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DAVID DOS SANTOS CALDAS LORENA DE MELO ZAGO SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: Selo AQUA BRASÍLIA 2017 DAVID DOS SANTOS CALDAS LORENA DE MELO ZAGO SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: Selo AQUA Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Engenharia Civil, apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: Prof. MSc. Ly Freitas BRASÍLIA 2017 DAVID DOS SANTOS CALDAS LORENA DE MELO ZAGO SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: Selo AQUA Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Engenharia Civil, apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: Prof. MSc. Ly Freitas Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista - UNIP Dedico este estudo a Deus por ter me guiado em todo este curso e permitido que eu o concluísse. Obrigado Senhor! David A Deus dedico este trabalho, por ser extremamente paciente e piedoso comigo... Aos meus pais que foram companheiros em todas as horas! Lorena AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Prof. Dr. Ly Freitas pelas orientações e palavras de ânimo durante todo este processo da elaboração deste trabalho. A minhas filhas pela compreensão, paciência e coragem que me deram nessa caminhada. E, a todos meus familiares que, mesmo distantes, me apoiaram o tempo todo. Agradeço a colega Lorena por partilhar este trabalho comigo. David Ao Prof. Dr. Ly Freitas, me orientou em todas as etapas deste trabalho. A minha família, pela confiança e motivação. Ao meu esposo pelo incentivo aos meus estudos. Aos amigos e colegas, pela força e pela vibração em relação a esta jornada. Ao professor coordenador de TCC que sempre me incentivou a estudar mais para dar maior qualidade à minha monografia. Lorena “As cidades também refletem os danos ambientais causados pela civilização moderna; entretanto, os especialistas e os formuladores de políticas reconhecem cada vez mais o valor potencial das cidades para a sustentabilidade a longo prazo. Mesmo que as cidades gerem problemas ambientais, elas também contêm as soluções. Os benefícios potenciais da urbanização compensam amplamente suas desvantagens.” Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 2007. RESUMO Este estudo tem por objetivo geral analisar a Sustentabilidade na Construção Civil: Selo AQUA e, como objetivos específicos Apresentar os conceitos, origem e histórico relacionados à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável; Identificar a sustentabilidade na construção civil, com suas vantagens e desvantagens, indicando o que pode ser feito para minimizar os efeitos causados ao meio ambiente; e, Apresentar o Selo AQUA como elemento importante na construção civil. A sustentabilidade aplicada à construção civil é um tema de extrema importância atual, já que a indústria da construção, uma das indústrias em constante ascensão causa grande impacto ambiental ao longo de sua cadeia produtiva. Pode-se citar como práticas correntes que agravam tal impacto: extração de matérias primas diretamente da natureza, produção e transporte de materiais, construção de edifícios e consequente ocupação de terras, geração de grande quantidade de resíduos sólidos, entre outros. O processo Selo AQUA visa garantir a qualidade ambiental de um empreendimento novo de construção ou reabilitação utilizando-se de auditorias independentes. A Construção Civil no Brasil é reconhecida como uma das atividades mais importante para o desenvolvimento econômico e social do país, e por outro lado, é uma das maiores vilãs para o ecossistema, sendo uma grande geradora de impactos ambientais, seja pelo consumo de recursos naturais, pela modificação da paisagem ou pela geração de resíduos. A metodologia utilizada neste trabalho partiu para a elaboração do assunto em questão com consulta a livros, revistas eletrônicas, artigos, monografias e sites referentes ao tema abordado, sendo realizada uma pesquisa bibliográfica. Conclui- se que a sociedade como um todo deve impor regras ao crescimento, à exploração e à distribuição dos recursos a fim de garantir as condições de vida no planeta. Palavras-chave: Sustentabilidade. Desenvolvimento sustentável. Construção Civil. Selo AQUA. ABSTRACT This study has as general objective to analyze Sustainability in Civil Construction: AQUA Seal and, as specific objectives To present the concepts, origin and history related to sustainability and sustainable development; Identify sustainability in construction, with its advantages and disadvantages, indicating what can be done to minimize the effects caused to the environment; and, Presenting the AQUA Seal as an important element in civil construction. Sustainability applied to civil construction is a topic of extreme importance today, as the construction industry; one of the industries in constant rise has a great environmental impact along its productive chain. It can be mentioned as current practices that exacerbate this impact: extraction of raw materials directly from nature, production and transportation of materials, construction of buildings and consequent occupation of land, generation of large amount of solid waste, among others. Selo AQUA aims to guarantee the environmental quality of a new construction or rehabilitation project using independent audits. Civil Construction in Brazil is recognized as one of the most important activities for the economic and social development of the country, and on the other hand, it is one of the greatest villains for the ecosystem, being a great generator of environmental impacts, either by the consumption of natural resources, by the modification of the landscape or by the generation of waste. The methodology used in this work started with the elaboration of the subject in question with reference to books, electronic journals, articles, monographs and sites referring to the topic addressed, and a bibliographical research was carried out. It is concluded that society as a whole should impose rules on the growth, exploitation and distribution of resources in order to guarantee living conditions on the planet. Keywords: Sustainability. Sustainable development. Construction. AQUA seal. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Aspectos relevantes do Sistema de Gestão do Empreendimento ............. 39 Figura 2 - Categorias do Processo AQUA ................................................................. 40 Figura 3 - Benefícios do Processo AQUA ................................................................. 42 Figura 4- Categorias de avaliação ............................................................................. 43 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10 1.1 Problema de Pesquisa.......................................................................................12 1.2 Objetivos.............................................................................................................12 1.2.1 Objetivo Geral....................................................................................................12 1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................................12 1.3 Justificativa.........................................................................................................13 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 14 2.1 Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável ......................................... 14 2.1.1 Sustentabilidade ............................................................................................... 14 2.1.1.1 Conceitos ...................................................................................................... 14 2.1.2 Desenvolvimento Sustentável .......................................................................... 17 2.1.2.1 Conceitos ...................................................................................................... 17 2.1.2.2 Histórico ........................................................................................................ 19 2.2 Sustentabilidade na Construção Civil ............................................................. 23 2.3 Selo AQUA ......................................................................................................... 33 2.3.1 Fundação Vanzolini .......................................................................................... 35 2.3.2 Certificação AQUA ........................................................................................... 36 2.3.3 Selo AQUA ....................................................................................................... 41 2.3.4 Vantagens, benefícios e importância do Selo AQUA ....................................... 44 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49 10 1 INTRODUÇÃO Desde as civilizações mais antigas, a construção civil sempre existiu. Ao perpassar a história do mundo constata-se que a finalidade da construção civil sempre foi atender as necessidades básicas e imediatas do homem, sem preocupação com a técnica aprimorada, em um primeiro momento. A construção civil desenvolve atividades que buscam melhorar as condições de vida do ser humano em sociedade, procurando atender suas necessidades básicas e imediatas sem a preocupação com a degradação ambiental. Diante destas constatações, as consequências devido aos erros e hábitos predatórios ao meio ambiente de gerações passadas são sentidas por todas as nações. No Brasil e no mundo são vivenciadas a cada dia questões como aquecimento global, desertificação e degelo polar, excesso de resíduos sólidos, escassez de recursos naturais, enchentes e poluição do solo, da água e do ar. É importante que toda a sociedade de todas as nações, frente a este cenário comece a pensar e direcionar as construções civis para que se tornem sustentáveis e que sejam capazes de minimizar estes impactos ao meio ambiente. A conceituação de sustentabilidade na construção civil varia de acordo com a posição em que se encontra o etimologista. Na literatura vigente encontram-se vários autores que a conceituam emprestando-lhe um enfoque pessoal concomitante à área que lhe é familiar: o ecologista, o biólogo, o engenheiro e até o leigo. Este, no entanto, consciente de sua responsabilidade e inserção no meio em que vive. Na década de 1980, iniciou-se o debate sobre o tema da sustentabilidade com o Relatório de Brundtland (1987). Segundo definição geral deste relatório, sustentabilidade consistia em “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. Desta forma, surgiram pesquisas e estudos em todo o mundo que levariam a tópicos relevantes para que se tenha uma construção sustentável nos paramentos vigentes quanto às questões ambientais. Diante de estudos e pesquisas analisadas se fez necessário a reflexão acerca da abrangência dos conceitos de sustentabilidade e, principalmente a possibilidade de alterar os parâmetros vigentes para que se possam obter construções com base cada vez mais sustentáveis. 11 Ao desenvolvimento sustentável, o homem tem direito de tal forma que responda equitativamente às necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes. Este é o denominado Princípio do Desenvolvimento Sustentável, encontrado no caput do art. 225, da Constituição Federal de 1988, no Brasil, no trecho que diz: "[...] preservá-lo para as presentes e futuras gerações", e definido como aquele que "atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades", conceito dado pela Comissão Mundial sobre meio ambiente, em 1972. O homem, diferencialmente dos demais seres vivos, pode ser qualificado por possuir inúmeras características. Uma delas é o dinamismo de produzir e transformar continuamente suas técnicas por meio de aperfeiçoamento e estudo contínuo dos resultados. Houve necessidade e exigência de qualificação de técnicas mais apropriadas e vantajosas voltadas à construção de edifícios cada vez mais sustentáveis, com o crescimento e avanço da constituição das cidades, devido a vários fatores surgidos ao longo do tempo. Na sociedade contemporânea tornou-se urgente que as características técnicas que propiciem a execução de um edifício ecologicamente correto fossem identificadas. Podem ser citadas, entre várias outras características para atender às exigências do mercado, no mundo moderno, o condicionamento do ar, posicionamento de fachada em relação ao nascente/poente do sol, destinação de resíduos sólidos, reuso de água, entre outros. Outro ponto a ser observado se faz necessário na construção civil que se trata de uma profunda reflexão das principais causas de um estudo preliminar inadequado ou apressado da fase inicial do projeto, tais como: falta de observação da orientação magnética, análise incoerente quanto ao correto uso da edificação, preocupação somente com questões financeiras construtivas sem projeção de custos de manutenção da edificação, entre outras. Para responder ao desafio da construção civil, este setor tem possíveis alternativas que conciliam a atividade do mesmo, importante para o desenvolvimento do país, com práticas sustentáveis, conscientes e menos agressivas à natureza. Para ajudar na busca dessas novas práticas surgiu o uso de certificações. Entre os sistemas de certificação ambiental utilizados no Brasil podem se destacar: o processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA), sistema de certificação de 12 empreendimentos sustentáveis brasileiro, sendo este uma adaptação do já existente sistema francês, Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale) desenvolvido em 2002. O Selo AQUA foi reformulado às particularidades do Brasil pela Fundação Vanzolini e por especialistas do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 2009; Com o aumento da demanda pela consciência ambiental na construção civil, a utilização de certificações vem se mostrando mais evidente nos últimos anos, no mundo e no Brasil. Das 10 principais certificações existentes no país, O LEED e o AQUA são as que se diferem em alguns aspectos. No entanto, este estudo procura mostrar do que se trata a certificação do Selo AQUA no Brasil, na construção civil. 1.1 Problema de PesquisaDiante do exposto, questiona-se: Há necessidade de sustentabilidade na construção civil para que a empresa consiga o Selo AQUA? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral: Analisar a Sustentabilidade na Construção Civil no que se refere ao Selo AQUA. 1.2.2 Objetivos Específicos: Apresentar os conceitos, origem e histórico relacionados à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável; Identificar a sustentabilidade na construção civil, suas vantagens e desvantagens, indicando o que pode ser feito para minimizar os efeitos causados ao meio ambiente; Apresentar o Selo AQUA como elemento importante na construção civil. 13 1.3 Justificativa O que justifica este trabalho é a responsabilidade social e coletiva de todos preservarem o maior patrimônio do planeta o “meio ambiente”, e é preciso proteger, normatizar e legalizar leis que possuam política de preservação e que haja fiscalização por parte dos órgãos competentes para que os seres humanos possuam consciência ambiental no planeta. Os cidadãos necessitam exercer seus papéis, defender e iniciar o processo de conscientização para que as riquezas naturais perdurem por longas gerações. A metodologia utilizada neste trabalho partiu para a elaboração do assunto em questão com consulta a livros, revistas eletrônicas, artigos, monografias e sites referentes ao tema abordado, sendo realizada uma pesquisa bibliográfica. A presente monografia está estruturada em cinco capítulos, contando com as considerações iniciais e finais, além de três capítulos no corpo do trabalho. O primeiro capitulo esboça as considerações iniciais sobre a pesquisa trazendo seus objetivos, justificativa e a questão problematizadora do estudo. No segundo capítulo são apresentados conceitos e origem da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável no que se refere aos seus conceitos e histórico, em seu aspecto mais amplo, no Brasil e no mundo. O terceiro capítulo trás, após uma breve introdução, o histórico sobre a Sustentabilidade na Construção Civil no Brasil. Este capítulo mostra como começou a preocupação ambiental, explicando os vários encontros internacionais realizados sobre o tema. Também faz uma descrição sobre os conceitos de Sustentabilidade e a aplicabilidade destes dentro da Construção Civil. No quarto capítulo, o tema abordado é o Selo AQUA. Conceitos e explicações acerca deste selo, sua metodologia e suas aplicações na Construção Civil. O quinto e último capitulo, trata-se das considerações finais do que foi apresentado durante toda a explanação do trabalho, sendo que ainda há as referências bibliográficas e as eletrônicas. 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável 2.1.1 Sustentabilidade 2.1.1.1 Conceitos A História da Humanidade tem mostrado que existe um desencadeamento de fatos contribuintes e agravantes da degradação ambiental que é vivenciada pela população mundial de maneira globalizante, que vão desde o advento do desenvolvimento das atividades agrícolas, passando pela Revolução Industrial, até culminar no atual modo de vida capitalista (AGOPYAN; JOHN, 2011). Portanto, não é um fenômeno recente o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente no mundo. As discussões sobre o tema sustentabilidade, que não é novo, ocorrem sobre sua aplicabilidade já há algum tempo. Portanto, serão apresentados, neste tópico, os conceitos gerais de sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e o enfoque destes na Construção Civil. Pela aplicação sistemática de conhecimentos científicos, o modelo atual de crescimento econômico vem sendo impulsionado a cada dia mais, tendo melhorado a qualidade de vida do homem no planeta Terra. Entretanto, o que tem sido verificado é que este crescimento continuado de consumo de bens cresceu seis vezes em 250 anos, indicando o prenúncio de uma crise social e ambiental (AGOPYAN; JOHN, 2011). Diversos obstáculos na relação entre o homem e o ambiente natural aparecem nesse modelo, em virtude de fatores como: o alto crescimento populacional; a desigualdade de ingressos onde uma grande parcela da população tem elevados índices de pobreza; a falta de planejamento das cidades; a frequência e intensidade crescente dos desastres naturais; e o consumo exacerbado da terra e a exploração não planejada das florestas (CHAVES, 2014, p.5). Questões como a Sustentabilidade, no Brasil, em que a preservação de suas florestas, principalmente a Amazônia, é um aspecto central, parecem unicamente uma questão florestal, o que pouco se assimila ao ambiente brasileiro urbano do dia- 15 a-dia. Poucos cidadãos notam que atitudes cotidianas como consumo moderado, economia de energia e seleção de fornecedores de bens de consumo são importantes para a sustentabilidade global, ainda hoje (AGOPYAN; JOHN, 2011). Sustentabilidade é um termo utilizado pela sociedade contemporânea, e embora seja muito usada esta palavra em várias áreas do conhecimento, pouco se conhece e coloca em prática seu significado. Araújo (2013, p.1) coloca que “a sustentabilidade nada mais é do a utilização racional de recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, sem que esse recurso comprometa as futuras gerações”. Sustentabilidade é a palavra da moda, atualmente. Em todos os setores, seja no meio ambiente, na economia, na educação ou na administração pública, todo mundo cita o termo sustentabilidade. Teoricamente o termo “sustentável” tem origem do Latim: “sustentare”, que significa sustentar, favorecer e conservar. Na vida moderna, todos os setores da economia dependem de um fluxo constante de materiais, em um ciclo que começa na extração de matérias- primas naturais, e segue em sucessivas etapas de transformações industriais, transporte, montagem, manutenção e desmontagem final. (AGOPYAN; JOHN, 2011, p.74). A forma de promover uma busca de maior igualdade social dá-se o nome de sustentabilidade. A sustentabilidade não é mais do que valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um menor impacto ambiental, nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação. Portanto, a sustentabilidade visa à distribuição equitativa da matéria- prima, procurando garantir a competitividade do homem e das cidades (ARAÚJO, 2013). Nos dias atuais, percebe-se que a consciência da sociedade contemporânea tem avançado muito na questão da sustentabilidade. Os clientes atualmente têm exigido dos engenheiros e arquitetos, na aplicação dos seus projetos, alternativas sustentáveis. Embora ainda seja um número muito reduzido, acredita-se que a própria sociedade não tenha conhecimento das exigências que podem ser feitas aos responsáveis pela construção civil no que tange à sustentabilidade. Pela adoção desse sistema, alguns órgãos públicos já têm optado em utilizá-lo, estimulando a população a ver que o conceito de sustentabilidade pode dar certo. 16 Vale lembrar que a construção civil utiliza basicamente materiais não renováveis, portanto as construções não são sustentáveis. “O que se pode trabalhar é a redução dos desperdícios, o controle desde a origem do processo produtivo de cada produto utilizado, a busca de materiais ecologicamente corretos e certificados e a eficiência energética” (ARAÚJO, 2013, p.9). Percebe-se, atualmente, que a grande maioria dos profissionais que atua na construção civil possui consciência da importância da sustentabilidade nesta área. Porém, o que se observa na prática, pouco tem sido feito para que sejam utilizados materiais sustentáveis nas construções, sejam elas de pequeno ou grande porte. “Muitos atribuem essa escassez ao elevado custo dos produtos com rótulo sustentável, outros admitem que as alternativas disponíveis no mercado, não garantem a mesma qualidade que os produtos de origemnativa” (ARAÚJO, 2013, p.9). Araújo (2013) coloca que os arquitetos se preocupam mais com a sustentabilidade e a estética, enquanto os engenheiros valorizam a qualidade e o preço, ao especificar um produto para a execução do seu projeto ou obra. A autora explica que há diferenciação, no Brasil, de região para região, quanto à preocupação com a sustentabilidade e a qualidade dos produtos. Segundo Espósito (2007 apud ARAÚJO, 2013, p.9), “em função das dificuldades de cada região, os arquitetos tendem a aproveitar os recursos naturais e materiais locais, bem como a mão de obra típica, adaptados ao contexto onde a obra está inserida”. Os profissionais da construção civil estão sempre esperando das indústrias novidades e tecnologias constantes, que venham favorecer a aplicação em novos projetos. Agopyan e John (2011) afirmam que a inovação é imprescindível para a sustentabilidade na construção civil. Wieczynski (s/d) coloca que extremamente importantes são as questões de sustentabilidade para o setor da construção civil. Diante de vários levantamentos realizados por organismos internacionais, em vários países, inclusive no Brasil, pode ser identificado um consumo de aproximadamente uma tonelada de materiais de construção por metro quadrado de área edificada. Quanto mais sustentável for uma obra, mais responsável ela será por aquilo que consome, gera, processa e descarta. Uma construção sustentável tem em suas características materiais que provocam pouco impacto durante e depois do fim de sua vida útil (WIECZYNSKI, s/d, p.2). 17 Na área da construção civil são limitadas as práticas sustentáveis e, na maioria das vezes, a matéria prima utilizada se torna inacessível ao consumidor de baixa renda devido ao seu alto preço de comercialização. O tema sustentabilidade só começou a ser estruturado a partir das primeiras constatações sobre o efeito da ação do homem no meio ambiente. Na literatura atual constata-se que foi a partir de 1960 que começaram a detectar evidências acerca de que o modelo de desenvolvimento vigente no mundo apresentava problemas para a população mundial. A crise energética, na década de 1970, foi desencadeada pelo embargo de petróleo da Organização dos Países Exploradores de Petróleo (OPEP), que era aliada ao crescente temor de confronto nuclear e que induziu o desenvolvimento de soluções para a economia de energia de edifícios dos países desenvolvidos, levando a avaliação de materiais pelo conceito de energia incorporada (AGOPYAN; JOHN, 2011). “A indústria em geral, e a Construção Civil, em particular, demoraram em começar a discutir e enfrentar os problemas da sustentabilidade” (AGOPYAN; JOHN, 2011, p.27). No final da década de 1980 e início da década de 1990, as questões de sustentabilidade chegaram à agenda da arquitetura e do urbanismo de forma incisiva, trazendo novos paradigmas. 2.1.2 Desenvolvimento Sustentável 2.1.2.1 Conceitos A sustentabilidade não pode ser vista separadamente do termo desenvolvimento sustentável. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento define Desenvolvimento Sustentável como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (SIMAS, s/d, p.152). O autor ainda explica que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) emprega o termo “desenvolvimento sustentável” como “melhorar a qualidade da vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas” (SIMAS, s/d, p.152). Portanto, neste contexto, implica entre outros requisitos, o uso sustentável dos recursos renováveis, ou seja, de forma qualitativamente adequada e em quantidade compatível com sua capacidade de renovação. 18 Com o apoio da Organização das Nações Unidas e de diversas organizações não governamentais, em 1991, o PNUMA propôs princípios, ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável no mundo. A palavra sustentável é empregada na formulação desta proposta em diversas expressões como: desenvolvimento sustentável, economia sustentável, sociedade sustentável e, uso sustentável. Simas (s/d, p.153) explica que esta questão parte do principio de que, “se uma atividade é sustentável, para todos os fins práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia de sustentabilidade em longo prazo porque muitos fatores são desconhecíveis e imprevisíveis”. Neste contexto, vale lembrar que as ações do homem devem acontecer em obediência às técnicas e princípios legais de conservação, observando seus efeitos para que se aprenda rapidamente com os erros. Esse processo exige monitoramento das decisões, avaliação e redirecionamento da ação. Satterthwaite (2004, p.34) conceitua desenvolvimento sustentável como: “[...] a resposta às necessidades humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos custos da produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e no futuro”. A preocupação com o desenvolvimento sustentável do planeta pela Humanidade data da década de 1960, em que se iniciaram os debates sobre a degradação do meio ambiente, com encontros históricos de caráter internacional (ARANHA, 2007). O conceito de desenvolvimento sustentável é fruto de um longo processo histórico e político formado no decorrer do tempo e que resultou na definição atual desse instituto. Inicialmente, no Relatório Brundtland, esse conceito foi apresentado. No entanto, para que seja possível entender os motivos que levaram os países a olharem com bons olhos para o chamado desenvolvimento sustentável, é necessário uma retomada dos cenários político e econômico anteriores ao Relatório Brundtland (RIBEIRO; CRUZ; MONTEIRO, 2016). O conceito de desenvolvimento sustentável foi formulado pela primeira vez pela Comissão Brundtland, em 1970, que se caracterizou por grande pessimismo acerca do futuro da civilização mundial. Portanto, “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações futuras” (GOLDEMBERG, 2011, p.5). 19 A partir do Relatório de Brundtland que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a ficar conhecido. Com a publicação deste Relatório dissemina- se o conceito de Desenvolvimento Sustentável, o qual vinha, desde os anos de 1970, sendo refinado (RELATÓRIO DE BRUNDTLAND, 1991). 2.1.2.2 Histórico A criação do Clube de Roma, na França, em abril de 1968, foi um dos atos pioneiros na preocupação da conscientização da população com o meio ambiente. Este ato iniciou-se com uma reunião de trinta pessoas de dez países, formando assim, um grupo com cientistas, educadores, economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos de nível nacional e internacional, que tinham por objetivo discutir e analisar os limites do crescimento econômico levando em conta o uso crescente dos recursos naturais (BARBIERI, 2009). Na Suécia, realizou-se entre os dias 5 e 16 de junho de 1972, a Conferência de Estocolmo, evento este das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano. Este encontro mundial foi o primeiro a tentar organizar as relações do Homem e do Meio Ambiente. Neste, participaram 113 países e mais de 400 instituições governamentais e não governamentais. O objetivo desta Conferência era conscientizar a sociedade a melhorar a relação com o meio ambiente e, assim, atender as necessidades da população presente sem comprometer as gerações futuras O que se verificou nesta Conferência foi “a explicitação de conflitos entre os países desenvolvidos e os não desenvolvidos” (BARBIERI, 2009, p.15). A sociedade mundial, na época da Conferência de Estocolmo, tinha o pensamento de que o desenvolvimento não poderia ser sacrificado por considerações ambientais, portanto havia a necessidade de ser modificado,devido os problemas como seca de rios e lagos, ilhas de calor e efeito de inversão térmica, que já causavam alerta no mundo. Os países subdesenvolvidos defendiam a posição de que todos os indivíduos tinham direito ao crescimento econômico, pelo fato de terem sua base econômica focada na industrialização. Foi a partir desta proposição que surgiu, então, o “desenvolvimento a qualquer custo” defendido por essas nações. O Brasil liderou 77 países com acusações aos países industrializados e na defesa do crescimento com 20 desenvolvimento durante a realização da Conferência de Estocolmo. Barbieri (2009, p.15) coloca que “O Brasil, nessa conferência, defendeu o desenvolvimento a qualquer custo e não reconheceu a gravidade dos problemas ambientais. A poluição da pobreza também foi a posição defendida pela representação brasileira”. Para eles, a pobreza é que poluía o meio ambiente. A Conferência de Estocolmo foi o primeiro encontro internacional, tornando- se, portanto de muita importância para os representantes de diversas nações. O objetivo maior desta Conferência era conscientizar a população quanto ao controle e o uso dos recursos naturais pelo homem. A mesma defendia também a possibilidade de articular crescimento econômico com preservação ambiental. Em segundo plano deixava as questões relacionadas à equidade e à justiça social. A preocupação primordial deste encontro era com a atuação do homem no meio ambiente. Em 1974, ocorreram outros avanços no mundo quanto ao desenvolvimento e à preservação do ambiente humano. Neste ano, foi realizado um simpósio de especialistas, no México, presidido por Barbara Ward em Cocoyoc, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Este evento identificou os fatores sociais e econômicos que levam à deterioração ambiental (UNEP/UNCTAD, 1974). A Declaração de Cocoyoc influenciou na mudança de atitude dos principais pensadores ambientais, no mundo. O Clube de Roma, em 1970, realizou a análise das consequências do acelerado crescimento da população do mundo sobre os recursos naturais finitos. Esta análise já havia sido feita em 1798, por Thomas Malthus, em relação à produção de alimentos. Várias conferências mundiais surgiram nas décadas seguintes como a Rio‟92, no Rio de Janeiro, em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo, em 2002. Protocolos internacionais foram firmados entre vários países, nessas reuniões, com o objetivo de rever as metas e elaborar mecanismos para o desenvolvimento sustentável. Quanto à visão pessimista, a reação a esta veio da Organização das Nações Unidas (ONU) que, em 1983, criou uma Comissão presidida pela primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland e pelo Ministro das Relações Exteriores do Sudão, Mansour Khalid que recebeu a missão de analisar um documento chamado “Our Common Future” que, em português, significa “Nosso Futuro Comum”, mais conhecido por “Relatório Brundtland”. O documento tratava do problema do 21 desenvolvimento sustentável no mundo. Essa análise durou cerca de quatro anos e ao seu final foi apresentado um relatório pela Comissão, em 1987, que propôs “recomendar um padrão de uso de recursos naturais que atendesse às atuais necessidades da humanidade, preservando o meio ambiente, de modo que as futuras gerações poderiam também atender suas necessidades” (GOLDEMBERG, 2011, p. 5-6). Este relatório tem por base “o princípio de que o ser humano devia gastar os recursos naturais de acordo com a sua capacidade de renovação, para evitar o seu esgotamento. Então, para uma utilização sustentável dos recursos, é fundamental que cada indivíduo seja um consumidor responsável” (CHAVES, 2014, p.8). O Relatório Brundtland apresentou novo olhar sobre o desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (RELATÓRIO DE BRUNDTLAND, 1991). Em outras palavras, como na definição da World Commission on Environment and Development (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente), constante no Relatório Brundtland, o desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as próprias necessidades” (1987 apud AGOPYAN; JOHN, 2011, p.29). Esse conceito, a partir da Rio 92, se firmou e, atualmente, tem sido progressivamente aplicado a todas atividades humanas, destacando-se à cadeia produtiva da Construção Civil. A visão de Brundtland é mais otimista do que a do Clube de Roma e foi recebida pela comunidade mundial com entusiasmo e otimismo. Entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada a ECO-92. Oficialmente era referida como Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), e, popularmente, como Rio 92. Em 1992, com recomendações abrangentes sobre o novo tipo de desenvolvimento sustentável e como consequência da Comissão Brundtland, foram adotadas no Rio de Janeiro a Convenção do Clima, a Convenção da Biodiversidade e a Agenda 21. Esta última teve enorme influência no mundo em todas as áreas do conhecimento e reforçou o movimento ambientalista. O grande tema em debate, nesta época, foi o desafio global de melhorar o nível de consumo da população mais 22 pobre e diminuir a pegada ecológica e o impacto ambiental dos assentamentos humanos no planeta (GOLDEMBERG, 2011). Agopyan e John (2011) explicam que, segundo a Agenda 21 on sustainable construction, os principais desafios da construção sustentável envolvem: processo e gestão; execução; consumo de materiais, energia e água; impactos no ambiente urbano e no meio ambiente natural; e, as questões sociais, culturais e econômicas. A Agenda 21 parte do pressuposto de que a responsabilidade pela sustentabilidade do planeta deve ser compartilhada por todos, independentemente do grau de desenvolvimento econômico do país, questionando diretamente a estratégia adotada por muitos países em desenvolvimento de primeiro crescer para somente depois se preocupar com a sustentabilidade – estratégia, essa, claramente expressa no protocolo de Kyoto e que, até hoje, pode ser percebida nos programas de construção do governo brasileiro (AGOPYAN; JOHN, 2011, p.33). Esta Agenda, ou seja, este documento prevê que as modificações ou mudanças organizacionais e tecnológicas a serem produzidas pela sustentabilidade no setor da construção serão muito mais radicais do que quaisquer das revoluções tecnológicas setoriais anteriores. Como exemplos: a introdução do concreto armado e a industrialização pós-Segunda Grande Guerra. A sustentabilidade vem na proeminência de uma tremenda mudança de pensamento de toda a sociedade mundial, que exige postura diferenciada e nova dos profissionais envolvidos na construção civil (AGOPYAN; JOHN, 2011). O mundo era dividido entre dois polos financeiros e políticos: o norte e o sul, até a década de 1980, no século XX. O polo mais ao norte, caracterizado pelo seu extremo desenvolvimento técnico em diversas áreas como a industrial, comercial, tecnológica, dentre outras, era conhecido por comportar os países mais ricos financeiramente. O norte, devido a essas características, controlava o mercado da época, impondo preços abusivos aos países do sul (os mais pobres). Assim, mantinham uma relação semelhante a que existia entre as colônias e as metrópoles. As colônias forneciam a mão de obra barata, desqualificada, juntamente com a matéria prima, e as metrópoles forneciam as tecnologias advindas da produção conseguida com esses dois elementos (RIBEIRO; CRUZ, 2016). Em 1950, foi criada a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Esta foi criada após a observação do cenário que existia na épocade total desigualdade econômica e social nos países da América Latina e Caribe. Este organismo internacional teve como objetivo: questionar essa relação tão desigual existente entre os países. A partir da criação deste instituto foi que se deu inicio a 23 um pensamento mais profundo sobre o desenvolvimento sustentável. O mundo passava por um momento de crise do desenvolvimento, nesse cenário do pós- guerra. O desenvolvimento, nesta época, era caracterizado por um crescimento da população de forma desenfreada e a superioridade tecnológica imposta pelos setores dominantes, dentre outros (RIBEIRO; CRUZ, 2016). Segundo Pearce (2015, p. 50), esse cenário constituía-se: [...] época em que os denominados „países do Norte‟, em geral, passavam por um vertiginoso processo de industrialização e, em decorrência deste, viram surgir em seus territórios uma série de problemas ambientais que provocaram severos danos pessoais e patrimoniais nas pessoas que ali viviam. Também existia a disputa entre os países do Sul e os do Norte. No começo desta disputa, ao mesmo tempo, iniciou-se o pensamento de preservação do Planeta. Mas, havia uma gigantesca diferença no que diz respeito ao desenvolvimento entre os países dos dois polos. Na Conferência de Estocolmo que ocorreu, principalmente, esse debate. Essa Conferência foi marcada pelo surgimento da dicotomia norte-sul, em que os países do norte apoiavam o “crescimento zero”, segundo o qual todos os países deveriam parar de crescer. Assim, nasceu a dicotomia, e os países do polo Sul compreenderam que as propostas de limites ao crescimento, oriundas do polo Norte, significavam, na realidade, uma discriminatória e injusta barreira aos seus legítimos objetivos de se desenvolverem perante as nações ricas (PEARCE, 2015). Ribeiro e Cruz (2016) ainda colocam que foi a partir de discussões e estudos, que a expressão “desenvolvimento sustentável” surgiu no mundo. Estes debates e pesquisas foram fomentados pela Organização das Nações Unidas (ONU). O enfoque de desenvolvimento sustentável tomou destaque exatamente nessas questões de mudanças climáticas que começaram a ser observadas no Planeta, funcionando como uma resposta para a sociedade global em um contexto de crise social, ambiental e no desenvolvimento que o mundo passou na segunda metade do século XX. 2.2 Sustentabilidade na Construção Civil Sustentabilidade na construção civil é um tema adotado pela sociedade contemporânea. No século XX, a terminologia construção sustentável ganhou 24 repercussão no mundo e foi adotada, conceituada e percebida por pesquisadores e ambientalistas preocupados com os impactos ambientais. A partir de então, os construtores na área da construção civil buscam evitar os impactos ambientais a partir da utilização de matérias primas ecologicamente corretas para erguer edificações como casas, prédios, dentre outros, para que sejam evitados os desastres ecológicos. Os engenheiros da construção civil estão procurando edificar as construções com sustentabilidade com a intenção de preservar e respeitar o meio ambiente, sem prejudicar a flora e a fauna. Os ambientalistas estão sempre denunciando as construções irregulares e a própria sociedade, nos dias de hoje, preocupa muito mais do que há alguns anos passados. O meio ambiente é o maior patrimônio do planeta, portanto todos, no mundo todo, têm a responsabilidade social e coletiva de preservá-lo. É preciso proteger, normatizar e legalizar leis que tenham política de preservação e haver fiscalização pelos órgãos competentes para que as pessoas possam adquirir consciência ambiental no mundo. Bellini e Mucelin (2008, p.112) afirmam que: o morador urbano, independentemente de classe social, anseia viver em um ambiente saudável que apresente as melhores condições para vida, ou seja, que favoreça a qualidade de vida: ar puro, desprovido de poluição, água pura em abundância entre outras características tidas como essenciais. A construção civil começa a produzir impactos desde os primeiros passos da ação, desde a terraplanagem à produção. Esses impactos podem ser negativos, como, por exemplo, degradação da fauna e flora do local ou contaminação hídrica por esgoto não tratado (RIBEIRO; CRUZ, 2016). Por tais motivos, a construção civil sustentável é alvo de diversos estudos com o intuito de reduzir os danos e melhorar a qualidade de vida da população e do meio ambiente. A partir de ações, como o Programa Construção Sustentável, o qual estabelece estratégias e formas concretas de minimizar e viabilizar a sustentabilidade na construção civil é que se pode desenvolver tais estudos e projetos. Para que as riquezas naturais perdurem por longas gerações, os cidadãos necessitam exercer seus papéis, defender e iniciar o processo de conscientização. Para isso, faz-se necessário que a própria população diminua o lixo informático e eletrônico, recicle materiais e use materiais biodegradáveis. A natureza está 25 respondendo de forma agressiva com mudanças de clima e temperatura devido ao aquecimento global. Esse fator será primordial para extinção da raça humana. A sustentabilidade na construção civil é um sistema construtivo. A construção sustentável promove alterações conscientes no entorno de forma a atender as necessidades de edificação e uso do homem moderno, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo, assim, qualidade de vida para as gerações atuais e futuras (IDHEA, 2003). No mundo moderno são usados vários termos para definir a sustentabilidade na construção civil como construção sustentável, arquitetura sustentável, construção verde, arquitetura verde, construção ecológica. Estes termos vêm para definir o conceito de qualquer arquitetura construída com materiais recicláveis que são chamados também de biodegradáveis unidos ao uso de recursos tecnológicos de energia renovável. Portanto, essas designações são consideradas como construção sustentável com o intuito de evitar impactos ambientais (HOBSBAWN, 1995). A manutenção de uma taxa de crescimento econômico como a da segunda metade do século XX, provavelmente terá consequências irreversíveis e desastrosas para o ambiente natural e para o ser humano. Mesmo que a espécie humana não desapareça, certamente o seu padrão de vida será modificado e talvez o número de seres humanos que habitam o planeta diminua dramaticamente. No século XX acelerou-se a velocidade de transformação do ambiente, possibilitada pela tecnologia moderna. Este ritmo de transformações reduzirá a décadas o tempo disponível para tratar dos problemas de degradação ambiental (HOBSBAWN, 1995, p.547). Percebe-se que as pessoas precisam ter consciência ambiental para preservar o patrimônio da vida, o “meio ambiente”. A extinção da própria raça humana, de várias espécies de animais e plantas poderá desaparecer do planeta Terra, devido aos fortes impactos ambientais causados pelos seres humanos, ocasionados pelo desordenamento de construções de empresas, edifícios, estradas, dentre outros, a partir do desmatamento ambiental e o aproveitamento dos recursos ambientais para a transformação do habitat natural em zona monopolizadora, “as cidades” (HOBSBAWN, 1995). As construções civis consideradas sustentáveis possuem certificações ambientais que servem de parâmetro fundamental para fomentar a indústria do marketing e o interesse sócio-econômico-ambiental. Essas certificações são validadas por Organizações não Governamentais como: LEED, GREEN STAR, CASBE. 26 A Arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando ascaracterísticas da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as próximas gerações (CORBELLA; YANNAS, 2003, p. 17). No Brasil, na construção civil, os números revelam a magnitude das possibilidades e obstáculos que se tem pela frente, com vistas a produzir e consumir materiais mais sustentáveis. 15% do PIB brasileiro vêm dessa área, conforme dados do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Em contrapartida, a construção civil, no país, causa impacto social e ambiental na mesma dimensão, ou seja, consome 80% dos recursos naturais extraídos e produz 80 milhões de toneladas por ano de resíduos. Cerca de 18% do consumo total de energia do país e 20% da água boa, parte dela desperdiçada, são consumidos pelo funcionamento dos edifícios (PLANETA SUSTENTAVEL, 2010). Quanto ao meio ambiente, a indústria da construção civil vem por muitos anos, causando impactos ambientais significativos. A construção civil consome muita energia elétrica desde a fase de extração até o seu processo final. O grande impacto gerado pelo uso dos recursos não renováveis é determinante para que algumas regiões vão se tornando verdadeiros desertos que levaram algumas gerações para voltarem a serem reaproveitados (JOHN, 2000). John (2000) coloca que determinadas atividades na área da construção civil, ao longo do tempo, provocam o esgotamento de matéria prima. Com isto, causam dano ecológico, extração exagerada, ocasionando poluição de mananciais, emissões danosas à saúde humana, chegando também ao aquecimento global e muitos outros desperdícios. O autor explica que a questão ambiental tornou-se realmente uma preocupação mundial na década de 1970, devido ao crescimento desordenado das pequenas e grandes cidades em todo o território nacional como no mundo. No entanto, diante da crise do petróleo, foram retomadas as investigações sobre fontes energéticas não fósseis. No século XX, a década de 1990 foi a mais significativa para o movimento ambiental. No Brasil, as autoridades e a sociedade como um todo, começaram a se preocupar com as questões ambientais. Surgiram assim, vários movimentos em favor da preservação e conservação do meio ambiente. Conferências como a ECO- 27 92, realizada no Rio de Janeiro, incorporaram a preocupação com as transformações ambientais como fruto do desenvolvimento socioeconômico, e como produto dessas discussões a Agenda 21 constitui um programa estratégico e universal rumo ao desenvolvimento sustentável (SILVA, 2003). A “Agenda 21” é um documento lançado na Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD - realizada em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, que sistematiza um plano de ações com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável. Durante dois anos, governos e entidades de diversos países contribuíram com propostas para a criação deste plano de ações para concretizar o ideal de desenvolver sem agredir ao meio ambiente. Diante deste cenário, a preocupação com a questão ambiental passou a ser levantada nos mais diferentes setores da sociedade, no mundo, promovendo a gradativa adesão dos diferentes setores mercadológicos. Assim, Silva (2003, p.45) explica que “Essa busca de equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável é usualmente descrita em função da chamada „triple bottomline’, que congrega as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento sustentável”. No processo de concepção do projeto de arquitetura, o desempenho ambiental passou a receber maior atenção a partir da década de 1990, quando todos os setores da sociedade iniciaram um processo de reinterpretação da Agenda 21 nos contextos específicos das diversas agendas locais e setoriais. Para tanto, políticas públicas passaram a impor requisitos ambientais a inúmeras atividades econômicas, e a demanda por produtos ambientalmente menos agressivos cresceu em paralelo (JOHN; SILVA; AGOPYAN, 2001). As interpretações mais relevantes da Agenda 21 contemplam, no setor da construção civil, entre outras, medidas para redução de impactos por meio de alterações na forma como os edifícios são projetados, construídos e gerenciados ao longo do tempo (DU PLESSIS, 2002). A incorporação dos princípios ao projeto citados acima gerava benefícios como eficiência energética e de recursos, uso do terreno a partir de um enfoque ecológico e social, eficiência do transporte e economia local mais forte. Desta forma, edificações ambientais podem ser definidas, principalmente, a partir da utilização de fontes de energias alternativas, menor emissão de poluentes, uso de materiais recicláveis, sistemas de reciclagem das águas, maximização da iluminação natural, 28 preservação de áreas verdes ou nativas e adequada qualidade do ar interno (PENNSYLVANIA DEPARTMENT OF ENVIRONMENTAL PROTECTION, 1999). Para a realização dos objetivos globais do desenvolvimento sustentável, reconhecidamente, o setor da construção civil tem papel fundamental O Conselho Internacional da Construção – CIB aponta a indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva. Com isto, a construção civil gera consideráveis impactos ambientais no meio ambiente. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas estima-se que sejam provenientes da construção civil. Tais aspectos ambientais, somados à qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações entre construção e meio ambiente. O paradigma da construção sustentável surgiu na busca de minimizar os impactos ambientais provocados pela construção civil. Para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento, a construção sustentável é definida, no âmbito da Agenda 21 como: "um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica". No contexto do desenvolvimento sustentável, o conceito transcende a sustentabilidade ambiental, para abraçar a sustentabilidade econômica e social, que enfatiza a adição de valor à qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades. Na construção civil os desafios são diversos e de várias naturezas. Em síntese, consistem na redução e otimização do consumo de materiais e energia, na redução dos resíduos gerados, na preservação do ambiente natural e na melhoria da qualidade do ambiente construído. A construção e o gerenciamento do ambiente construído devem ser encarados dentro da perspectiva de ciclo de vida. Na visão de Marcelo Takaoka (apud GOLDEMBER, 2011, p.9), Presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável - CBCS, O setor da construção é essencial para atender necessidades e anseios da sociedade, ao proporcionar abrigo, conforto r qualidade de vida para indivíduos, famílias e comunidades, estimular o crescimento e produzir riquezas para comunidades, empresas e governos. O setor é responsável pela implantação de infraestrutura de base como geração de energia, saneamento básico, comunicações, transportes e espaços urbanos, além 29 da execução de edifícios públicos e privados, com o objetivo de prover moradia, trabalho, educação, saúde e lazer em nível de cidade, estado e nação. Takaoka (apud GOLDEMBER, 2011) ainda coloca que a construção civil é também responsável por uma parcela significativa do consumo de recursos naturais. Ele cita como exemplo a energia e água. Assevera que, este setor é um dos maiores responsáveis pela geração de resíduos sólidose pela emissão de gases de efeito estufa. Em grande parte dos casos, a construção civil tem um ciclo de vida bastante longo, de pelo menos 30 a 50 anos. Este fato torna complexas as análises dos seus impactos positivos e negativos, no sentido de escolher a melhor estratégia para conceituação, projeto, materiais e tecnologias que devem estar presentes nos espaços construídos, de forma a proporcionar melhor qualidade do ambiente no que se refere aos anseios dos usuários e da comunidade e, ao mesmo tempo, “atender aos requisitos de confiabilidade, eficiência e racionalidade no uso de recursos naturais que são limitados, a durabilidade esperada e a flexibilidade de usos ou adaptações à demandas futuras” (TAKAOKA apud GOLDEMBER, 2011, p.9-10). A indústria em geral, e da Construção Civil em particular, demorou em começar a discutir e enfrentar os problemas de sustentabilidade. De acordo com Goldemberg (2011, p.29), Apesar de a Construção Civil ser a indústria que mais consome recursos naturais e gera resíduos, com significativa geração de poeira e poluição sonora em canteiros localizados dentro das cidades, além de ser historicamente considerada como uma atividade „suja‟, não tinha siso colocada como indústria com problemas de sustentabilidade, até meados da década de 1990. No pensamento de John (2010), não é possível discutir sustentabilidade sem observar que tipo de cidade se está erguendo. E cada cidade tem suas características e seus problemas. Dos recursos naturais carca de 75%, extraídos da terra, vão acabar em obras da construção civil, revelando que cada metro quadrado construído pesa, em média, 1,2 toneladas. Assim, alguém que resida num apartamento de cem metros quadrados terá consumido 120 toneladas de materiais, apenas no local onde mora. De acordo com Corrêa (2009 apud RIBEIRO; CRUZ, 2016, p.5), “O primeiro passo para a sustentabilidade na construção é o compromisso das empresas da 30 cadeia produtiva a criarem as bases para o desenvolvimento de projetos efetivamente sustentáveis”. Para o desenvolvimento dessa sustentabilidade na construção civil, é necessária uma série de condições e práticas que devem ser tomadas. O projeto sustentável é a primeira delas que deve possuir um nível de qualidade elevado. Assim, os níveis de excelência serão garantidos e mantidos, fazendo com que a utilização dos recursos naturais se torne cada vez mais eficiente, evitando-se desperdícios ou excessos de dejetos nas cidades. Para que a sustentabilidade da construção civil seja mantida, deve-se utilizar a segunda prática fundamental que consiste na formalidade nos processos de construção civil. É necessário realizar seleção criteriosa dos fornecedores dos materiais para a construção. Também é preciso realizar a fiscalização da qualidade dos materiais, bem como da mão de obra que será utilizada nas obras, para que seja de qualidade a fim de não causar problemas futuros devido à sua incompetência (CORRÊA, 2009). Para garantir a sustentabilidade urbana nas construções civis, a terceira prática fundamental trata-se da busca incessante por novas tecnologias que venham melhorar ainda mais a qualidade dos serviços, e dos materiais utilizados. Assim, segundo Corrêa (2009 apud RIBEIRO; CRUZ, 2016, p.6), Utilizar novas tecnologias, quando possível é adequado. Caso inviável, buscar soluções criativas respeitando o contexto. É importante que as empresas tenham relações estreitas com agentes promotores de inovação na cadeia produtiva, - 30 - tanto na oferta de novos materiais e equipamentos, quanto na capacitação da mão-de-obra. A base para a sustentabilidade na construção é alinhar ganhos ambientais e sociais com os econômicos, daí a necessidade e importância de inovações. Em 1994, o conceito de Construção Sustentável surgiu com Charles Kibert. Ele a definiu como sendo um processo em que os setores que são responsáveis pelas construções civis vão se preocupar cada vez mais com a necessidade de cumprir os requisitos de desenvolvimento sustentável das cidades e das sociedades. Este processo deve ser realizado por meio da adoção de práticas que visam à redução do consumo de recursos naturais, bem como a diminuição da produção de resíduos, e a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera terrestre (RIBEIRO; CRUZ, 2016). Dois anos depois da Conferência da Rio 92, em novembro de 1994, foi realizada a Primeira Conferência Mundial sobre Construção Sustentável, em Tampa, 31 na Flórida. Lá, a construção sustentável foi instruída a ser um conjunto de práticas construtivas, baseadas nos princípios ecológicos e no uso eficiente dos recursos naturais. Nessa Conferência, seis princípios foram sugeridos no documento para que haja sustentabilidade nas construções civis. Minimizar o consumo de recursos; maximizar a reutilização dos recursos; utilizar recursos renováveis e recicláveis; proteger o ambiente natural; criar um ambiente saudável e não tóxico; fomentar a qualidade ao criar o ambiente construído (KIBERT, 1994 apud RIBEIRO; CRUZ, 2016). Durante a vida útil da construção, a prática desses princípios determinados pelo autor supracitado, no processo da construção em si, proporciona entre outras coisas, melhoria na qualidade de vida dos habitantes, assim como gera bem-estar social aparente, contribuindo para a ligação da sociedade com a natureza e com os ecossistemas presentes no local daquela construção. Essa ligação, do homem com a natureza, proporcionada pela aplicação dessas práticas derivadas dos princípios correspondem ao início de práticas do atual conceito de construção civil sustentável. As grandes responsáveis pelo consumo de materiais como a água e a energia são as cidades. Desta forma, é razoável pensar que, em um futuro próximo, continuarão a produzir grandes impactos negativos sobre o meio natural. O setor da construção civil que gera muitos destes impactos negativos. Isto responde por 40% do consumo mundial de energia e por 16% da água utilizada no mundo. De acordo com dados do WorldwatchInstitute, a construção de edifícios consome 40% das pedras e areia utilizados no mundo por ano, além de ser responsável por 25% da extração de madeira, anualmente. É natural que a sustentabilidade assuma, gradualmente, uma posição de cada vez mais importância neste cenário (AMBIENTE BRASIL, 2012). Na construção civil, a utilização de soluções ambientalmente sustentáveis não acarreta em um aumento de preço, principalmente quando adotadas durante as fases de concepção do projeto. Em alguns casos, podem até reduzir custos (AMBIENTE BRASIL, 2012). Responsável pelo enorme ambiente construído em que se vive, como estradas e ruas, edifícios, aeroportos, centrais elétricas, ferrovias, pontes, dentre outros, a construção civil é o principal consumidor destes recursos. Os Estados Unidos da América estimam que 70% dos materiais consumidos vão para a construção (MATOS; WAGNER, 1998). 32 Resíduos são gerados à medida que os materiais se movem ao longo do seu ciclo de vida. A produção de 1g de cobre exige a geração de 99g de resíduos de mineração (GARDNER, 1998), e estes valores vão subindo na medida em que as jazidas de maior concentração vão se esgotando, o que força a exploração de áreas com menor teor de minério final. Diversas iniciativas têm surgido para promover à construção civil sustentável no sentido de preservar o meio ambiente. Segundo Pinheiro (2006 apud CÔRTES et al., 2011, p.389), uma destas iniciativas é o desenvolvimento de sistemas de certificação ambiental para edificações sustentáveis. Os autores supracitados explicam que: No Brasil, a mais conhecida é a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) desenvolvida nos Estados Unidos que se constitui como um sistema que avalia o desempenho impacto ambiental do edifício desenvolvido pelo GBC (Green BuildingCouncil). Estesistema de avaliação ambiental abrange seis áreas como: Locais Sustentáveis, Uso eficiente de recursos hídricos, Energia e atmosfera, Materiais e recursos, Qualidade do ar interior e Inovação e processos de projeto. No Brasil, além do LEED também se pode destacar mais duas certificações relacionadas à construção sustentável: AQUA e PROCEL. As preocupações com os impactos ambientais gerados pelos edifícios durante as fases de planejamento e construção, ou durante a operação, são cada vez maiores. Tanto que já existem vários selos internacionais para verificar os recursos consumidos, as emissões de carbono e os resíduos gerados pelas edificações, bem como o conforto e a saúde das pessoas que convivem ali. Para isso, é feita uma avaliação sobre o grau de sustentabilidade dos edifícios baseada em critérios específicos de cada selo. Não existe um limite de sustentabilidade para a construção, o certificado demonstra o desempenho do edifício e os esforços feitos para a redução do consumo de água, energia, CO² e matérias primas, e para o aumento da qualidade de vida das pessoas envolvidas (CÔRTES et al., 2011). O artigo 255 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece que: “todos têm direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e para as presentes e futuras gerações”. Este artigo, por se tratar de norma que versa sobre o meio ambiente, recebe o rótulo de norteador temático, sendo que diversos dispositivos constitucionais tutelam ainda este bem jurídico. 33 É direito de o cidadão ter um ambiente sadio, e um dever de todas as pessoas, preservá-lo. Em março de 1998 foi promulgada a Lei de Crimes Ambientais que assegura alguns princípios para manter o meio ambiente equilibrado. São ações como esta que garantem o direito do cidadão a um ambiente saudável. Crime ambiental trata-se de agressões ao meio ambiente e a seus componentes, ou seja, toda e qualquer ação que causa poluição de qualquer natureza que resulte ou possa resultar em danos à saúde ou que provoque a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Ou ainda, a conduta que ignora normas ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente. Fiorillo e Rodrigues (2003, p.376) colocam que a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/1998, considerada como de fundamental evolução por trazer ao cidadão mecanismos quando da proteção da vida por meio das sanções penais ambientais, dispõe ainda “de sanções administrativas, provindas das condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”. Milaré (2005, p.160) ressalta que “Todas as condutas do Estado em prol da proteção ambiental estão vinculadas automaticamente aos princípios gerais do Direito Público, em especial, ao princípio da primazia do interesse público e da indisponibilidade do mesmo”. O grande desafio da atualidade é promover o desenvolvimento sustentável, tema central da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio 92. Por desenvolvimento sustentável podemos entender o desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades presentes, mas sem, comprometer as necessidades das gerações futuras. 2.3 Selo AQUA Os critérios adotados pelos órgãos certificadores são o que define se uma determinada construção é ou não sustentável, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais e os sociais causados por uma construção. À medida que a sociedade exige a redução dos impactos ambientais causados, na maioria das vezes, pelas atividades econômicas, os especialistas buscam padrões que garantam à sociedade que os resultados desejados sejam atingidos. 34 Existem muitos órgãos certificadores que avaliam e credenciam os critérios utilizados pelas construções sustentáveis, dentre eles destacar-se-á: - O norte americano Leadership in Energy and Environmental Design – LEED: criado em 2000 pela United States Green Building Council (USGB) o LEED (em português, Liderança em Energia e Design Ambiental) conta com mais de 3.000 (três mil) projetos registrados e mais de 410 (quatrocentos e dez) certificados. Seu sistema tem base no fornecimento de créditos para atendimento dos critérios pré- estabelecidos. A certificação realizada pela USGBC é valida por 05 (cinco) anos e seu sistema tem revisões regulares a cada 03 (três) ou 05 (cinco) anos ou quando o órgão julgar necessário. Ele possui uma estrutura simples, baseada em especificações de desempenho ao invés de critérios prescritivos, toma como referência normas e recomendações de organismos terceiros com credibilidade, entre os quais: American Society of Heating, Refrigerating and AirConditioning – ASHRAE, American Society for Testing and Materials – ASTM, Environmental Protection Agency – EPA e Department of Energy – DOE, e teve grande aceitação nas construtoras dos Estados Unidos da América (em inglês, United States of America – EUA), seu país de origem, influenciando outros sistemas e abrangendo outros países (SILVA, 2003 apud HERNANDES, 2006); O francês Haute Qualité Environnementale – HQE: O HQE (Alta Qualidade Ambiental, em português) é uma importante ferramenta que auxilia os projetos de arquitetura em suas fases evolutivas do planejamento à realização. É definido por 02 (duas) vertentes: Qualidade Ambiental da Edificação (QE) e Sistema de Gestão Ambiental da Operação (SME) e tem como objetivo otimizar e/ou manter a qualidade dos projetos de arquitetura e a funcionalidade da construção, sendo a qualidade ambiental da edificação definida por 02 (duas) áreas: gestão de impactos de uma edificação no ambiente exterior e criação de ambientes interiores confortáveis e saudáveis. Por sua vez as 02 (duas) áreas são organizadas em 04 (quatro) temas: eco construção, eco gestão, conforto e ambientes salutares, sendo que a partir deste ponto são definidas 14 (quatorze) categorias ou exigências ambientais particulares que apresentam metas de diretrizes e indicadores que são classificadas sobre os 04 (quatro) temas especificados em cada projeto. Segundo Gaudin e Bastos ([200-]) os referenciais QE e SME foram desenvolvidos paralelamente para projetos HQE, sendo a QE definida por 35 exigências específicas de acordo com a integração da edificação ao ambiente exterior e a satisfação dos ocupantes nos ambientes interiores e a SME baseada na norma ABNT NBR ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental – SGA) que define as especificações e diretrizes para sua aplicação; o brasileiro Alta Qualidade ambiental – AQUA: de acordo com Prado (2008), o primeiro selo brasileiro de certificação de construções sustentáveis foi criado no dia 03 de abril de 2008, pela instituição privada e sem fins lucrativos, Fundação Vanzolini, e teve como mentores os professores dos departamentos de Engenharia da Produção da Escola Politécnica e da Universidade de São Paulo – USP. Foi inspirado no selo francês HQE e é o primeiro organismo certificador que levou em consideração as especificidades do Brasil, tanto que desenvolveu 14 (quatorze) critérios para avaliar a gestão ambiental de obras e as especificidades técnicas e arquitetônicas, devidamente agrupados em 04 (quatro). O principal instrumento para auxiliar os consumidores sobre as alterações necessárias na Construção Civil, que trazem mudança de padrão e de pensamento são as chamadas certificações ambientais. As informações devem ser amplamente clarificadas e conter explicações sobre seus benefícios. Só, assim, as certificações ambientais podem conseguir atingir seus objetivos. O uso dos benefícios das certificações ambientais influencia na escolha dos consumidores, mostrando que o serviço ou produto oferecido é diferenciado e confiável. Os sistemas mais comuns existentes hoje no mercadobrasileiro são: o processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA); o sistema de certificação ambiental LEED (Leadership in Energy and Environment Design), dentre outros. Este item destaca o processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA). AQUA é uma certificação internacional da construção civil sustentável desenvolvido a partir da certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environmentale) e aplicado no Brasil. 2.3.1 Fundação Vanzolini Em 1967, a Fundação Vanzolini foi formada. Trata-se de uma entidade que é mantida e gerida por alguns professores da engenharia de produção da Universidade de São Paulo (USP). Somente em 1991 que se iniciaram as atividades 36 de certificações. Portanto, foi esta fundação o primeiro organismo de sistemas de gestão da qualidade acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Atualmente, esta fundação se caracteriza como membro pleno brasileiro e é responsável por 1/3 da certificação mundial em sistemas de gestão, a qual já certifica há 15 anos. (AQUA, 2013). Em 2008, a Fundação Vanzolini criou o processo de certificação AQUA – Alta Qualidade Ambiental, cujo objetivo era lançar no mercado uma certificação de sustentabilidade para a construção civil. A mesma fundação, em 2010, lançou o RGMAT – Registro Geral de Materiais, com a finalidade de analisar o desempenho ambiental dos materiais, baseado no seu ciclo de vida, incluindo o consumo de recursos naturais, energia, água, emissão de gases, resíduos sólidos, entre outros (AQUA, 2013). O selo de identidade ambiental é possível conseguir, desde que as exigências sejam todas cumpridas. Este só será concedido após o cumprimento de exigências para os produtos, que podem vir a serem apostos nas embalagens e nos pontos de vendas. O processo AQUA visa garantir a qualidade ambiental de um empreendimento novo de construção ou reabilitação utilizando-se de auditorias independentes. Segundo a Fundação Vanzolini (2008 apud LEITE, 2011, p.28), ele pode ser definido “como sendo um processo de gestão de projeto visando obter a qualidade ambiental de um empreendimento novo ou envolvendo uma reabilitação”. Segundo Leite (2011), o processo de certificação é estruturado em torno dos aspectos relacionados a implementação do sistema de gestão ambiental (empreendedor), adaptação do ambiente a sua envolvente e ambiente imediato e informações transmitidas pelo empreendedor aos usuários. 2.3.2 Certificação AQUA As certificações ambientais de edifícios são avaliações dos empreendimentos a partir de estatísticas de desempenho de edifícios de referência. O desempenho dos edifícios de referência são metas a serem buscadas por novos empreendimentos. Os sistemas mais comuns existentes hoje no mercado brasileiro são: LEED (Leadership in Energy and Environmental Design); AQUA – é uma 37 certificação internacional da construção sustentável desenvolvido a partir da certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environmentale) e aplicado no Brasil. PROCEL; CASA AZUL; BH SUSTENTÁVEL. O processo AQUA - Alta Qualidade Ambiental, trata-se de uma certificação da construção sustentável, que nada mais é que uma adaptação da HQE – Francesa (Démarche Haute Qualité Environnemental). O HQE já está no mercado francês desde 1990, registrado pela Association Française de Normalisation – AFNOR. O processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) de certificação é a versão brasileira adaptada do sistema HQE (França). O objetivo desse processo é buscar a qualidade ambiental do empreendimento definida pela associação HQE como: qualidade do edifício e dos seus equipamentos (em produtos e serviços) e os restantes conjuntos de operação, de construção ou adaptação, que lhe conferem aptidão para satisfazer as necessidades de dar resposta aos impactos ambientais sobre o ambiente exterior e a criação de ambientes interiores confortáveis e sãos (PINHEIRO, 2006, p.243). O selo AQUA é a 1ª norma brasileira para certificação de construções sustentáveis. Ele considera as especificidades do nosso país e utiliza 14 critérios para analisar os edifícios (da gestão da obra ao seu funcionamento posterior). Sua criação traz maior competitividade aos empresários brasileiros, já que internacionalmente são exigidos selos desta natureza para que obras tenham reconhecimento. Como o Processo AQUA atende às necessidades legislativas, de clima e de fontes de energia do Brasil, é mais adaptado à nossa realidade do que selos como o LEED muito utilizado mundialmente. Sua aplicação permite a redução do consumo de água, energia, CO² e matérias primas, aumentando a qualidade de vida dos usuários e o desenvolvimento socioeconômico ambiental da região. O primeiro referencial técnico brasileiro é o AQUA e contém os requisitos para o Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) e os critérios de desempenho nas categorias da Qualidade Ambiental do Edifício (AQUA, 2008). A definição da certificação é um sistema de avaliação que valoriza a coerência das soluções, personalizadas para cada projeto, respeitando suas especificidades (AQUA, 2013). A empresa responsável pela implantação do processo AQUA, no Brasil, foi a Fundação Vanzolini, instituição privada e sem fins lucrativos. De acordo com a Fundação Vanzolini (2017), o processo AQUA pode ser definido como sendo “um processo de gestão de projeto visando obter a qualidade ambiental de um http://www.cliquearquitetura.com.br/p1/artigos/construcao-sustentavel.html http://www.cliquearquitetura.com.br/p1/artigos/construcao-sustentavel.html 38 empreendimento novo ou envolvendo uma reabilitação”. Os benefícios da certificação pelo processo AQUA incluem melhorias que atingem o empreendedor, o projetista, o comprador e a sociedade, juntamente com o comprometimento ambiental. Documento da Fundação Vanzolini (2017) explica que a obtenção do desempenho ambiental tem como fundamento o conceito de que um dos métodos mais confiáveis de obter tal desempenho passa pela gestão eficaz e rigorosa do empreendimento. Diante disso, em dois elementos estrutura-se o referencial técnico de certificação: Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) que avalia o sistema de gestão ambiental implementado; Qualidade Ambiental do Edifício (QAE) que avalia o desempenho arquitetônico e técnico do edifício. Para se atingir a qualidade ambiental desejada, essa estrutura permite que haja a gestão necessária. O SGE define a qualidade ambiental, organiza e controla os processos operacionais em todas as fases do programa, passando pela concepção (projeto), realização (obra) e Operação ou Uso (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2011). O referencial do SGE se organiza, conforme coloca a Fundação Vanzolini (2011, apud LEITE, 2011, p.29), em quatro etapas: Comprometimento do empreendedor, em que são descritos os elementos de analise solicitados para a definição do perfil ambiental do empreendimento e as exigências para formalizar tal comprometimento; Implementação e funcionamento, no qual são descritas as exigências em termos de organização; Gestão do empreendimento, no qual são descritas as exigências em termos de monitoramento e analises criticas dos processos, de avaliação da QAE, de atendimento aos compradores e de correções e ações corretivas; Aprendizagem, onde são descritas as exigências em termos de aprendizagem da experiência e de balanço do empreendimento. A organização, as competências, o método, os meios e a documentação necessária para se atingir os objetivos e exigências propostas são definidos pelo empreendedor. Toda solução é adotada pelo SGE e, em consideração, são levados os aspectos mais significativos para o empreendimento. Dentre estes podem ser citados: exigências legais e regulamentadoras, funcionalidade, necessidades e expectativas das partes interessadas, o entorno, custos e política do empreendedor (LEITE,