Buscar

BIOÉTICA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

BIOÉTICA 
 
 
Elany Portela 
 
 
2 
Elany Portela 
História da Bioética 
Introdução a Bioética 
A ética é o ramo da filosofia destinado à 
análise teórica e científica dos 
pressupostos, fundamentos e justificativas 
para as ações humanas. Esse termo pode 
ser utilizado, também, como sinônimo de 
moral, para designar o sistema de valores, 
princípios, normas e preceitos que 
orientam a conduta de uma pessoa 
humana ou de um grupo. 
A ética médica repousou sua tradição no 
Juramento de Hipócrates durante séculos, 
até que, a partir da metade do século 
passado, esse modelo se mostrou inapto 
para resolver os dilemas morais suscitados 
pelas novas biotecnologias e pelos 
escândalos em pesquisas biomédicas. 
Nesse contexto, surgiu a Bioética - espaço 
privilegiado de reflexão acerca das 
questões éticas relativas à vida - a qual 
rapidamente se apropriou do debate sobre 
a ética nas profissões biomédicas, 
passando a se constituir como um novo 
paradigma, ou em uma nova influência para 
a ética médica. 
Essa nova ética médica surge, então, 
revigorada, livre das marcas do 
paternalismo e do corporativismo, apta a 
discutir e apontar soluções para a maioria 
dos dilemas morais apresentados dia-a-dia 
aos profissionais. 
Não se pode dizer que o modelo 
tradicional de ética médica não tem 
nenhuma validade nos dias atuais. Até hoje, 
alguns pacientes ainda aceitam e esperam 
dos médicos os padrões de 
comportamentos paternalistas, 
preconizados nos antigos códigos. A 
imagem do bom médico, sob o qual não 
pairava nenhuma desconfiança, sempre 
disposto a fazer o melhor pelo seu 
paciente, ainda tem influência no 
comportamento de uma parcela de 
pacientes (DRANE J, PESSINI L, 2005). 
Todavia, essa ética, vinculada à tradição 
hipocrática, foi incapaz de oferecer 
respostas aos dilemas morais suscitados 
pelos notáveis avanços científicos na 
biomedicina e pelos abusos praticados em 
pesquisas envolvendo seres humanos. 
Ética X Moral 
Temos a seguinte relação: 
1. MORAL = Valorização não-refletida 
(religião, cultura) 
2. ÉTICA = Valorização refletida 
(eticidade) 
 
3 
Elany Portela 
Histórico da Bioética 
Hipócrates (460-375/351 a.C.), considerado 
o "Pai da Medicina", foi responsável, devido 
ao seu juramento, por uma duradoura 
tradição moral na profissão médica. O 
Juramento de Hipócrates começa por 
uma invocação aos deuses, segue com as 
cláusulas juramentárias e é concluído com 
uma imprecação. A finalidade dessa 
fórmula era a de emprestar ao texto um 
caráter sagrado, não obstante o juramento 
se constituísse, essencialmente, em um 
pacto de ordem moral (Ribeiro Jr. W, 1999). 
O conteúdo desse juramento é o seguinte: 
 
 
 
Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia 
e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os 
deuses e todas as deusas, cumprir, conforme o 
meu poder e a minha razão, o juramento cujo 
texto é este: 
1 - Estimarei como aos meus próprios pais, quem 
me ensinou esta arte e com ele farei vida em 
comum e, se tiver alguma necessidade, partilhará 
dos meus bens; cuidarei dos seus filhos como 
meus próprios irmãos, ensinando-lhes esta arte, 
se tiverem necessidade de aprendê-la, sem 
salário nem promessa escrita; farei participar dos 
preceitos, das lições e de todo o restante do 
ensinamento, os meus filhos, os filhos do mestre 
que me instruiu, os discípulos inscritos e 
arrolados de acordo com as regras da profissão, 
mas apenas esses. 
2 - Aplicarei os regimes para o bem dos doentes, 
segundo o meu saber e a minha razão, e nunca 
para prejudicar ou fazer mal a quem quer que 
seja. 
3 - A ninguém darei, para agradar, remédio 
mortal nem conselho que o induza à destruição. 
Também não fornecerei a uma senhora pessário 
abortivo. Conservarei puras minha vida e minha 
arte. 
4- Não praticarei a talha, ainda que seja sobre um 
calculoso (manifesto), mas deixarei essa 
operação para os práticos. 
5 - Na casa onde eu for, entrarei apenas para o 
bem do doente, abstendo-me de qualquer mal 
voluntário, de toda sedução e, sobretudo, dos 
prazeres do amor com mulheres ou com homens 
sejam livres ou escravos. 
6 - O que no exercício ou fora do exercício e no 
comércio da vida eu vir ou ouvir, que não seja 
necessário revelar, conservarei como segredo. Se 
cumprir este juramento com fidelidade, goze eu 
minha vida e minha arte com boa reputação entre 
os homens, e para sempre; mas, se dele me 
afastar ou violá-lo, suceda-me o contrário (Fávero 
F, 1991). 
4 
Elany Portela 
Como pode ser visto, a primeira cláusula 
juramentaria (1) se desdobra em um pacto 
familiar em relação ao mestre e em um 
pacto corporativo, ambos desprovidos 
atualmente de qualquer interesse. A 
segunda (2) materializa a postura 
paternalista do médico, hoje já censurada. 
A quarta (4) e a quinta (5), de tão 
impertinentes nos dias atuais, dispensam 
qualquer comentário. 
Apenas a terceira cláusula (3), que fala da 
vedação à prática da eutanásia e do 
aborto, impondo o respeito absoluto à vida, 
e a sexta e última (6), que trata da questão 
do sigilo médico, continuam a ter 
pertinência na atualidade, ainda que com 
ponderações. 
Todavia, mesmo em face da sua manifesta 
inadequação aos dilemas morais da 
medicina do tempo atual, não se pode 
deixar de reconhecer a valiosa 
contribuição do Juramento de Hipócrates. 
Basta ver que seus postulados 
influenciaram os Códigos de Ética Médica 
adotados no mundo inteiro até mais da 
metade do Século XX, precisamente até o 
fim da década de 60 (França G, 2000). 
Uma característica importante desse longo 
período de influência da ética hipocrática é 
que nele as discussões éticas eram 
tratadas como assunto interna corporis, 
interessando apenas aos profissionais da 
medicina, e marcadas, por isso, por 
posicionamentos corporativistas e 
paternalistas. Os deveres gerais e as 
obrigações específicas dos médicoseram 
desenvolvidos por membros instruídos da 
corporação, os quais eram responsáveis 
por regular a conduta ética da profissão. 
Nesse período, os Códigos de Ética 
Médica eram impostos à sociedade, que 
não tinha a oportunidade de participar, 
direta ou indiretamente, de sua elaboração 
(Drane J, Pessini L, 2005). 
Diante, pois, da incapacidade do modelo de 
ética hipocrática de atender às novas 
demandas, suscitadas principalmente pelos 
avanços das biotecnologias, eclodiu um 
movimento de mudanças na ética médica. 
Esse movimento, que se tomou mais 
evidente a partir dos anos 70 do Século 
XX, pode ser melhor compreendido a 
partir da análise do conjunto de fatos que 
o procederam e que são apontados, com 
frequência, como responsáveis pelo 
surgimento da Bioética, em 1971. Entre 
esses fatos, podem-se ressaltar: 
 Notícias de brutais experimentos 
realizados por médicos nazistas em 
prisioneiros nos campos de 
concentração, durante a segunda 
guerra mundial. 
 
 Esses fatos culminaram com o 
julgamento e a condenação de alguns 
deles pelo Tribunal Militar Internacional 
de Nuremberg. Na sua decisão, em 
1947, o Tribunal incluiu uma declaração 
contendo 10 recomendações, que 
constituem o chamado Código de 
Nuremberg; 
 
 Descoberta do ácido 
desoxirribonucleico – DNA, por Crick e 
Watson em 1953. Essa descoberta criou 
condições para um vertiginoso 
movimento de inovações tecnológicas 
5 
Elany Portela 
na área da genética, de consequências 
inquietantes; 
 
 Acontecimentos em torno da diálise 
em Seattle (EUA). Em 1960, diante da 
disponibilidade de um pequeno número 
de máquinas de diálise (recém- 
inventadas), foi entregue a uma 
comissão formada por membros leigos 
da comunidade a prerrogativa de 
selecionar quais os pacientes que iriam 
ter acesso àquele recurso. Até então, 
decisões dessa natureza eram 
exclusivas dos profissionais de saúde; 
REVISTA LIFE “eles decidem quem 
vive e quem morre” 
 
 Hospital Estatal de Willowbrook (New 
York – 1950 a 1970): A fim de estudar a 
história natural da hepatite A e 
desenvolver uma vacina, investigadores 
infectavam deliberadamenteparte das 
crianças recém internadas; 
 
 Estudo da sífilis em Tukesgee (Alabama 
– 1932 a 1972): foram deixados sem 
tratamento 408 negros portadores de 
sífilis, com o objetivo de estudar a 
história natural da doença. Os resultados 
foram publicados em 1954, em uma 
revista de Saúde Pública dos Estados 
Unidos, e mostravam que a mortalidade 
dos pacientes não tratados era maior 
que a dos indivíduos sem sífilis. Mesmo 
diante dessa conclusão, o estudo 
prosseguiu, mantendo-se os pacientes 
sem tratamento até 1972, quando 
houve a denúncia na imprensa leiga; 
 
 Hospital Israelita de doenças crônicas 
(New York – 1963): com o objetivo de 
estudar o processo de rejeição nos 
transplantes em humanos, 
investigadores injetaram células 
cancerígenas em 22 idosos. 
 
 Realização do primeiro transplante 
cardíaco (África do Sul – 1967): o 
cirurgião Christian Barnard fez o 
primeiro transplante cardíaco, o que 
suscitou a necessidade de elaborar uma 
definição de morte encefálica. 
 Além disso, entre 1960 e 1970, diante da 
contestação da Guerra do Vietnã, por 
parte da opinião pública norteamericana e 
mundial, cresceu um importante 
movimento pela defesa dos direitos 
humanos, que realçava os direitos 
individuais, como à liberdade, à igualdade e 
à justiça, entre outros, em contraposição 
ao abuso de poder, praticado por alguns 
Estados. Nesse contexto instala-se uma 
crise da ética médica tradicional, cujos 
pressupostos podem ser sintetizados em 
dois pontos: o ultraje moral em face do 
desrespeito aos direitos dos sujeitos de 
pesquisa e a perplexidade diante das 
descobertas técnico-científicas na medicina 
e nas demais ciências biológicas. 
No centro dessa crise, nasce a Bioética 
(1971), destinada a oferecer um novo 
arsenal de fundamentos para os 
crescentes dilemas éticos impostos à 
medicina e às demais ciências biológicas. 
Ao oncologista norte-americano Van 
Rensselaer Potter (1911-2001), atribui-se a 
obra inaugural desse ramo da ética aplicada 
- Bioética, uma ponte para o futuro. Dr. 
6 
Elany Portela 
Edmund Pellegrino, médico clínico, 
humanista e bioeticista, foi o responsável 
pela estruturação da Bioética como 
disciplina acadêmica em todas as 
faculdades de medicina dos EUA e sua 
aplicabilidade na prática médica, sendo 
responsável também pela criação do 
Instituto de Valores Humanos da Medicina. 
Hoje, a ética da medicina, profissão cuja 
história se confunde com a história da 
própria humanidade, vive um novo 
momento. Superado o modelo de ética 
hipocrática, a Bioética se consolidou como 
um novo paradigma a orientar a conduta 
ética do médico. Essa nova ética, 
revigorada, desprovida de corporativismo, 
sem marcas do já ultrapassado 
paternalismo, não é mais autoaplicável, 
como outrora, mas nasce do desejo de 
todos. É fruto de múltiplas contribuições, 
não apenas de filósofos, teólogos, juristas, 
médicos e outros estudiosos, mas também 
dos diversos segmentos da coletividade, 
refletindo, por isso, os sentimentos e os 
valores morais mais relevantes para a 
sociedade. 
Pode-se conceituar a bioética como: “Ética 
aplicada à vida (solucionadora de 
problemas) e se apresenta como a 
procura de um comportamento 
responsável por parte daquelas pessoas 
que devem decidir tipos de tratamentos, 
pesquisas ou posturas com relação à 
humanidade.” (Reich, 1995) 
7 
Elany Portela 
Introdução a Bioética 
A Ética vai ser responsável por uma ação 
que vai ter uma dimensão ora moral 
(voluntária) ora jurídica ( obrigatória) 
A bioética inclui o espiritual, cultural, político, 
psicológico, educacional, científico, 
economico, legal, moral, social, biológico, 
assistencial e profissional.... 
Bioethics: a Bridge to the Future – obra 
que referenciou a bioética, foi publicada 
em 1971 pelo cancerologista Van Rensselaer 
Potter 
Originalmente a bioética focava em uma 
questão global frente o equilíbrio e a 
preservação da relação dos seres 
humanos com o ecossistema e a vida. 
Bioética sob o ponto de vista 
principialista 
A obra The Principles of Bioethics de 
Beauchamp e Childress mudou o conceito 
original da bioética, pautando-a sob uma 
linha conhecida atualmente como 
“principialismo”., que estuda a bióetica a 
partir de principios e analisa a aplicação 
destes em contextos sociais específicos. 
Não existe apenas uma forma de se 
entender a bioética. A forma que mais se 
especializou e se adequou foi o 
principialismo. 
A bioética foi dividida em 4 principios 
básicos.: não-maleficência e justica (caráter 
deontológico); beneficência e autonomia 
(caráter teleológico) 
Houve a tendência bioética de enquadrar 
os problemas nesses 4 princípios, que 
tornaram-se o centro das discussões sobre 
bioética. 
Não existe uma hierarquia entre esses 
princípios. 
A boa prática média continua baseada na 
observação dos conceitos hipocráticos, 
beneficência, não-maleficência, respeito à 
vida, confidenciabilidade, e à privacidade, 
além do respeito a autonomia do paciente, 
e do seu direito a receber todas as 
informações e participar ativamente no 
seu tratamento. 
Princípio da autonomia 
Significa autogoverno e autodeterminação 
da pessoa em tomar decisões sobre sua 
saúde, sua integridade físico-psiquica e 
relações sociais. 
Deve haver opções para a liberdade de 
escolha., mas é necessário que o indivíduo 
seja capaz de agir de acordo com as 
deliberações feitas. 
8 
Elany Portela 
O respeito à autonomia baseia-se no 
princípio da dignidade da natureza humana, 
acatando-se o imperativo categórico 
kantiano que afirma que o ser humano é 
um fim em si mesmo. 
Variáveis como condições biológicas, 
psíquicas e sociais interferem na 
autonomia do indivíduo. 
Podem ocorrer situações transitórias ou 
permanentes que uma pessoa pode ter 
uma autonomia diminuída, cabendo a 
terceiros o papel de decidir. 
Autonomia e individualismo não são a 
mesma coisa, os limites da autonomia são 
estabelecidos com o respeito ao outro e 
ao coletivo. 
O consentimento esclarecido é a 
manifestação da essência da autonomia: 
Todo indivíduo tem direito de consentir ou 
recusar propostas de caráter preventivo, 
diagnóstico ou terapêutico que tenham 
potencial de afetar sua integridade físico-
psíquica ou social. 
O consentimento deve ser dado 
livremente, após completo esclarecimento 
sobre o procedimento, dentro de um nível 
intelectual do paciente; renovável e 
revogável. 
Para Hewlett, o consentimento apenas é 
aceito quando possui informação, 
competência, entendimento e 
voluntariedade. 
Por tanto, o Princípio da Autonomia é 
regra, que consiste no fato de que é direito 
do paciente escolher a cerca do 
tratamento aos quais ele vai ser submetido 
ou não. Cabe ao profissional médico 
fornecer ao paciente, em palavras simples, 
os meios de tratamento que o mesmo 
será submetido. 
Princípio da Beneficência 
A exceção à regra da autonomia é o 
Princípio da Beneficência, que representa 
os casos em que o médico vai agir para 
fazer o bem do paciente mesmo contra a 
sua vontade. 
Deve-se considerar o bom senso: por 
exemplo, se um paciente chega no hospital 
com quadro de desidratação. O médico, no 
caso, afirma que o melhor no momento 
seria a aplicação de soro. Se o paciente 
negar, o médico deve observar se o 
paciente corre mesmo perigo de vida ou 
apenas risco de vida (situação na qual todas 
as pessoas convivem diariamente: risco 
remoto de sofrer qualquer tipo de 
acidente), na qual não é necessária uma 
intervenção urgente do médico. Nesse 
caso, o Princípio da Autonomia predomina 
como regra. 
Se um paciente chega ao centro de 
emergência correndo perigo de vida 
(ou risco eminente de vida: situação 
real e concreta na qual, a juízo do 
médico, a intervenção do médico é 
necessária para evitar a morte do 
paciente. Não é só um juízo de 
prognóstico, mas sim, um 
diagnóstico), o médico deve agir 
prontamente, mesmo contra a 
autonomia do paciente (se caso for), 
ou seja, mesmo se o paciente não 
permitir a intervenção para salvar a 
sua vida. Caso contrário,o médico 
responde a um tipo de homicídio 
culposo. 
9 
Elany Portela 
Princípio da não-maleficência 
O Princípio da Não-Maleficência é o mais 
controverso de todos. Isto ocorre quando 
uma ação, aparentemente de menor ou 
nenhuma repercussão, agravar-se 
progressivamente, com tendência a 
ocorrer cada vez mais, gerando malefícios 
não previstos inicialmente. 
Muitas vezes o médico tem que se omitir 
de alguma ação ou deixar de realizar algum 
procedimento para evitar algum mal ao 
paciente. Por exemplo, é comum e 
correto um anestesista, no caso, se negar 
a aplicar anestésico em um paciente idoso 
que viria a realizar alguma cirurgia não 
necessária. Essa decisão seria importante 
para preservar a integridade da vida do 
paciente ao invés de correr o risco por 
uma cirurgia desnecessária. 
.Princípio da Justiça 
A justiça define que o correto é “dar a 
cada qual o que é seu”. 
Critérios justos devem ser estabelecidos 
para conduzir a atuação do médico diante 
dos acontecimentos de seu cotidiano. 
O tratamento estabelecido para um 
médico não visa sempre ser o melhor para 
um só paciente, mas sim, o mais efetivo 
para um maior número de pacientes. 
 
 
Pode-se resumir os quatro princípios 
éticos da seguinte maneira: 
 Beneficência: o ato de fazer o 
bem. 
 Não maleficência: primeiramente, 
não fazer mal (não matar, não 
causar dor, não incapacitar e não 
privar daquilo que é bom). 
 Autonomia: dever de o médico 
respeitar o direito do paciente. 
 Justiça: igualdade básica de todos 
os seres humanos. 
É importante ter em conta que o médico 
não é obrigado a atender a quem ele não 
deseja, salvo em três situações: 
1. situações de urgência ou 
emergência; 
2. quando não há outro médico que 
possa realizar o procedimento; 
3. quando a recusa do médico trará 
danos ao paciente 
10 
Elany Portela 
Privacidade e Confidencialidade 
Desde Hipócrates, em seu juramento, já 
existia uma preocupação com o sigilo que 
deveria haver entre o médico e o paciente. 
Sigilo médico é o silêncio que o profissional 
da medicina está obrigado a manter sobre 
fatos de que tomou conhecimento em 
face de sua profissão, com as ressalvas 
feitas aos casos especiais, respeitando 
sempre o princípio da Autonomia (dever 
de o médico respeitar o direito do 
paciente). 
Limites do Segredo Médico 
Tomando por base os princípios 
orientadores da conduta profissional da 
bioética principialista, proposta por 
Beauchamp e Childress, eticamente a 
quebra de confidencialidade só pode ser 
admitida quando: 
1. Houver alta probabilidade de 
acontecer sério dano físico a uma 
pessoa identificável e específica, 
estando, portanto, justificada pelo 
princípio da não-maleficência; 
2. A quebra de sigilo resultar em um 
benefício real, baseando-se essa 
decisão no princípio da beneficência; 
3. Se esgotarem todas as abordagens 
para o respeito ao princípio da 
autonomia, a quebra do sigilo for a 
última opção; 
4. A mesma decisão de revelação puder 
ser utilizada em outras situações com 
características idênticas, 
independentemente da posição social 
do paciente, contemplando o princípio 
da justiça e fundamentado no respeito 
pelo ser humano, tornando-se um 
procedimento generalizável. 
A partir desses princípios, é possível 
concluir que o segredo médico deve ser 
rompido apenas quando houver risco de 
dano físico ao paciente, quando resultar 
em um benefício maior para ele, em caso 
de não haver outra possibilidade que 
permita o respeito ao princípio da 
autonomia, e quando o caso sigiloso puder 
ser generalizado e implicar no benefício a 
outras pessoas. 
Desse modo, a quebra do sigilo se justifica 
apenas em situações bastante específicas 
e necessárias, o que faz com que a 
publicidade de informações dos pacientes, 
em outras circunstâncias, implique nas 
repercussões penais. 
Implicações Penais 
“O que eu no exercício ou fora do exercício e no 
comércio da vida, eu ver ou ouvir, que não seja 
necessário revelar, conservarei como segredo” 
“Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão 
cegos, minha língua calará os segredos que me 
forem revelados, o que terei como preceito de 
honra.” 
“Guardarei segredo acerca de tudo o que ouça ou 
veja... e não seja preciso que se divulgue, seja ou não 
do domínio da minha profissão, considerando um 
dever o ser discreto...” 
11 
Elany Portela 
O paciente tem o direito à inviolabilidade 
dos seus segredos, resguardado jurídica e 
penalmente, para que possa ter as suas 
condições pessoais protegidas do 
conhecimento prejudicial de terceiros. 
Sendo assim, a quebra do sigilo médico 
constitui-se um crime contra a liberdade 
individual, haja vista que a obrigatoriedade 
do sigilo busca justamente proteger a 
privacidade daquelas pessoas que, por 
necessidade, tiveram que confidenciar 
certos fatos de sua intimidade, que 
precisam ser mantidos sob sigilo. 
Pela legislação penal, a quebra do sigilo 
médico, quando repercute em danos ao 
seu paciente, é passível de punição 
É importante ressaltar que a existência de 
uma justa causa deixa de configurar a 
quebra do sigilo como um crime, quando 
há, por exemplo: 
1. Notificação de doença 
infectocontagiosa à saúde pública 
2. Comunicação à autoridade policial 
competente de crimes sujeitos à ação 
pública, desde que não exponha o seu 
paciente a um procedimento criminal. 
3. No caso de o paciente ser uma 
possível vítima de crime de ação 
pública, a comunicação se torna 
obrigatória, uma vez que a proteção 
da integridade do paciente passa a ser 
uma obrigação do médico. 
4. O paciente consente a sua quebra, 
pelo fato de esse consentimento ser 
necessário para autorizar o médico a 
depor em juízo como testemunha, 
ficando essa revelação sujeita também 
à intenção do profissional em manter 
o sigilo ou não. 
Por outro lado, a revelação de informações 
sigilosas, por meio de conversas entre o 
médico e seus colegas, não se configura 
em crime, apesar de ser uma conduta 
reprovável eticamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
Elany Portela 
No caso de pacientes terminais, não há 
mais razões para discutir “a morte” (que já 
é certa), mas sim o “morrer”, ou seja, o 
processo de como a morte ocorrerá. 
Neste aspecto, o médico apresenta um 
papel extremamente fundamental, uma 
vez que ele quem vai conduzir, junto com 
o paciente e familiares, o morrer. 
Conceitos 
 Eutanásia (boa morte): em estricto 
senso, consiste na antecipação da 
morte do paciente terminal, para 
aliviar-lhe de sofrimento (neste 
conceito, se trata de um paciente 
terminal). 
Em lato senso, consiste na 
antecipação da morte do enfermo 
que padece de intenso sofrimento em 
face de doença (não necessariamente 
um paciente terminal). Pode se dar das 
seguintes maneiras: suicídio, suicídio 
assistido ou eutanásia propriamente 
dita. No Brasil, a eutanásia é proibida. 
 
 Ortotanásia (morte no momento 
certo): consiste em permitir que o 
paciente terminal tenha a evolução 
para a morte determinada pelo 
avanço irremediável de sua doença, 
se tratando de uma morte com 
dignidade (o que nem sempre 
acontece com a dignidade necessária). 
Em outras palavras, consiste em 
“deixar que a morte aconteça no 
momento em que a doença 
determinar”. Se o paciente já se sente 
incapaz e pede para que o médico 
não o reanime ou tente o salvar, ainda 
é enquadrado em ortotanásia. 
 
 Distanásia (obstinação terapêutica): 
consiste em utilizar todos os meios 
cabíveis e possíveis para prolongar a 
vida do doente em fase terminal. Essa 
conduta não deve ser estimulada pelo 
médico, porém, é direito do paciente, 
a partir do Princípio da Autonomia, 
optar por este tratamento. No Brasil, a 
distanásia é, portanto, aceita.

Outros materiais