo organismo, acumulando-se em órgãos vitais, como o rim, o que pode causar danos graves. Fonte: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/web/noticia/ler_noticia. php?id_noticia=107753>. Na reportagem do doutor Dráuzio Varella, ele cita que o tratamento com a metadona obteve sucesso, pois colocou os dependentes em contato com o sistema de saúde e, também, foi eficiente na diminuição dos riscos do abuso da heroína, embora aproximadamente 15% a 25% não conseguiram acompanhar o tratamento, voltando a utilizar a heroína. 43 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II figura 25: Comparação do uso na vida de opiáceos no Brasil nas 5 regiões em 2004. fonte: <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories/publicacoes/ensino/aulas/Opiaceos.pdf>. Na Europa e nos EUA, milhares de pessoas morrem intoxicadas por heroína e sua aplicação intravenosa é relacionada com as infecções de hepatite e AIDS (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). Em muitos lugares dos Estados Unidos, a dependência de opiáceos e de heroína está matando mais do que acidentes automobilísticos e crimes violentos (OBID). O consumo de heroína cresceu 79% nos EUA, entre 2007 e 2012, 669 mil pessoas consumiram heroína, seu consumo está relacionado a uma alternativa barata (US$ 6/papelote) para analgésicos controlados (US$ 140) e de difícil acesso. Entre 2009 e 2013, as apreensões de heroína aumentaram 87% nos Estados Unidos, segundo o National Drug Intelligence Center. Em Nova York as mortes causadas pela heroína entre 2010 e 2012 aumentaram 84%, com aumento de 67% desde 2010a 2014 na apreensão dessa droga. Outros estados dos EUA também sofrem com o aumento do consumo da heroína como o estado da Pensilvânia, Ohio e Vermont, desde 2000 o uso de heroína cresceu 250% em Vermont. (O Globo, 2014). Das 78 mil mortes atribuíveis diretamente às drogas no ano de 2010, mais da metade (55%, ou seja, 43 mil) está relacionada aos opiáceos, segundo estudo publicado na edição desta quinta-feira da revista médica britânica The Lancet. A dependência de drogas injetáveis como a heroína constitui, ainda, um fator muito importante de exposição e de infecção aos vírus da Aids e da hepatite, destacou o documento. Fonte: <http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/estudo-aponta-a-heroina-como-a-droga- mais-perigosa-do-mundo,76bacc7ede5c0410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html>. Segundo as Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, há anos o México vem ocupando lugar importante no tráfico internacional de heroína. O relatório anual de 2013 indica 44 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL que a produção mexicana é 30 vezes maior do que a produção colombiana que, por muitas décadas, era a principal exportadora de heroína do continente americano, e, em escala mundial, o México só perde para o Afeganistão e Mianmar (BBC, 2013). Alucinógenos naturais e sintéticos Alucinação é a percepção de determinada coisa que não existe, podendo ser sons ou objetos. As drogas que causam alucinação são chamadas de psicoticomiméticas ou psicodélicas. A maioria das drogas alucinógenas provém de plantas, consideradas “plantas divinas”. Os efeitos causados pelos alucinógenos depende de vários fatores como sensibilidade e personalidade do indivíduo; a expectativa que o indivíduo tem sobre os efeitos; ambiente, bem como presença de outras pessoas. As reações psíquicas podem ser agradáveis, conhecidas como “boa viagem” gerada pela sensação de sons, cores brilhantes e alucinações, ou podem ser desagradáveis, chamadas de “má viagens” com sensações de deformação do corpo, visões terríveis, e certeza de morte iminente. O ambiente, as preocupações e as pessoas influenciam como serão as “viagens”. Os sintomas são dilatação das pupilas, sudorese excessiva, taquicardia, náuseas e vômitos (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). A maioria das substâncias alucinógenas não desenvolve tolerância e não causam dependências, consequentemente, não apresentam síndrome de abstinência. O que é preocupante é a possibilidade de os usuários desenvolverem delírios imprevisíveis, como acesso de pânico, e acabar tomando atitudes prejudiciais (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). Essas drogas são produzidas com substâncias legais e seu efeito é semelhante ao das drogas ilegais como ecstasy, cocaína, maconha e LSD. A maioria é produzida com plantas medicinais, como LSA, SPICE, SNOW BLOW, BZP (CEBRID). O LSA, conhecido também como glória da manhã, é obtido da semente da planta Ipomoea violacea e Argyreia nervosa, utilizado em festivais principalmente durante o amanhecer. Na semente é encontrado o alcaloide Ergina (LSA, ou amida de ácido D-lisérgico ou LA-111) que proporciona o efeito alucinógeno (SCRIBD). figura 26: Planta Glória da manhã. fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_QYL_fXHq_PE/TSt1GiIpQPI/AAAAAAAABZm/OzYIXsa95IY/s1600/ipomoea-purpurea.jpg>. 45 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II Spice é um alucinógeno composto pela mistura de nove ervas. O nome é referente à intensidade dos efeitos da droga. Em 2008, sua comercialização começou a ser proibida em países da União Europeia, pois, em alguns lotes, foram encontrados cannabinoides sintéticos. Os efeitos provocados são: euforia, relaxamento, alterações de percepção e enjoo (SCRIBD). figura 27. Recipiente com a droga Spice. fonte: <http://www.dw.de/droga-spice-%C3%A9-proibida-na-alemanha/a-3966434>. A BZP é usada no Brasil como vermicida animal e humano, mas em outros países não tem valor medicinal. É um alucinógeno estimulante Sistema Nervoso Central, pode levar o usuário à intoxicação e danos neurológicos graves. A BZP é usado como base para desenvolver as pílulas de festas conhecidas como “party pills”. Os efeitos causados são aumento da pressão arterial, taquicardia, dilatação da pupila, perda de apetite, entre outros. Outra substância utilizada é a chamada Snow Blow que é comercializada em pó, composta por quatro plantas medicinais e possui efeitos semelhantes ao da cocaína (CEBRID). No Brasil, existem várias plantas alucinógenas, as mais conhecidas são os Cogumelos, Jurema, Mescal e Cappi. São encontrados pelo menos duas espécies de cogumelos alucinógenos no Brasil, a Psilocybe cubensis e Paneoulus. No México, o uso de cogumelos em rituais religiosos é comum desde antes de Cristo, a psilocibina é a substância alucinógena encontrada na Psilocybe mexicana (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS). figura 28. Cogumelo Psilocybe mexicana. fonte: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=38>. 46 UNIDADE II │ PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL Mimosa hostis é uma planta brasileira conhecida popularmente como jurema. Dela é produzido o vinho de jurema, a substância alucinógena é a dimetiltriptamina ou DMT. José de Alencar descreveu os efeitos do vinho jurema no romance Iracema (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). A bebida é feita com a raiz da árvore, tem efeito curto, mas, quando fumada, em forma de base livre, o seu efeito é intenso e dura menos de 60 minutos (SCRIBD). figura 29: Jurema, Mimosa hostis. fonte: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=38>. Mescal ou Peyot não existe não Brasil. É um cacto utilizado em rituais religiosos na América Central que produz a mescalina como substância alucinógena (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS). figura 30: flor da planta mescal. fonte: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=38>. No ritual do Santo Daime, duas plantas alucinógenas, Caapi e Chacrona, são utilizadas sob a forma de apenas uma bebida e uma das substâncias sintetizadas pelas plantas é a DMT. O ritual do Santo Daime é bastante difundido no Brasil em vários estados, e no Peru há uma bebida preparada com as duas mesmas plantas, conhecida como Ayahuasca o “vinho da vida” (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS). figura 31: fruto da planta Chacrona. fonte: <http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=38>. 47 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO, ILÍCITAS OU SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL │ UNIDADE II Além das substâncias naturais, várias substâncias foram sintetizadas em laboratórios, surgindo os alucinógenos sintéticos. Entre os alucinógenos sintéticos, o mais conhecido é o LSD-25. Os alucinógenos podem ser primários ou secundários. Os alucinógenos primários atinge o SNC com doses pequenas, então não altera nenhuma outra função, por exemplo, o THC da maconha. Os secundários atuam no SNC, produz efeitos mentais e agem em outras funções, como, por exemplo, a Datura em sua forma natural ou Artane® na forma sintética (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). A Datura é uma planta que produz substâncias anticolinérgicas, como a escopolamina e a atropina. Elas bloqueiam os receptores muscarínicos e causam dilatação da pupila dificultando com que a pessoa consiga ter foco, causam taquicardia, retenção urinária, aumento da temperatura corporal. A pele fica resseca e avermelhada, a intoxicação pode levar à morte. O efeito alucinatório pode durar de 2 a 3 dias (UNIFESP). A escopolamina também é encontrada em uma planta da Colômbia chamada de Burungada ou “Sopro do Demônio”. A substância alucinógena escopolamina hipnotiza o usuário, ficando sem vontade própria e vulnerável, tornando-se vítimas propícias de golpes como estupros, “boa noite cinderela”, roubos,
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