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CURSO DE DIREITO PSICOLOGIA JURÍDICA PROF. DR. WILSON B. DA CRUZ. JOSILDA LIMA 01. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA Tentaremos apresentar a investigação psicológica, examinar os conceitos básicos da Psicologia e proporcionar um plano conceptual para melhor compreensão do comportamento humano. A palavra Psicologia disciplina que tem por objeto a alma, a consciência ou os eventos característicos de vida animal e em especial a humana, nas várias formas de caracterização de tais eventos com o fim de determinar sua natureza específica. Já o termo Psicológico diz respeito à Psicologia, nessa acepção se refere à consciência do indivíduo. Ou seja, às atitudes ou valorações individuais. O Psicologismo, no seu uso polêmico, o termo é constantemente empregado para designar a confusão entre a gênese psicológica do conhecimento e sua validade. Nesse sentido foi Kant a esclarecer, fazendo a distinção a propósito dos conceitos a priori, entre a quaestio facti de sua “derivação fisiológica”, isto é, do seu acontecimento na mente ou na consciência do homem, e a quaestio juris, que consiste em perguntar o fundamento de sua validade, exigindo como resposta a dedução. O mundo do homem primitivo é um bom lugar para iniciarmos o nosso estudo. Cotejaremos as suas especulações acerca do comportamento com o ponto de vista da Psicologia contemporânea. As culturas explicam o comportamento pressupondo um segundo ser – um homem interno que mora dentro do homem externo – que percebe, deseja, recorda e pensa. O homem interno também atua sobre o homem externo e o obriga a agir. Como ciência natural, a Psicologia surgiu de uma fusão de certos movimentos filosóficos com a nova Fisiologia experimental do século XIX. Os fisiologistas alemães mostraram como trabalham os órgãos dos sentidos e o sistema nervoso. A escola filosófica inglesa do associacionismo insistiu em que todo conhecimento nos chega através dos sentidos e, assim, indicou a importância dos órgãos dos sentidos. A convergência dos dois movimentos produziu a Psicologia como ciência experimental. Como ciência do comportamento humano, a Psicologia define o comportamento muito amplamente. O “comportamento” inclui as atividades ocultas (processos perceptivos, ideacionais e emocionais), bem como o comportamento manifesto (atividades locomotoras, manipulatórias, expressivas e simbólicas). 1 Originariamente, a Psicologia se ocupava sobretudo, das experiências conscientes dos seres humanos normais, relativamente complicados. Hoje em dia, todos esses adjetivos restritivos foram removidos. A Psicologia científica procura respostas generalizadas para perguntas sobre o homem como protótipo; também procura respostas utilizáveis para perguntas importantes acerca de determinada pessoa. As respostas psicológicas, que se referem ao homem em geral, são predominantemente normativas e constituem enunciados teóricos relativos a processos. As respostas e perguntas que se referem a um indivíduo são particularista e utilitárias, e proporcionam uma base viável de ação. A Psicologia deriva parte de seu vocabulário do vernáculo. Mas também cria a própria nomenclatura. Mercê da tendência popular para retificar processos psicológicos, é de toda conveniência empregar verbos substantivados em lugar de substantivos verdadeiros (“perceber” em lugar de “percepção”, “raciocinar” em lugar de “ razão”, etc.). A Psicologia faz perguntas à natureza e, a seguir, utiliza os métodos da Ciência para encontrar as respostas e verificar-lhes a correção. Ao passo que o método experimental modifica as condições, a fim de observar-lhes as conseqüências, o psicólogo também tenta deslindar e medir as relações existentes entre indivíduos, grupos e processos. Os métodos de observação da Psicologia diferem dos métodos de observação do leigo por serem rigorosos, mais objetivos, mais verificáveis, mais seguros e menos sujeitos à deformação pelas propensões inconscientes (esperanças e temores) do observador. O método científico supõe presunções filosóficas, plano de pesquisa e tecnologia. 02. O DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO. Toda pessoa é o resultado de uma complexa história de desenvolvimento, em que se entrelaçam fatores hereditários e experiênciais. Começa a vida como uma célula única, cujo potencial hereditário total se apresenta em forma de mecanismos meticulosamente codificados. Durante o curso de sua existência, surge um número imenso de acontecimentos ambientais interagindo com o potencial herdado, para produzir um organismo cada vez mais complexo. O que se poderia chamar uma vista longitudinal do homem, o que se sabe sobre a interação da hereditariedade e da experiência, através das fases sucessivas do óvulo fecundado, do embrião, do feto, do recém-nascido, da criança, do adolescente e do adulto. Por onde vamos começar? Acaso a vida principia quando um espermatozóide e um óvulo se unem na concepção? É possível, mas as origens dessas células reprodutivas jazem no passado distante, pois os seus códigos são tão velhos, quanto o homem. 2 Arbitrariamente, encetaremos o nosso estudo com as potencialidades hereditárias do indivíduo no momento da concepção. Assim recuaremos apenas o suficiente para discutir, em resumo, certas características importantes da transmissão hereditária dos traços. O desenvolvimento pré-natal e pós-natal do indivíduo envolve a interação dinâmica de fatores hereditários e ambientais. Na década de 1860, apresentaram-se provas indicativas da existência de caracteres genéticos, de traços dominantes e recessivos e do fenômeno da segregação. E 1920 os genes, foram localizados nos cromossomos. Durante a década de 1950, descobriu-se que os cromossomos consistem em longos cordões de DNA, e que os genes são seqüências codificadas de substâncias químicas presas ao longo dos cordões. O RNA opera como mediador entre o código do DNA e o arranjo dos aminoácidos que compõem as proteínas do corpo. Nos caracteres comumente denominados hereditários, a maior parte das variações registradas numa população se deve a diferenças nos genes; os caracteres "adquiridos" devem a maioria das suas variações a fatores ambientais. Quase todos os caracteres humanos de interesse psicológico são do tipo interativo, em que a variação não pode ser atribuída predominantemente à hereditariedade nem ao meio. A ordem geral do desenvolvimento anatômico pré e pós-natal é da cabeça para os pés (céfalo-caudal) e do centro do corpo para a periferia. As aberrações de uma norma estatística ou de uma norma ideal de crescimento físico têm considerável significação psicológica pessoal. O desenvolvimento assim orgânico como psicológico é produto de fatores genéticos e ambientais. Entretanto, o desenvolvimento psicológico, predominantemente, é resultado da aprendizagem. O processo da aprendizagem pode ser concebido como um contínuo, que vai desde o condicionamento clássico e instrumental, numa extremidade, através da aprendizagem por ensaio e erro e da imitação, até a aprendizagem cognitiva, na extremidade oposta. A primeira aprendizagem quase sempre exerce influências críticas sobre a aprendizagem subseqüente. O desenvolvimento perceptivo, o desenvolvimento conceptual e o raciocínio (solução ideacional de problemas) são formas de aprendizagem cognitiva. Embora vá subindo por esse contínuo à medida que se desenvolve, a criança continua a usar todos esses processos e os usará por toda a vida. Não há, provavelmente, processos de aprendizagem peculiares a crianças em oposição aos adultos. Em sua maior parte as mudanças, no plano do desenvolvimento, na aprendizagem das crianças são produtos da aprendizagem passada. O desenvolvimentosocial da criança ocorre quando ela aprende a diferenciar pessoas e coisas, diversas classes de pessoas, respondendo seletivamente a elas, e a separar indivíduos. A socialização da criança começa na família e continua pela vida fora em muitos grupos formais e informais. O desenvolvimento emocional supõe a emergência de padrões específicos, oriundos da emocionalidade difusa e generalizada da criancinha, uma extensão da série 3 e da mudança de natureza dos excitantes emocionais, e mudanças progressivas na natureza e na direção da expressão emocional. À proporção que o indivíduo se desenvolve, passa a reagir emocionalmente a novos estímulos, mas também se torna menos receptivo (dessensibilizado) a outros estímulos. A expressão emocional utiliza-se igualmente, às vezes, para estabelecer comunicação com outras pessoas e para controla-Ias. O desenvolvimento da motivação começa com a total dependência do recém- nascido para com as fontes orgânicas de impulsos, passa pelas fontes sociais de impulsos à medida que progride a aprendizagem, para chegar, finalmente, à motivação pessoal autônoma no mais alto nível de desenvolvimento. O desenvolvimento moral consiste na interiorização de controles do comportamento, no desenvolvimento da consciência e na emergência de princípios éticos e morais. Freqüentemente se diferenciam, no desenvolvimento moral, a fase pré- moral, a fase da conformidade social e a fase da consciência individual. A consciência individual pode operar de maneira rígida e estereotipada ou de maneira discriminativa e racional. Esta última é comumente denominada a moral humanista. 03. BASE BIOLÓGICA DO COMPORTAMENTO HUMANO Uma presunção fundamental da Psicologia é a de que toda atividade mental tem base fisiológica. Os dois principais sistemas de integração do corpo são o sistema nervoso e o sistema endócrino. Esses sistemas interagem continuamente. O sistema nervoso é composto de neurônios. O neurônio consiste num corpo celular, um núcleo, uma membrana e um ou mais processos, ou prolongamentos, que se estendem para fora do corpo da célula. Os processos estimulados pelos órgãos dos sentidos ou por outros neurônios conduzem os impulsos nervosos para o corpo da célula e denominam-se dendritos. Os processos que conduzem os impulsos nervosos para fora do corpo da célula chamam-se axônios. Quanto à função, os neurônios se classificam em sensoriais, motores e de associação. Os sensoriais conduzem os impulsos nervosos dos órgãos dos sentidos ao sistema nervoso central; os motores conduzem os impulsos do sistema nervoso central aos efetores (músculos ou glândulas); os neurônios de associação servem de elos conectivos entre dois outros neurônios. A função essencial dos neurônios é a transmissão dos impulsos nervosos. O impulso nervoso consiste num conjunto complexo de reações eletroquímicas, que passam ao longo do neurônio quando este é ativado. O impulso é um fenômeno do tipo tudo ou nada, como um tiro de revólver, que é ou não é "detonado". Imediatamente após a passagem do impulso nervoso, o neurônio se torna inexcitável. Refratário a uma nova estimulação. O período refratário absoluto, que se segue imediatamente à passagem do impulso, é seguido de um período refratário relativo, durante o qual o neurônio poderá responder, mas só a estímulos anormalmente intensos. O período refratário relativo, por seu turno, é seguido de um período de excitabilidade supernormal e, logo, de um período de excitabilidade normal. 4 A sinapse é o lugar onde dois neurônios estabelecem uma relação funcional entre si. O agente eficaz que atua na sinapse, às vezes, embora nem sempre, é uma substância química. Dois desses agentes químicos são a acetilcolina e a norepinefrina. (substâncias existentes no organismo animal, funciona como transmissor, e também provoca dilatação das artérias). O sistema nervoso se divide em sistema nervoso central (o encéfalo e a medula espinhal) e o sistema nervoso periférico (os nervos raquianos, os nervos cranianos e o sistema nervoso autônomo). As principais subdivisões do encéfalo são o bulbo, a ponte, o cerebelo, o mesencéfalo, o tálamo, o hipotálamo e o cérebro. A medula é um centro vital de controle e regulação de muitos processos viscerais ou vegetativos, necessários à vida. A ponte liga o cerebelo ao eixo encefálico. O cerebelo é um centro de integração e coordenação das funções proprioceptivas (cinestésicas e de equilíbrio) do corpo. O mesencéfalo contém os núcleos dos reflexos auditivos e visuais. O tálamo consiste principalmente em centros de relé (núcleos) da maioria dos trajetos sensoriais que vão para o córtex cerebral. Durante muito tempo, o córtex foi considerado a “SEDE” das “mais elevadas” funções psicológicas (lembrar, pensar, raciocinar, falar) que são as prerrogativas essenciais do ser humano. Calcula-se que o córtex cerebral contém nove milhões de neurônios, que se interligam para formar a mais complexa estrutura que se conhece. O hipotálamo controla ou regula grande número de funções vitais, mais ou menos como o faz a própria medula. O cérebro é a maior subdivisão do encéfalo humano. As áreas funcionais do córtex cerebral (camada externa) são sensoriais, motoras e de associação. A área de projeção sensorial da visão está localizada no lobo occipital (parte posterior do cérebro); o centro da audição se encontra no lobo temporal, na região acima do ouvido; a área somestésica (cutânea e cinestésica) fica logo atrás da cissura de Rolando. A principal área cortical motora é paralela à área somestésica, bem defronte da cissura de Rolando, na parte posterior do lobo frontal. As partes restantes do córtex são consideradas, primordialmente, áreas de associação. O sistema nervoso autônomo controla ou regula a maior parte dos órgãos viscerais do corpo. Cada uma das suas duas subdivisões (o simpático e o parassimpático) inerva independentemente a maioria dos músculos lisos e das glândulas do corpo e opera antagônicamente em relação uma à outra. O sistema nervoso autônomo mostra-se particularmente ativo durante as emoções. A função e a estrutura interagem na atividade nervosa. Tanto a fixidez quanto a plasticidade são características da função e do crescimento nervosos. O sistema nervoso está continuamente ativo, e a ativação dos processos nervosos re-dirige o fluxo das atividades já em andamento. A relação entre as superfícies sensoriais e os órgãos efetores (agente regulador do metabolismo, contração em resposta a um estímulo) e o cérebro parece descrever-se melhor em função de áreas anatômicas correlatas. O sistema endócrino é o segundo sistema de integração do corpo. As diversas glândulas endócrinas se completam e interagem. Conseqüentemente, as glândulas endócrinas devem ser encaradas antes como um sistema integrado do que como uma 5 coleção de glândulas independentes. Fatores nervosos, hormônicos, situacionais e experiências podem ver-se, todos eles, implicados na ativação, no controle e na regulação de muitos tipos de comportamento. 04. OS PROCESSOS SENSORIAIS. A Filosofia trata do problema da natureza e da validade da experiência sensorial. O Psicólogo pode valer-se de todos esses campos ao tentar obter uma visão unificada das experiências sensoriais do ser humano. A grande variedade das experiências sensoriais humanas nasceu da irritabilidade do protoplasma relativamente não diferenciado, como a que se encontra nos protozoários. Os órgãos dos sentidos são essencialmente protoplasma altamente especializado para responder a certas formas de energia. Os estímulos consistem em determinadas formas de energia, alheias ao sistema nervoso suficientemente, intensas para produzir a resposta.A qualidade da experiência sensorial é função do mecanismo neurossensorial interessado, e independe da natureza do estímulo. A intensidade mínima de estimulação necessária à produção de uma experiência sensorial denomina-se limiar sensorial absoluto. A menor mudança na intensidade do estímulo, que pode ser percebida, é o limiar diferencial. A mudança na intensidade do estímulo, que se faz mister para ser perceptível, é proporcional à sua intensidade anterior. Os estímulos adequados da visão consistem em comprimentos de onda eletromagnética, que vão desde 380 até 760 micromilímetros. A tonalidade; o brilho e a saturação das cores são principalmente determinados pelo comprimento, pela amplitude e pela homogeneidade da onda de luz, que constitui o estímulo visual. Os bastonetes e cones da retina são os receptores visuais. Os bastonetes transmitem a visão acromática (sem cores), e os cones transmitem a visão cromática ( colorida) . Os estímulos auditivos consistem em freqüências de vibração. A altura, a intensidade e a qualidade do som dependem, principalmente, do comprimento de onda (ou freqüência de vibrações), ela amplitude e da homogeneidade das ondas. O frio, o calor, a pressão e a dor são os quatro sentidos cutâneos. Os receptores do frio respondem a temperaturas abaixo do zero fisiológico do corpo. Os receptores do calor são estimulados por temperaturas acima do zero fisiológico. O zero fisiológico é a temperatura a que a pele está adaptada num determinado momento. Uma deformação da superfície da pele constitui o estímulo adequado do tacto. A pele da língua, dos lábios e das pontas dos dedos é mais sensível aos estímulos de contacto, ao passo que o meio das costas e as coxas são as áreas menos sensíveis do corpo. O estímulos dolorosos, que podem ser de natureza química, térmica ou mecânica, tendem a lesar o tecido. 6 Os receptores cinestésicos localizam-se nas superfícies das juntas, nos músculos e tendões. São estimulados por mudanças ocorridas na tensão desses órgãos. Os órgãos do sentido labiríntico situam-se nos canais semicirculares e no vestíbulo (utrículo e sáculo) do ouvido médio. São estimulados por mudanças na velocidade do movimento do corpo ou da cabeça e pela força da gravidade. O sentido labiríntico é importante na manutenção do equilíbrio e na manutenção da nossa orientação no espaço. O doce, o azedo, o amargo e o salgado são as quatro qualidades sensoriais gustativas elementares. Os receptores do gosto, células especializadas dos corpúsculos gustativos, encontram-se principalmente, mas não exclusivamente, na língua. Existem relações gerais, embora não universais, entre as qualidades do gosto e a composição química dos estímulos apropriados a cada uma delas. Os receptores olfativos ocupam uma área pequena na parte superior do nariz. São estimulados por substâncias gasosas em solução no muco que cobre as células sensoriais. Não se conhece o número das sensações olfativas elementares. O gosto e o cheiro são experiências intimamente relacionadas. Entre as experiências sensoriais figuram a fome, a sêde, certas respostas copulativas, dores internas e extensas variedades de experiências vagas, mal definidas, oriundas dos órgãos internos do corpo. Caracterizam-se pela má localização e pela natureza indefinida. Quando certas dores, nascidas internamente, parecem situar-se nos órgãos externos do corpo, denominam-se dores reflexas. 05. O ATENTAR E O PERCEBER. Atentar e perceber são dois aspectos do processo de observação. A atenção prepara organismo para a percepção ou para a atividade motora, e, em seguida, funde- se com a observação atenta ou da atividade motora intencional. Exemplo: O pai que observa o filho empenhado em disputar uma corrida de cem metros rasos está percebendo atentamente. O filho que espera o tiro anunciador do início da prova está atento, preparando-se para dar uma resposta motora. A atenção, ao mesmo tempo, é um ajustamento preparatório e um ajustamento continuativo, ou “ disposição”, que tanto facilita a percepção clara quanto a resposta motora eficiente. A atenção é um ajustamento preparatório, que facilita a clareza perceptiva e a atividade motora eficiente. O atentar é um processo altamente seletivo, destinado a acentuar certos elementos sensoriais e a abafar ou bloquear outros componentes da entrada sensorial. Não só as características do estímulo, mas também as características pessoais do indivíduo que percebe, promovem a filtração dos dados sensoriais. Os cinco componentes da atenção, do ponto de vista do comportamento, são a orientação dos órgãos dos sentidos, os ajustamentos de postura, o aumento da tensão muscular, as mudanças que se verificam no funcionamento visceral e as atividades do sistema nervoso central. Mais complexa, e mais significativa do que a sensação, a percepção é determinada por sensações que interagem com os significados que lhes são atribuídos em conseqüência da história experiencial do indivíduo. A percepção sofre também a 7 influência das expectações e dos estados motivacionais daquele que percebe. A atenção e a percepção fundem-se no processo de observar. Alguns princípios de organização perceptiva são relações entre figura e fundo, proximidade, similaridade e fechamento (closure). A organização do mundo perceptivo do indivíduo consiste no desenvolvimento de um conjunto de configurações razoàvelmente coerentes e estáveis e categorias de experiências, que proporcionam um elemento de predizibilidade e economia de esforço. Uma das manifestações dessa predizibilidade ordenada do nosso mundo perceptivo é a constância perceptiva. A percepção visual e a percepção auditiva da distância são bons exemplos da programação ordenada dos dados sensoriais. Os fatores implicados na percepção visual da distância compreendem a perspectiva linear, a perspectiva aérea, a interposição, os gradientes de contextura, as luzes e sombras diferenciais, o brilho relativo e a saturação das cores, a velocidade aparente e a direção do movimento, os esforços de acomodação, os esforços de convergência e a disparidade retiniana. (mácula) A percepção auditiva da distância entre a pessoa que percebe e a da fonte sonora depende da intensidade e da qualidade relativas dos sons. A percepção auditiva da direção da fonte sonora depende da intensidade, da qualidade, da fase e das diferenças de tempo na estimulação dos dois ouvidos. As ilusões são perceptos flagrantemente falsos. Algumas nascem da incapacidade de quem percebe de isolar as variáveis pertinentes, que devem ser cotejadas. Outras são causadas pela ausência da combinação habitual de indicações perceptivas, ao passo que outras ainda derivam, sobretudo da configuração singular das esperanças, dos medos e das expectações do indivíduo. O organismo parece ingênitamente (de nascença) provido de um mecanismo destinado a sentir as qualidades do mundo perceptivo. Além disso, a pessoa que percebe possui algumas tendências primitivas de organização que, juntamente com os processos de maturação, propiciam os fundamentos da vasta acumulação de significados específicos, que entram na composição do mundo perceptivo de cada um. 06. A RETENÇÃO E O ESQUECIMENTO. Os psicólogos separam a memória da aprendizagem a fim de poder dividir esta última em componentes mais prontamente discerníveis para propósitos de investigação e discussão. Faz muito tempo que os fenômenos da memória e do esquecimento vêm interessando tanto ao leigo quanto ao cientista. Ebbinghaus foi o primeiro homem a investigar a memória quantitativamente. Os seus esforços iniciais trouxeram contribuições importantes ao estudo da memória e à sua investigação sistemática. Mede-se o curso do esquecimento, e quandose contrapõe, num gráfico, a 8 quantidade retida ao tempo decorrido a partir da aprendizagem, surge uma "curva de retenção". Essa curva revela que o esquecimento se verifica muito depressa logo após a prática e, depois, cada vez mais devagar, à medida que o tempo passa. É provável que o esquecimento nunca seja realmente total, mas a quantidade de retenção varia muitíssimo. A quantidade retida é uma função parcial da maneira pela qual se mede. Vários fatores afetam a quantidade de retenção: a rapidez da aprendizagem original, o nível da aprendizagem original, a significatividade do material, a "intenção" ou "disposição", os métodos de aprendizagem, as circunstâncias da recordação e a motivação. Diversas teorias tentam explicar os fenômenos da recordação e do esquecimento. Nenhuma delas é capaz de explicar todos os resultados das investigações empíricas. A mais comumente aceita e a que, provavelmente, explica maior número de dados do que qualquer outra, chama-se teoria da interferência. A teoria da interferência inclui os efeitos da inibição, assim retroativa como proativa. A idéia da decadência passiva do traço nervoso foi em grande parte abandonada, porque ficou demonstrado que os acontecimentos que ocorrem no tempo e interferem na memória são mais importantes do que a simples passagem do próprio tempo. Na área da memória a, curto prazo, todavia, alguns investigadores atuais invocam uma hipótese da decadência causada pelo passar do tempo. Empregam-se teorias motivacionais para explicar o esquecimento em certas circunstâncias. Essas teorias poderão ser atraentes, mas é difícil também a sua verificação em laboratório. Os processos de preservação-consolidação, a prazo e a armazenagem a longo prazo, são áreas sendo, hoje em dia, aturadamente investigadas. Já se sabe muita coisa sobre o curso do esquecimento, e os meios de medir a retenção e o esquecimento são minuciosos. Mesmo assim, ainda não temos compreensão suficiente dos processos e funções da memória para formular uma teoria adequada, que explique todos os descobrimentos da pesquisa empírIca. 07. O PENSAR. O pensar é uma forma de atividade encoberta, ou oculta. O estereótipo popular do pensador é a pessoa sentada, imóvel, olhos perdidos no espaço. A estátua de Rondin tipifica essa concepção. Exteriormente inativo, o pensador, é inteiramente ativo. Se lhe perguntarmos no que está pensando, poderá dizer que está apenas devaneando, e que está pensando em alguma coisa que aconteceu na véspera (recordando), ou que está pensando em como seria possível a vida em Marte (imaginando), ou ainda que está pensando nas possíveis conseqüências da sua falta ao trabalho na manhã seguinte (raciocinando). Todos esses processos ideacionais são formas de pensamento. O pensar é uma forma de atividade implícita. Envolve a manipulação de símbolos e conceitos, que operam como substitutos de experiências perceptivas. As formas do pensar são sonhos, devaneios, o recordar, o imaginar e o raciocinar. Os sonhos são 9 uma atividade ideacional relativamente livre, que se processa durante o sono. Alguns são ilusórios, mas a maioria é representada por experiências alucinatórias. Normalmente, a pessoa passa sonhando mais de uma quarta parte de um período típico de sono noturno. Os períodos de sonhos duram, as vezes, mais de uma hora e não são muito condensados no tempo, como outrora se supunha. A redução artificial do tempo de sonhar numa noite produz aumento de sonhos na noite seguinte. A redução prolongada do tempo de sonhar resulta, às vezes, em mudanças dramáticas da personalidade e até em sintomas psicóticos. Algum devanear, ligado à realidade, é útil ao indivíduo. A maior parte dos devaneios, todavia, não passa de racionalização de desejos e, conseqüentemente, se denomina "autista". Os tipos de devaneios do "herói conquistador" e do "herói sofredor" são de natureza autista. Inúmeros devaneios se fabricam para nós em ficções. A ideação autista de indivíduos psicóticos é uma forma do pensar patológico. Os componentes ideacionais dos sistemas de delírios, idéias fixas, obsessões e circunstancialidade são outras formas de ideação patológica. O pensar que se afigura sem sentido e patológico a outra pessoa pode ser significativo para o indivíduo. O raciocinar é o solucionamento ideacional de problemas. As fases ou componentes do processo completo de raciocínio incluem a motivação, o reconhecimento do problema, a preparação (análise do problema e estudo das informações disponíveis), a formulação de possíveis soluções (hipóteses), a incubação, a iluminação (súbita ou gradual), a verificação (aceitação, rejeição ou modificação). Os fatores que influem no curso do raciocínio incluem o nosso acervo de informações disponíveis, a nossa disposição mental, as nossas predisposições emocionais e as estratégias de que dispomos. A aquisição de conceitos envolve a discriminação, a abstração e a generalização. Um conceito é uma resposta aprendida às propriedades comuns de uma série de estímulos e constitui uma forma de categorização adaptativa e útil. Os conceitos diferem em grau de abstratividade. Muitos animais inferiores são capazes de desenvolver conceitos, mas só o homem tem capacidade para empregar palavras a fim de simbolizá- Ios. A linguagem e o pensamento estão intimamente relacionados. Como processo fisiológico, a ideação tem sido considerada puramente nervosa (a gente pensa com o cérebro) ou neuromuscular (a gente pensa com o corpo inteiro). Se bem que não existam provas definitivas que confirmem uma ou outra concepção, o pensamento atual propende a endossar a concepção nervosa, ou central. Existe, atualmente, considerável interesse pela natureza e pelas condições conducentes ao pensamento criativo. Verificou-se que os indivíduos altamente criativos diferem, de muitas maneiras significativas, das pessoas menos criativas. Diferem nos antecedentes familiares, nas motivações, nos sistemas de valores e nos interesses. 08. EMOÇÃO E AJUSTAMENTO. A emoção é parte de todo o sistema de resposta da pessoa e, como tal, está 10 provavelmente envolvida, em maior ou menor grau, em todos os tipos de respostas. Toda a gente reconhece que experimenta emoção. Assim emoção e motivação estão ligadas ao fenômeno do comportamento. O comportamento que visa a lidar com os motivos da pessoa e com as influências do meio, capazes de favorecer ou estorvar a satisfação, denominou-se comportamento de ajustamento. No ajustamento sempre que acontece alguma coisa que interrompa o comportamento motivado, diz-se que o indivíduo está frustrado. A frustração tem propriedades estimulantes para o organismo. As respostas que ela provoca chamam-se ajustamentos, seja qual for. A frustração é produzida por uma série de situações. Os processos básicos que produzem classificam-se em frustração por demora, frustração por entrave e frustração por conflito. Frustração por demora, se a resposta foi bem reforçada e o reforço, em seguida, é retardado, ou não se acha à mão, o resultado, freqüentemente, é a frustração. Assim, as reações podem ser descritas como emocionais e influem no comportamento subseqüente. Quase toda interferência no comportamento motivado pode ser reputada entravante. Em qualquer ocasião que se impeça a ocorrência de uma resposta ou se interfira no comportamento motivado, o resultado é a frustração. Outra causa de frustração é de natureza social. O comportamento alheio pode constituir uma barreira à satisfação dos nossos motivos. O comportamento dos outros se destinam muito mais a satisfazer os motivos deles do que os nossos. A frustração dos adolescentes pelo comportamento dos pais temrecebido muitíssima atenção em nossa cultura. Os adolescentes também frustram os pais em inúmeras circunstâncias. As namoradas entravam os namorados; os irmãos e irmãs frustram-se mutuamente; os professores frustram os alunos e os alunos frustram os professores. Já no conflito, palavras apropriadas para descrever as situações em que uma pessoa é motivada para comportar-se de duas maneiras incompatíveis. Na frustração, o atingimento de um motivo é bloqueado por barreira qualquer e faz-se mister lidar com a situação de alguma forma. No conflito deparam-se ao indivíduo situações igualmente desejáveis ou igualmente desagradáveis, entre as quais lhe é preciso escolher. Podemos, ainda destacar as palavras: Agressão, retraimento, devaneio, regressão, racionalização, repressão, identificação, projeção, e compensação. a) Agressão: a agressão é uma reação típica à frustração. Todas as pessoas se sentem frustradas de vez em quando e estão sujeitas a sentir-se agressivas em decorrência dessa frustração; os impulsos agressivos nascem da frustração. b) Retraimento: Retrair-se é uma forma relativamente fácil de responder. 11 Requer, talvez, menor esforço do que o comportamento agressivo e a sua recompensa é imediata. O retraimento atua como uma espécie de seguro contra o malogro social. Quem não tenta não falha e, a certas pessoas, afigura-se melhor nunca haver tentado do que tentar e falhar. c) Devaneio: No devaneio, o indivíduo se empenha na satisfação imaginaria dos seus motivos. Não pode ser criticado pelo outros. O devaneio ministra uma fuga conveniente das possibilidades de perda de prestígio e de respeito próprio, oriundas do fracasso. É também uma fuga aventurosa do tédio. Mas parece concorrer muito pouco para a solução de problemas de ajustamento. d) Regressão: O comportamento de regressão é uma resposta freqüente à frustração. Chama-se regressão à adoção de um comportamento, em resposta à frustração, que seria característico de pessoa muita mais jovem. As respostas regressivas são imaturas e raro construtivas. e) Racionalização: Racionalizar significa atribuir razões socialmente aceitáveis ao nosso comportamento. As pessoas descobrem, não raro, que as suas respostas podem interpretar-se como pertinentes a mais de um motivo. f) Repressão: As situações que despertam sentimento de culpa, medo, ansiedade e vergonha, esquecem-se, não raro, com muita rapidez. Esse esquecimento seletivo de experiências desagradáveis é o fenômeno da repressão. g) Identificação: O processo de acentuar os nossos sentimentos de valor pessoal pela vigorosa identificação com uma pessoa ou uma instituição ilustre denomina-se identificação. h) Projeção: A pessoa que percebe nos outros os motivos que a preocupam está- se utilizando da técnica de ajustamento denominada projeção. Pode vir a ser uma forma seríssima de comportamento desajustado, acarretando delírios gravíssimos de perseguição. Delírio é uma crença grosseiramente falsa, característica de certos indivíduos psicóticos e neuróticos. i) Compensação: Compensação é o superdesenvolvimento de certo tipo de comportamento. Quando ele resulta de frustração em determinada área, o indivíduo superenfatiza as suas consecuções em outra. Trata-se de uma forma de substituição,que protege a pessoa da autocrítica e da ansiedade, e funciona como uma espécie de distração. 09. CONCLUSÃO. Respostas emocionais acompanham, provavelmente, todas as outras respostas 12 dos seres humanos. Não devem ser interpretadas como se ocorressem separadamente das demais. A emoção e a motivação têm muita coisa em comum e ambas tendem a exercer um efeito excitante, ou despertador, sobre o organismo. As maneiras de lidar com os estados afetivos são aprendidas, e freqüentemente, se denominam ajustamentos. O ajustamento relaciona-se com as respostas que dá uma pessoa ou com a maneira por que essa pessoa aprende a lidar com os seus sentimentos, emoções, motivos e circunstâncias ambientais. O ajustamento, como tal, não precisa ser concebido como avaliativo nem coaformativo. Assim, o comportamento socialmente inaceitável - ou qualquer outro meio de lidar com a situação total das emoções, motivos e circunstâncias de outra pessoa - pode ser considerado ajustativo nesse sentido amplo. A frustração e o conflito fazem parte da vida de toda a gente. Podem ser encarados como respostas de natureza emocional ou motivacional. Os meios de lidar com a frustração e o conflito, e com o resultante despertar emocional, adquirem-se no decurso da experiência. Quando os hábitos de responder a essas situações se tornam bem estabelecidos, denominam-se mecanismos de comportamento. 10. A PERSONALIUDADE E O CARÁTER. A personalidade diz respeito a uma organização única de padrões de reação e características relativamente permanentes do indivíduo, que influem na maneira por que os outros respondem a ele. A personalidade tem uma referência social fundamental. Empresta igualmente um peso especial às características únicas do indivíduo. A personalidade tem, ao mesmo tempo, um aspecto de estímulo e um aspecto de resposta, e enfatiza particularmente a dinâmica interação deles. O caráter diz respeito às tendências de comportamento socialmente pertinentes, com implicações morais e éticas especiais. Os inventários da personalidade consistem em questionários a que o indivíduo responde, fornecendo informações sobre si mesmo. Os inventários da personalidade apresentam um conjunto de escores numéricos, que indicam a posição relativa da pessoa numa série de traços da personalidade. Os testes projetivos ministram índices mais "globais" do funcionamento da personalidade. Os testes situacionais da personalidade apresentam uma amostra do comportamento do indivíduo numa situação simulada da vida real. A maior parte dos estudos longitudinais, mais minuciosos, da personalidade mostra que existe considerável constância dos traços da personalidade no decurso do tempo. Os estudos transversais revelam escassa coerência nas manifestações dos traços do caráter e da personalidade entre uma situação e outra. As determinantes da personalidade são genéticas, ambientais, orgânicas e sociais. Os efeitos do físico sobre a personalidade são mais indiretos do que diretos. As variáveis que determinam os efeitos da privação infantil sobre a estrutura 13 subseqüente da personalidade dos seres humanos ainda precisam ser calculadas. Não se estabeleceram relações uniformes entre a maioria das práticas específicas da educação de filhos e o desenvolvimento da sua personalidade. Parece haver alguma relação geral entre as avaliações das características dos pais, como a "estrutura do caráter", o "papel maternal" e a "conduta maternal em relação ao filho" e o ajustamento dos filhos. As anormalidades da personalidade vão desde os limites do normal, passando por perturbações menores e neuroses, até as psicoses. Os mecanismos de defesa que operam em todo esse contínuo funcionam sem que o indivíduo se dê conta deles são auto-ilusivos e servem para reduzir ou afastar a ansiedade. As neuroses incluem fobias, reações obsessivas, reações de ansiedades, reações de conversão, reações dissociativas, personalidades múltiplas, astenia, reações neurótico- depressivas e reações de somatização. Em função da etiologia, as psicoses se classificam em funcionais e orgânicas. As psicoses maníaco-depressivas assumem a forma de mania, melancolia ou de uma alternância entre as duas. As esquizofrenias são classificadas em simples, hebefrênicas (esquizofrenia), catatônicas e paranóides, de acordo com os sintomas, e processivas e reativas, em função da cronicidade e do prognóstico (sendo a processivaa mais crônica). As quatro formas mais comuns de psicoterapia, que se ministra aos doentes mentais, são a terapia psicanalítica, a terapia centralizada no cliente, a terapia diretiva e a terapia baseada na teoria da aprendizagem. As terapias médicas para os doentes mentais incluem as lobotomias, a terapia do choque e a terapia das drogas. 11. OS PROCESSOS SOCIAIS. Uma pessoa não pode ser compreendida fora da sua história social e da natureza do meio social em que vive. A partir do nascimento, as outras pessoas são o segmento mais significativo do meio da criança. Muito embora, se tenham encontrado formas complexas de organização social e comunicação entre os animais inferiores, só o homem criou uma verdadeira cultura. A cultura diz respeito ao modo de vida total da sociedade. Refere-se particularmente às aprendizagens sociais acumuladas, partilhadas e transmitidas de uma geração a outra. A cultura ministra grande número de soluções já prontas para muitos problemas da vida e permite aos indivíduos que aprendam muita coisa sem os processos intermináveis de ensaio e erro. Os preceitos culturais adquirem a força de imperativos morais e tornam-se resistentes à crítica. A conformidade e a inconformidade constituem uma dimensão importante do comportamento social. A conformidade se relaciona com variáveis situacionais, como o tamanho, a natureza e a composição do grupo, e com características da personalidade, como os sentimentos de adequação e competência do indivíduo, e o seu grau de identificação grupal. O pertencimento a um grupo tem importantes funções positivas para o indivíduo, e muitas formas de patologia pessoal e social se imputam atualmente 14 à alienação social. Os cinco elementos, ou componentes, da alienação são os sentimentos de impotência, de inexpressividade, de ausência de normas, de isolamento e de auto-afastamento. Muitos movimentos de ação social da década de 1960 têm sido interpretados como manifestações de jovens afastados em busca de um sentido de identidade pessoal. CAPÍTULO I O ESTADO ATUAL DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA 12. PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA A primeira pergunta que o jurista fará a si próprio, à de se o estado atual da Psicologia justifica ou não a tentativa de aplicar em forma científica seus conhecimentos ao campo do Direito, a procura de maior perfeição de sua atuação em cada caso particular. Esta pergunta justifica-se, entre outras razões, pelo fato de que a Psicologia, que a maioria de nós estudou no curso secundário, não parecia poder abonar essa pretensão. Quanta gente adquiriu, em seus tempos de bacharel, a idéia de que esta matéria era pouco conhecida pelos que a ensinavam e a considerou como uma de tantas disciplinas que só podem ser apreendidas com a esperança de esquecê-las. Não obstante, a Psicologia atual é algo mais do que isso. É uma ciência que, oferece as mesmas garantias de seriedade e eficiência que, as outras disciplinas proporcionaram. A diferença que poderíamos denominar seria a Psicologia clássica ou filosófica e a Psicologia moderna. A clássica o seu objeto de estudo era a alma e a moderna cujo objeto de estudo era a investigação dos fenômenos psíquicos, isto é, o conjunto de fatos que formam subjetivamente, nossa experiência interna e que se acusam no ponto de vista objetivo como manifestações de funcionamento global do organismo humano, ou como ações da pessoa. A psicologia moderna não pretende estudar a essência, mas, os resultados da atividade psíquica, baseado na ciência natural, na observação e experimentação utilizando a análise e a síntese comprovando a cada passo o valor de suas afirmações. 13. A PSICOLOGIA EM RELAÇÃO A SUA APLICAÇÃO AO DIREITO . A Psicologia como ciência ainda é demasiado jovem para achar-se constituída e integrada em só sistema de idéias. Diversos investigadores descobriram técnicas diferentes que lhes permitiram chegar a diversas concepções para a descrição 15 compreensiva dos fatos e leis da vida mental; por conseguinte, o estado atual se caracteriza pela simultânea existência de distintas escolas psicológicas; cada uma delas em sua esfera é digna de atenção e respeito. Considerando a questão de um modo geral, podemos afirmar que na atualidade há nove grandes direções metodológicas da Psicologia, correspondentes a outros critérios e fins desta ciência, que nos interessam de modo especial para nosso estudo: Vamos verificar as principais diretrizes e contribuições de cada uma delas: 1ª. O Condutismo – A vida psíquica inteira se traduz em movimentos ou ações e deve ser, por conseguinte, estudada de fora, sem nos preocuparmos nada com a “introspecção”, por considerar o homem como um animal. O lema desta psicologia é o de estímulo-resposta, ou seja, dado um estímulo determinado, saber que a resposta se desencadeará no indivíduo e dada uma resposta determinada, saber que estímulos puderam engendrá-la. A primeira parte serve para predizer a conduta humana; a segunda, para o julgamento ou valorização da mesma. Vale dizer que esta última é a de maior interesse para o jurista. O condutismo é um auxiliar precioso para a Psicologia jurídica, já que permite obter dados e juízos sem contar com o testemunho subjetivo do delinqüente, do pleiteante ou da testemunha: em uma palavra, permite trabalhar sem nada preocupar-se com o que os figurantes do conflito jurídico “dizem”; em troca, registra com singular precisão o que “fazem”. Descobrindo objetivamente as “mentiras”, os testes ou provas para a determinação de aptidões intelectuais e motoras, a técnica de registro das alterações emocionais, o estudo experimental da eficácia dos diferentes “castigos”, a volorização das influências externas (clima, trabalho, alimentação, meio social etc) na produção dos diversos delitos, as regras para a observação de “indícios” humanos e para o reconhecimento objetivo dos criminoso etc., 2ª Psicologia da Forma - A Psicologia da Forma é a mais humana de todas. A mais real e de mais sentido comum, a que nos coloca ante os problemas psíquicos tais como se apresentam em nossa vida diária. Segundo ela o ato delituoso é também uma estrutura que não pode ser esmiuaçada ou decomposta – como fazem os juristas – para ser deduzida. Toda tentativa de análise do estudo está sujeita a chegar a conclusões errôneas e assim por exemplo, um crime por ciúmes e completamente errado perder o tempo em considerar se o indivíduo deu uma punhalada a mais ou a menos, se elas foram ou não “necessariamente mortais” etc. etc.; a situação dever ser, antes, concebida em suas origens e ser focalizada sem solução de continuidade até o desenlace. É o que fazem alguns defensores hábeis, mas falta-lhes para merecer o qualificativo de científico, não só a “objetividade” com também a “técnica” necessária para a recoleção, compreensão e avaliação dos mal denominados “antecedentes do delito”. 3ª Psicologia da Psicanálise - Aqui segue-se as técnicas e interpretações para o compreensão do vida psíquica criadas por Sigmund Freud, médico vienense, que, pode jactar-se de haver revolucionado com suas afirmações não só o domínio da Psicologia mas de todas as ciências do espírito. Despojado de seus exageros e erros iniciais, é inegável que representa, como veremos, sólidos pontos de apóio para a compreensão 16 da conduta delituosa, da psicologia do testemunho. De algumas atitudes pleitistas ou reinvindicadoras e – o que é mais importante – de não poucos erros judiciais cometidos por juízes probos e experimentados. Não foi somente Freud, mas alguns de seus discípulos que fizeram ver a necessidade de os encarregados da aplicação dajustiça conhecerem pelo menos os fundamentos das concepções psicanalíticas. 3.1 Determinismo psíquico – O “aparelho psíquico” possui uma causalidade própria. Em virtude disso, todo ato psíquico tem intenção, motivação e significação; não se trata de um fenômeno esporádico, acidental, isolado e indeterminado, mas de um elo de uma série causal. 3.2 Princípio da transferência - A energia psíquica não se imobiliza e adere consbstancialmente aos conteúdos cognoscitivos, senão é capaz de deslocar-se, saltar ou transferir-se de uns aos outros, como um pássaro que pula de um ramo ao outro da árvore. Em virtude de tal deslocamento das “cargas” psíquicas (afetivo-emocionais) é possível que uma percepção, uma idéias ou um pensamento qualquer, indiferente e “neutro”, se anime subitamente, em um momento dado, e receba uma força (impulso) atrativa ou repulsiva tão grande que chegue a dirigir toda a conduta individual, mesmo que o indivíduo – normal no restante – reconheça o absurdo de seu comportamento (como ocorre nas fobias, obsessões e compulsões). Este princípio tem enorme interesse penal e jurídico , pois explica uma infinidade de transgressões (simbólicas) observadas diariamente na vida judiciária. 3.3 Princípio do pandinamismo psíquico – “ Não há nada de morto no âmbito do aparelho psíquico” afirmam o freudismo. Se à primeira vista esta asserção parece inexata é porque às vezes confundimos o inerte como o inibido ou reprimido. O “capital circulante” de nosso psiquismo, ou seja, a energia libertada de nossa capacidade mental, em um momento dado, varia amplamente, de acordo como grau dessa repressão inibidora: é mínima nos estados de sono, depressão e estupor e máxima nos de elação, agitação ou desespero, mas seu valor total permanece constante. De acordo com este princípio a vida mental apresenta-se como o perpétuo vir-a- ser de uma corrente energética que ao encontrar obstáculos em sua fluência, se concentra e aumenta de tensão, até destruí-los ou evitá-los, tornando-se aparentemente ausente, para emergir, sob outro aspecto (graças aos processos de sublimação = processo inconsciente de desviar a energia da libido pra novos objetos de caráter útil -, projeção = mecanismo de defesa-, racionalização, catatimia = crise passageira, alteração do humor, holotimia = etc.). 3.4 Princípio da repressão ou censura – Eixo da escola psicanalítica, foi a asserção de que o esquecimento não é conseqüência do desgaste ou usura das lembranças, mas da ação direta de uma poderosa força repressora que, por assim dizer, as expulsa do plano consciente e as mantém afastadas dele; “custa mais esquecer do que recordar” é o lema da psicanálise, (e isso bem o sabe o delinqüente, incapaz de livrar-se de seu remorso). Quando a repulsa não se exerce sobre as lembranças, mas sobre os pensamentos, que traduzem tendências instintivas incompatíveis com a moralsocial vigente, a força repressora toma o nome de “censura 17 consciente”. 3.5 Princípio da Tripartição da Personalidade – Freud postulou que a individualidade psíquica é uma tentativa de síntese de três grupos de força: a) as provenientes do fundo orgânico-ancestral humano, e representadas por dois grupos de institintos (tânato-destruidores, sado-masoquistas ou da morte, uns, e criadores, vitais, expansivos ou libidinosos, os outros); o conjunto dessas forças, fundamentalmente irracional e inconsciente, é denominado de ID; b) as derivadas da experiência e educação (aprendizagem): individual, fundamentalmente conscientes racionais e lógicas que, criam a oposição entre o indivíduo e o objeto, e se orientam em um sentido puramente utilitário (assim como as anteriores o fazem no sentido hedonístico) constituindo o núcleo denominado EGO; c) as surgidas de um processo de introjeção (in-ducação) coercitivo e punitivo, que permite ao indivíduo superar o denominado “COMPLEXO DE ÉDIPO” (em virtude do qual tende a sua fusão amorosa com o progenitor do sexo oposto eliminando o do seu próprio sexo). Tal superação é conseguida baseando-se na incorporação à individualidade da imagem do progenitor odiado, infringindo o indivíduo a si mesmo sofrimento que antes desejou a esse e criando, assim, um princípio de expiação e autopunição que se denomina: “SUPEREGO”. A luta entre essas três instâncias, que se imbricam complexamnete nos diversos planos da vida individual, explica as oscilações entre o prazer, a utilidade e o dever, ou seja, entre as atitudes do gozo reflexivo, domínio racional e expiação salvadora. 3.6 Princípio da Autocomposição – Este assegura o restabelecimento do equilíbrio psíquico quando a pugna entre as três forças se tornam tão violentas que o indivíduo sofre a angústia do conflito intra-psíquico. Surgindo então mecanismos amortecedores e compensadores que permitem a readaptação e a nova síntese psíquica, imprimindo um desvio à tendência causadora do conflito. Tais processos são designados com diversos qualificativos (catatimia, racionalização, satisfação imaginária etc) e todos são de particular interesse para o jurista. 4ª Psicologia Personalística – Esta pressupõe a impossibilidade de fragmentar analiticamente a vida psíquica, uma vez que o fato psíquico em sua integração não pode se decompor sem perder características essenciais. O elemento psíquico que deve ser estudado é justamente a pessoa. Já não é possível julgar nenhum ato humano sem conhecer, não só as circunstâncias externas que o determinaram e o estado de quem o executou naquele momento, como também – o que é mais importante – sem saber qual é o tipo de personalidade do autor. Conforme for este, assim resultarão sua concepção do mundo, suas noções do SER e do DEVER SER, suas possibilidades de submissão ou domínio, de progresso ou regresso, de correção ou de agravamento nos diversos aspectos de sua conduta. A vida psíquica do indivíduo, será possível chegar a traçar o esquema de sua 18 personalidade. E sem este toda tentativa de julgamento de sua conduta será deficiente. Este fato fundamental ignorado por tantos juristas (que acreditam, por exemplo, ter dito tudo quando afirmam que seu processado é um doente mental), conduz à possibilidade de predizer, com certas garantias de acerto, o campo delituoso em que com maior facilidade pode penetrar um determinado indivíduo e, o que não é menos importante, permite em entrever a possibilidade de uma modalidade de pena individualizada que será ditada muito menos tendo em conta o delito cometido do que a personalidade de delinqüente. 5ª Psicologia da Forma: - Este é o mais recente movimento de idéias observado no campo da Psicologia. Suas aplicações ao campo do Direito, embora, já possam ser pressentidas, ainda estão por realizar, mas a extraordinária fertilidade dos problemas que suscitou e o valor dos fatos que descobriu, justificam sua inclusão aqui. O maior mérito desta escola psicológica consiste em haver demonstrado a impossibilidade de estudar os fenômenos psíquicos empregando os métodos válidos para a físico-química. Um fenômeno psíquico é em si uma “unidade vital” que não pode se decompor pela análise sem perder sua essencialidade. A mais simples sensação é um complexo ou estrutura; nunca podemos conceber uma reação humana como derivada de mudanças para mais ou para menos de energias (afetivas, por exemplo), e sim que, embora obedeça em definitivo às leis conhecidas, temos que admitir nela, sempre, a existência de algo novo (a estrutura), diferente dos elementos que determinaram sua produção. Assim como o químico pode separar e isolar os corpos integrantes de uma combinação, porque os mesmos se lhe apresentam sob forma de realidade sensorial estável, o psicólogo não pode realizaresta tarefa nem seguir o processo analítico porque logo que tenta a decomposição do produto, este desaparece in totum. Ele tem que resignar, pois, a aceitar e estudar como fenômenos individualizados as estruturas psíquicas, que nada têm em comum com as antigas sensações artificiais e sem sentido vital. Sem exagero, podemos dizer que a psicologia da forma e a mais humana de todas, a mais real, a de mais sentido comum, a que nos coloca ante os problemas psíquicos tais como se apresentam em nossa vida diária. Segundo ela, o ato delituoso é também uma estrutura que não pode ser esmiuçada ou decomposta – como fazem os juristas – para ser deduzida. Toda tentativa de “análise” do delito, no sentido clássico, está sujeita a chegar a conclusões errôneas e assim, por exemplo, ante um crime por ciúmes é completamente errado perder o tempo em considerar se o indivíduo deu uma punhalada mais ou menos, se elas foram ou não “necessariamente mortais” etc., etc.; a situação deve ser, antes, concebida em suas origens focalizadas sem solução de continuidade até o desenlace. É o que fazem defensores hábeis, mas falta-lhes para merecer o qualificativo de científicos, não só a “objetividade” como também a “técnica” necessário para a recoleção, compreensão e avaliação dos mal denominados “antecedentes de delito”. 6ª Psicologia Genético-Evolutiva - Hoje já não se mantém a concepção do “criminoso nato”, todavia, ninguém duvida que a herança transmite a certos seres um acúmulo de predisposições para o delito muito maior que a outros. O Crime como delito, na qual 19 demonstra alta correlação de delitos (crimes) que existe entre várias dezenas de gêmeos, inclusive algumas de gêmeos univitelinos, apesar de terem sido criados em, ambientes sociais bem distintos. São vários os autores que nos ilustraram acerca da mentalidade do homem primitivo e estabeleceram os paralelismos que podem nos ilustrar para compreender as reações de certos seres humanos que, por falta de formação atávica, sentem reativar-se normas de conduta que tinham sido superadas em nossos dias e lugares. 7ª Psicologia Neuro-Reflexológica – Seria o estudo denominado “reflexos condicionados” ou condicionáveis, atuando no sistema nervoso central e em especial no córtice cerebral: a excitação e inibição. Aqui é necessário considerar o fator “tempo” e o fator “rítmo de estimulação” para explicar muitas reações paradoxais que apresentam, não só os indivíduos patológicos, mas também os normais, convertendo-os em seres “imprevisíveis e absurdos” em mais de uma ocasião. A concepção neuro-reflexólogica explica, igualmente, a ineficácia das sanções (penas e castigos) para conseguir evitar a reincidência. 8ª Psicologia Constitucional, Tipológica ou Caracterológica – É sem dúvida uma das mais brilhantes direções no campo da Psicologia atual e apresenta extraordinárias sugestões para a compreensão das motivações e os efeitos das relações delituosas. O enfoque o psicossomático, ou seja a condições morfofuncionais (visíveis, corpóreas e mensuráveis) e ainda as condições psico-racionais (invisíveis, incorpóreas e imensuráveis mas até certo ponto avaliáveis). A tipologia oferece um firme apoio para a compreensão e previsão das reações sociais do homem, destacando a importância da assimetria funcional do ser humano – devida a preconceitos de ordem místico-mágico-religiosa – e, ao mesmo tempo, de haver proporcionado elementos para a elaboração de novas técnicas de exploração, entre as quais, destacamos o nosso Psicodiagnóstico Miocinético, por considerar que é uma das que melhor se prestam ao seu emprego sistemático no campo da Psicologia forense. 8ª Psicologia Patológica ou Anormal – Já se foram os tempos em que as psicopatias podiam ser explicadas como “enfermidades do cérebro”. Hoje já sabemos que qualquer enfermidade de qualquer órgão pode produzir uma anomalia no funcionamento mental, e que esta pode existir e persistir sem que seja possível notar uma lesão visível no sistema nervoso. Sendo assim a psiquiatria dever ser considerada mais do que a neurologia central, mas parte da Psicologia: A psicologia Anormal. O interesse extraordinário que esta apresenta para o jurista baseia-se em que por definição todo conflito com as leis que regulam a vida social pressupõe uma anormalidade, onde toda atuação profissional ver-se-á à frente de mentes normais colocadas em situações anormais ou, ante mentes anormais colocadas em situações anormais. Em todos estes casos a concepção psiquiátrica é de grande valor para a compreensão das ações resultantes e por isso cada dia se torna mais necessária sua intervenção no campo do Direito; mas não no sentido estritamente limitado da antiga psiquiatria forense, que só lida com os casos extremos, mas no sentido mais amplo e compreensivo da atual Psicologia Anormal, segundo a qual o problema não é descobrir 20 quais pessoas normais e quais não são, mas sim que classe e que grau de anormalidade são próprios de cada pessoa, afim de que não se possa confundir o gênio com a loucura, o que favorece os psiquiatras e juízes diante de um processado em que segundo os primeiros, está louco e conforme os segundo, não está. Não se pode confundir gênio com loucura. Em realidade a discussão tem lugar quase sempre porque se quer aparelhar a noção de irresponsabilidade de delito com a loucura e a da responsabilidade com a saúde mental. Esta confusão persistirá, porque é possível ser um doente mental e ser responsável e vice-versa, é possível ser irresponsável de um delito cometido com os cinco sentidos, como se diz vulgarmente. Esta confusão é claro, desaparecerá quando desaparecer a palavra “loucura”, que não quer dizer nada, e por isso a fazem significar o que cada um quer. Ainda não faz dois anos um alienista escreveu que a loucura é uma enfermidade, esta afirmação é tão absurda como se dissesse que a dor de cabeça é uma enfermidade. Com efeito, dentro do extraordinário caráter vago do termo (etimologicamente vem a ser sinônimo de loquacidade, isto é, verborréia, excesso de falar), a loucura é um estado psíquico, capaz de surgir por mui diferentes causas (umas mórbidas, outras não) e em virtude do qual o indivíduo perde o contacto com a denominada realidade ambiental ou fenomenológica, perturbando-se sua capacidade discriminativa entre o mundo externo (sensorial) e o mundo interno (representativo ou imaginativo) e surgindo em conseqüências uma conduta, interna ou externa, que pode ser lógica (se se tem uma conta que se baseia em “vivências” anormais) mas se mostra inadequada. O indivíduo que só perde esse com tacto quando se refere a determinada série de estímulos foi denominado louco parcial ou semilouco e ao que só o perde durante certo tempo, embora, se totalmente, se denomina louco temporário. Porém estas denominações são, arbitrárias e grosseiras, pois existem infinitas gradações entre estes estados e por isso torna-se também insuficiente o estabelecimento de uma “responsabilidade atenuada” para protegê-los. A responsabilidade será individualizada pelos juristas, mas para isso é preciso que possuam as devidas noções de Psicologia aplicada à sua atividade. 9ª Psicologia Social – É sem dúvida a mais nova das direções da psicologia experimental. Suas origens são mistas. Obedecendo, de um lado, a certos princípios da psicologia da forma foi delineado um plano de investigação da conduta individual em relação em relação com as pressões e as aspirações (sucções) do grupo, ou grupos, com o qual, ou os quais, convive (grupo familiar, vicinal, congenial etc.) Tal investigação é planificada em “equipe”, isto é, contando com o concurso de antropólogos, sociólogos, psiquiatras, psicólogos, historiadores, economistas e pedagogos. Em primeiro lugar, são delimitadosos conceitos de extensão e de estrutura do “campo” ou ambiente social em que vem confluir e entrechocar-se as diversas pressões dos grupos.. Em segundo lugar, é preciso investigar o papel relativo dos vetores pessoais na determinação dos impactos e contraposições que o sujeito em estudo (propositus) exerce em suas inter-relações com os membros do “campo”. 21 Em terceiro lugar, torna-se necessário conhecer quais são os recursos mais eficientes – dadas as condições de tempo, lugar e circunstância social – para assegurar o melhor ajustamento possível a esse dinamismo recíproco e dialético: indivíduo versus grupo e grupo versus indivíduo. Preenchendo do melhor modo possível essas condições foram realizadas investigações de singular interesse para a compreensão das diversas ideologias e aspirações, propósitos e condutas de diversos tipos de frustrados e desajustados sociais. Principalmente o estudo das oscilações da agressividade, das mutações radicais do nível de aspirações e dos fatores mais convenientes para uma mudança de atitude ou de opinião em diversos problemas de conduta, conduziram a uma concepção e enfocação das transgressões legais, quanto à sua profilaxia e correção coletivas. De acordo com isto, já não se trata o delinqüente isolado, mas sim se procura também tratar e corrigir grupos delinqüenciais, podendo estabelecer-se uma verdadeira terapêutica social, baseada em fatos psicológicos irrefutáveis. 14. DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA. A Psicologia jurídica é a Psicologia aplicada ao melhor exercício do Direito. Infelizmente, o estado atual da ciência psicológica não permite utilizar seus conhecimentos em todos os aspectos do Direito e isso faz com que a Psicologia jurídica se encontre hoje limitada a determinados capítulos e problemas legais que são, em ordem cronológica: 1º a Psicologia do testemunho; 2º. a obtenção da evidência delituosa (confissão com provas); 3º. a compreensão do delito, isto é, a descoberta da motivação psicológica do mesmo; 4º. a informação forense a respeito do mesmo; 5º a reforma moral do delinqüente, prevendo possíveis delitos ulteriores; 6º. a higiene mental que suscita o problema profilático em seu mais amplo sentido, isto é, como evitar que o indivíduo chegue a estar em conflito com as leis sociais. Sendo o último o mais importante, e boa prova disso é a crescente atenção que os Estados Unidos, Alemanha, Áustria e Inglaterra lhe dedicam os juristas mais destacados. 1. A Psicologia DO Direito: cujo objetivo é explicar a Essência do fenômeno jurídico, isto é, a fundamentação psicológica do direito, uma vez que todo Direito está repletos de conteúdos psicológicos. 2. A Psicologia NO Direito: que estuda a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas humanas. As normas jurídicas destinam-se a produzir ou evitar determinadas condutas e, nesse sentido, carregam inúmeros conceitos de natureza psicológica. 3. A Psicologia PARA o Direito: colocada ao lado da medicina legal, da engenharia legal, da economia, da contabilidade, da antropologia, da sociologia e da filosofia. É Psicologia convocada para iluminar os fins do direito. A Psicologia Jurídica, aportando ao mundo jurídico, pode sob forma de assessoramento legislativo, contribuir na elaboração de leis adequadas à sociedade, e na tarefa de assessoramento judicial, colaborando na organização do sistema da administração da justiça. No universo do direito tem-se usado o termo psicologia jurídica, e no âmbito 22 psicológico o termo psicologia judicial. Ou seja, “antes de sabermos como é que a justiça se pode tornar sábia pelo recurso à psicologia, temos de pensar como é que o saber psicológico se epistemologiza numa racionalidade de saber fazer justiça” 15. PLANO EXPOSITIVO DO PROGRAMA. Em primeiro lugar deve-se ter em conta a necessidade de dar antes ao jurista uma visão científica e moderna do homem, considerado como ser “psicobiossocial” e, em segundo lugar, em consideração à brevidade e clareza expositiva, convém fundir problemas e métodos, seguindo o atual critério pedagógico, em estruturas (configurações) expositivas que constituem verdadeiros centros de interesse para o advogado militante, a quem nosso trabalho é principalmente dedicado. CAPÍTULO II ESTÁTICA DA PERSONALIDADE HUMANA 16. O HOMEM CONSIDERADO COMO PESSOA O CONCEITO UNITÁRIO DA PERSONALIDADE. Uma das direções mais interessantes da moderna Psicologia, se acha representada pela chamada personalogia, isto é pelo estudo da unidade humana considerando-a em suas relações com meio natural e social em que vive. A pessoa é uma, inteira e indivisa e como tal deve ser estudada e compreendida pela ciência. Do ponto de vista funcional, não existe barreira entre o físico e o psíquico: ante um estímulo físico não é o corpo que reage, e ante um estímulo psíquico não é a alma que reage, mas em ambos os casos é o organismo em sua totalidade, ou seja, a pessoa quem cria a resposta. Dizia-se antes que um pensamento não podia influir sobre uma pedra e vice- versa. Pois bem, responde-se a isso dizendo que um pensamento pode fazer desaparecer (e, por conseguinte influenciar) uma pedra, se quem o tem possui um cartucho de dinamite e um pavio; e uma pedra pode fazer dasaparecer (e por conseguinte influenciar) um pensamento, se bater na cabeça de quem o tem. Um manjar estragado pode acarretar um conflito psicológico mundial se ingerido por um magnata político em um banquete internacional (indigestão, mau humor, réplica furiosa ao vizinho, intransigência, agressão pessoal, conflito diplomático etc) Do mesmo modo que um pensamento dito ao ouvido deste magnata (referente à sua dignidade pessoal, por exemplo) pode determinar nele uma brusca vasoconstrição 23 coronária que lhe produza a morte e com ela venham as maiores mudanças materiais na país. Em um palavra, não existe – funcionalmente falando – solução de continuidade nem dualismo possível entre as denominadas manifestações psíquicas e as físicas. Pois bem, a integração das múltiplas atividade orgânicas de forma que se ajustem em sua totalidade à sua unidade pessoal é conseguida mercê de um duplo mecanismo: nervoso e humoral. As mudanças rápidas as reações especialmente ligadas à vida intelectual consciente, efetuam-se pela via nervosa, ao passo que as modificações mais lentas e gerais têm lugar pela via humoral em virtude da libertação de determinadas substâncias denominadas "hormônios", porque têm a propriedade de determinar modificações à distância; tais modificações se traduzem na vida consciente pelo denominado estado de humor (triste ou alegre, deprimido ou excitado etc.), de sorte que nosso tipo de tonalidade afetiva depende, do ponto de vista endógeno ou pessoal, da especial proporção que entre si guardam as várias substâncias neurótropas circulantes no sangue; tais substâncias procedem em sua maior parte das glândulas de secreção interna, mas também podem proceder diretamente do exterior (ar, alimentos etc.). Basta lembrar a influência que sobre o ânimo têm o álcool, o tabaco, certas drogas etc., para compreender o que estamos dizendo. Em virtude disto a vida pessoal depende em todo momento de duas classes de influências: exógenas e endógenas. Como este ponto é de uma importância crucial para a melhor compreensão da conduta humana, vamos dedicar-lhe a extensão que merece, analisando-o com cuidado. 17. FATORES DOS QUAIS DEPENDE A REAÇÃO PESSOAL EM UM MOMENTO DADO. Vamos dar um exemplo concreto para fixar idéias: suponhamos que um indivíduo “A” ao se encontrar na rua com um indivíduo“B” discute com este acerca da posse de um objeto determinado, e após várias frases ofensivas, trocadas entre si, “A” bate em “B” com uma bengala, causando-lhe uma ferida na cabeça. Que fatores determinaram esta reação pessoal de “A”? Vejamos: a) Constituição Corporal. – Este é um fator capaz de imprimir uma modalidade especial à reações pessoais, conhecemos as relações existentes entre a constituição corporal e o temperamento, de uma parte, e entre o temperamento e o caráter, de outra. Permanecendo todos os fatores iguais, não será a mesma reação de um homem corpulento e a de um homem magro e baixo. O Fator morfológico origina na pessoa um obscuro sentimento de superioridade ou inferioridade física diante da situação, que entra muito na determinação de seu tipo de reação; é um fato vulgar que a mesma frase pronunciada por um garoto ou por um carroceiro não desperta no ofendido a mesma reação e isso é, principalmente, devido a que o indivíduo se mostra e mostra subconscientemente superior em força ante o primeiro e inferior ante o segundo. De modo análogo a constituição corporal imprime uma marca característica ao “aspecto” da pessoa e condiciona de modo amplo o estilo de seus movimentos, fazendo-os mais ou menos rápidos, gráceis, enérgicos etc. Portanto os estudos tipológicos parecem, com efeito, comprovar que a cada tipo constitucional somático 24 corresponde a uma especial modalidade temperamental. De modo geral as pessoas nas quais predominam o diâmetro vertical (altas e magra) têm uma maior tendência à introversão e à dissociação (esquizoidia) que as apresentam um predomínio do diâmetro antero-posterior (gordas e baixas). As primeiras são denominadas leptossômicas, ou astenicas, e as segundas pícnicas. A humanidade distribui-se – morfologicamente falando – em todos os infinitos pontos de uma área triangular, ou melhor, de um volume tetraédrico; cujos vértices basais correspondem à formas resultantes do desenvolvimento de cada uma da folhas blastodérmicas (ectoderma: que forma a pele, órgão dos sentidos e sistema nervoso; mesoderma: que forma todos os órgãos que asseguram a estática e a locomoção, ou seja, os ossos, tecido conjuntivo, músculos e articulações; endoderma: formadora dos tecidos viscerais). Cada região somática consta, em maior ou menor proporção, de tecidos derivados dessas três folhas primitivas, e por isso sua forma pode definir-se em função do predomínio relativo de cada uma delas. Dividido o organismo em cinco regiões em: cabeça, tórax, abdome, braços e pernas. A cada uma corresponde uma tríplice mensuração, que dará, por sua vez, o denominado somático individual que somente nesses extremos, poderá ser definido como “octomorfo”, “mesomorfo” ou “endomorfo”. A maioria, dos homens são variantes do “normotipo”, mas cada um apresenta peculiaridades que o fazem propender para um tipo de reação temperamental (neurotônica, somatotônica ou viscerotônica). É assim que a periculosidade e as diversas tendências anti-sociais ou antilegais encontram uma expressão antecipada e também uma possibilidade biológica de correção, nas primeiras fases do desenvolvimento, graças à denominada “terapêutica constitucional” que influi principalmente sobre as condições do trofismo e metabolismo celular. b) Temperamento. - Se entendermos por constituição “o conjunto de propriedades morfológicas e bioquímicas transmitidas ao indivíduo pela herança”, podemos definir o temperamento como resultante funcional direta da constituição, que marca a cada momento a especial modalidade da primitiva tendência de reação ante os estímulos ambientais. Um erro frequentemente cometido é o de confundir o temperamento com o caráter. Não obstante, este define-se objetivamente pelo tipo de reação predominante exibida pelo indivíduo ante a determinadas situações e estímulos; claramente se compreende que nem sempre a tendência primitiva de reação coincide com a reação exibida, já que entre ambas se interpõe todo conjunto de funções intelectuais (discriminativas, críticas de julgamento) e das inibições criadas pela educação. Em muitos casos o caráter da pessoa se desenvolve – por supercompensação psíquica secundária – em uma direção oposta à de seu temperamento. Assim, quantas vezes uma reação agressiva e um caráter violento tem sua explicação na existência de um temperamento medroso. Por isso, é preciso conhecer bem as distintas modalidades de temperamento, e os meios para sua explicação e diagnóstico, se quisermos ter a devida noção de todos os fatores determinantes de uma reação pessoal. Um indivíduo de temperamento astênico, “sangue de barata” e o hipertireóideo “sangue fervente”. Aqui é preciso isolá-los se quisermos chegar a uma compreensão científica da motivação do delito. c) Inteligência. – É outro fator endógeno de importância decisiva. Não há dúvida que 25 uma pessoa obtusa esgota antes os recursos para adaptar-se normalmente a uma situação que uma pessoa desembaraçada. “Onde acaba a razão começa a violência”, um grande número dos delinqüentes e dos indivíduos que entram em conflito com a sociedade, apresentam um déficit intelectual acentuado: são débeis mentais. Via de regra os diferentes tipos de delitos estão relacionados com os diferentes níveis intelectuais: por exemplo, os larápios costumam ser mais inteligentes que os simples ladrões, e estes mais do que os outros processados por delitos de sangue. Mas, o importante não é tanto ter a noção do nível intelectual da pessoa como sua capacidade de julgamento abstrato, porque dele depende a posse do denominado juízo moral. Em potência, existe na infância uma predisposição à delinqüência por ignorância, ou falta de compreensão da responsabilidade moral, cuja persistência na juventude ou no estado adulto é a melhor explicação de muitos atos delituosos. d) Caráter. – Dito e respeitado que o fator conativo, isto é, o caráter, era um fator de maior importância que todos os demais para a descrição da personalidade. Quando procuramos de um modo empírico, assinalar as propriedades pessoais de um indivíduo, se diz que o “caracterizamos” isto é que damos conta de seu caráter. Mas, o problema é que em muitas vezes ou ocasiões o fato que põe o indivíduo em contato com o jurista é em si contrário ao seu caráter. Quem diria? quem o advinharia? “A”, homem honrado e escrupoloso como poucos, cometeu um desfalque; “B”, tímido e recatado cometeu um delito sexual: “C”, pacífico e inofensivo, chegar a ser autor de um crime horripilante. Os juízes bem sabem que para cada criminoso que se apresenta diante deles com olhar feroz, cabelos crescidos e desgrenhados e punhos contraídos, há meia dúzia que parecem mais aficionados à pesca do que à tarefa de matar gente. Isso quer dizer que, embora sendo o caráter um fator importantíssimo da reação pessoal – visto sua importância não deve ser exagerada até o extremo de se acreditar ser possível conhecer um indivíduo simplesmente por sua conduta externa, ou “visível”; dentro da cabeça ficam muitas ações detidas e, por conseguinte, devemos ter presente que é preciso o conhecimento – na medida em que é possível obtê-lo – da conduta interna do indivíduo se quisermos completar os motivos da ação em geral. O caráter constitui o termo de transição entre atores endógenos e os fatores exógenos integrantes da personalidade, e representam em definitivo o resultado de sua luta. Os fatores endógenos impeliram o homem a uma conduta puramente animal, baseada na satisfação de seus instintos e tendências apetitivas ou repulsivas. Os fatores exógenos, ao contrário, o conduziriam à completa submissão ao meio externo; isto é, a clássica posição entre o homem
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