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VULVOVAGINITES AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - São afecções que acometem o epitélio estratificado da vulva e/ou vagina, e diferenciam das cervicites (gonococo e clamídia) pelo agente etiológico que acomete. - Os agentes etiológicos das vulvovaginites e vaginoses são fungos, bactérias anaeróbicas, tricomonas e até mesmo um aumento exacerbado da flora normal de lactobacilos. - Sempre é importante um diagnóstico microbiológico, devido a presença de mais de um patógeno que mascara sinais e sintomas, mas nem sempre é possível. - Nem toda descarga vaginal fisiológica anormal advém de infecções vaginais, geralmente variam conforme ciclo menstrual e etapas do ciclo de vida feminino. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL (CVV) - Cerca de 10-20% das mulheres podem ser colonizadas com candida sp., assintomáticas, não requerendo tratamento. - O agente causa é a candida albicans em 80-92% dos casos, sendo o restante de outras espécies não-albicans. - O que é candida recorrente? · Quando o paciente refere quatro ou mais episódios de candida sintomática em um ano, e geralmente o agente é o albicans que é suscetível aos azóis em regime supressivo por pelo menos 6 meses, uma vez por semana com controle dos sintomas em 90% dos pcte. - A incidência da candida aumenta após a menarca, com picos entre 30 e 40 anos. - Candidíase sintomática – resposta imunológica inata agressiva e deve ser tratada - O que é candidíase complicada? É a forma severa ou recorrente, ou por outras espécies de cândida ou hospedeiro com resposta imunológica inadequada. - Fatores de risco · Estados hiperestrogênicos · Diabetes mellitus · Imunossupressão por medicamentos ou doenças de base · Gravidez · Uso de tamoxifeno · Uso de antibióticos · Hábitos alimentares · Vestimentas propicias ao crescimento contínuo dos fungos Diagnóstico - Sintomas clássicos – prurido, ardência, corrimento geralmente grumoso sem odor, dispareunia de introito vaginal e disúria externa. - Sinais característicos – eritema e fissuras vulvares, corrimento grumoso, com placas aderidas à parede vaginal, de cor branca, edema vulvar, escoriações e lesões satélites, por vezes pustulosas pelo ato de coçar. - Não há sintoma ou sinal patognomônico de CVV, por isso que adição do diagnóstico laboratorial é valiosa. - Antes de terapia antifúngica empírica, o diagnóstico deve ser confirmado com citologia a fresco com SF e KOH a 10%. · Se negativa – culturas vaginais específicas podem ser consideradas - pH normal vaginal (<4,5) – não é utilizável no diagnóstico - Teste de Schiller – colpite em pontos, por vezes erosiva, se resposta inflamatória muito intensa. - Sempre que possível, deve-se obter o diagnóstico microbiológico da CVV que deve ser realizado com Swab coletado por colocação de espéculo vaginal – de preferência no fórnice vaginal anterior. - O isolamento de candida é comum em mulheres assintomáticas, nas quais o tratamento é contraindicado - A severidade dos episódios de CVV é proporcional aos sintomas e sinais clínicos e não aos dos laboratoriais e a severidade pode requer tratamento mais intenso. - Antes de tratar, o diagnóstico deve ser confirmado com citologia a fresco, além de medir o pH (que normalmente é ácido) - Diagnóstico diferencial · Dermatoses vulvares pruriginosas – dermatose liquenificação · Vulvovaginites alérgicas Tratamento - Mudanças de hábitos · Não utilizar sabonetes e cremes vulvovaginais que não respeitem o pH · Evitar uso de roupas sintéticas apertadas · Uso de produtos higiênicos adequados minimiza os riscos alergênicos e irritantes, além de interferir menos com a microbiota regional · Acidez vaginal excessiva – soluções de bicarbonato · Reposição de lactobacilos vaginais – ingerir substâncias probióticas · Preferência por ACO de baixa dosagem · Evitar uso indiscriminado de ATB e corticoides - Só uma via de administração – ou oral ou vaginal - Não há necessidade de convocar o parceiro, a não ser que o tal apresente queixas - Crianças e mulheres sem vida sexual ativa – preferência pelo tratamento sistêmico - Não há evidência de superioridade de nenhum agente tópico ou oral - Tratamento · 1ª opção · Miconazol creme 2% via vaginal por 7 dias, um aplicador pela manhã e outro pela noite (antes de dormir); OU · Nistatina 100.000 UI, uma aplicação, via vaginal, à noite ao deitar-se, por 14 dias. · 2ª opção · Fluconazol 150mg, VO, DU; OU · Itraconazol 100mg, 02 comprimidos, VO, 2x/dia, por 1 dia. - Se CVV complicada ou recorrente – 4x/ano · 1ª linha · Para indução – Fluconazol 150mg, VO, 1x/dia, no dia 1, 4, 7. · Para manutenção – Fluconazol 150mg, VO, 1x/semana, durante 6 meses. · OU · Indução · Itraconazol 100mg, 02 comprimidos, VO, 2x/dia, por 1 dia; OU · Miconazol creme vaginal tópico diário por 10-14 dias. · Manutenção · Miconazol creme vaginal tópico, 2x/semana; OU · Óvulo vaginal, 1x/semana, durante 6 meses - O tratamento em gestantes e lactantes é somente por via vaginal, via oral é contraindicado. VAGINOSE BACTERIANA - É a desordem mais frequente do trato genital inferior, entre mulheres em idade reprodutiva (grávidas e não grávidas), e causa mais prevalente de corrimento vaginal com odor fétido. - Resulta da perda da flora vaginal normal de lactobacilos (Flora de Dodërlein) e supercrescimento de inúmeras bactérias · Como gardnerella vaginalis, bacilos e cocos gram negativos anaeróbios, M. hominis, Ureaplasma urealyticum, Mobiluncus curtesii e mulieris, assim como o S. agalactie (do grupo B). · Assim como o Trichomonas vaginalis, essas espécies produzem sialidase que pode decompor produtos do muco cervical, levando ao corrimento bolhoso que cobre a vagina. - Fatores risco · Corpos estranhos como tampões retidos · Duchas constantes · Adereços sexuais · Múltiplos parceiros e troca recente de parceiro · Fumo · Falta de Condom · Uso de ACO · Uso indiscriminado de ATB · Diafragma e anel vaginal · Espermicidas - Não há uma resposta inflamatória comum aos patógenos, não há inflamação. - Aumento intenso de sialidases – facilita ascenção de germes na DIP As bactérias da VB aumentam na época da menstruação, o que explica a maior incidência de DIP pós-menstrual, se houver cervicite associada. - Sem lactobacilos, o pH de 4-4,5 aumenta e a gardnerella vaginalis produz aminoácidos os quais são quebrados pelas bactérias anaeróbicas da VB (aminas voláteis). · pH elevado · Odor desagradável Quadro clínico e diagnóstico - Sintomas e sinais · Queixa de corrimento perolado, com odor fétido, principalmente após o coito e pós-menstrual · Exame especular – paredes vaginais íntegras, marrons homogêneas ao teste de Schiller · Corrimento perolado bolhoso às custas das aminas voláteis · Corrimento bolhoso, leitoso e branco-acinzentado. - Possível cascata inflamatória com colonização do trato genital superior, ajudando explicar a ocorrência de DIP ou corioamnionite da gravidez - Critérios de Amsel (1983) – critérios diagnósticos · Corrimento vaginal homogêneo · pH>4,5 · Presença de clue cells a fresco · Whiff teste positivo – odor fétido das aminas com adição de KOH a 10% - Coloração pelo gram, do fluido vaginal é o método mais utilizado - Sistema NUGENT · VB a partir de 7 · Entre 4 a 6 é intermediário · De 0 a 3 é normal Tratamento - Tratamento eficaz – incluindo gestantes e lactantes · 1ª linha · Metronidazol oral, 500mg 2x/dia, por 7 dias, ou 1x/dia se 1g; OU · Prof – colocou 250mg 02 comprimidos VO, 2x/dia, por 7 dias · Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicador cheio via intravaginal, uma vez ao dia durante a noite ao deitar, durante 5 dias; OU · 2ª opção · Clindamicina 300mg, VO, 2x/dia, por 7 dias - Vaginose bacteriana recorrente · Metronidazol 250mg, 02 comprimidos, VO, 2x/dia, por 10-14 dias; OU · Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicador cheio, via vaginal, 1x/dia por 10 dias, seguido de tratamento de manutenção. · Manutenção – tratamento supressivo com óvulo de ácido bórico intravaginal de 500mg ao dia por 21 dias E metronidazol gel vaginal 100mg/g, 2x/semana, por 4 a 6 meses. - Não é necessário tratar os parceiros sexuais assintomáticos - Pode testar um mês após otratamento para assegurar a cura - As gestantes, lactentes e puérperas podem usar a 1ª opção, não precisa ser necessariamente o gel vaginal. TRICOMONÍASE - É uma vulvovaginite bem frequente causada por um protozoário flagelado, o Trichomonas vaginalis – 1/3 mulheres no período de vida sexual ativa, teve, tem ou terá uma tricomoníase. - É essencialmente uma IST, por isso deve chamar o parceiro para consulta e tratamento conjunto, diminuindo o número de recidivas, quando os parceiros são tratados. - O colo uterino apresenta-se microulcerações com aspecto de morango ou framboesa - É possível haver infecção endocervical glandular, assim como nas glândulas de Skene e Bartholin e na uretra - Elevação do pH (6,7-7,5) · Meio alcalino – flora bacteriana patogênica, inclusive anaeróbica - Liberação de aminas com odor fétido, além de provocar bolhas na descarga viral purulenta. - Resposta inflamatória intensa – alterações nucleares e halos inflamatórios celulares que podem alterar a citologia oncótica, com resultados de lesões intra-epiteliais escamosas, que desaparecem após a cura da tricomoníase. Quadro clínico e diagnóstico - Pode, apresentar-se de um quadro assintomático (50%) até grave doença inflamatória aguda. - Aproximadamente 1/3 das pacientes assintomáticas torna-se sintomáticas em seis meses - Sintomas e sinais · Intensa descarga vaginal amarelo esverdeada, bolhosa, espumosa, por vezes acinzentada, acompanhada de odor fétido, lembrando peixe na maioria dos casos e prurido eventual. · Quando inflamação intensa – corrimento aumenta e pode ter sinusiorragia e dispareunia. - Exame clínico – sinal do colo em aspecto de morango, devido a distensão de capilares e micro-hemorragias (sinal do colo em Framboesa) - Colposcopia – teste de Schiller “onçoide” - No homem – uretrite subaguda, até assintomática em 60% dos casso, porém é contagiosa - Diagnóstico laboratorial microbiológico – exame a fresco, com gota do conteúdo vaginal e SF, observando-se o parasita ao microscópio. - pH >5 (habitualmente maior que 6,6) - Teste de aminas positivo - Bacterioscopia com coloração de gram – parasita gram negativo com morfologia característica Tratamento - 1ª opção incluindo gestantes e lactentes · Metronidazol 400mg, 05 comprimidos, VO, dose única (dose total de tratamento 2g); OU · Metronidazol 250mg, 02 comprimidos, VO, 2x ao dia por 7 dias. - Os parceiros sexuais devem ser tratados com o mesmo esquema terapêutico – é uma IST - Para puérperas, gestantes e lactentes recomenda-se o mesmo tratamento das gestantes. - Repete a citologia a cada 3 meses OUTRAS CAUSA – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Cervicites - É uma causa infecciosa da inflamação do colo do útero, e ao contrário das VVV, elas têm o potencial de complicação, podendo atingir o útero, tubas uterinas, ovários e até mesmo infectar a cavidade abdominal e causar peritonite. - Geralmente é causada por uma infecção, a mais comum é a pela Chlamydia trachomatis seguida pela Neisseria gonorrhea. - Podem ser assintomáticas, ou ser sintomáticas e causar corrimento vaginal purulento e sangramento vaginal entre os períodos menstruais ou após o coito. - Sintomas – dispareunia, irritação vulvar/vaginal ou disúria. - É uma IST – deve-se tratar o parceiro - Se Clamídia, · Azitromicina 1g VO, DU; OU · Doxiciclina 100mg, VO, 2x/dia por 7 dias. - Se Gonorreia, · Ceftriaxona 500 mg IM DU se peso<150kg; OU · Ceftriaxona 1g IM + Azatromicina 1g VO DU se peso>150kg.
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