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Artigo - Principios da Bioética

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Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
OS PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA E OS 
LIMITES DA ATUAÇÃO MÉDICA 
 
Wilson Ricardo Ligiera 
Advogado, Mestre em Direito Civil e Especialista em Bioética 
 
1. INTRODUÇÃO 
As decisões sobre tratamento de saúde eram outrora tidas como questões 
meramente técnicas, tomadas naturalmente pelo conhecedor das ciências médicas. Tal 
prática, embora cerceasse por completo qualquer possibilidade de exercício de 
autonomia pelo doente, não era vista como nociva. Naquele contexto, ambas as partes 
da relação médico–paciente aceitavam que quem sabia o que era “melhor” para o 
doente era sempre o médico, único e exclusivo detentor do conhecimento científico. 
À luz dos princípios éticos contidos no Juramento de Hipócrates, era dever do 
médico prescrever e administrar a terapia que representasse o melhor benefício 
possível, sem nenhuma preocupação com qualquer participação ativa do paciente. Este 
apenas sujeitava-se à intervenção médica, sem nada indagar e muito menos levantar 
objeções. Entretanto, o costume de deixar a cargo do médico a tomada de todas as 
decisões foi aos poucos sendo questionado. 
Atualmente, o paciente já não aceita ser um mero objeto da ação médica; antes, 
deseja tornar-se um sujeito participativo dessa relação. Diante dessa nova tendência, 
não obstante a ampla invocação do princípio da beneficência pelos discípulos de 
Hipócrates, em muitos casos o paciente não se sente beneficiado pela intervenção 
médica. A despeito de todo zelo e empenho do profissional, são freqüentes as situações 
em que o paciente, ao final do tratamento, simplesmente não visualiza o benefício do 
procedimento médico. 
Há ocasiões, ademais, em que o paciente, além de não enxergar nenhum bem, só 
consegue ver o mal; são situações em que o doente não encara os procedimentos 
médicos como atos beneficentes, mas como agressões ao seu organismo, desrespeito à 
sua individualidade e afronta à sua dignidade. Deveras, há intervenções médicas que 
podem causar mal maior que a própria doença. Com a maior utilização dos 
procedimentos invasivos e o surgimento de novas drogas e aparelhagens destinadas a 
preservar a todo custo a vida dos pacientes, houve um significativo aumento dos casos 
de iatrogenia. Com efeito, ao lado dos danos efetivamente provocados no paciente por 
tratamento médico errôneo, são hoje freqüentes aqueles causados pelo uso excessivo de 
medicamentos, bem como os resultantes de procedimentos desnecessários. 
Com o aumento do tecnicismo, o médico deve estar sempre alerta para não se 
transformar em mero operador de máquinas e aparelhos. Ao olhar para um paciente 
apenas como um conjunto de órgãos, o profissional negligencia seus aspectos 
emocionais, podendo causar malefícios consideráveis à pessoa que necessita de sua 
ajuda. 
É de interesse notar que alguns profissionais só conseguem perceber a 
importância da humanização da medicina quando eles próprios passam para a 
condição de doentes internados num hospital. Só então chegam a compreender a 
angústia e o medo normais do ser humano à mercê de uma enfermidade. 
A deterioração da relação médico–paciente tem contribuído grandemente para o 
aumento do número de processos judiciais por responsabilidade médica. A falta de um 
bom relacionamento é também causa de parte expressiva das denúncias de supostos 
erros médicos perante os Conselhos de medicina. Por outro lado, quando existe uma 
boa comunicação entre médico e paciente, este encara com mais naturalidade as 
eventuais conseqüências adversas do tratamento. 
Quando o médico demonstra respeito e consideração para com os sentimentos e 
opiniões do enfermo, este se sente como tendo participado das decisões e, 
conseqüentemente, aceita mais facilmente os resultados do tratamento, ainda que não 
tão satisfatórios. Todavia, não são poucos os profissionais que encaram como 
conflitantes os princípios bioéticos da beneficência e da autonomia. Entendem que, se 
hão de fazer o bem ao paciente, devem pautar-se exclusivamente pelos padrões 
científicos e pelos ditames de sua consciência. Tais profissionais, porém, acabam por 
desconsiderar a vontade do paciente, assumindo uma postura autoritária que faz recair 
sobre eles todo o peso da responsabilidade pelas conseqüências da intervenção. 
Diante de todos esses fatores, há que se perscrutar o que de fato constitui o 
“bem” para o paciente e como alcançá-lo. Há que se indagar: é possível conciliar o 
dever do médico de “usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente” 
(consoante determina o art. 5.º do Código de Ética Médica) com a proibição de “exercer 
sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a 
sua pessoa ou seu bem-estar” (conforme estabelece o art. 48 do mesmo diploma 
deontológico)? Como harmonizar a vedação de “efetuar qualquer procedimento 
médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente” (art. 46), com a 
exceção do dever de atuar em caso de “iminente perigo de vida” (art. 46, in fine)? 
A fim de encontrar respostas a essas indagações, inicialmente procedemos a 
uma ligeira consideração dos quatro princípios de Beuchamp e Childress: beneficência, 
não maleficência, autonomia e justiça. A partir daí, examinamos o confronto entre os 
princípios da autonomia e da beneficência, analisando-se este à luz daquele. Por fim, 
propomos um modo de solucionar aparentes conflitos de interesses, por meio da 
conciliação dos princípios da bioética, visando o alcance do amplo respeito à dignidade 
do ser humano. 
Distanciando-nos de uma bioética exclusivamente principialista, propomos uma 
análise casuística da relação médico—paciente, pela indagação do que constitui a 
beneficência em cada situação concreta. Partindo dos princípios bioéticos como formas 
pacíficas de convívio, e não como regras inflexíveis de conduta, procuramos apontar 
para a necessidade premente da maior humanização da medicina. 
 
 
2. A BIOÉTICA E SEUS PRINCÍPIOS 
 
O vocábulo bioética provém da junção do antepositivo “bio” (do grego 
bíos, vida) e da palavra “ética” (do latim ethìca, derivado do grego éthikê). Bioética é, 
 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
assim, literalmente, a ética da vida. Constitui “parte da Ética, ramo da filosofia, que 
enfoca as questões referentes à vida humana”.1 
O termo em inglês, bioethics, foi utilizado pela primeira vez, segundo se tem 
conhecimento, no ano de 1970.2 O movimento da bioética estabeleceu-se nessa mesma 
década nos Estados Unidos; na década de 1980, na Europa; no início da década de 1990, 
na Ásia; e a partir daí, em vários dos chamados países em desenvolvimento.3 Não 
obstante, como observa o professor Marco Segre, “a discussão de temas como o aborto e 
a eutanásia, apenas para citarmos dois exemplos, vem desde muito antes, acentuando-
se durante as últimas décadas”.4 
A bioética provém de uma corrente de idéias segundo a qual os avanços 
científicos “não constituem automaticamente progressos para a humanidade em geral, 
de tal modo que o que é tecnocientificamente possível não é ipso facto sempre bom nem 
necessariamente permissível.”5 
Muito se tem falado a respeito da bioética atualmente. Ao contrário do que 
alguns erroneamente imaginam, porém, o termo “bioética” não constitui uma nova 
nomenclatura para designar a ética médica. Nem se refere exclusivamente aos 
problemas e implicações morais relacionados às pesquisas científicas nas áreas da 
biologia e da biomedicina. Na realidade, a bioética é muito mais do que a ética do 
médico, ou mesmo do profissional de saúde ou do cientista; é a ética da vida humana e, 
conseqüentemente, a ética de toda a sociedade. Afinal, as discussões relativas à vida e à 
saúde interessam a todos nós: médicos, advogados, psicólogos, engenheiros, 
professores,religiosos, sociólogos etc. 
Nesse sentido, a bioética tem como uma de suas principais características a 
interdisciplinaridade, entendida como o envolvimento de várias disciplinas que visam 
conjuntamente proporcionar, ao lado da evolução do conhecimento científico 
(notadamente em relação a pesquisas e tratamentos médicos), a percepção dos conflitos, 
o exercício da autonomia e a busca pela coerência. 
A bioética, outrossim, não é impositiva. Não visa estabelecer normas ou regras 
de conduta. Ainda assim, não escapou à tendência humana de normatização. Diante da 
preocupação pública com o controle social da pesquisa científica em seres humanos 
(especialmente considerando a ocorrência de alguns escândalos envolvendo grande 
desrespeito para com pacientes negros, crianças e idosos), foi criada pelo Congresso 
norte-americano, em 1974, a National Commission for Protection of Human Subjects of 
Biomedical and Behavioral Research, com a finalidade de realizar estudos destinados a 
identificar os princípios éticos básicos da biomedicina. Quatro anos depois, a referida 
comissão concluiu um relatório final conhecido como Belmont Report. Este relatório 
serviu de base para a criação de três princípios éticos básicos, que acabaram sendo 
sistematizados num livro de Tom L. Beauchamp e James F. Childress, de 1979, 
_____________ 
1 Marco Segre, Definição de bioética e sua relação com a ética, deontologia e diceologia, p. 23. 
2 O oncólogo Van Rensselaer Potter utilizou pela primeira vez o vocábulo num artigo escrito em 1970, com o título The science 
of survival, e no ano seguinte, num volume intitulado Bioethics: bridge to the future. (Elio Sgreccia, Manual de bioética: I – 
Fundamentos e ética biomédica, p. 23. 
3 Léo Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine, Problemas atuais de bioética, p. 11. 
4 Marco Segre, Da mente e do coração, p. 1. 
5 Gilbert Hottois e Marie-Hélène Parizeau, Dicionário da bioética, p. 62. 
intitulado Principles of Biomedical Ethics.6 
Os três princípios estabelecidos no relatório Belmont foram os seguintes: 
1) respeito pelas pessoas (posteriormente traduzido como “autonomia”); 
2) beneficência (prática ou virtude de fazer o bem, de beneficiar o próximo); e 3) justiça 
(caráter ou qualidade do que está em conformidade com o que é justo ou equânime). 
Beuchamp e Childress, todavia, retrabalharam os três princípios em quatro, 
distinguindo beneficência e não-maleficência. 
 
2.1. O princípio da beneficência 
O princípio da beneficência (do latim bonum facere, i.e., fazer o bem) tem sido 
considerado o mais antigo da ética médica.7 Também é o que mais recebeu destaque 
durante muitos anos, fruto de uma cultura paternalista. Encontramos suas raízes no 
famoso Juramento de Hipócrates, em que lemos: “aplicarei os regimes para o bem dos 
doentes [...] na casa onde for, entrarei apenas pelo bem do doente”. 
As ciências médicas desenvolveram-se, portanto, tendo como objetivo primário 
fazer ou promover o bem. Tal desiderato tem sido entendido freqüentemente como o 
dever de recuperar a saúde e preservar a vida. Entretanto, há que se analisar cada caso 
de modo cuidadoso, a fim de que a pretensão de fazer o bem não se transforme numa 
obsessão de atuar, mesmo quando as circunstâncias concretas demonstram a insensatez 
da utilização de determinado procedimento. Apropriadamente, adverte Carlos Neves: 
“Na defesa do princípio da beneficência tem o 
médico de se precaver contra a obstinação 
terapêutica, não mobilizando meios 
tecnologicamente avançados quando é previsível, 
sob o ponto de vista científico, que não se vão 
obter os benefícios esperados. Assim, e 
particularizando nos doentes terminais, as 
atitudes terapêuticas deverão estar subordinadas 
à autonomia, à dignificação da morte e ao grau de 
sofrimento do doente.”8 
Na história da medicina, a beneficência sempre foi acompanhada de uma 
restrição da autonomia das pessoas enfermas. Não raro procurava-se proteger o 
paciente de si mesmo, não se lhe permitindo exercer qualquer participação na escolha 
do método terapêutico. Esperava-se que o doente simplesmente se entregasse por 
completo às mãos dos “detentores do saber”. 
Com efeito, o princípio da beneficência presente no Juramento Hipocrático 
possui um forte caráter paternalista: “Aplicarei os regimes para o bem do doente 
segundo o meu poder e entendimento”, “segundo meu saber e minha razão”, e ainda, “segundo 
minha capacidade e juízo”. Daí decorre que o princípio da beneficência passa a ter como 
regra norteadora da prática médica o “bem” do doente não apenas segundo os critérios 
fornecidos pela medicina, mas também segundo o entendimento e juízo do próprio 
médico, vale dizer, de acordo com sua interpretação subjetiva. Isso significaria para o 
médico poder agir independentemente da concordância do paciente e mesmo que este 
_____________ 
6 Pedro Federico Hooft, Bioética y derechos humanos: temas y casos, p. 6-7. 
7 Maria Celeste Cordeiro dos Santos, O equilíbrio do pêndulo: a bioética e a lei, p. 42. 
8 Carlos Neves, Bioética: temas elementares, p. 15. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
conhecesse as prováveis conseqüências e alternativas disponíveis. Marcos de Almeida 
levanta o seguinte questionamento: 
 
“Quais os motivos pelos quais devemos tratar 
nossos semelhantes como agentes racionais, como 
fins em si próprios e não meramente como meios 
para um determinado fim? Muitas pessoas 
sustentam o contrário. Muitos afirmam que 
quando desejamos ajudar as pessoas, 
especialmente no contexto médico, somos 
obrigados a tratar nossos pacientes como meios, 
meios para sua própria recuperação, por exemplo. 
O modelo habitualmente oferecido é aquele da 
relação entre um pai e seu filho, o modelo do 
paternalismo benevolente.”9 
 
Segundo comenta o autor, a questão apresenta-se como “mais problemática 
quando tal comportamento não se refere a uma criança de cinco anos, mas a pacientes 
de maior idade.”10 Sendo o paciente maior e capaz, sob que fundamento dever-se-ia 
negar-lhe o direito de participar ativamente das questões que envolvem sua própria 
vida? 
À medida que os direitos humanos se consolidam, valorizando-se as liberdades 
individuais e a dignidade do ser humano, tão mais relevante se torna para o médico 
demonstrar consideração para com a vontade dos pacientes. Oportunas são as 
admoestações de Joaquim Clotet: 
“É evidente que o médico e demais profissionais 
de saúde não podem exercer o princípio da 
beneficência de modo absoluto. A beneficência 
tem também os seus limites, o primeiro deles seria 
a dignidade individual intrínseca de todo ser 
humano.”11 
 
A beneficência não pode ser confundida com paternalismo. Ainda assim, a 
atitude paternalista tem caracterizado, em maior ou menor grau, a medicina 
contemporânea, sob o argumento de que se está fazendo o bem ao paciente. Diante 
disso, apresentam-se oportunas as observações de Edmund Pellegrino: 
 
“El paternalismo no podría equipararse a la 
beneficencia, como proponen algunos autores. El 
paternalismo implica la usurpación por parte del 
médico del derecho moral que tiene el paciente 
como ser humano de decidir lo que es mejor para 
sus propios intereses. Esa acción viola la 
integridad de la persona y en ningún caso podría 
considerar-se con un acto de beneficencia, ya que 
_____________ 
9 Marcos de Almeida, Comentários sobre os princípios fundamentais da bioética, p. 60. 
10 Ibid, mesma página. 
11 Joaquim Clotet, Bioética: uma aproximação, p. 65. 
para ello es esencial respetar los valores y la 
facultad de elección del paciente.”12 
 
A grande dificuldade dos médicos é saber delimitar a fronteira entre 
beneficência e paternalismo. Tratar um paciente, por exemplo, sem seu consentimento, 
ou sem lhe dizer que outros médicos usariam um métodoalternativo, não é 
beneficência. É paternalismo. Em determinadas circunstâncias, poderá constituir 
autoritarismo maléfico. 
A verdadeira beneficência envolve fazer o bem não apenas do ponto de vista do 
médico, mas também segundo o que o próprio paciente considera bom para si mesmo. 
 
2.2. O princípio da não-maleficência 
 
De acordo com Beuchamp e Childress, “o princípio de não-maleficência 
determina a obrigação de não infligir dano intencionalmente.”13 Na ética médica, 
relaciona-se intimamente com a máxima “Primum non nocere” (Antes de tudo, não 
causar dano) — freqüentemente invocada pelos profissionais da área de saúde. 
No Juramento Hipocrático, encontramos tal princípio no final da frase: “Usarei o 
tratamento para ajudar o doente de acordo com minha habilidade e com meu 
julgamento, mas jamais o usarei para lesá-lo ou prejudicá-lo”. Este princípio (de não fazer o 
mal ao ser humano) e o princípio da beneficência (de fazer o bem) “têm sido as bases da 
moral da profissão médica ao longo dos séculos”.14 
No Relatório Belmonte, ambos os princípios foram tratados como um só.15 Para 
Beauchamp e Childress, todavia, eles têm uma caráter moral diferente, já que o dever 
de não fazer o mal apresenta-se como mais vinculativo do que a exigência de fazer o 
bem.16 De fato, comentam estes autores que “embora a não-maleficência e a 
beneficência sejam similares e freqüentemente tratadas na filosofia moral como não 
sendo nitidamente distinguíveis, combiná-las num mesmo princípio obscurece 
distinções relevantes”.17 Diante disso, concluem: “em geral, as obrigações de não-
maleficência são mais rigorosas que as obrigações de beneficência; e, em alguns casos, a 
não-maleficência suplanta a beneficência, mesmo que o resultado mais útil seja obtido 
agindo-se de forma beneficente.”18 
Beauchamp e Childress passam então a examinar criticamente as distinções 
entre “matar” e “deixar morrer”, entre a “abstenção” e a “interrupção” do tratamento, 
bem como as relativas a diversos outros parâmetros desenvolvidos para a especificação 
dos requerimentos da não-maleficência na assistência à saúde, especialmente no que 
diz respeito a decisões por tratamentos ou à decisão pelo não-tratamento: 
 
_____________ 
12 Edmund D. Pellegrino, La relación entre la autonomía y la integridad en la ética médica, p. 387. 
13 Tom L. Beauchamp e James F. Childress, Princípios de ética biomédica, p. 209. 
14 Carlos Neves, Bioética: temas elementares, p. 15. 
15 Pedro Federico Hooft, Bioética y derechos humanos, p. 7. 
16 Carlos Neves, Bioética: temas elementares, p. 15. 
17 Tom L. Beauchamp e James F. Childress, op. cit., p. 210. 
18 Ibid., p. 211. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
“O desconforto dos profissionais de saúde com a 
interrupção dos tratamentos de suporte de vida 
parece refletir a idéia de que essas ações os tornam 
responsáveis — e, portanto, culpáveis — pela 
morte do paciente, enquanto não são responsáveis 
se não derem início ao tratamento. Uma outra 
fonte de desconforto para os profissionais, 
referente à interrupção de tratamentos, é a 
convicção de que iniciar um tratamento muitas 
vezes cria a expectativa de que ele prosseguirá, 
enquanto interrompê-lo parece contrariar as 
expectativas, promessas ou obrigações contratuais 
para com o paciente e a família. As expectativas e 
promessas equivocadas deveriam ser evitadas 
desde o princípio. A expectativa ou promessa 
apropriada é a de que os profissionais agirão de 
acordo com os interesses e os desejos do paciente 
(dentro dos limites dos sistemas defensáveis para 
a alocação dos serviços de saúde e das regras 
sociais defensáveis sobre matar). Interromper um 
tratamento particular, incluindo o de suporte de 
vida, não envolve necessariamente o abandono do 
paciente. A interrupção pode seguir as diretrizes 
do paciente e ser acompanhada e seguida por 
outras formas de cuidado.”19 
De fato, parece-nos prescindível a divisão entre os dois princípios, beneficência e 
não-maleficência, desde que não se esqueça que este se insere naquele. Expresso de 
outro modo, se a atuação “beneficente” provocará um dano maior do que a não 
intervenção, levando-se em consideração o paciente como um todo, o médico deve 
reavaliar sua conduta e pensar melhor antes de intervir. 
 
2.3. O princípio da autonomia 
 
No decorrer dos séculos, o princípio da beneficência recebeu bem maior 
destaque do que o da autonomia. De fato, no juramento hipocrático, este princípio está 
totalmente ausente. Aliás, longe de aceitar a autonomia do paciente, as palavras de 
Hipócrates revelam nítido paternalismo, ou quiçá, verdadeiro autoritarismo: “aplicarei 
os regimes para o bem dos doentes, segundo meu saber e a minha razão”. Ou seja, somente 
o “saber” e a “razão” médicos é que poderiam conhecer e estabelecer o que seria o 
“bem” do paciente, sem nenhuma consideração para com seus sentimentos e sem levar 
em conta suas vontades. 
Ao princípio da autonomia só se deu amplo destaque nos Estados Unidos, nas 
últimas décadas, com a necessidade de se melhorar o relacionamento entre o usuário do 
serviço de saúde e o profissional que lhe atende, evitando com isso as crescentes 
demandas judiciais. Ideologicamente, porém, o respeito à individualidade humana 
provém do Iluminismo europeu, desenvolvendo-se a partir de Descartes, Montesquieu, 
_____________ 
19 Ibid., p. 218-9. 
Russeau e, posteriormente, Kant.20 
O princípio da autonomia, estabelecido originalmente no informe Belmont, 
indicava que o respeito pelas pessoas incorpora ao menos duas convicções éticas: a 
primeira, de que os indivíduos deveriam ser tratados como entes autônomos; a 
segunda, de que as pessoas cuja autonomia está diminuída deveriam receber proteção. 
Entendia-se por ente autônomo o indivíduo capaz de deliberar sobre seus próprios 
objetivos pessoais e atuar sob a direção dessa determinação. Sustentava-se, também, 
que respeitar a autonomia significava dar valor às opiniões e escolhas de cada pessoa, 
evitando interferir nas suas ações, a menos que estas prejudicassem a terceiros. Por 
outro lado, constituiria um desrespeito ao sujeito autônomo repudiar os critérios por ele 
estabelecidos, impedindo-o de atuar livremente de acordo com tais critérios, ou 
negando-lhe informações necessárias a fim de poder emitir um juízo correto. 
Autonomia é, portanto, a capacidade de atuar com conhecimento de causa e sem coação 
externa.21 
A palavra autonomia provém de “auto”, do grego autos (por si mesmo), e 
“nomia”, do grego nómos (lei). Significa, literalmente, “lei para si mesmo” e expressa o 
direito que cada ser humano possui de se autogovernar, de acordo com suas próprias 
leis. “Num sentido mais amplo, autonomia tem sido usada para referir diversas noções, 
incluindo autogoverno, liberdade de direitos, escolha individual, agir segundo a 
própria pessoa.”22 Maria Celeste Cordeiro dos Santos comenta: 
O princípio da autonomia, denominação mais 
comum pela qual é conhecido o princípio do 
respeito às pessoas, exige que aceitemos que elas se 
autogovernem, ou sejam autônomas, quer na sua 
escolha, quer nos seus atos. Esse princípio requer, 
por exemplo, que o médico respeite a vontade do 
paciente, ou do seu representante, assim como 
seus valores morais e crenças.23 
O conceito de autonomia é empregado por Beauchamp e Childress para 
examinar a tomada de decisão no cuidado da saúde, a fim de identificar o que é 
protegido pelas regras de consentimento informado e recusa informada. Conforme 
revelam os autores, “desde os julgamentos de Nuremberg, que apresentaram relatos 
horrendos de experiências médicas em campos de concentração, a questão do 
consentimento tem estado em primeiro plano nas discussões da ética biomédica.”24 
O consentimento informado apresenta-se, outrossim, como extremamenterelevante para o alcance do pleno respeito à autonomia do paciente. Durante muito 
tempo, o médico sentiu-se exonerado do dever de obter o consentimento do paciente 
com supedâneo no argumento, não raro falacioso, de que o doente, além de afetado em 
suas condições psíquicas em virtude da enfermidade, também era leigo e ignorante, não 
possuindo conhecimento suficiente para decidir se desejava ou não um determinado 
tratamento. 
_____________ 
20 Marco Segre, Considerações críticas sobre os princípios da bioética, p. 176-177. 
21 Pedro Federico Hooft, Bioética y derechos humanos, p. 7. 
22 Claudio Cohen e José Álvaro Marques Marcolino, Relação médico-paciente: autonomia e paternalismo, p. 53. 
23 Maria Celeste Cordeiro dos Santos, O equilíbrio do pêndulo: a bioética e a lei, p. 43. 
24 Tom L. Beauchamp e James F. Childress, op. cit., p. 161. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
Aos poucos, a idéia milenar, proveniente da tradição hipocrática, de que a 
decisão do tratamento que há de se aplicar ao enfermo é de competência exclusiva do 
médico, passou a ser questionada. Atualmente, já não se admite uma postura 
autoritária do profissional de saúde. Qualquer intervenção só pode ser realizada após a 
obtenção do consentimento do paciente, depois de ser ele suficientemente esclarecido 
dos possíveis riscos, benefícios e alternativas disponíveis. 
Na definição de Joaquim Clotet, o consentimento informado consiste na 
“decisão voluntária, realizada por pessoa autônoma e capaz, tomada após um processo 
informativo e deliberativo, visando à aceitação de um tratamento específico ou 
experimentação, sabendo da natureza do mesmo, das suas conseqüências e dos seus 
riscos.”25 Prelecionam Elena Highton e Sandra Wierzba: 
 
“El consentimiento informado implica una 
declaración de voluntad efectuada por un 
paciente, por la cual, luego de brindársele una 
suficiente información referida al procedimiento o 
intervención quirúrgica que se le propone como 
médicamente aconsejable, éste decide prestar su 
conformidad y someterse a tal procedimiento o 
intervención.”26 
 
O consentimento informado, também chamado de consentimento livre e esclarecido, 
consentimento pós-informação ou consentimento após-informação, tem-se caracterizado como 
um dos elementos condicionantes do exercício legítimo da medicina. Hubert 
Lepargneur, citando Jean-Marie Mantz, expõe que a “noção de consentimento 
esclarecido que garante a autonomia do doente é a pedra angular de toda a ética 
médica ocidental.”27 No mesmo diapasão encontramos os ensinamentos de Pablo 
Simón Lorda: 
“La esencia del consentimiento informado no es 
otra que considerar que las decisiones sanitarias, 
para ser moralmente aceptables, deben ser 
decisiones autónomas tomadas por los afectados 
por ellas, los propios pacientes. Evidentemente en 
las decisiones sanitarias entran en juego más 
factores, como la corrección científico-técnica o la 
adecuación a los recursos disponibles. Pero para la 
teoría del consentimiento informado — que 
constituye el núcleo de la moderna bioética — 
todos estos factores sólo sirven para modular a 
posteriori la idea de que lo esencial es que la 
decisión clínica sea una decisión autónoma del 
paciente.”28 
_____________ 
25 Joaquim Clotet, O consentimento informado nos comitês de ética em pesquisa e na prática médica: conceituação, origens e 
atualidade, p. 52. 
26 Elena I. Highton e Sandra M. Wierzba, La relación médico-paciente: el consentimiento informado, p. 11. 
27 Hubert Lepargneur, Bioética, novo conceito a caminho do consenso, p. 72. 
28 Pablo Simón Lorda, La evaluación de la capacidad de los pacientes para tomar decisiones y sus problemas. In: Lydia Feito 
Grande, Estudios de bioética, p. 119. 
O péssimo costume, cada vez mais combatido, de deixar de fornecer ao doente 
as devidas informações, reflete a ausência de uma boa comunicação entre médicos e 
pacientes. De fato, a questão do consentimento esclarecido constitui um dos pontos 
críticos dessa relação, como mencionou Júlio Cézar Meirelles Gomes em artigo 
publicado no jornal Medicina: 
“O consentimento esclarecido é outro aspecto 
pontual de grande importância na construção de 
uma relação médico-paciente rica e consistente. 
[...] A medicina técnica não pode sufocar uma 
relação entre seres vivos, não pode suscitar no 
paciente indefeso o pavor de defrontar-se com um 
piloto de máquinas, um exterminador de doenças 
mascarado de aparência técnica e fria — como 
ocorre em filmes de ficção científica”.29 
 
A necessidade da captação do consentimento para a atuação médica decorre, na 
realidade, do direito que o paciente tem de opor-se ao tratamento, optando por outro 
que lhe pareça menos invasivo, ou até mesmo rejeitando toda e qualquer intervenção 
em seu corpo. Destarte, se o paciente pode livremente consentir no tratamento, também 
pode livremente recusá-lo. Afinal, de nada adiantaria assegurar-lhe o direito ao 
consentimento se, mesmo discordando do tratamento, o paciente fosse obrigado a ele 
submeter-se. 
Destarte, o direito do paciente ao consentimento informado não se subsume ao 
direito de simplesmente ouvir do médico as explicações sobre o tratamento ao qual 
deverá se submeter para em seguida concordar. Inclui, obviamente, o direito de escolha 
entre diversas opções terapêuticas e, por conseguinte, o direito de recusa de algumas 
delas. Trata-se, com efeito, da expressão máxima do seu exercício de sujeito autônomo. 
 
2.4. O princípio da justiça 
 
Diversos termos já foram empregados na tentativa de explicar o que é justiça, 
como eqüidade, merecimento e prerrogativa. Estas concepções interpretam a justiça 
como “um tratamento justo, eqüitativo e apropriado, levando em consideração aquilo 
que é devido às pessoas”.30 
O princípio bioético da justiça visa “garantir a distribuição justa, eqüitativa e 
universal dos benefícios dos serviços de saúde.”31 Essa interpretação é feita tendo como 
base a visão da justiça distributiva, que busca a distribuição igualitária dos recursos de 
saúde a todos aqueles que têm as mesmas necessidades. Se dois indivíduos 
semelhantes, em condições semelhantes, receberem tratamentos diferenciados, sendo 
fornecido melhor tratamento a um, e pior ao outro, estará havendo claramente uma 
distribuição desigual dos riscos e benefícios. 
A correta distribuição dos recursos de saúde, porém, não é tão simples, pois nem 
sempre é fácil reconhecer que são os iguais que devem ser tratados igualmente. Afinal, 
_____________ 
29 Júlio Cézar Meirelles Gomes, A bioética e a relação médico-paciente, p. 9 
30 Tom L. Beauchamp e James F. Childress, op. cit., p. 352. 
31 Maria Celeste Cordeiro dos Santos, O equilíbrio do pêndulo: a bioética e a lei, p. 45. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
as pessoas encontram-se em diferentes situações clínicas e sociais.32 
 
Dentre as teorias desenvolvidas para especificar e tornar coerentes os princípios 
da justiça distributiva, podem ser mencionadas as seguintes: teorias utilitaristas, que 
enfatizam uma mistura de critérios com o propósito de maximizar a utilidade pública; 
teorias comunitaristas, que enfatizam as práticas e os princípios de justiça que evoluem 
dentro da tradição numa comunidade; e as teorias igualitárias, que pregam a 
distribuição igual dos benefícios e encargos sociais. 
 
O tratamento igualitário tendente a proporcionar a aplicação da justiça não 
significa, porém, tratar a todos de modo exatamente idêntico, sem levar em 
consideração suas disparidades inerentes. Fazer isso deixaria de constituir tratamento 
equânime e produziria maior discriminação injusta. As diversidades da natureza física 
e da estrutura psicológica do ser humano, suas necessidades e tendências, são fatores 
que precisam ser levadosem consideração. 
 
Deveras, a aplicação da justiça distributiva constitui um verdadeiro desafio, 
principalmente em países subdesenvolvidos. A escassez de recursos, as limitações 
científicas e a mercantilização da medicina são apenas alguns fatores que dificultam 
enormemente a distribuição eqüitativa dos benefícios dos serviços de saúde. Ainda 
assim, aqueles que escolheram utilizar as suas vidas para tratar de seus semelhantes 
devem ter a justiça diante de si como um ideal a ser buscado diuturnamente. 
 
3. A ATUAL APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA 
 
Ao analisar-se a história da medicina, verifica-se que o princípio da beneficência 
não raro foi utilizado como camuflagem para a prática de atos de autoritarismo, sendo 
interpretado apenas para se seguir um sistema de tratamento que, de acordo com a 
capacidade e juízo do médico, era considerado “benéfico”. Lamentavelmente, não foi 
incomum, no decorrer dos tempos, comportar-se o esculápio como dono da vida do 
paciente, dominando-o e constrangendo-o, sob a roupagem de estar agindo para o seu 
bem. Em alguns casos, essa opressão chegou a extremos inadmissíveis, como revelam 
as experiências ocorridas em campos de concentração nazistas. Segundo Arthur L. 
Caplan, o espírito característico do profissionalismo, que afirmava que os interesses dos 
pacientes são melhor servidos depositando a total confiança no médico e que essa 
confiança significa cumprir integralmente as ordens do médico, acabou por dar 
supedâneo à atuação dos cientistas médicos no regime nazista.33 
 
As atrocidades ocorridas na Alemanha nazista são exemplos extremos e, 
felizmente, deplorados pela maioria dos profissionais. Todavia, o autoritarismo médico 
ligado à supremacia do pensamento científico perdura até hoje. Comenta Caplan: 
 
_____________ 
32 Elio Sgreccia, op. cit., p. 167. 
33 Arthur L. Caplan, Quando a medicina enlouqueceu, p. 86-7. 
 “Embora durante a formação, tivesse sido 
ensinada aos médicos a arte de curar e até a 
preocupação humanitária com o bem estar físico 
do paciente, também lhes ensinaram que os 
médicos devem decidir aquilo que é melhor para 
o paciente. Não foram educados para acreditar 
que os pacientes devem ser consultados e os seus 
desejos considerados. Essas idéias revolucionárias 
eram alheias ao seu pensamento, tal como foram 
— pelo menos até há pouco — ao pensamento dos 
médicos em todo o mundo civilizado.”34 
 
Embora esteja o médico proibido de “efetuar qualquer procedimento médico 
sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente”, como dispõe o art. 46 do 
Código de Ética Médica, atitudes arbitrárias ainda ocorrem, conforme menciona Léo 
Meyer Coutinho: 
“Certamente por influência da época em que o 
médico era visto como um semideus, ainda é 
freqüente um comportamento que reflete essa 
atitude. Não é raro, em especial os pacientes 
humildes, informarem, na anamnese, que foram 
operados e exibem uma cicatriz cirúrgica 
abdominal. Perguntamos qual cirurgia foi 
efetuada e ele responde: “Não sei. O doutor não 
disse.” Outras vezes o médico examina o paciente, 
no dia seguinte ele recebe a medicação pré-
anestésica, é levado para o centro cirúrgico, é 
operado, e só fica sabendo quando acorda da 
anestesia. Felizmente já é bem mais raro, mas 
ainda acontece. É fundamental o médico ter 
consciência que o paciente não é de sua 
propriedade. Ele tem, e deve ser respeitada, 
vontade própria. Até mesmo para prescrever os 
medicamentos o médico deve informá-lo das 
finalidades.”35 
 
O extraordinário desenvolvimento do poder médico contemporâneo chegou 
paradoxalmente a fazer que se esquecesse do doente, que passasse por cima de seus 
valores, que desprezasse sua vontade, tudo sob o pretexto de fazer-lhe o bem. 
Significativas são as elucubrações de Philippe Meyer: 
 
“A medicina não foge hoje ao paradoxo que 
ameaça toda ciência ou técnica evoluída, o de se 
voltar contra si mesma e de não alcançar seu 
objetivo. Sua força técnica pesa cada vez mais 
sobre a personalidade humana, da concepção à 
_____________ 
34 Ibid., 277. 
35 Léo Meyer Coutinho, Código de ética médica comentado, p. 59-60. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
morte, correndo o risco de se esquecer de que 
tratar ainda conta, às vezes, tanto quanto curar.”36 
 
Ocorre que, desde o momento da consulta médica inicial, instala-se em geral 
uma relação de poder, atribuindo-se o saber ao médico e a ignorância ao paciente. 
Outrossim, a decisão daquele é tida como soberana, não podendo ser questionada por 
ninguém, como preleciona Jean Clavreul: 
 
“Au nom du principe que le savoir est chez le 
médecin et l’ignorance chez le malade, il est 
justifié à décider en maître absolu, chacun ne 
pouvant dounter qu’il sait mieux que tout autre 
quel est le bien de son malade, et qu’il ne peut pas 
ne pas désirer ce bien.”37 
 
A maior conscientização do ser humano acerca de seus direitos, todavia, não 
mais admite uma atitude autoritária da classe médica. A conduta beneficente não pode 
mais ser atrelada a um critério unilateral do profissional de saúde. É direito do paciente 
participar na escolha do que constitui o bem para si mesmo. Para que tal direito não seja 
violado, é necessário que haja um amplo respeito à autonomia. 
Como mencionam Beuchamp e Childress, “tradicionalmente, os médicos 
conseguiram se apoiar quase que exclusivamente em seus próprios julgamentos sobre 
as necessidades de seus pacientes no tocante a tratamentos, informações e consultas.”38 
Todavia, especialmente nos últimos anos, a medicina tem se confrontado cada vez mais 
com a reivindicação dos pacientes no que tange à escolha dos métodos terapêuticos 
empregados. 
Essa mudança na atitude dos pacientes tem sido causada, em grande parte, pelo 
reconhecimento de seu direito à autonomia. Quanto mais o paciente adquire 
consciência de seus direitos, porém, tão mais intensos podem se apresentar os conflitos 
entre a beneficência e a autonomia. 
 
3.1. O confronto entre beneficência e autonomia 
 
Um dos problemas centrais da ética biomédica consiste em saber se o respeito à 
autonomia dos pacientes deve ter prioridade sobre a beneficência do profissional. Os 
debates entre os defensores da autonomia e os defensores da beneficência deram 
origem a modos diversos de se encarar a beneficência, dependendo das circunstâncias: 
para alguns, o princípio da beneficência rivaliza com o princípio da autonomia; já para 
outros, o princípio da beneficência incorpora a autonomia do paciente (no sentido de 
que as preferências do paciente ajudam a determinar o que realmente constitui um 
benefício para ele).39 
_____________ 
36 Philippe Meyer, A irresponsabilidade médica, p. 11. 
37 Jean Clavreul, L’ordre medical, p. 181. Tradução livre: “Em nome do princípio de que o saber está no médico e a ignorância no 
doente, ele se acha justificado para decidir enquanto mestre absoluto, ninguém podendo questionar que ele sabe melhor que 
qualquer outro qual é o bem de seu doente e de que ele não pode não desejar este bem.” 
38 Tom L. Beauchamp e James F. Childress, op. cit., p. 295. 
39 Ibid., p. 296. 
As divergências acerca de qual princípio ou modelo deve ser considerado 
prioritário na prática médica não são fáceis de serem conciliadas. Nem pode a questão 
ser tratada de modo simplista, defendendo-se um princípio contra o outro, ou 
considerando-se um deles absoluto. Afirmar que princípios éticos são absolutos supõe 
negar que possam comportar exceções, o que equivale a dizer que não pode haver 
circunstâncias em que determinado princípio não seja aplicável. Isso demonstra que 
procurar estabelecer parâmetros extremos é inviável ao se tratar de bioética. 
Para Joaquim Clotet, apresenta-se como evidente que nem o médico nem os 
demais profissionais de saúde podemexercer o princípio da beneficência de modo 
absoluto: “A beneficência tem também os seus limites, o primeiro deles seria a 
dignidade intrínseca de todo ser humano.”40 
De acordo com as ponderações de Soares e Piñeiro, para que se alcance o melhor 
para o paciente deve haver um equilíbrio entre o princípio da beneficência e o princípio 
da autonomia: 
“Nas decisões clínicas, a responsabilidade 
profissional do médico diante do sofrimento e das 
mais inusitadas vontades de seu paciente não 
pode ser desconsiderada, mas não se pode, por 
outro lado, ignorar a subjetividade, os critérios de 
valor e o desejo que o paciente tem de ser 
respeitado e de continuar mantendo a confiança 
naquele ao qual foi entregue.”41 
 
Sauwen e Hryniewicz ressaltam que, na hipótese de um conflito, deve ser 
realizada uma minuciosa avaliação, na tentativa de se evitar o mal para os envolvidos.42 
O problema, infelizmente, nem sempre é fácil de ser solucionado. Entretanto, o 
diálogo franco entre médico e paciente pode ajudar, ao menos, a minimizá-lo, 
permitindo uma colaboração constante no processo de tratamento de saúde. 
 
3.2. O que significa fazer o bem 
 
Alex Botsaris tece críticas contundentes à desumanização da medicina. Segundo 
o autor, “a perda da humanidade é causada, especialmente, por três fatores: o excesso 
de tecnicismo, o desprezo pela subjetividade dos pacientes e a formação médica 
incompleta e pouco direcionada para os aspectos humanos.”43 
A despeito da boa intenção dos médicos, estes não raro têm desconsiderado que 
fazer o bem ao paciente envolve dar atenção não apenas ao que o profissional de saúde 
considera como apropriado ou proveitoso no processo de cura, mas também os valores 
do paciente. Sauwen e Hryniewicz salientam a importância de se dar atenção a tais 
fatores: “No caso da medicina, este princípio impõe que se deva agir sempre no real 
interesse do paciente, evitando paternalismo que, normalmente, leva à realização do 
_____________ 
40 Joaquim Clotet, Bioética: uma aproximação, p. 65. 
41 André Marcelo M. Soares e Walter Esteves Piñeiro, Bioética e biodireito: uma introdução, p. 35. 
42 Regina Fiuza Sauwen e Severo Hryniewics, O direito “in vitro”: da bioética ao biodireito, p. 25. 
43 Alex Botsaris, Sem anestesia: o desabafo de um médico, p. 239. 
Revista Ibero-Americana de Direito Público . 
 
 
interesse de quem age por ele movido.”44 
 
O paciente não mais aceita ser tratado como um mero objeto. Ao contrário, 
reivindica o direito tornar-se participador ativo na tomada de decisões referentes à sua 
saúde. Cada vez mais deseja tomar parte na escolha dos procedimentos diagnósticos e 
terapêuticos, a fim de conquistar seu espaço e alcançar seu direito de ser tratado da 
maneira que lhe proporcione o maior bem físico, mental e espiritual. 
 
Não se olvide: a medicina não pode prosseguir na busca pelo bem da 
humanidade se deixar de respeitar os valores morais básicos de uma sociedade 
fraterna, pluralista e sem preconceitos. A ciência possui, e devem ser respeitados, os 
limites encontrados na ética e na dignidade da pessoa humana.45 
 
Diego Gracia bem ilustra a necessidade de se buscar o bem para o paciente de 
acordo com as reais necessidades deste, levando-se em consideração seus valores 
morais, religiosos e culturais, dentre outros. Explica o autor: 
 
“Un acto de beneficencia debe ser dado y recibido 
libremente, y por tanto se halla intrínsecamente 
relacionado con la autonomía. En mi opinión 
autonomía y beneficencia son principios morales 
estrechamente relacionados, y por tanto del 
mismo nivel. Por ejemplo, yo defino 
autónomamente mi sistema de valores, mis 
objetivos de vida, mi propia idea de perfección y 
felicidad, y por tanto el conjunto de acciones que 
considero beneficentes para mí. Algo puede ser 
beneficente para una cierta persona y no para otra. 
Para un Testigo de Jehová la transfusión de sangre 
no es un procedimiento beneficente, en tanto que 
para los demás sí lo es. Algo beneficente es 
siempre para mí. La beneficencia lo es siempre 
respecto al propio sistema de valores religiosos, 
culturales, políticos y económicos. Este es el nivel 
en el que todos nosotros somos diferentes, debido 
a la diversidad de nuestras ideas de perfección y 
felicidad. Autonomía y beneficencia no sólo nos 
permiten ser moralmente diferentes, sino que nos 
obligan a serlo, y obligan a los demás a respetar 
nuestra idea de vida buena.”46 
 
O médico que realmente busca o bem do paciente não realiza de modo 
individual e autoritário o que se entende por bom, justo ou adequado. O profissional 
que assim agir não estará, da fato, sendo beneficente. Estará sendo prepotente e 
_____________ 
44 Regina Fiuza Sauwen e Severo Hryniewics, op. cit., p. 25. 
45 Cf. Maria Garcia, Limites da ciência, p. 137-211. 
46 Diego Gracia, Cuestión de principios, p. 27. 
dominador. Fazer o bem, ao contrário, significa levar em conta não apenas o que ele 
próprio, médico, entende como benéfico, mas o que o paciente entende como bom. 
Envolve, em suma, levar em consideração os desejos, vontades, aspirações, crenças e 
sentimentos do próprio paciente. 
 
4. CONCLUSÃO 
 
Infelizmente, nem sempre é fácil resolver os conflitos surgidos na relação 
médico–paciente. Não podemos criar regras fixas, inflexíveis, a fim de estabelecer uma 
conduta a ser seguida. As circunstâncias precisam ser analisadas caso a caso. Como 
salienta Marco Segre, sempre que se procura estabelecer “princípios”, na verdade, se 
está querendo erigir uma norma que venha ao encontro do que sentimos serem nossas 
tendências. Isso tem ocorrido com a Bioética, de modo a criar maiores dificuldades de 
entendimento entre os envolvidos numa relação já conturbada. Daí a pertinência de 
suas palavras: “É sempre oportuno lembrar que a postura ética emerge da percepção de 
um fenômeno que ocorre dentro de cada um de nós. Essa situação ocorre com relação a 
três dos tão decantados princípios da bioética: autonomia, beneficência e não-
maleficência [...] e não da obediência a regras, códigos ou princípios.”47 
Os princípios da bioética devem funcionar como meio, não como fim. Devem 
servir como caminhos, suportes e supedâneos para reflexões e, se possível, 
entendimentos. Cada caso precisa ser analisado individualmente. Não se pode 
estabelecer de antemão o que constitui beneficência, e o que não. Não se deve 
preconceber o que significa fazer o bem. O que pode ser feito, isto sim, é a promoção do 
diálogo, do respeito, da compreensão, como meios de humanizar a medicina, a fim de 
que os maiores bens do paciente possam ser mais facilmente preservados: não apenas 
sua vida e sua saúde, mas também sua dignidade como pessoa humana. 
 
 
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

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