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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso – TIA 41916697 Email: victoriamontezino@gmail.com GRUPO DE ESTUDOS SIDH – RELATÓRIO REUNIÃO 27.05.2022 Professora Orly Kibrit Victoria Montezino Pagliuso – TIA 41916697 Caso 1 – Garibaldi x Brasil – Quarto caso brasileiro na CIDH Vítimas: Iracema Cioato Garibaldi, viúva de Sétimo Garibaldi, e seus seis filhos, Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e Alexandre Garibaldi. Contexto: No dia 27 de novembro de 1988, Sétimo Garibaldi, trabalhador rural da cidade de Querência do Norte (PR), morreu após ser baleado na coxa por pistoleiros que realizavam a operação extrajudicial de despejo de famílias ligadas ao MST. A Fazenda São francisco havia sido ocupada no mesmo mês e pertencia aos irmãos Favoreto, ligados à entidade ruralista (UDR) que impulsionava a onda de violência enfrentada pelo estado naquele ano. Investigação: O inquérito policial foi instaurado no mesmo dia, que constatou que Morival Favoreto e Ailton Lobato faziam parte do grupo responsável pelo procedimento extrajudicial. Após tal constatação, Ailton Lobato foi detido em flagrante por portar arma de fogo sem registro ou licença, além de testemunhas o terem visto com Favoreto entre os integrantes do grupo. Após 9 de dezembro, quando foi solicitada a prisão dos delinquentes, nada mais foi feito a não ser o indeferimento do pedido sem qualquer justificativa. Pedidos de prorrogação de prazo e não realização de diligências acabaram levando ao arquivamento da investigação em 2004 sem qualquer determinação de autoria do crime. Anos depois, em 2009, uma promotora do Ministério Público do Paraná solicitou desarquivamento após declarações de testemunha no processo que corria perante a corte. A corte: Indignados com o tratamento dado pelo estado, a Justiça Global, UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso – TIA 41916697 Email: victoriamontezino@gmail.com a Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entraram com petição na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em maio de 2003, com o objetivo de denunciar as violações sofridas por Sétimo e sua família. O Estado ignorou as solicitações de informação da corte, o que fez com que fosse possível que se julgasse a admissibilidade do mérito, sendo admitido em 2007 e responsabilizando o Brasil pelas violações de direitos humanos, emitindo certas recomendações. Certo tempo depois foi realizada uma reunião de trabalho sobre a implementação das medidas determinadas e os pedidos de prorrogação de prazo para sua aplicação, remetendo o caso à Corte IDH em dezembro de 2007. Visto que a morte do trabalhador se deu após o reconhecimento da competência do tribunal pelo Brasil, a corte se ateve apenas aos fatos ocorridos após essa data. Na sentença houve a condenação do Brasil pela violação dos direitos e proteção judicial previstos na Convenção Americana, em prejuízo das vítimas acima citadas. Violações analisadas: impunidade (artigo 8.1 e 25.1 da Convenção Interamericana) e ausência de políticas públicas que evitassem a morte do trabalhador (artigo 28 e 2), garantias judiciais e proteção judicial. Determinações: pagamento de valores aos familiares que somavam 178 mil dólares (indenização em danos materiais e imateriais, custas e gastos dos processos em no máximo um ano), publicação da sentença, investigação para que se possa determinar responsabilidade pela morte e eventuais faltas funcionais dos agentes incumbidos do inquérito dentro de prazo razoável. Supervisão por parte da corte em relação ao cumprimento íntegro da sentença. Cumprimento da sentença: Foram publicados dois relatórios de supervisão (2011 e 2012) que constatou como pontos resolutivos a publicação da sentença, a reabertura do inquérito policial e o pagamento de indenização. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso – TIA 41916697 Email: victoriamontezino@gmail.com Caso 2 – Povo Indígena Xucuru x Brasil – Oitavo caso brasileiro na CIDH. Vítimas: Povo Indígena Xucuru Contexto: O povo Xucuru tem suas primeiras referências históricas de habitação desde o século 16. Entretanto, o processo de demarcação de terras só teve início no ano de 1989, após a promulgação da Constituição Federal, que garantiu aos povos indigenas a posse de terras tradicionalmente ocupadas, sendo este a situação observada. A demora na realização deste procedimento levou a atritos entre indígenas e não indígenas que levaram a morte de lideranças Xucuru, inclusive da maior autoridade: o cacique. Apesar do processo ter sido realizado, o Estado não promoveu a desintrusão total do território, até o momento em que a sentença da Corte Interamericana foi proferida. A corte: Em 2002, o Movimento Nacional de Direitos Humanos/Regional Nordeste, o Gabinete de Assessoria Jurídica das Organizações Populares (Gajop) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) protocolaram petição na CIDH, onde denunciavam as diversas violações de direitos humanos sofridas pelo Povo Xucuru. Quando questionado, o país alegou o esgotamento de recursos internos, argumento refutado por meio de relatório de admissibilidade da petição em 2009. Em 2015, a CIDH entregou o relatório de mérito que considerava o Brasil responsável por todas as violações alegadas na petição que afetaram o povo e seus membros. No tal relatório constavam recomendações ao Estado que promovessem uma transformação estrutural e a compensação do prejuízo sofrido pelos indígenas. Ainda, leveram em consideração que o reconhecimento de competência ocorrido em 1998 não fez com que problemas parecidos continuassem a acontecer anos após. Den quatro exceções preliminares, a corte admitiu uma e negou outras UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso – TIA 41916697 Email: victoriamontezino@gmail.com três. Ainda, condenou o Brasil pela violação dos direitos à garantia de prazo judicial razoável, proteção judicial e propriedade coletiva, além da obrigação de respeitar e garantir os direitos. Violações analisadas: direito à propriedade coletiva (artigos 21, 8.1 e 25), prazo extendido de processo demarcatório, falta de reconhecimento oportuno, proteção eficaz e não fiscalização de desintrusão (artigo 5.1). Determinações: pagamento de custas e gastos, indenização, publicação da sentença, garantia do direito de propriedade coletiva, benfeitorias e remoção de obstáculos ou intereferências sobre o território em questão. Cumprimento da sentença: O único relatório de supervisão do cumprimento da sentença foi publicado em 2019. A sentença foi publicada, em 2020 o estado realizou o pagamento da reparação devida. Entretanto, processos que ameaçam o direito de posse do povo ainda tramitam, o Brasil ainda não concluiu a desintrusão e o pagamento de indenizações por benfeitorias nao foi terminado.
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