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PARECER JURÍDICO SOBRE CASO POVO INDÍGENA XUCURU

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PARECER JURÍDICO SOBRE CASO POVO INDÍGENA XUCURU
EMENTA: VALIDADE DE SENTENÇA
INTERESSADO: FMU
DATA: 23/08/2021
1. RELATÓRIO
 Trata-se de parecer sobre validade de sentença perante o ordenamento jurídico do caso envolvendo o povo indígena Xucuru.
 É o relatório, passa-se ao parecer opinativo.
 A Corte Interamericana de Direitos Humanos publicou, em 5 de fevereiro de 2018, sentença que responsabiliza o Estado brasileiro no tocante à violação do direito à garantia judicial de prazo razoável, à proteção judicial e à propriedade coletiva do Povo Indígena Xucuru, no Estado de Pernambuco.
 O objetivo do presente artigo é analisar criticamente a recente sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos acerca do caso do Povo Indígena Xucuru e seus Membros v. Brasil. O presente artigo é original porque utiliza em sua estrutura a técnica francesa de um Commentaire d’Arrêt, adaptada à longa extensão de uma decisão tomada por uma corte internacional. O método de pesquisa empregado é o indutivo e as fontes utilizadas são bibliográficas e documentais. A Corte examinou a demora de mais de 16 anos no procedimento administrativo de demarcação do território tradicional deste povo, e a demora de 17 anos na desintrusão total desse território, iniciada em 2001 e pendente até́ os dias atuais. Somados a estes fatos a Corte avaliou a demora em resolver ações civis iniciadas por pessoas não indígenas com reivindicações sobre parte do território tradicional dos Xucuru. Essa demora do Estado em dar um desfecho para o procedimento administrativo e para os processos judiciais correlacionados gerou um contexto de violência e tensão social, mas, devido às limitações procedimentais do caso, a Corte não examinou estes fatos em toda sua extensão. Após a análise dos fundamentos da sentença no que se refere aos artigos declarados como violados e não violados, bem como às reparações ordenadas pela Corte, o artigo conclui que, apesar da importância do caso, a decisão não é suficiente para promover impacto em outros casos indígenas semelhantes existentes no Brasil e na América Latina.
 Os direitos dos povos indígenas sobre suas terras, territórios e recursos são garantidos pela Constituição Federal de 1988. Seu artigo 20 determina que as áreas indígenas são propriedade da União, que concede a posse permanente e o usufruto exclusivo dos recursos aos indígenas.
 Atualmente, o processo de demarcação das terras indígenas, que oferece maior segurança jurídica a esse direito, é regulamentado pelo Decreto No. 1775/96 e pela Portaria do Ministério da Justiça No. 14/96. Tal processo compreende cinco etapas, ocorrendo por iniciativa e sob a orientação da Fundação Nacional do Índio (Funai).
 O processo administrativo tem início quando a Funai toma conhecimento de uma terra indígena, ou a pedido dos próprios indígenas ou de organizações não governamentais. Na primeira etapa, de identificação e delimitação, é feito um estudo antropológico. Caso ele seja aprovado, a Funai publica relatório e, a partir disso, estados, municípios e demais interessados têm 90 dias para apresentar contestação.
 Na fase de declaração, a Funai analisa as objeções e emite parecer. Caso seja positivo, o procedimento administrativo é enviado para o Ministério da Justiça. Se a pasta ministerial aprovar, a terra é declarada mediante uma portaria, que determina a demarcação administrativa da área. Na etapa seguinte, há a demarcação física, com um estudo detalhado da área.
 Na quarta etapa, há a homologação por decreto presidencial, ato que reconhece juridicamente a nova terra indígena, bem como a ocupação indígena. A partir disso, são considerados nulos os atos que tenham por objeto a ocupação, domínio e posse das terras, sendo extintos qualquer título de propriedade sobre a área demarcada e autorizada a retirada dos ocupantes não indígenas. Na quinta e última etapa, a Funai promove o registro imobiliário do território na comarca correspondente e na Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
 Uma das terras indígenas atualmente reconhecida ocupa território no agreste pernambucano. As primeiras referências históricas do povo indígena Xucuru remontam ao século XVI e uma série de documentos históricos do governo local descrevem as áreas ocupadas pela população ao longo do século XVIII. Atualmente, o povo Xucuru de Ororubá, composto por cerca de 2,3 mil famílias, ocupa uma área de 27.555 hectares, no município de Pesqueira (PE), a 216 km de Recife. Além dos mais de 7,7 mil moradores da Terra Indígena (TI) Xucuru, que têm organização política e estruturas de poder próprias, há cerca de 4 mil indígenas vivendo fora da TI, na cidade de Pesqueira.
 O processo demarcatório do território Xucuru iniciou-se em 1989, quando foi criado Grupo Técnico para realizar a identificação e a delimitação da área. À época, o procedimento era regulamentado pelo Decreto No. 94.945, de 1987. O Relatório de Identificação, emitido em setembro de 1989, mostrou que os Xucuru tinham direito a uma área de 26.980 hectares. O parecer foi aprovado pelo presidente da Funai em março de 1992, e em maio do mesmo ano, o Ministério da Justiça concedeu a posse permanente da terra mediante uma portaria. Em 1995, a extensão do território Xucuru oi retificada, determinando-se área de 27.555 hectares, ocorrendo posteriormente a demarcação física do território.
 Em janeiro de 1996, porém, foi promulgado o decreto que atualmente regulamenta o processo demarcatório, dando direito a terceiros interessados no território de impugnar o processo e de interpor ações judiciais por seu direito à propriedade, além de solicitar indenizações. Nos processos que já estavam em andamento, os interessados tinham 90 dias para manifestar-se, a partir da publicação do decreto.
 Após a mudança normativa, foram interpostas 270 objeções contra o processo demarcatório do território Xucuru por interessados, incluindo o município de Pesqueira. Em junho de 1996, o Ministério da Justiça declarou todas as objeções improcedentes, mas os interessados apresentaram Mandado de Segurança perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em maio de 1997, o STJ decidiu a favor dos terceiros interessados, concedendo um novo prazo para as objeções administrativas. As novas objeções foram também recusadas pelo Ministro da Justiça, que reafirmou a necessidade de se continuar a demarcação.
 Em 30 de abril de 2001, após período em que a Corte não dispõe de informações sobre o processo, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, expediu decreto presidencial que homologou a demarcação da Terra Indígena Xucuru, publicado no Diário Oficial da União dois dias depois.
 Dando seguimento ao processo demarcatório, a Funai solicitou o registro do território junto ao Registro de Imóveis de Pesqueira, em 17 de maio de 2001. Fora do prazo, porém, em agosto de 2002, o Oficial de Registro de Imóveis de Pesqueira interpôs uma ação de suscitação de dúvida, questionando aspectos formais da solicitação. A legalidade do registro de imóveis foi emitida pela 12ª Vara Federal em 22 de junho de 2005, sendo executada a titulação da Terra Indígena em 18 de novembro daquele ano.
 O processo de cadastro dos ocupantes não indígenas foi concluído em 2007, resultando em 624 áreas. O pagamento de indenizações por benfeitorias de boa-fé, previsto no processo de demarcação, foi iniciado em 2001, e o último pagamento ocorreu em 2013, totalizando 523 ocupantes não indígenas indenizados.
 Das 101 terras restantes, 19 pertenciam aos próprios indígenas, e as outras 82 eram de não indígenas, sendo que 75 dessas áreas foram ocupadas pelos Xucuru entre 1992 e 2012. Até a emissão da sentença da Corte Interamericana, 45 ex-ocupantes não indígenas ainda não haviam recebido indenização e seis não indígenas ainda permaneciam dentro da Terra Indígena Xucuru.
 Paralelamente ao processo de demarcação da TI, ocupantesnão indígenas moveram ações judiciais contra o povo Xucuru. Em março de 1992, Milton do Rego Barros Didier e Maria Edite Didier apresentaram uma ação de reintegração de posse em detrimento dos Xucuru e também do Ministério Público Federal (MPF), a Funai e a União. A ação se referia a uma fazenda de cerca de 300 hectares que estava dentro do território e que havia sido ocupada por cerca de 350 indígenas em 1992.
 Após conflito de competência que atrasou o trâmite do processo, a ação foi enviada à 9ª Vara Federal de Pernambuco, que em julho de 1998 emitiu sentença favorável aos não indígenas. Tanto Funai, quanto o MPF, a União e o povo Xucuru apresentaram recursos à decisão. A maioria deles foi negado sucessivamente, em 2003, 2007 e 2012, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) e também pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Um embargo de declaração movido pela União teve decisão favorável em maio de 2011, mas a sentença da ação de reintegração de posse transitou em julgado em 28 de março de 2014, com a decisão favorável aos não indígenas.
 Em março de 2016, já após o relatório de mérito da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a Funai interpôs ação rescisória com o objetivo de anular a sentença por descumprimento do direito ao contraditório e ampla defesa. Até a sentença da Corte Interamericana, a decisão do TRF-5 continuava pendente e a disputa pelos 300 hectares dentro do território Xucuru ainda não tinha solução definitiva.
 Em 2002, outros oito ocupantes de cinco imóveis localizados dentro do território Xucuru interpuseram ação ordinária, solicitando a anulação do processo administrativo de demarcação em relação a esses imóveis. Os autores da ação alegavam que a demarcação deveria ser anulada porque eles não haviam sido notificados pessoalmente para apresentar suas objeções ao processo administrativo.
 Em junho de 2010, a 12ª Vara Federal de Pernambuco deu decisão parcialmente favorável à ação, excluindo a União como parte demandada e determinando que os autores tinham direito de receber cerca de R$1,4 milhão de reais de indenização da Funai, em valores da época.
 Funai e União recorreram da sentença junto ao TRF-5, que reformou a decisão da primeira instância em julho de 2012, restabelecendo a União como parte da demanda e reconhecendo vícios no processo de demarcação da TI Xucuru. Pela gravidade da medida, os desembargadores não declararam a nulidade do processo demarcatório, mas foi estabelecido o pagamento de indenização por perdas e danos a favor dos autores da ação.
 Recursos especial e extraordinário foram interpostos pela Funai em dezembro de 2012, no STJ e no Supremo Tribunal Federal (STF), respectivamente. Até a publicação da sentença da Corte, as decisões ainda estavam pendentes.
 Para além de ações judiciais contrárias, as duas décadas em que perduraram o processo de demarcação da Terra Indígena Xucuru também foram marcadas por hostilidades e um contexto de insegurança e ameaças, inclusive com a morte de diversas lideranças indígenas da comunidade. Em setembro de 1992, foi morto José Everaldo Rodrigues Bispo, filho do Pajé do povo Xucuru. Menos de três anos depois, em maio de 1995, o representante da Funai e defensor dos indígenas Geraldo Rolim também foi morto.
 O ponto mais marcante da violência ocorrida durante o processo demarcatório ocorreu em 21 de maio de 1998, quando o Cacique Xicão, chefe dos Xucuru, foi assassinado. O inquérito policial determinou o fazendeiro José Cordeiro de Santana, que ocupava parte do território indígena, como autor intelectual. Conhecido como “Zé de Riva”, ele se matou enquanto estava detido pela Polícia Federal.
 O autor material, identificado como “Ricardo”, morreu no Maranhão, em acontecimento não relacionado ao caso. Já Rivaldo Cavalcanti de Siqueira, apontado como intermediário entre o fazendeiro e o assassino, foi acusado como autor de homicídio simples pelo MPF em agosto de 2002. Em novembro de 2004, o Tribunal do Júri da 16ª Vara Federal de Pernambuco condenou Siqueira a 19 anos de prisão. Conhecido como “Riva de Alceu”, ele foi assassinado dentro da penitenciária em que cumpria pena, em 2006.
 Após a morte de Xicão, seu filho e sucessor, Cacique Marcos, bem como sua mãe, Zenilda Maria de Araújo, também passaram a receber ameaças de morte. Na mesma data em que foi apresentada a petição perante a Comissão Interamericana, em outubro de 2002, as organizações responsáveis pela peça solicitaram medidas cautelares com a finalidade de garantir a vida e a integridade de Cacique Marcos e de sua mãe. O pedido foi atendido pela CIDH em 29 de outubro de 2002. O órgão solicitou que o Estado adotasse medidas para proteger a ambos e que iniciasse investigação a respeito dos fatos. As medidas cautelares foram sucessivamente prorrogadas e continuavam em vigor na data da sentença da Corte.
 A presença de ocupantes não indígenas ao longo do processo demarcatório também provocou conflitos internos entre os próprios Xucuru. Em fevereiro de 2003, o Cacique Marcos sofreu um atentado contra sua vida, que resultou na morte de dois indígenas. O ataque foi atribuído a uma dissidência Xucuru denominada “Grupo de Biá” ou “Xucurus de Cimbres”, que divergia em relação ao desenvolvimento de projetos turísticos dentro da área demarcada.
 Além das medidas cautelares solicitadas pela Comissão Interamericana, em março de 2003, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) criou uma Comissão Especial com o objetivo de acompanhar a investigação de tentativa de homicídio contra o Cacique Marcos e os fatos relacionados. Anos depois, em 2008, o cacique foi incluído no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos de Pernambuco.
2. CONCLUSÃO
 Ante o exposto, conclui-se que a sentença, no âmbito do ordenamento jurídico atende parcialmente as reinvindicações do povo indígena Xucuru, uma vez que não se pode reparar os danos e sucessivos erros dos sucessivos governos que não respeitam dos direitos fundamentais, principalmente das minorias como são os povos indígenas, que dia após dia, veem principalmente suas terras serem expropriadas a luz do dia e aos olhos das autoridades que assistem passivamente a população indígena perder sua identidade, luta e moral.
 Não é difícil a compreensão da morosidade de mais uma década na tramitação de um processo que para uma parcela da população poderia decretar seu fim e a na outra ponta grandes empresários e políticos que almejavam auferir lucros explorando as terras do povo Xucuru, não fosse a atuação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, teríamos presenciado a extinção de um povo em detrimento do sentimento capitalista de outra minoria, mas desta vez a minoria dos grandes empresários com sua ganancia desenfreada.
Este é o nosso entendimento.
S.M.J.
Itupeva-SP, 23 de agosto de 2021.
Wellington Alves de Lima
Discente FMU
 
Bibliografia
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/julho/sentenca-cidh-caso-do-povo-indigena-xucuru-e-seus-membros-vs-brasil
http://revista.ibdh.org.br/index.php/ibdh/article/view/413
https://reubrasil.jor.br/caso-do-povo-indigena-xucuru-e-seus-membros-versus-brasil/

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