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Infâncias e Modos - Tarefa 1

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE GRADUAÇÃO EM HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CENTRO DE GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
Aluna: Isadora da Silva Barbosa Matrícula: 201620607611
Tarefa 2 - Resenha do texto “YouTube, infância e subjetividades: o caso Julia Silva”
A presente resenha se desdobrará sobre um estudo de 2017 produzido por Renata Tomaz,
na época era doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colaboradora da revista
ECO-pós, responsável pelas publicações do programa de Pós-Graduação da UFRJ. Partindo das
informações neste estudo, esta resenha tentará fazer conexões com a atualidade, levantando como
consequência a questão do avanço tecnológico e a rápida mudança que ele produz em si e nas
subjetividades.
De maneira geral, este estudo propõe a hipótese de que a fama é uma possibilidade
existencial na infância contemporânea. Esta conclusão é tomada previamente, determinando de
certa forma de que tipo de infância o texto tratará: uma infância com acesso à tecnologia, à
internet, uma infância que pode experimentar novos meios de construir sua subjetividade que não
aquela produzida pelo sistema social. Mas, ainda assim, não escapa da ideia da lógica de produção
e de preparação para a vida adulta, ainda que encontre durante a infância um papel representacional
de destaque, o papel de ser alguém.
Logo na introdução o texto traz o “ser gente” como algo colocado historicamente.Segundo
o texto, antes do século XX as crianças ocupavam esse lugar de trabalho, de ser, assim como os
adultos poderiam inclusive casar e ter filhos. Já na modernidade a infância é deslocada para ser
escolarizada e preparada para ser adulto. Essa noção de infância é ainda perpetuada na
contemporaneidade quando perguntamos o que a criança quer ser quando crescer, e descobrimos
que através da tecnologia e da internet ela já é, ou pelo menos, poderia ser.
Em seguida o texto traz informações sobre as redes sociais em destaque na época, como o
facebook e seus grupos de youtubers mirins. Atualmente, é possível encontrar uma grande
concentração de influenciadores digitais infantis, que agora ocupam redes sociais como instagram e
tik tok. De acordo com o site de rankings digitais encontrado na resenha, na lista de maiores canais
de youtube do mundo há três que são infantis, no tik tok o perfil com mais likes e vídeos criados
também pertence à uma criança (SOCIAL BLADE, 2022). No texto a justificativa para os grupos
no facebook da época giravam em torno de encontros para que as crianças pudessem conhecer
umas às outras ou para promover marcas voltadas para o público infantil.
A grande popularidade que Julia Silva, a criança protagonista do canal do youtube utilizado
no estudo, veio dos vídeos pessoais compartilhados pela menina, sobre a escola, sobre viagens,
brinquedos, aniversários, etc. Este dado destaca uma outra discussão relacionada às redes sociais e
que continua em debate, a esfera pública em contrapartida à esfera privada. A exposição na internet
durante a infância pode influenciar de diferentes formas a formação da subjetividade da criança,
pois ao se expor ou ser exposta na internet, terra de ninguém, a criança fica à mercê de opiniões de
desconhecidos, como traz Julia Silva, ao pedir que seus inscritos decidam a roupa dela, o penteado,
o tema do vídeo. Além disso, existe o contato com comentários maldosos, que Julia prefere
ignorar, mesmo que isso a afete emocionalmente.
O texto diz que quando esse embate entre vida privada e vida pública perde força por conta
das redes sociais, as possibilidades de infância se esticam, e destaca que a escola ocupa um papel
muito importante ao dar sentido ao papel familiar na concepção de infância, em prepará-la para a
adultez. Em paralelo a essa dualidade, os modos de subjetivação capitalistas vão dar força a essa
exposição quando incentiva a competição entre projetos de vida. Segundo o texto, no caso da Julia,
ela entra como produtora de si, autora de seu próprio projeto.
No Brasil temos alguns outros exemplos, principalmente na televisão. Os programas
infantis nos anos 90 eram apresentados por adultos, e com o tempo as crianças foram ocupando
esses espaços, ganhando fama mesmo antes da ascensão das redes sociais.
Ao escreverem seu projeto de vida e assumirem esse lugar de produtoras de subjetividade,
as crianças assumem um papel importante no capitalismo, pois consomem, escolhem o que
consomem, quem consome, onde consomem, antes de chegarem na vida adulta. São muitos os
possíveis problemas a serem encontrados nesse campo do consumo infantil, e de produção de
subjetividade, pois ao não atingirem certos ideais nessa competição, a criança pode desfazer-se de
suas singularidades para se aproximar dessa figura popular na internet (PORDEUS; SILVA, 2019).
A problemática nessa possibilidade de ser antes de crescer trazida pelo estudo pode se tratar
dos riscos nesse processo de produção de subjetividade. Julia é uma menina, atualmente com 16
anos, que ainda produz vídeos sobre sua vida, sobre intercâmbio fora do Brasil, sobre moda, ou
seja, de certa forma o tema mudou, mas acompanha sua atual adolescência. Como youtuber, Julia
pode, no processo de construção de sua subjetividade, espelhar-se nas opiniões deixadas em seus
vídeos, nos likes e comentários que vão medir, apontar e produzir nela uma projeção de um ideal
que ela mesmo contribui na construção ao abrir espaço do âmbito privado da sua vida.
Embora o texto traga que essa possibilidade de ser na infância é possível por ser
historicamente colocada, as infâncias que são na contemporaneidade responsáveis por também
produzir novos ideais de infância, ficam submetidas às próprias produções subjetivas. Significa
dizer que, ainda que a infância seja vivida como uma celebridade, aparentemente cheia de
possibilidades de ser antes de atingir a vida adulta, ainda corresponde a um ideal de infância
contemporâneo (CAIROLI, 2010).
Referências
CAIROLI, P. A criança e o brincar na contemporaneidade. Revista de Psicologia da IMED, vol.2,
n.1, p. 340-348, 2010.
PORDEUS, L. P., SILVA, L. E. B. Criança e infância na sociedade capitalista: Análise de uma
propaganda de fraldas do século XXI. Congresso Nacional de Educação, CONEDU: Fortaleza,
2019.
SOCIAL BLADE. Analytics Made Easy. Disponível em: <https://socialblade.com/>. Acesso
em: 28 de Abril de 2022.
TOMAZ, R. O. Youtube, infância e subjetividades: o caso Julia Silva. ECCOM, v. 8, n. 16, p.
35-46, jul./dez. 2017.

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