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DOR EM MEMBROS · A dor crônica pode evoluir de modo persistente ou recorrente. · A dor persistente é rara em crianças e pode indicar a necessidade de investigar-se uma doença de base; já a queixa de dor recorrente, que evolui em surtos com duração, intensidade e frequência bastante diversificados, separados por períodos assintomáticos. Dor recorrente · Pelo menos 3 episódios de dor, com dor que interfere nas atividades habituais, por esse período Abordagem diagnóstica · É necessária uma anamnese adequada, com história e exame físico completos. · Há necessidade de caracterização da dor. · Caracterizar se existem ou não manifestações sistêmicas e comprometimento do estado geral da criança associados à queixa de dor · A ocorrência de causa orgânica para dores recorrentes é baixa, sendo observada em 10% a 15% dos casos Perguntas essenciais: · há quanto tempo tem essa dor? · como é a dor? · o quanto a dor atrapalha a vida da criança? · com que frequência ocorre? · onde é a dor? · tem alguma irradiação? · quando e onde ocorrem os episódios? · o que faz aparecer a dor? · o que faz a dor melhorar? · como está a dor hoje? · vem melhorando ou piorando? Características da dor · início do sintoma · propagação · frequência · duração · fatores precipitantes, agravantes e de alívio · tipo e intensidade · sintomas associados · tratamentos anteriores. Dores recorrentes em membros · São mais frequentes em escolares, entre quatro e 10 anos de idade, com discreto predomínio nas meninas · Mais de 90% dos casos, trata-se de entidade clínica sem fisiopatologia definida · A ocorrência de causa orgânica é rara, acontecendo em cerca de 3% a 4% dos casos Sinais de alerta · Dor localizada e fixa · Dor com irradiação para quadril, joelho ou região lombossacra · Dor acompanhada de parestesias, câimbras ou fraqueza · Presença de pontos dolorosos à palpação · Dor à palpação muscular · Dor à movimentação passiva · Alteração da força muscular · Dificuldade ou alterações à marcha · Manifestações sistêmicas associadas · Dor persistente e resistente aos analgésicos Dores recorrentes em membros sem manifestações sistêmicas Dores difusas · As dores difusas são as mais frequentes: dor de crescimento, fibromialgia, hipermobilidade articular, alterações estruturais e posturais Dor de crescimento · Dor intensa bilateralmente (80%) · Predomínio noturno (ou final da tarde) · Pode acordar a noite por dor · Duração de minuto a horas · Localização: parte anterior da coxa, canelas, panturrilhas e atrás do joelho – 80% · Acorda bem ( sem dor, claudicação, febre , artrite ou artralgia) / com períodos livres de dor Exame Físico: normal ( > flexibilidade articular) – caminha normal, sem deformidades de coluna e extremidades, sem fraquezas ou alteração de reflexos. · A criança não consegue apontar com precisão o ponto doloroso, pois a dor é difusa. · A correlação com exercícios nem sempre é referida · Comumente a história tem longa duração, sem referência a traumatismos, · Não existem outras queixas associadas ou comprometimento do estado geral. · Melhora com calor, massagem e analgésicos. · O exame físico geral e do aparelho locomotor em especial, são normais, assim como o exame radiológico e as provas laboratoriais · Essencial: suporte emocional, esclarecer sobre a benignidade, passar tranquilidade para criança Caso Clínico Menino, 6 anos Acorda no início da noite com um choro agudo e se queixa de dores nas pernas. Dor intensa e difusa perna bilateralmente há 6 meses. Duração de 10 minutos a 1 hora Mãe refere que após breve massagem, a criança logo adormece, acordando bem no dia seguinte, sem dor. Raramente é necessário administrar algum analgésico Nega dificuldade de deambulação ou sinais flogísticos em qualquer região Mãe relaciona alguns episódios a atividade física durante o dia Exame Físico T 36,6°C, FR 20 irpm; FC 78bpm; • BEG, corado, eupneico, anictérico • Orocospia e Otoscopia: sem alterações • Coração: BRNF 2T sem sopros. • Pulmão: MV+ bilateral e simetricamente sem Ruídos adventícios. • Abdome: fígado e baço não palpáveis, baço não percutível •Membros superiores e inferiores: Sem alterações a inspeção, movimentação passiva e ativa das articulações · Fisiologia não definida, é uma dor muscular Fibromialgia (FM) · Mais frequente em adolescentes, sexo feminino · Média de idade de início de 12 anos, duração de +/- 30 meses · Pontos dolorosos mais frequentes nas regiões da escápula, cotovelo e joelho · Quadro de dor musculo-esquelética difusa, intermitente, geralmente associada a alterações de humor (depressão, ansiedade), a distúrbios de sono e sensação de fadiga. · Os fatores de piora e sintomas associados têm relação com o modo de vida da criança e do adolescente e com situações de estresse, fadiga, ansiedade e depressão · Os pacientes com essa doença apresentam dores difusas recorrentes nos quatro quadrantes do corpo e dor à digitopressão em 11 de 19 pontos de inserção dos músculos · Os exames laboratoriais são normais Síndrome da hipermobilidade articular (SHA) · Acomete crianças maiores de cinco anos de idade · Se caracteriza pela presença de hipermobilidade articular generalizada, associada a dores musculoesqueléticas, com características semelhantes às das dores de crescimento · Essas crianças têm ótimo desempenho em atividades físicas que exigem maior amplitude de movimentos de flexão e extensão, mas têm história de quedas frequentes. · As dores costumam ser difusas, mas podem manifestar-se como periarticulares ou como artralgia. · Frequentemente, limitam-se a uma ou duas articulações e recorrem no mesmo local. · As articulações mais acometidas são a dos quadris, joelhos, cotovelos e tornozelos. · A artrite ocorre em 10% a 20% dos casos. · O exame físico caracteriza-se por uma frouxidão · excessiva das estruturas ligamentares das · articulações e maior elasticidade. · O diagnóstico é confirmado pela presença de pelo menos cinco dos critérios apresentados na Tabela 2 O diagnóstico diferencial deve ser realizada com a síndrome de Ehlers-Danlos e de Marfan que apresentam, além da hipermobilidade articular, outros achados característicos que permitem o diagnóstico Alterações estruturais/posturais · pés planos, genu varum, genu valgum e anteversão dos colos femorais · podem fazer parte do desenvolvimento normal da criança · não há evidências que sustentem que elas possam ser a causa de dores musculoesqueléticas Caso clínico Menino de 5 anos. Mãe acha que a perna está muito torta. Nega dor ou dificuldade ao deambular. Faz todas as atividades com os colegas da escola. Caso clínico Menina de 2 anos, mãe refere que está andando com o pé evertido para fora e acha que tem “pé chato”. Tem um conhecido que usou botinha ortopédica e melhorou Pés planos · diminuição do arco plantar medial · geralmente acompanhado de geno valgo · desde o inicio da marcha até por volta dos 2 anos e meio – 3 anos · planos e afastados para aumentar a base de sustentação · no geral não precisa de tratamento · apenas alívio de dor (se necessário alongamento do tensão de Aquilles) · intervenção médica se: muita calosidade, alívio da dor ou quando progride para colisões tarsais · ajudar as crianças andarem descalças e firmes (ajuda a fortalecer a musculatura – contribui para a formação do arco plantar e reduz o risco de dores nos quadris e joelhos no futuro) · botas ortopédica não são recomendadas (calçados confortáveis e solados contra escorregões) Dores difusas · dor de crescimento, fibromialgia, hipermobilidade articular alterações estruturais e posturais. Dores localizadas · osteoartrite, síndromes de superuso, tumores ósseos Osteocondrites · alterações localizadas na cartilagem dos ossos que geralmente afetam apenas um local, predominando nos membros inferiores. · Acometem mais frequentemente os meninos, com idade entre 3 e 14 anos. · Não se conhece a etiopatogenia, mas supõe-se que traumatismos decorrentes de superuso e, em alguns casos, necrose avascular, não relacionada a traumatismo, possam ser fatorescausais. Síndromes dolorosas de superuso · é cada vez mais precoce a participação de crianças e adolescentes em atividades esportivas, muitas vezes competitivas, mas com preparação física insuficiente. · A sobrecarga de determinadas estruturas anatômicas, por esforço repetitivo, pode levar a microtraumatismos, causando inflamação consequente dor, edema e incapacidade funcional. Pode levar também a fraturas de estresse. · Início recente de uma atividade esportiva ou intensificação de treinamento algumas semanas antes da sintomatologia dolorosa fazem parte da história; · no início do quadro, a dor piora aos esforços e melhora com o repouso. · Com o tempo, a dor persiste mesmo em repouso e torna-se constante, com exacerbação durante a atividade física. · As radiografias não mostram alterações significativas · A utilização excessiva de computadores por crianças e adolescentes, em situação de lazer (jogos eletrônicos) ou de trabalho, por várias horas durante o dia, vem determinando dores musculoesqueléticas localizadas ou difusas em vários pontos. · A criança pode apresentar a chamada tenossinovite dos digitadores – LER (lesões por esforços de repetição) ou DORT (distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho). · Pode ser necessário o uso de analgésicos ou de antiinflamatório não-hormonal e, em alguns casos, tratamento fisiátrico. Tumores ósseos · determinam dor recorrente em membros, localizada, unilateral e fixa no local da lesão. · Dentre os tumores benignos, os mais frequentes são: Osteoma osteóide; Osteocondromas; Condromas. Osteoma osteóide · tumor benigno que acomete a área proximal do fêmur, vértebras e tíbia proximal · determinando dor profunda e penetrante, que piora à noite · Existe dor à palpação local, atrofia muscular, fraqueza e claudicação no lado do membro acometido · dor melhora com o uso de AAS e de outros antiinflamatórios não-hormonais Osteocondroma · massa indolor que afeta as extremidades dos ossos longos e a região de inserção dos tendões · pode evoluir com alterações funcionais, relacionadas à sua localização e tamanho · determina dor por compressão de estruturas vasculares e nervosas. · Cerca de metade dos tumores ósseos primário da criança são malignos, constituindo 1% das neoplasias malignas da infância · Os mais frequentes sãoOsteossarcoma (sarcoma osteogênico) – Reação periosteal: “Raios de Sol · Sarcoma de Ewing - RP: “Casca de cebola” · As alterações radiológicas são sugestivas do tumor, e o diagnóstico definitivo é feito pela biópsia óssea Sinovite transitória do quadril · condição inflamatória autolimitada e não específica · causa mais frequente de dor no quadril nas crianças com menos de 10 anos · acomete mais os meninos que as meninas (3:1) e afeta mais o lado direito. · frequentemente precedida por infecção das vias aéreas superiores nos últimos 30 dias Sinovite transitória do quadril · dor costuma aparecer subitamente, após atividade física mais intensa · aumento do volume articular e a distensão capsular desencadeiam a dor, que pode irradiar‐se para a face medial da coxa e do joelho, fazendo a criança claudicar · exame mais apropriado é a ultrassonografia: da cápsula articular · Tratamento consiste em medidas gerais analgésicas e repouso Doença de Legg-Calvé-Perthes · É uma afecção autolimitada de origem idiopática, decorrente da interrupção do suprimento sanguíneo arterial para a epífise femoral proximal e que resulta em uma área de necrose óssea; mais comum entre 4 e 9 anos. · A criança apresenta dor e claudicação relacionadas com atividade física e melhora ao repouso; a dor pode ser na região inguinal, na face medial da coxa ou no joelho (pela irradiação do nervo obturatório), e o antecedente de queda ou trauma direto é comum no relato dos pais · No exame físico, há maior ou menor restrição dos movimentos de rotação interna, abdução e flexão e hipotrofia da musculatura da coxa e da nádega do lado acometido. Pode haver, ainda, encurtamento do membro no final da doença. Caso Clínico Menino, 7 anos Dor intensa na perna (face anterior- região proximal) direita há 2 dias acompanhado de febre ( até 38,5 graus ). Dor contínua e persistente Não está melhorando com analgésicos. Refere um pouco inchado ( mas refere ter tido trauma no local há 7 dias num jogo de futebol). Está com dificuldade de deambulação. Não está jogando mais futebol. Doença de Osgood‐Schlatter A prática esportiva sem avaliação médica e orientação técnica especializada pode ser prejudicial, pois muitas vezes ultrapassa o limite biológico do sistema musculoesquelético, com risco de lesões por esforços repetitivos. Dor ou desconforto na região anterior do joelho. Muitos adolescentes não conseguem apontar o local de dor, indicando toda a região anterior do joelho. Dor localizada na tuberosidade anterior da tíbia, onde se insere o ligamento patelar. resultado de um processo contínuo de microtraumas por tração ou esforços constantes. Dor localizada que piora à digi‐ topressão, à flexão máxima, à extensão abrupta e ao subir e descer rampas Aumento de volume local com tumefação do tubérculo tibial anterior, muitas vezes bilateral Epifisiólise · caracterizado pelo deslocamento posterior da epífise em relação ao colo do fêmur · fase do estirão do crescimento crescimento rápido em curto período de tempo · dois biótipos + propensos: baixos com sobrepeso e altos e magros · Causas – possível relação com a alteração hormonal pois pode estar associado ao hipotireoidismo, hipogonadismo e ao uso de suplementação com hormônio do crescimento (GH) · Início da dor pode ser agudo ou insidioso, e ela pode ser localizada no quadril, na região inguinal ou irradiar-se para a face interna da coxa e do joelho · O paciente pode deambular claudicando com ou sem dor ou estar incapacitado para o apoio e a marcha · Pode haver ainda atitude em flexão e rotação externa do quadril e diminuição da rotação interna. · O tratamento da epifisiólise caracteriza uma emergência ortopédica, em razão do risco de progressão da doença, sendo necessária a intervenção precoce. · O tratamento de eleição é cirúrgico e varia conforme o grau do deslizamento. · Na maioria dos casos, pode ser feita a fixação in situ Caso clínico Menina de 2 anos estava brincando com a mãe de rodar , ao terminar referiu dor no cotovelo e dificuldade de mobilização
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