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Doação de órgãos e Morte encefálica

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Doação de órgãos e Morte 
Encefálica 
 
 
Disciplina: Saúde Bioética e Sociedade 
 
Professora Maria Renita Burg Figueiredo 
 
Conceito atual de morte 
 “ Indivíduo que apresenta cessação irreversível das 
funções cardíacas e respiratórias OU cessação 
irreversível de todas as funções de TODO o encéfalo , 
incluindo o tronco cerebral” impossibilitando a 
manutenção da vida sem auxilio de meios artificiais 
 
 Havendo qualquer sinal de atividade em tronco 
encefálico não existe morte encefálica, portanto o 
indivíduo não pode ser considerado morto 
(anencéfalos e fase final de pacientes com Alzheimer) 
MORTE ENCEFÁLICA 
O CONCEITO fisiopatológico atual 
assegura que a morte somente pode ser 
determinada quando ocorre lesão 
irremediável do encéfalo. 
 
 
 
 
 
 
Conceitos 
 A Morte Encefálica deverá ser consequência de 
processo irreversível e de causa conhecida que 
demonstrem, durante um intervalo de tempo, de 
forma inequívoca, ausência da perfusão sanguínea 
cerebral ou da atividade elétrica ou metabólica 
Bittencourt, Almir : Avaliação do conhecimento dos estudantes de medicina sobre ME 
Revista Brasileira de Terapia Intensiva Vol. 19 n. 2 – Abr-Jun 2007 
Repercussões 
 Sofrimento psicológico familiares; 
 
 Necessidade de racionalização de recursos humanos e 
materiais. Evitar a manutenção artificial da vida em 
paciente já mortos; 
 
 Possibilidade de doação de órgãos 
Terra C. M “Morte encefálica: Análise” Hospital Universitário – USP Departamento de Ped. 1994 
 
Morte Cerebral - Legislação Lei Nº 9.434/97 
 Capítulo II – Da disposição “Pós Mortem” de tecidos, órgãos e 
partes do corpo humano para fins de transplante. 
 Art.3 
 A retirada deverá ser precedida de diagnóstico de ME, constatada e 
registrada por dois médicos não participantes das equipes de 
remoção e transplantes com critérios clínicos e tecnológicos 
definidos por resolução do CFM. 
Art.13 
 É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde, notificar, 
às centrais de transplantes estaduais, o diagnóstico de morte 
encefálica feito em pacientes por eles atendidos. 
A Lei 11.521 de 2007- Altera a Lei nº 9.434/1997, para permitir a 
retirada pelo Sistema Único de Saúde de órgãos e tecidos de 
doadores que se encontrem em instituições hospitalares não 
autorizadas a realizar transplantes. 
 
 
 
Doação de órgãos 
Lei Nº 10.211/2001 
Capitulo I Art.4 
 A retirada dependerá da autorização do 
cônjuge ou parente, maior de idade, 
obedecida a linha sucessória, reta ou 
colateral, até segundo grau inclusive, firmada 
por documento. 
 
Morte Encefálica 
 Paciente sem critério para doação 
ou sem o consentimento familiar 
Diagnóstico de ME 
 
Cadáver (aspecto legal, moral e ético) 
Resolução 1.986/2007 
 
Estudo com 310 pacientes em ME 
88% evoluíram para PCR em 24 horas 
100% em até 5 dias 
 
Bases Clínicas da Morte Encefálica 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
Bases Clínicas da Morte Encefálica 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
Epidemiologia da Morte Encefálica 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
• TCE 
• AVC 
• Lesão cerebral hipóxico-isquêmica 
 
90% das causas 
de coma na Morte Encefálica 
Bases Anatomoclínicas da ME 
Exame Neurológico 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Coma sem resposta – Glasgow 3 
 
 
-Paciente descoberto e exposição dos 4 membros. 
 
-Estímulo doloroso na face (região supra orbitária ou 
têmporo-mandibular). 
 
-Estímulo doloroso nas unhas. 
 
-Estímulo no esterno ou nos mamilos não é o mais 
adequado: não testa vias do tronco encefálico 
Nervo Trigêmio: 
mandibular, oftálmico 
e maxilar. 
Exame Neurológico 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Ausência de reflexos tronco encefálico 
 
Reflexo Pupilar ou Fotomotor 
 
• dilatação, sem resposta (contração) a luminosidade por 10 segundos 
 
• observar cirurgias oftalmológicas, midriáticos tópicos, atropina, trauma 
ocular ou da face 
 
 
 
 
 
Exame Neurológico 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Ausência de reflexos tronco encefálico 
Reflexo Corneano 
 
 
 
 
 
Prova calórica ou Reflexo Vestíbulo-Calórico 
 Observação de movimentos oculares após uso de agentes 
térmicos por 2 minutos (água gelada perto de zero grau ou 
quente) através do conduto auditivo externo 
 
 No paciente comatoso e com tronco cerebral íntegro existe 
desvio de ambos os olhos para o lado do estímulo com água 
gelada e contralateral com água quente. No paciente com 
ME não existe resposta a qualquer estímulo 
 
 Conduto auditivo deve estar íntegro, sem tampão de 
cerúmen 
 
 Colocar o paciente semi-sentado (30-45 graus) 
Resolução CFM n 1480 de 8/8/97 
 
Exame Neurológico 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Ausência de reflexos tronco encefálico 
 
Reflexo de Tosse (ausência de tosse, náusea, 
sucção, deglutição após introdução de sonda além do 
TOT) 
 
 
 
 
 
 
 
Exame Neurológico 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Ausência de reflexos 
tronco encefálico 
 
 
Teste de Apneia 
1. Ventilação O2 100% 10 min. + 
gasometria 
2. Desconexão respirador e O2 por 
CN a 6l/min 
Teste positivo: apneia absoluta, 
PaCO2 > 55 mmHg (gasometria) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exames Complementares 
Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização. Moratto, 2009 
 Eletroencefalografia 
Arteriografia 
Doppler transcraniano 
No Brasil, é obrigatória a realização de 
pelo menos um exame. 
 
 
 
 
 
 
 
Manuseio do Potencial Doador 
Rech e Filho, 2007 
• Cuidados gerais: revisão medicações: anticonvulsivantes, 
analgésicos, antitérmicos, diuréticos. Cabeceira elevada 30º, Controles 
h/h. 
• Dosagens laboratoriais: hemograma, plaquetas, provas de 
função renal, tipagem sanguínea, ECG, Rx tórax. 
• Cuidados cardiovasculares: coração x rins. Correção 
hipovolemia, vasopressores. 
• Reposição hormonal: diabetes insipidus (grande perda de 
água – hipernatremia) 
Critérios diagnósticos 
 Conhecimento do agente causal do coma 
 
 Hipotermia: o exame clínico geral e neurológico deve ser realizado com 
o paciente com temperatura maior ou igual a 32 graus, mesmo que para 
isto seja necessário pré-aquecimento com colchões térmicos. 
 
 O paciente deve estar estabilizado do ponto de vista hemodinâmico 
mesmo que para isto seja necessário o uso de drogas vasoativas ou 
fluidos. Evitar o uso de paralisantes neuromusculares. 
 
 Deve ser afastada a hipótese de intoxicação exógena. 
 
 Não deve haver uso de barbitúricos. 
Bittencourt, Almir : Avaliação do conhecimento dos estudantes de medicina sobre ME 
Revista Brasileira de Terapia Intensiva Vol. 19 n. 2 – Abr-Jun 2007 
 
Protocolo Crianças 
IDADE AVALIAÇÃO PERÍODO OBSERVAÇÃO 
7 dias-2 meses 2 exames clínicos e 2 exames 
complementares 
48 horas 
2 meses-1 ano 2 exames clínicos e 2 exames 
complementares 
24 horas 
1-2anos incompletos 2 exames clínicos 2 exames 
complementares 
12 horas 
> 2 anos2 exames clínicos e 1 exame 
complementar 
6 horas 
Resolução CFM n 1480 de 8/8/97 
 
Condutas após realizado o 
diagnóstico de ME 
 Comunicar o médico assistente 
 
 Comunicar a família 
 
 Se paciente é candidato a doação, mantê-lo em VM 
 
 Comunicar a central de doação de órgãos. Deverá o 
profissional de saúde deste órgão a responsabilidade de 
conversar com a família sobre doação de órgãos. 
 
Resolução CFM n 1480 de 8/8/97 
 
Recomendações 
 Manter os familiares informados dos testes, do 
seu resultado, significado e prognóstico; 
 Procure ser um facilitador do processo que é 
longo, difícil, que precisa de discrição, seriedade 
e humanidade; 
 Registre tudo e todos os passos do protocolo na 
evolução médica e na folha padronizada. 
 
 
Comissão Intra-hospitalar de Captação de 
Órgãos e Tecidos 
 
 Função de organizar, no âmbito hospitalar, o processo 
de doação; 
 Conscientizar os colaboradores da instituição, outros 
hospitais e comunidade; 
 Peça fundamental no Sistema de Notificação de 
Transplantes. 
 
Código de Ética Médica 
 Capítulo VI 
 DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS 
 É vedado ao médico: 
 Art. 43. Participar do processo de diagnóstico da morte ou da 
decisão de suspender meios artificiais para prolongar a vida do 
possível doador, quando pertencente à equipe de transplante. 
 Art. 44. Deixar de esclarecer o doador, o receptor ou seus 
representantes legais sobre os riscos decorrentes de exames, 
intervenções cirúrgicas e outros procedimentos nos casos de 
transplantes de órgãos. 
 Art. 45. Retirar órgão de doador vivo quando este for 
juridicamente incapaz, mesmo se houver autorização de seu 
representante legal, exceto nos casos permitidos e 
regulamentados em lei. 
 Art. 46. Participar direta ou indiretamente da comercialização de 
órgãos ou de tecidos humanos. 
Doação de Órgãos 
Doação de Órgãos 
Dificuldades 
RECUSA DOS FAMILIARES 
 
• Crenças religiosas e culturais 
• A espera de um milagre 
• A falta de informações e não compreensão do diagnóstico 
• O receio de mutilação do corpo 
• Desencontro de informações fornecidas a família 
• Desconfiança e o medo do comércio de órgãos 
• O desejo do paciente em vida não ser um doador de órgãos 
 
DESCONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS 
 
FALTA DE RECURSOS 
Possibilidade de doação 
 Doador Vivo – rim, fígado, pulmão e MO; 
 Doador em Morte Encefálica – doação de 
múltiplos órgãos (ver próximo slide) 
 Doador de coração parado ( imediato) – doação de 
rins; 
 Doador de coração parado tardio (6 hs) doação de 
córneas. 
 
 
 
 
Lista de espera RGS (início 2015) 
 Rim – 981 
 Fígado – 154 
 Pulmão – 61 
 Coração – 16 
 Pâncreas/Pâncreas-Rim – 20 
 Fígado/Rim; 3 
 Córnea - 125 
O RS permaneceu como líder nacional na doação de 
órgãos durante 20 anos e agora é o oitavo de acordo com 
a Associação Brasileira de transplantes de órgãos. 
Doadores por milhão de habitantes 
1º Espanha........................34 
2º Porto Rico...................28,8 
3º Bélgica........................28,2 
4º Estados Unidos...........26,6 
19º Alemanha.....................16 
20º Canadá......................14,8 
36º Brasil...........................7,2 
Santa Catarina.................16,7 
RS.......................................13 
 
 Porque doar!!! 
Lista de espera por um órgão/tecido tem 
crescimento constante. 
Qualidade e quantidade de vida pós transplante 
é comprovadamente melhor. 
Critérios de ME rígidos e reconhecidos 
mundialmente. Processo captação-transplante 
com gerenciamento centralizado e legalmente 
organizado. 
Possibilidade de ter um certo conforto frente ao 
sofrimento de perda familiar. 
 
 
Ações para aumentar as doações 
 Campanhas pró-doação para o público geral 
 Eventos e veiculação da mídia de informações sobre 
a importância da doação 
 Programa de formação de coordenadores intra-
hospitalares no RS desde 2001 
 Lista única de distribuição de órgãos RS/2000 
 Identificar de forma mais efetiva potenciais 
doadores, para aumentar a captação. 
 Adoção do modelo espanhol (remuneração dos 
profissionais e dedicação exclusiva a captação). 
 
Taxas de sobrevida dos pacientes 
ORGÃO DÉCADA DE 80 HOJE 
Coração 70% 80% 
Fígado 64% 87% 
Pâncreas 80% 90% 
Pulmão 50% 70% 
Rim 70% 99% 
Intestino delgado 20% 50% 
Medula 30 a 50% 40 a 95% 
Banco de Tecidos Musculoesqueléticos 
 Para haver doação não é necessário assinar nenhuma declaração em 
vida para que aconteça a doação. Uma única doação de osso pode 
beneficiar mais de 30 pessoas. 
 O corpo não fica mutilado pois são colocadas próteses no lugar dos 
tecidos retirados. 
 Os materiais mais usados em transplantes e enxertos são os tecidos 
de origem humana, obtidos de doadores vivos ou falecidos. Os 
segmentos e tecidos que podem ser captados são: 
 Úmero, rádio e ulna – membros superiores; 
 Acetábulo, ilíaco, fêmur, tíbia, fíbula, tálus, menisco e tendões- 
membros inferiores; 
 Na maioria das vezes, é necessário um pequeno fragmento para 
reconstruir uma lesão. Mas pode ocorrer a substituição de um osso 
inteiro para evitar a amputação de membros de pacientes com 
câncer ósseo. 
 No RGS, a única estrutura fica em Passo Fundo, no Hospital São 
Vicente de Paulo, em 2014 teve 55 doadores vivos e 18 mortos. 
Beneficiou 4 mil pessoas em 9 anos. 
Resumindo, como ser doador 
de órgãos 
 No Brasil, o transplante só acontece com a autorização de 
um familiar doador. Por isso é fundamental falar com a 
família sobre o desejo de doação. A doação de órgãos só 
acontece após autorização por escrito de familiar. 
 Existe o doador vivo e o doador com morte encefálica. 
Qualquer pessoa saudável pode doar um dos rins, parte do 
fígado, medula óssea e parte do pulmão. 
 Pela lei, parentes até o 4º grau e cônjuges podem ser 
doadores. Não parentes, somente com autorização judicial. 
O doador com morte encefálica geralmente são vítimas de 
traumatismo craniano ou derrame cerebral. A retirada 
dos órgãos é realizada em centro cirúrgico. 
Resumo, cont. 
 Podem ser doados coração, pulmão, fígado, pâncreas, 
rim, córnea, ossos, músculos e pele. 
 O diagnóstico de morte encefálica é regulamentada 
pelo Conselho Federal de Medicina. Dois médicos de 
diferentes áreas examinam o paciente, sempre com 
comprovação de exames complementares. 
 Recebem os órgãos pessoas que estiverem na fila de 
espera gerenciada pela Central de Transplantes do 
Estado e se forem compatíveis com o doador.

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