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ESTÁGIO SUPERVISIONADO - AVALIAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO AULA 5 Profª Sandra Aparecida Silva dos Santos CONVERSA INICIAL Bem-vindos! Nesta aula vamos conversar a respeito da imediaticidade no exercício profissional do assistente social, refletindo quanto à necessidade de rompimento com a visão imediatista da realidade dos diferentes espaços sócio-ocupacionais do serviço social. TEMA 1 – A VISÃO IMEDIATISTA DA REALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL Cotidianamente, emitimos opinião e conhecemos realidades que envolvem o dia a dia da vida pessoal e profissional. Essa visão da realidade é por vezes fragmentada e não apresenta explicitamente uma conexão com os fatores históricos e ideológicos que a compõem. Relativo ao conhecimento aprofundado da realidade, devemos compreender que o sistema capitalista de produção possui por essência a fragmentação e a naturalização dos fenômenos sociais, segundo Coelho (2008), o que dificulta a apreensão da essência, do profundo, pautando-se no aparente para a explicação dos fenômenos. No exercício profissional do assistente social, a visão e o entendimento imediatista da realidade constitui-se em risco enfrentado pelo profissional e encontra-se entre os relatos dos alunos inseridos em campos de estágio. Mas por que o assistente social por vezes reproduz um discurso imediatista? Segundo Coelho (2008), a imediaticidade ocorre quando o nível de consciência do assistente social atém-se a sua percepção, levando-o a uma apreensão imediata da realidade. Com um discurso pautado apenas na percepção, ocorre a dissociação entre a teoria a prática. Isto requer a reflexão de que é necessária uma formação em que teoria e prática estejam conectadas, requerendo do assistente social a compreensão de que no seu exercício profissional teoria e prática caminham juntas, sem se tornarem excludentes. Podemos, então, perguntar por que razão permanecem visões imediatistas e pouco aprofundadas de assistentes sociais? Historicamente, a profissão tem por objetivo manter as condições de reprodução do sistema e por ele foi chamada a atender as diferentes expressões da questão social, surgidas com o crescimento e o avanço do capitalismo. A visão era de culpabilização do indivíduo por sua situação, sem uma análise histórico-crítica da realidade vivenciada, o que leva ao imediatismo na compreensão dos fenômenos. Esta visão fragmentada é então, no movimento de reconceituação, contestada, pois, segundo Iamamoto (2009), recusa métodos alheios a nossa história. TEMA 2 – PRÁTICA E IMEDIATICIDADE A compreensão crítica da imediaticidade é essencial para a reversão, segundo Montãno (2013), de uma intervenção alienada que sustenta e reproduz as relações sociais no sistema capitalista de produção, repetitiva, sem a reflexão e a crítica que levam a mudanças e ingênua, sem o entendimento dos interesses que permeiam as relações. O imediato e sua compreensão pautada somente no que se apresenta levam a uma conduta imediatista segundo Netto (2000), citado por Coelho (2013). A conduta imediatista só é quebrada com o avanço em direção ao humano genérico – não particular – pela esfera política. É necessário avaliar a conduta se imediatista ou pautada na apreensão da realidade, com entendimento histórico-crítico da realidade que se apresenta. Entender a necessidade de superação de uma intervenção repetitiva e alienada, que se consolida sem uma análise dos reais impactos da intervenção dos interesses e valores nela intrínsecos, é prioridade no exercício profissional do assistente social. O cotidiano remete a rotina e reprodução de atitudes e tarefas sem a necessária análise e aprofundamento de causas e consequências da realidade vivenciada. Os assistentes sociais se ressentem nos diferentes espaços sócio-ocupacionais com o aprofundamento das desigualdades, fruto da exploração, da concentração de riquezas e do recuo do investimento em políticas públicas. Cabe-nos aqui realizar uma análise a respeito da realidade encontrada nos campos de estágio. De que forma se organizavam as ações do setor de serviço social? Quais eram os principais desafios para a efetivação do exercício profissional do assistente social? As estratégias e os instrumentos utilizados pelo assistente social estão, segundo Coelho (2013, p. 90), permeados de valores e interesses. Este movimento de matéria e teoria, realidade e conhecimento constitui-se de processualidade que leva ao conhecimento da realidade e à apreensão da forma de ser do ser social. O intuito é ultrapassar a imediaticidade, em um entendimento aprofundado das relações e dos interesses que permeiam essas relações, buscando, segundo Coelho (2013, p. 90), a “superação do fosso que separa a aparência da essência”. TEMA 3 – A RUPTURA NO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO A visão da realidade imediata, sem análise histórica e pautada na manutenção do sistema capitalista, é contestada no movimento de reconceituação. Tal movimento constitui-se em marco essencial da ruptura do serviço social com o conservadorismo que, segundo Iamamoto (2009), recusa métodos alheios a nossa história, expressando um amplo questionamento da profissão. O movimento de reconceituação questiona, então, as finalidades, os fundamentos e o compromisso ético da profissão, realizando reflexões quanto ao compromisso ético-político desta, aprofundando a formação profissional e a utilização de instrumentos operativos. Assim, ocorre a recusa de teorias e métodos que não consideram a historicidade dos fenômenos sociais, afirmando compromisso com a luta dos oprimidos e com a transformação social, buscando imprimir um caráter científico às atividades realizadas pelo assistente social. O entendimento das relações sociais na sociedade capitalista na teoria social crítica, para Iamamoto (2009), significa entender de que forma se reproduzem as relações de trabalho e de vida no cotidiano das relações sociais, pontuando que a reproduções dessas relações mantém as formas de exploração do sistema capitalista. E o que quer dizer reprodução das relações sociais? Devemos refletir que, de acordo com Iamamoto (2009), a reprodução das relações sociais refere-se à reprodução da força de trabalho e dos meios de produção, que estão relacionados a reprodução das relações de poder, antagonismos de classe, reprodução da vida material e reprodução da vida espiritual entendidas como formas de consciência sociais, jurídicas, religiosas, artísticas, filosóficas e científicas. Esse modo de vida, segundo Iamamoto (2009, p. 10), leva a contradições importantes em que convivem liberdade e “igualdade jurídica dos cidadãos livres” com a desigualdade econômica em relação de exploração do trabalho. TEMA 4 – ROMPENDO COM A VISÃO IMEDIATISTA Vimos que a visão imediatista da realidade diz respeito ao entendimento da realidade em nível perceptivo, não aprofundado e sem viés histórico crítico e que a percepção imediata da realidade pelo assistente social também se relaciona à história da profissão com uma intervenção assistencialista e benevolente ligada aos serviços prestados pela Igreja católica. De que forma podemos romper com a visão imediatista da realidade? Coelho (2008) afirma que a visão imediatista da realidade pode ser superada pelo conhecimento da realidade. Conhecer a realidade significa desvelar, romper com a aparência para conseguir enxergar a essência. E de que forma apreender a essência, expandindo os limites de compreensão da realidade? Segundo Coelho (2008), para a apreensão da essência é necessário que a consciência se movimente dialeticamente conectando complexos sociais da totalidade do ser. Essa conexão com a totalidade supera o plano do pensamento, do achar que, rompendo com a imediaticidade. É necessário conectar-se com o todo para o entendimento da realidade. O local não está desconectado do global e é por este produzido. São necessários visão mais ampla, reflexão crítica e entendimento aprofundado para o rompimento com a visãoimediata. O alcance da razão dialética requer aprofundar a percepção, buscando o entendimento. Deve ocorrer, de acordo com Coelho (2008), para o alcance da razão dialética a elevação de um estágio para outro. A elevação do estágio de consciência para o estágio da razão dialética leva a uma conexão da teoria e da ação (Coelho, 2008). Temos, então, o entendimento de que, para conectar teoria e ação, faz-se necessária a compreensão da realidade sob parâmetro dialético crítico, o que nos remete a discussão quanto aos desafios para o alcance da visão não imediatista no exercício profissional do assistente social. TEMA 5 – DESAFIOS PARA O ALCANCE DA VISÃO NÃO IMEDIATISTA Apesar dos avanços na profissão e nas transformações advindas do entendimento crítico reflexivo da realidade social, ainda temos por desafio avançar para a ruptura com a visão imediatista no exercício profissional do assistente social. A respeito da permanência da visão imediatista, podemos inferir que o tradicional convive com o novo e que a reprodução do modelo de atuação profissional tradicional ainda permanece no exercício profissional do assistente social na atualidade. Cabe-nos aqui reforçar a importância da formação e da atuação do assistente social com perfil propositivo e crítico. A atuação propositiva e crítica possibilita o rompimento com a visão imediata da realidade social, permitindo a reflexão, a apreensão da realidade de forma aprofundada e, consequentemente, a proposição de projetos de atuação com foco nas causas reais dos fenômenos. E aqui também cabe refletir a respeito da importância da formação da identidade profissional do assistente social. A ausência de identidade profissional, segundo Martinelli (2003), determina um percurso alienado, alienante e alienador do assistente social. E o que isso significa? Ao realizar um percurso alienado, o assistente social não desmistifica a realidade social e não compreende as implicações ideológicas de manutenção da realidade de exploração. Ao reproduzir o discurso e o entendimento alienados, o assistente social contribui para a alienação e aliena, deixando de romper com suas atribuições tradicionais, em que “a identidade atribuída ao Serviço Social [...] era uma síntese de funções econômicas e ideológicas, que se expressava [...] como mecanismo de reprodução das relações sociais [...] uma estratégia para garantir a expansão do capital” (Martinelli, 2007, p.124). NA PRÁTICA Refletir a respeito do entendimento imediatista da realidade no exercício profissional do assistente social constitui-se em necessidade constante. É preciso estarmos atentos à repetição do discurso comum e que busca reproduzir a realidade posta. Reflita com seus supervisores quanto aos cuidados necessários para o rompimento do entendimento imediato da realidade. FINALIZANDO O serviço social em sua trajetória histórica realiza movimento de rompimento com a reprodução da exploração e da desigualdade, e o rompimento com a visão imediatista da realidade social é imprescindível ao assistente social a fim de expressar coerência com o projeto ético-político da profissão. REFERÊNCIAS COELHO, M. A. Imediaticidade na prática profissional do assistente social. 388 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. _____. Imediaticidade na prática profissional do assistente social. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na cena contemporânea. In: Serviço social direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009. MARTINELLI, M. L. Serviço social: identidade e alienação. Brasília: Cortez, 2007. MONTÃNO, C. Prefácio. In: COELHO, M. A. Imediaticidade na prática profissional do assistente social. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. RAICHELIS, R. O trabalho do assistente social na esfera estatal. In: Serviço social direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009.
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