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Wallon, H - 1971 - As origens do caráter da criança

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"De algum modo, o indivíduo e a opinião constirÌ nìdois pólos opostos. A opinião .- fr.. lls indivíduo, ,,presenta um papel de regulação, de constrangimc,,,,,
,^:::1":p?id." 
porém à conveniência de ordem" ,o.,,t,oepende de tatôres indicadores da esffutura, das ten,l, rrcias de uma determinada sociedaá.-o., d. um r,rlpo social. Sob pena de se. marginrtirui-o indivíduo oi ç,,ajustar-se à opinião, ,ubo.diir._r. -1, "r,rru exigên, r,.,
. 19r seus desejos, aos seus apetites ou, pelo ï. , ,.,tormalizar suâs_ aperêncir, . objeio, ãã áf maneira ,r(.a satisfação dos mesmcs seja aprovada ;; ;;Ë;, ,:ì
essa opinião. p:, conseguinte, o q"" ,;;;dJ,, \primir e a conhece. do, ,.ur-d.r.;à, .iiì.r.nr, a s{ìÌ,ì.1do aspecto socializado. T"d";-;ê.uïd" ,roçõ.r, ,,,,bora provisòriamente sem utilizaçã" ;;; aplicações 1,, ,,soais, adotado pelo indivíduo, ui.ruer-ãu opinião, cor, ,itui a indispens{vel moeda ã. ;;; ã _.r.o, .,,, ,,tualmenre, funciona .orno *oã.1"r-.-"ãã"f"s da açi,,..
ASORICENS
DOCARATER
NACWÇA
HENRI WALLON
::::.a::
..4.,
AS
ORIGEI\S DO CARÁTER
NA CRIAI.{ÇA
Os Prelúdios do Sendmento de
Personalidade
Tradução de
Pppno le Srr,va Dlxres
HBNRI WALLON
DIFUSÃO EUROPÉIA DO LIVRO
Rua Bento Ereitss, 362 - 6.0Rua Ma,rquês de ftu, ?9
SÃO PAUTá
Copyright by
Presees Anütergot.alres d,a Franca, Patis
Dtreltos exclusivos para a tlngua portuguêsa:
Düusãa Européia il,o I'iuro, São Paulo
PRÓLOGO
As üês pârtes componentes dêste livro constituem a re
ptodução de três estudos vindos à luz do seguinte modo: o
primeiro, na Reaae de Cours et Conférences, ém 1930, repre-
lentadg por setg atigos; o segundo e o rerceiro, publicádoino
Igyrnal le Psycbologie (novembrodezembro de I9íL e de 19j2).
Âlém disso, tais part€s nada mais são do que o resultado de
cursos proÍeridos na Sorbonne durante os períodos de 1929-30
e t-930-31. p te4tq passoil apenas por discrètos retoques quanto
à Íorma e foi subdividido eÀ capítulos. Algumas notasl sim,
ples rcferênciâs ou notas explicativas, Úês capítulos, ou- seja:
êste prólogo, a conclusão da primeira parte 1 as conclusóes
gerais, constituíram as aúegas dêste volume.
A reunião ern volume de artigos ou coleção de trabalhos
escritos, a princípio com â intenção de terem, mais ou menos,
vida própria, âpr€senta vantagefls e inconveniências. Em ge-
ral, revelam-se as primeiras nã sua maior diversidade de cõn-
cfpções e na maior facilidade para o tratamento de cada tema
de modo atual. As inconveniências talvez residam, de um lado,
na falta de unidade e na dispersão e, do outro, nas repetiçõeó
ou redundâncias.
A unidade dêste liwo deve-se, contudo, à harmonia das
idéias que nêle se contêm. Todavia, a unidaáe da apresentação
pqd.t4 enco-ntrar uma garantia no fato de que a ordèm em que
tais idéias foram aqui desenvolvidas, lembia, mais ou ..úr,
a unidade conceitual dos cursos dos quais foram extraídas.
Quanto ao risco de repetições, o remédio teria sido recorrer
a cortes e supressões: êste recurso não nos paleceu possível.
Pot certo, em sua composição, as mês p.rt r áo üvro ãpresen-
tam uma espécie de paralelismo. O rètôrno às fontes primá.
1971
ru
rias da vida psíquica r€presenta o marco inicial de cada uma
delas. Abeirando-se, múto em,bora nas mesmâs maniÍestações,
recoüe cada uma de modo üferente a essas origens primeiras.
De certo modo, e ao mesmo temÍlo, damos ênfase à substân-
cia comum de onde ptocedem as diÍerentes realizações da vida
psíquica aqui estudadas, e às delimitações e diferenciações pre
cocíssimas por elas suscitadas. Para maior evidência dessas
manifestações, o melhor seria estudar cada'uma delas ern seu
momento prcciso,
Pois bem, qual é a utiüdade desta rcedição? Ântes de
tudo, vale a pena infotmar que se esgotaram os diversos núme
ros da Revue des Cours et Conférencas, onde surgiram os arti-
gos relativos à primeira seção desta obra. Além do mais, muitas
das idéias nêles ventiladas, ou anteriormente, em L'Efiant
turbulent, tais como: a distinção €ntr€ emoção e automatismo,
a grande capacidade das emoções pala criat associações condi-
cionais, as relações do mêdo com o equilíbrio(r), tetomadas
depois, umas € outras, por alguns autores, Íizeram-me parecer
olloftuno lembrar, no seu coniunto, os fatos e as concepções
que me induziram a semelhantes interpretações, as quais sem-
pre se insinuaram como sua melhor demonsftação. Finalmente,
o enfeixe dêstes três estudos, lançados separadamente, teu.liza
um nôvo conjunto. Pois, êles não se limitam a se justapor:
conpletan-ae mütuamente. E não só no sentido da incidência
de cada uma dessas idéias em um dos ffês grandes aspectos
alcançados pelas realizações psíquicas da criança duranre os
tÉs primeiros ânos, mas também, pelo Íato de revelarem os
encadeamentos e concordâncias surgidas entre aquelas reali-
zações.
Poder-se-á comprovar, com freqüênciâ, nesta obra, a ten-
dência a não estudar os Íatos em série Íechada, mas, antes, a
encarrí-los em vários dos diÍerentes coniuntos dos quais podem
pârticipar, Por exemplo, o coniunto cronológico dos uês pri-
meiros anos, - conte!ído primacial dêste volume - é, ali6s,estudado em suas relações com as origens do caráter. Nós o
(1) Quanto a egta última - a,s releções do mêdo com oequlltbrlo, -1- fot o assunto discutido no mesmo ano, 192õ, por
qóc 9m c'L'Enlanü turbulent" e por J. B. \{atson, PeiL. $etn.,IOOCII, p, 82E-346 e 349-371.
6
delimitamos ern função dêsse conjunto mais aqplo. Não
obstante, ourros ainda intervirão no decorrer de.teJ ãort"iott
tais -como, os do comporrâm€nto histórico da espécie tï.r"a;
os do co.mportamento- animal, os das gêneses . ãa, t.gr"r*õ"í
funcionais, os dos ciclos psicofisiológiõs etc.
Contudo, o domínio próprio da psicologia da ciança pa-
rece suficientemente vasto pãra atender aos- mais ambiiiosãs.
Afigura-se-nos difícil,-no presente, alguém llercorrer semelhante
domínio nâ sua totalidade, mzão Dela quãl seus exoloradores
não cessarão de lhes estender os ü-mites.- A oretensãã. oorém.
de se Íixar ìntimamente em um dêsses marcos, c-ulminári^ 
^pr-nas. com a redação de inventários, enumerações cronológiias
e 6rmples descnçoes,
. -fsso,-por-cerro, seria um alvo jamais atingido. A colheita
de.fat-os jamais é puramente mecânica; ,possui*sempre um sig.
nificado mais ou úenos explícito. O faio em si úo existe;?
sempre legularmente modelãdo por aquêle que o verifica. Res-pold9, desta -maneira, mais a ãecalques ê rotinâs que à indi.
viduali"fCão- .h6eiágnte de traços Íõrnecidos pela experiência.
Na realidade, um, fato revela interêsse o" -èdid" em oue é
determinado, e só o serd pelas relações com alguma coisã queo sobrepuja, ou .seja, com um conlunto o qüal, de alguina
forma, possa ser incorporado. É, pois, ,rm 
"óniunto 
de ïisio
nomia e definição peculiares e que,- pelos seus eiementos com-
pohentes, se liga. a outros conjútoJ mais elernentares. Disto
resulta que, confrontar um fato com todos os sistemas a êle
dacionados, signiÍica não sòÍnente uatá.lo consoante suâ natu-
teza, mas tarnbém considerar como melhor observador aquêle
que souber utilizar o maior número de sistemas, de modo
sucessivo, a fim de o individualizar e de o explicar.
 psicologia, c€rtamente, constitui um dos domínios onde
a excessiva divisão estânque dos fatos estudados acarreta in-
conveniências, Com efeito, à medida que seu obieto mais se
distancia da-s condições elementares, - isle é, daquelas geral-?ente qualificada-s de matcriais , * para ingresjar nâ aprecïação
dos conjuntos de qualificação g'"is partícuhr, a iinotância
t€rnante coffentemente, Iro estudo dêstes últinos, o am,puta
& suas condições determinantes. &melbante oosicão rËore.
reltgl", p$ lemplo, o desconhecimenro, por'exãmplo,'d"
uoidade indissolúvel enrrÊ a crirnça e o adútq entrç o'húem
e a sociedade. Ë, não obstante, a espécie não pode encontrar
sua tazão de set senão no tipo adulto e a criança tende para o
adulto como o sistema para o equiübrio. Da mesma Íorma,
cindir o homem da sociedade, opor, como aliás é freqüente, o
indivíduo à sociedade, significa lhe descortinar o cérebro. Pois
se o desenvolvimentoe a configuração de seus hemisfétios ce-
rebrais constituem,, por assim dizer, os elementos que seguta-
mente estabelecem a distinção enr'e a espécie humana e as
espécies viziúas, êsse desenvolvimento e essa configuração
devem-se ao aparecimento de campos corticais; a exemplo da
ünguagem, a implicar â presença da sociedade, como os pul-
mões de uma esffcie aérea supõem a existência da atmosfeïa.
Pata o homem da sociedade é uma necessidade, uma rea-
lidade orgânica. Não significa üzer que esteía tôda oryanizada
no s€u otganismo; da mesma Íorma inexiste nos cenffos de
linguagem, um sistema qualquer de língua falada antes de sua
aprendizagem. Á ação se faz em sentido conrário. Da socie-
dade o indivíduo recebe suas determinações; são para êle um
complemento necessário; propende também p^ra a vida social
como para o estado de equilíbrio. Òbviamente, seria supérÍluo
o acréscimo da inexistência de sociedades sem os indivíduos que
a compusessem, nem tarnpouco sociedades humanas sem o
homem e a sua organização psicofisiológica. Temos aí um
aspecto da questão do qual o psicólogo não tem aplicações
úteis a extrair, constituindo o indivíduo o objeto de seu estudo.
Dificuldades surg€m em rzizão dos conjuntos natutais nos
quais a vida psíquica se inscreve não terem sido levados em
consideração. Por certo aí reside a origem de oposições, como
as do mecanismo e as da Íinalidade, diante dos quais tanto
ruído se tem feito pois, afinal de contas, tudo não passa, tal-
vezn de um banal ârt€fato. Decapitar um sistema de suas con
dições de equilíbrio, auavés de um corte, signiÍica admitir-se
nos Íragmentos um princípio íntimo que os leva a evoluir do
interior, por uma espécie de autocriação. Enmetanto, qual é
o sistema enüe os mais elementafes, entfe os entl€gues, co-
mumente, às leis mecânicas da maténa, no qual a mesma ope-
tação não provocada conseqüências semelhantes?
Nos fatos do desenvolvimento humano, como também nos
Íenômenos vitais, por certo, intervém uma dificuldade que tal-
v€z não lhes ceja especial, sendo porém aí mais apanente: refe-
8
rimonos à extensão das etapas ao se encamiúarem parâ o
estado de equilíbrio. Vistoi numa espécie de câmarâ lenta
tendem a se fragmentar em momentos ou realidades distintas.
Tais etapas se justapõem em períodos ou eÍn estados estáticos.
Entre elas inexiste verdadeira continuidade. A duração, o tem-
po lhes são exteriores. O tempo na explicação das coisas assume
uma noção abstrata, um absoluto, úm simples veículo sem
participação real (2).
A finalidade, provàvelmenüe, representa a desforra dêsse
tem,po- absolutoi- por sua vez investida de um papel destinado
a explicar aquilo que, esràricamenre, é inexpiicZvel. papel
autônomo e absoluto, pois não há medida comum com, os ãe-
mais Íatôres convocados pata a explicação das coisas. Por
conseguinte a oposição do mecanismo e da finalidade, dentfo
dos nossos sistemas .de conhecimento, seria a conseqüência
da dissociação, operada por tateios, do pensamento nas toma-
das com o real, diverso e mutável entre as coisas possíveis de
fixação em imagens ou em conceitos estáticos pelo pensamento
e o tempo. como as coisas que se enconüam em plocesso
de nan-sformação contínua foram separadas do seu deür ficou
êste substituído por uma simples súcessão. Mas em cúmpen-
sação o devir aparece como existente em sí mesmo e como
dotado do poder de autocriação, ou seja, o de ciar, em defini-
tivo, 
-as coisas. Antinomia entre â realidade do ser e aquiloque dêle nos é cognoscível.
O pensamento, mediante sua ilusão constante, affibui à
natuteza das coisas as discordâncias devidas à imperfeição dos
seus processos. Ao se tornar evidente o desacôrdo entre tâis
processos e as exigências do conhecimento, os m€smos são sem-
pre revogáveis. É o exemplo que a Íísica está em via de nos
oferecer ao operar a revisão dos seus princípios.
Nossa época, talvez em todos os domínios do conheci-
mento, nos levanta problemas a exigirem revisão, em tudo se-
(2) Frédérie Rauh tivera a percuciente intuição da insufl-
ciência gue apresenta essa atitude em psicologia, áo se esforçar
para definir os estados de ,,tendência". Suas definições, entre-
tanto, são puramente verba.is. Faltaram os fatos a êste precur-
sor. 
^ 
Ainda hoJe, é preeiso reuni-los, isto é, antes de tudo reco-
nhecê-Ios e os conceber. Yer; ,.De íe méthode iluns la prychoto-
gle ilcs senti,mÊnts", Paris, Atcan, 1899.
melhante às distinções antigas ou categorias. No campo da
psicologia isso se demonstra pela insatisfação de tantoJ espí-
ritos, levandoos a incursionar nas áreas da metafísica. Oia,
o pouco oferecido pela análise dessas especulações, representa
exatamente as noções do dever criador e da participação dos
conjuntos onde o homem, ao se adentrar em si mesmõ, deveria
descobrir as lazões da existência. Escoimados dos impulsos
místicos, são, precisamente, aquêles pafa os quais vimos que
nos orientam as necessidades da pesquisa científica. ïodavia
onde a metafísica, enamorada pelo-absoluto e pela imobiüdade,
opõe o ser ao conhecimento, a ciência essencialmente relativista
se aplica à tessitura de novas relações entre todos os sistemas;
nestes se reparte nossa experiência das coisas e da vida, a
fundi-los, cada vez mais uni nos outros e, segundo a exigência
de unificação para o conhecimento, apontadã por essa-obra,
teremos de reformular ou abolir as antigas distinções ou cate-
gorias intelectuais, as quais, por certo, viriam se opor a essa
colocação telativista.
Fazer estas constataç&s não significa apresentar uma solução.
Sem embargo, a física dispondo de métodòs rigorosos e já com
um acêrvo de rcsultados bem mais controlados que as ciências
biológicas e, sobretudo, psicológicas, constitui um exemplo de
como são extremas as dificuldades apresentadas numa revisão
dessa ordem. Tal consideração não implica no delineamento de
um programa de pesquisas; pretende apenas indicar uma dire-
ção e responder aos que, num ffabalho dêsse porte, se vissem
seduzidos a realçar "digressões"
O PROBLEMA DO CARÁTER
Os métodos da psicolÍ'gia uadicional, cuias pesquisas são
ainda muito tateantesf revelam-se insuficientes ão drtuáo da psi-
cologia do caráter, gmbora para esta a da criança possa ofereter
uma decisiva contribuição.
Durante muito tempo o estudo sisternático do caráter con-
sistiu. em decompôlo- na sgma de qualidades ou ,propriedades
prováveis e_ âptos a defini-lo. Submeìê-lo a essa 
"naUr" 
signiÍi-
caria tomá-lo em estado puÌo, como um conjunto estável, por
assim dizer acabado. Os elementos, para os quai,s tendê a
análise, representam noções inteligíveis cìja fOrmú verbal, de-
verá set assaz corrente e consagrada a fim de rcsponder, em
cada consciência, a um julgameãto aceitável ou " 
^om mótivo
plausível. Os_ julgamenioJ relacionam-se, n€cessàriamente, ao
uso ou à moral, em geral aceita; a casuística social ou a de-gru-
pos, mais ou m€nos particulares e restrito se baseia nos moti-
vos costumeiros dêsses julgamentos. Em definitivo, o caráter
se reduz âos têtmos dependentes, muito menos do- que é in-
rínseco ao indivíduo, do que da opinião.
- De algum modo, o indivíduo e a opinião constituem dois
1úlos opostos. A-opinião em Íace dos-indivíduos represenra
up papel de regulação, de consrrangimento; correspoãde po-
rém à conveniência de ordem social: depende de fatôres iidi-
cadores da estrutura, das tendênciai de-uma determinada so-
cieda4g oy de um grupo social. Sob pena de se marginalizar,
o indivíduo deve ajustar-se à opinião-, subordinar,se -às suai
INTRoDUçÃo
10 11
exigências, aos seus desejos, aos seus -apetites ou,. 
pelo Ín€nos,
forlmalaat suas apetências e objetos de tal m-aneira que a sa'
tisfação dos mestnos seja aprovada .ou tolerada por e.ssâ
opitúao. Pot conseguinte, o qúe aprende -a exptimir e I 99n!e-
cËr dos seus desejoi r.preteni" a ioma do aspecto socializado'
Todo o acêtvo de noçõès, embora provisòriamente sem úiliza-
ção nem aplicações pessoais, adotado pelo indivíduo, através
áa opinião, lonstitui ã indispensável -moeda de troca ou mesmo,
eventnalménte, funciona comomodelos e veículos de ação.
No seu afã de autoconhecer-se o homem sabe, apenas, pot
conseguinte, aplicat a si próprio uma opinião, cuja otigem nem
," .nãotru"'trêle n.rn noi dèmais; tal õpinião, porém, a todos
é imposta, pelo meio social e, atlavés dês-te, pelas condÌções
e formas atúais da existência social. Com freqüência, critica-se
com ênfase a esueiteza do fundamento puramente individual
do método inffospectivo; critica-se a necessidade do mesmo
de estendêJo a qúaisquer p€ssoas a Íim de atingir as noções
aerais; critica-se èssa 
-extensão, 
sem provas, graças à simples
íi*puii" ou Einfüblung, daquilo que setia, em sua origgm,
umá verdade, irredutìvelmente individual; pois bem, tais cíticas
perfazem ,r*â ..otntt inexata. Na realidade-, seu ptejuízo é b.P
maior. A inuospecção parte não do indivíduo mas do que não
é inerente, p..oii^r- a âgoé*, porque obrigatório para todos.
Pretende ela, nessa mentãüdadef de certo modo imposta, achar
as fôrças vivas do inüvíduo, os fatôres de sua conduta ou de
,.r, ."iát"t. Seria considerar os quadros nos quais a atividade
busca se inscrever como a próptia atividade e catalogar, sob
um qualificativo opaco, uma rcalidade psíquica que, com fre-
qüênôia, protesta, ïe modo singular, contra uma significação
mitigada por um disfarce habitual.
O método inspita-se, precisamente, no dos esteriótipos po-
pulares segundo o qual aJ virtudes e os vícios são evocados
graças às Íigutas alegóricas e emblemas inscritos- nos e$p$os
ãircunscritos saídos da boca dos desenhos em quadrinhos. Dis-
põe em detredor do indivíduo, como de um busto ou de uma
èstátua, outras tantas €státuas a personificarem seus méritos.
Exemplifiquemos. Num monumento a Tor,srot, sem dúvida,
Íiguraiia ã Bondade, Entretanto, na realidade, tal evocação
nõs enganaria, em face do seu esÍôrço pata alcançat aquêle
sentimento.
72
O ptóprio escitot assim como seus próximos Íizeram
declarações sôbre a sua vida; ern t:rzão daquele esfôrço, Íêz
sofrer, rudemente, seu círculo de amizades; compoftava apenas
asper€zas insólitas sua doçura evangélica. Aprofundandese
mãis essa apreciação, descortina-se uma espécie de fetocidade
em alguns dòs seus âtosr no decorrer de uma caçada, por €xem-
plo, aã encurralat a prêsa nêle irrompia uma conttação facial
è uma espécie de remor de volúpia saciada. Sem dúvida, à se'
melhança das velhas legendas deve-se evitar a oposição do de-
mônio ao anjo, potém é necessário reduzir ao mesmo fundo de
sensibilidade seu gôsto ern constranget a criatura no cítculo do
bem e do mal. Em tôda piedade, dizia MrcnsLET, existe a
crueldade. Áo se let a obra de Tomror surge a certezâ de que
êle não teria criado tal atmosfera de vida entre as suâs perso'
nâgens e, em cada uma delas, tanta vibração e tantos impulsos
pessoais, se não houvesse, experimentado como que uma curio
iidade agada, que o totnava sequioso tanto do sofdmento, como
áa alegia alheia. Seu gôsto pelo homem e pel? vida ultra-
passavã as distinções entie a sÌmpatia e a crueldade. Sob a
Ëanalidade da palavta, reveladora daquilo que a opinião con-
serva de um homem ou de uma obra, se dissipa ptecisamente
o que poderia explicá-los: a reaüdade da açáo psíquica, coisa
aliái qú essa palavra, em neúum grau, poderia exprimir.
Ao estudar o desenvolvimento da inteligência e do coúe-
cimento da ctiança ( 1) deftontamo-nos com o mesmo êmo do
método precedente. Ainda 1á podet-se-ia na aparência justifi-
cáJo mais intensamente. Pois o desenvolvimento da inteli-
gência, em grande patte, é função do meio social. Para que
ela possa uanspor o nível da experiência ou da invenção ime-
diatã e concreta, tornam-se necessários instrumentos de origem
essencialnrente social, como a linguagem, e os difetentes siste-
mas simbólicos surgidos dêsse meio. Constituem seus obietivos
a aquisição ou o desenvolvimento de noções e de coúecimentos
exisientes fota do indivíduo e que representam o patrimônio
do gtupo. Não seria, portanto, impossível a priori fazet a
transmissão do patrimônio, do grupo para o indivíduo, de ma-
(1) Consultar: 'cLes Orôgittcs ile ls Pan'sée ch'ez T0nÍont"'
2 vol. P.U.F., 1945.
13
neira rnais ou menos latetal. Aliás é üença comum possuir a
verdade uma evidência própria e que a intúção dessa verdade
possa sff fulminante e imediata. A prática pedagógica, em
geml, ainda repousa nessa convicção. Êno flagrante, pois o
mais simples e Íotineiro de nossos coúecimentos exige do
espítito uma Íorma patticular de adaptação. O exemplo da
cdança nos mostrou não ser uma noção qualquer assimilável
nem por si mesma, neÍn como vinda após outras noções que
com ela formariam uma espécie de série complementar, uma
cadeia de verdades, de conhecimentos, de conseqüências inte-
lectuais. Não há simples questão de conteúdo. A compreensão
tem condições mais profundas e não possui nenhuma seme-
lhança aparente com o objeto pârticular do pensamento.
Os progressos impostos ao pensam€nto da criança dizem
respeito a sua diferenciação em planos distintos, através dos
quais se rcahzam tôdas as dissociações interpostas enffe a expe'
riência concreta e tais ou quais sistemas de representações e
de símbolos ai superpostos pelo conhecimento. Enquanto per'
manece incapaz de operat as transposições facilitadoras da evo,
lução do seu pensamento auavés dos campos povoados de sím-
bolos; enquanto substitui ao campo das impressões sensíveis e
atuais uma espécie de espaço ou de meio vital e virtual, perma-
necerá o pensamento refratário à comprcensão das relações que
podem servir para unir suas imptessões, objetiváJas e explicá'
-las. Possui muitos graus essa aptidão de cdação de um espa-
ço mental, onde o espírito esteja üvte para se otientar. Desde
logo torna-se necessário estabelecer a distinção dêsses graus;
ceitas lesões cerebtais mostrarâÍn as conseqüências advindas
entre a percepção das relações que as coisas sustentam, efetiva-
meÍÌt€, enne si no espâço atual e o podet de lhes dar uma posi-
ção prescrita ou de tõmar, ela mesma, uma direção definida (2).
Nesse momento a imagem deve precedet o fato. Ao percebido
se opõe o que ainda é virtual. A orientação no espaço real
depende da supetposição de uma eqpécie de espaço mental.
Êste espaço mental é ainda mais necessário à formação de uma
imagem que sobteviva ao objeto e o substitua, e ao estabele-
cimento de analogias enüe âs imagens, a fim de trocá-las por
uma série de noções e de símbolos que fazem da experiência
vrvida o universo pensável. Êsse progresso liga-se, realmente,
ao desenvolvimento e à matutação dos cenffos nervosos, po'
dendo, todavia, ser comprometido por lesões vrírias, como aliás,
Íicou ievelado por análiies recenteJ em meio aos fatos da agno'
sia, afasia e simbolismo (3).
As crenças ou as modalidades de pensar veriÍicadas na
criança, as qúais, num lance de una lógiõa av"rtrtureita, podem
lembiar cerias concepções dos primitivos, indicam as etapas
dessa evolução. Inteieisam menós pelo seu conteúdo que pelas
sripostas implicações existentes entré noções ou realizações- men'
tais tornadãs dissociáveis pelo pensamento adulto. á, impgt-
tância dos graus dessa ãiferenciação confere'lhes relevância,
pois o pensamento bern pode se desenvolvet, progressiYaPentg'
èm opeìações distintas, ê sua unidade nem- por is-so deixa de
'subsisìir, primordial. essencial. O poümorfismo de suas apli'
cações a ãbletos variáveis torna'se viável, grâças a um grau
coirelativo de organização. Por mais completo que se torne,
pelo menos no indivíduo normal, o pensamento conserva sua
ioerência fundamental e, enquanto não se ancilosar deÍinitiva-
mente ou estorvado por um ãmontoado de estereotipias, há de
manter seu poder dè tenovação e d.e adaptação. Por conse'
suinte. ao cóntrário das teorias realistas e atomistas, sensua-
f,st.r,'e associacionistas, explica-se a atividade mental não por
uma iusta'posicão ou a coalèscência de elementos, de início se-
paradbs e^múltiplos, a exemplo do que se verifica ao se. partir
ãe ,rm pensamento iâ rcaltzado nesses objets, - mas, sim 
por
uma espécie de desenvolvimento orgânico.
Em telação ao caÌátef,ainda são mais inaceitáveis as dou-
üinas antigas. Pois, em definitivo, o coúecimento tende a se
uniformizai enue os indivíduos e a diversidade dos meios para
assimiláJo deve ser pesquisada entre os resultados que oscilam,
necessàriamente, €m tôrno de uma norma comum; €nquanto
mister se taz entendet por caráter o que, de modo exato, dis'
tinsue os indivíduos, embora as suas condições de existência
ou 
-os resultados de sua atividade úo pareçam muito diÍeren'
(2) Consultar, entre outros, PÍERBE MâruE e BEEAcUE, 8eü.
Neurologfi4ua, Janelro, 1919.
14
(S) Consultar GELB e e.oLDsrErN, citados por CASSIRER, no
toúrnel fu PWchologie, mato-Jurüo, Julho-outubro, 1929.
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tes, Da mesma forma que a inteligênci a, o carâter não é com-
posto de partes distintas, de átomos ou de radicais diversa-
mente teunidos e combinados. Parz cada indivíduo, êle cons-
titui a maneira habitual ou constante de reagir, à condição
porém de não se entender por modo de agir uma certa Íorma
de reações, particulares e sempre semelhantes a si mesmas, m,as
antes uma espécie de parentesco latente, unindo as reações entfe
si, mesmo que seja aüavés das circunstâncias e das mais va-
riadas situações. Além disso, uma reação afkma os traços
Íixos do catáter ao tempo em que é capaz de modificá-los. Eis
o domínio onde, de modo mais diteto, suÍge a necessidade de
encarar a petsonalidade total a Ganzbeit, conforme Srrnx
exige para tôdas as reações psíquicas, mesmo aquelas de aspecto
indiÍerente ou episódico.
Com tôda cetteza, não se ffata de se ater a essa noção de
todo invisível da qual seria impossível exttair-se alguma coisa.
Contudo, em função dêsse todo precisaremos encarar o caráter,
uma vez que êste, em cada manifestação, exprime, de modo
preciso, a totalidade da pessoa. Em face das circunstâncias e
situações exteriotes êle representa o índice individual de cada
uÍn. Ora, tal índice não traduz uma pura abstração. Condições
internas e pessoais existem a se defrontaïem com as condições
externas e objetivas, e estas só podem se tornar matéria de
coúecimento quando reduzidas, elas mesmas, às condições
objetivas. Logo, totnar-se-ia necessária a decomposição do todo
em fatôtes distintos, o que, talvez, num certo sentido, fôsse
conttaditório. A menos que se não limite a uma mera descri-
ção, a uma simples enumeração de qualidades e de proprieda-
des, as quais vimos não oÍerecetem nenhuma relevância; a me-
nos que se não restdnja a uma singela nanação de traços par-
ticulares de reações habituais a permitirem superar o plano
das manifestações conctetâs; pois bem, não se reduzindo ape-
nas a isso, tôda pesquisa em, tôrno do caráter exige de nós a
descoberta nêle, tal como se exprime, de fatôres determinados.
- Nesse sentido, o primeiro esfôrço consiste na pesquisa dos
fatôrcs fundamentais, dos quais o caráter poderia sèr o reflexo.
E por uma tendência natural em basear o mais complexo e o
mais fugidio no que se afigura estável, consisrente e objetivo,
- da mesma forma que acreditamos basear a função na exis-
16
tência do 619ão, - ao catátet, deu-se-lhe como alicerce o tem-petamento, a com,pleição fisiológica. Remontam a uma data
muito distante os ensaios dêsse gênero. Algumas teorias, nas-
cidas dêsses ensaios, atravessaram séculos e 
-chegaram 
até nós,
apenas modificadas: por exemplo, a teoria dos ìemperamentos
. sangüíneo, nervoso, Íleugmático e melancólico, Entre a predo-
minância de um certo tipo Íisiológico e certo comportúento
haveria identidade, de tal sorre que o rr,po Íisiológìco coman-
daria o psicológico. Parte-se, em suma, ãos mais elementares
para se conseguir, por dedução ou combinação, as manifesta-
ções nas quais a personalidade total do indivíduo se exterioriza,
olr pof outfas palavras, reduz-se o conjunto ao simples jôgo dos
elernentos, hipótese insustentável em biologia e com maior ra-
rão, em psicologia, pois dois fatos essenciais se encontrariam,
de certo modo, eliminados de golpe, isto é, o da adaptação ao
meio e o da continuidade especíÍica ou individual.
Sob uma forma mais recente, ou seja, a da simples corre-
lação, as relações entre o temperamento e o catâtf'f, nesses últi-
mos tempos ensejaram numerosos ffabalhos. A princípio, as
diferenças de temperamentos relacionavam-se às diferenças mor-
fológicas. Tais correspondências foram estudadas, sistemàtica-
mente, entfe outfos, por KnrtscHEMER, no seu livto "Korper-
bau und Character". Distinguiu êle, quanto à forma, quatÍo
tipos: o pícnico, o atlético, o astênico, o displásico. Sob
o ponto de vista psicológico, sepaÍou dois aspectos essenciais
do catáter correspondentes numa Íorma mitigada às duas gran-
des categorias da patologia mental: a consrituição esquizóide
e a constituição ciclóide. Hâ f.alta de rigot nessa equivalência,
visto como só a constituição esquizóide se abre em três tipos
físicos, o atlético, o astênico, o displásico; enquanto que, entre
o ciclóide e o pícnico, a coincidência seria mais relevante,
Não é êsse o momento de enveredarmos nos pormenores dêsses
exemplos. Pretenderíamos tãosòmente levá-los a verificar a
inexistência de alguma tazão, pnt assim dizet intrínseca, a pos-
tular a ligação enme si dos tipos Íísicos e psíquicos. Os que
correspondem à constituição esquizóide, múfolôgicamente não
são diferentes, mâs com freqüência opostos entre si; por exem-
plo, o atlético e o astênico. Apenai o lidar freqüente com a
constituição esquizóide, ora com o tipo atlético, ora com o
a-stênico ou displásico, nos permite afirmar sua relação, a qual
diís, consiste numa ,mera èomelação.
'..ài,.
:il:.:
;!ni
:::::'
ïi;
ili
17
Limita-se a corelação a registrar urn encontro mais ou
menos rcpetido. E dessa rep€tição deduzimos a probabi-
lidade do €ncontro. O índice dessa ptobabilidade estabelecerrí
o grau ou o valot de uma correlação entre dois fenômenos ou
duãs séries de fatos. A correlação existe quando um encontro
ocorre com fteqüência superior à rcsultante de um simples
acaso. Além disso, haverâ correlação ,positiva ou negativa per-
mitindo.nos titat a conclusão de uma afinidade ou de exclusão
recíproca das duas séries. Dessa forma, a antiga noção de
causalidade eficiente dá lugar a uma noção de concomitância
tôda relativa, um^ vez que o índice de correlação pode se dis-
tanciar, mais ou menos, da unidade, que seria o quociente de
uma concomitância constante, e descer abaixo de un nível cor-
respondente ao do êrro provável e, a partir do qual se tomará
impossível afirmar-se a existência da correlação.
A necessidade dessa substituição revela duas razões. Pri'
meiro, a complexidade dos fatos estudados em psicologia, a
desaÍiar a an,ílise. Apenas é possível atingitem-se resultados,
mais ou menos globais ou patciais. Pretender resolvê-los nos
seus fatôtes elementares levatia a tegressões indefinidas às
ordens de fatos, completamente heteróclitos e para os quais,
tem,poràriamente, é impossível a apreensão do pormenor, das
reações recíptocas e do conjunto. Acrescenta-se po1ém a essa
l:rzão de orãem ptó,tica uma outr.a, mais fundamental. Trata-se
da natuteza dos fatos biológicos ou psicológicos. A explicação
dêstes não poderia ser deduzida das leis próprias, regentes do€
fatôtes elerientares, nem das composições de fôrça disso resul-
tantes, pols a vida é adaptação. Na sua evolução, ela integra
inumeráveis reações e inÍluências exteriotes e acidentais. Mes-
mo certas modificações, talvü, na aparência espontâneâs e intei-
ramente novas, sejam a conseqüência de reações ou condições
de existência que ainda não foram encontradas, donde a for-
çosa imprevisão das altetações mais tarde produzidas. Por
outra paÍte, produzir-se-ão também, em psicologia, alterações
no equilíbrio do sistema que, em biologia, culminam em mu-
taçfts. É necessário ver a parte que cabe a êsses acidentes e
muta$es, Por conseguinte, sendo possível fazer-se o inventá-
rio completo dos fatôres elementares e combinat entte si suas
conseqüências, o resultado a todo instante se alteratá pela in-
tervenção de uma eventual reação ou de uma mutação.Pois
18
tal inventário oferece aÍ'enas uma certa .probabiüdade. As
possibilidades de variaçãó súbita são ainda- maiores em psico-
logia, na qual a adaptação constanteÍnente enÍrentará as'con-
üções muito mais initáveis e muito mais diÍerentes entre si.
E pois- da própria_ natyteza da psicologia a substituição da
noção da causalidade pela de correlação. - E na ,psicologia, é o
estudo do. indivíduo,. õ estudo do què nêle há dË mais -pessoal,
:- gu. seja seu catátet, - que torna, na maioria dal v&es,inevitável a pesquisa pura e simples de correlações.
Semelhante atitude porérn não implica na afirmação de
que as comelações devam se bastar a si mesmas. Á,o conftário,
é um p_togresso necessário, isto é, o de procurar, oculto poi
detrás de uma conelação, o fatot ou us iircunstáncias qnè o
explicam; nesse caso, será o domínio de um fio a mais ttd .ro-
rnela{o da vida psíqulca, serâ a aqúsição da capacidade de lhe
seguir a ação além dos únicos encontros propõrcionados pela
observação; com Íreqüência, mesmo, f.azet a preìisao dos efeitos,
ainda inéditos, ou reduzir à unidade tais fâtos, até entÁo ofe-
recidos sob um aspecto discordante.
Por uás da comelação morfologia<arátet, por exemplo,
alguns âutores - PBNnn foi um dêlés, - pretenderam ràn-contr_ar- a ação ao mesmo tempo morfogênica e psicogênica das
glândulas de seceção internal Com ãfeito, côúecLse bem,
não no pormenor, mas através de Íatos determinados e rele-
vantes, que tais glândulas comandam, de modo eletivo, o cres-
cimento dos tecidos e a Íormação dos órgãos, assim como as
disposições menrais e o compoitamenro dõ sujeito. Á insufi-
ciência tiroidiana acatteta, s€mpre, modiÍicações no metabo-
üsmo geral, na circulação, na estrutur" e aspelto do esqueleto.
no metabolismo da pele e dos fânelos, poi fim, diminüição e
queda correlativas -das funções psíquicas. A puberdade é um
coniunto de mansformações físicopsíquicas ligãdas à atividade
endociniana_.das glândulas genitaii. - As noúveis experiências
de -Pezeno (n) mostraram de como a castmção e d enxêtto
podem conferir à galinha e ao galo não sòmãnte os atributos
cxt€fiores, tais como a crista e a plumagem, mas também o
(4) "Modifications périodiques ou définitives des caractè-lrt soxuelles ches les Gallinacées,', Atwtal,ee iles Soi,wee Nature'lles,
!0P,2.
19
humor e os gestos do sexo otr)osto. Essa dupla maniÍestação,
no campo somático e no campo psíquico, das ações endócrinas
demonstra ser um fator fundamentalmente universal.
Não obstante 
^ 
vog atual e as grandes esperânças dispen-
sadas às teorias humorais, não se pode descurat o estudo direto
dos demais Íatôres do temperamento e do comportarDento. No
início, serão estudadas as particularidades da vida vegetativa
em geral, as funções reguladotas da atividade do sistema sim-
pátiçs sr autônomo. Suas relações com a atividade das glân-
duhs endócrinas, em geral estritas, não as impedem de revelat
no seu próprio campo fotmas de manifestações peculiares, e de
€ntreter outras relações com efeitos dependentes mais direta-
mente da atividade psíquica. Nas relações interfuncionais, as
funções mais ìntimamente associadas possuem conexões que
lhe são inetentes, de modo a não poderem ser encaradas como
simples réplica uma da outra, isto é, sob duas apaÉncias e
como que em duas línguas diferentes; eis porque o "paralelis-
mo psicofisiológico" é uma noção artificial. Das duas funções,
aquela cujas condições de existência dependem da outra, per-
tence, ao mesmo tempo, â uÍÌ outro plano de otganização;
cortesponde às necessidades superiores de adaptação e se pro-
põe exercer sôbre a outra uma ação reguladora, inibidora ou
estimuladora segundo as necessidades. A esuututa e a história
do sistema netvoso repÍesentâ, exatìssimamente, pot intermédio
da espécie e, até cetto ponto, também aüavés do desenvolvi-
mento de cada indivíduo, uma transposição das funções mais
primitivas e mais elementares por aquelas cujo advento corÍes-
ponde a meios de adaptação mais poderosos, mais sutis ou
mais polivalentes. Em cada inúvíduo, porém, o equilíbdo obtido
pode oferecet, em cada estágio, certas diferenças, cujas teper-
õussões não deixam de se fazer sentir no edifício inteiro de
suas disposições e de sua conduta.
Particularidades cuja influência detetminante sôbre o ca-
ráter são apontadas por Helr,uurr{ BocENc (5): velocidade e
ritrno espontâneo das reações, quer motoras e afetivas quer per-
ceptivas e mentais; gêneto uiual do humor e da atividade;
aptidão para rcalizat, mais ou menos profundarnente, as exÍ)e-
riências e impressões da vida; grau-variável de ligação e de
aplicação suscítados em cada um pelos objetos da-ação e os
estímulos oriundos dessa própria ãção, nastem do róesso do
indivíduo. e corespondem.ì êsse toão-organizado, o qrt; p;;
graus, vai das mutações químicas à maior-ou meÍÌor uiu".idàd.
cÍas rmagens e dos pensamentos.
Se algumas dessas funções conservam, em níveis aliás de-
siguais, a atividade do sistema nervoso sob sua dependência,
elas o têm também como ,regulador, sendo possível ira criançá
- como ensaiamos fazêJo (6 ) seguir, simultâneamentê,a. maturação progressiva dos centros nervosos e a predominân-
cia sucessiva dos diferentes comportamentos. Esia sucessão,
porém, não é dgorosamenre comparável, de um indivíduo
para o ouffo. Casos existem de retardamento e de precocidade
que atingem_€ssa ou aquela função; e tais diferençaj de sincro-
nismo,- devidas a: insuficiências, por vêzes duráveis, por elas
reveladas; Íormas de compensaçãó ou de por vêzeí ior elas
provocadas; hábitos com freqüência definitivos por elàs desta-
cados, tudo isso nos impõe ã possibilidade de, iob atos, cujos
resultados tornarâm-se -exteriôrmente semelÉantes, .*írtirá,o
rnecanismos variáveis. Dessa maneira, a diversidaáe de tipos
individuais pode surgir de um estudo genético da criança. ier-
tos autores procuraram determinar no adulto - como ouüostipos morfológicos 
- tipos de compleição motora, correlacio-nados com determinadas formas de caráter. Gounrvtrcrr. oor
exe.mplo,-distingue cinco tipos: a debiüdade motora de púpi4
o infantilismo moror de HounuRct& a insu{iciência extrí-
-piramidal de Horununcen-GounnvrrcH, a insuficiência fron-
tal de GounEvrrclÍ, a insuficiência cerebelosa de ïTarloN (?).
. . No que tange a essâs características dependentes da cons-
tituição próg1a do indivíduo, outros autorej insistiram, de um
modo especial, sôbre situações em que se lhe tor"" nã.ãrr,ario
uma adaptação -e -sôbre a maneira ãe o Íazer. Na teaüdàJe,é tão impossível deduzir-se um comporramento de disposições
por mais fundamentais e imperiosas que se;am quanto dËdu-
(5) V.e Conf. fnternationale de Psychotechnique, C. R., pp.
78-82.
20
(6) Ll&nfant turbwlent, 1.a parte.
g) Para as lacunas e impropriedades apresentadas, a meu
Y6r, por esta clessificação -- aliás-muito intelessante _'cònsul-tat Awtml,es Méd,ico-Psgchologiquos, 1992, t. L, p, Ir2-L46.
21
zir-se uma função dos Íatôres mais elementares por ela inte
grados. E quanto mais cresce, com a complexidade d9 uma
ãtividade, a diversidade das circunstâncias a que tem de res'
ponder, meÍÌos é possível ússociat esta atividade dessas cir-
cunstâncias e encará-la isoladamente. Isto é, precisamente, o
que se observa nas relações do homem com aquilo que
Grpse (s) qualifica de materiais por intermédio dos quais se
rcaliza sua ãtividade. Segundo se trate: seja de sua vida coti-
diana e nesta de sua atividade profissional ou familiar, de seus
hábitos pessoais ou de costumes sociais; seja de situações no'
vas e imprevistas, tais como incêndio, morte de um parente,
perda da-catteira, gaúo na loteria ou, seja-ainda, pata o adg
iescente, de sua'piimeira cigateira, o modo de teagir pode,
no mesmo indivíduo, apresentâr uma grande diversidade' Da
mesma Íorma sua atirude em face dos úfetentes objetos ofere'
cidos à sua atividade mental: idéias, cultura, nadição, técnicas
e conhecimentos de tôda natureza; ou então em face de ouffos
homens. A hostilidade, a simpatia, o desdém, a complacência
que êle lhes testemunha de acôrdo com suasituação ou câte-
doria social. e de acôrdo com as circunstâncias; suas maneiras
ã. ,"t e o tom de suas convetsações com cada um dêles, aí
estão outros tantos traços capazes de se combinatem diferen-
temente.
O caráter' tesultaria da soma dêsses elementos, ou antes,
de sua repetição. Dir-se-ia a impressão dêles na pessoÍl' -Nesta
vem atingir . " t. fixat manèiras de 
teagir- cuja explicaçio
repousâ nã complexo indissociável fotmado pelas situaçõe-s de-
teiminadas . peÍas disposições do indivíduo. O ato de -adapta-
ção que os une entte si representa o fato inicial. Tudo mais
não 
- 
passa de análise. Em biologia, porém, existe um proce'
dimenio de análise que não corre o risco de dissolver as uni'
dades essenciais: é o estudo genético dos sêtes e das funções,
Por meio dêsse estudo vetificã-se, particularmente, de como a
cdança, ao se desenvolver, elabora de etapa em etâpa essa
espécie de índice individual que se chama carâtet.
Pnrrvrnrna Pentr
O COMPORTAMENTO EMOCIOÏI{AL
CAPÍTULO I
AS PREMISSAS PSICOFISIOLÓGICAS DÂ
VIDA AFETIVA
As situações às quais o indivíduo deve reagir ou se adap
tat, estão entte os fatôres essenciais do seu catâtet; na criança,
einda bem pequena, não parece, enffetanto, que já se possa
Íalar em caráïer. Pois é extrernamente circunscrito o meib de
suas dações, oferecendo-lhe apenas situações muito uniformes
e de uma espécie pouco propícia às manifestações originais ou
pessoals.
Se o caráter compofta uma certa constância nas maneiras
de reagir, temos ainda aí uma condição difícil de ser enconuada
na criança. Não sòmente porque o número das ocasiões a ela
oÍetecidas e as expetiências por que passou permanece muito
festrito para ter conseguido nela gmvar disposi$es particulares,
mas também em nzão da descontinuidade essencial observada
cm. seu com.portamento. Nada mais lábil que suas possibili-
dades ou veleidades de ação. Nada persiste nela e nãda sabe
ptosseguir. A existência de temas que se repetem e dão a
ilusão de uma certa constância é tão sòmente um sinal de pe-
núria. Na tealidade, é incapaz de desenvolver ou recordaf
teis rcmas. Suas aspirações são essencialmente intermitentes.
Não podendo se mânter, evoluir, nem progïedir, desfazem-se
tão logo se fotmem e são reduzidos por excitações semelhantes
pu pda raridade e o rápido desaparecimento daqueles susce-
tfucis de os substituir. A incoerência apresentada pela con-
dtrta da criança decorre do fato de não ser observada na simi-
lltudc de suas diversas manifestações, mas sim, em sua sucessão
hutâ.
22
(8) V.e co,nf. Int. de Psychotechnique, C. R., p. 88-90.
23
Por fim, durante seu ctescimento, de modo sucessivo vê-se
dominada por uma das funções prestes a nascer ou a se tevelar.
Pois, antes de se integrar em sua atividade, conÌeça pot preen-
chê-la com suas variações e exercícios sem objetivo e sem fim.
Parece Í.azer a prova de suas possibilidades em tôda a extensão
de seus mecanismos e de suas ligações: dessa maneira, sons
produzidos pela mera ginâstica dos aparelhos orais e fonatódos
são indeÍinidamente moüficados; o ouvido, ao ser despertado
e educado por êsses sons, logo assume a direção. Da mesma
forma, a criança se compraz em rcalizat pequenâs acrobacias
no início da marcha a fim de conquistar o equilíbrio. Nesse
momento, ao invés de disposições ou de pteferências indivi-
duais, ffata-se sobretudo de manifestações relacionadas com o
desenvolvimento Íuncional. Eis que também do ponto de vista
genético e analítico é lícito o reconhecimento das afinidades
de uma função e a observação das reduções sucessivas através
das quais ela tecebe uma direção determ.inada e aiusta-se ao
equilíbrio da personalidade em formação. As linhas de Íôrça
tendentes a se deünearem e atuantes na evolução ulterior do
sujeito adquirem dessa maneira um maior realce quando encer-
radas nos traços fixos do caráter.
Além disso, inexiste etapa desprovida de coerência e de
significação peculiares. As situações diante das quais a ctiança
teage são exatamente as correspondentes aos seus meios. Al-
gumas seguem âpenas o crescimento € a extensão ptogressiva
das outtas. A cada idade cotresponde um tipo de comporta-
mento e todo comportamento se otganiza em tôrno de certas
atividades Íundamentais, cujas teis aparecem de modo mais
enÍático, quando ainda isoladas e prepondetantes, do que nas
posteriores complicações da vida psíquica. O estudo da criança
irá nos tacilitar melhor deciÍração.
INAPTIDÃO DO LACTENTE PARA Á ÂTIVIDADE DE RELAçÃO
A observação de que o lactente, no início do seu desen-
volvimento, é apenas apto paa uma vida ou atividade pura-
mente afetivas implica no enunciado de uma constatação banal
e que só tem interêsse quando reduzida a têrÍnos mais precisos.
Sem dúvida a úi^nça, pelo menos na espécie humana, perma-
nece longos meses sem 'possível acesso à vida de relação. É tão
24
tncapaz de manter, com o meio físico, relações ativas quanto o
pinto na sua casca. Fazem-lhe falta ao objetivo não sòmente os
movimentos de execução, os movimentos coordenados e apre
ptiados, como também os indispensáveis a uma percepção
corteta do mundo exterior.
A vista, por exemplo, muito embora no primeiro pla-
no dos sentidos necessários à distinção e direção entre as coi-
sas, perm.anece durante muito tempo imprópria pat^ a função.
Por certo, desde o nascimento, os olhos reagem à clatidade
pela conttação pupilar e pelo Íechamento das pálpebras; vol-
tâm-se para as fontes luminosas cuja intensidade não os ofenda.
Contudo, enre êsse reflexo e a verdadeita fixa$o do olhar,
tecoúecivel pela capacidade de se deter numâ mancha lumi-
nosÍl com exclusão de outta, existe uma diferença apenas ven-
cida depois do décimo dia. Aliâs, até o décimo primeiro dia,
PnrvBn ( I ) obsetvou nos movimentos oculares è pálpebras
uma incoordenação opondo, a todos os instântes, um obstáculo
à fixação dos objetos. Os globos oculares ficam fixos e as
pálpebras não se abrem, ao mesmo tempo. Ainda ao cabo de
um mês, abrem-se desigualmente e nem sempre simultânea-
nente, Durante os três primeitos meses, ocorte-lhes não mais
oeguirem o deslocamento dos globos oculares, salvo no seu mG.
vimento para baixo. Sòmente no 98.o dia haveria concomi-
tância entre a elevação do olhar e o enfi.rgarnento da fronte.
Em compensação, outras sinergias são rnais precoces, po-
dendo se produzir fora de propósito. Assim, da 2," à 6.' sema-
na, a contração pupilar, pouco importando sua causa, provoca
a dos músculos ciliares, aumentando a curvatura do cristalino,
assim como a contração dos músculos retos internos, fazendo
sonvergir os olhos. Ora, êsse conjunto acomodativo convém
gpenas à visão dos objetos próximos. No 23.o dia o olhar segue
pcdeitamente um objeto que se desloca e na 10.a semaÍìa procura
a origem de um ruído tão-sòmente pelo movimento doJ olhos.
Com efeito, os movimentos da cabeça tornam-se possíveis
rpenas mais târde. Na 11." semana ainda está sujeita a pender
de um lado para outro e não permanece Íirme; antes do 4.",
t.o ou mesmo 6.o mês seú, incapaz de se orientâr, con um
(1) Aô,me il.a Venfant, trad. Varigny, Paris, Alcan, 1887.
25
movimento contínuo, nas diferentes diteções do espaço. A
ação conjugada entre a cabeça e os olhos é, no entanto, tão ne_ce_s-
sária à êxploração do campo visual a ponto de ser regulada
por aparellios especiais e coiresponde aos sistemas ptimitivos de
èonexões nervosãs. No sistema nervoso, êsses centtos de coot-
denação estão situados relativamente baixo, isto é, pertencem
a et;pas já recuadas da evolução e, pot conseqüência, devem
ser de um desenvolvimento um tânto plecoce no compofta-
mento do indivíduo.
A utilização e mesmo a percepção do espaço, conforme
apuÍou Iü7. StrnN, estão na dependência estreita do movimento.
Há cortespondência exata de seus estágios. O espaço da cian-
ça permanece puramente bucal, enquanto não possuir -qwi'
mentos coordenãdos, salvo, é claro, bs da bôca e dos Líbios'
Atinge ao consentimento do "espaço ptóximo" à medida em
que se totna capaz de coordenar os gestos das mãos e dos
6raços; supondole, portanto, uma estabilidadee uma siner-
gia- jâ sufiõientes doJ ombros e do uonco. Enfim, a marcha
Ihe'confere a capacidade de juntar, avaliar entre êsses gestos
os Íragmentos de espaço próximo onde se desdobram seus atos
de preensão e de iecusa, transformandeos, dêsse modo, em
espaço único, no qual será possível a coexistência de todos os
objetos.' Ántes, potém, dõs quatro meses ainda não pode '
erístir o expaço próximo por èla mesma visto, como -qn4a
não é seúorã áot ìnovimentos que lhe permitam: a estabilidade
do tronco; modificar a direção e a posição dêsses movimenÍos;
virar-se ou se sentar, como se a tivessem colocado de Íace
contra o chão, cama etc. Nessa idade de quâtro meses, por um
sincronismo sem dúvida não simples coincidência, a criança
adquire a capacidade de regular sua própria posição no espaço;
issô porque ãs teÍlexos labírínticos, ité então livres do conttôle
do cérebto, deixam de se produzir automàticamente, uma vez
tealizadas as condições periféricas; tais rcflo<os, cuja existên'
cia foi demonstrada por MecNus e Kr,srJN, constituem siste-
mas de contrações, ãe atitudes, relacionados cada um com o
sentido da impulsão dada ao corpo no espâço, isto é, movi-
mento de üanslação parâ o alto, para baixo, para diante e
para ttás (2).
1 IMPORTÂNCIA DO SONO NO COMPORTAMENTO
DÂ CRIÁNçA
' Durante o transcuÌso das etapas sucessivas do desenvol-
vimento, o lactente se enconttâ totalmente absorvido em ven-
cê-las e, corn tôda evidência, as suas realidades e experiências
não são as mesmâs do adulto, A existência na sua vida psí-
quica de certa unidade e coerência deve-se, antes, à prepotr'
&rância de influências ou de funções diÍerentes das que emet-
girão mais tarde. No acôrdo necessário entre suas reações _e
*us meios pode ocorrer que a debilidade dêsses meios revele
conseqüências positivas.
.i,. Diante' da insuficiência motora da criança a atenção se
11:;: volta, como é obvio, pafa o seu estado muscular. Com Íreqüên-
ri cia obtêm-se pela preisão do plexo branqlial,-ao nível Ãa,axila,
o ceilar do punhó e cãimbras aravés de diÍerentes excitações
periÍéticas. Tais efeitos observam-se também na tetania, onde
âs funções tônicas do músculo, ou seja, a capacidade dos mes-::, llos â entrafem em contfaturâ, se enconüam exagetadas. En-
quanto, porém, na tetania a excitação mecânica e galvânica do
úúsculo aumenta, no recém-nascido ela é ftaca, Por conse-
guinte, a ausência de inibição ptoduz o fenômeno do puúo
cstado e a lentidão das reações musculates e a extensão do
reu período latente se Íusionam, resultando as cãimbras. Com
cÍcitõ, há algum tempo já as pesquisas de Sor"trreNx mostra'
',,'..' ram que a éxcitabilidadé musculai é menor no recém-nascido,
':t. ou seja, é preciso maior intensidade da corrente pa-ra se con-
..... $guir uma-teação. O gráfico do abalo musculat ofetece uma
devação e uma queda mais lentas, mais motosas, um ápice me-
,, dos brusco; revela sua curva mais tâpida fatigabilidade. Por
Íim consegue-se a contração contínuâ do tétano com 16 a 18
dcscargas por s€gundo, enquanto são necessátios 70 a 80 para
o adulto. Segundo a observação de Pnrvrn (3), os músculos:- do recém-nascido se comportarn como os de um adulto fati-
'', grdo. Sucumbe, efetivamente, à f.aüga logo após a mamadura,
, - ro úôro ou tendo apenas sofrido as excitações sensoriais vin-
-ffi^.drt do ambiente: uma criança de oito semanas tendo, num
ffi,.ïi.'Ogto momento do dia, ouvido alguém tocat piano, dormia
ïi,' ' :__
:,gi.i':r (8) üAma de lignfant.
26
(2) Ver cap. YIII: "Pslquisme I Tono", dêste livrq p. 125.
27
seis hotas, isto é, muito mais tempo que o habitual. A faáiga
é a causa' do sono. Êste, no recém-nascido, seria ainda favo-
recido pela insuficiência da hematose, relacionada que está com
seu fraco volume sangüíneo e sua respiração superficial, assim
como pela grande quahtidade de oxigênio solicitada pelos pro-
dutos da digestão Lâ'ctea.
Assim, pois, no seu comportamento, o sono mantém um
lugar de eleição. Ota, o sono não é aquela r9ação negativa
ou neutra que habitualmente se pretende crer (a). Não-cons-
titui uma simples parada da atividade. Trata-se de- uma função
à qual coresponãem centros ÍÌetvosos localizados, precisa'
mente, na mesma região onde se encontram os cenüos re-gu-
ladotes da nuttição tissular e do metabolismo, ou sej-a na- face
inferiot dos hemisférios cerebrais, na região do infundíbulo.
Ttaduz-se à maneira de um reflexo e sua ação se estende, ao
mesmo tempo, aos centros da vida vegetativa, - circulaçãoe respiração sobretudo, - e sôbre os centros -motores, 
nos
quais-essá ação não se limita a inibir. Na realidade' no sono
cãlmo e repousante, a inétcia muscular é relativa e muito va'
riável. A ãtitude dos que dormem bem, o tevela' O recém-
-nascido Íetoma ptimeiio a posição encolhida, reto-rcida do
feto; mais tarde èsta posição-persiste apenas em telação- aos
membros inferiores; em seguidã, surgem atitudes reveladotas
das mais variadas fotmas, apresentando, porém, habitualmente,
uma certa constância no mesmo indivíduo e, por vêzes, indicando
peculiaridades familiares. Longe, por conseguinte, de serem
õonsidetadas indiÍerentes, visto poderem traduzir disposições
ügadas à hereditariedade. Alguni psicólogos pretenderam vin'
úar a atitude do dormente ã diÍerentes tipos relacionados à
compleição psicomotora: âtitude encolhida, atútacaâ^-do 31'
siosó oú inflìda do homem cheio de conÍiança em si. Sem dú-
vida, em cada caso, trâtâ-se de sistemas musculares diferentes
a permanecerem em estado de contratura latente, em vigilância.
Tôda atitude ou postura, no sono como na vigília, de'
pende da atividade tônica, isto é, a atividade que -empresta aos
inúsculos um grau de consistência e uma forma determinadas;
vetemos, no décorrer dêste estudo, qual será a sua importância
(4) Retatórto de TounN.w e LïrmMIrrE, R8'ú. Neu'r,, L927,
t. I, p. 7õ1 e segulntes.
28
grÍqúca. Da mesma maneita que essa função tônica mantém
õ aparelho muscular nesses estados variáveis de acomodação,
que traduzem as atitudes, o sono pâfece possuir uma ação
gáloga sôbre os outros centros da atividade e, pot exemplo,
âos da vida intelectual. Daí, talvez, a diversidade encontrada
anüe os sonhos e os sonhadores. Todavia, o sonho está longe
,,,i,'. de representat t6da a atividade mental do sono. É do conhe-
,i,i., cimento geral que a intenção de saber, ao despertat, uma üção.:,. mal aprendida na véspera conuibui para que essa lição, durante
i' o sono se fixe, efetivamente, na memória. Muitas ordens
recebidas do próprio indivíduo ou de outio, €ntre as quais a' de despertar na hora certa, são fielmente executadas pelo dor-
.:;t. mente. E. quantos problemas encontraram solução durante o
'.:;. sono?
ã Na atividade de cada um o sono mantém um lugar espe'
::,.. , dal. O rítmo de suas alternâncias com â vigília varia-segunão
ãj:, es idades, como vatia, aliás, segundo as espécies animais, nas
quais com freqüência está, longe de responder ao ritmo nicte-
_ m*al. Por cetto estará muito mais propenso a variar enüe',i.,' os indivíduos infensos .ao constrangimento dos costumes e da
'., vlda social. Todavia, por vêzes, êise ritmo é dominado pelas
*igências da atividade. De-. Napoleão .e de oltra-s . figuras,' @nta-se que, em pleno üabalho conseguiam, voluntàriamente,
dormir a fim de buscarem um repouso fugaz, oa então para
,:;,,. cncontrar no sono a solução de uma dificuldade.,,r,,.:. Pelo emprêgo dos hipnóticos, demonstrar-se-á a diversi-
:'i.',, dnde de ações que o sono é capaz de exercet nos diferentes.ã ': iiglçmas funcionais; alguns oferecem um sono com resolução
aì.. mrecular completa, e outros com contraturas, isto é, um exa-
,11; fËro da ação tônica, possível de ser diversamente disuibuída;
a::, '. Ouüos parecem produzir um sono sem soúos e alguns susci-
.rr,,. Uram soúos de uma espécie determinada. É bem plausível
,-..' dl$ociações € mesÍno eficiências particulares possam ser obti-.: &r graças a quaisquer excitações condicionais e, sobretudo,
-,;;; lttrvér de excitações psíquicas, seguindo métodos semelhantes
ffi;:,,lol doo hipnotizadores. Mesmosendo um gênero de pesquisa:*ã...- ': .,sf ':r
lË-€ .l;.--
,''{$r,',-- ., (ü) Pavlov.
l...]]:,. 29
onde a ilusão e a fraude podem se imiscuir, nem por isso dei-
xam de ser concebíveis,
Antes de set mecanizado, como acontece, mais ou menos
em, tu,ão das necessidades da ação, o sono na criança começa
por ser uma das grandes funções, em tôrno da qual se orga-
nizam sua vida e sua atividade. Algumas v&es, no adulto,
êle se torna preponderante. Ern todo câso permanece um dos
dois momentós èssenciais de tôda atividade. Se esta atividade
se exaure faz-se mistér uma restauração; à sua fase catabólica
deve comesponder uma anabólica. A relação, porém, dessas
duas fases, segundo os indivíduos mesmo adultos, pode set
muito diferente. Levando-se em consideração os casos extte-
mos e sem encarâr as múltiplas combinações de titmo, de nível,
de duração relativa, de variações periódicas, chegar-se-á à con-
clusão de que o consumo tende, indefinidamente, a ultrapassar
as feseÍvas ou estas a se acumularem por excesso de sono ou
de torpor. Em. certos indivíduos, a sonolência está sempre a
postos parâ compensar o esfôrço. O sono permanece, como
na criança, o importante ordenadot da existência. Constitui
o sono uma das formas assumidas pelo instinto de conservação.
Talvez haja também interêsse em comparat a descendência
dos grandes dormentes com a dos insones.
A) _ AS REAÇÕES DE ORIGEM INTEROCEPTIVÂ
Quando não dotme, o tecém-nascido mama, a menos que
chore. Se não mama, não digere, e chora ao voltar a fome.
Dessa forma, as Íunções de nutrição âssumem no seu compor'
tamento um lugar, pelo menos, igual ao do sono. O contraste
é televante entre a perfeição dos movimentos complexos e
rigorosamente cootdenados que executzrm ao pegar o seio, lá-
bios, língua, abóbada do palato, faringe, e a agitação imegular
de seus membtos no espaço.
Não será exagêto saüentat a n fi$e?.â, inata de alguns dêsses
movimentos e o número de meses necessários para que, com
outtos, êle possa iniciat a aprendizagem. Estando uma ctiança
a nascef, e apenas com a cabeça aparecendo, Pnrvnn verificou
gue a ponta de um lápis intoduzida entte os lábios da mesma,
t0
:*;õ&cta desctição, o mais intetessante não é o fato de sim'
Os lábios se amoldam' ao mamilo, a língua e o
um movimento de sucção com expressão de prazer,
que, a cada uma das compressões devidas às conüa-
do tiabalho do parto, cotrespondia uma fisionomia de
rcnto. Êle realçou, com rigorismo, a diÍerenciação dos
os provocada pelo toque na cavidade em suas diferentes
:fua, enquanto que os lábios se alongam em forma de
e as pupilas se dilatam indicando prazeti daí resultando
nÍnicâ coireipondente, - segundo a expressão de Pnevsn,., I sensação de "doce". Se a excitação da língua vai até o
de sua parte superior, os olhos se fecham, apertados, as
rs e os cantos da bôca se elevam. Atingida a base da
ou o palato, há esÍôtço de vômito coõ a b&4 tô{a
*r, a língua projetada para diante, a laringe levantada, sali-
çÍo abundante e a mímica correspo{rdente_ à sensação de
àttgot", mímica rnuseosa e enjoada do adulto.
l bôcr sôbre o jato do leite, o qual, por sua vez, alcan-
-r , hringc provoca a deglutição. Tais contxaçõ€s, at€n-
f rueccao do líquido absorvido, resuingindese e se
M nêle são em tudo semelhantes às conttações do
lf&'do tubo digestivo que toma contato com o exteriot.
f.,$!tG!uittt€, não nos surpreende possuírem essas conüa-
ll dctdÊ o nascimento, a rnesma perfeição que a motilidade
!ôdu m vÍsceras.
Mb obrtmtc essa sucessão de atos segmentafes e, de algu-
lofmr, metrméricos, nada os impedi de ser simultânõa-
â lr coütrações peristálticas do intestino. Elas consti-
ur Íorma mais diÍerenciada, como convém a estâ extre-
qr mlldàrlamente modificáveis.- Suas ondas de contra-
De nodificar o sentido, alterando a direção , segundo asHúí produddss em crrtos e determinados pontos do tubo
$ro, crnrÍormat e ddutição em vômito. Aí está uma
qüGr no edulto, 5llrêce çn accrtuâdo tegressão, talves,
31
€m bafte conseqüência de inibições ügadas à decadência ou ao de'
;à;":*A'-;;dãitãio.' aó hËtente-nada têm de excepcional e
ãi""nt idiota"s, ã sémehança dos ruminantes, continuam-iapl-
,.ï d. fazer vokar o conteúdo do seu estômago.à bôca (:)' 1r'
"".itufiUa.ae 
de cada segmento está sob -a dependência de
outros: a repleção do estômago, por exemplo, abole ou altera
a dos lábios-e áa língua, os quais não- mais reagem-ao co.ntato
ou apenâs por rcflexos de oclusão e de esquiva'- trá^-eteltosl
ústâircia q,t. s. superpõem às excitações e reações locals' u
i"to aig.itiuo, a pariir dos lábios até o ânus, se comporta
;;; ""_ resérvatSrio de 
comunicações intermirenres com o
ã.r.ti* b"tto tais, pott.t.* excitabilidade e motilidade espe-
ciais. isto é. uma excitabilidade € umâ motilidade estteitamente
ì'rr*itaà't."' il;; ;;úl"tponat à distensão de suas-paredes
iãï "-" .ontr"cao toni.ã--iealizada 
no próprio local. Também
iossui uma sensibilidade intersegmentâr, particularmente na
ãxtremidade bucal.
Como sustenta FnBUp, existe na criança um-período^otal'
-anal. Dutante muito tempo, ela levatâ todo objeto à bôca ,e
orovará todos êles com a bôca, da mesma forma que s€rá atrâloa
ilï;.'ã.i;;;ãet--úa"titudas por seu ânus' Bôca e ânus são'
ã;il: ^-;ãJìã 
t.ntibilidadei que a podern absorver' Ela con'
il;it; rtïntt-r,"üt " s.rcciotai tto 
polegat e, se tais.tentativas
;;^ãt;.- r"prirnidut, chegaú, a introduzir no próptio ânus
uma vareta ou a ensaiat fazè-lo em um dos companherfos...tJ
;ô.;. ooe a criança experimenta por ês-se- gênero de sensações
ïà"il*.ttt" se ttansformaút em curiosidade, pelos serrs Ôrgaos
;;.út do outro. Não existe, todavia, nenhuma tazão pan..se
ã#'"ït ìrgtúã"ça"' ã"ti.à ao fo*e interê.sse que. as,sen.sibi-
lidades orgânicas suscitam na ctiança:. é a idade onde ela alnda
ãËõ;"d.;.ã";i;oo camuflar os inrerêsses ou as satisfações
;t;;;;-o;; tudo aqúo que encon*a no mundo das realid-a-
fi";ËËrív;.--Ëã* =J,iuidá, o' prazeres que disso extrai' pelo
fato dé não setem limitados por outros' poderão. se .lhe alt-
zurar mais tarde, a distância, como tendo sido pelados de tooos
ã, pt"r.t.t possíveis, inclusive o erotismo' Porém' se an[es de
tãaã ãf"t.n.iação o ptazet pertence' com efeito, a uma cate-
-(O)A"stasingularidatlecleuSEcLAsonomedem'eric4ttrto'
g^'íiaitãnt-'t*iv*ïunt, r[r Parte, encontram'se exemplos'
32
,,goria ímpar, constitui um abuso identiÍicar-lhe as origens com
:úma de 
-suas 
posteriores diÍerenciações.
: O lugar, por assim dizer central,-que a atividade do tubo
, digestivo *úú no comportamento- do lactente resultS, sufi'
' 
ããnt.m"ntu, áos períodoi pelos quais passa sua atividade entre
.r fome e a sacieãade; dal freqüentes manifestações digestiv.as
" ãu. r,t*tuer", solrço, regurgifações ou cóücas; da capacidade,
, i ptincípio exclusiva,-que posJuem o seio ou a mamadeira para
,,,.ãJqp"ttãt na sua fisioiomïa e nos. seus gestos a expressão. do
d"rèio, do contentamento; e, pot Íim de ?irigir scus primeitos
úouiú.ntor no espaço, os doi lábios à proq.rra do mamilo, os
,i',ihs mãos, cispadãs 
-sôbre 
o seio ou estendidas par3 a mlma'
ii&it". Evidenïemente, à medida que vão surgindo outras fun'--d*, essa ptçonderância se apa{a, e particularmente aquelas
1 irue'" põern em relação com o meio exterior. Mas seu mútuo
;ú;dt;tq segundo os indivíduos, pd9. ser. vatiável.. Algu-
i:F:'.tat-crianças Íaãem depender tôda sua vida do tubo-digestivo'
.1..'. la=*iito"tiu.t de seu ilr.ot, as Íases de sua atividade, o riível
iì.i 'Ë'ro6 aptidões esrão na dependência estfeita das necessidades
,- b..oTúifaço"s alimentaÍes. Ariuilo que em tôdas é menos obser-
]'l'.ìì*ïË1, ó qo. no entanto apresent-a interêsse caprta!- são-as
úrdúptçoãt variáveis do iubo digestivo nas manifestações
àr vUa psíquica, sobretudo nas e-moções' Não apenas €sta ou
lf,u& de tü.t ieações tônicas, glandulares e sensitivas liga'se
;';il ou àquela .tpé.i" de emofão, como também a qualidade
:. i õ- oátqiierr.ias'patticulares ãe ,tma mesma egoeão.podern
,.",. ,.ãmcnaet da* r.tço.t digestivas, as mais específicas decada
, - htiotduo. Dessa {otma, de estágio em estágio, as funÇões
,- Offii"Sr entfam nos sistemas de ãonexões, onde a influência
., pü elas exercida sôbre o-tempetâmento e sôbre o comporta-
ì..' krto compensa a perda de sua autonomia.
'i11 A depleção da bexiga, incontrolada durante os primeiros
tnc3e!, coistiiui um belo o<emplo das -complicações às - quais
i.,ãfunião se submete ao sair de seu isolamento e também de
ifgr,lua giande repercussão no comportamento do indivíduo. fsso
dizer qué o esfincter se relaxa e as parcdes se conüaeln
que sua distensão se torna suficiente parâ provocar o
o.' Em seguida, se desenvolve o poder de subordinar o
nnte da micção às contingências exteriores. Todavia, a p r'
dêsse momento e necessidade de udnat desperta na criança
33
sfra aghaçAo por vêzes considerável e não c-oqsegu-e satisfazê-
-lo senão ápós-muitos esforços e inceïtezas. Colocada fF posi'
ção adequaãa a aiança deve ser ainda solicitada por difetentes
êxcitaçõês sensoriais, particularmente auditivas, -antes que .a
ação ie localize, exataàente, no órgão intetessado e que. seia
,üstada a inibiçáo. O espetâculo asiume tôda a-sua ampütude
.o- o cachorrinho, no qìal a excitação se raduz por -saltos,
cotridas, eventuais'ganidõs de inquietação até que,- a-o farcjat,
aqui e 
'ali, 
parece lnfim se,aperieber da necessidade gue.o
atãrmentava, no instante plecisõ em que começa a satisfazê-ta.
A micção aliada ao faro constitui uma de suas mais freqüentes
manifeïtações de interêsse. A necessidade de micção -complica
também Ãa criança, e mesmo no adulto, os estados de e1P-ec-
tativa, de incerteia, de ansiedade e por vêzes de -desejo. Mas,
ainda aoui. parecem prematutas e forçadas as interpretações
de Fnnuo.' A sensibiiidade da uretra, mais periférica e por
conseguinte mais viva, mais diferenciada- que a da bexiga, não
tem, ìnicialmente, nada de erótico, ainda que com a- seqüên-
cia 
'de 
excitações manuais, ela possa ptecocement€ degenerar
em es,pasmo venéteo, e, com o - t€mpo, êsse espasmo gvocaf
imptes-sões, imagens que aliás, freqüentemente no início são
mais masoquistas que sexuais.
O grito é a primeira manifestação de vida do recém-nas-
cido. S'inal de aílição, segundo LucnÉcro, diante da miséria
da existência humana. Símbolo de angústia, cujo nascimento,
qae f.az passar da existência antítica pam a aétea, setia pata
É*",ro, o protótipo jamais supetado pelas piores angústias da
vida. 
'Fisiòlògicamente o griìo é um espasmo espiratório;
acompanha o primeiro reflexo tespiratório, no-instante em que
uo ,J t.p"rr -da mãe, devem os próprios pulmões da criança
lhe assegurar a hematose. Algumas vêzes, êsse grito é subs'
tituído lelo espino, reflexo explosivo da árvote respitatória,
cujo ponto de iartiáa pode ser uma irritação da mucosa.nasal,
más cuja causã principal é, como -para ! primeiro .gtito, a
brusca queda da temperatura, à qual, se submete a cnança, ao
passar dõ claustro uterino pâm o ar livre,
A respiração do recém'nascido permanece dutante diversas
semanâs sem ielação com as suas reações psíquicas. N-o início
é de intensidade muito irregular, com pausas após cada cinco
34
ou seis atos tespiratótios. Em seguida, ela torna-se alternati-
vaÍnente profunda e ligeira, e assulne, enfim, uma periodici'
dade que parece corresponder a umâ regulação puramente ve-
getativa. No entanto, aprcsenta em relação aos sons uma exci'-tebilid"d" reflexa que precede o momento onde será, já na
üiança, a função mais sensível às variações dos estados
psíquicos.- - 
Pat:a ela, o grito constitui o prelúdio à palavta' É cons'
trangendo as paredes das cavidades respiratórias sôbre o at
espiiado, escalònando-se do diafragma âos lábios, que se pro'
düz o grito. E ao modeláJo com uma extïema diversidade
entre elas preparam a linguagem dos sons, entre os quais só
terá que escolher. O espasmo inicial poderá se resolver e os
cenüos que'a evolução supetpotá às contrações viscerais da'
rão aos movimentos da articulação uma agilidade de sucessão
e de combinação que parecerá fazë-la distanciar, de ,muito, as
conüações tônicas dos músculos respiratórios; contudo, de sua
ação procederâ a palavra. Esta filiação não é indiferente.
Mostrã como a expressão verbal, provendo o pensamento de
símbolos indispensãveis, tern por substância a mesma motili-
dade plástica da qual são feitos o jôgo das vísceras e o das
atitudes. A proximidade da voz com o espasmo em certos
casos, pode ser reconhecida. À medida que relincha o asno
entrâ em contratura, de tal forma que seu grito acaba por se
apagü num estado de cispação generalizada. Num indivíduo
atacado de encefalit e letârgica, observamos o mesmo f.ato;
nêle, o mesencéfalo se enconttava mais ou Ínenos privado de
seu contrôle sôbne os centros do tono: a palavn era, ràpida-
tnente, interrompida por um enrijecimento ampliado a cada
emissão de som.
No mesmo sentido, interpretar-se-á uma observação de
Pnrven. Este observou patecerem os gritos da criança dimi-
nuir as sensações desagradáveis que podem the causar uma luz
refulgente, uma substância amatga, sem contudo substituíJo
por um estado agtad6,vel. Qual poderia ser o mecanismo dessa
inÍluência anestesiante, senão o antagonismo que patece existir
Êntre o hipertono e a sensibilidade às excitações periféticas?
Voltaremos a êsse assunto. Pois é um fato provàvelmente
capital no estudo da vida aÍetiva e na explicação das emoções.
Eie potque importa realçar essas particulatidades funcionais,
dcsde sua ptimeira apatição e sob sua fotma mais elementar.
35
B) - ÂS REAçÕES DA ORIGEM 
PROPRIOCEPTIVA
O recém-nascido ofetece pois um perfeito contraste entte
s,ra ativiáade de relação, -'abâs 
nunia, atividade
funcional, já em pleno exercício e cuja influência em seu com'
Dortamento é total. De um lado, gestos no espaço que se asse-
melham a sirnples descargas mototas, sem objetivo exterior'
Douffo lado, sistemas bem harmônicos de contações mlscu-
lares. emDreitam aos órgãos a forma e o grau de consistência
neceisárioì a fim de qt . ot mesmos, dilatando'se, acomodem
o conteúdo para compfimi-lo, expulsáJo .-ou modificar o seu
"oot"Ào. 
úum ctto, inaptidão ãa sensibilidade a reahzat a
percepção dos objetos paia os quais parece ditigida; nouuo
ãaso,ïnião estreitá da sãnsibilidade à conração cuio grau.aya-
lia. 
' 
Pois a sensibilidade dos órgãos ocos ou Ìeservatórios,
conesponde a seu estado de tensão ou de distensão, isto-é, ao
ã; d" zuas fibras musculares. Atividade e sensibilidade
tônicas encontram'se numa constante dependência mútua' A
distância observada na motiüdade da criança, enüe a- incoe-
rência dos seus gestos exteriores e o pleno trabalho de suas
uirútrt, se verifiãa, portanto, entre o que SHennrNctow cha-
mou dé sensibilidadã exteroceptiva e sensibiüdade interocep
tiva. A oposição, porém, dêssès dois sistemas não implica .se'
rem êles iotul*"nt. heterogêneos e disjuntivos. No recém-
-nascido existem outras mãnifestações impossíveis de serem
reduzidas a qualquet dessas duas sensibiüdades, ou pelo menos
uma atende aos órgãos produtores daquelas qalifestações e
outra atende à sua ãaturdza. Enre a sensibilidade exterocep-
tiva e a sensibilidade interoceptiva, SHrnnINcroN distinguiu
uma terceita, a sensibilidade proprioceptiva.
Diante do grito da criança a mãe, pot conveniência, ao
invés de ,.t-"n'tá-I., pode sutstituir seus gritos pelo sono e,
assim de modo instintiïo, a embala, lateralmente ou de cima
oara baixo. segundo uma ou outra dessas posições se mostrâ-
i.- ."or".t di acalmáJa. Essas manobras outro efeito não
poit".tit senão o de agir sôbre a sensibilidade, cujo ponto de
Lartida são os canais- semicirctrlares e o labirinto, ou seja,
^uÀa açao direta sôbre o aparelho do equilíbrio, elaborado pam
recistrár a otientação vatiãvel do corpo e os seus movimentos
de" translação no opaço. As impreJsões ligadas ao exercÍcio
36
dessa sensibilidade não são eficazes apenas no lactente; em
(ertos idiotas, crrja vida de relação petmânece nula ou rudi-
mentar, elas assumem uma espécie de exclusividade rude e
contribuem para que êles passem horas inteirâsa se balançar
ou a girarcm sôbre si mesmos frenèticamente (? ). Tais impres-
sões servem aos religiosos muçulmanos para, na veftigem, en-
contrârem o êxtase. Utilizam-se muitas danças sagradas, nas'
de aquiescência, nos diversos divertimentos como na gangorrâ,
no carrocel, na montanha russa, no tobogan etc. Ainda não é
ocasião para se investigat suas conexões aÍetivas, pertencentes
a um nível ulterior de otganização e de complexidade men-
tais (8). Tod'avia, o número das invenções apropriadas pata
movimentá-las é um testem.unho inconteste de sua influência
nos estados'e disposições psíquicas.
A sensibilidade proprioceptiva, à semelhança das outras,
não existe por si mesma. Ela, como as demais, tem sua razão
de ser nas relações correspondentes. É mesmo consecutiva às
rcações que seguem às excitações labirínticas mas não é ime-
diatamente subseqüente a essas excitações. Por conseguinte,
assemelha-se mais à sensibilidade visceral que a dos órgãos sen'
soriais, cuja excitação é origem direta de sensações. Asseme-
lha-se ainda à sensibilidade das vísceras pela natureza das rea-
ções a que se liga, pois os efeitos de uma excitação labiríntica
ião variações do tono, cujo domínio, na realidade, não se li-
mita às vísceras, aos apatelhos circulatótio, respiratório, diges-
tivo, gênito-urinádo; na sua totalidade estende-se também ao
*irtema muscular, isto é, aos músculos do esqueleto: àqueles
que efetuam os deslocamentos dos membtos _ e do corpo no
*prço. A êsses movimentos de grande amplitude correspon-
dem encunamentos ou alongamentos btuscos e consideráveis
da fibta musculat, contraç&s chamadas fásicas, sob m'uitos
pontos distintas das conftações tônicas. Porém, os mesmos mús-
'arjos revelam a sede de umâ atividade tônica ou plástica, que lhes
propotciona, a cada instante, um grau de consistência e uma
Íorma em relação com âs Íases sucessivas do gesto executado
olt que, interompido o gesto, conserva o corpo nâ sua atitude
(?, Ver exemplos em A&nlfant tw'bulant, IIf Parte.
(8) Ver capÍtulo VI: .4s origens e oc Íorm.ae da' emoçda
l* allütqa,t p. 9õ e seguintes.
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atual. As atitudes repousam na atividade tônica, assim como
os movirnentos das víscerasl motivo pelo qual SrmnnrNctoN
fêz do seu conjunto uma mesma função Íundamental sob o
nome de função postural.
Tão distintos quanto possarn ser seus efeitos- aparentes,
distinta sua sede e 
-variadai 
suas diferenciações, aÍinidades e
uma solidatiedade íntimas continuam a uni-los. Dessa Íorma
podem se explicar muitos mecanismos da vida psíquica.
Assim as excitações do labirinto, ao provocarem modi'
ficações do tono, modiÍicam, sem dúvida, a atividade visceral;
mas são, sobretudo, a origem das atitudes que diferem com ,o
sentido da excitação labiríntica. Desde o primeiro mês de
vida, SrnnN obsetvou que uma criança ptojeta os braços lo
ar como que à procura de apoio, no momenlo eP que 9 .pês-o
do adulto-faz t\ètft, bruscamente, a cama onde ela está deitada
ou mesmo ao ser colocada na banheira (e). Entretanto, diz
SrrnN, ela ainda iamais correrá o tisco de cair ou de se afo
gat. Na sua opinião, o que independe da experiência só se
pode explicar como um reflexo inato do mêdo' Mas essa inter-
iretaçao, por cetto, antecede o desenvolvimento real da cdan-
ia. Aindá no 41.o dia, Pnnvnn obsetvou Íato semelhante, sem
ãr. r criança despertasse ( 10 ). Retirandese, lentamente, o
lènçol sôbre 
-o 
qoal estava deitada, seus btaços se agitavam a
princípio viva é sim,ultâneamente paÍa a cabeça, depois em
ientidã inverso. Igualmente '!ilí. FnrrueNN (r1) notou- que o
orpo de uma criaÀça proietadq no ar se endjece, a cabeça se
curva Data ttâs. a coluna vertebral entfa em extensão, as pef'
nas se separam, os dedos dos pés e os braços ficam em abdu'
ção, os cãtovelos ligeiramente-Íletidos, as mãos abertas, com
ós dedos separados.- Essas atitudes correspondem às descitas
por MecNuõ e Kr,rrJN com o nome de Liftbewegangen, mo'
uitn.ntot de elevadot; ptoduzem uma queda ou uma eleva-
ção bruscas; a extirpaçãõ dos dois labitintos, as- supdme. Tra-
ia-se, pois, 
-de 
simples reflexos labirínticos. Qualquer que seja
r,rr r.*"lh.nça coÀ as manifestações exteriores do r-nêdg, q9r-
tencem a urn- período anterior. No feto já se pode obtêJos
e sua aparição deixa de set automática â partir do qoarto mês.
trsto é, 
-sob,revêm 
nessa idade, atividades mais complexqs, que
as integtam, conuolam e podem inibi-las total ou parcialmente.
Contudb, a ação inibidora suscitada, mgslng nesses casos, os
transforma em componentes de reação global e com êsse gmu
de orsanizacão, reagem sôbre a sensibilidade de conjunto e se
tornrri o prirrcípiJde certas emoções (12)'
A importância das atitudes, na expressão, como -na orien-
tação do õomportamento e, pela sua repetição, na- determina-
çaô do tipo i;dividual, é de tal ordem gue estudar os seus
*.."oir-o't teguladores signiÍica Íemontar aos Íatôres elemen-
tares da vida lpsíquica. Ãs excitações labirínticas- podem mo-
dificáJos, nao ìao porém as únicas a f.azê-lo e sobretudo per'
manecem, numa certa medida, secundárias ou ocasionais-,-vistÔ
só serem petcebidos atÍâvés dessas próprias atitudes. No re'
cém-nascidã existe um reflexo, basianie complexo, .Ú" -ftï
qüência numerosos autoles notaram, É o bocejo. Sinal de
ênfado ou de lassidão no adulto, cotresponde, entretanto, nos
primeitos dias de vida, a estados- puïamente- fisiológicos.
Pnsvsn vê nisso uma simples modificações respiratótia, uma
respiração mais profunda, 
- 
subseqüente e compensadot" .d"
unta série de inspirações superficiais. Entretanto, é o suspiro
que, em semelhaìte caso, Je produz pata ativat a hematose'
Ó boceio, ao contrário, não é essencialmente um ato respìra-
tório; cãásiste, sobretuáo, na distensão próxima de uma ordem
de funções bem, diferentes. De contrações lentas e tônicas o
bocejo tende a dilatar o tóÍâx,, imobilizando-o; sua ação.inte-
ressá, igualmente, à nuca, à coluna vertebtal e aos membfos,
os quail se põem em extensão forçada e tealizam, mais ou
m.nôt, a charnada atitude de rigidez decerebrada. Âs pálpe'
bras, iecundàriamente, se crispam sôbr-e os glo.b-ot oculare.s,
cuja' comptessão é, por vêzeq acrescida artificialmente pelo
auxílio dos dedos.
 sensibilidade, posta em ação nesse caso, é a das arti-
culações, as quais pasiam por uma série de deslocamentos len'
tos ou espasmódicõs e peimanecem fixadas nas posições mais
(9) Psgch.ologb iler frühan Klnd.helt.
(10) rdem.
(11) Encéphatre, fevereiro, 1924.
(L2) Consultar cap. VI: As orlgens e as lotnns ila' em'oçda
w, crlamça, p. 95 e seguintes; e o cap. W.: Natureao il,qs e"na-
Nec, p, õ5 e seguintes.
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ôu menos forçadas. É possível que essas variaçdes genetaliza-
das da sensibilidade articular provoquem estímulos numa ati-
vidade que se entorpece ou então liqüidem certas impress&s
de prolongado constrangimento. O bocejo não se produz exclu-
sivamente nos estados de lassidão e de combate ao sono, quer
antes de dormir, quer ao despertar: com freqüência sucede
também à simples expectativa ou indica impaciência física. É
provável que o bocejo, como a pressão dos globos oculates,
freqüentemente seu satéiire ou, em certos indivíduos seu subs-
tituto, provoque modificação, à maneira do reflexo óculo-car-
díaco, no equilíbrio das fôrças nervosas que regulam, pot in-
termédio dos sistemas simpático e parassimpâtico, a atividade
visceral e as funções vegetativâs. Sua influência se deve, em
grande parte, às impressões articulares pois, outtos indivíduos
podem substituir o alongamento total distendendese ou com-
primindo-se até conseguir estalat as articulações dos dedos.
Assim procedem paÍa melhor se porem em ação no decortet ou
no início de uma tatefa consuangedora ou algo desagradável.
Dêsse modo, a sensibilidade aticular parece possuit uma in-
Íluência estim,uladora ou modificadora, em nossas disposições
profundas. Provàvelmente está também presente nas contor-
sões de algumas crises convulsivas ou emotivas, ctise histérica,
crise de desespêro, crise de cólera.
Além disso, como o labirinto, comanda sistemas

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